A relação entre arte e utilidade (sua função ou desfunção para o capitalismo ou para a
humanidade), pode ser entendida como o posicionamento da arte dentro da civilização. A que
plano ela estaria mais próximo e porquê. Nesse sentido, pode-se compreender a arte como um
corpo que reage às condições sociais, políticas e econômicas à sua volta. Sua relação com esse
“fora” é inextricável. É o que dá seu contorno disforme, sua definição sempre móvel. A essa
qualidade de um corpo que reage a um outro corpo dá-se o nome de resistência.
Nos momentos de maior interação, de maior invasão e superposição entre os planos
cultural, social e político, como é o caso da convulsão social que acomete o Brasil atualmente,
os efeitos da resistência se tornam mais evidentes, mais audíveis. É o que ocorre também com
uma mesa de sinuca repleta de bolas de bilhar em que qualquer tacada produz muito barulho.
Alguém poderia então levianamente pensar, sem consultar os livros de física, que esse efeito
produzido pelo choque que dissipa a energia proveniente dos corpos, que esse barulho, é o
som da resistência. Vê-se que a questão passa a ser outra. Perde-se a julgamento dicotômico
do útil e do inútil e passa-se a perguntar sobre o funcionamento da arte em fricção com outros
corpos na civilização.
Este movimento se pode pensar desde o conceito de termodinâmica, sendo a ação de
um corpo em movimento, seja este por rutina ou por trabalho, mas que oficio em ocasiones
simplesmente é um veículo de escape de uma realidade tortuosa.
O presente projeto de exposição tem como vontade norteadora problematizar as
relações entre arte e resistência, bem como os possíveis lugares para esta fricção. Por lugar,
entende-se a o espaço no qual relações sociais acontecem. Uma vez que essas mesmas
relações não dependem mais exclusivamente da contiguidade física para ocorrerem, o lugar
em questão para uma arte de resistência (ou resistência da arte) pode muito bem ser virtual.
A resistência só funciona dentro de um circuito, convertendo-se num ato omnipotente.
O trabalho é resistência, a família é resistência, os estudos são resistência e o pensamento é
resistência; pode algo estar fora de este conceito, eu resistiria a pensar que não.
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BRITO, Ronaldo; RESENDE, José. Mamãe Belas Artes. In: Crítica de Arte no Brasil: Temáticas
Contemporâneas. (Org. FERREIRA, Glória). Rio de Janeiro: Funarte, 2016.
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http://www.cccb.org/rcs_gene/NdP_CCCB_The_Influencers_2017_esp.pdf