HISTORIANDO AS ARTES IX
ARTE MAIA
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básico, afinidades com a cronologia atual, o início do mundo para as Maias estaria situado
no ano 3113 a.C.
Os Maias possuíam uma concepção dualista da vida, no qual se digladiavam as
potências favoráveis ao homem (chuva, luz) e as forças contrárias a ele (seca, guerra,
morte).
A divindade suprema era Itzamna, senhor do céu, inventor da escrita e patrono
da ciência. Mas, no grande panteão Maia, onde cada aspecto da vida era presidido por
uma divindade, havia outras figuras de grande destaque, como Uxchel, deusa da lua e
esposa de Itzamna, o deus da chuva Chac, a deusa da morte Ah Puh, e Kukulcãn, deus
do vento e da vida. A essas divindades eram oferecidos sacrifícios de animais e sangue
humano extraído de diferentes partes do corpo. O sacrifício de vidas humanas, porém, era
muito raro, tendo essa prática assumido grandes proporções só depois que a cultura Maia
sofreu fortes influências da Tolteca.
A sociedade Maia organizou-se com base em uma complexa estrutura político-
social. Da mesma forma que os gregos, os Maias reuniam-se em pequenos
agrupamentos políticos semelhantes às cidades-Estado, que podiam associar-se em
federações.
Cada cidade-estado tinha um chefe, intitulado Halac Uinic. Esse cargo era
hereditário e frequentemente ligado à dignidade sacerdotal mais elevada.
Os Maias praticavam a agricultura em larga escala, embora desconhecessem o
arado, a adubagem e a rotatividade das lavouras, cultivando basicamente milho, cacau,
algodão agave. Além disso, desenvolviam uma intensa atividade comercial, marítima e
terrestre, utilizando grãos de cacau, penas de pássaro quetzal e conchas como moeda.
Arquitetura
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Os templos eram construídos no alto de
pirâmides, imitação da colina, lugar sagrado
por excelência. Os palácios chegavam a ter
várias dezenas de quartos, dispostos em
algumas filas e, às vezes, em andares; são, na
realidade, apertadas galerias divididas
transversalmente, obscuras e pouco
ventiladas, pois quase sempre lhes faltam
aberturas ou só possuem estreitas entradas.
Edificaram-se também recintos para o jogo de
péla, observatórios, arcos de triunfo,
balneários de vapor.
O templo era o edifício mais importante, mas a que o povo não tinha acesso. Daí
que o espaço interior fosse sacrificado em proveito do aspecto exterior, que devia ter a
maior imponência possível. Esta prática chegou a tal grau, que os templos de Petén (Tikal
em particular), coroando altas pirâmides, de faces inclinadíssimas, só contêm minúsculos
santuários; alguns deles de pouco mais de 1m de largura, enquanto as paredes chegam a
ter 6m e 7m de espessura, para suportarem a tremenda carga de platibanda maciça que
se ergue sobre o teto e que apenas servia aumentar a superfície ornamentada da
fachada.
Escultura
Pintura
Fonte:
LHUILLIER, Alberto Ruz. HISTÓRIA DA ARTE. Salvat Editora do Brasil Ltda. Tomo 1, Capítulo
10, Páginas 267 a 282. 1978.
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PREFEITURA DE SÃO GONÇALO
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
HISTORIANDO AS ARTES IX
ARTE MAIA
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velha ordem, com sua elaborada ideologia e sua complexa máquina governamental,
também entrou em colapso.
Os maias acreditavam que o universo atual tivesse se formado na data que
corresponderia a 11 de agosto de 3114 a.C., no calendário Juliano, e seu sistema
cósmico demonstrava que terminaria em 21 de dezembro de 2012 d.C. Na realidade, a
morte do mundo conhecido por eles chegou no século 16, juntamente com os soldados
espanhóis, os monges colonizadores decididos a refazer o Novo Mundo de acordo com
suas ambições e suas crenças.
O primeiro contato entre essas duas culturas tão diferentes foi breve, com a
participação da figura de Cristóvão Colombo. Apesar de o grande marinheiro jamais ter
aportado nas terras da América Central, em 1502 ele se aproximou da costa norte de
Honduras, em sua quarta viagem para o local que ainda se acreditava ser as Índias. Perto
da Ilha de Guanaja encontrou uma canoa equipada para o comércio, com 2,5 metros de
comprimento, aparentemente escavada em um só gigantesco tronco de árvore. A
embarcação levava vários homens, mulheres e crianças, além de pilhas de mercadorias
arrumadas sob uma coberta de esteiras trançadas. A carga incluía pratos de cobre,
machadinhas de pedra, espadas de madeira com lâminas de sílex afiadas como navalha,
vasilhas de cerâmica, sementes de cacau e coloridos tecidos de algodão. Os relatos são
contraditórios; não se sabe se o contato foi amigável, com troca de presentes, ou se os
europeus simplesmente se apossaram daquilo que lhes interessava. O que se sabe
realmente é que o encontro foi breve e que os estrangeiros logo se afastaram, dando
pouca importância ao incidente nos registros do diário de bordo. Mas ficaram sabendo
pelo menos de um dado significativo a respeito desse povo: vinha de uma região por eles
denominada Maia, ou Maiam.
Um confronto posterior teve conseqüências mais graves. Em 1517, três
navios espanhóis que navegavam por perto do litoral norte do Yucatán, à procura de
escravos, fizeram escala em uma ilha, encontrando templos que foram saqueados pela
tripulação e acabaram aportando no continente. Atacados por hordas de guerreiros, os
110 tripulantes conseguiram rechaçá-los com a artilharia dos navios. Quando os europeus
voltaram para sua base, firmemente estabelecida em Cuba, e exibiram o produto do
saque – que incluía ornamentos em ouro -, o destino dos maias estava traçado. Havia
riquezas a conquistar no continente, e ninguém iria impedir os estrangeiros de se
apoderar delas, em nome da coroa espanhola.
Hernán Cortés, que já havia destruído o grande império asteca do México
Central em quatro anos, enviou então um de seus capitães para conquistar o novo
território, na região que hoje engloba a Guatemala e El Salvador. A missão foi cumprida,
rápida e brutalmente. Em 1524, o próprio Cortés marchou para leste, para a atual região
de Honduras, dispersando os maias que encontrava pelo caminho e, em 1526, outro
conquistador desencadeou o processo que permitiria subjugar o Yucatán.
A conquista do Yucatán terminou em 1547, embora alguns maias tenham se
embrenhado nas densas florestas do interior, onde sobreviveram por mais de 150 anos,
juntamente com seus descendentes.
A guerra e os selvagens surtos epidêmicos de doenças européias, como
caxumba, varíola e gripe – contra as quais o povo local não possuía imunidade natural -,
ceifaram as vidas de milhões de maias. A maioria dos sobreviventes foi despojada de
suas terras e reduzida praticamente à condição escrava. Os senhores espanhóis também
estavam decididos a erradicar todos os traços da religião nativa. Templos e santuários
foram arrasados, os missionários puniam os suspeitos de idolatria com chicotadas,
esticavam suas articulações com roldanas, ou lançavam-lhes água fervente. No Yucatán,
o líder desses atos de “limpeza” do paganismo foi um franciscano chamado Diego de
Landa.
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Além dos dados recolhidos por Landa, praticamente nada que se
relacionasse com os maias sobreviveu à conquista. A cultura maia foi sufocada, de todas
as formas possíveis. O saber ancestral dos matemáticos e astrônomos foi esquecido – a
única escrita autorizada era a européia – e os conhecimentos acerca dos antigos
hieróglifos definharam. Enquanto isso, os cipós e as trepadeiras continuavam a invadir as
antigas pirâmides escalonadas e os palácios de pedra.
Cerca de um século após a chegada dos europeus, as glórias do passado
maia não mais existiam, haviam sido apagadas até da memória dos homens. A partir do
final do século 18, pouco a pouco os maias começaram a emergir do esquecimento,
graças aos esforços de alguns pesquisadores – aventureiros românticos, ou estudiosos e
arqueólogos profissionais.
Uma das estruturas mais bem
restauradas, a partir desses esforços, é a
quadra para o jogo de bola, que possui
várias esculturas de cabeça de arara, um
símbolo real aparentemente exclusivo de
Copán. Os especialistas ainda não sabem
muito bem as regras do jogo praticado
naquela quadra e em outras semelhantes,
encontradas por toda a América Central.
Pinturas em cerâmica sugerem que os
jogadores arremessavam uma pesada bola de borracha apenas com os quadris e as
nádegas, fazendo com que a bola ricocheteasse nas rampas que formavam a parede
lateral da quadra, mas evitando que tocasse na parte central. Parece que às vezes a
partida era disputada com grande risco, pois a derrota significava a morte por sacrifício.
Alguns relevos indicam que um prisioneiro nobre, ou um rei, poderia ser amarrado como
uma bola e arremessado de um lado para outro até suas costas se quebrarem.
Mesmo em uma partida rotineira, o jogo era encarado como uma espécie de
combate ritual, no qual eram reproduzidos os dramas da religião maia. Afinal de contas,
os Heróis Gêmeos haviam enfrentado os senhores do Mundo Subterrâneo em um jogo de
bola. Patrocinando, e talvez até participando desses eventos, o monarca daria sua
contribuição para que prosseguissem os movimentos do Sol, da Lua e de outros corpos
celestes.
ESPELHOS DO POVO
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O desenvolvimento da civilização maia coincidiu com a evolução de um
sistema extremamente estratificado de classes sociais. As famílias da realeza,
consideradas de origem divina, controlavam todos os aspectos da vida da comunidade,
da agricultura à guerra. No topo da aristocracia estava o rei, soberano supremo. De
linhagem sagrada, o monarca se comunicava diretamente com os outros mundos; como
deus encarnado e líder temporal, estava no centro do universo maia. A tradição
determinava que a sucessão deveria ser hereditária, por linha paterna, mas as famílias
reais compunham importantes alianças por meio de casamentos, frequentemente, as
mulheres da nobreza ocupavam posição de destaque. Em Palenque, duas mulheres
chegaram ao mais alto posto do governo.
O vestuário e os ornamentos da sagrada pessoa
do rei representavam muito mais que sinais exteriores de
riqueza. Significavam seu poder sobrenatural. A vestimenta da
nobreza maia, bem como de seus súditos e cativos, é
representada com riqueza de detalhes em figuras de cerâmica
– encontradas nas tumbas da Ilha de Jaina, ao largo da costa
do Yucatán. Emblemas de poder, os espelhos simbolizavam
brilho e soberania. Na verdade, o grande senhor era
considerado como o “espelho de seu povo”.
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I. A BUSCA DE VISÕES NO MUNDO DOS ESPÍRITOS
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OS DEVERES DA REALEZA NA VIDA MILITAR
OS TESOUROS MAIAS
PERÍODO PRÉ-CLÁSSICO
1500 a.C – 250 d.C.
Por volta de 250 d.C., Tikal e a vizinha Uaxactún estavam entre os centros
de poder econômico e político das terras baixas do centro do território. A sociedade era
estratificada, com uma nobreza dominante e a classe de camponeses, agricultores,
artesãos e outros trabalhadores. A partir do século 3º, os reis ganharam status de
divindades e passaram a erigir templos-pirâmides e estelas, nos quais gravaram imagens
e inscrições para homenagear a si mesmos e a seus reinos. Rituais envolvendo sangria e
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sacrifícios humanos desempenhavam o papel de oferendas. A mais antiga Estela
conhecida, datada de 292 d.C., provém de Tikal e registra a memória de um descendente
do Senhor Yax-Moch-Xoc, que no início daquele século fundara uma dinastia que reinou
por seiscentos anos. O nono rei dessa dinastia, Grande-Jaguar-Pata conquistou Uaxactún
em 378. Nessa época, Tikal estava sob a influência de grupos de comerciantes guerreiros
da grande metrópole de Teotihuacán, dos quais parece ter absorvido o costume das
guerras rituais.
Durante o século 6º, um misterioso período de letargia se abateu sobre
Tikal: de 534 a 593, foram eregidos poucos edifícios.
II. PERÍODO CLÁSSICO TARDIO (600 – 900 d.C.)
Anunciada por um frenesi de construção de novos palácios e templos, a
cultura maia clássica alcançou altos níveis nos séculos 7º e 8º. Tikal reencontrou sua
glória, porém evoluíram também vários outros centros poderosos. Na região ocidental,
Palenque floresceu sob o reinado do Senhor Pacal, que subiu ao trono em 615 d.C. e foi
sepultado, com a pompa de um deus, em 683. A cidade de Copán alcançou proeminência
no século 7º, sob o governo de Jaguar-Fumaça, ao longo de 67 anos. Embora se unissem
em casamentos reais e partilhassem aspectos culturais – incluindo estilos artísticos e
concepções religiosas, esses centros permaneceram independentes e em guerras
freqüentes.
A arte progredia, à medida que habilidosos artesãos atendiam às
necessidades da elite dominante, produzindo uma variedade de objetos finamente
talhados. Os monarcas continuaram a erigir edifícios cerimoniais e inúmeras estelas para
sua própria glória. No entanto, a partir do início do século 8º e culminando no século
seguinte, a turbulência invadiu a cultura maia das terras baixas. O colapso político atingiu
Copán por volta de 822; e 869 é a última data inscrita em Tikal.
III. PERÍODO PÓS-CLÁSSICO (900 – 1500 d.C.)
Falência da agricultura, superpopulação, doenças, invasões estrangeiras,
revolução social e guerras incontroláveis – estas são algumas hipóteses que explicariam
o colapso da civilização maia nas terras baixas do sul. Por volta de 900 d.C., já não se
erguiam edifícios, e as grandes cidades antigas, abandonadas por seus habitantes, se
transformavam em ruínas. Mas a cultura maia continuava a prosperar em alguns centros
do norte do Yucatán. Caracterizadas por um estilo arquitetônico ricamente ornamentado,
as cidades de Uxmal, Kabah, Sayil e Labná, aninhadas entre as Colinas de Puuc,
continuaram a se desenvolver até o século 11 da era cristã.
Por volta dessa época, a cidade de Chichén Itzá conheceu dois séculos de
progresso. Depois da misteriosa queda de Chichén Itzá, em 1200, a cidade murada de
Mayapán se converteu em poder dominante no Yucatán. Governada pela família Cocom
por 250 anos, Mayapán foi destruída em 1441, por uma coalizão de chefes rivais. A partir
daí, a civilização maia tombou no caos e não tardaria a enfrentar uma catástrofe ainda
maior: a chegada dos espanhóis, no início do século 16.
Fonte:
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