Anda di halaman 1dari 96

{ Ofício das Baianas de Acarajé }

} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
dossiê iphan 6 {Ofício das Baianas de Acarajé}
dossiê iphan 6 {Ofício das Baianas de Acarajé}
“... Dez horas da noite,
na rua deserta
A preta mercando
parece um lamento (...)

Na sua gamela
tem molho cheiroso
Pimenta da costa, tem acarajé

Hum, hum, hum


Hum, hum, hum
Ô, acarajé eco
Ô lá lá iê ô
Vem benzer, hem
Tá quentinho

Todo mundo gosta de acarajé


O trabalho que dá pra fazer
é que é ...”
A preta do acarajé (Dorival Caymmi)
PRE SI D E N T E D A R E P Ú BLI C A Departamento de Patrimônio Imaterial Projetos Celebrações e Saberes da Cultura
Luiz Inácio Lula da Silva
Popular
G E RE NTE D E ID ENTIFICAÇÃO
M I NIS T R O D A C U LT URA
Gilberto Gil Moreira Ana Gita de Oliveira CHEFE DO SETOR DE P ESQ U IS A
Ricardo Gomes Lima
PRE SI D E N T E D O I PHA N G E RE NTE D E R EGISTR O
Luiz Fernando de Almeida Ana Cláudia Lima e Alves COO R D ENADOR A-GER AL D O P RO JET O
CEL EB R AÇÕES E SAB ER ES
CHEFE DE GABINETE G E RE NTE D E AP OIO E FOM ENTO Letícia Vianna
Luiz Fernando Villares e Silva Teresa Maria Cotrim de Paiva Chaves
P ESQUISADOR ES R ESPO N S ÁV EI S P EL O
PRO C U R A D OR A - C HE FE FEDE RA L INVENTÁR IO OFÍCIO DAS BA IA NA S D E
ACAR AJÉ
Lúcia Sampaio Alho
Elizabete de Castro Mendonça
D I R E T OR A D E P AT R I M ÔNI O I MA T E RI A L Raul Lody
Marcia Sant’Anna
ASSISTENTES DE P ESQUI SA
D I R E T OR DE P AT R I MÔN I O MA T E RI A L E Cecília de Mendonça
FI S C A LI ZA Ç Ã O Cleo Vieira
Dalmo Vieira Filho
ESTAGIÁR IA
DIRETOR DE MUSEUS E CENTROS CULTURAIS Gisele Muniz
José do Nascimento Junior
AP OIO TÉCN ICO
D I R E T OR A D E PLA N EJ A ME N T O E Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
AD MI N I S T RAÇ Ã O
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - Faperj
Maria Emília Nascimento Santos
Museu da República - Projeto Cultura Repu-
C O O R DE N A D ORA - G E RA L DE PE S QUI SA, blicana e Brasilidade
D O C U ME N T AÇ Ã O E RE FE RÊ NC I A Fundação Universitária José Bonifácio
Lia Motta Laboratório de Pesquisas em Etnicidade,
Cultura e Desenvolvimento
C O O R DE N A D OR- G E RA L DE PR OMO Ç Ã O DO Universidade Federal do Rio de Janeiro
PA TR I MÔN I O C U L T UR A L
Luiz Philippe Peres Torelly

D I R E T OR A D O C E N T R O N A C I ONA L DE
FO L C LOR E E C U LT U R A POP ULA R
Claudia Marcia Ferreira

I NS T I T U T O D O P AT R I MÔNI O H I S T ÓRI C O
E AR T ÍS T I C O N A C I ON A L
SBN Quadra 2 Edifício Central Brasília
Cep: 70040-904 Brasília-DF
Telefone: (61) 3414.6176 Fax: (61) 3414.6198
www.iphan.gov.br webmaster@iphan.gov.br
Elaboração do Dossiê e dos anexos Edição do Dossiê Ficha Técnica Ofício das Baianas de Acarajé
P E SQU ISA E T E X TOS G E R ENTE DE EDITOR AÇÃO DO IP HAN R EGISTR O DO OFÍCIO D A S BA IANA S D E
ACAR AJÉ
Elizabete de Castro Mendonça Inara Vieira
Letícia Vianna Processo no. 01450008675/2004-01
Raul Lody E DI ÇÃO DE TEXTO
P R OP ONENTES:
Lucila Silva Telles
FOT OG R A FI A S Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos e
Ana Paula Pessoa RE V ISÃO DE TEXTO Similares do Estado da Bahia
Christiano Júnior Maria Helena Torres Centro de Estudos Afro-Orientais
Elisabete de Castro Mendonça Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá
C OP IDESQU E
Luís Antônio Duailibi
Maíra Mendes Galvão D ADOS DO P R OCESSO:
Francisco Moreira da Costa
Pedido de Registro aprovado na 45a. reunião do Conselho
PR OJETO GR ÁFICO
IC O NOGR A F I AS Consultivo do Patrimônio Cultural, em 01/12/2004
Victor Burton
Carybé Inscrição no Livro dos Saberes em 21/12/2004.
DI A GR AM AÇÃO
I N ST I T U I Ç ÕE S PA R C E I RA S
Gerência de Editoração do Iphan:
Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Re-
Inara Vieira
ceptivos e Similares do Estado da Bahia - Abam
Duda Miranda
Centro de Estudos Afro-Orientais - Ceao/
Ana Lobo (estagiária)
Universidade Federal da Bahia
João Gabriel Rocha Câmara (estagiário)
Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá
S E LEÇÃO D E IM AGENS
Elisabete de Castro Mendonça
Rebecca de Luna Guidi

A G RADE CIM ENTOS E SP ECIAIS


José Reginaldo dos Santos Gonçalves
Solange Barnabó
Jocélio dos Santos

PÁ GI NA 2
T A BU LE IRO DE BA IA N A ,
L A V A GE M DO BONF I M . S ÃO
C RI S T ÓV Ã O (RJ), 2 003 .
FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

PÁ GI NA 4
GRA V URA S DO L IV RO “ U S O S
E C OS TU M E S DO RIO D E
JA NE IRO N AS FIGU RINH A S D E
G U IL L OBE L ” . ORGAN IZ A DO
PO R C A NDIDO GU I NL E D E
PA U L A M A C H A DO, 1 9 78.
sumário
10 APRESENTAÇÃO 52 o acarajé na 66 anexos
contemporaneidade 66 Atores sociais: os informantes
12 prefácio 67 Decreto-lei Municipal nº 12.175
56 Dinâmica e mudanças - de 25 de novembro de 1998
14 identificação o sentido do registro 72 Certidão de patrimônio
15 Ofício das baianas de acarajé imaterial nacional
19 Acarajé dos orixás 60 O desafio da salvaguarda 73 Referências bibliográficas sobre
22 Comida de santo, comida de o ofício das baianas de acarajé
gente, meio de vida 64 fontes bibliográficas
25 Relação do Ofício com a Feira
de São Joaquim 65 referências fotográficas
26 Modo de fazer e significados e iconográficas
dos principais itens alimentares
tradicionais que compõem o acarajé
32 Traje de baiana
36 Relação do ofício com as festas
de largo
44 No tabuleiro da baiana tem...
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 10

APRESENTAÇão
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 11

BAI A N A NA FESTA DE SANT A PÁ GINA 8


B Á RB AR A, P ADR O EI RA DA S FE S T A DE S A NTA BÁ RBA R A ,
B A I AN A S DE A CARAJÉ. PA DROE IRA DA S BA IA N A S
I GR EJ A DE N OSS A SENHORA DE A C ARA JÉ. M E RC A DO D E
D O R O SÁRI O DO S P RE TOS, S A NTA BÁ RBA RA , BA I XA DO
P ELOU RI N HO . SALV ADO R S APAT E IRO E M S A L V A DOR
( B A) , 20 0 4 . (BA ), 2 004.
F OTO: F RAN CI SCO MORE IRA FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
D A CO ST A . DA C OS TA .

ABA I XO
RITU A L PA RA XAN GÔ.
IC ONOGRA F IA : C ARY BÉ .
(DE T A L H E )

O acarajé é um bolinho de feijão-


fradinho, cebola e sal, frito em
azeite-de-dendê. É uma iguaria
escravas ou libertas, preparavam
acarajé e outras comidas e, à noite,
com cestos ou tabuleiros na cabe-
baianas de acarajé são monumentos
vivos de Salvador e do Brasil.

de origem africana, vinda com os ça, saíam a vendê-los nas ruas de É o que a baiana tem!
escravos na colonização do Brasil. Salvador ou ofereciam aos santos e
Hoje está plenamente incorporado fiéis nas festas relacionadas ao can-
à cultura brasileira. É alimento do domblé.Hoje o ofício de baiana de Luiz Fernando de Almeida
dia-a- dia – comida de rua – em acarajé é o meio de vida para muitas Presidente do Iphan
Salvador e em tantas outras cidades, mulheres e uma profissão que sus-
vendido com acompanhamentos tenta muitas famílias.
como a pimenta, o camarão, o O registro do Ofício das baianas
vatapá e, às vezes, molho de cebola de acarajé como Patrimônio Cultu-
e tomate...Também tem sentido ral do Brasil, no Livro dos Saberes,
religioso, é comida de santo nos é ato público de reconhecimento da
terreiros de candomblé. É o bo- importância do legado dos ances-
linho de fogo ofertado puro, sem trais africanos no processo histórico
recheios, a Iansã e Xangô... e cheio de formação de nossa sociedade e do
de significados nos mitos e ritos do valor patrimonial de um comple-
universo cultural afro-brasileiro. xo universo cultural, que é também
Pela tradição que se afirmou ao expresso por meio do saber dos que
longo de séculos quem faz o acarajé mantêm vivo esse ofício.
é a mulher, a filha de santo quando
para uma obrigação, ou a baiana de Com suas comidas, sua indu-
acarajé quando para vender na rua. mentária, seus tabuleiros e a sim-
No período colonial as mulheres, patia acolhedora e carismática, as
prefácio
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 13

P ROCI SSÃ O DE SAN T A


B Á RB AR A, P ADR O EI RA DA S
B A I AN A S DE A CARAJÉ.
S A LVADOR ( B A ) , 20 0 4.
F OTO: F RAN CI SCO MORE IRA
D A CO ST A .

AB A IX O
A J E RÊ, R I TUAL P ARA XA NGÔ.
IC ON O G R AFI A: CA R YBÉ .
( DETALHE)

E ste livro é uma compilação


ampliada dos artigos publi-
cados ao longo dos cinco anos do
projeto Implantação de Inventário:
Celebrações e Saberes da Cultura
Popular, patrocinado pelo Minis-
tério da Cultura, do qual o pro-
cesso de inventário e registro do
ofício das baianas de acarajé foi um
subprojeto. Conta ainda com
textos do CD-ROM Festa de
Santa Bárbara, resultado
do inventário dessa festa,
patrocinado pela Petrobras
e do catálogo da exposição O
que a baiana tem: pano-da-costa
e roupa de baiana, além de verbe-
tes retirados do Dicionário de arte
sacra & técnicas afro-brasileiras.
identificação
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 15

ACA RAJ É DE I A N SÃ , NO IL Ê
O XU MARÉ.
IC ON O G R AFI A: CA R YBÉ .
( D ETA LHE)

ofício das
baianas de
acarajé

“Segundo vários depoimentos


da primeira metade do século XX,
anos 40 e 30, as famílias ficavam
O acarajé, bolinho de feijão-fra-
dinho (Phaseolus angulares Wild),
cebola e sal, frito em azeite-de-
assim como na África, o ganho3 de
comidas realizado por escravas per-
mitia, além de prestação de serviços
esperando, às sete horas da noi- dendê (Elaesis guineensis L), é de ori- a seus senhores, maior sociabiliza-
te, a mulher do acarajé passar, e gem africana; seu nome original é, ção entre escravos urbanos, o que
era uma espécie de cerimônia (...), em locais do Golfo do Benim, Áfri- contribuiu para o cumprimento
porque sua voz era especialmente ca Ocidental, acará 1, que, em ioru- dos ciclos de festas-obrigações do
aguda e alta para anunciar de lon- bá, significa “comer fogo” – acará candomblé e, muitas vezes, para a
ge ‘Iê acarajé, iê abará’; aí o povo (fogo) + ajeum (comer) – e advém criação de irmandades religiosas.
se preparava, pegava o dinheiro, ia do modo como era apregoado nas Após o período escravocrata e até
às portas. Esse acarajé e esse abará ruas: “acará, acará ajé, acarajé”2. Sua nossos dias, com finalidade religio-
iam nas portas, como se come ainda tradição, na Bahia, vem do período sa ou comercial, a venda de acarajé
na Costa d’África. É acarajé, e não colonial, quando as mulheres – es- permite que as mulheres aprendam
sanduíche; com pimenta, algum ca- cravas ou libertas – preparavam-no uma profissão que ainda sustenta
marão, mas basicamente acarajé.” e, à noite, com cestos ou tabulei- grande parcela da população de Sal-
[Ubiratan Castro de Araújo, ex-di- ros na cabeça, saíam a vendê-lo nas vador, e que assumam seus múlti-
retor do Centro de Estudos Afro- ruas da cidade. plos papéis4 como chefe de família,5
Orientais da Universidade Federal Tal prática de comércio ambu- mãe e devota religiosa.
da Bahia em entrevista realizada em lante de alimentos já era realizada As histórias de vida das baia-
18/12/2001] na costa ocidental da África como nas de acarajé apresentam muitos
forma de autonomia das mulhe- pontos em comum. Em geral pro-
res em relação aos homens, o que, venientes de estratos mais baixos
com freqüência, lhes conferia o pa- das camadas médias da sociedade
pel de provedoras de suas famílias. da Bahia, iniciam-se na atividade
No Brasil, desde tempos coloniais, por instrução de suas mães e avós
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 16

GA N H O DE CO MI DA, SÉCUL O
XIX.
F OT O : CHR ISTI A N O J R.

ou, ainda, de outras baianas, pois o


ofício atualmente é organizado nos
moldes de pequenas empresas do-
mésticas e realiza-se como estratégia
de sobrevivência ou de complemen-
tação de renda familiar.
Herdeiras dos ganhos, as baia-
nas de tabuleiro, baianas de rua, baianas de
acarajé ou simplesmente baianas, se-
gundo o costume regional6, preser-
vam receituários ancestrais africa-
nos, sobretudo da costa ocidental,
com destaque para os dos Iorubá.
Verdadeiras construtoras do ima-
ginário que identifica a cidade de
Salvador – com suas comidas, sua
indumentária, seus tabuleiros e suas
maneiras de vender –, essas mulhe-
res, monumentos vivos de Salvador
e dos terreiros de candomblé, são
um tipo consagrado, revelador da
história da sociedade, da cultura e
da religiosidade do povo baiano.
Ao estabelecerem elos entre os
terreiros de candomblé e os espaços da
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 17

B A IA NA DE A C A RA JÉ E M S EU
T A BU LE IRO . S A L V A DOR ( B A ) ,
1983.
FO T O : L U IZ A NTÔNIO
D U A L IBI.

cidade, as baianas de acarajé tornam


públicos cardápios sagrados, geral-
mente desenvolvidos nos terreiros
pelas iabassês, conhecedoras dos in-
gredientes e das maneiras ritualiza-
das de preparar comidas de santos.
Assim, na mistura dos temperos,
como pimenta-da-costa e outras
pimentas, com azeite-de-dendê,
quiabo, feijões, camarão seco e gen-
gibre, por exemplo, transferem para
os tabuleiros heranças simbólicas
em forma de acarajé, abará, acaçá,
bolinho-de-estudante, cocadas, bo-
los... Esses elos são reafirmados por
utensílios de trabalho (mocós, ba-
laios, cestos), indumentária e rela-
ções sociais que se estabelecem entre
a baiana e aqueles que consomem o
acarajé.
Enquanto testemunhos pa-
trimoniais integrados à religião, à
arquitetura, à população, ao turis-
mo, as baianas de acarajé mantêm
viva uma tradição ancestral, impor-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 18

BA IA NAS D E A C AR A J É
C OM E RC IA L IZ ANDO E M
S EU S PO NT OS DE V E NDA
- T E RRE IRO D E J E SU S ,
PE L OU RINH O .S A L V A DOR
(BA), 2001.
FOT O : E L IZ A BE T E D E
C AS T RO ME NDONÇ A .

tante componente de um sistema sem, contudo, perder seu vínculo junto arquitetônico do Pelourinho.
culinário que, além de alimentar e com um universo cultural especí- Assim, ao olhar patrimonial une-
satisfazer o paladar, articula dife- fico e fundamental na formação da se o olhar cidadão, no intuito de
rentes dimensões da vida social: liga identidade brasileira. Nesse contex- identificar ou pontuar na geografia
os homens aos deuses, o sagrado to, as baianas de acarajé integram e urbana lugares tradicionais – pon-
ao profano, a tradição à moderni- compõem o cenário urbano coti- tos de venda – onde, diariamente, é
dade. Imerso na dinâmica cultural diano e a paisagem social daque- celebrado o hábito de provar comi-
das grandes metrópoles brasileiras, la cidade. Representam tradições das de santo e de gente.
sobretudo em Salvador, o acarajé afro-descendentes fundamentais
está sujeito a variados processos de das identidades da população que
apropriações e ressignificações nos mora e transita nas áreas centrais e
diferentes segmentos da sociedade, antigas, em que se destaca o con-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 19

acarajé
dos orixás

“O acarajé, para mim, é um ra- com ela. Então preparou novamen- disse: É fogo, Xangô come fogo. Aí
paz subjugado a uma mulher. Por- te o agerê e disse a Oiá: Você vai ele disse: Só minhas esposas podem
que na realidade acará é uma bola levar para ele, mas não olha o que saber meu segredo, só as minhas
de fogo, então acará era um segredo tem dentro. Aí ela botou na cabeça esposas comem. Mas não era bem
entre Oxum e Xangô. Só Oxum o que ela sempre levou, mas Oxum assim; Oxum preparava, mas não
sabia preparar o acarajé, porque o nunca tinha dito antes que ela não comia. Aí ele disse para ela: Você
acarajé é a forma figurada do agerê, olhasse e, então, pensou: ela vai meta sua mão aí e vai comer comi-
que é aquele fogo que é feito na olhar para ver o que Xangô come. go agora. Aí ela olha o fogo e come
segunda obrigação de Xangô no dia Aí, na metade do caminho, Oiá acarajé, um jé que quer dizer comer
do agerê, que vem representado de olhou para os lados e viu que não em iorubá; acarajé quer dizer co-
duas formas: primeiro, o orixá en- estava sendo observada, abriu a pa- mer acará. Então ela passa a usar o
tra com suas esposas levando a pa- nela e subiu aquela língua de fogo. acarajé também para ela (...) O que
nela do agerê, ou seja, a panela da Então ela disse: Eu sei o que aconteceu? Ela passou a ser uma de
comida dele, a famosa panela que ele come, ele come acará. Tampou suas esposas”. [Nancy Souza, ialaxé
Oxum preparava, tampava e dizia rápido a panela, botou na cabeça do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju -
para Oiá que botasse na sua cabeça e se apresentou na frente de Xan- Nação Kêtu em entrevista realizada
e levasse a Xangô. Oiá sempre levava gô. Mas como todo o povo iorubá em 2001. ]
e entregava a Xangô, e Xangô se re- fala, os deuses sempre sabem o
tirava da frente de Oiá e depois ele
vinha e devolvia a panela como se já
que o outro fez ou vai fazer, eles se
entendem e se saem bem por suas N o universo do candomblé, o
acarajé é comida sagrada e ri-
tual, ofertada aos orixás, principal-
tivesse comido o que tinha dentro. astúcias. Então, quando ela che-
Um dia, já estava cansada das gou, Xangô olhou bem nos olhos mente a Xangô (Alafin, rei de Oyó)
incursões de Xangô (Oxum era dela e disse assim: Você viu o que e a sua mulher, a rainha Oiá (Ian-
mais sensual do que ligada a sexo), eu como? Ela disse: Sim, acará. sã), mas também a Obá e aos Erês,
disse: eu vou dividir esse homem Aí ele disse: O que é o acará? Ela nos cultos daquela religião.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 20

O X UM: DEU SA DO R I O.
I C O NOG RAF I A : CA RYB É .

Seu formato e mistura são di-


ferenciados de acordo com o orixá
a que são ofertados. Assim, a Xangô
são oferecidos os maiores e alonga-
dos, que podem encimar um prato
de quiabos, dendê e pimentas, ama-
lá; os ofertados a Oiá são menores,
e podem ser servidos puros, com
sete pimentas-da-costa ou enfeita-
dos com camarões secos; os dos Erês
são menores e redondos. As oferen-
das a Oiá e Oxaguiã, orixás ligados
à ancestralidade, são colocadas no
bambuzal, local por eles habitado. Inicialmente uma filha de Oxum A cerimônia para Xangô rea-
Nos terreiros, para a oferenda dança e carrega o fogo em memória lizada pelo Terreiro Casa Branca7,
dos alimentos votivos – entre eles o da panela que Oxum levava todos os conforme relata o pesquisador Raul
acarajé –, existem rituais específicos dias para Xangô. Em seguida, outra Lody, no artigo “O rei come quia-
que correspondem ao orixá e à na- filha de Oxum carrega uma mesa, a bo, a rainha come fogo”, de 1998.
ção de origem a que o terreiro está mãe Yaquequere, um prato, e outra O rito tem como momento solene a
filiado, por exemplo: filha de Oxum, uma toalha. Arru- hora de organizar a roda de Xangô,
A cerimônia realizada no dia da mam a mesa, a toalha e o prato e
festa de Xangô pelos terreiros vincu- colocam os acarajés embebidos em “(...) quando, inclusive, visi-
lados à nação Kêtu e que representa azeite sobre a mesa. Coloca-se fogo tantes ilustres são convidados a dela
seu agerê realizado, conforme o re- no azeite, entram Iansã e Xangô, pe- participar. Nisso, um ogã vai até
lato da ialaxé Nancy Souza. gam-nos com as mãos e os comem. o peji de Xangô e apanha o xére –
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 21

A JE RÊ , RIT U A L PA RA XA N G Ô.
I C ONOGRA F IA : CARY BÉ .
(D E T A L H E )

instrumento musical, chocalho, ge- quase uma centena de acarajés cada. mente, no dia da festa do orixá,
ralmente confeccionado em cobre Todas dançam, levantam ventos com as filhas de Iansã entram no cen-
–, passando a agitá-lo, sempre to- a passagem rápida das saias amplas tro do salão ou do barracão de festa
cando levemente o instrumento no e rodadas. Todos de pé começam a com pequenos tabuleiros de acara-
solo, antes de voltar a utilizá-lo. A gritar: “Eparrei, Eparrei Oiá”, sau- jé, sentam-se em um apoti (pequeno
roda vai girando, cadencialmente, e dando o orixá que retribui ofere- banco ritual) e começam a servi-los
todos aguardam, com ansiedade, as cendo acarajés para todos os presen- como as baianas de acarajé.
primeiras manifestações dos orixás. tes. É acarajé para comer, guardar Os terreiros, nessa perspectiva,
Em momento especial, começam ou passar pelo corpo e despachar além de lugares de sociabilidade e re-
a chegar os santos, iniciando por limpando, purificando, fortalecen- lação com o sagrado, são núcleos de
Xangô, em seguida Iansã, Oxossi, do compreensões desse orixá-mu- repasse de saberes que mantêm ativas
Oxum, outros e outros, todos che- lher, mulher meio homem, que as técnicas relacionadas às tradições
gam para a festa. come fogo no ajarê de Xangô. africanas e, assim, constituem-se
Os orixás são recolhidos ao sa- Antes, contudo, oferecem aca- como referências coletivas.
bagi – local para a troca das roupas rajés aos espaços sagrados do ter-
rituais e colocação dos paramentos reiro, quando cada Iansã, sedutora
e ferramentas – havendo, assim, um e viril, quase voa até as portas, em
breve intervalo. Passada uma hora, torno da pilastra coroada por Xan-
retomam os músicos os seus lugares gô, chegando com imagem de rai-
e começam a executar o daró, popu- nha até o público assistente”.
larmente chamado de ilu ou agueré
de Iansã. Então aparecem no salão Nos terreiros do Engenho
três Iansãs vestidas ritualmente, e, Velho, da Casa Branca ou da Casa
levando cada uma delas, na cabeça, de Oxumaré, vinculados às nações
uma bacia de cobre, comportando Kêtu e Nagô-Vodum, respectiva-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 22

Comida de santo,
comida de gente,
meio de vida

“O mercado de acarajé é um
grande mercado que os orixás deram
para as mulheres de santo da Bahia”.
[Ubiratan Castro de Araújo, ex-di-
retor do Centro de Estudos Afro-
Orientais da Universidade Federal
da Bahia em entrevista realizada em
18 de dezembro de 2001]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 23

P ÁG I N A AO LA DO
I AN SÃ, DEUSA DOS V E NTOS
E DAS TEMP ESTADES N O
C ANDOMB LÉ DO P A I ZIN HO .
IC ON O G R AFI A: CA R YBÉ .

AB A IX O
BAI A N A DE A CA RAJ É EM SE U
TAB ULEI R O. SA LV ADO R (BA),
1 9 83.
F OTO: LUI Z A N TÔ N I O
DUA LI B I.

P resente em todas as festas de


largo e no dia-a-dia da cida-
de, o acarajé vendido nas ruas pelas
nou-se meio de vida para boa parte
da população. Os vínculos com o
candomblé, no entanto, permane-
baianas de acarajé é frito na hora, cem ainda muito marcantes, o que
diante dos fregueses, que, de pé, o se manifesta no modo ritualizado
comem com as mãos, dispensan- como algumas baianas de acarajé or-
do o uso de talheres. Elemento do ganizam seu espaço de venda na rua.
sistema culinário baiano, impor- O ritual de preparação caracteriza-
tante marca identitária e referência se, primeiro, pela limpeza do ponto,
cultural, o acarajé, vindo das mãos varrido e lavado com água e seiva de
de uma baiana, articula universos alfazema; em seguida, colocam sobre
simbólicos relacionados à esfe- o tabuleiro cabeças de alho, folhas,
ra da culinária votiva e às chamadas açúcar torrado com salsa e cobrem-
comidas de rua, onde se apresenta os gastos necessários às obrigações no com papel manilha. Sobre o pa-
como meio de vida e fonte de renda de iniciação. Segundo esse precei- pel manilha colocam moedas, foga-
para uma parcela da população. to religioso, tradicionalmente o reiro, frasco (em geral de maionese)
A tradição da venda do acara- acarajé era vendido em gamelas de com água, arruda, guiné, pinhão-
jé na rua tem origem no universo madeira redondas, semelhantes às roxo, figa, contas de Ogum, de Exu,
do candomblé: a obrigação do acarajé, usadas nos terreiros de candomblé de Oxum, de Iemanjá e de Oxalá;
autorização para produção e venda para oferecer aos orixás e adeptos o depois, discretamente, incensam o
pública por mulheres iniciadas nos mesmo alimento sagrado. local. Faz parte do ritual, também,
padrões dos rituais tradicionais do Atualmente, a venda de acarajé colocar no tabuleiro imagens de me-
candomblé e escolhidas por Oiá, ti- não está mais ligada exclusivamen- tal de Santo Antônio ou de Santo
nha como objetivo angariar recur- te à tradição religiosa. Ampliou seu Onofre e oferecer sete acarajés aos
sos para fazer o santo, isto é, cobrir espaço nas ruas de Salvador e tor- Ibejis (Erês), representados por sete
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 24

S E DE DA A S S OC IA Ç ÃO
DA S BA IANA S D E A C AR A J É ,
M IN GA U , RE C E PT IV OS E
S IM IL A RE S DO ES T A DO DA
BA H IA . S A L V A DOR ( B A ) , 2 0 0 2 .
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

meninos que passem pelo local. CNFCP/Iphan, que se revela de


Seja como função sagrada ou modo mais evidente a complexidade
meio de vida, a tradição do acarajé de seu universo e onde desempenha
é encontrada em outras localidades relevante papel identitário.
do país, por exemplo, na Casa das A comercialização do acarajé,
Minas, ou Querebetã de Zomado- em Salvador, está ligada a duas en-
nu, templo do culto aos voduns do tidades: a Federação de Cultos Afro
Benim, em São Luís, no Maranhão, e a Associação das Baianas de Aca-
e no Terreiro Obá Ogunté e Sítio rajé, Mingau, Receptivos e Simila-
do Pai Adão, no Recife. Entretan- res do Estado da Bahia (Abam). A
to, existem especificidades em cada Federação de Cultos Afro é entida-
estado para a comercialização: em de cultural a que pertencem algu-
Recife, onde têm quase a metade do mas baianas de acarajé, uma vez que,
tamanho do acarajé baiano, com a inicialmente, para desenvolver essa
medida de uma colher das de chá, e atividade, tinham de ser vinculadas
e levam um pequeno camarão sobre ao candomblé. Não apresenta caráter
a massa, são vendidos sem molho e de associação ou cooperativa de clas-
consumidos vários de uma só vez; no se. A Abam, fundada em 19 de abril
Maranhão, o tamanho é o de uma de 1992, é entidade de classe, com
colher das de sopa e são vendidos estatuto próprio. Com quase três mil
apenas com camarão seco e pimenta; profissionais de tabuleiro associados,
e na Bahia, os acarajés são grandes, seu objetivo é qualificar e capacitar
com recheio, e têm o formato de as baianas para que possam oferecer
uma escumadeira. Nesse contexto, é serviços melhores, com higiene, qua-
em Salvador, sítio inventariado pelo lidade e, principalmente, tradição.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 25

B ARRACA D E CA MARÃ O SEC O,


MERCA DO SÃO J OAQ UI M.
S A LVADO R (BA), 2004 .
F OTO: F R ANCI SCO MORE IRA
D A CO ST A .

titutivo desse sistema. [somam] quase esse número”9 .


Trata-se de mercado onde é Representa também importan-
possível encontrar produtos carac- te espaço de ocupação da mão-de-
relação terísticos da Bahia; apresenta-se obra local, uma vez que ali traba-
também como mediador entre a lham, direta ou indiretamente, mais
do ofício com produção e o consumo dos princi- de 10 mil pessoas, boa parte com
a Feira de são pais ingredientes que fazem par- sua história de vida atrelada à feira,
te da culinária baiana: nessa feira, e muitos deles, empregados ou fi-
joaquim as baianas encontram os elementos lhos de antigos feirantes, são hoje
necessários à preparação tanto das donos de barracas ou boxes, peque-
comidas domésticas quanto das que nos empreendimentos familiares.
compõem seus tabuleiros, expostos Lá se encontram, em meio a
no espaço da rua. outros produtos, as diferentes va-

C onsiderando-se que a noção de


sistema culinário (ou sistemas)8
compreende um conjunto estrutu-
Lugar onde se realizam tro-
cas econômicas e práticas culturais,
representa importante ponto de
riedades de feijão – entre elas o fei-
jão-fradinho – e o azeite-de-den-
dê, bases do acarajé e do abará.
rado de elementos que abrange tan- referência local, como indicam as
to os processos de transformação de palavras do feirante Expedito Evan-
produtos como os universos simbó- gelista, para quem “a feira não é só
licos e as cosmologias a eles articu- um marco para a cidade, pratica-
lados, seus espaços de ocorrência mente (...) é referência para o Bra-
também fazem parte desse conjun- sil. Não existe outra feira fixa no
to. Nesse contexto, será dada ênfase Brasil do tamanho dessa, [cerca de]
à Feira de São Joaquim, tradicional dois ou três mil boxes, fora as ban-
de Salvador, como elemento cons- cas que são praticamente fixas e que
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 26

BA IA NA DE A C A RA JÉ E M S EU
TA BU L E IRO. S A L V A DOR ( B A ) , 1 9 8 3 .
FOT O : L U IZ A NTÔN IO DU A L I B I.

PÁ GINA A O L A DO
BA IA NA DE A C A RA JÉ E DNA DA
C ONC E IÇ ÃO F E RREIRA L A V AN D O O
FE IJÃ O P A RA O PRE P A RO DA M A SS A
DO A C A RA JÉ E A BA RÁ , S A L V AD OR
(BA), 2002.
FOT O : FRA N C IS C O M OREIRA D A
C OS TA .

Dez horas da noite na rua deserta.


A preta mercando parece um lamento... modo de fazer e A canção de Caymmi reafirma o
trabalho árduo de produzir e
comercializar o acarajé. Durante
(Iê abará) significados dos muito tempo, seguindo a tradição
primeiros itens dos terreiros e do período colonial,
Na sua gamela tem molho cheiroso. o feijão-fradinho, seu principal
Pimenta-da-costa, tem acarajé. alimentares componente, era moído com um
tradicionais rolo cilíndrico em pilão de pedra
(Ô acarajé eco olalai ó – áspera em uma face; comercializado
Vem benzê-ê-em, tá quentinho.) que compõem o no formato de uma colher de sopa,
acarajé em tabuleiros ou balaios levados na
Todo mundo gosta de acarajé cabeça10 , era anunciado em pre-
O trabalho que dá pra fazer é que é gões entoados pelas baianas.
Todo mundo gosta de acarajé Segundo Vivaldo da Costa
Todo mundo gosta de abará (apud Miranda, 1998:17), a pri-
Ninguém quer saber o trabalho que dá meira descrição etnográfica dos
Todo mundo gosta de abará modos de fazer acarajé é de Manoel
Querino, no ensaio A Arte Culi-
Dez horas da noite na rua deserta. nária na Bahia, de 1916, publicado
Quanto mais distante mais triste o lamento. postumamente em 1928. Querino,
“primeiro negro a publicar livros
(Iê abará) sobre a história e a cultura afro-
brasileira”, baseou sua pesquisa em
(Dorival Caymmi A preta do acarajé) depoimentos de “informantes co-
nhecedoras da cozinha africana, tias
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 27

suas, consangüíneas ou de parentes- nagô” ou “acarajé-burguer”. sem uma sujeirinha, porque mi-
co ritual, pertencentes aos terreiros Segundo as baianas, o segre- nha massa é da cor de coco. Pega o
nagôs mais tradicionais da Bahia”. do do bom acarajé reside no modo feijão, coloca numa peneira e deixa
O autor cita o acarajé no tópico so- como a massa é preparada e batida escorrer por cerca de 15 minutos
bre “os alimentos puramente afri- na panela, com colher de pau, antes (...) e depois passa [no moinho].
canos”, e descreve a receita sem os de se fritar cada porção no dendê Para cada quilo de feijão, são
acréscimos atuais, tais como vata- fervente. Clarice dos Anjos, ex- dois dentes de alho. A massa do
pá, caruru e salada, já que o acara- presidente da Abam11, explica como acarajé tem que ser massa grossa,
jé era consumido puro, protegido prepara seu acarajé: porque o acarajé tem que ser leve
por parte de uma folha de bananei- e crocante (...) Depois você pega
ra, levando, no máximo, quando “cessa o feijão, tirando todo o e bate duas cebolas pequenas para
era pedido, um pouco de “molho olho, para economizar água; para cada quilo [de feijão], acrescenta
preparado com pimenta malaguêta, lavar o feijão a gente gasta mui- na massa e bate bastante até ela fi-
sêca, cebola e camarões, moído na ta água, então no momento que car como clara de ovo. Bota o azeite
pedra e frigido em azeite de cheiro” a gente cessa o feijão, pode ligar para fritar, coloca uma cebola gran-
(Querino, 1954:31). Hoje, po- o ventilador e sacudir o feijão na de porque é o que chama o clien-
rém, incorporam-se, na forma de frente do ventilador; automatica- te, o cheiro vai longe e evita que o
recheio, outros elementos da culi- mente vão cair todas as cascas e to- azeite queime muito rápido. Vai
nária local (camarão seco, vatapá e dos os olhos que estiverem ali, vão modelando o acarajé (...) e coloca
caruru). A salada de tomate e cebola ficar as bandinhas todas inteirinhas, no fogo”. [entrevista realizada em
também foi introduzida recente- só grudadas, o que vai sair quando 13/12/01]
mente. Esses recheios ampliaram ele dilata. Bota de molho por duas
o tamanho do acarajé vendido nas horas, ele vai inchar e solta toda a E cada um dos recheios:
ruas e tornaram-no uma espécie de palha que estava grudada nele; lava
sanduíche, chamado de “sanduíche trocando de água até ficar limpo “existem dois tipos de vatapá: o
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 28

B AIA NA T Â NIA PRE PA RA N DO


O AC ARA JÉ E M SU A C OZ IN H A .
SAL VAD OR (BA ), 2 004.
FOTO: FRA N C IS C O M OREI R A
D A COS TA .

que você usa para almoço, que leva Engrossou, você coloca no fogo, não tiver, pode comprar a mistura-
amendoim, castanha, leite de coco passa a colher, ele já está fervendo; da, mas a maioria da vermelha, 80%
– eu não aconselho baiana a levar pouco tempo, ele já está cozido; o da vermelha; estala, bate no liqüi-
esse tipo de vatapá para o pon- diferencial é a gente colocar uma dificador ou no multiprocessador
to porque castanha é muito oleo- pitadinha de açúcar, o leite de coco com um pedaço de gengibre, um
sa, azeda. Baiana trabalha muito ao não é doce, o vatapá fica gostoso; dente de alho e um pouco de sal; o
sol, ao calor, então chega uma certa como a gente não coloca o leite de gengibre é que dá aquele ardor (...)
hora que isso vai estar ruim. O va- coco porque esse material vai estar a flor do azeite, é ela que vai dar o
tapá para o tabuleiro da baiana é exposto ao sol, a gente coloca uma caldo; bota em recipiente. Antiga-
feito com gengibre, cebola, cama- colher de chá de açúcar que fica mente a pimenta era torrada (...)
rão e um pouco de amendoim. equilibrado o sal e o açúcar, como eu encontrei um outro meio que dá
Bate tudo isso no liqüidifica- se você estivesse fazendo ketchup; no mesmo: bato no liqüidificador,
dor, coloca num recipiente com não tem o molho de macarrão que boto o azeite para ferver, quando ele
azeite, bota água para ferver e vem você equilibra o sal e o açúcar? A estiver fervendo, jogo dentro.
com a farinha de trigo, coloca den- mesma coisa o vatapá. (...) O caruru tem o mesmo
tro deste tempero, mexe para não (...) O camarão, é tirada a ca- tempero do vatapá (...) a gente colo-
embolar – você sabe a história do beça, os olhos, os cabelinhos da ca o azeite no fundo da panela; se fi-
vatapá: se não mexe, ele embo- barriga, que junta muita areia, e o car muito pesado, coloca meio copo
la mais no fogo; mas do meu jeito, rabo, que tem o esporão que fura a de água, sal a gosto, quiabo picado”.
é diferente: você bota a água para garganta do cliente; coloca de mo- [entrevista realizada em 13/12/01]
ferver, este tempero já está todo lho cerca de 40 minutos, escorre na
dissolvido, você vem com a água peneira (...) e refoga só com cebola
fervente, joga naquele tempero e e azeite, deixa mudar um pouco de
bate, engrossa na hora, você não cor. (...) A pimenta, de preferên-
precisa perder tempo mexendo. cia seca, que dá aquela cor escura; se
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 29

FE IJÃ O- FRA DI NH O À V E ND A
NA FE IRA D E S Ã O JOA QU I M .
S A L V A DOR ( B A ) , 2 0 0 4 .
FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

Segundo Cascudo (1983:490), de genética [de feijões], tanto para


existem registros em documentos do espécies silvestres como cultivadas:
século XIII da existência de feijões o mesoamericano, que se estende
na Europa, apesar de ressaltar que, desde o sudeste dos Estados Unidos
em Portugal, o feijão não tem “a até o Panamá, tendo como zonas
procura, a indispensabilidade, a principais o México e a Guatemala;
predileção com que é consumido o sul dos Andes, que abrange desde
no Brasil”. O autor insinua, ainda, o norte do Peru até as províncias do
que a tradição do uso dos feijões na noroeste da Argentina; e o norte dos
cultura africana é “bem antiga”, em- Andes, que abrange desde a Colôm-
bora não estabeleça datas, e lembra bia e Venezuela até o norte do Peru.
que não temos muitas referências Além destes três centros americanos
da origem dessa leguminosa, cujas primários, podem ser identificados
feijão: elemento básico versões de origem e usos apontam vários outros centros secundários
para a Ásia e até mesmo o continente em algumas regiões da Europa, Ásia
Consumido no país inteiro, o americano, o Brasil incluído. e África, onde foram introduzi-
feijão constitui a base da alimentação Quanto às diversas hipóteses de dos genótipos americanos (...). Os
brasileira, ocupa posição privilegia- origem e domesticação do feijoeiro, feijões estão entre os alimentos mais
da em nossos sistemas culinários e o portal da Embrapa Arroz e Feijão12 antigos, remontando aos primeiros
desempenha importante papel na também cita: registros da história da humanidade.
construção das identidades regio- Eram cultivados no antigo Egito e na
nais, tendo em vista a diversidade de “Dados mais recentes, com Grécia, sendo, também, cultuados
tipos domesticados e os usos singula- base em padrões eletroforéticos de como símbolo da vida”.
res em cada região, seja no consumo faseolina, sugerem a existência de
cotidiano ou ritualizado. três centros primários de diversida- Além do acarajé, que tem no
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 30

PIM E NT A M A L A GU E TA E PÁ GINA A O L A DO
QUIABO , FE IRA L IV RE D E A Z E IT E -DE -D E NDÊ À V E NDA
SÁBAD O, C A C H OE I R A ( B A ) , NA FE IRA DE S Ã O JOA QU IM .
2004. S A L V A DOR (BA ), 2 004.
FOTO : FRA N C IS C O M ORE I R A FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OST A . DA C OS TA .

ABAI XO
FE IJÃ O, M E RC A DO
M UN IC IPA L DE C A C H OE I R A
(BA), 2004.
FOTO : FRA N C IS C O M ORE I R A
DA C OST A .

feijão-fradinho (ou fradim) a base cravidão e aqui aclimatada, é abun-


de sua massa, em diversas outras dante na Bahia e em outros estados
comidas votivas percebe-se a apro- do Nordeste. Do fruto (igi opé) dessa
priação, levada para o espaço do árvore, sagrada para os Iorubá, tira-
cotidiano e do consumo geral, se o azeite-de-dendê (epô). Sendo
da influência africana no uso de assim, ao ofertar o acarajé, oferta-se
alimentos produzidos com feijões, também o epô, azeite no qual se frita
por exemplo, abará e feijoada. o acarajé e cuja cor se assemelha
Ernesto Lacerda (Ribeiro: s/d), à do fogo, símbolo marcado pelo
diretor-executivo da Empresa Baia- vermelho e marrom de Oiá.
na de Desenvolvimento Agrícola O consumo ou não de dendê pe-
(Ebda), diz que o feijão-fradinho, los orixás é marca identitária, carac-
embora mencionado como a base das teriza-se pelo uso de cores13, roupas,
receitas de acarajé, é apenas a deno- Nordeste e a segunda no país. Mu- metais14, objetos sagrados, assenta-
minação de uma das muitas varie- nicípio baiano localizado na zona da mentos, comidas e adornos corpo-
dades do feijão vigna, entre as quais Chapada Diamantina Setentrional e rais. Para o povo de santo, o dendê
estão o massaca, o boca-preta e o caupi. que abrange toda a área do Polígono atribui a esses elementos característi-
O feijão comercializado na Feira das Secas, Irecê é conhecido como a ca ideológica que se reflete na ética,
de São Joaquim em Salvador – prin- Capital do Feijão. na hierarquia, no comportamento
cipal ponto de compra dos ingre- e em diversas posturas. É um tabu
dientes para preparo dos alimentos Dendê: atestação do acarajé alimentar entre os filhos dos orixás
que compõem o tabuleiro da baiana brancos, também chamados de orixás
– é, em grande parte, originário de O dendezeiro, palmeira africana funfun, em especial, Oxalá.
Irecê, localidade que concentra a (Elaesis guineensis Jacq. palmácea) trazida
maior produção de feijão de todo o para o Brasil nos primórdios da es-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 31
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 32

BA I A N A NA F ESTA D E SA NTA
B Á R BA RA , N A I G R EJA
D E N O SS A SEN HO RA DO
R O S Á RI O DO S P R ETOS,
PE L OU R I N HO . SALV ADO R
(B A ), 20 0 4 .
F OT O : F R AN CI SCO MO REIRA
D A C O STA.

entre demais detalhes na barra;


camisu15, geralmente rebordada na
altura do busto; bata16 por cima e em
tecido mais fino; pano-da-costa17
ou pano-de-alaká de diferentes
usos, tecido de tear manual, outros
traje da baiana panos industrializados, retangu-
lares, de visual aproximado ao das
peças da África. As expressões estar de
saia ou usar saia podem referir-se ao
elaboradíssimo conjunto que monta
a roupa típica da baiana.
O turbante afro-brasileiro é de
O que é que a baiana tem?
Que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
A primeira e marcante identifica-
ção da baiana de acarajé ocorre
pelo traje, rica e complexa mon-
influência afro-islâmica, e tinha
a função de proteger a cabeça do
sol dos desertos ou de outras áreas
Tem brincos de ouro, tem! tagem de panos. Turbante, tecido tórridas do continente africano.
Corrente de ouro, tem! em diferentes formatos, texturas e Com seu uso e função ampliados,
Tem pano-da-costa, tem! técnicas de dispor, conforme inten- distingue a mulher em diferentes
Tem bata rendada, tem! ção social, religiosa, étnica, entre papéis sociais; compõe estéticas que
Pulseira de ouro, tem! outras; anáguas, várias, engomadas, informam as condições econômicas
Tem saia engomada, tem! com rendas de entremeio e de pon- e as intenções de uso e exibe, mui-
Sandália enfeitada, tem! ta, espécie de segunda saia; saia, ge- tas vezes, detalhes, sutilezas desper-
Tem graça como ninguém (...) ralmente com cinco metros de roda, cebidas pela maioria não iniciada.
(Dorival Caymmi O que é que a baiana tem?) tecidos diversos, com fitas, rendas, De muitas formas pode-se
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 33

DE T A L H E DO S A PA T O DA
B A IA NA TÂ NIA . S A L V A DOR
(BA ), 2 004.
FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

amarrar o torço (turbante) na ca-


beça. Existem os torços amarrados
de modo chamado de orelha, orelhi-
nha, sem orelha, com pano branco,
engomado, detalhado em bordado
richelieu nas pontas, totalmente liso e
discreto, ou em panos listrados de
diferentes cores, em brocado, seda,
lamê etc. O torço protege o ori (ca-
beça); para as mulheres iniciadas no
candomblé, o estar de torço tem signi-
ficados próprios, como também o
estar sem torço em momentos religiosos
especiais, nos quais se estabelece
contato mais direto com o sagrado.
As saias armadas, volumosas e
arredondadas são acréscimos das
indumentárias européias – saias à
francesa – e apóiam e complemen-
tam coreografias, uma vez que as
roupas, além de identificar pessoas
e personagens, atuam nos compor-
tamentos que vão de liturgias ao
teatro coletivo e de rua, cortejos e
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 34

TRA JE S DE BA IA NA S , S É C U L O
XIX.
FOTO : CH RI S T IANO JR.

autos dramáticos.
Batas largas, frescas e cômodas
são presenças muçulmanas, assim
como o changrim, chinelo de ponta,
de couro branco, lavrado.
Os fios-de-contas18, chama-
dos de ilequê pelo povo de santo,
especialmente os dos terreiros de
candomblé Kêtu-Nagô, são distin-
tivos de usos feminino e masculino,
embora sua maior expressão e força
estética estejam no domínio da
mulher. Acrescenta-se aos fios-de-
contas uma infinidade de objetos
que buscam reforçar os sentidos
simbólicos das cores e também dos
materiais empregados.
Nos candomblés, as roupas de
baiana ganham sentido cerimonial,
e sua elaboração costuma manter
aspectos tradicionais. Nos terreiros
Kêtu e Angola, as roupas têm ar-
mações que arredondam as saias; já
nos terreiros Jeje, as saias são mais
alongadas e com menos armação.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 35

A C E S S ÓRIOS DO T RA JE D E
BA IA NA (FIOS - DE - C ONT A S
E P A T UÁ ). PE L OU RINH O,
S A L V A DOR ( B A ) , 2 0 0 4 .
FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

Ainda em âmbito religioso, a roupa como adorno, e reforçam ideais de


de baiana é base para a dos orixás, riqueza e poder.
voduns e inquices, a que se so- Hoje ausentes da composição da
mam detalhes peculiares em cores, roupa de baiana, alguns elementos
matérias e formatos, tais como as visuais originais das pencas fixaram-
ferramentas, símbolos funcionais se nos fios-de-conta, nas pulseiras
das divindades. e, assim, mantêm simbolicamente
O traje emblemático da baia- marcas sociais e religiosas: ofá, oxê,
na está disseminado em diferen- mão-de-pilão, saquinhos de couro
tes manifestações populares. Nos ou tecido – patuás –, dentes encasto-
maracatus do Recife há a baiana ados e figas estão em fios de miçan-
rica, baiana pobre ou catirina gas, correntes de ouro ou de prata,
– com este último nome, também contas de louça, corais, languidibás,
nos autos do boi, em que é a mu- fios de búzios, entre outros.
lher do vaqueiro; crioula é como a A joalheria no traje de baiana é
chamam em cortejos e danças como composta de brincos – argolas dos
a de São Gonçalo, na localidade de tipos pitanga ou barrilzinho – e
Mussuca, Sergipe, em congadas, pulseiras (ides), de búzios, con-
nas alas obrigatórias das escolas de tas, corais, marfim, prata, ouro,
samba. E no marketing brasileiro, cobre, latão, ferro –, colares tipo
com Carmem Miranda, em solu- trancilim, de argolas encadeadas, e
ções visuais da baiana-rumbeira, os ilequês, com as cores simbólicas
verdadeira síntese de latinidade. As dos deuses pessoais, da família (ou
pencas ou molhos de balangandãs nação) e terreiro.
ou de amuletos podem ser incluídos
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 36

FE ST A DE S A NTA BÁ RBA RA NA
IG RE JA DE NOS S A SE NH O R A
DO ROS Á RIO DOS P RE TO S ,
PE L OURINH O, S A L V A DOR
(BA), 2004.
FOTO : FRA N C IS C O M ORE I R A
DA C OST A .

tos sócio-culturais relevantes nos


cenários devocionais urbanos, em
especial na cidade de Salvador, no
período de dezembro até o carna-
relação do val, com destaque para a padroeira
das baianas de acarajé, Santa Bárba-
ofício com as ra, celebrada anualmente no dia 4
festas de largo de dezembro.

festa de largo

As festas religiosas em homena-


gem aos santos católicos são tradi-
No dia quatro de dezembro
Vou no mercado levar
Na Baixa do Sapateiro (...)
A s baianas de acarajé e as fes-
tas de largo em Salvador são
referências culturais relevantes da
ção européia cuja origem remonta
à Idade Média. Realizadas, de modo
geral, no espaço das igrejas e em
Bahia a que o candomblé se relacio- seu entorno, caracterizam-se por
Bárbara, santa guerreira na intimamente. Onde tem festa de intensa sociabilidade e pela presen-
Quero a você exaltar largo, tem baiana de acarajé. ça simultânea de rituais religiosos
É Iansã verdadeira Essas festas religiosas19 consti- – novenas, missas e procissões – e
A padroeira de lá (...) tuem-se de atividades rituais que manifestações da vida cotidiana:
(Tião Motorista Dia quatro de dezembro) articulam e relacionam universos barraquinhas, brincadeiras, mú-
simbólicos do catolicismo oficial e sica, danças, comidas e bebidas.
do candomblé; configuram, assim, Entretanto, quando trazidas para
o catolicismo popular20. São aspec- o Brasil pelos portugueses, aqui
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 37

FE STA DE SA N TA B Á RBA RA
N O MERCA DO DE SA NTA
B Á RB AR A, B A IX A DO
S AP A TEI R O, SA LV ADO R (BA),
2004.
F OTO: F RAN CI SCO MORE IRA
D A CO ST A .

se misturaram a outras tradições


culturais, adquiriram características
peculiares nas diferentes regiões do
país e conferiram singularidades
às manifestações da vida coletiva
denominadas festas de largo. A noção
de largo no Brasil, associada a esse
contexto, refere-se, de modo geral,
ao espaço circunscrito em torno da
igreja, o adro.
Em Salvador e no recôncavo
baiano, essas festas compõem rico
calendário baseado no ano litúrgi-
co católico, cujo ciclo festivo mais um conjunto de práticas e rituais da formação da esfera pública, da
importante se estende dos primeiros que, ao associarem santos católicos produção do sentido de comuni-
dias de dezembro até o carnaval. A a orixás, relacionam o catolicismo dade, da operação de valores que
articulação entre a tradição européia oficial ao candomblé. Observe-se se partilham, da cristalização dos
e as tradições africanas mostra-se que a confluência dos rituais católi- ritmos da vida social, ou seja, no
mais marcante nessas localidades, cos e africanos na história urbana da escopo da ordenação das práticas
pois atribui à noção de festa de Bahia é mencionada por missioná- sociais mediante marcos de refe-
largo significados que não se res- rios e viajantes desde o século XVII. rência temporal no calendário local
tringem ao espaço sagrado da igreja, Muitos pesquisadores que das festas religiosas populares.
mas abrangem também o universo estudam a história social urbana Podemos citar, como exemplo,
profano das ruas. Constituem um associam essas festas aos contextos as festas de largo de Nossa Senhora
espaço simbólico representado por da construção social do tempo, da Conceição, de Santa Luzia, do
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 38

FE S T A DE S A NTA BÁ RBA RA N A
IGRE JA DE NOS S A S E NH OR A
DO ROS Á RIO DOS P RE TO S ,
PE L OU RINH O. S A L V A DOR
(BA ), 2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

IM A GE M D E S A NTA BÁ RBA R A
A O L A DO DA S A CRI S T IA DA
IGRE JA DE NOS S A S E NH OR A
DO ROS Á RIO DOS P RE TO S
NO PE L OU RIN H O, S A L V A DOR
(BA ), 2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

Senhor dos Navegantes, da Lapinha ou Oiá. A Igreja católica a celebra grupo de capoeiristas e um peixei-
de Reis, do Bonfim, de São Láza- em 4 de dezembro, dia em que, no ro, e desse último seria a idéia de
ro, de Iemanjá e de Santa Bárbara, Brasil e especialmente em Salvador, oferecer um caruru a Santa Bárbara
que será ressaltada em função de se ocorrem inúmeras manifestações: e mandar celebrar uma missa. Pier-
tratar da padroeira das baianas de celebração de missas, distribuição re Verger, ainda, em Notícias da Bahia
acarajé e ser associada a Iansã, orixá de caruru e acarajés, toque de ata- – 1850 (1999:73), registra que, já
ao qual se oferta o acarajé. baques, uso de vestimentas e deco- naquela data, essa festa inaugurava o
rações nas cores vermelha e branca, ciclo festivo de Salvador.
Festa de Santa Bárbara que correspondem tanto à santa Sobre a participação de lide-
como ao orixá. ranças afro-descendentes na orga-
O culto21 a Santa Bárbara foi Existem versões distintas para a nização da festa, Josélio Santos, no
trazido ao Brasil pelos portugueses, origem dessa celebração em Salva- artigo Eparrei, Bárbara! Espetacularização
que invocavam a santa contra morte dor. Anísio Félix (1982), no livro e Confluência de Gêneros na Festa de Santa
trágica, trovoadas, raios, perigo das Bahia pra começo de conversa, afirma que Bárbara em Salvador (2005:34), locali-
armas de fogo, explosões e tempo- os festejos originaram-se em 1912 za referências na memória oral que
rais, e, assim, fizeram-na padro- por iniciativa de três mulheres que remetem a 1907, o que reafirma
eira dos artilheiros, bombeiros, vendiam mercadorias no antigo a origem da festa como anterior a
fogueteiros, fabricantes de fogos de Mercado de Santa Bárbara: Bibia- 1912: “a participação do povo de
artifícios, mineiros que lidam com na, Luzia e Pinda. Naquela época, o santo na festa de Santa Bárbara
explosivos, encarcerados, pedrei- mercado estava situado na Praça da ocorria desde a segunda metade do
ros, arquitetos, sineiros, tecelões Inglaterra, de onde saía a procissão. século XIX”.
e chapeleiros. Na Bahia, também é Entretanto, segundo o artigo Festas Independentemente da origem
protetora dos mercadores. fixas, publicado pela Bahiatursa22 – que no imaginário popular está
No contexto do candomblé, (2005), a festa se teria originado mais relacionada ao Mercado de
Santa Bárbara corresponde a Iansã de maneira informal, graças a um Santa Bárbara antes localizado na
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 39

C A PE L A DE S A NTA BÁ RBAR A ,
RIO V E RM E L H O, S A L V A DOR
(BA ), 2 004.
FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

área do Comércio, na Cidade Baixa ra da Conceição, São Lázaro e Nos-


–, essa festa que, antigamente, so Senhor do Bonfim. O percurso
segundo crônica de Pierre Verger do cortejo começa na Ladeira do
(op. cit.:73), passava “um pouco Pelourinho, segue pela Rua Gre-
desapercebida do grande público, gório de Matos, Rua João de Deus,
pois ocorria em meio à novena de Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Rua
Nossa Senhora da Conceição, santa da Misericórdia, Praça Municipal,
de maior devoção entre os baia- Ladeira da Sé, Quartel do Corpo
nos”, é hoje a que mais conquista de Bombeiros, onde a procissão
adeptos em Salvador. entra ao som de sirenas, e Merca-
As cerimônias católicas da festa do de Santa Bárbara, atualmente
no Pelourinho são organizadas há na Baixa do Sapateiro. Após esse
quatro anos por um grupo de “ir- trajeto, retorna à Igreja do Rosário
mãos de devoção de Santa Bárba- dos Pretos. Logo em seguida à saída
ra” na Igreja de Nossa Senhora do da procissão do Quartel do Corpo
Rosário dos Pretos, com alvorada de Bombeiros, é feita a distribuição
de fogos às quatro horas da manhã, de caruru à população, e a procis-
seguida de missas às sete e às nove são segue para o Mercado de Santa
horas. Os cantos são entoados ao Bárbara, onde se repete a distribui-
som de tambores. Em seguida, a ção, mas não antes da ocorrência do
imagem da santa sai em procissão Padê de Exu23, ao som de atabaques.
acompanhada das imagens de Santo É comum a distribuição de acarajé
Antônio, São Cosme e São Damião, feita por devotos na porta da igreja.
São Roque, São Miguel, São Jerô- No dia 6 de dezembro é realiza-
nimo, São Benedito, Nossa Senho- do o tradicional caruru da família
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 40

FE S T A DE S A NTA BÁ RBA R A
NO M E RC A DO D E S A NTA
BÁ RBARA , BA IXA DO
S APA T EIRO , S A L V A DOR ( B A ) ,
2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

PÁ GINA A O L A DO
AC A RA JÉ DE IA NS Ã , NO
C A NDO M BL É DO E NGE NH O
V E L H O.
IC ONOGRA F IA : CARY BÉ .

Sant’Anna24, preparado e distribuído sagrada não tem tempo determina-


na rua, mais precisamente na esquina do para acontecer. Entre saudações
da Ladeira do Carmo com o Taboão, distintas – “Viva Santa Bárbara”,
próximo ao Largo do Pelourinho e “Eparrei, Oiá”, “Eparrei, Bárbara”
ao Mercado de Santa Bárbara. – e diante do andor que carrega a
Anteriormente, a Festa de Santa imagem da santa, muitos adeptos
Bárbara era realizada durante três do candomblé entram em transe.
dias – de 4 a 6 de dezembro – no A identificação Santa Bárbara/Ian-
antigo Mercado de Santa Bárbara. sã durante a festa (...) [demonstra
No dia 4, acontecia a festa religiosa, que] as dimensões do sincretismo
com procissão e missa, no dia 5, como mistura, paralelismo ou justa-
samba-de-roda, capoeira e macule- posição e convergência ou adaptação
lê, e no dia 6, o caruru. Atualmen- podem ocorrer em diferentes mo-
te, apesar de a festa ter sido reduzi- mentos rituais e/ou em um mesmo
da ao primeiro dia, permanece no espaço”.
dia 6 de dezembro a distribuição do
caruru da família Sant’Anna. A singularidade dessa celebração
Nesse período, muitos terreiros caracteriza e traduz a vida cotidiana da
fazem suas festas em homenagem capital baiana, marcada pela inten-
a Iansã. Sobre a referência a Iansã sa sociabilidade que se expressa em
na festa de Santa Bárbara, Josélio diversas manifestações culturais; ao
Santos (op. cit.:44) afirma que contrário das demais festas de largo
– quase todas em declínio – a de Santa
“A ritualização da reverência Bárbara atrai, a cada ano, novos adep-
maior à santa/orixá durante a festa tos para suas cerimônias e rituais.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 41

Iansã/Santa Bárbara – a cuspir fogo, para grande desgosto para, assim, evitar a aproximação
padroeira das baianas de de Xangô, que desejava guardar só de qualquer pretendente. Durante
acarajé para si esse terrível poder. Antes uma viagem do pai, Bárbara pediu
de se tornar mulher de Xangô, Oiá para ser batizada na fé cristã e,
Em “história narrada por Pai tinha vivido com Ogum. (...) Ela como na torre onde vivia existiam
Cosme, um velho pai de santo da fugiu com Xangô e Ogum enfu- duas janelas, pediu que fosse aberta
Bahia”, no livro Orixás: deuses iorubás recido, resolveu enfrentar o seu uma terceira, em homenagem à
na África e no Novo Mundo (1997:168), rival e lançou-se à perseguição dos Santíssima Trindade. A atitude
Pierre Verger descreve o orixá Ian- fugitivos e trocou golpes de varas provocou a ira do pai e ela foi
sã-Oiá (Oyá) que, na África, é mágicas com a mulher infiel que obrigada a fugir. Durante a fuga, os
foi então dividida em nove partes. rochedos da torre abriram-se para
“divindade dos ventos, das Este número 9, ligado a Oiá, está que ela escapasse. Denunciada por
tempestades e do Rio Níger que, na origem de seu nome Iansã (...) um pastor, foi capturada, julgada
em iorubá, chama-se Odò Oya. Esses nomes teriam por origem a e condenada a sofrer inúmeros
Foi a primeira mulher de Xangô expressão Aborimesan (“com nove suplícios, inclusive o de ser
e tinha um temperamento arden- cabeças”), alusão aos supostos nove exibida nua por todo o país. Deus,
te e impetuoso. Conta uma lenda braços do delta do Níger”. compadecendo-se de sua sorte,
que Xangô enviou-a em missão na vestiu-a com um manto vermelho.
terra dos baribas, a fim de buscar Segundo a liturgia católica, Depois dos castigos, foi executada
um preparado que, uma vez inge- Santa Bárbara era uma jovem por seu pai, que lhe cortou a cabeça
rido, lhe permitiria lançar fogo e natural da cidade de Nicomédia com uma espada. Pouco depois de
chamas pela boca e pelo nariz. Oiá, de Bitínia, na Ásia Menor. Como martirizá-la, ele morreu fulminado
desobedecendo às instruções do era dona de uma beleza fora do por um raio e, por causa disso,
esposo, experimentou esse prepara- comum, seu pai, enciumado, Santa Bárbara passou a ser invocada
do, tornando-se também capaz de mandou trancá-la numa torre, durante as tempestades.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 42

FE ST A DE S A NTA BÁ RBA RA NA
IG RE JA DE NOS S A SE NH O R A
DO ROS Á RIO DOS P RE TO S ,
PE L OURINH O. S A L V A DOR
(BA), 20 0 4 .
FOTO : FRA N C IS C O M ORE I R A
DA C OST A .

Dessa perspectiva, o mito de Oiá a uma identidade sexual do que à nalidade da cultura do orixá (...)
ou Iansã e a história de Santa Bárbara correspondência de atributos, algo mulheres de Iansã quase não cho-
apresentam correspondência simbó- já assinalado, no início do século ram. Eu tiro por mim (...) Eu não
lica e se caracterizam pelos atributos 20, por Nina Rodrigues, que se me deixo esmorecer com a situação
de coragem, audácia, temperamento inquietava com a relação Xangô/São (...) [Para mim] como [para] todas
guerreiro e colérico, além de serem Jerônimo/Santa Bárbara”. as mulheres de Iansã (...) tudo pra
relacionados às tempestades. Lúcia França, uma das entrevis- gente é novidade, tudo pra gente é
Josélio Santos (op. cit.:37) afir- tadas para o Inventário da Festa de muito bonito, sabe? É tudo lindo.
ma que, até a década de 1920, essa Santa Bárbara realizado pelo E vai enfrentando, e se sente muito
associação também era feita entre CNFCP/Iphan, não estabelece rela- gostosa, se sente muito dinâmica. É
Xangô e Santa Bárbara. Entretanto, ção com o orixá masculino e descre- um processo que a própria cultura,
a partir dos anos 30, começou a de- ve as mulheres de Oiá/Iansã como a própria personalidade das mulhe-
saparecer e, atualmente, não existe res que recebem Oiá, que têm Oiá,
no Brasil referência à correspon- “muito batalhadeiras (...). têm essa performance de saída. Aí
dência com o orixá masculino. No Lutam pelos seus objetivos, pe- dizem – não tem sorte no amor.
mesmo artigo, o autor afirma que los seus ideais, não têm medo do Não é questão de ter sorte no amor,
medo, sempre são mulheres, como tem muita sorte no amor. É amada,
“Os papéis de incorporação dos diz assim, vistosas, dinâmicas (...) é muito desejada, é muito galantio-
gêneros masculino e feminino que a E suas personalidades mais fortes sa, gostosíssima, “mulher de toda
santa católica trazia, paulatinamen- é amar e às vezes não ser amada. E hora”, sabe como é que é? mas...
te, deixaram de ser a ela associados às vezes pensam que são até volú- é a situação que impõe dela ser tão
no imaginário afro-brasileiro. É veis (...) Porque não é amada e aí forte assim que às vezes as pessoas
certo que as definições de gênero você parte pra outro (...) é uma ficam em conflito de compatibilida-
no plano simbólico do sincretismo característica que elas têm daquela de. Mas que sabem amar, sabem ser
afro-religioso se reportavam menos dominação interior que é perso- excelentes mães, mulheres fantásti-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 43

B AIANA NA FE S T A D E
SANT A BÁ RBA RA NA IGRE JA
D E N OS SA S E NH ORA DO
ROSÁRIO DOS PRE T O S ,
PE L O URIN H O. S A L V A DOR
(BA), 2 0 0 4 .
FOTO : FRA NC IS C O M OREI R A
D A C OS TA .

e de lealdade absoluta em certas nada com uma coroa semelhante


circunstâncias, mas que em outros à dos reis africanos, cujas franjas
momentos, quando contrariadas de contas escondem seu rosto. Ela
em seus projetos e empreendimen- traz um alfanje em uma das mãos e
tos, deixam-se levar a manifestações um espanta-moscas feito de cauda
da mais extrema cólera”. de cavalo na outra. Suas danças são
guerreiras e, se Ogum está presente,
Segundo o mesmo autor, no ela se engaja num duelo com ele,
Novo Mundo, em especial no Brasil, lembrança sem dúvida de suas anti-
gas divergências. Ela evoca também,
“as pessoas dedicadas a Iansã, através de seus movimentos sinuosos
nome sob o qual ela é conhecida no e rápidos, as tempestades e os ventos
Brasil [usam] colares de contas de enfurecidos. Seus fiéis saúdam-na
cas. Elas têm muito esse idealismo, vidro grená. A quarta-feira é o dia gritando: “Epa Heyi Oya!”.
mulheres idealistas, muito sonhado- da semana consagrado a ela, o mes-
ras (...) E a mulher de Oiá é isso!” mo dia de Xangô, seu marido. Seus Entretanto, existem pratican-
[entrevista realizada em 2005] símbolos são como na África: os tes tanto do catolicismo como do
chifres de búfalo e um alfanje, co- candomblé que negam a associação
O arquétipo das mulheres filhas locados sobre seu “pejí”. Ela recebe de santos católicos com orixás. Em
desse orixá também é descrito por sacrifícios de cabras e oferendas de número pequeno, tais grupos não
Verger (1997:170): acarajés (àkàrà na África). Ela de- comprometem, no imaginário po-
testa abóbora e a carne de carneiro pular, essa referência.
“as mulheres de Oiá-Iansã são lhe é proibida.
audaciosas, poderosas e autoritá- Quando se manifesta sobre
rias. Mulheres que podem ser fiéis um dos iniciados, ela está ador-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 44

BA IA NA DE A C A RA JÉ TÂ NIA
BÁ RBARA E M S EU PONT O D E
VE NDA N O FA R OL DA BA RR A ,
S A L V A DOR ( B A ) , 2 0 0 4 .
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

no tabuleiro da PÁ GINA A O L A DO

baiana tem...
BA IA NA PRE P A RA NDO
A C ARA JÉ , S A L V A DOR ( B A ) ,
2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

O tabuleiro da baiana concentra


e reproduz práticas culturais
coletivas, entre elas, as técnicas de
que está “sentada no tabuleiro”25
não seja necessariamente a proprie-
tária: pode ser sua filha, cunhada,
feitura de alimentos tais como aba- irmã ou nora, pois trata-se de em-
rá, bolinho-de-estudante, cocada preendimento familiar, cujos
preta, cocada branca, passarinha
(baço bovino frito), pé-de-mole- “pontos mais tradicionais [estão
que, doce de tamarindo, lelê (bolo localizados no] Bonfim, Mercado
de milho), queijada e o acarajé (de Modelo, Lagoa do Abaeté, Itapuã,
todos o mais emblemático), que Amaralina, Praça da Sé, Prefeitura,
também podem estar presentes nas Praça Municipal, Castro Alves, Re-
cerimônias religiosas e na comer- lógio de São Pedro, Barra, Ondina,
cialização. Produzidos na cozinha Pelourinho, Terreiro de Jesus, o ae-
do terreiro, para as cerimônias re- roporto, porto, vários pontos (...).
ligiosas, e na cozinha da residência A orla de Salvador, não existe orla
de quem comercializa, ao contrário sem acarajé”. [Clarice dos Anjos em
do acarajé, os demais itens alimen- entrevista realizada em 13/12/2001]
tares citados acima não são fritos no
ponto de venda.
Os tabuleiros, assim como os
pontos de comercialização, são parte
integrante da paisagem de Salvador
e recebem o nome de suas donas:
o acarajé da Tânia, da Dinha, da
Cida, da Regina, embora a pessoa
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 45

Definições e significados dos lho ralado na pedra, é preparada de


itens alimentares associa- maneira que fique tão fina quanto
dos ao tabuleiro da baiana possível, pela utilização da peneira
de urupema, designação comum no
Abará. Sua massa é preparada Nordeste. Após um dia inteiro em
com feijão-fradinho, que fica de que é deixada na água para azedar,
molho até perder a casca, em pro- essa água é trocada e a massa é, en-
cedimentos similares aos do acara- tão, cozida. O grosso mingau, reti-
jé. A massa é cozida em banho-ma- rado com colher de pau, é colocado
ria, os bolinhos envoltos em folhas em pedaços de folhas de bananeira
de bananeira “assada” (passada previamente aquecidas no fogo para
rapidamente pelo fogo, ganha atingir a textura desejada. O acaçá
qualidade especial). Cada bolinho é esfriado geralmente em utensílio
leva um camarão seco. Os temperos de louça branca ou ágata. Esse é o da, sempre com o uso da colher de
de sal, cebola, azeite-de-dendê e acaçá branco. Segundo alguns pre- pau para preparar a liga. No azeite-
camarões secos são os usuais para ceitos, coloca-se azeite-de-dendê de-dendê fervente, em frigideira
o abará de uso ritual religioso, sobre os acaçás vermelhos prontos e grande, panela rasa ou tacho, as
sendo o de comércio nas vendas de mel de abelha nos acaçás brancos. porções da massa de feijão são fritas
rua – nos tabuleiros – acrescido de Acarajé. Preparado com feijão- até tornarem-se douradas.
vatapá e do molho nagô. É também fradinho, que fica de molho até O acarajé para uso profano
conhecido por abala ou olelé. Embo- soltar a casca e é depois passado em pode ser comido com o molho
ra outros orixás (Obá e Ibeji) co- pedra ou moinho, resulta em massa nagô, mas para as práticas sagra-
mam abará e acarajé, eles são mais que será temperada com cebo- das é apenas frito. Seu tamanho e
populares como comida de Iansã. la ralada e sal. A massa deverá ser formato têm simbolismos próprios
Acaçá. Sua massa, à base de mi- misturada até a consistência deseja- associados a divindades específicas.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 46

Q U IA BOS À V E NDA N A F E I R A
DE S Ã O JOA QU IM . S A L V A DOR
(BA ), 2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

A BA IXO
C A RU RU DA F E S TA DE S A NT A
BÁ RBARA NO M E RC A DO D E
S A NTA BÁ RBA RA , BA I XA DO
S APA T EIRO , S A L V A DOR ( B A ) ,
2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

O acarajé grande e alongado é de nia Bárbara Nery, baiana de acarajé


Xangô; os menores servem para que nos deu essa receita, explica sua
as iabás como Iansã; Obá e os Erês receita do leite de coco: “ralo coco
têm em seus cardápios votivos os natural, boto bagacinho e tudo,
pequenos acarajés de formato bem completo com água, até dar o ponto
redondo. Também é conhecido para deixar inchar”.
como acará. Caruru. O caruru para o tabu-
Acarajé de azeite-doce. Pre- leiro da baiana é feito com gengi-
parado com os mesmos rigores do bre, cebola, camarão, sal e um pou-
acarajé frito em azeite-de-den- co de amendoim e açúcar. Bate-se
dê, esse tipo faz parte do cardápio tudo no liqüidificador, coloca-se
das divindades que não utilizam o numa panela com azeite e quiabo
dendê ou fazem pouco uso dele, daí cortado; se ficar muito pesado, co-
a fritura ocorrer em azeite-doce ou loca-se meio copo de água. (Receita há necessidade de ervas tais como
de oliva. de Clarice Santos dos Anjos, baiana a bertalha, unha-de-gato, cape-
Bolinho-de-estudante. Pre- de acarajé.) ba, bredo-de-santo-antônio, oió,
parado à base de tapioca, açúcar e Para o caruru de almoço, almeirão, acelga, nabico, mostarda
leite de coco. Mistura-se primeiro utilizam-se quiabos cortados em e espinafre. É comum a utilização
a tapioca e o açúcar, acrescenta-se o pedaços pequenos, que são lavados de peixes, carne-seca e frangos que
leite de coco aos poucos até dei- para conter a “baba”. São tem- são sacrificados por matanças rituais
xar essa massa bem ensopada: não perados com sal, camarão seco, em honra dos Ibejis ou Erês. Essas
pode ficar dura nem mole. Depois cebola, amendoim, castanha e carnes são temperadas de modo
de enrolado, o bolinho é passado podem, ainda, levar favas africa- comum e adicionadas à vasilha de
na tapioca, frito em azeite-doce e nas. O caruru tradicional é bem quiabo, ervas e condimentos. É im-
temperado com cravo e canela. Tâ- mais complexo em sua feitura, e portante a fartura do dendê, feito
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 47

B A IA NA TÂ NIA PRE PA RA ND O
O A C ARA JÉ E M SU A C OZ INH A .
S A L V A DOR (BA ), 2 004.
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C OS T A .

da flor, e assim está pronto o prato de Tânia Bárbara Nery, baiana de


da predileção dos santos gêmeos. O acarajé.)
caruru é servido em gamela de ma- Lelê. Prato preparado com
deira ou tigela de barro redonda. milho e leite de coco. Utiliza-se o
Segundo os preceitos, as crianças milho miudinho do tipo chamado
comem com as mãos, sem utiliza- milho vermelho, além de canela,
ção de talheres. Em pequenas nagés cravo, sal e açúcar. Todos os ingre-
são retiradas porções especiais, dientes vão ao fogo até tornarem-se
que ocupam lugar nos pejis. É de massa consistente, à qual se adiciona
tradição colocar três, sete ou doze sempre um pouco de leite de coco.
quiabos inteiros no caruru, obriga- O lelê, depois de pronto, esfria e
ção comum mesmo para carurus de fica bem durinho, pronto para ser
uso profano realizados fora do ciclo oferecido. Também é conhecido
de setembro. como canjicão ou lelê-de-milho.
Também conhecido como oma- Molho nagô. Feito de limão,
lé de Ibeji e carirui, nomeia festas quiabo, jiló, pimenta e camarão
populares afro-brasileiras em que é seco. Algumas pessoas adicionam
o prato principal: caruru de Cos- azeite-de-dendê. O mesmo que
me, caruru das crianças, caruru dos molho guloso ou molho de lambão. Uso
erês, caruru de Santa Bárbara ou extra-religioso.
caruru, simplesmente. Munguzá. Milho branco cozido
Doce de tamarindo. Doce à base e temperado com açúcar, coco, cra-
de tamarindo e açúcar. Coloca-se vo, canela e leite de vaca. Alimento
o açúcar para queimar e acrescen- cotidiano e também de períodos
ta-se o tamarindo lavado. (Receita festivos como o São João, é comida
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 48

ritual de Oxalá em alguns terreiros


de candomblé e de umbanda.
Passarinha. Depois de cozida e
retirada sua pele, a passarinha (baço
do boi) é temperada e frita. (Recei-
ta de Tânia Bárbara Nery, baiana de
acarajé.)
Queijada. O coco descascado
e picado é colocado no fogo com
açúcar e um pouco de água. Podem
ser acrescentadas frutas: goiaba,
abacaxi, jenipapo. (Receita de Tânia
Bárbara Nery, baiana de acarajé.)
Vatapá. Existem dois tipos de O vatapá de almoço é um tipo pó-de-arroz (creme de arroz) ou
vatapá: aquele servido no tabulei- de papa de pirão de peixe fresco, do próprio pão francês dormido,
ro da baiana é feito com gengibre, bacalhau e galinha. “A papa é cozida posto de molho e passado na penei-
cebola, camarão, sal e um pouco de no leite de coco temperado com sal, ra.” (Vianna, 1977:39)
amendoim e açúcar. Bate-se tudo no camarão seco, pimenta e amendoim O vatapá, também chamado
liqüidificador, coloca-se num reci- (facultativo). Para enriquecer o ebatapá, encontra-se no cardápio
piente ao fogo com azeite, farinha sabor, põem-se, todavia, pedaços do caruru de Cosme e em oferendas
de trigo e um pouco de água, sem de peixes (...), castanha-de-caju, ao orixá Iansã, entre outros.
deixar de mexer sempre. Quando gengibre, salsa e outros ingredien-
engrossar, continua-se o cozimento tes (...). O vatapá pode ser feito
até ferver. (Receita de Clarice Santos com farinha-do-reino (trigo),
dos Anjos, baiana de acarajé.) farinha-de-guerra, flor de milho,
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 49
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 50

PÁ GI N A 4 8 PÁGI N A 48 PÁ GINA 49
P R E P ARA ÇÃO DO CA MA RÃO C OE NT RO À VE NDA N A F E I R A PRE PA RO DO V AT A P Á .
PA R A O R ECHEI O DO D E SÃO JOA QU IM . S A L V A DOR S A L V A DOR (BA ), 2 002 .
A C A R AJ É E AB A RÁ. SALV ADOR (BA), 20 0 4 . FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
(B A ), 20 0 4 . FOTO: FRA NC IS C O M ORE I R A DA C OS T A
F OT O : F R AN CI SCO MO REIRA DA C O S TA .
D A C O STA.
C AM ARÃO S E C O, FE IRA L IV R E
T O MA TES SECO S À VEN DA D E SÁBA DO, C A C H OE I R A
NA F EI RA D E SÃO J OAQ UI M. (BA), 2004.
S A L V ADOR (BA), 2004. FOTO: FRA NC IS C O M ORE I R A
F OT O : F R AN CI SCO MO REIRA DA C O S TA .
D A C O STA.

5. Segundo Maria Leda Marques, cabeça” (apud Moura, 1998:31).


presidente da Associação das Baianas de 11. Na ocasião em que nos revelou sua
Acarajé, Mingau, Receptivos e Similares do receita, Clarice era presidente da Abam.
Estado da Bahia (Abam), 70% das baia- 12. www.cnpaf.embrapa.br
nas de acarajé vinculadas à associação são 13. Tais como: vermelho, verde, ama-
chefes de família. relo, azuis intensos e laranjas.
6. Existem registros da denominação 14. Em especial o cobre e o latão dourado.
notas “baiana” ou “crioula” para as escravas e suas 15. Tipo de camisa de uso estritamen-
descendentes vendedoras de quitutes nas te feminino, geralmente feita de algodão
ruas de Salvador desde o período colonial. branco com o decote bordado em richelieu,
7. Terreiro também vinculado “à nação crivo ou com aplicações de rendas de en-
kêtu, cujo nome próprio em língua africana, como tremeio e de bico. O camisu vai até quase
dizem os adeptos do candomblé, revela um título rela- o joelho – serve também para compor a
cionado a Xangô – Iá Nassô Oió Acalá Magbô roupa de baixo – e sobre ele é usada a bata.
Olodumaré” (Lody, 1998). É também usado nas roupas cerimoniais
1. Akará olelé, em iorubá. 8. Devido à complexidade e amplitude dos orixás, voduns e inquices; vê-se, con-
2. As baianas também mercavam o aca- do tema alimentação, verificou-se a necessi- forme o santo, o uso de camisus, sempre
rajé falando “acarajé bem benzer”. Segundo dade de definir categorias que pudessem brancos. A peça é às vezes chamada apenas
Dorival Caymmi, em sua música A preta do orientar os inventários a ele referentes. de camisa, com algumas variações formais,
acarajé, os gritos ecoavam como um lamento. Nessa perspectiva, optou-se pela categoria como a presença de botões de ouro em
3. O ganho dizia respeito a qualquer sistema culinário, noção que será abordada mangas curtas.
espécie de venda pública, incluindo a de no tópico 3 (Dinâmica e mudanças – o 16. Peça tradicional da indumentária de
comidas, realizada por escravos para seus sentido do registro). baiana. Lembra as roupas folgadas dos afro-
senhores (geralmente pequenos proprietá- 9. Entrevista realizada em dezembro islâmicos, é usada sobre o camisu ou camisa
rios empobrecidos). de 2003. de rapariga. A bata pode ser branca, rendada,
4. Nesse contexto, os mitos, as mo- 10. Avé-Lallemant, viajante francês bordada ou de estampas miúdas e em cores
dinhas e as canções populares que men- que passou pela Bahia em 1859, observou preferencialmente claras. É também no
cionam a baiana de acarajé ou o acarajé que “as baianas levam seus tabuleiros com candomblé um distintivo de alta hierarquia,
expressam sua importância no universo das comida e frutas num equilíbrio impossível! prerrogativa das iniciadas que tenham cum-
representações simbólicas. (...) O povo continua levando a Bahia na prido sete anos de obrigações específicas.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 51

17. Tecido confeccionado por proces- nagem a divindades ligadas às religiões de é exprimir o mundo, e as práticas do
so artesanal ou de feitura industrializada, um grupo social. Pode exaltar uma parte da culto têm a função de estreitar os laços
mantém características de padronagem e existência do homenageado, um aconteci- que unem o fiel a seu deus. Essas práticas
formato retangular. O pano pode ser bico- mento ou outros aspectos. É caracterizada também estreitam os laços que unem o
lor, listrado ou em madras, ou totalmen- pelo poder associativo. Engloba, entre ou- indivíduo à sociedade de que é membro.
te branco, bordado – em crivo, richelieu, tras, as esferas de lazer, estética e tradição. 22. A Bahiatursa (Empresa de Tu-
ponto cheio – ou com aplicação de renda Possibilita a aproximação entre indivíduos, rismo da Bahia S/A) é “o órgão oficial de
de bilro e outras técnicas. É confeccionado divertimento que reaviva tradições, reforça turismo da Bahia sendo responsável pela
em tiras que depois são costuradas – cada laços de origem, mas também incorpora coordenação e execução de políticas de
pano tem em média seis, oito ou mais novos elementos e anseios. Acontece de promoção, fomento e desenvolvimento do
tiras, de acordo com o uso – e explicita modo extracotidiano, mas a partir de ele- turismo no Estado, de acordo com as di-
hierarquia, uso festivo, tipo ou qualidade mentos característicos do dia-a-dia retrizes governamentais” (site http://www.
do orixá, vodum ou inquice patrono. 20. Segundo Carlos Rodrigues bahiatursa.ba.gov.br).
18. Os fios-de-contas são, como Brandão (1987), em O festim dos bruxos: estudos 23. Oferecimento de um alimento a
o próprio nome diz, contas enfiadas sobre a religião no Brasil, catolicismo popular Exu, caracteriza o início das cerimônias
em cordões ou fios de náilon. Conven- é um sistema quase autônomo de crenças nos terreiros de candomblé. O padê é
cionalmente, as contas eram enfiadas e práticas de vivência popular da reli- composto por farofa-de-dendê, farofa
na palha-da-costa, em etapa posterior gião católica, que, em especial, enfatiza o branca e água; pode ser complementado
substituída pelo cordão feito de algodão, caráter de culto aos santos. Núbia Gomes com acaçá e acarajé.
e recentemente pelo náilon. As cores e os e Edimilson Pereira (1988), em Negras raízes 24. Almir Sant’Anna mantém a tra-
materiais que formam cada fio-de-contas mineiras: os Arturos, ressaltam que esse modelo dição iniciada por sua família junto com
variam conforme a intenção, podendo popular é “permeável à influência de outros comerciantes do Mercado de Santa
marcar hierarquia, situações especiais, uso outras estruturas religiosas, que se amal- Bárbara, há 22 anos, quando o estabele-
cotidiano, além da combinação de certas gamam de maneira a formar um todo cuja cimento foi vendido para particulares que
contas especiais, como canutilhos de coral, autonomia se definirá sempre em relação proibiram o caruru.
seguis e firmas africanas que servem como às estruturas religiosas anteriores, que lhe 25. A expressão “sentada no tabulei-
arremates dos fios. forneceram elementos de representação”. ro” é nativa, utilizada para a mulher que
19. Segundo o Tesauro de Folclore e 21. Segundo Émile Durkheim (1989), bate e frita a massa do acarajé no ponto
Cultura Popular, festa religiosa é atividade no clássico As formas elementares da vida religiosa, de venda, independente de estar ou não
ritual freqüentemente realizada em home- o culto é um sistema de idéias cujo objetivo atendendo a clientela.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 52

o acarajé na contemporaneidade
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 53

ACA RAJ É F RI TAN DO NO


DE N DÊ, CACHO EIRA (BA),
2004.
F O TO: F RAN CI SCO MORE IRA
D A CO ST A .

PI MEN TA À VEN DA NA FEIRA


DE SÃO J O AQ U I M. SA L VAD OR
( B A) , 20 0 4 .
F OTO: F RAN CI SCO MORE IRA
D A CO ST A .

A o longo dos anos, o processo


de produção e comercialização
do acarajé mudou. Se nos períodos
anos 70 a influência dessas coisas de
pizza, essas coisas, começaram a co-
locar salada que não tinha nada a ver
colonial e imperial caracterizava-se (...). Era vatapá, camarão e pimenta,
por chegar ao espaço da rua já frito e mais recente, nos anos 80 para 90,
– quando recebia, no máximo, se começaram a colocar caruru já por
solicitado, o acréscimo de pimenta conta do turismo, aí vem a pressão
– e por ser vendido por meio de ga- de fora, os turistas que querem pro-
nhos em tabuleiros ou gamelas leva- var a comida baiana, e aí o tabuleiro
dos na cabeça, no século XX, passou fica farto, um pouquinho de caru-
a ser frito nas ruas, onde as baianas ru, um pouquinho de vatapá, um
instalam seu ponto, que é demarca- pouquinho de cada coisa, e aí você
do por caixas de vidro ou tabuleiros. começa a encher com uma série de
Posteriormente, foram introduzidos guerra aqui, contava que foi de certa coisas para dar a oportunidade aos
como recheios o vatapá, o caruru e forma uma influência muito ame- turistas de provar essas comidas, e o
a salada, o que, segundo Ubiratan ricana porque a chegada dos ameri- acarajé passa a ser um continente,
Castro de Araújo, deve-se a três mo- canos em 43/44 mudou muita coisa passa a fazer um papel de pão, todas
mentos e influências: (...). A cidade se americanizou mui- essas adaptações foram adaptações
to, com gestos, costumes, namoro que ajudaram a modificar o acara-
“Desde menino eu já comecei (...) e uma das coisas foi o acarajé ter jé (...) mas ao mesmo tempo foi esse
a ver o acarajé com a possibilidade essa relação com o cachorro-quente, acaraburgue que assegurou a manu-
de abrir e colocar o vatapá e cama- como sanduíche, essa coisa de você tenção do acarajé e uma capacidade
rão, pouco camarão, muito pouco abrir o acarajé e colocar coisas den- de competição com as esfihas e com
camarão (...) Eu nasci em 1948, mas tro: o vatapá e o camarão, que du- os chamados sanduíches”. [entrevista
meu pai, que era da Marinha e fez a rante muito tempo foi o padrão; nos realizada em 18/12/2001]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 54

M OE ND O O FE IJÃ O P A R A
FAZ E R A M AS S A DO A C A R A J É .
SAL VADOR (BA ), 2 003 .
FOTO: FRA N C IS C O M ORE I R A
DA C OST A .

PÁGI NA A O L A DO
TABUL EIRO D E BA IA N A ,
L AVAGEM DO B ONFI M , S Ã O
C RI STÓ V Ã O (RJ), 2 003 .
FOTO : FRA N C IS C O M ORE I R A
DA C OST A .

acarajé” e a introdução, no final da mem] também tem que respeitar a


década de 1990, de evangélicos nesse tradição de vestir uma indumentária
tipo de comércio. específica para ele. Inclusive aqui na
Tradicionalmente atividade ou Associação tem um rapaz que é cris-
obrigação feminina, como o próprio tão e tirou a carteira e está comer-
nome indica, nos últimos anos tem cializando o produto e se veste como
sido desempenhada também por tal. Ele fez entrevistas, apareceu em
homens que, não só assumem o nível nacional, uma coisa assim ma-
ofício como incorporam os sím- ravilhosa, de mostrar que no local
bolos identitários, como as roupas onde ele trabalha, ele é profissio-
de origem africana. Ainda segundo nal, respeitando todas as regras da
Clarice dos Anjos, profissão; e saindo dali, não impor-
ta o que ele seja, se ele é católico ou
A principal mudança, entretan- “assim como as mulheres con- evangélico, não importa... Por isso
to, ocorreu na década de 1970, com quistaram seu espaço de trabalho no que eu falo da importância da pro-
a substituição do moinho de pedra [campo dito] masculino, os homens fissionalização; tem que se capacitar
pelo moinho elétrico e a introdu- estão também (...) conquistando o para ser profissional, para ter nor-
ção de novos equipamentos, quan- espaço de trabalho deles. [É] pre- mas e regras e disciplina. [A Abam
do o acarajé começou a ser visto com conceito [dizer] que ele não pode tem] mais ou menos 25% de homens
maior potencial de meio de vida. Os vender o acarajé porque é homem filiados”. [entrevista realizada em
tabuleiros passaram a ser comple- – a mulher não pode dirigir ônibus? 13/12/01]
mentados por bolinhos-de-estudan- (...) Isso hoje é mundo moderno,
te, abará etc. Como outras grandes é trabalho. O acarajé nesse nível de A opinião de Clarice, porém,
mudanças, podemos citar a partici- comércio, de trabalho, não existe não é compartilhada por todas as
pação dos homens como “baianos de problema nenhum. Agora [o ho- baianas de acarajé, principalmen-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 55

te as que são ligadas ao candomblé, puta no espaço simbólico entre eles clientes que respeitam isso [a tra-
por acreditarem que a venda em ta- e as baianas de acarajé, defensoras da dição] só querem comer no tradi-
buleiro deve permanecer restrita às tradição ancestral. Os dois grupos cional tabuleiro da baiana (...). Eu
mulheres. fazem uso do discurso religioso para estou, assim como as baianas e um
No entanto, por razões econô- defender suas crenças e sua reserva vereador, reivindicando que o aca-
micas, não só “baianos” de acarajé, de mercado. rajé tem que ficar no tabuleiro da
mas também evangélicos buscaram Para as baianas de acarajé, a ven- baiana”. [Clarice dos Anjos em en-
espaço nesse mercado. Ignoram, as- da do alimento em outros estabele- trevista realizada em 13/12/01]
sim, as questões religiosas que, ini- cimentos parece invasão de seu es-
cialmente, atribuíam apenas à mu- paço e, assim, fazem uso do mesmo O processo de produção e co-
lher “filha-de-santo do orixá Oiá” a discurso da tradição para defender mercialização do acarajé, nas últimas
obrigação e depois o direito de ven- sua reserva de mercado: décadas do século XX, diversificou-
der acarajé. se muito. A introdução e/ou subs-
Os evangélicos, grupo cada vez “Você vê que hoje tem acarajé em tituição de instrumentos de traba-
mais crescente em todos os estados Perine, Supermercado do Acarajé & lho, o crescimento considerável do
do país, têm entrado nesse mercado, Cia., acarajé do não sei onde, isso número de pessoas que o comercia-
o que lhe atribui novos significados tudo quer dizer que, se a gente não lizam não só nos espaços da rua, mas
e o vincula a outro universo religio- se cuidar, não tiver o pé no chão, de também nos estabelecimentos co-
so. Com esse caráter, atendem a uma que isso é tradição, a gente perde o merciais, e o interesse que despertou
clientela que compartilha suas cren- tabuleiro para os grandes empresá- em entidades civis e públicas apon-
ças e recusa-se a consumir o acara- rios (...) e as baianas viram escravas tam para inúmeras transformações.
jé relacionado ao candomblé. A esse no momento em que lavam feijão,
produto dá-se o sugestivo nome de catam camarão, fazem acarajé e eles
“acarajé de Jesus”. A ressignificação pagam uma taxa irrisória para [elas]
elaborada pelos evangélicos gera dis- e eles ficam mais ricos (...). Mas os
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 56

dinâmica e mudanças
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 57

B A IA NA N A FE S T A DE S A NT A
BÁ RBARA , N A IGRE J A
D E NOS S A SE NH ORA DO
ROS Á RIO DOS P RE TO S ,
PE L OURIN H O. S A L V A DOR
(BA ), 2 004.

o sentido
FOT O : FRA N C IS C O M OREI R A
DA C O S TA .

do registro

e sse modo de fazer o acarajé res-


salta os saberes e as práticas tra-
dicionais enraizados no cotidiano
Prefeitura de Salvador possui ins-
trumentos legais que buscam dis-
por sobre a localização e funciona-
de financiamento para a compra de
tabuleiros padronizados cujas pa-
nelas são o “principal atrativo”. Su-
da comunidade investigada, que se mento do comércio exercido pelas permercados começaram também
expressam de modo muito eviden- baianas de acarajé e de mingau em a vender a massa pronta e lojas que
te nos tabuleiros das baianas, em logradouros públicos (Decreto nº comercializam alimentos passaram
Salvador. No contexto de irrefreá- 175 de 25/11/1998). Com a preo- a vender o acarajé pronto, subcon-
vel dinâmica cultural, é importante cupação voltada para os padrões de tratando a baiana de acarajé.
a atenção para a diversificação e as higiene e qualidade, outras institui- O crescimento de produção e con-
mudanças no modo de fazer e co- ções, como o Instituto de Hospi- sumo foi acompanhado de redimen-
mercializar o acarajé. Nas últimas talidade, em parceria com o Sebrae sionamento do universo simbólico e
décadas, houve crescimento signi- e o Senac, começaram a oferecer à de configuração específica do campo
ficativo na produção e no consumo Associação das Baianas de Acarajé, de tensões, conflitos e controle. O
de acarajé e alargamento das possi- Mingau, Receptivos e Similares do bem que, inicialmente, era comercia-
bilidades simbólicas. A introdução Estado da Bahia cursos de controle lizado por mulheres pela “obrigação
de novos instrumentos de traba- de qualidade, que atribuem um selo ou relação com o santo” passa a ser
lho, ou a substituição dos antigos, de qualidade denominado “Acarajé exercido não apenas pelas filhas-de-
tornou o trabalho mais rápido e 10” a quem se enquadrar nos pa- santo, mas por mulheres e homens
menos árduo. O moinho elétrico, drões definidos pela instituição (é sem interação religiosa com o can-
que substituiu o pilão de pedra na importante observar que o enqua- domblé. Observa-se mesmo a comer-
trituração do feijão, as vasilhas de drar também pressupõe o excluir). cialização feita por indivíduos com
plástico, as panelas de aço inoxi- Uma fábrica de panelas, empresa outras convicções religiosas, como os
dável, os fogareiros a gás, isopores, que pretende atingir esse segmen- evangélicos que comercializam o “aca-
ventilador etc., representam algu- to de público, oferece, em parce- rajé de Jesus”. Notou-se que o proces-
mas das inovações introduzidas. A ria com bancos locais, uma frente so de ressignificação do acarajé e dos
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 58

GRA V URA S DO L IV RO “ U S O S
E C OS T UM E S DO RIO D E
JA NEIRO NAS FIGU RIN H A S D E
G U IL L OBE L” . ORGA N IZ A DO
POR C A NDIDO GU I NL E D E
PA U L A M A C H A DO, 1 9 78.

se de maneiras distintas em socieda-


des particulares. O modo como cada
uma classifica, prepara e consome
os alimentos expressa a diversidade
de culturas singulares e apresenta-
se, também, como elemento cons-
titutivo de suas identidades. Nesse
sentido, a alimentação desempe-
nha relevante papel na produção de
identidades nacionais, regionais,
étnicas e religiosas; assim, pode-se
dizer que, na medida em que con-
grega um conjunto de práticas, rela-
bens associados por parte dos evangé- da população local, que busca nessa ções e representações sociais, revela
licos passa pela desvinculação simbó- prática não só estratégia de sobrevi- a estrutura social dos diferentes gru-
lica com o mundo do candomblé e vência, mas também espaço de afir- pos humanos e apresenta-se como
afirmação de outra identidade. mação de crenças e visões de mundo. importante “instrumento de identi-
Destaca-se, assim, além do valor Lévi-Strauss, em O Triângulo Culi- ficação social” (Gonçalves, 2002:8).
patrimonial que remete à história nário (1968:25), diz que o domínio Assim, para os grupos humanos, a
e riqueza de um universo cultural da cozinha “constitui uma forma de alimentação não se restringe aos as-
específico, o valor do bem como ali- atividade humana verdadeiramente pectos biológicos da nutrição nem
mento cotidiano. E ainda o po- universal”, pois não existe sociedade tampouco à satisfação individual
tencial que o ofício oferece como que não tenha desenvolvido formas de necessidades básicas; ao contrá-
complementação ou principal fonte de preparar seus alimentos. Essa ati- rio, apresenta um complexo caráter
de renda familiar para uma parcela vidade universal, porém, apresenta- multidimensional, que se manifes-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 59

ta no processo de transformação de seleção, classificação e preparo dos des regionais, no caso, em Salvador.
produtos da natureza em alimentos e alimentos, assim como os modos de Embora na cidade de Salva-
na transformação dos alimentos em servi-los e até mesmo de comê-los, dor o acarajé já tenha sido institu-
comida. Assim, opera-se a passagem mostrou-se a mais adequada para ído como patrimônio cultural, de
do natural ao cultural, do biológi- dar conta da complexidade do uni- acordo com o Projeto de lei mu-
co ao social, a ligação do indivíduo verso do acarajé. nicipal nº 229/01, o registro do
à sociedade. Ao tornar-se comida, O uso dessa categoria tornou Ofício das Baianas de Acarajé no
o alimento deixa de ser considerado possível perceber a articulação das Livro de Saberes do Iphan significa
por si mesmo e passa, então, a inte- diferentes dimensões desse univer- o reconhecimento de sua dimen-
grar um sistema culinário, ou seja: so, tanto na esfera da culinária votiva são mais ampla. É perceptível o fato
torna-se “parte inseparável de um (presente na prática religiosa do can- de a preservação do valor patrimo-
sistema articulado de relações so- domblé), em que se configura como nial desse bem estar relacionada à
ciais e de significados coletivamente bolinho de feijão frito em azeite- atenção ao universo da baiana de
partilhados” (Gonçalves, 2002:9), de-dendê sem recheio, ofertado aos acarajé, à valorização e transmissão
cujos códigos reproduzem valores orixás (em especial a Xangô e Oiá), permanente dos saberes associados
fundamentais da sociedade. quanto na esfera comercial – pre- a esse universo. E entendemos que
A partir desse ponto de vista, a sente em cada esquina da cidade de o registro do bem enquanto pa-
categoria “sistema culinário” foi o Salvador – em que é recheado com trimônio cultural nacional poderá
eixo condutor que orientou a pes- vatapá, caruru, salada, camarão seco, mobilizar a sociedade a reconhecer,
quisa para este dossiê. Essa noção, e está relacionado à culinária local. recolher, sistematizar, proteger e
por apresentar de modo estrutura- Articulam-se, ainda, aspectos rela- salvaguardar esses saberes tradicio-
do os itens constitutivos da alimen- cionados às diferentes etapas de sua nais sem frear o fluxo natural das
tação e permitir que se apreendam produção, comercialização e consu- re-apropriações simbólicas que se
as várias etapas de um mesmo pro- mo, sua importância na alimentação processam inevitavelmente na dinâ-
cesso, como o modo de obtenção, popular e na construção de identida- mica das culturas.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 60

o desafio da salvaguarda
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 61

BAI A N A TÂN I A. SALV AD O R PÁ GI NA 6 2


( B A) , 20 0 4 . C A RU RU DE S A NTA BÁ RBA R A ,
F OTO: F RAN CI SCO MORE IRA PROC IS S Ã O DO RIO
D A CO ST A . V E RM E L H O, S A L V A DOR ( B A ) ,
2 004.
A BA IX O FO T O : FRA N C IS C O M OREI R A
A CESSÓRI OS DE B AI A NAS DA C O S TA .
( F IOS- DE-CO N TA, ANÉ IS,
PULSE I RA S) . SALV ADOR (BA), PÁ GI NA 6 3
2 0 0 2. PR OC IS S ÃO D E S A NTA
F OTO: AN A P A U LA PESSOA. BÁ RBARA , S A L V A DOR ( B A ) ,
2 004.
FO T O : A NA PA U L A P E S S OA.

O registro do Ofício das Baia-


nas de Acarajé como Patrimô-
nio Imaterial Brasileiro, no Livro
nos universos simbólicos afro-bra-
sileiros. Para tanto, projetos com
tais objetivos devem ser apoiados
não-governamentais locais.
Assim, as ações de salvaguarda
subseqüentes e complementares ao
de Saberes do Iphan, aponta para a por leis e programas de incentivo à Registro desse bem estão sendo im-
relevância de tradições afro-brasi- cultura, bem como devem ser sim- plantadas pelo Centro Nacional de
leiras que integram a cultura brasi- plificados os meios de acesso direto Folclore e Cultura Popular/Iphan
leira, em especial esse ofício, como dos segmentos sociais aos benefícios no sentido de proporcionar apoio
importante símbolo de identidade de tais instrumentos. oficial às entidades relacionadas às
étnica, regional e religiosa. Portan- É bem-vinda, portanto, a for- baianas de acarajé, para que tenham
to, trata-se também de um instru- mação de grupos de trabalhos condições de manter e promover a
mento de reconhecimento oficial constituídos por e em diálogo com transmissão dos saberes relaciona-
da riqueza e do enorme valor do instituições governamentais ou dos ao bem cultural em questão.
legado de ancestrais africanos no
processo histórico de formação de
nossa sociedade.
Esse instrumento estimula a
necessidade de ampliar as oportu-
nidades e condições para elabora-
ção e implantação de políticas de
salvaguarda de saberes e difusão
de conhecimentos sobre as tradi-
ções relacionadas e, sobretudo, de
envolver e gerar benefícios diretos
para os segmentos sociais integrados
ao Ofício das Baianas de Acarajé
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 62

O Centro Nacional de Folclore ceptivos e Similares e o Terreiro Ilê em paralelo com estatutos munici-
e Cultura Popular tem convicção da Axé Opô Afonjá. Nessa perspectiva, pais e estaduais que visem à promo-
viabilidade de políticas nesse senti- na fase de implantação do plano de ção de igualdade social, do trabalho
do, tendo como base a experiência salvaguarda do ofício, estão sen- e da identidade cultural e discus-
acumulada de políticas de salva- do desenvolvidas propostas pauta- são com órgãos de vigilância sanitá-
guarda das culturas populares, em das em três linhas de ação: direito, ria. No âmbito do patrimônio e da
que se destacam os resultados ob- patrimônio e educação. No âmbi- educação, discutir questões relacio-
tidos nos recentes projetos desen- to do direito, pretende-se oferecer nadas a gênero, bens associados e
volvidos em parceria com o Progra- suporte jurídico para: formação/ religião, com prioridade na valori-
ma Artesanato Solidário, Governo instrumentalização de quadros da zação, difusão e divulgação junto à
do Estado da Bahia, Associação das Abam; demandas de implementa- sociedade mais ampla.
Baianas de Acarajé, Mingau, Re- ção e obrigatoriedade do decreto,
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 63
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 64

FONTES
BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O fes- GOMES, Núbia; PEREIRA, Edi- _________. No tabuleiro da baiana tem... pelo
tim dos bruxos: estudos sobre a religião no Brasil. milson. Negras raízes mineiras: os Arturos. reconhecimento do acarajé como patrimônio
São Paulo: Ícone; Unicamp, 1987. Juiz de Fora: MinC; UFJF, 1988. cultural brasileiro. In: GONÇALVES,
José Reginaldo Santos e outros. Ali-
CASCUDO, L. C. História da alimen- GONÇALVES, José Reginaldo dos mentação e cultura popular. Rio de Janei-
tação no Brasil. Belo Horizonte: Ita- Santos. A fome e o paladar: uma pers- ro: Funarte/CNFCP, 2002:37-40.
tiaia; São Paulo: Edusp, 1983. v. 2. pectiva antropológica. In: Alimentação e (Encontros e estudos; 4).
cultura popular. José Reginaldo Santos
CENTRO Nacional de Folclore e Gonçalves e outros. Rio de Janei- _________. O povo do santo: religião, história
Cultura Popular. Festa de Santa Bárba- ro: Funarte, CNFCP, 2002:7-16. e cultura dos orixás, voduns, inquices e cabo-
ra. Rio de Janeiro: CNFCP/Iphan/ (Encontros e estudos; 4). clos. Rio de Janeiro: Pallas, 1995.
MinC, 2006. (CD-ROM)
LÉVI-STRAUSS, Claude. O triângulo culi- _________. O que que a bahiana tem:
CENTRO Nacional de Folclore e nário. In: L’arc Documentos. São Paulo: pano-da-costa e roupa de baiana. Rio de
Cultura Popular. Tesauro de Folclore e Editora Documentos Ltda., 1968. Janeiro: Funarte/CNFCP, 2003.
Cultura Popular. Rio de Janeiro: CN- Catálogo de exposição. [Sala do
FCP/Iphan/MinC; Brasília: Unes- LODY, Raul. Pencas de balangandãs da Artista Popular; 111/112.]
co, 2004. (CD-ROM) Bahia: um estudo etnográfico das jóias-amu-
letos. Rio de Janeiro: Funarte; Salva- _________. O rei come quiabo e a rainha
DURKHEIM, Émile. As formas dor: Museu Carlos Costa Pinto, come fogo. In: Leopardo dos olhos de fogo.
elementares da vida religiosa. São Paulo: 1988. 167p. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998.
Paulinas, 1989.
_________. Dicionário de arte sacra & MENDONÇA, Elizabete; LODY,
FÉLIX, Anísio. Bahia pra começo de conversa. técnicas afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Raul; NOGUEIRA, Maria Dina;
Salvador: Prefeitura Municipal, 1982. Pallas, 2003. VIANNA, Letícia. O ofício de baianas
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 65

de acarajé: patrimônio cultural. In: FAL- ORIGEM e História do Feijão. http://www.


CÃO, Andréa (org.). Registro e políticas cnpaf.embrapa.br/feijao/historia.
de salvaguarda para as culturas populares. Rio htm. Acesso em: novembro de 2006.
de Janeiro: Iphan, CNFCP, 2005.
p. 55-74. [Encontros e estudos; 6.] QUERINO, M. A Arte Culinária na referências
Bahia. Salvador: Livraria Progresso
MENDONÇA, Elizabete; PINTO, Editora, 1954. fotográficas e
Maria Dina Nogueira. Sistema culiná- iconográficas
rio e patrimônios culturais: variações sobre o RIBEIRO, S. A comida dos orixás ganha
mesmo tema. In: GONÇALVES, José ares de indústria. htpp://www.valoron-
Reginaldo Santos e outros. Alimen- line.com.br/valoreconomico/ma-
tação e cultura popular. Rio de Janeiro: teria.asp?id=1787079. Acesso em:
Funarte, CNFCP, 2002. p. 41-50. janeiro de 2004.
[Encontros e estudos; 4.] GUILLOBEL, Joaquim Cândido.
SANTOS, Jocélio Teles dos. Eparrei, Usos e costumes do Rio de Janeiro nas figurinhas
_________. Feiras e comidas: espaço e tempo Bárbara: espetacularização e confluência de Guillobel. S.l.: Candido Guinle de
em movimento. In: LONDRES, C. et de gêneros na festa de Santa Bárbara em Paula Machado, 1978. s. p. il. color.
al. Celebrações e saberes da cultura popular: Salvador. In: Seminário Eparrei, Bárbara:
pesquisa, inventário, crítica, perspectiva. Rio fé e festas de largo do São Salvador. Rio de AZEVEDO, Paulo César de; LIS-
de Janeiro: Funarte, Iphan, CN- Janeiro: Iphan, CNFCP, 2005:33- SOVSKY, Mauricio (org.). Escravos
FCP, 2004. p. 35-54. [Encontros 50. (Encontros e estudos; 8). brasileiros do século XIX na fotografia de Chris-
e estudos; 5.] tiano Jr. São Paulo: Ex Libris, 1988.
VERGER, Pierre Fatumbi. Notícias da
MIRANDA, Nadja. O texto e a fala da Bahia – 1850. Salvador: Corrupio, 1999. CARYBÉ. Iconografia dos deuses africanos
etnocenologia; o acadêmico e o praticante. no candomblé da Bahia. Textos de Jorge
In: Cadernos do GIPE-CIT: Etnocenologia: _________. Orixás: deuses iorubás na África e no Amado, Pierre Fatumbi Verger e
a teoria e suas aplicações. Bahia: Univer- Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 1997. Waldeloir Rego. Salvador: Funda-
sidade Federal da Bahia/Escola de ção Cultural do Estado da Bahia,
Teatro/Programa de Pós-Gradua- VIANNA, H. Breve notícia sobre a cozi- Universidade Federal; Brasília:
ção, 1998. p. 14-19. nha baiana. In: CASCUDO, Luís da INL, 1980. 301 p.
Câmara (org.). Antologia da alimenta-
MOURA, Milton. Etnocenologia e ção no Brasil. Rio de Janeiro: Livros
etnoculinária do acarajé, de Vivaldo da Técnicos e Científicos, 1977, 254 p
Costa Lima. In: Cadernos do GIPE-CIT: (Raízes do Brasil).
Etnocenologia: a teoria e suas aplicações.
Bahia: Universidade Federal da
Bahia/Escola de Teatro/Programa
de Pós-Graduação, 1998. p. 29-32.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 66

dade de Nossa Senhora do Rosário. Ivone do Carmo, baiana de acarajé,


aprendeu o ofício por sua ligação
Dulce Mary de Jesus (Mary), baiana de religiosa com o candomblé; atual-
acarajé, aprendeu o ofício com a mãe. mente não comercializa em função
anexo 1 de doença.
Edmeire Barbosa Oliveira (Meire),
atores sociais: baiana de acarajé, aprendeu o ofício Janete Souza Santos, baiana de acara-
os informantes com a sogra. jé, baiana de pipoca e mãe-de-santo.

Edna da Conceição Ferreira (Di- Lúcia Maria França de Santana,


nha), baiana de acarajé, aprendeu o devota de Santa Bárbara, deu
ofício com a mãe. informações sobre a festa de Santa
Bárbara realizada anualmente no
Avelina Santos (Preta), baiana de Eliana Anunciação Ferreira, baiana Mercado de Santa Bárbara.
acarajé, aprendeu o ofício com a de acarajé.
sogra; atualmente não comercializa Lurdinalva de Assis (Dinha), baiana de
em função de doença. Expedito Evangelista Correia, fei- acarajé, aprendeu o ofício com a mãe.
rante e proprietário de um box na
Clarice Santos dos Anjos, baiana de Feira de São Joaquim. Maria Leda Marques Nascimento da
acarajé, foi uma das fundadoras da Silva, baiana de acarajé, presidente
Associação das Baianas de Acarajé, da Associação das Baianas de Acarajé,
Mingau, Receptivos e Similares do Fernando Manoel da Cruz, marceneiro Mingau, Receptivos e Similares do
Estado da Bahia (Abam) e a presidia que confecciona tabuleiro de baiana. Estado da Bahia (Abam) desde 2003.
no período de realização do inven-
tário. Aprendeu o ofício com a mãe, Firmino Ribeiro Rocha, presidente Maria Neuma Santana (Neuma
assim como suas quatro irmãs. Atu- da Associação de Comerciantes do ou Macota Neuma, no candom-
almente trabalha com receptivos. Mercado do Peixe, prestou in- blé), administradora financeira da
formações sobre a festa de Santa Abam, prestou informações sobre a
Consuelo Pondé de Senna, presiden- Bárbara realizada anualmente no festa de Iansã no terreiro.
te do Instituto Geográfico e Histórico Mercado do Peixe, Rio Vermelho.
da Bahia, forneceu explicações sobre Nailton Barbosa Santana (Mestre
o panorama histórico do ofício. Gregório dos Santos Bastos, baiano de Cuca), baiano de acarajé.
acarajé, aprendeu o ofício com a mãe.
Dário Gonçalves Nascimento, marcenei- Nancy da Silva e Souza (Sissi), iala-
ro que confecciona tabuleiro de baiana. Ilda Anunciação Santos, baiana de xé do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju
acarajé. (Nação Kêtu), mantém relação com
Diva Pacheco, presidente da Devoção a prática religiosa do preparo do
de Santa Bárbara sediada na Irman-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 67

acarajé por cuidar do axé do terrei- de comércio informal exercida pela


ro; deu informações sobre a ques- baiana de acarajé ou de mingau de-
tão religiosa da oferenda e da venda pende de alvará de autorização, que
por obrigação do acarajé. será outorgado a título precário,
em caráter pessoal e intransferível,
Rita Maria dos Santos, baiana de em conformidade com as normas
acarajé, vice-presidente da Associa- estabelecidas no presente Decreto e
ção das Baianas de Acarajé, Mingau, demais legislação aplicável.
Receptivos e Similares do Estado da
Bahia (Abam) desde 2003. Parágrafo único – No caso de morte
da titular poderá ser liberado novo
Tânia Bárbara Nery, baiana de aca- alvará de autorização para o herdei-
rajé, aprendeu o ofício com a avó. ro legalmente habilitado, ressalvado
em qualquer hipótese o interesse
Ubiratan Castro de Araújo, diretor público para efeito da outorga.
do Centro de Estudos Afro-Orien-
tais da Universidade Federal da
anexo 2 Art. 2 – A baiana de acarajé tem
Bahia no período em que foi reali- Decreto Lei como característica essencial e ex-
zado o inventário Acarajé em Sal- clusiva a comercialização de acarajé,
vador. O CEAO/UFBA é um dos
Municipal abará e complementos, queijada,
parceiros nesse pedido de registro. Nº 12.175, de 25 de cocada branca e preta, bolinho de
estudante, admitindo-se, de for-
Valdemir de Souza Neves (Irmão
novembro de 1998 ma secundárias, a venda de peixe e
Valdemir), baiano de acarajé, evan- passarinha fritos.
gélico que utiliza o traje determina-
do pela Abam. Art. 2, § 1o – Para assegurar quali-
Dispõe sobre a localização e fun- dade dos produtos comercializados,
Wagner Prandi, membro da De- cionamento do comércio informal previstos no caput deste artigo, e
voção de Santa Bárbara sediada na exercido pelas baianas de acarajé e proteger a saúde da população, as
Irmandade de Nossa Senhora do de mingau em logradouro público e baianas de acarajé e de mingau,
Rosário. dá outras providências. além da obrigatoriedade de reno-
vação anual da carteira de saúde,
O PREFEITO MUNICI- terão suas iguarias periodicamente
PAL DO SALVADOR, CAPITAL submetidas a inspeções da Vigilân-
DO ESTADO DA BAHIA, no uso cia Sanitária, que coletará amostras
de suas atribuições. para realização de exames laborato-
riais específicos.
Art. 1 – A exploração de atividade
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 68

Art. 2, § 2o – As baianas de acarajé, da formulação de requerimento de Art.5 – A exploração de atividades


no exercício de suas atividades em regularização, permanecer no ponto econômicas do comércio pelas baia-
logradouro público, utilizarão vesti- onde habitualmente desenvolve sua nas de acarajé ou de mingau será
menta típica de acordo com a tradi- atividade, desde que, em vistoria permitida, exclusivamente à pessoa
ção da culinária afro-brasileira. realizada pela SESP, não se constate física, vedando-se a exploração de
riscos à segurança das pessoas, do mais de um equipamento por uma
Art. 3 – A baiana de mingau tem trânsito, nem implicações ao meio mesma pessoa, ainda que em luga-
como característica exclusiva a ambiente e à estética da cidade. res distintos.
comercialização de mingau, bolos
e pamonhas, utilizando como traje Art. 4, § 2° – A autorização será Art. 6 – As hipóteses de isenção do
típico guarda-pó e torço. outorgada observando-se a ordem pagamento de taxa estão estabele-
cronológica de entrada dos pedidos, cidas no Código Tributário e de
Art. 4 – O pedido de autorização vistoria técnica do setor competente Rendas do Município de Salvador.
de uso será feito através de reque- da SESP, condicionada ainda a não
rimento próprio, dirigido a SESP, saturação do logradouro público e Art. 7 – O equipamento deverá ser
com indicação do local do equipa- comprovação de pagamento de taxa instalado dentro do prazo de 30 (trin-
mento, e instruído com os seguin- e preços públicos municipais. ta) dias contados da data de expedição
tes documentos: do respectivo alvará de autorização e
• Documentos de identidade; Art. 4, § 3° – A autorização ou- mantido em pleno funcionamento.
• Comprovante de residência; torgada não habilita o titular para
• Carteira de saúde; o exercício de atividade durante os Parágrafo único – no caso do equi-
• (duas) fotos 5x7. períodos previstos no Calendário pamento não ser instalado no prazo
de Festas Populares do Município, previsto no caput deste artigo, o alva-
Art. 4, § 1° – Fica facultado à baiana que observarão normas específicas. rá de autorização perderá a validade.
de acarajé ou de mingau, quando
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 69

Art. 8 – A renovação do alvará de II. em passeios fronteiros a monu- pública e a segurança da população;
autorização será exigida anual- mentos em geral ou prédios tomba-
mente, mediante apresentação da dos pela União e junto a organiza- VI. em vias expressas com elevado
Carteira de Saúde atualizada e dos ção de segurança; fluxo de veículos.
respectivos comprovantes de qui-
tação da taxa e preços públicos do III. em frente, fundos e laterais, Art. 11 – A SESP poderá alterar, em
exercício anterior. em um raio de 50m (cinqüenta caráter provisório ou definitivo, a
metros), de colégios, hospitais, localização do equipamento utili-
Art. 9 – Os equipamentos utilizados repartições públicas, quartéis e zado pela baiana de acarajé ou de
pelas baianas de acarajé e de mingau entradas de instalações residenciais, mingau, caso o seu funcionamento
deverão ser instalados diariamente salvo autorização, por escrito, do se torne prejudicial ao trânsito de
para funcionamento no horário responsável por qualquer um desses veículos ou circulação de pedestres,
fixado no alvará de autorização, estabelecimentos, atendida, entre- à estética dos logradouros ou por
vedada a colocação de engenhos tanto, a conveniência pública; outros motivos considerados de
publicitários, salvo os referentes interesse público.
às logomarcas da PMS e entidades IV. em calçadas, onde a faixa livre
representativas da categoria. de circulação de pedestre, após a Art. 12 – A baiana de acarajé ou de
implantação do equipamento, seja mingau fica obrigada a manter os
Art. 10 – O equipamento utilizado inferior a 1m (um metro); utensílios de trabalho e área onde se
para o exercício da atividade do co- encontra instalada em perfeito estado
mércio pela baiana de acarajé ou de V. em locais em que, a critério do de limpeza e conservação e a recolher,
mingau não pode ser localizado: poder público municipal, compro- em recipiente apropriado e especifi-
metam a estética urbana, histórica, cado pela LIMPURB, os detritos pro-
I. em áreas que possam perturbar a paisagística, a higiene, a preservação venientes do exercício da atividade.
visão dos condutores de veículos; do meio ambiente, a tranqüilidade
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 70

Art. 13 – São infrações puníveis higiene - 30 UFIRs Colocar copos, garrafas e cigarros
com multa, aplicada de forma dentro do tabuleiro - 20 UFIRs
cumulativa, as seguintes: VII. Deixar de manter no equipa-
mento recipiente apropriado ao Art. 14 – As baianas de acarajé ou
I. Instalar-se no logradouro pú- recolhimento de detritos prove- de mingau deverão guardar, entre
blico, sem o respectivo alvará de nientes do exercício da atividade, si, uma distância mínima de 50m
autorização - 4O UFIRs inclusive para coleta de azeite fervi- (cinqüenta metros).
do, óleos e gorduras - 30 UFIRs
II. Comercializar produtos diversos Art. 15 – A administração, quando
dos especificados no alvará de auto- VIII. Ceder, locar ou transferir para ter- entender conveniente, expedirá Noti-
rização - 40 UFIRs ceiros a autorização obtida - 30 UFIRs ficação Preliminar, visando alertar ou
esclarecer situações relativas a este De-
III. Comercializar bebida alcoólica IX. Fazer uso externo de banco, creto, junto ao titular da autorização.
e refeição em geral - 40 UFIRs caixotes, tábuas, mesas e cadeiras de
qualquer tipo ou similar - 20 UFIRs Art. 16 – As infrações às normas
IV. Utilizar tabuleiro com dimen- deste Decreto sujeitarão os in-
sões superiores a 1,20x0,60 ou X. Alterar a localização do equipa- fratores às seguintes penalidades,
tabuleiros abertos - 30 UFIRs mento, sem prévia e expressa auto- independentemente de aplicação de
rização da SESP - 20 UFIRs multas previstas no Artigo 13:
V. Usar vestimenta em desacordo
com a tradição da baiana de acarajé XI. Utilizar aparelhagem de som, I. Em caso de irregularidade cons-
ou de mingau - 30 UFIRs de qualquer tipo, que venha a cau- tatada pela 1ª vez, advertência e
sar perturbações à tranqüilidade da concessão de prazo de até 03 (três
VI. Não manter o equipamento em população - 20 UFIRs dias) úteis para a regularização após
perfeito estado de conservação e expedição de Notificação Preliminar;
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 71

II. Quando for verificada a reinci- neste Decreto, competindo-lhe, da titular ou cópia, para apresenta-
dência, ou uma 2ª irregularidade, o inclusive, apurar eventuais infra- ção aos prepostos da SESP.
alvará de autorização será suspenso ções e lavrar os respectivos autos,
por até 30 (trinta) dias úteis corri- quando for o caso. Art. 20 – Fica estabelecido o prazo
dos, mediante embargo da atividade; de até 360 (trezentos e sessenta)
Parágrafo único – Os autores de dias para que as baianas de acarajé
III. Após expirado o prazo do infração serão julgados, em primei- e de mingau se adequem às nor-
inciso anterior e permanecendo a ra instância, pelo Coordenador da mas estabelecidas neste Decreto e
irregularidade, a autorização será CLF, e, em grau de recurso, desde demais legislação aplicável.
cassada pela SESP; que apresentado no prazo de 10
(dez) dias, contados a partir da ciên- Art. 21 – Compete ao titular da
IV. Em caso de instalação de equi- cia da decisão, pelo titular da SESP. SESP baixar normas complemen-
pamento sem autorização prévia tares às disposições do presente
da SESP, o infrator ficará sujeito à Art. 18 – A taxa municipal e os pre- Decreto, inclusive quanto à defi-
apreensão do mesmo. ços públicos devidos para instalação nição de modelos de equipamentos
e funcionamento da atividade serão padronizados, vestimenta típica e
Parágrafo único – Em caso de cobrados conforme as disposições decidir sobre os casos omissos.
aplicação de penalidade, o infra- do Código Tributário e de Rendas
tor terá o prazo máximo de 10 dias do Município de Salvador e demais Art. 22 – Este decreto entra em
para apresentação de defesa junto à normas específicas. vigor na data de sua publicação.
SESP, contando-se o prazo a partir
do 1° dia útil da data da notificação. Art. 19 – A baiana de acarajé ou de Art. 23 – Revogam-se as disposi-
mingau deve portar o respectivo al- ções em contrário, especialmente o
Art. 17 – A SESP fiscalizará a fiel vará, os comprovantes de pagamen- Decreto n. 10.928/95.
execução das normas estabelecidas to devidos e a prova de identidade
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 72

anexo 3
certidão de
patrimônio
imaterial
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 73

ALIMENTAÇÃO ritual. Ciência & ção Cultural do Estado da Bahia,


Trópico, Recife, v. 5, n. 1, p. 37- Universidade Federal; Brasília:
47, jan./jun. 1977. INL, 1980. 301 p.
[Aspectos das relações sociais e a [Iconografia. Cenas, desenho do
alimentação.] acarajé de Iansã, no Candomblé
do Engenho Velho (p. 182-183) e
ALMANACHS – O Almanaque desenho do acarajé de Iansã, no Ile
do Centro Histórico de Salvador. Oxumaré (p. 184-185).]
Movimento Brasil de Turismo e
Cultura. Dezembro/2004. CASCUDO, L. C. História da alimenta-
[Aborda festa de Santa Bárbara ção no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia;
no Pelourinho, sincretismo Santa São Paulo: Edusp, 1983. v. 1 e 2.
Bárbara/Iansã, relação da festa com [Estudo folclórico. Os hábitos ali-
a devoção do Corpo de Bombeiros mentares brasileiros de influência
e as comidas da festa.] indígena, africana e portuguesa.]
anexo 4
referências BOLAFFI, G. Antepastos e tira- _________. Made in Africa. Rio de Janeiro:
gostos. In: ____. A saga da comida: receitas Civilização Brasileira, 1965. 193 p.
bibliográficas e história. Rio de Janeiro: Record, [Estudo folclórico.]
sobre o ofício 2000. Cap. 3, p. 88-90.
_________. A cozinha africana no Brasil.
[Histórias e receitas da comida no
das baianas de Brasil. Receita de acarajé.] [S.l.]: Luanda, 1964.
acarajé [Estudo folclórico. A influência
BRANDÃO, D. A cozinha baiana: ori- africana na culinária brasileira e na
gens, erudição, tradições populares e estudos. cozinha baiana.]
Rio de Janeiro: Letras e Arte, 1965.
Livros e outros publicações [Estudo histórico e social da comi- _________. Dicionário do folclore brasileiro.
não seriadas da baiana e receitas.] Belo Horizonte: Itatiaia; São Pau-
lo: Edusp, 1988.
A COZINHA baiana no restaurante Senac CARNEIRO, E. Ladinos e crioulos [Estudo folclórico. Verbetes sobre
do Pelourinho. Bahia: Departamento – estudos sobre o negro no Brasil. Rio de lendas e alimentos do folclore bra-
Regional da Bahia/ Senac, 1997. Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. sileiro. Verbete sobre acará, acara-
[Livro de receitas sobre a cozinha [Capítulo sobre azeite-de-dendê.] jé, azeite-de-dendê.]
baiana. Cita receitas, entre elas, de
abará, acarajé, caruru, vatapá, doces CARYBÉ. Iconografia dos deuses africanos CASTRO, J. A geografia da fome. Rio
variados etc.] no candomblé da Bahia. Textos de Jorge de Janeiro: O Cruzeiro, 1946.
Amado, Pierre Fatumbi Verger e [Problemas gerais sobre a alimenta-
Waldeloir Rego. Salvador: Funda- ção no Brasil. A cozinha baiana, seus
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 74

principais ingredientes (pimenta, DIAS, T. M. C. A baiana de acarajé, uma no Nordeste canavieiro do Brasil. Rio de
dendê) destaca o acaçá, acarajé, aba- empresa familiar de sucesso. 1997. Disser- Janeiro: Instituto do Açúcar e do
rá como ricos em vitaminas A e C.] tação (Mestrado em Administração) Álcool, 1969, 286 p.
– Escola de Administração, Univer- [Estudo sociológico sobre os doces
CAYMMI, D. Cancioneiro da Bahia. sidade Federal da Bahia, Salvador. no Nordeste brasileiro. Receitas,
São Paulo: Livraria Martins, [s.d.]. [Estudo em administração. Sobre o entre elas, algumas típicas baianas
[Canções de Caymmi. Trecho que acarajé como uma pequena empresa como: quindins de Yayá, queijadi-
fala em acarajé, “...Todo mundo familiar que conseguiu sobreviver e al- nhas, munguzá.]
gosta de acarajé, o trabalho que dá cançar o sucesso mantendo-se fiel aos
pra fazer é que é!...”.] seus padrões de origem afro-baiana.] INSTITUTO Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística. Enciclopédia dos
COSTA LIMA, V. As dietas africanas EPEGA, S. M. Comida de orisá CON- Municípios Brasileiros. v. XXI. Rio de
no sistema alimentar brasileiro. In: CAR- GRESSO AFRO-BRASILEIRO Janeiro: IBGE, 1958. p. 182-272.
DOSO, C; BACELAR, J (org.) Fa- (4: 1994). Anais... Recife: Fundaj, [Descrição e explicação dos municí-
ces da tradição afro-brasileira: religiosidade, Massangana, 1996. v. 4, p. 50-65. pios do Brasil.]
sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, [Os orixás e suas comidas corres-
práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. pondentes em vários países latino- LODY, R. A culinária baiana. Rio de
Rio de Janeiro: Pallas; Salvador: americanos e na África. A tradição Janeiro: Salamandra, 1977. 130 p.
CEAO, 1999. p. 319-326. iorubá e a relação com as palavras [Estudo de antropologia da alimenta-
[Estudo de antropologia da alimen- para comidas. Ex: je akará que deu ção. O livro introduz o amplo campo
tação. Expõe a presença dos pratos origem ao acarajé.] da cozinha baiana e reúne receitas.]
de origem africana que participam
do sistema alimentar brasileiro FERNANDES, C. Viagem gastronômica _________. Ao som do adjá. 1. Ed. Salva-
desde o século XVIII e define a através do Brasil. São Paulo: Senac, dor: Departamento de Cultura da
expressão cozinha baiana, o azeite- Estúdio Sônia Robatto, 2000. SMEC, 1975, 101p.
de-dendê e as pimentas.] [O acarajé como alimento da cozi- [Estudo etnográfico. Vários temas
nha africana que é vendido nas ruas afro-descendentes. Destaca-se capí-
DIAS, T. M. C et alii. Ambulantes: da Bahia desde o século 18.] tulo sobre a culinária dos terreiros.]
história das gentes e de seus negócios no Car-
naval da Bahia. In: O carnaval baiano, ne- FERRETTI, S.F. Querebetan de Zo- _________. Baianas de tabuleiro. Rio de
gócios e oportunidades. Brasília: Sebrae, madonu: etnografia da Casa das Minas. São Janeiro: Prefeitura Municipal, 1977.
1996. p. 27-34. Luís: Universidade do Maranhão, [Estudo etnográfico. Sobre as baia-
[Estudo em administração. Fala sobre 1985, 324 p. nas que vendem publicamente suas
o comércio ambulante em Salvador [Estudo etnográfico. Descrição e comidas, destaca o tipo na cidade
durante o carnaval: descreve a venda explicação de alimentos rituais.] do Rio de Janeiro.]
de acarajé, de churrasquinho de gato,
de queijinho na brasa, cerveja, refri- FREYRE, G. Açúcar: em torno da _________. Bordados de Mel: arte e técnica do
gerante, amendoim e pipoca.] etnografia, da história e da sociologia do doce richelieu. Texto de Raul Lody. Rio de
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 75

Janeiro: Funarte, CFCP, 1995. 20p. gô e do acarajé de Iansã e aspectos da les, estudos de gestos e ritmos afro-
il. (Sala do Artista Popular; 54). etno-estética ritual do candomblé.] brasileiros, retratados a baiana, seus
[Técnica de confecção do richelieu.] trajes típicos e seu tabuleiro.]
_________. Pencas de balangandãs da Bahia:
_________. Eparrei, Bárbara: fé e festas um estudo etnográfico das jóias-amuletos. Rio NETTO, J. C. P. Cadernos de comidas
de largo do São Salvador. Curadoria e de Janeiro: Funarte; Salvador: Mu- baianas. Rio de Janeiro: Tempo Bra-
texto de Raul Lody. Rio de Janeiro: seu Carlos Costa Pinto, 1988. 167p. sileiro; Salvador: Fundação Cultu-
Iphan, CNFCP, 2004. [Estudo etnográfico das pencas de ral do Estado da Bahia, 1986.
[Catálogo de exposição. Sobre as balangandãs pertencentes ao Museu [História do azeite-de-cheiro e sua
festas de largo em Salvador, estabele- Carlos Costa Pinto.] inserção na cozinha.]
ce um paralelo entre a festa de Santa
Bárbara e as baianas de tabuleiro.] _________. Santo também come: estudo sócio- OTT, C. B. Formação e evolução étnica
cultural da alimentação cerimonial em terreiros da cidade do Salvador: o folclore bahiano.
_________. O atabaque no candomblé baia- afro-brasileiros. Rio de Janeiro: Arteno- Salvador: Tip. Manu, 1955-1957,
no. Rio de Janeiro: Funarte/INF, va; Recife: Instituto Joaquim Nabuco 2 v. il. (Evolução hist. da cid. do
1988, 59 p. de Pesquisas Sociais, 1979. 135 p. Salvador; 5).
[Estudo etnográfico. Atabaque e [Estudo de antropologia da ali- [Estudo folclórico sobre a cidade de
seus significados simbólicos no mentação. Cardápios rituais dos Salvador. O autor trabalha a questão
candomblé, com destaque para a terreiros de candomblé da Bahia, da cultura material: O vestuário e a
alimentação ritual dos atabaques de mina do Maranhão, do xangô alimentação baiana. Há desenho mos-
rum, rumpi e lé, segundo tradições de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, trando o sistema de fiar pano-da-cos-
dos terreiros de candomblé.] com destaque para o capítulo que ta de Mestre Abdias e ainda duas fotos
reúne 100 alimentos integrados ao de baianas, uma com o tabuleiro.]
_________. O povo do santo: religião, âmbito religioso afro-descendente.]
história e cultura dos orixás, voduns, inquices QUERINO, M. A arte culinária na
e caboclos. Prefácio de Peter Fry. Rio _________. Tem dendê, tem axé: etnografia Bahia. Série ensaios miniatura.
de Janeiro: Pallas, 1995, 260 p. do dendezeiro. Rio de Janeiro: Pallas, [S.l.]: Progresso, 1957.
[Estudo etnográfico. O universo 1992, 120p. (Raízes, v. 2). [Estudo antropológico.]
religioso afro-descendente, desta- [Estudo etnográfico. O dendezeiro
que para os capítulos “Mulheres de como um dos símbolos mais deter- _________. A raça africana e seus costumes.
gamela, caixa e tabuleiro” e “Ibejis: minantes da África no Brasil; situa Salvador: Progresso, 1955.
orixás gêmeos e infantis”.] diferentes aspectos sociais, culturais [Estudo antropológico.]
e religiosos.]
_________. O rei come quiabo e a rainha _________. Costumes africanos no Brasil. Prefácio,
come fogo. In: Leopardo dos olhos de fogo. MEIRELES, C. Batuque, samba e ma- notas de Artur Ramos. Rio de Janei-
São Paulo: Ateliê Editorial, 1998. cumba. Nova Iguaçu: Funarte, INF, ro: Civilização Brasileira, 1938. 351p.
[Estudo de antropologia da alimen- 1983. 104 p. il. (Btheca. de divulgação científica, v. 15)
tação. Semiologia do amalá de Xan- [Livro de pinturas de Cecília Meire- [Estudo antropológico.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 76

RAMOS, A. As culturas negras no Novo SIDNEY, D’Oxossi (babalorixá). VARELLA, J. S. C. Cozinha de santo
Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Sabores da África no Brasil. Ilustrações de (culinária de umbanda e candomblé). Rio de
Brasileira, 1937. Sérgio Soares. Belo Horizonte: Mazza, Janeiro: Espiritualista, 1972, 113 p. il.
[Estudo antropológico.] 2002, 63 p. [Estudo sobre os orixás e suas comi-
[O mito dos principais orixás e suas co- das correspondentes, a preparação,
RIBEIRO, J. Comida de santo e oferenda. midas correspondentes, com receitas.] a maneira de servir. Entre outros,
Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, [s.d.]. Iansã (acarajé e abará), Ogum (va-
[Verbete sobre acará e acarajé. Relacio- SOUTO MAIOR, M. Comes e bebes do tapá), Abaluaiê (cuscuz de tapioca)
na acarajé com Iansã e o destaca como Nordeste. Recife: Bagaço, 1955. e Oxalá (munguzá).]
comida especial dessa divindade.] [Estudo folclórico. A cozinha nor-
destina, verbetes sobre as comidas, VERGER, P. Orixás: deuses iorubás
_________. Amalás: a cozinha africana. Rio de com seus modos de preparo, suas na África e no Novo Mundo. Salvador:
Janeiro : Espiritualista, 1969, 109 p. origens e seus usos religiosos.] Corrupio; São Paulo: Círculo do
[Estudo sobre as comidas de santo, Livro, 1981, 295p.
referências a comidas de azeite-de- SOUZA JR, V. C. Usos e abusos das [Estudo etnográfico.]
dendê e em ordem alfabética, várias mulheres de saia e do povo do azeite: notas
comidas de santo, suas receitas e os sobre a comida de orixá no terreiro de Can- _________. Orixás: deuses iorubás na África
orixás correspondentes.] domblé. 1997. Dissertação (Mestrado e no Novo Mundo. Tradução de Maria
em Ciências Sociais) – Pontifícia Aparecida da Nóbrega. 5. ed. Salva-
SANTOS, A. Tempero da Dadá. Salva- Univ. Católica, São Paulo. dor: Corrupio, 1997. 295p.
dor: Corrupio, 1998. [Dissertação em Ciências Sociais. O [Estudo etnográfico.]
[Biografia de Dadá e suas receitas.] acarajé como comida de santo e sua
relação com as baianas de tabuleiro VIANNA, H. A Bahia já foi assim. Sal-
SANTOS, J. E. Os nagô e a morte: e a comida baiana.] vador: Itapuã, 1973.
pàde, asèsè e o culto Egum na Bahia, 2 ed. [Estudo folclórico.]
Petrópolis: Vozes, 1977. TEIXEIRA, M; LODY, R. La présence
[Estudo antropológico.] des symboles judéo-chrétiens dans pesoterisme _________. Breve notícia sobre a cozinha
d’une religion afro-brasilenne. In Le Dèfi baiana. In: CASCUDO, Luís da
SELJAN, Z. Influência da alimentação Magique: esoterism de recherches et d’études Câmara (org.). Antologia da alimenta-
brasileira na Nigéria. Colóquio sobre as anthropologiques, v. 1. France: Presses ção no Brasil. Rio de Janeiro: Livros
relações entre os países da América Universitaires de Lyon, 1994. Técnicos e Científicos, 1977, 254p.
Latina e da África (1963: Rio de [Estudo antropológico. Situa o ima- (Raízes do Brasil).
Janeiro). Anais... Rio de Janeiro: ginário multicultural judaico-cris- [Descrição de várias comidas baia-
Unesco, Ibecc, 1963. p. [90-93] tão em âmbito religioso, especial- nas. Aborda, também, o cheiro de
[Relaciona sabores do acarajé baia- mente nos candomblés, aponta para azeite-de-dendê nas esquinas de
no e africano.] a culinária votiva dos terreiros.] Salvador e os vários quitutes pre-
sentes no tabuleiro da baiana.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 77

_________. A cozinha bahiana: seu folclore, Regina do ponto onde vende acara- Bahiatursa. Palavra-chave: baiana
suas receitas. S/L: Fundação Gonçalo jé há 13 anos. Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
Moniz, 1955, 151p. de tabuleiro.]
[Estudo folclórico. A culinária A RICA história da freguesia da esquina. Ga-
baiana, preceitos alimentares, as “BAIANAS” concluem curso sobre noções de hi- zeta do Turista, Bahia, abr. 1992.
mulheres de mingau e mulheres de giene. A Tarde, Salvador, 11 abr. 1992. [Breve histórico da venda de acarajé.
cuscuz, receitas de várias comidas da [Curso de higiene para manipula- Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
culinária baiana.] dores de alimento oferecido a 538
baianas de acarajé. Palavra-chave: A RICA história da freguesia da esquina.
_________. Breve notícia da alimentação na baiana de tabuleiro.] Jornal da Bahia, Salvador, 1983.
Bahia. Aracaju: Fundação Estadual de [A baiana de tabuleiro como parte
Cultura, [1995]. p. 63-71. Encontro “BAIANAS” condenam discriminação na da cidade de Salvador e seus qui-
Cultural de Laranjeiras – 20 anos. vendagem de comida típica. A Tarde, Sal- tutes como consumo obrigatório e
[Estudo sobre a alimentação na vador, 31 jan. 1978. diário dos baianos e turistas. Venda
Bahia (recôncavo, sul e sertão baia- [Baianas de acarajé reagem desfa- de acarajé como ritual. Palavra-
nos). Em relação a Salvador e ao voravelmente à determinação da chave: acarajé.]
recôncavo aborda a influência das Federação do Culto Afro-Baiano de
comidas de azeite-de-dendê.] que elas tenham que estar vincu- ACARAJÉ: tradição assassinada. [S.n.],
ladas a terreiros de Candomblé. [s.l.], jun. 1988.
_________. Folclore brasileiro: Bahia. Rio de Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] [A desfiguração do acarajé com a
Janeiro: Funarte, INF, 1981, 94p. introdução de outros elementos, ex.:
[Estudo folclórico sobre a Bahia. Na “BAIANAS” explicam razão do alto preço do aca- miolo de pão na massa, devido à crise
parte culinária, trata do que é típico rajé. A Tarde, Salvador, 02 dez. 1977. econômica. Palavra-chave: acarajé.]
na culinária baiana. O cardápio ba- [Venda de acarajé. Palavra-chave:
seado no azeite-de-dendê e no leite baiana de tabuleiro.] ALICE, S. Acarajé: quitute abençoado por
de coco, o acarajé e o abará.] todos os santos e orixás. O Globo, Rio de
“BAIANAS” pedem apoio de uma cooperati- Janeiro, 30 mai. 1991.
VILHENA, L. S. A Bahia no século va. A Tarde, Salvador, 06 fev. 1985. [Matéria jornalística. Origem do
XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. v. I. [Pedido de implantação de uma co- termo acarajé, sua introdução no
[Crônicas do século 18.] operativa para adquirir os gêneros Brasil, suas mudanças, preparo e
alimentícios e peças de vestuário a ritual para a venda do acarajé. Pala-
Publicações seriadas preços baixos. Palavra-chave: baiana vra-chave: acarajé.]
de tabuleiro.]
“BAIANA” divide opinião dos moradores da Gra- ALIMENTAÇÃO ritual. Ciência & Tró-
ça. A Tarde, Salvador, 17 jun. 1997. “DIA da baiana do acarajé” para estimular o tu- pico, Recife, v. 5, n. 1, p. 37-47,
[Dois abaixo-assinados de mora- rismo. A Tarde, Salvador, 21 nov. 1982. jan. / jun. 1977.
dores do bairro da Graça, um para [Dia criado para difundir a culiná- [Aspectos das relações sociais e a
manter, outro para tirar a baiana ria, cultura e costumes baianos pela alimentação.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 78

ALMEIDA, R. O Lorogum num candomblé festa da Ribeira e a presença do acara- de José Valadares, com desenhos de
baiano. Diário de Pernambuco. Reci- jé nesta festa. Palavra-chave: acarajé.] Carybé. Palavra-chave: baianas.]
fe, 13 jun. 1954, 2º cad., p. 1 e 2.
[Fala do cerimonial Lorogum que AS MARAVILHOSAS festas da Bahia. O BAHIA, as cores de todos os santos. O Glo-
acontece no 1º domingo da qua- Jornal, Rio de Janeiro, 28 set. 1969. bo, Rio de Janeiro, 07 out. 1971.
resma. Neste dia faz-se uma festa [As festas da Bahia, a presença do [Primavera marca o fluxo turístico
de fechamento dos trabalhos nos acarajé nelas. Palavra-chave: acarajé.] para Salvador e dá início ao ciclo
terreiros. No artigo o autor chama dos Orixás, acarajé servido nas festas
atenção para as indumentárias usa- As Vestes da baiana de Acarajé... O Globo, dos santos. Palavra-chave: acarajé.]
das na festa, entre elas estão o pano- Rio de Janeiro, 10 abr 1953.
da-costa. Palavra-chave: pano.] [Nota de jornal. Secretária de Saú- BAHIA faz hoje homenagem à mulher do tabu-
de defende-se por nota que estaria leiro. A Tarde, Salvador, 25 nov. 1993.
ANDRADE, C. D. Defesa da baiana. A obrigando as vendedoras a trocar os [Comemoração do dia da baiana.
Tribuna, Santos, 14 jan. 1968. trajes típicos por capa e gorro bran- Palavra chave: baiana de tabuleiro.]
[Baiana de tabuleiro como elemen- co; só estaria exigindo proteção
to constitutivo da paisagem urbana contra moscas e poeira nos tabulei- BAHIA, todos os santos chamam para a festa.
do Rio de Janeiro. Palavra-chave: ros. Palavra-chave: acarajé.] Jornal do Comércio, Porto Alegre,
baiana de tabuleiro.] 05 nov. 1976.
Ascenso Ferreira e sua Contribuição à Antropofa- [Influência africana na comida e
ANGRA dos Reis vai reavivar folclore. O gia. Jornal Universitário, Recife, ago, nos rituais populares. A oferta das
fluminense, Niterói, 21/22 jul. [Reportagem sobre o poema “Bahia” baianas de tabuleiro do primeiro
1968. Supl. 1. de Ascenso Ferreira, que fala das acarajé do dia ao santo. Palavra-
[O rico folclore em Angra dos comidas baianas e sua repercussão na chave: acarajé.]
Reis, a venda de acarajé presente época. Palavra-chave: Abará.]
na encenação de “As pastorinhas”. BAHIA. Lei n. 5.454 de 25 de novembro de
Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] ASPECTOS gerais do nosso folclore. Diário 1998. Dispõe sobre a localização, o
Popular, São Paulo, 28 ago. 1983. funcionamento do comércio infor-
ANTROPOLOGIA da alimentação. A Tar- [Origem da palavra folclore. Exem- mal exercido pelas baianas de tabu-
de, Salvador, 28 jan. 1996. Cad. 2, plos típicos de aspectos imateriais. A leiro e de mingau em logradouros
Seção Comes e bebes, p. 10. lavagem do Bonfim. O acarajé como públicos e dá outras providências.
[Trabalho de antropologia da ali- uma das comidas que chegou com os Diário Oficial do Município, Salva-
mentação desenvolvido no CEAO/ africanos e se transformou em tradi- dor, BA, 25 nov. 1998.
UFBA e relação do acarajé com ção brasileira. Palavra-chave: acarajé.]
divindades no Candomblé.] BAHIA: o retrato de uma época de riquezas. Jor-
AUGUSTO, J. Como as baianas colocam o nal do Brasil, Rio de Janeiro, 02 dez.
AS MARAVILHOSAS festas da Bahia. O torço. A Tarde, Salvador, 9 jan 1972. [As festas da Bahia, entre elas, cita a fes-
Jornal, [s.l.], 28 set. 1969. [Matéria jornalística sobre a publi- ta de Iansã. O acarajé presente na festa
[As festas da Bahia, em destaque a cação do livro O torço da baiana, do cachimbo. Palavra-chave: acarajé.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 79

BAIANA de acarajé inova para vencer concor- cia entre tabuleiros. Palavra-chave: Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
rência. A Tarde, Salvador, 13 set. 1996. baiana de tabuleiro.]
[Venda a quilo, refrigerante gra- BARRETO, F. A humilhação de um
tuito etc., modernizam a forma de BAIANAS: o acarajé pela hora da morte. Jornal “malé” criou o traje das baianas. A noite,
venda do acarajé. Palavra-chave: Universitário, Recife, set. 1977. n. 1. Guanabara, 19 dez. 1957.
baiana de tabuleiro.] [A venda de acarajé na Bahia como [Lenda do traje das baianas usado du-
obrigação contraída com os santos. rante a venda. Palavra-chave: acarajé.]
BAIANA de acarajé será cadastrada pela Palavra-chave: acarajé.]
Prefeitura. A Tarde, Salvador, 16 jul. BARROS, J. R. O que é que a baiana
1975, p. 5. BANDEIRA, C. Baianas querem tem. Diário Carioca, 21 fev 1960.
[Cadastro de baiana de tabuleiro resgatar o antigo perfil. A Tarde, [Aborda a roupa de baiana tradicio-
pela Prefeitura de Salvador. Pala- Salvador, 11 fev. 2000, p.7. nal, de influência maometana, utili-
vra-chave: baiana de tabuleiro.] [O acarajé como comércio. A Abam zada pelas baianas de tabuleiro e sua
lutando contra a venda em restau- estilização, por meio do carnaval,
BAIANA de acarajé, a reconquista da fama. rantes e bares e a luta pelo traje e do turismo e da figura de Carmem
A Tarde, Salvador, 02 dez. 1998. pela qualidade. Cita Pelourinho, Miranda. Palavra-chave: acarajé.]
Seção Turismo, p. 3. Itapuã, Rio Vermelho, Pituba e
[A evidência na mídia local e nacio- Amaralina como points do acarajé. BASTIDE, R. A cozinha dos deuses.
nal da baiana de acarajé depois de Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] Nova Iguaçu: SAPS, 1952. 27 p.
briga entre Dinha e Regina. Pala- (Ensaio e debate alimentar ; 8).
vra-chave: baiana de tabuleiro.] BANDEIRA, C. Decreto acaba com “guerra [Estudo Antropológico. As comi-
do acarajé” em Salvador. A Tarde, Sal- das nos candomblés, usos rituais,
BAIANA é aquela de blusa rendada e saia vador, 25 nov. 1998. os modos de preparo, a maneira de
rodada. Jornal do Brasil, Rio de [A assinatura do decreto que regu- servir, os tabus alimentares.]
Janeiro, jan. 1969. Suplemento lamenta o uso e ocupação do solo
Especial, Bahia Turismo. pelas baianas de tabuleiro. Palavra- BASTOS, W. L. Alimentos de receita
[Considera as baianas como símbolo chave: baiana de tabuleiro.] folclórica. Gazeta Comercial, Belo
internacional do Brasil e as autênti- Horizonte, 9 dez. 1973.
cas como aquelas que são vistas tam- BANDEIRA, C. Sabor do acarajé fascina os turistas. [Verbetes de comidas folclóricas,
bém nas esquinas da cidade de Sal- A Tarde, Salvador, 19 jan. 2001, p.7. entre elas o acarajé. Palavra-chave:
vador com seus tabuleiros vendendo [O encanto do acarajé sobre os turistas. baiana de tabuleiro.]
acarajé. Palavra-chave: acarajé.] Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
BOLOGNINI, D. Comidas e bebidas:
BAIANA vai à Justiça para ficar no Largo de BARRETO, A. C. Profissão de fé: um estudo da alimentação no folclore bra-
Santana. A Tarde, Salvador, 21 out. baianas de acarajé fazem festa no Pelourinho. sileiro. Folclore, Guarujá, n.22, p.
1998, p.7. Correio da Bahia, Bahia, 26 nov. 11-19, 1997.
[Briga entre duas baianas de tabu- 1997. Cad. Aqui Salvador. [Cita acarajé de Iansã.]
leiro (Dinha e Regina) por distân- [Comemoração do Dia da Baiana.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 80

BOLOGNINI, D. S. Comidas e bebidas: Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 17 CAXIAS capital do nordeste. O Jornal,
um estudo da alimentação no folclore brasi- jul. 1972. Rio de Janeiro, 23 mar. 1969. 1.
leiro . Folclore, Guarujá, n. 22, p. [Aborda as festas das baianas de ter- cad, p. 8-9.
11-19, 1997. reiros, que ocorrem em julho, em [Grande feira realizada em Caxias-
[Estudo Folclórico. A alimentação homenagem a Omolure. Palavra- RJ, aos domingos. Acarajé citado
no folclore brasileiro. A culiná- chave: tabuleiro.] como fonte de sustento de uma
ria votiva, a comida de santo e sua mulher mãe de seis filhos. Palavra-
relação com a culinária baiana. CARNEIRO, E. O caruru de Cosme e Da- chave: acarajé.]
Referência à Festa de Santa Bárbara, mião. In: Província de São Pedro, n. 5. Rio
onde são servidos acarajés.] de Janeiro: Livraria do Globo, 1940. CELESTINO, M. Tabuleiro promocional.
[Cosme e Damião, os Ibejis nagôs Correio da Bahia, Salvador, 04 mar.
BRAGA, I. População rejeita “reserva de culto familiar. Acarajé como 2002. Seção Aqui Salvador, p. 1.
de mercado” para o acarajé. A Tarde, parte constitutiva do “caruru dos [Promoção de acarajé depois do carnaval
Bahia, 8 abr. 2000. 1. Cad., p. 5. meninos”. Palavra-chave: acarajé.] e criação do certificado de qualificação.]
[Matéria jornalística. População da Hemeroteca da Biblioteca Amadeu
Bahia não concorda com a venda de Amaral do Centro Nacional de Fol- CIDADE homenageia baianas do acarajé com
acarajé restrita às filhas de santo.] clore e Cultura Popular muito samba. A Tarde, Salvador, 24
nov. 1985, p. 3.
CAETANO, S. Jornal de Brasí- [Homenagem às baianas de acarajé.
lia. Brasília, 18 jan 1976, Caderno CARVALHO, N. Baianas do acarajé são Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
Especial, página 20. românticas e integram folclore mas não tem
[Aborda a festa da Lavagem das Es- asseio. [s.n.], [s.l], p. 1 e 2, [s.d.]. COLOMBO, S. Africanos foram forçados
cadarias do Bonfim que conta com a [Discussão sobre a relação baiana de ta- a reinventar sua culinária. Folha de São
presença das baianas, mães de santo, buleiro e os problemas sociais da Bahia. Paulo, São Paulo, 02 abr. 2000.
usando as indumentárias típicas Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] Seção Tradição.
– saias rodadas, panos da costa, co- [Influência africana na culinária
lares etc. Palavra-chave: pano.] CASCUDO, L. C. Conversa para o brasileira. Transformação da culi-
estudo afro-brasileiro. Cadernos Brasi- nária africana pela brasileira. Cita o
CAMELLO, N. Folclore – Ciência do leiros, Rio de Janeiro, v. 12, n. 57, acarajé como hit da cozinha afro-
Povo. O Povo, Fortaleza, 2 jun 1961. p. 65-76, jan./fev. 1970. brasileira. Palavra-chave: acarajé.]
[Trata da origem e tradução da [Estudo folclórico. Artigo sobre
palavra folclore e de pratos típicos Salvador; entre outros aspectos, fala COMEÇAM a aparecer as inéditas de Lupicí-
de cada estado, abordando, assim, a da influência africana na cozinha nio. Jornal do Brasil, Rio de Janei-
culinária baiana e consecutivamente baiana, o hábito de oferecer comi- ro, 2 ago. 1982. Caderno B.
o acarajé. Palavra-chave: acarajé.] das aos transeuntes, as comidas, e [Músicas inéditas de Lupicínio.
ainda a baiana e sua indumentária.] Transcrição dos versos de uma músi-
CANDOMBLÉS saem à rua por Omolu ca do compositor onde aparece a pa-
enquanto etnólogo diz que há desvirtuamento. lavra acarajé. Palavra-chave: acarajé.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 81

COMEMORAÇÃO do Mês do Folclore. Diá- CONTAMINAÇÃO de acarajé e abará é CRISE já chegou ao comércio das baianas, em
rio da Noite. São Paulo, 8 ago. 1967. acima do aceitável. A Tarde, Salvador, Salvador. O Globo, Rio de Janeiro,
[Dia do Folclore. Exposição. Iguarias 30 nov. 1998, p.9. 09 set. 1984.
da Bahia servidas na exposição, entre [Pesquisa no Laboratório de Micro- [Dificuldade de lucro na venda de
elas o acarajé. Palavra-chave: acarajé.] biologia de Alimentos da Faculdade acarajé, pelo aumento do custo dos
de Farmácia da UFBA. Palavra-cha- ingredientes e pela exigência da Fe-
COMIDAS à base de feijão. O Globo, ve: baiana de tabuleiro.] deração do Culto Afro-Baiano do
Rio de Janeiro, 19 fev. 1999. Ca- uso do traje típico. Palavra-chave:
derno Rio Show, p. 14-15. CORDEIRO, N. C. O que o negro Baiana de tabuleiro.]
[Comidas à base de feijão, entre elas africano nos legou. Gazeta Comercial,
o acarajé. Palavra-chave: acarajé.] Belo Horizonte, 10 set. 1967. CULINÁRIA baiana. Boletim da Casa
[Contribuição da cultura africana da Bahia, Rio de Janeiro, n. 54,
COMIDA baiana: um roteiro sem preconceitos. O (crenças, festas e comidas) na cultu- out/nov/dez 1960.
Globo, Rio de Janeiro, p. 1, 12 set. 1974. ra brasileira. Entre as comidas, cita [Culinária baiana, apresenta receita
[Mapeamento dos considerados me- o acarajé. Palavra-chave: acarajé.] de acarajé.]
lhores vendedores de comida e bebida
típica da Bahia, incluindo a venda CORDEIRO, T. Acarajé de Cris- CULINÁRIA folclórica. [S.n.], [s.l.], [s.d.].
de acarajé feito segundo os costumes to. Época, Rio de Janeiro, 25 fev. [Culinária baiana, apresenta receita
ortodoxos. Palavra-chave: acarajé.] 2002. Seção Tradição, p. 63. de acarajé.]
[A venda de acarajé por evangélicos
COMIDAS e bebidas de santo. Revista Mi- que se recusam a usar a indumentá- DANNEMANN, M. F. “Baianas-empre-
ronga – Anuário de 1970, Guanaba- ria de baiana.] sárias” esquecem tradição. A Tarde, Salva-
ra/R.J., p. 52 e 53. Edição Especial. dor, 22 set. 1997. Seção Local, p.7.
[Comidas rituais da cultura africa- CÔRTES, C. Cardápio de santo: an- [A venda de acarajé por homens, en-
na, usadas em nossos dias. Explica o tropólogo ensina como associar receitas da tre eles Gregório, e a não utilização
preparo e identifica o santo para o culinária africana à devoção das entidades do traje típico no tabuleiro de Cira.
qual se oferta; cita o acarajé. Pala- religiosas. [s.n.], São Paulo, n. 1496, Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
vra-chave: acarajé.] 13 jun. 1998. Seção Tradição.
[Relação entre a comida e celebra- DANTAS, C. O Senhor dos Navegantes:
CONDE, A. P. A mesa com os santos: ção religiosa. Receita de acarajé e uma tradição da Bahia. Correio da Ma-
livro ensina a fazer as receitas que agradam às sua relação com Iansã. Palavra-cha- nhã, Rio de Janeiro, 12 mar. 1967.
entidades do Candomblé. O Dia, Rio de ve: acarajé.] 5 cad., p. 2.
Janeiro, 29 ago. 1998. Caderno D+ [A procissão marítima de Nosso Se-
Mulher, Seção Culinária. Cozinha. O Globo, Rio de Janeiro, 3 nhor do Bonfim. A venda de acarajé
[Importância da comida nas cerimô- jul. 1974. nesta festa. Palavra-chave: acarajé.]
nias religiosas afro-brasileiras. Receita [Reportagem jornalística sobre a co-
de acarajé. Palavra-chave: acarajé.] mida baiana. Palavra-chave: acarajé.] DELICATESSEN invadida por baiana de acarajé. A
Tarde, Salvador, 04 fev. 1996, p.6.
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 82

[A venda de acarajé na delicatessen no candomblé da Bahia; entre seus FRAZÃO, H. Baianas combatem evan-
Perine Master no bairro Vasco da Gama. quitutes, destaca o acarajé. Palavra- gélicos: para quituteiras, acarajé é negócio
Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] chave: acarajé.] privativo de orixás. Jornal do Brasil,
Rio de Janeiro, 20 mar. 2000.
DIÁRIO Popular. São Paulo, 22 ESTUDOS do Folclore Brasileiro: Origem dos [Comércio de acarajé. Disputa de
jun. 1969. Trajes Regionais Baianos. Vamos ler, Rio mercado entre filhas de santo e
[Fala de um batizado de capoeira de janeiro, 3 abr 1948. evangélicas. Acarajé como meio de
realizado em São Paulo onde esteve [Reportagem sobre as pesquisas subsistência. Atividade feminina.
presente Dona Maria Raimunda, da Comissão Nacional de Folclore Palavra-chave: acarajé.]
baiana famosa pelos quitutes que faz. acerca da origem do traje de baiana, a
Foi dado enfoque ao traje típico das tradição malê, e a especulação de seu FREYRE, G. Pratos típicos brasileiros.
baianas de tabuleiro da parte baixa significado: profissional, profano ou Casa Grande Sabor, n. 3, p. 22-
da Bahia. Palavra-chave: tabuleiro.] infame. Palavra-chave: baianas.] 23, jan/fev. 1975.
[Pratos típicos baianos. Cita o aca-
DIAS, T. M. C. Baianas de acarajé, FESTA para a baiana de acarajé. Jornal da rajé. Palavra-chave: acarajé.]
negócios locais, negócios globais. In: Pré- Bahia, Salvador, 25 nov 1983.
textos para discussão. UNIFACS, [A baiana de tabuleiro como parte GASPAR, L. O sabor da terra: uma
UFBA, Coord. de Pesquisa, Ano I, da cidade de Salvador e seus quitutes bibliografia sobre a culinária brasileira. Ci-
v. 1, n.1 (jul/dez 1996). Salvador: como consumo obrigatório e diário ência & Trópico, Recife, v. 25, n.
UNIFACS/ UFBA, 1996. p. 27-34. dos baianos e turistas. Venda de acarajé 2, p. 327-393, jul./dez. 1997.
[Estudo de administração. Aborda a como ritual. Palavra-chave: acarajé.] [O artigo traz uma bibliografia sobre a
baiana de tabuleiro como uma pe- culinária brasileira, contendo algumas
quena empresária local de sucesso.] FESTAS e presentes para Xangô, o deus do referências sobre a culinária baiana.]
ouro. Diário da Tarde, Belo Hori-
Efegê, J. O ouro e o Luxo das Baianas zonte, 01 out. 1974. GOMES, O. A lavagem do Bonfim. Jornal
exaltadas com poesia e música. O Globo, [A festa de Xangô e a doação das do Brasil, Rio de Janeiro, 17 jan. 1974.
24 abr 1977. comidas típicas do santo, venda de [A lavagem do adro e da escadaria
[Aborda a representação das baianas acarajé e de pipoca, sem sal e sem da Igreja do N. Sr. do Bonfim. As
em músicas populares compostas tempero. Sincretismo de Xangô baianas do acarajé participando da
por Dorival Caymmi, Ary Barroso e com Nosso Senhor do Bonfim. procissão. Palavra-chave: acarajé.]
outros. Palavra-chave: baianas.] Palavra-chave: acarajé.]
GUERRA do acarajé na disputa de ponto no
ENFEITE vivo da Bahia numa praça da cida- FOLCLORE e Curiosidade do Brasileiro Fanta- Largo de Santana. A Tarde, Salvador,
de. Diário de São Paulo, São Paulo, sioso. A Tribuna Jovem, 13 jun 1976. 16 out. 1998, p. 2.
09 dez. 1977. n. 1. [Reportagem sobre tipos populares [Disputa entre as baianas de tabu-
[Reportagem sobre uma filha de brasileiros: padeiro flutuante, ne- leiro Dinha e Regina por ponto no
santo de Iansã, Tânia, que foi gra baiana, lavadeiras e jangadeiros. Largo de Santana. Palavra-chave:
iniciada com babalaôs aos 10 anos Palavra-chave: acarajé.] baiana de tabuleiro.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 83

GUIMARÃES, G. Caruru de São Cos- [História de vida e ascensão da [Estudo etnográfico. O imaginário
me. A Tarde, Salvador, 13 set. 1966. baiana de tabuleiro Dinha. Palavra- do candomblé, destacando os capí-
[A oferta de caruru. Palavra-chave: chave: Baiana de tabuleiro.] tulos: A comida do dono da terra;
acarajé.] Acarajé de Iansã; O feijão; Caruru
LIMA, J.J.T. Santos também têm comida. de Cosme; Dia do Pilão.]
GUIMARÃES, R. Os Pregões. Jornal Jornal de Piracicaba, Piracicaba, 24
do Brasil, Guanabara, 20 jan. 1957. dez. 1967. LODY, R. No tabuleiro da baiana
[Pregões entoados na venda de alimen- tem... pelo reconhecimento do acarajé como
tos na rua. Palavra-chave: acarajé.] LIMA, N.C. À mesa com os orixás do Can- patrimônio cultural brasileiro. Seminário
domblé: como os pratos de terreiros brasileiros Alimentação e Cultura. (2001: Rio
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 28 ago. influenciaram os hábitos alimentares. Gazeta de Janeiro). Rio de Janeiro: Funar-
a 03 set. 1998. Revista Programa, p.26. Mercantil, Belo Horizonte, 04, 05 e te, CNFCP, 2002. (Encontros e
[Entrevista com o antropólogo 06 ago. 2000. Seção Tradição. estudos; 4) p. 37-40.
Raul Lody. Ingredientes (pimenta e [Relação comida e santo. Relação [Aborda o acarajé e as suas representa-
dendê). Comida baiana, entre elas religião afro-brasileira e mitologia ções e significados ligados aos orixás.]
o acarajé. Palavra-chave: acarajé.] grega (deuses quase humanos em
suas paixões, carregadas de ciúmes, LODY, R. O dendê e a comida afro-
LACERDA, L. Dinha do acarajé: 20 traições e vinganças). Quadro relacio- brasileira. Recife: Instituto Joaquim
anos de luta e muita garra para vencer. Sho- nando entidade, sincretismo e comida Nabuco de Pesquisas Sociais, Depar-
pping News da Bahia, Salvador, 31 predileta. Palavra-chave: acarajé.] tamento de Antropologia. (Micro-
ago. 1992, p. 4. monografia folclórica; 43), 1977.
[Entrevista com a baiana de tabulei- LIRA, M. São Cosme-São Damião. [Estudo de antropologia da alimen-
ro Dinha. Palavra-chave: baiana de Correio da Manhã, Rio de Janeiro, tação. Dendezeiro e seus produtos,
tabuleiro.] 30 set. 1951. especialmente o azeite-de-dendê.]
[A história e o culto a São Cosme e
LEANDRO, P. Decreto regulamenta comér- São Damião, a oferenda de acarajé a LODY, R. Tem dendê, tem axé. Revis-
cio de acarajé nas ruas de Salvador. Estado de estes Ibejis. Palavra-chave: acarajé.] ta da Bahia, Salvador, v. 3, n. 16,
S. Paulo, São Paulo, 01 dez. 1998. mar./jun. 1990.
[Prefeito de Salvador assina de- LIZA, M. Miss Brasil e o traje de “Baia- [A importância do dendê no uni-
creto-lei determinando distância na”. Correio da Manhã, Rio de verso afro-descendente.]
mínima entre tabuleiros devido a Janeiro, 7 ago de 1955.
briga entre duas baianas de tabulei- [Especulação sobre o traje de baia- LODY, R. Tudo come e de tudo se come: em
ro (Dinha e Regina). Palavra-chave: na, sua origem, suas diferenças. torno do conceito de comer nas religiões afro-
Baiana de tabuleiro.] Palavra-chave: baianas.] brasileiras. In: Congresso Afro-Bra-
sileiro (4.: 1994). Anais. Recife:
LESSA, C. Imperatriz do acarajé. Cor- LODY, R. Candomblé: religião e resistên- Fundação Joaquim Nabuco, Mas-
reio da Bahia, Bahia, 29 mar. 1996, cia cultural. São Paulo: Ática, 1987. sangana, v.4, p. 44-49.
Folha Perfil. 87 p. (Princípios; 108). [Estudo de antropologia da alimenta-
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 84

ção. Diferentes conceitos sobre alimen- MATTOS, F. Exposição da Bahia abafou MIRANDA, G. Os quitutes da Bahia.
tação em âmbito sagrado dos terreiros.] São Paulo ao som de berimbaus e cheiro de Diário de São Paulo, São Paulo, 03
acarajé. Diário de Notícias. Salvador, mar. 1956.
LODY, R. Um mês com sabor de milho. 25 set. 1956. [O lançamento do livro “A cozinha
Diário Pernambucano, Recife, 24 [Exposição. Acarajé servido como baiana: seu folclore, suas receitas” de
jun. 1992. arte baiana ao governador Carvalho Hildegardes Vianna, que aborda a
[Fala das receitas e comidas feitas de Pinto e ao Presidente Kubitscheck. culinária folclórica e, entre as comi-
milho para o ciclo junino, chama Palavra-chave: acarajé.] das, o acarajé. Palavra-chave: acarajé.]
atenção para um dos doces típicos
do tabuleiro, o lelé ou lelê de mi- MENDONÇA, E.; PINTO, M. D. MONTEIRO, A. O culto a Exu. A
lho. Palavra-chave: tabuleiro.] N. Sistema culinário e patrimônios culturais: Tarde, Salvador, 12 jan. 1956, 1
variações sobre o mesmo tema. Seminário cad., p. 5 e 9.
LOURDES, M. I. G; RIBEIRO, G. Alimentação e Cultura. (2001: Rio de [O culto a Exu, a lenda africana
C., HORTA, L. C. Comidas Brasilei- Janeiro). Rio de Janeiro: Funarte, sobre Exu, o ritual para a venda de
ras. Gazeta Comercial, 10 mar 1968. CNFCP, 2002. (Encontros e estu- acarajé e a oferenda a Exu. Palavra-
[Glossário de alimentos da culinária dos; 4) p. 37-40. chave: acarajé.]
brasileira. Palavra-chave: acarajé.] [Apresenta uma reflexão sobre os
ofícios e modos de fazer dos atores MONTEIRO, A; CABRAL, O.
LUEDY, M. O que é que a baiana tem. A sociais envolvidos com a produção, Propagadores da tradição: o folclore. [s.n.],
Tarde, Salvador, 08 jul. 1977. comercialização e consumo do aca- [s.l.], [s.d.].
[O preparo e a venda de acarajé, o rajé e da farinha, assim como seus [Manifestações folclóricas, entre
modo de as baianas se relacionarem universos.] elas, os pregões das negras do acara-
com seus clientes e a quantificação jé. Palavra-chave: acarajé.]
de tabuleiro por área. Palavra-cha- MENDONÇA, J. Missa para homena-
ve: baiana de tabuleiro.] gear as baianas revela sincretismo. A Tarde, MONTEIRO, J. Lendas, Mitos e Cren-
Salvador, 26 nov. 1998, p. 2. dices do Brasil. Folha da Tarde, São
MAGALHÃES JUNIOR, R. A [Sincretismo presente na festa em Paulo, 15 ago 1959.
Fantasia de Baiana. Diário de Notícias, homenagem às baianas de acarajé. [Jerônimo Monteiro dá duas recei-
Rio de Janeiro, 28 fev 1954. Palavra-chave: baiana de tabuleiro.] tas de pratos afro-baianos: o abará
[A vulgarização da fantasia de e o acaçá. Palavra-chave: abará.]
baiana por meio da música e do MENEZES, B. Cira dá mais o que falar
cinema, a nacionalização da roupa na briga entre as baianas instalando-se em MOREIRA, P. Fábrica de acarajé poderá
das negras quituteiras, diferentes Rio Vermelho. A Tarde, Salvador, 17 ser realidade até o fim do ano. A Tarde,
de outros trajes como vaqueiro, nov. 1998, p. 7. Salvador, 16 mai 1996.
gaúcho e caipira, que mantiveram [Cira entra na briga entre as baia- [A possibilidade da criação de uma
sua característica regionalizada. nas Dinha e Regina, instalando-se fábrica de acarajé.]
Palavra-chave: baianas.] em Rio Vermelho. Palavra-chave:
baiana de tabuleiro.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 85

MOSCOSO, N. S. Crendices e supers- 12 mai. 1972. O torço da baiana. O jornal, Rio de


tições dentro do folclore brasileiro. Correio [Influências da cultura africana, Janeiro, 27 mar 1966.
Popular, Campinas, 16 ago. 1969. entre as comidas cita o acarajé. Pa- [O uso do torço no traje das baia-
1o cad., p. 2. lavra-chave: acarajé.] nas, sua origem, seus usos. Palavra-
[As baianas de tabuleiro com suas chave: baianas.]
cocadas e seus acarajés no folclore Na mesma praça no mesmo lugar. Diário de
brasileiro. Palavra-chave: acarajé.] Notícias, Rio de Janeiro, 22 dez 1970. OLIVA, F. Expedição Culinária. Folha
[Matéria jornalística. Atividades de São Paulo, 5 fev 1997.
MOURA, D. Memórias de uma alma em comerciais nas praças: lambe-lam- [Reportagem sobre a série de TV
movimento. Revista Palavra, Belo Ho- be, baiana, pequenas barracas de “Uma Expedição Culinária pela
rizonte, v. 1, n. 7, p. 66-72, out./ verduras. Palavra-chave: acarajé.] História do Brasil”, dirigida por
1999. il. Ricardo Miranda; um dos pro-
[Reportagem sobre as baianas, seus ta- NÃO há mês sem festa no calendá- gramas dedicados à influência do
buleiro de acarajé, a ABA (Associação rio baiano. [S.n.], Rio de Janeiro, negro africano na cozinha, acarajé,
das Baianas de Acarajé), os cursos de 1972. 1. cad. da Bahia. abará, caruru, vatapá... Palavra-
capacitação, a profissionalização das [Festas no calendário baiano, a chave: acarajé.]
baianas. Aborda, também, os panos culinária baiana, suas influências e
africanos e turbantes das baianas.] as comidas preparadas com dendê e OLIVEIRA NETO. A penca e o
pimenta. Palavra-chave: acarajé.] ‘barangandan’: as vestimentas das mulatas e
MUNIZ JR, J. A baiana com seus balan- crioulas bahianas. Cadernos Antonio
gandãs e turbantes simboliza o folclore. 1975. NOVELA das baianas pode render novos Vianna, Salvador, n. 1, p. 13-19,
[Reportagem sobre os trajes de capítulos. A Tarde, Salvador, 24 out. 1968.[Estudo sobre as vestimentas
baiana, única indumentária fe- 1998, p. 7. das baianas, em especial as pencas
minina tipicamente do Brasil, e a [Disputa entre as baianas de tabu- e balangandãs. Glossário sobre a
figura da baiana, nacional e fol- leiro Dinha e Regina por ponto no simbologia dos amuletos.]
clórica, relacionada ao samba e ao Largo de Santana. Palavra-chave:
carnaval. Palavra-chave: baiana.] baiana de tabuleiro.] OLIVEIRA, F.H. Além do cacau, do
petróleo, da mamona: folclore é também uma
MUTARI, M. Acarajé, negócio baiano. A Tar- O protesto das fadas do dendê. O Globo, das riquezas da Bahia. A Tarde, Salva-
de, Salvador, 04 mar. 1998. Cad. 2. Rio de Janeiro, 3 abr 1967. dor, 13 jan. 1978.
[Entrevista com a professora Tânia [Movimento das baianas de tabu- [A origem étnica do folclore na
Dias, que lançou a tese “A baiana leiro do Rio de Janeiro contra o Bahia. A culinária baiana e o acara-
do acarajé: um empreendimento projeto de acabar com os tabu- jé. Palavra-chave: acarajé.]
familiar de sucesso”. Palavra-chave: leiros de acarajé e outros quitutes
baiana de tabuleiro.] tradicionais nas esquinas cariocas. OLIVEIRA, M.T.C. Cultura popular baia-
Palavra-chave: Baiana.] na. O Globo, Rio de Janeiro, [s.d.].
NA CULTURA brasileira, as tradições do ne- [A culinária baiana e o acarajé.
gro. Diário de São Paulo. São Paulo, Palavra-chave: acarajé.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 86

brasileira. Folha de Pernambuco, Recife,


OLIVEIRA, S.M. Candomblé: magia ou 19 nov. 1998. Seção Programa. PREFEITURA não exigirá das baianas o traje
religião. [S.n.], [s.l.], [s.d]. [Entrevista com o antropólogo Raul típico. A Tarde, Salvador, 05 set. 1977.
[Cultura afro-brasileira, culinária, Lody. Importância da comida nas [A liberação do uso do traje típico.
sincretismo, relação com a natu- cerimônias religiosas afro-brasilei- Palavra-chave: baiana de tabuleiro.]
reza. Acarajé como comida para ras. Palavra-chave: acarajé.]
Egum (cerimônia de desligamento Hemeroteca da Biblioteca Amadeu PROCÓPIO, M. Folclore, a raiz cultu-
do espírito de uma pessoa que fale- Amaral do Centro Nacional de Fol- ral de um povo. [S.n.], Belo Horizon-
ceu). Palavra-chave: acarajé.] clore e Cultura Popular te, 25 jun. [19--]. Sessão Extra.
[Folclore. Comidas folclóricas,
OLIVEIRA, W. F. A África à procura de si entre elas, cita o acarajé. Palavra-
mesma. A Tarde. Salvador, 21 mai. 1966. PINHEIRO, I. Folclore – Expressão chave: acarajé.]
[Participação brasileira no Coló- primitiva e autêntica da vida de um povo. O
quio realizado em Dacar sobre a Povo, Fortaleza, 22 ago. 1974. Quem não tem balangandãs... A Tarde,
função e a significação da Arte Ne- [Define folclore e suas formas de Salvador, 9 jan 1969.
gra. Abordagem da culinária baiana. expressão, entre elas o acarajé. Pa- [A música de Dorival Caymmi
Palavra-chave: cozinha baiana.] lavra-chave: acarajé.] aborda as baianas e a Festa do Bon-
fim, o significado de balangandã e
OLUBAJÉ. O Fluminense. Rio de PINHEIRO, R. Comida para santo e penca. Palavra-chave: baianas.]
Janeiro, 17 ago. 1975. gente. O Extra, Rio de Janeiro, 12
[Ritual do orixá Omolu nos terrei- ago. 1998. Sessão Extra. RAMULPHO, W. Mãe Menininha do
ros de candomblé.] [Divulgação do livro “Santo tam- Gantois no carnaval de milhões da Mocidade
bém come” de Raul Lody, derivado Independente. Última Hora, Rio de
OS PRINCIPAIS eventos da temporada. de uma pesquisa sobre a culinária Janeiro, 22 jan. 1976.
[S.n.], [s.l.], 28 nov. 1975. nas religiões afro-brasileiras. Cita o [Enredo da Escola de Samba Mo-
[As principais festas religiosas da acarajé. Palavra-chave: acarajé.] cidade Independente de Padre
Bahia. Comemoração do dia de Miguel. Cita os santos do Candom-
Santa Bárbara, sua associação com PINTO, M. D. N.; MENDONÇA, blé e seus gostos, entre eles os de
Iansã e a oferenda de acarajé. Pala- E. Feiras e comidas: espaço e tempo em mo- Iansã, conseqüentemente o acarajé.
vra-chave: acarajé.] vimento. In: LONDRES, C. [et al.] Palavra-chave: acarajé.]
Celebrações e saberes da cultura popular: pes-
PESQUISADOR faz estudos sobre influências do quisa, inventário, crítica, perspectiva. Rio de REGINA mantém tabuleiro próximo ao de
idioma Yorubá. O Globo, Rio de Janeiro, Janeiro: Funarte, Iphan, CNFCP, Dinha no Largo de Santana. A Tarde,
30 ago. 1990. Seção Barra, p. 52-53. 2004. (Encontros e estudos; 5) Bahia, 22 out. 1998, p. 5.
[Influência do idioma iorubá no portu- [Reflete sobre as feiras de São Jo- [Briga sobre a distância entre duas
guês do Brasil. Palavra-chave: acarajé.] aquim, o Mercado Ver-o-Peso, o baianas de tabuleiro (Dinha e Regina).
tabuleiro da baiana e a barraca de Palavra-chave: Baiana de tabuleiro.]
PESQUISADOR lança livro sobre culinária afro- tacacazeira.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 87

leiro (Dinha e Regina) por espaço. SALDANHA, M. E. F. Calunga para


REGO, V. A chegada dos primeiros escravos. O Palavra-chave: Baiana de tabuleiro.] atrair a sorte. O Globo. Rio de janei-
Globo, Rio de Janeiro, 03 jul. 1973. ro, 28 nov 1968.
[O tráfico de escravos, a cultura SABBAG, D. A maior quituteira da [Traje e acessórios das baianas, seus
africana, a força maior da religião, os Bahia. Diário Popular, São Paulo, 01 usos evocativos e devocionais. Pala-
orixás, suas descrições, suas oferendas, nov. 1969. Caderno Folclorando. vra-chave: baianas.]
sincretismo. Palavra-chave: acarajé.] [Maria Raimunda dos Santos,
citada por Jorge Amado no livro SALLES, V. Alguns aspectos do folclore
RIBEIRO, G. C. Folclore: a festa da “Gabriela, Cravo e Canela”, e seus da alimentação. Cultura, Brasília, v. 3,
cultura popular. O povo na Rua, Rio quitutes, entre eles o acarajé. Pala- n. 11, p. 90-103, out./dez. 1973. il.
de Janeiro, 23 ago. 1993. p. 7-10. vra-chave: acarajé.] [Estudo Folclórico sobre alimen-
[Folclore, comemorações, origem da tação. Destaque para a quituteira,
palavra. Museu do Folclore. Comida SABBAG, D. Salvador já tem centro fol- vendedora de doces.]
como folclore. Palavra-chave: acarajé.] clórico. Diário Popular, São Paulo, 24
jan. 1970. Caderno Folclorando. SAMPAIO, H. O verdadeiro acarajé. A Tar-
RIBEIRO, J. Folclore baiano. Rio de [Criação do Centro Folclórico da de, Bahia, 23 ago. 1998, 1. Cad., p. 3.
Janeiro: MEC, Serviço de Do- Bahia e inauguração do restaurante [Levantamento sobre a forma
cumentação, 1956, 59 p. il. (Os Acarajé do Norte, de proprieda- tradicional de fazer o acarajé e a
cadernos de cultura ; 90). de da baiana Maria Raimunda dos necessidade de se manter a qualida-
[Estudo Folclórico. A baiana, seus Santos, citada por Jorge Amado no de no momento em que aumenta o
trajes, seu papel religioso, seu papel livro “Gabriela, Cravo e Canela”, número de profissionais de acarajé.
sócio-econômico. A doceira e a baia- tida como a “melhor quituteira da Palavra-chave: culinária.]
na de acarajé. Em outro capítulo, fala Bahia”. Palavra-chave: acarajé.]
da culinária e do fato de estar presen- SANTOS, F. Os Pregões da Bahia. Jor-
te nas ruas, nas praças, nas esquinas.] SABBAG, D. O que é que a baiana tem? Di- nal do Comercio, Rio de janeiro,
ário Popular, São Paulo, 22 mai 1971. 24 jan 1965.
RITA, C.S. Êsse folclore dinâmico e [Reportagem sobre a figura da [Reportagem sobre os pregões
abandonado. A Tribuna, Santos, 20 baiana, suas roupas e seus costumes, entoados pelos vendedores de rua
ago. 1967. hábitos culinários e tradições da da Bahia: vendedora de beiju, de
[Exemplos de “evolução” dos fatos Bahia, o tabuleiro e a renda. Pala- mingau, jornaleiro e outros. Pala-
folclóricos, entre eles a colocação vra-chave: baiana.] vra-chave: Mingau.]
do molho no acarajé. Palavra-cha-
ve: acarajé.] SALDANHA, J. Acarajé bom não leva SANTOS, R. R. Tabuleiro de acarajé.
mistura. A Tarde, Salvador, 27 out. O Estado de S. Paulo, São Paulo,
ROCHA, L. “Guerra das baianas” es- 1996. Seção Lazer e Informação. 12 fev. 1955.
quenta. Correio da Bahia, Bahia, 24 [Entrevista com a baiana de tabulei- [Preparo e venda de acarajé. Pala-
out. 1998, p. 6. ro Dinha. Palavra-chave: baiana de vra-chave: acarajé.]
[Briga entre duas baianas de tabu- tabuleiro.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 88

SÃO COSME e São Damião: viva a criança, Folclore, Florianópolis, v. 26, n. VALADARES, J. Culinária. [S.n.],
vivam os Ibejis. Última Hora. Rio de 39-40, p. 138-139, dez. 1988. [s.l.], [s.d].
Janeiro, 27 set. 1980. 1. ed. [Estudo Folclórico. O coco, também [Alimentação dos baianos. Trecho
[Cosme e Damião são Ibejis nos chamado de coco da Bahia, seus usos do livro “Beabá da Bahia” – Guia
candomblés, a eles se oferece o caru- no nordeste brasileiro, sua impor- Turístico, 1961 p. 99. Palavra-cha-
ru no qual está presente o acarajé.] tância na cozinha, tanto em pratos ve: acarajé.]
salgados como o vatapá e em pratos
SÃO PAULO comemora o Mês do Folclore. doces, quindins de iaiá, cuscuz etc.] VEIGA, A. Mistura Muito: comida
Diário da Noite. São Paulo, 17 ago. também é cultura, e nova fornada de livros
1967. 1. ed. SOUZA, J. A festa de Iemanjá na enseada pesquisa o caldeirão multicultural que resultou
[Dia do Folclore. Exposição. Aca- do Rio Vermelho da Baía de Todos os Santos. na bem temperada culinária brasileira. Veja,
rajé servido na exposição. Palavra- Revista AABB, Rio de Janeiro, n. 1585, 17 fev. 1999. Seção Gas-
chave: acarajé.] 33(1/2): 96-97, abr./mai. 1967. tronomia.
[Festa de Iemanjá. A venda de acarajé [Influência estrangeira na culinária
SCHNEIDER, R. Benção tempera nesta festa. Palavra-chave: acarajé.] brasileira. Cita o acarajé como influ-
Vatapá. Correio da Manhã, Rio de ência africana. Palavra-chave: acarajé.]
Janeiro, 12 fev. 1967. Tipos e aspectos brasileiros: folclore e curio-
[Fala sobre a baiana Helena, cozinhei- sidades do brasileiro fantástico. A Tribuna VIANNA, H. A. A cozinha goiana. A
ra de restaurante, e seus pratos. Cita o Jovem, [s.l.], p. 6 e 7, 13 jun. 1976. Tarde, Salvador, 23 jan. 1968. 1
acarajé. Palavra-chave: acarajé.] [Tabuleiro como tipo folclórico brasilei- cad., p. 14.
ro. Palavra-chave: Baiana de tabuleiro.] [Cita a presença do acarajé na culiná-
SILVA, M. T. Culinária. Seminário de ria goiana. Palavra-chave: acarajé.]
Culinária promovida pela Bahiatursa. Ma- TOURINHO, E. As “Fadas do dendê”.
terial não publicado. A Tribuna, Santos, 6 jul 1958. VIANNA, H. Baianas da Conceição. A
[Influência cultural no Brasil. Valor [Reportagem sobre o uso do dendê e Tarde, Salvador, 5 dez 1967.
nutritivo da cozinha baiana. Acara- da pimenta no preparo das comidas tí- [Artigo fala sobre a Festa da Con-
jé com 300 calorias por unidade. picas da Bahia. Palavra-chave: baiana.] ceição da Praia e a roupa da baiana,
Palavra-chave: culinária.] em especial as rendas e barafundas.
UMA das mais requintadas culinárias do Palavra-chave: baianas.]
SOFISTICAÇÃO já chegou à ”república dos aca- mundo é certamente a baiana. Jornal da
rajés”. A Tarde, Salvador, 01 set. 1995. Bahia/Shell, Salvador/BA., p. 5, 21 VIANNA, H. O tempo do Acaçá. A
[A modernização do instrumental abr. 1978. Tarde, Salvador, 8 nov 1971.
para a fabricação do acarajé. Pala- [Requinte da culinária brasileira. [Reportagem sobre o Acaçá vendido
vra-chave: baiana de tabuleiro.] Influência luso-afro-ameríndia nas ruas por mulheres, suas formas
que a diversifica. Cita autores como de comer, sua receita, sua forma de
SOUTO MAIOR, M. Coco: sua Jorge Amado, que aborda a comida preparo. Palavra Chave: Acaçá.]
importância na cozinha do Nordeste. Bo- baiana em suas obras e destaca o
letim da Comissão Catarinense de acarajé. Palavra-chave: acarajé.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 89

Pequenos impressos LODY, R. Pimenta-da-costa: da costa da


(folders, cartazes etc.) África à costa do Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. do Autor, 1990. 4 p. [Comu-
CARTA, M. Bahia: o caminho e a cidade nicado aberto; 7.]
[Folheto] / Mino Carta [e outros]; [Estudo de antropologia da alimen-
fotos de Oswaldo Palermo. [São tação. A pimenta-da-costa nos tra-
Paulo]: Abril, 1963, [50] p. il. Se- jetos África/Brasil e seus diferentes
parata da revista Quatro Rodas, v. 4 significados na culinária ritual dos
n. 41, dez. 1963. terreiros de candomblé.]
[Folheto turístico sobre Salvador.
O tabuleiro da baiana, o acarajé, O QUE que a bahiana tem: pano-da-costa
o abará, onde encontrar, fala da e roupa de baiana [Folheto]/Pesquisa e
mudança de situação de ambulantes texto de Raul Lody. Rio de Janeiro:
para pontos fixos.] Funarte, CNFCP, 2003, 40 p. il
[Sala do Artista Popular; 111/112.]
LODY, R. Axé da boca: temas de antro-
pologia da alimentação. Rio de Janeiro: Catálogo da exposição realizada no
ISER, 1992. 37 p. período de 27 de março a 27 de
[Estudo de antropologia da alimenta- abril de 2003.
ção. Coletânea de artigos sobre elemen- [Os panos-da-costa, seu modo
tos como pimenta-da-costa, dendê.] artesanal de fazer; a baiana e sua
roupa multicultural, a criação do
LODY, R. Cozinha brasileira: uma aventura Memorial da Bahiana em Salvador.]
de 500 anos. In: Formação da culinária bra-
sileira. Rio de Janeiro: Sistema CNC, Textos inéditos, relatórios
SESC, SENAC, 2000. p. 9-21. técnicos e manuscritos
[Estudo de antropologia da alimen-
tação. Introdução histórica e antro- PROGRAMA de organização, mo-
pológica da cozinha brasileira.] dernização e capacitação do comér-
cio de acarajé. Salvador: Damicos
LODY, R. Devoção e culto a Nossa Se- Consultoria e Negócios, jul. 1998.
nhora da Boa Morte: pesquisa sócio-religiosa. 35 p. [Programa não publicado.]
Rio de Janeiro: Altiva, 1981. 30 p. [Projeto. Desenvolvimento de um
[Estudo etnográfico. Irmandade programa de capacitação profissio-
feminina na cidade de Cachoeira, nal para baianas de tabuleiro.]
Bahia, destacando as ceias rituais e
demais cardápios festivos.]
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 90
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 91

Este livro foi produzido


no inverno de 2007 para o
Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional
dossiê iphan 6 { Ofício das Baianas de Acarajé } 92

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA


BIBLIOTECA ALOÍSIO MAGALHÃES

O32 Ofício das Baianas de Acarajé. _


Brasília, DF : Iphan, 2007.
104 p. : il. color. ; 25 cm. + CD ROM. – (Dossiê
Iphan ; 6)

ISBN : 978-85-7334-056-3

1. Patrimônio Imaterial. 2. Acarajé. 3. Patrimônio


Cultural. I. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. II. Série.

Iphan/Brasília-DF CDD – 394.1


} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }
} } } } } } } } } } } } } } } } } } } } }

Anda mungkin juga menyukai