\
[^(MfffflM"
"Para onde?
De volta? A Idade da Pedra e das peles.
De volta? Aos incertos dias onde as mulheres colhiam frutas e os
homens precisavam caçar.
De volta? As cavernas onde a tribo inteira precisava dormir.
! Ou para frente! Para onde? Para as casas de barro e de palha onde
tudo é escuro.
Para frente! Para onde? Na terra onde você precisa semear em uma
única linha infinita".2
2
Aluna da 6" classe sobre o tema: Confronto de culturas entre o Paleolítico e o Neolítico, anos 80. Esse
poema está fortemente influenciado pelo poema "Para onde?" de Michael Francis Dei-Anang ((in: Stockheim,
V . K - H - : Afrika: Schrei der Hof&ung [África: Grito da esperança]. Bischõfliches Hilfswerk Misereor. Material
para a escola 10). Aalen, 1981, p. 47 (Gentil indicação de S. Thiele).
Ver Blanke, Horst Walter: Historiographiegeschichte ais Historik (Fundamenta Histórica, vol. 3), Stuttgart-
Bad Cannstatt, 1991.
Jõrn Rüsen
16
4
Ver em especial Pandel, Hans-Jürgen: Historik und Didatik. Das Problem historiographisch erzeugten
Wissens in der deutschen Geschichtswissenschaft von der Spãtaufklãrung zum Frühhistorismus (1765-1830).
(Fundamenta Histórica, vol.3), Stuttgart-Bad Cannstatt, 1990.
5
Este conceito de matriz disciplinar é apresentado de forma mais completa em: Rüsen, Jõrn. A razão histó-
rica: Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: UnB, 2001, p. 29ss.
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 17
6
O conceito que subjaz na minha interpretação dessas épocas da ciência da história foi apresentado de forma
mais completa em: Rüsen, Jorn: Von der Aufklãrung r u m Historismus. Idealtypische Perspektiven eines
strukturwandels, in: Konfigúrationen des Historismus. Studien zur deutsches Wissenschaflskultur.
Frankfurt/Main 1993, S.29-94. Suas versões mais recentes estão em Rüsen, Jorn. Kultur macht Sinn.
Orientierungsprobleme zwischen Gestern und Morgen. Colônia: Bõhlau, 2006, p. 125-128. Ver também
Rüsen, Jõrn. Disziplinãre Matrix, em Jordan, Stefan (org.). Lexikon Geschichtswissenschaft. Hundert
Grundbegriffe. Stuttgart: Reclam, 2002, p. 61-64.
'Esse modelo de formação de sentido está descrito mais adiante, p. 79ss.
^Coselleçk, .Reinhart: Historia Magistra Vitae - sobre a dissolução do topos na história moderna em movi-
mento, m: Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto:
Ed. PUC-Rio, 2006, p. 41-60.
Jõrn Rüsen
18
'Schlõzer, August Ludwig: Vorstelluung seiner Universalhistorie. Gõttingen, 1772 (Edição reimpressa, pre-
faciada e comentada por Horst Walter Blanke. Hagen, 1990), Prefácio à segunda edição.
10
Droysen, Johann Gustav: Historik. Historisch-kritische Ausgabe, Ed. Peter Leyh, vol. 1. Stuttgart, 1977,
p. 28ss.
" Ranke, Leopold von: Über die Epochen der neueren Geschichte, Eds. Theodor Schieder e Helmut Berding
(Aus Werk und Nachlaâ, vol. 2). Miinchen, 1971, p. 80.
20 Jorn Rüsen
12
Para isso, ver Rüsen (como na nota 6).
13
Ver também: Pandel, Hans-Jürgen: Historiker ais Didaktiker, in: Bergamnn, Klaus/Schneider, Gerhard
(Eds.): Gesellscháft, Staat, Geschichtsunterricht. Beitrage zu einer Geschichte der Geschichtsdidaktik und
des Geschichtsuntemchts von 1500-1980. Düsseldorf, 1982, p. 104-131.
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 21
14
Gatterer, Johann Christhoph: Von historischen Plan und der darauf sich gründenden Zusammenfügung der
Erzãhlung, in: Allgemeine historische Bibliothek 1 (1767), p. 15-89; ver em: Blanke, Horst Walter; Fleischer,
Dirk (eds.): Theoretiker der deutschen Aufklãrungshistorie. Vol. 2: Elemente der Aufklãrungshistorik. Stuttgart-
Bad, Cannstatt, 1990, p. 621-662.
22 Jórn Rüsen
uma história de perdas. Ela precisaria aparecer como uma história do estreitamento
crescente da perspectiva na qual o pensamento histórico se percebe e se torna per-
ceptível. Esse estreitamento diz respeito até à própria cientificização da ciência da
história. A cientificização precisaria ser cognoscível como um fenômeno histórico
no qual, não apenas os princípios metódicos da pesquisa histórica são adquiridos e
aplicados, mas também um processo no qual, ao lado do progresso da racionalidade
metódica, ocorreu um recuo. Recuo porque, no mesmo processo, dimensões essen-
ciais do pensamento histórico deixaram de fazer parte da autocompreensão profis-
sional e perderam a sua capacidade científica. Cientificização como progresso da
racionalização metódica deveria ser vista também como "progresso" da irraciona-
lidade nos princípios cognitivos do conhecimeto histórico.
Essa dialética do processo de cientificização pode ser constada, na história da
ciência, quando se leva em conta a dimensão didática específica do processo espe-
cializado de conhecimento, ao se montar, em perspectiva sistemática, a matriz dis-
ciplinar da ciência especilizada. Esse é o caso sempre que as carências de orienta-
ção provocam o conhecimento histórico. Em termos científicos específicos, essas
carências se tornam interesses do conhecimento. Essa passagem das carências de
orientação para interesses do conhecimento significa que a subjetividade humana,
carente de orientação, é incluída na produção de garantias de objetividade mediante
pesquisa. Se quisermos, podemos chamar essa disçiplinarfcagão de "jfeSitUdatfeaçao"
i o conhecimento histórico. Ao mesmo tempo, porém, e isso não deve ser ignorado,
na dinamização do pensamento histórico, na qual os modelos exemplares de inter-
pretação da experiência histórica se transformam em genéticos, são abertas novas
dimensões da subjetividade no manejo interpretativo da experiência histórica.
De fato, novas necessidades de aprendizado emergem da experiência da rápida
mudança estrutural causada pela dinamização modernizante do pensamento históri-
co no âmbito da história cultural. Novas capacidades de aprendizado ganham for-
ma, assim que essa experiência da mudança é trabalhada sob a forma de um modelo
interpretativo da consciência histórica, especificamente modernona. O "aperfeiçoa-
mento" e a "formação" indicam, como categorias didáticas do conhecimento histó-
rico, a expansão da capacidade de aprendizado da consciência histórica, inseparável
do processo de modernização do pensamento histórico.
Trata-se, aqui, de novas dimensões da subjetividade, especificamente didáticas.
Elas se referem ao aprendizado histórico como o meio de formação da identidade
histórica. Como assim? Na consciência histórica, a posição relativa da subjetivida-
de no manejo da experiência histórica se modifica. Com isso, modifica-se também
o modo de constituição da subjetividade como identidade histórica, mediante a inter-
pretação da experiência histórica. A subjetividade perde sua competência de criar
regras comportamentais de validade supratemporal. Per<^a^sim seu__ status_de
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 23
" "Man hat der Historie das Amt, die Vergangenheit zu richten, die Mitwelt zum Nutzen zukünftiger Jahre
zu belehren, beigemessen: So hoher Àmter unterwindet sich gegenwãrtiger Versuch nicht: er will bloss
zeigen, wie es eigentlich gewesen". Ranke, Leopold von. Geschichte der romanischen und germanischen
VoLker von 1494-1514, Sãmtliche Werke, vol. 33. Leipzig: Duncker und Humblot, 1885, p. VIII. PÁGINA
15 DA EDIÇÃO DE 2008.
16
Gatterer, Johann Chrstoph: Abhandlung vom Standort und Gesichtspunkt des Geschichtsschreibers oder
der Teutsche Livius, in: AUgemeine historische Bibliothek 5 (1768), p. 3-29; ver em: Blanke/Fleischer (Eds):
Theoretiker (nota 13), p. 452-466.
24 Jõrn Riisen
as soluções preconizadas por elas para esse vínculo tenso podem deitar sobre o
entendimento da didática da história. Refiro-me ao entendimento didático de que
ciência não significa exclusão, mas desenvolvimento da subjetividade, de que pen-
samento metódico como disciplinamento da subjetividade não significa perda, mas
pode significar ganho de subjetividade, de chances de aprendizado e de oportunida-
des de desenvolvimento na formação da identidade histórica.
G(^mjnismo)responde de dois modos ao novo entendimento da dependência de
pontos de vista na historiografia. De uma parte, eleva o grau de objetividade do
saber histórico ao garantir os fatos históricos por meio da crítica sistemática das
fontes. Por outro lado, tematiza o ponto de vista do historiador, marcante para a
historiografia, tornando-o objeto de tratamento discursivo. Exemplos típicos desse
caso são a "Apresentação de sua História Universal'" 7 , de August Ludwig von
Schlõzer, ou os ensaios "Do Plano Histórico" e "Tratado sobre a posição e o ponto
de vista do historiador'" 8 , de Gatterer. Considerações didáticas ainda desempenham
um papel explícito na formatação da perspectiva histórica (dependente da posição
tomada), mas logo essas considerações são complementadas por considerações te-
óricas acerca do objeto. Os historiadores tentam encontrar um "sistema" de histo-
riografia que corresponda aos dados objetivos da experiência histórica, mas que
não seria dedutível exclusivamente da subjetividade do historiador, marcada por
seus posicionamentos.
O(historicismo) nesse particular, dá um passo adiante decisivo. Ele não nega o
entendimento, alcançado pelo ilüminismo, acerca da dependência do conhecimento
histórico de pontos de vista, mas se posiciona de outro modo: para o historicismo, a
referência a um ponto de vista, a uma tomada de posição, torna-se um procedimento
ordenador do conjunto da evolução histórica. OJ^toricismoj^omove uma virada
objetivista, afastando-se do discurso súbjetivo dos historiadores sobre o seu lugar
na sociedade e sobre imersão nos dados objetivos da experiência histórica. Humboldt
formulou, em seu conhecido escrito programático "Sobre a tarefa do Historiador",
as premissas dessa virada como "concordância prévia e originária entre sujeito e
objeto'" 9 . O historiador cognoscente, em sua subjetividade, é o espírito do espírito
das idéias que movem a história. O conhecimento histórico se dedica ao contexto
intrínseco ideal do desenvolvimento temporal do homem e de seu mundo no passa-
do; evidencia empiricamente, portanto, a história enquanto tempo movido por idéias.
O sujeito toma posição na movimentada vida temporal de seu presente, a partir da
17
Schlõzer: Vorstellung seiner Universal-Historie (ver nota 9)..
18
Ver notas 14 e 16.
"Humboldt, Wilhelm von: Über die Aufgabe des Geschichtsschreibers (1821), in: Werk in flinf Banden,
vol. 1: Schriften zur Anthropologie und Geschichte, Eds. Andreas Flitner/Klaus Giel, Darmstadt, 1960, p.
596f. (Akademieausgabe IV, 48).
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 25
f Gervinus, Georg Gottfried. Grundzüge der Historik (1837), §39, in: idem: Schriften zur Literatur, Ed.
' Gotthard Erler. Berlin (DDR), 1962, p. 102. [Edição brasileira: GERVINUS, Georg Gottfried. Fundamen-
tos de Teoria da História. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 87.]
21
Ranke, Leopold von: Englische Geschichte vomehmlich im 17. Jahrhundert (Sãmtliche Werke, vol. 15).
Leipzig, 1877, p. 103.
22
Cf. Rüsen: Konfigurationen des Historismus (ver nota 6), p. 165.
26 Jorn Rüsen
ções objetivas dos processos, que devem viabilizar a plausibilidade das intenções
subjetivas. No historicismo tardio, essa articulação historicizante da capacidade
subjetiva de tomar posição torna-se uma verdadeira pressão para ajustar-se às re-
presentações do processo histórico na perspectiva dos estados-nação. Jacob
Burckhardt ironizou esta pressão a propósito das conseqüências historiográficas
dafundação do império (alemão): Agora, "toda a história do mundo, desde Adão,
será marcada pela vitória alemã e orientada para desembocar em 1870- 1871 ."23
Pode ser retirada dessa constelação da história da ciência entre iluminismo e
historicismo, conseqüências sistemáticas para a didática da história. A flexibilidade
argumentativa da relação às posições tomadas tem de estar conectada à função
objetivante do conhecimento histórico. O iluminismo impactou o historicismo jus-
tamente no ponto em que foi superado por ele: na sua concepção de um contexto
histórico, próprio às mudanças temporais, que possa servir de critério para a relação
à tomada de posição. Isso só é possível quando a objetividade desse contexto intrín-
seco - diversamente do que ocorre no historicismo, que a fundamenta com uma
teoria da história meramente implícita - se torna tema explícito da constituição, pós-
historicista, de uma teoria discursiva do processo cognitivo. O historicismo só con-
seguiu tornar plausível sua estratégia de objetivação da relação subjetiva à tomada
de posição ao preço de uma grande perda no plano discursivo: seja com a aparente
autodissolução, no sentido do objetivismo de Ranke, seja com uma identificação
apressada da tomada de posição política consciente à ruptura entre tendência histó-
rica em geral e conflito político no presente. O princípio metódico da teorização
explícita compensa essa perda e abre novas chances de uma perspectivação
fundamentável do conhecimento histórico, por meio da reflexão acerca dos pontos
de vista que estabelecem tais perspectivas.
Pode-se deduzir ainda, dessa constelação da história da ciência entre iluminismo
e historicismo, uma opção sistemática: a reflexão sobre pontos de vista e o uso da
teoria podem e devem ser articulados diretamente. Quando esta opção é adotada, o
conhecimento histórico ganha uma tarefa importante, que pode ser descrita como a
análise da constituição das perspectivas históricas, como articulação das carências
de orientação e de sua destinação a uma pesquisa histórica dirigida teoricamente. Se
a didática da história assumir esta tarefa, estabelece uma relação direta com a pes-
quisa histórica. Ela não segue a esta apenas no mero sentido de semear ("aplicar")
nos campos áridos da ignorância histórica extracientíflca a riqueza dos resultados
de pesquisa. Pelo contrário|a didática de certa maneira precederia a pesquisa, ao
articular as carências históricas de orientação decorrentes das mudanças de pers-
23
Carta a Friedrich von Preen, Silvester, 1872, in: Burckhardt, Jacob: Briefe, Ed. Max Burckhardt, vol. V.
Basel/Stuttgart, 1963, p. 181-184. " y
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 27
/ P ir^pof-iãMt. |
pectiva na vida contemporânea. Ela assumiria assim a função heurística que lhe é
habitualmente atribuída, e amiúde considerada como exterior à especialidade. Nes-
sa função, a didática correlaciona não apenas conhecimento histórico acumulado às
carências de orientação, mas também estas àqueleTj
Até aqui tratei apenas da dimensão didática do processo de cientificização da
ciência histórica, que reside no fator disciplinar dos interesses cognitivos. Uma se-
gunda dimensão didática torna-se visível no processo de cientificização, quando as
formas da apresentação histórica são tratadas como fator básico da elaboração
cognitivaesp^ecializada.
O iluminismo discutiu a formatação historiográfica como "método", ainda sob
fortes influências da tradição retórica, na qual os escritos da história eram discuti-
dos sob as formas literárias e didáticas. Assim, segundo Gatterer nas suas reflexões
em "O Plano Histórico", "as coisas que são bem narradas penetram, facilmente, no
coração e produzem grandes efeitos na vontade humana" 24 . A bem dizer, não há
como definir melhor a tarefa didática do historiador. Merece ser bem firmado na
autoconsciência histórica da didática da história, que desde o início da cientificização
da ciência da história se encontra um conceito histórico-didático de método genuí-
no, que o momento inaugural do "método", para a ciência, estava definido original-
mente em termos didáticos.
O que entende Gatterer por "narrar bem"? Para começar, afirmam suas conside-
rações sobre a realização narrativa do "Plano Histórico", a forma narrativa de apre-
sentação tornou-se predominante na historiografia. Mas o que significa então narrar
"bem"? O iluminismo desenvolveu três critérios de qualidade das formas de apre-
sentação narrativa:
(a) o primeiro é sua abertura discursiva, ou seja, seu potencial de fundamenta-
ção discursiva das assertivas e interpretações históricas, que se insere no
fluxo narrativo da exposição histórica;
(b) quanto ao conteúdo, narrar bem significa, que uma história põe em evidên-
cia a dimensão humana da experiência histórica nos respectivos temas trata-
dos;
(c) formalmente, narrar bem significa, que a história deve ser concebida em
relação à capacidade de recepção de seus destinatários, ou seja: bem legível
no sentido de poder ser aprendida.
24
Gatterer (ver nota 14), p. 27.
28 Jõrn Riisen
na: os historiadores desejam escrever como se a história falasse por si mesma. Po-
der-se-ía caracterizar a passagem do Ilüminismo ao Historicismo, em termos de
tipologia da narrativa (usando os tipos de Stanzel25), como passagem da narrativa na
primeira pessoa (eu) à narrativa autoral. O historiador não se relaciona diretamente
com seu leitor mediante o discurso, mas apaga a si na apresentação do curso das
coisas (como diria Ranke).26
Desta maneira tem-se que a relação didática com o destinatário não é abandona-
da. Essa relação é transformada, modificada qualitativamente. Os princípios didáti-
cos da relação com o destinatário na apresentação histórica modificam-se. Não se
trata mais de uma competência regular, mas sim de uma formação. Não se trata mais
de uma competência de regular, mas de formação. Formação significa^omo já foi
dito, não o aprendizado de regras, mas a aquisição da competência de transformar
as regras de comportamento em representações, ordenadas no tempo, das mudanças
do mundo e da construção cultural de si própriojRanke qualificou este ordenamento
temporal fundamental dos processos históricos como "fazer convergir as diferentes
nações e dos indivíduos com a idéia de humanidade e de cultura". Categorizou
ainda esse processo de humanização como "progresso absoluto" 27 . Ninguém menos
do que Droysen chamou a historiografia, que apresenta a coerência intrínseca das
mudanças temporais, de "didática" - que considerava ser a forma mais elevada pos-
sível da historiografia 28 .
A intenção didática, que ({üuminismoirelaciona com a formatação historiográfica,
permanece inalterada no historicismo clássico. Este dá a ela apenas uma feição
histórico-filosóflca, ao interpretar a história como um processo de aprendizado uni-
versal. Droysen fala de um "poder didático da história"29 que - infundido livremente
pela historiografia na subjetividade dos destinatários - gera a competência para o
agir. O que isso quer dizer? Segundo Droysen, as pessoas vivem sob as circunstân-
cias objetivas de seu mundo dado, sem terem consciência de que essas circunstânci-
as são históricas, resultantes de ações significativas do passado. Em seu mundo, o
espírito humano objetivado determina o agir, de modo ainda inconsciente. Quando
as pessoas, mediante a reflexão de sua consciência histórica, desvelam a gênese
histórica de seu próprio mundo, descobrem que as determinações do seu agir, que
aparecem como imposições externas, deixam transparecer o espfrito que as formou
e cuja presença repercute assim indiretamente em seu dia a diaí-As pessoas adqui-
25
Stanzel, Franz K.: Theorie des Erzãlens. Gõttingen, 1979.
26
"Ich wünsche mein Selbst gleichsam auszuloschen, und nur die Dinge reden, die mãchtigen Krãfte
erscheinen zu lassen...". Ranke: Englische Geschichte (ver nota ...), p. 103.
27
Ver nota 11.
28
Droysen (ver nota 10), p. 249ss.
29
Ibid., p. 255.
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 29
30
Ver também Rtisen, Jorn: Postmoderne Geschichstheorie, in: Jarausch, Konrad; Rüsen, Jcfrn; Schleier,
Hans (Eds.): Geschichtswissenschaft vor 2000. Perspektiven der Geschichtstheorie, Historiographiegeschichte
und Sozialgeschichte. Festschrift für Georg Iggers zum 65. Geburtstag. (Beitrage zur Geschichtskultur, vol.
5). Hagen, 1991, p. 27-48.
Aprendizagem Histórica - Fundamentos e Paradigmas 31