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PROVA BAUMAN

1. O que é engajamento? O que é desengajamento? Explique a relação do engajamento


com o desengajamento. Falar da transformação dos modelos de dominação desde a
Revolução Industrial.
Durante a maior parte de sua história, a modernidade se desenvolveu sob os
prenúncios do poder “panóptico”, praticamente universal durante a era do “grande
engajamento”. O princípio essencial do panóptico é a crença dos internos de que estão
sob observação contínua e de que nenhum afastamento da rotina, por minúsculo e trivial
que seja, passará despercebido. Para manter essa crença, os supervisores tinham que
passar, a maior parte do tempo, nos postos de observação, do mesmo modo que os pais
não podem sair de casa por muito tempo sem temer travessuras dos filhos. Desse modo,
o modelo panóptico de poder prendia os subordinados ao lugar, aquele lugar onde
podiam ser vigiados e punidos por qualquer quebra de rotina, bem como prendia os
supervisores ao lugar, aquele de onde deviam vigiar e administrar a punição. Portanto, o
engajamento direto com as pessoas e a atividade de padronizar, vigiar, monitorar e
dirigir as ações delas era o principal método de projeto, construção e manutenção da
ordem. Assim, a era da grande transformação foi uma era de engajamento, na qual os
governados dependiam dos governantes, mas estes não deixavam de depender daqueles
(dependência mútua explícita). Para o bem ou para o mal, os dois lados estavam
amarrados entre si e nenhum deles podia com facilidade sair do impasse. Entretanto, um
casamento em que os dois lados sabem que estão unidos por um longo porvir, e no qual
nenhum dos parceiros está livre para rompê-lo, é necessariamente um lugar de perpétuo
conflito; a luta de classes e dominação é mais visível.
Depois da era do “grande engajamento” eram chegados os tempos do “grande
desengajamento”: os tempos de grande velocidade e aceleração, do encolhimento dos
termos de compromisso, da “flexibilização”, da “redução”, da procura de “fontes
alternativas”, os termos da união “até segunda ordem”, enquanto “durar a satisfação”.
Nesse sentido, e visto que a desregulamentação é demandada, pois os poderosos não
querem ser regulados – ter sua liberdade de escolha limitada e sua liberdade de
movimento restrita e já não estão interessados em regular os outros, a dominação já não
se apoia, principalmente, no engajamento e no compromisso; na capacidade de os
dirigentes observarem de perto os movimentos dos dirigidos e coagirem-nos à
obediência, mas na incerteza dos governados sobre o próximo movimento dos
governantes. Afinal, em meio à incerteza e à insegurança, a disciplina, ou antes, a
submissão à condição de que “não há alternativa”, anda e se reproduz por conta própria
e não precisa de capatazes para supervisionar seu abastecimento constantemente
atualizado; os detentores de poder não têm o que temer e assim não sentem necessidade
das custosas e complicadas “fábricas de obediência”, ao estilo panóptico. Portanto, a
“dominação a partir de cima” tornou-se “informe” sem perder nada de sua força, ou
talvez mais firme do que antes, visto a invisibilidade e impossibilidade de localização
dos poderosos. Cap 3 - duvida sobre desengajamento

2. Explique detalhadamente a postura de Bauman sobre os bens-sucedidos. Quem são os


extraterritoriais?
De acordo com Bauman, os bem-sucedidos são os equivalentes contemporâneos
dos patrícios da Roma antiga que decidiram: pela “secessão”, a qual se refere ao novo
distanciamento, indiferença, desengajamento e, em verdade, à extraterritorialidade
mental e moral daqueles que não se importam de ficar sós, desde que os outros, que
pensam diferente, não insistam em que se ocupem e muito menos partilhem sua vida por
conta própria; por abandonar seus compromissos e lavar as mãos de suas
responsabilidades. Os patrícios de hoje não precisam mais dos serviços da comunidade;
na verdade, não conseguem perceber o que ganhariam permanecendo na e com a
comunidade que já não tenham obtido por conta própria ou ainda esperam assegurar por
seu próprio esforço, mas podem pensar em muitos recursos que poderiam perder, caso
se submetessem às demandas da solidariedade comunitária. Dessa forma, escolhe-se o
modo “cool” (distanciado) como sintoma da mente e caráter da “secessão dos bem-
sucedidos”. Quando o “cool” ganhou popularidade repentina e se espalhou como fogo
na floresta entre os filhos dos prósperos pós-Depressão, envergava a máscara de uma
rebelião e da renovação moral: era o símbolo de um distanciamento militante de uma
ordem envelhecida satisfeita com a situação a que o passado a tinha conduzido e à
míngua de ideias novas. Hoje, porém, o “cool” se transformou na visão do mundo dos
importantes, inteiramente conservadores em suas ações e nas preferências que essas
ações exemplificam, quando não em seu autoelogio explícito e enganador. Essa ordem,
cada vez mais conservadora, se funda nos impressionantes poderes do mercado de
consumo e do que resta das instituições políticas outrora autônomas. Portanto, “cool”
significa fuga ao sentimento; fuga da confusão da verdadeira intimidade, para o mundo
do sexo fácil, do divórcio casual, de relações não possessivas. No entanto, embora os
bens-sucedidos ostentem os enfeites da autonomia pessoal e atuem sob o slogan de falta
de espaço, a fuga da confusão da verdadeira intimidade está mais próxima do ímpeto
que de uma jornada individualmente concebida e assumida de autoexploração. A
secessão quase nunca é solitária: os fugitivos se inclinam a juntar-se com outros
fugitivos como eles, e os padrões de vida de fugitivo tendem a ser tão rígidos e
exigentes como aqueles que pareciam opressivos na vida deixada para trás; a facilidade
do divórcio casual multiplica imperativos tão inflexíveis e intratáveis como o casamento
sem cláusula de rompimento. Nesse sentido, o único atrativo do exílio voluntário é a
ausência de compromissos, especialmente de compromissos de longo prazo (do tipo dos
que impedem a liberdade de movimento numa comunidade com sua confusa
intimidade), os quais são substituídos pelos encontros passageiros e pelas relações até
nova ordem ou por uma noite; pode-se excluir do cálculo os efeitos que nossas ações
podem ter sobre a vida dos outros. Logo, a nova elite (desenraizada da ideia de
comunidade, mas enraizada no movimento do capital) não é definida por qualquer
localidade: é em verdade e plenamente extraterritorial; só a extraterritorialidade é
garantida contra a comunidade, e tais cosmopolitas que, exceto pela companhia
inevitável dos maîtres, arrumadeiras e garçons, são seus únicos detentores.

3. Qual a relação que Bauman faz entre o direito ao reconhecimento e o direito à


redistribuição?
De acordo com Bauman, na sociedade moderna, os cidadãos reivindicavam o
direito à redistribuição, os direitos de classe, ligados à direitos e oportunidades iguais,
mesmo que em revoluções burguesas, enquanto que na sociedade pós-moderna,
sociedade líquida e sem modernismos, reivindicam-se apenas os direitos humanos, os
quais ressaltam e valorizam as diferenças, em vez de lutar pela redistribuição de renda,
já que esta batalha está perdida. Atualmente, portanto, os interesses são individuais e
não coletivos: os indivíduos medem sua situação de forma vertical (a distância em que
se encontram da classe acima, mais abastada; e da classe abaixo, menos abastada) e não
horizontal, o que exigiria que cada pessoa olhasse os interesses do grupo (da pessoa ao
lado) como se fossem seus próprios. Nesse sentido, se antes a bandeira empunhada era a
da redistribuição ou da justiça social, agora só se empunha a bandeira solitária do
reconhecimento pessoal. A única força motriz que parece vigorar é aquela em que o
indivíduo só se sente injustiçado se não for reconhecido, ou se outrem lhe rouba o
reconhecimento. Sendo assim, reclama-se em função da posição social e não do bem-
estar coletivo, e a medida usada é a do consumo de mercadorias, conforto e ideia de
conforto, e de direitos ditos “humanos”; embora ainda exista uma lógica de
redistribuição, esta se fundamenta no individualismo. (existe?) Paralelamente, funciona
a lógica do reconhecimento, pautada no fato de que todo mundo quer ser reconhecido
nas suas diferenças. Entretanto, tudo isso parece um belo baile de máscaras, pois
enquanto as pessoas se divertem lutando por seus direitos e por pequenos
reconhecimentos, a desigualdade econômica, que é o núcleo da questão, aumenta
vertiginosamente por detrás das máscaras. E o mais impressionante é que essas
máscaras, as quais se manifestam de diversas formas (como a xenofobia), caem de
tempos em tempos, quando surgem as grandes crises econômicas globais, e ainda assim
esses episódios não são suficientes para incitar uma revolução como a francesa, em que
se exigiu uma redistribuição de valores e oportunidades, mais do que o simples direito
“de ser” diferente, enfim incitar mudanças significativas na disparidade econômico-
social, pois, hoje em dia, ninguém é indispensável: a classe patronal criou uma
insegurança de que a qualquer momento os funcionários podem ser demitidos. Dessa
forma, a única coisa que cada um pode se preocupar é com a sua própria vida, ou seja,
onde tem concorrência, não subsiste a cooperação e a solidariedade.

4. Por que da relação entre igualdade e multiculturalismo? O que é multiculturalismo? Por


que a resposta das classes ilustradas foi o multiculturalismo?
As classes ilustradas (classes intelectuais), filhas da revolução francesa,
perderam seu grande projeto, sua grande batalha: a redistribuição de renda; a luta por
uma sociedade justa e igualitária. Desse modo, a saída para os órfãos do socialismo foi
acoplar-se às bandeiras do multiculturalismo, sendo essa a resposta mais comum dada
em nossos dias pelas classes ilustradas e formadoras de opinião para a incerteza do
mundo sobre os tipos de valores que merecem ser apreciados e cultivados, e sobre as
direções que devem ser seguidas com férrea determinação. Tal resposta está se
tornando, rapidamente, o cânone da correção política. O multiculturalismo, o qual é
orientado pelo postulado da tolerância liberal, pela preocupação com o direito das
comunidades à autoafirmação e com o reconhecimento público de suas identidades por
escolha ou por herança, funciona, porém, como força essencialmente conservadora: seu
efeito é uma transformação das desigualdades incapazes de obter aceitação pública em
diferenças culturais – coisa a ser louvada e obedecida. Além disso, é um modo de
ajustar o papel das classes ilustradas a essas novas realidades; um manifesto a favor da
reconciliação: as novas realidades não são enfrentadas nem contestadas, há uma
rendição a elas – que as coisas, sujeitos humanos, suas escolhas e o destino que se segue
a elas, sigam seu próprio curso; e um produto do arremedo de um mundo marcado pelo
desengajamento como principal estratégia do poder e pela substituição das normas de
variedade e pelo excesso.
Nesse sentido, a esquerda cultural, apesar de todos os seus méritos na luta contra
a intolerância da sociedade em relação à diferença cultural, é culpada de afastar da
agenda pública a questão da privação material, fonte mais profunda de toda
desigualdade e injustiça. Afinal, quando a atenção se volta para a civilidade e a correção
política em encontros com diferenças de hábitos, enfim quando absolutiza-se a diferença
(todas as diferenças são boas e dignas de preservação, simplesmente, porque são
diferenças), há pouca chance de ir mais fundo nas raízes da desumanidade; o que se
perdeu de vista no processo foi que a demanda por reconhecimento fica desarmada se
não for sustentada pela prática da redistribuição – e que a afirmação comunitária da
especificidade cultural serve de pouco consolo para aqueles que, graças à cada vez
maior desigualdade na divisão dos recursos, têm que aceitar as escolhas que lhe são
impostas. Portanto, pode-se dizer que é justo o que se esperaria de uma elite do
conhecimento que renunciou a seu papel moderno de esclarecedora, guia e mestra e
passou a seguir, ou foi forçada a seguir a liderança de outro setor, de negócios, da elite
global na nova estratégia de separação, distanciamento e desengajamento.

5. Descrever o mito (a agonia) de Tântalo e relacionar com a teoria.


Segundo a mitologia grega, Tântalo, filho de Zeus e de Plutó, tinha excelentes
relações com os deuses que, frequentemente, o convidavam a beber e comer em
companhia deles nas festas do Olimpo. Sua vida transcorria, pelos padrões normais, sem
problemas, alegre e feliz – até que ele cometeu um crime que os deuses não puderam ou
não quiseram perdoar. Quanto à natureza do crime, alguns dizem que ele abusou da
confiança divina e revelou aos outros homens mistérios que deviam permanecer ocultos
dos mortais. Outros dizem que ele foi arrogante a ponto de se acreditar mais sábio do
que os deuses, tendo decidido testar os divinos poderes de observação. Outros ainda
acusam Tântalo de roubo de néctar e ambrosia que nunca deveriam ser provados pelos
mortais. Desse modo, os atos imputados a Tântalo são diferentes, mas a razão por que
foram considerados criminosos é a mesma nos três casos: Tântalo foi culpado de
adquirir e compartilhar um conhecimento a que nem ele nem os mortais como ele
deveriam ter acesso; Tântalo não se contentou em partilhar a dádiva divina: por
presunção e arrogância desejou fazer por si mesmo o que só poderia ser desfrutado
como dádiva. A punição, portanto, foi imediata e tão cruel, que só poderia ter sido
inventada por deuses ofendidos e vingativos. Dada a natureza do crime de Tântalo, foi
uma lição: Tântalo foi mergulhado até o pescoço em um regato, mas quando abaixava a
cabeça tentando saciar a sede, a água desaparecia. Sobre sua cabeça estava pendurado
um belo ramo de frutas, no entanto quando ele estendia a mão tentando saciar a fome,
um repentino golpe de vento carregava o alimento para longe. Assim, quando as coisas
desaparecem no momento em que nos parecia que as tínhamos, afinal, ao alcance, nos
lamentamos por termos sido “tantalizados”. Enfim, a mensagem do mito de Tântalo é de
que você só pode continuar feliz, ou pelo menos continuar numa felicidade abençoada e
despreocupada, enquanto mantiver sua inocência: enquanto desfrutar de sua alegria
ignorando a natureza das coisas que o fazem feliz sem tentar mexer com elas, e muito
menos “tomá-las em suas próprias mãos”. E que se você se atrever a tomar os
problemas em suas próprias mãos, você nunca poderá reviver a dádiva que só pode
aproveitar no estado de inocência; aquele objetivo escapará para sempre ao seu alcance.
Nesse sentido, e visto que só se pode ser verdadeiramente feliz enquanto não se
sabe quão feliz se é, os contemporâneos em busca da comunidade estão condenados à
sina de Tântalo: a ideia de comunidade é tantalizada; seu objetivo tende a escapar-lhes,
e é seu esforço sério e dedicado que faz com que lhes escape. A esperança de alívio e
tranquilidade que torna a comunidade com que sonham, tão atraente, será impulsionada
cada vez que acreditam, ou lhes é dito, que o lar comum, que procuravam, foi
encontrado. Entretanto, “a comunidade realmente existente”, a qual se parece com uma
fortaleza sitiada, será diferente da de seus sonhos – mais semelhante a seu contrário:
aumentará seus temores e insegurança, em vez de diluí-los ou deixá-los de lado; exigirá
vigilância vinte e quatro horas por dia e a afiação diária das espadas, para a luta, dia
sim, dia não, a fim de manter os estranhos fora dos muros e para caçar os vira-casacas
em seu próprio meio. E, de acordo com Bauman, é só por essa belicosidade, gritaria e
brandir de espadas que o sentimento de estar em uma comunidade, de ser uma
comunidade pode ser mantido e impedido de desaparecer. Portanto, você ganhará o pão
de cada dia com o suor de seu rosto (Adão e Eva) mas não há suor que faça reabrir o
portão fechado que levaria à inocência comunitária, à sua multiplicação fundadora e à
tranquilidade.

6. Por que a Revolução Industrial enfraquece a ideia de comunidade? Quem são os


desenraizados?
A emancipação, o desfrutar de autonomia, liberdade pessoal, direitos e
segurança existencial, enfim a satisfação de alguns exigia a supressão de outros. Esse
acontecimento entrou para a história com o nome de Revolução Industrial, na qual as
“massas” foram tiradas da velha e rígida rotina (a rede de interação governada pelo
hábito) para serem espremidas na nova e rígida rotina (o chão da fábrica governado pelo
desempenho de tarefas), quando sua supressão serviria melhor à causa da emancipação
dos supressores. Afinal, as velhas rotinas não serviam para a concretização desse
objetivo – eram autônomas demais, governadas por sua própria lógica tácita e não
negociável, e por demais resistentes à manipulação e à mudança, dado que excessivos
laços de interação humana se entreteciam em toda ação, de tal modo que para puxar um
deles seria preciso mudar ou romper muitos outros. O problema, no entanto, não era
levar os que não gostavam de trabalhar a habituar-se ao trabalho, mas como torná-los
aptos a trabalhar em um ambiente novo, pouco familiar e repressivo. Nesse sentido, para
que se adaptassem aos novos trajes, os futuros trabalhadores tinham que ser antes
transformados em uma “massa”: despidos da antiga roupagem dos hábitos
comunitariamente sustentados; separados da teia de laços comunitários que tolhia seus
movimentos, enfim a guerra contra a comunidade foi declarada em nome da libertação
do indivíduo da inércia da massa. Assim, o capitalismo moderno, o qual “derrete todos
os sólidos”, liquefez as sólidas comunidades autossustentadas e autorreprodutivas.
Mas o verdadeiro resultado dessa guerra foi o oposto do declarado: a destruição
dos poderes de fixar padrões e papéis da comunidade de tal forma que as unidades
humanas privadas de sua individualidade pudessem ser condensadas na massa
trabalhadora. Massas essas, acusadas desde o advento da moderna indústria (capitalista)
do pecado mortal da preguiça. Entretanto, se todos nos orgulhamos de um trabalho bem-
feito, também temos uma repulsa inata pela labuta sem propósito, pelo esforço fútil,
pela azáfama sem sentido; essa era também a verdade das “massas”. Portanto, algo foi
feito para que a conduta real das “massas” desse credibilidade à essa acusação. E esse
algo foi o lento, mas inexorável, desmantelamento/desmoronamento da comunidade
(ideia enfraquecida pela Revolução Industrial em prol da emancipação dos supressores),
aquela intrincada teia de interações humanas que dotavam o trabalho de sentido,
fazendo do mero empenho um trabalho significativo, uma ação com objetivo.

7. Diferencie comunidade estética de comunidade ética.


A comunidade, cujo uso principal é confirmar, pelo poder do número, a
propriedade da escolha e emprestar parte de sua gravidade à identidade a que confere
aprovação social, deve: ser tão fácil de decompor como foi fácil de construir; ser e
permanecer flexível, nunca ultrapassando o nível “até nova ordem” e “enquanto for
satisfatório”; ter determinados sua criação e desmantelamento pelas escolhas feitas
pelos que as compõem, por suas decisões de firmar ou retirar seu compromisso - em
nenhum caso deve o compromisso, uma vez declarado, ser irrevogável: o vínculo
constituído pelas escolhas jamais deve prejudicar, e muito menos impedir, escolhas
adicionais e diferentes, afinal o vínculo procurado não deve ser vinculante para seus
fundadores. Tais requisitos são preenchidos pela comunidade estética de Kant, a qual se
apresenta e é consumida no círculo aconchegante da experiência. Enquanto vive, a
comunidade estética é atravessada por um paradoxo: uma vez que trairia ou refutaria a
liberdade de seus membros se demandasse credenciais não negociáveis, tem que manter
as entradas e saídas escancaradas, mas se tornasse pública a falta de poder vinculante,
deixaria de desempenhar o papel tranquilizador que foi o primeiro motivo de adesão dos
fiéis. Desse modo, quanto menos críveis forem as crenças expressas pelas escolhas,
tanto mais paixão será necessária para unir e manter unida a associação sabidamente
vulnerável dos fiéis; e como a paixão é o único cimento que mantém a união dos fiéis, a
vida de prateleira da comunidade estética tende a ser curta.
Seu principal veículo não é mais a autoridade ética dos líderes com suas visões,
ou dos pregadores morais com suas homilias, mas o exemplo das celebridades à vista
(jogadores de futebol, cantores, atores de cinema, apresentadores de TV, top models,
entre outros), bem como de outras entidades (eventos festivos recorrentes, problemas,
inimigos públicos), os quais, como todos os objetos de experiência estética, atuam pela
sedução - orientação insinuada pela indústria do entretenimento. Tais agentes, eventos e
interesses servem como “cabides” em que as aflições e preocupações experimentadas e
enfrentadas, individualmente, são temporariamente penduradas por grande número de
indivíduos – para serem retomadas em seguida e penduradas em outro lugar: por essa
razão, as comunidades estéticas podem ser chamadas de “comunidades-cabide”.
Portanto, qualquer que seja o foco, a característica comum dessas comunidades, a única
que o capitalismo estimula, uma vez que dentro dessas tribos há consumo, circulação de
capital, é a natureza superficial, perfunctória e transitória de laços que surgem entre seus
participantes.
Entretanto, esse não é o estímulo que leva os indivíduos de jure a procurarem um
tipo de comunidade que possa, coletivamente, tornar realidade algo de que sentem falta
e que sozinhos não conseguem concretizar. Nesse sentido, a comunidade que procuram
seria uma comunidade ética, em quase tudo o oposto do tipo estético: teria que ser
tecida de compromissos de longo prazo, de direitos inalienáveis e obrigações
inabaláveis, que, graças à sua durabilidade prevista e institucionalmente garantida,
pudesse ser tratada como variável dada no planejamento e nos projetos de futuro. E os
compromissos que tornariam ética a comunidade seriam do tipo do compartilhamento
fraterno, reafirmando o direito de todos a um seguro comunitário contra os erros e
desventuras que são os riscos inseparáveis da vida individual. Enfim, o que os
indivíduos de jure, mas decididamente não de facto, provavelmente veem na
comunidade é uma garantia de certeza, segurança e proteção – as três qualidades que
mais lhes fazem falta nos afazeres da vida e que não podem obter quando isolados e
dependendo dos recursos escassos de que dispõem em privado.

8. O que é desregulamentação e sua importância nos dias atuais.


A desregulamentação é o princípio estratégico louvado e praticamente exibido
pelos detentores do poder. A desregulamentação é demandada, pois os poderosos não
querem ser regulados – ter sua liberdade de escolha limitada e sua liberdade de
movimento restrita; mas também, e talvez principalmente, porque já não estão
interessados em regular os outros. Portanto, o serviço e o policiamento da ordem
viraram uma batata quente alegremente descartada pelos que são suficientemente fortes
para livrar-se da incômoda sucata, entregando-a de pronto aos que estão mais abaixo na
hierarquia (subalternos) e são fracos demais para recusar o presente venenoso. Desse
modo, tal princípio estratégico é, atualmente, demandado, a todo o momento, pelo
capitalismo avançado, uma vez que o fluxo de capital necessita de liberdade de
movimento, e qualquer coisa que o cerceie será atacada; o neoliberalismo prega os
estado mínimo, economia mais solta.
9. Fazer uma abordagem crítica do conceito de gueto. Semelhanças e distinções entre
gueto involuntário (real) e gueto voluntário.
Um gueto combina o confinamento espacial com o fechamento social: pode-se
dizer que o fenômeno do gueto consegue ser, ao mesmo tempo, territorial e social,
misturando a proximidade/distância física com a proximidade/distância moral. Tanto o
confinamento quanto o fechamento teriam pouco substância se não fossem
complementados por um terceiro elemento: a homogeneidade dos de dentro, em
contraste com a heterogeneidade dos de fora. Enfim, gueto quer dizer impossibilidade
de comunidade. Essa característica do gueto torna a política de exclusão incorporada na
segregação espacial e na imobilização uma escolha duplamente segura e a prova de
riscos em uma sociedade que não pode mais manter todos os seus membros
participando do jogo, mas deseja manter todos os que podem jogar ocupados e felizes, e
acima de tudo obedientes.
Distinções entre o gueto dos ricos e o gueto dos pobres
Gueto Voluntário (dos ricos) Gueto Real (dos pobres)
Não são guetos verdadeiros (são uma Gueto verdadeiro.
tentativa de construir a comunidade
do bairro seguro.
Os de dentro podem sair à vontade, São lugares (geográficos e sociais) dos quais
pois o que se impede é a entrada dos não se pode sair.
intrusos (os diferentes, os não
homogêneos).
Pretendem servir à causa da liberdade. Implicam na negação da liberdade.
É luxo perfumado. É fétida esqualidez.
Aqui as pessoas experimentam a Aqui as pessoas vivem como prisões.
segurança da mesmice como um lar.
É uma construção voluntária dos É um depósito de pobres, de casas de
ricos. trabalhadores decadentes e grupos marginais
de indivíduos, pois os pobres já não são mais
úteis como estoque do exército da produção e
são consumidores incapazes; ou seja, os pobres
estão ali confinados porque são inúteis.
É um manto leve de se portar, porque É sentido como “gaiola” porque é uma situação
há a crença de que pode ser despido sem saída, sem alternativa; é uma situação
quando bem quiser aquele que o porta, incômoda, incapacitante e à prova de fuga.
logo, não é irritante ou agressivo.
Semelhanças entre o gueto dos ricos e o gueto dos pobres
Ambos permitem que seu isolamento se perpetue e exacerbe, pois se, por um lado, no
caso dos pobres, essa é uma condição que não lhes compete a liberdade de escolha, por
outro, no caso dos ricos, o espaço externo ao gueto voluntário é cada vez mais estranho
e ameaçador, mantendo os ricos cada vez mais trancafiados em seu gueto de luxo e,
portanto, longe das “ruas inseguras”, “equiparação das áreas públicas a enclaves
‘defensáveis’ com acesso seletivo”.
10. Diferencie indivíduo de jure (prometido) de indivíduo de fato (verdadeiro, que está fora
da miséria).
O mundo se divide entre os verdadeiros indivíduos e aqueles que só ficam na
promessa. Os bem-sucedidos são aqueles que conseguem reformular a individualidade
de jure, uma condição que compartilham com o resto dos homens e mulheres modernos,
como individualidade de facto, uma capacidade que os separa de grande número de seus
contemporâneos. Tais cosmopolitas não precisam da comunidade; há pouco que possam
ganhar com a bem-tecida rede de obrigações comunitárias, e muito que perder se forem
capturados por ela. Enquanto que os fracos são aqueles indivíduos de jure, os quais não
são capazes de praticar a individualidade de facto, e assim são postos de lado se e
quando a ideia de que as pessoas merecem o que conseguem obter por seus próprios
meios e músculos toma o lugar da obrigação de compartilhar. A ideia de que, apenas, o
mérito deve ser premiado é prontamente transformada em uma carta autocongratulatória
com que os poderosos e bem-sucedidos atribuem generosos benefícios a si próprios a
partir dos recursos da sociedade. A sociedade aberta a todos os talentos se torna, para
todos os fins práticos, uma sociedade em que a incapacidade de exibir alguma
capacidade especial é tratada como base suficiente para a condenação a uma vida de
submissão e miséria sem perspectivas. De acordo com Bauman, enquanto essa visão de
mundo for mantida e considerada o cânone da virtude pública, o princípio comunitário
do compartilhamento não pode ser aceito. Fato esse, excelente para os poderosos e bem-
sucedidos, visto que seu desejo de dignidade, mérito e honra, paradoxalmente, exige a
negação da comunidade; se qualquer coisa além do mérito imputado fosse reconhecida
como título legítimo às recompensas oferecidas, aquele princípio perderia sua
maravilhosa capacidade de conferir dignidade ao privilégio. Entretanto, por mais
verdade que isso seja, não é toda verdade: os poderosos e bem-sucedidos podem
ressentir-se, ao contrário dos fracos e derrotados, dos laços comunitários, mas da mesma
forma que os demais homens e mulheres podem achar que a vida vivida sem
comunidade é precária, amiúde insatisfatória e algumas vezes assustadora. Portanto,
liberdade e comunidade podem chocar-se e entrar em conflito, mas uma composição a
que faltem uma ou outra não leva a uma vida satisfatória.

BAREMBLITT (capítulos 1 e 2):

Questionamento acerca de demandas naturais (mínimas):


Existem demandas mínimas naturais como por exemplo a alimentação, pois tem que se
alimentar. Para Baremblitt nem isso atualmente é demanda natural, pois está inserida em
um contexto de "você deve comer de tanto em tanto tempo, tais e tais vitaminas, etc",
não havendo nada natural, em que todas as demandas são produzidas pela sociedade.
Hoje em dia a alimentação não é totalmente natural, em que tudo é produzido (até
mesmo os alimentos mais naturais e saudáveis [orgânicos e sem agrotóxicos] se
tornaram um produto capitalista, uma mercadoria como outra qualquer).

Porque é um movimento e não uma ciência:


É algo que percorre várias tendências como uma linha de força, interstícios. Não é
rígida. É um movimento, uma dinâmica, jamais uma disciplina, uma tecnologia.
Divisão social e técnica do saber:
A sociedade em geral foi implementando esse processo, e acabam sendo veiculadas por
aquilo que Lacan chama de discurso do amo e escravo. A maioria das sociedades vai ter
alguém que domina e algum dominado. Existe uma classe que vai ter acesso à vida e
outra que trabalha. Isso é divisão social do trabalho. Quando faço a divisão do trabalho,
vou fazer a divisão do saber. A classe dominante vai ter acesso ao saber, e a classe
dominada terá acesso ao trabalho. Eu trabalho para que você saiba. Enquanto eu
trabalho, você poderá filosofar. Essa divisão começou quando as sociedades, culturas,
começaram a ter Estado.

Experts, ciências e disciplinas:


Se acoplaram ao saber dominante, pois são eles quem detêm do poder e do dinheiro.
Desta forma, terão o poder e o saber. Se não se acoplar às classes dominantes, não irá
ter acesso ao poder, que é quem apoia financeiramente as pesquisas e o próprio acesso
ao saber.

O que aconteceu com o saber fazer das sociedades primitivas:


O saber fazer das comunidades foi cada vez mais desqualificado e torna-se uma
mercadoria por apropriação do mercado. Entra-se nas comunidades primitivas e cria-se
demandas que requeiram aquilo que as sociedades produtivas ofertam.

Autoanálise é quando a comunidade passa a saber suas próprias necessidades, o que


queremos e porque estamos aqui. Ela mesmo falar das suas necessidades, e não que
isso venha a partir do Estado e de organizações dominantes. Na medida que sabe quais
são suas necessidades, como implementá-la e como irá proceder a luta política trata-se
daquilo que nomeia-se como Autogestão.

A pessoa que está indo para a comunidade detêm o saber, é um expert. Mas ao entrar
COM a comunidade, não deve ser superior ao que a comunidade detêm propriamente. É
no entre o expert e a comunidade que se produz o saber da autoanálise e da autogestão.
A comunidade não desqualifica o conhecimento do expert, mas este também não
"força" seu próprio saber, seu próprio conhecimento, ao invés do que é da própria
comunidade.

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