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Leitfossil, ou a danca dos tempos enterrados “© ser dotado de forma domina os milénios. Toda forma guarda uma vida. © fossil ja ndo 6, simplesmente, um ser que viveu, mas um ser que ainda vive, adormecido em sua forma.”!® £ fécil compreender que a ideia do féssil tenha atravessado todo o pensamento de Warburg. Ela é um paradigma, discreto mas insistente, da Nachleber, um de seus grandes Leitmotiven, Seu paradoxo ~ sua ambigio - prende-se a que, transversal e mével, quase musical, tal para- digma nunca se tenha fixado, tenha-se recusado a “endurecer” ou a se crista- lizar completamente. Diriamos que Warburg tentou, inclusive na ideia de fos- sil, 0 que tentou em todos os outros pontos: nao petrificar nada, pensar tudo sob o Angulo da movimentagéo. Mas, como pensar num fossil sob 0 Angulo da movimentagao? Primeiro, optando por usar esta bela expressao: Leitfossil.!® O Leitfossil estaria para a profundeza dos tempos geol6gicos como 0 Leitmotif para a continublade de um desenvolvimento melédico: ele retorna aqui e ali, de modo errético, mas obstinado, de tal modo que a cada retorno é reconhecido, mes- mo que transformado, como uma forca soberana da Nacbleben. Na geologia, 08 “{Gazeia direrores® ow “fosseis caractersticos”, como também sao chama- dos — sao formagées pertencentes a uma mesma época, a uma mesmid “cama- da”, embora possam set encontrados em locais completamente separados en- tre si. Assim, o Leitfossil pressupée uma persisténcia temporal das formas, 56 que perpassada pela descontinuidade das fraturas, dos sismos, das tect- nicas de placas. Warburg, mais uma vez, teresse pelos fésseis, vistos com deve ter bebido na morfologia goethiana esse in- testemunhas de uma sobrevivencia, de uma vida evionmecida em sia forma” te! Aideia de “fessl Carartedstioo'5 eats” tanto, remonta mais exatamente a Georges Cuvier ¢ a sua tentativa, em 1806, de estreitar os lagos entre as ciéncias da vida e as ciéncias da terra, a paleonto- logia e a geologia: esse projeto de pesquisa, inteiramente focalizado no estudo dos fosseis, considerado 0 manifesto inaugural da paleontologia estratigrafi- ca, da qual a concepsao técnica de Leitfossil retira a sua coeréncia.""* Jé & estranho ~e significativo ~ que uma biblioteca dedicada as “ciéncias da cultura” tenha-se munido de certo nximero de livros sobre geologia e pale- Aimagem sobrevivente 293 65. Dinimica das camadas geoldgicas, segundo FF. von Richthofen, Fithrer fiir Forschungsreisende, Berlim, 1886, fig. 105, ontologia. E ainda mais estranho encontrar, bem no meio da seco “Antropo- logia”, 0 livro classico de Ferdinand von Richthofen sobre a “geografia fisica” ea geologia.'*” Nele descobrimos a dinamica dos fendmenos de erosio, a8 “dobras de camadas” geol6gicas [Schichtenfaltungen|, a dialética das duracoes prolongadas e das modificagdes catastréficas da crosta terrestre, coisas que @ “sismografia” warburguiana estava pronta para acolher como um verdadeito modelo epistemolégico da Nachleben (fig. 9, 13 e 65). E compreendemos me- Ihor por que o livro de Richthofen situa-se, nas prateleiras da Kulturwissen- schaftliche Bibliothek Warburg, em algum lugar entre a seco dedicada 20 inconsciente ~ sonho, simbolos, psicopatologia ~ e a dedicada a memoria dos gestos, isto é, as Pathosformeln,%6s As formulas do pathos, segundo Warburg, nao sao outra coisa, com efeitos sendo movimentos fésseis. A antropologia ¢ a paleontologia 4 manejava™ essa ideia, uma vez que Armand de Quatrefages falou, em 1884, de “homens f6sseis” € ao mesmo tempo de “homens selvagens”.™ A expressio homens fosseis ou fésseis vivos nao tardou a se tornar Iugar-comum no vocabulério dos bidlogos ¢ pré-historiadores."” Nossos ancestrais niio nos precederam em linhas continuas, nem mesmo em arborescéncias genealégicas que pudéssemos escalar por bifurcagdes simples, mas sim em camadas quebradas, estratos des- continuos ¢ blocos erraticos (fig. 66). As genealogias, assim como as geologiass sempre tiveram que suportar 0 contratempo dos sismos, das erup¢oess dos dildvios e de outras destruigdes catastréficas, Mas Warburg, como era seu habito, néo parou de movimentar, de deslocat seus proprios modelos te6ricos: mal 0 paradigma geoldgico vem transforma -se no geneal6gico — ou no antropologi 0 ~, jd nos encontramos no terreno 42 psique. Com efeito, Warburg teria falado do Leitfossil sobretudo para evoat a sobrevivéncia como meméria psfquica passivel de Verkérperung, de “cOtP™ 294 Georges Didi-Huberman ianas de Solutré, segundo G.-H. Luquet,L 66, Sepulturas aurignac 1926, fig. 103. religion des hommes fossiles, Patis, ralizagdio” ou de “cristalizagéo” gestual. Para dar conta de um tempo estrati- ficado que atua no préprio presente dos movimentos expressivos.'”! Movimentos fsseis ou fosseis em movimento: também aqui, nao fazemos outra coisa sendo falar do sintoma no sentido freudiano. Com efeito, quando ida adormecida em sua for- um sintoma se manifesta, ele € um fossil - uma “vi ma” — que desperta contra qualquer expectativa, se mexe, se agita, se afoba e rompe 0 curso normal das coisas. £ um bloco de pré-hist6ria subitamente presentificado, um “resto vital” que de repente ganha vida. & um fossil que se poe a dangar ou até a gritar Em 1892, com Breuer € contrariando Charcot, Freud iniciou sua nova teo- ria do sintoma histérico baseando-a em dois princfpios concomitantes, o do retorno do enterrado (um elemento mnémico inconsciente, persistente petri- ficado como um fossil, que ressurge 74 superficie em beneficio de uma causa ocasional) ¢ o da dissociagao (sobretudo a que separa a “impressao” trauma- tice de’ aiacldsonrg sineonnatica) ye Nagin tte ele acaeseea lea a retorno dissociado do enterrado — topica € cronologicamente dissociado, visto que o presente que surge do fossil “inverte qualquer cronologia”, como escre- veu Freud ~, encontra sua ancoragem principal na “linguagem motora” dos ia gestos corporait Warburg, por seu turno, rest formulagdo lapidar: “dinamograma miu o problema das Pathosformeln numa desconexos” [abgeschniirte Dynamo- gramme]. Aqui, a palavra “dinamogramas” denotava a existéncia ~ a sobre- vivéncia — de marcas fésseis de energias antigass quanto ao adjetivo “descone- xos”, ele explicitava o estatuto ‘anacronico e sintomatico do Leitfossil como elemento desvinculado de sua terra, de seu mbolismo de origem. Os tempos sobreviventes nao sdo tempos sepultados, sao tempos escondidos bem embai- xo dos nossos passos € que ressurgems fazendo tropecat 0 curso de nossa his- tétia, Nesse tropeco ressoa ainda - etimologicament®~ palavra sintoma. “Fantasias [inconscientes]traduzidas na linguagern 010! projetadas na motricidade, representadas ‘a maneira da pantomima 175 |ins Motorische iiber- ‘imagem sobrevivente 295 i oe CU setzte, auf die Motilitdt projizierte, pantomimisch dargestellte|, os sintomas histéricos, segundo Freud — assim como as Pathosformeln para Warburg -s no se comportam como fésseis no sentido trivial, mas como fasseis em movi- mento.17° € movimento conjuga a energia presente do gesto com a energia antiga de sua meméria, a superveniéncia de uma crise ¢ a sobrevivéncia de um eterno retorno. Portanto, trata-se de uma espécie de d danga tragica. A partir daf, pode-se pensar em algo como uma coreografia dionistaca da imagem e, por conseguinte, uma metapsicologia do gesto, na qual este seria visto como a “mai “prima dos tragos mnémicos”.!”” Nessa condicao ~ pa- radoxal -, 0 gesto, por mais intenso que seja, revela sua natureza de fantasma: éum movimento retornante que faz o presente dangar, um movimento presen te moldado no imemorial. Em suma, é um fossil fugaz. Contrariando qualquer “gramatica” fisiognomédnica e iconografica, a teoria warburguiana das Pa- thosformeln realmente abriu a questo da imagem corporal ~e de sua expres” sividade - para a de uma obscura danga de tempos estratificados. eee E assim que deveremos doravante compreender a graca da Ninfa, esse leitmo- tiv warburguiano do corpo em movimento, como uma encarnagao paradigm’ tica do Leifossil, conceito quase musical, melédico e ritmico da petrificagio- AAcaso 08 mais belos fésseis ~ os mais comoventes ~ nio so aqueles em aue reconhecemos, com milhées de anos de distancia, as formas da vida no que ela tem de mais frégil ¢ mais passageiro: o passo incerto de um passarinho pré- -hist6rico, 0 vestigio de um corpo de molusco, as gotas de chuva no chao, fo- thagens desconhecidas, como que agitadas pelo vento, e até “ondulagaes de xadas pelas Aguas” 2!” A Ninfa evoca bem tndo isso. Por um lado, Warburg néo parou de perdé- -la, como uma borboleta que continuasse a escapar da rede do estudioso - donde, para ele, a impossibilidade de concluir © manuscrito iniciado em Flo- renga em colaboragao com André Jolles (fig, 67) reencontré-la, em todos os lugares em que punha sobrevivente Leitfossil do tempo histérico, a ninfa warburguiana s conjugou duas temporalidades contraditérias: persistente como uma ideia fixa ¢ fragil como uma “fuga de ideias”; orientada para a pesquisa obse siva de uma taxonomia ~ que era uma tentagio para Warburg - e desnorteante como analquer fada, qualquer criatura de fies4os antiga por sua ancoragem formal na estatudria helenistica e moderna pelas relacées diretas mantidas com a ¢5" ca do final do século." Joseph Koerner decerto tore my ™ Por outro, nao parou de os pés. Leitmotiv do tempo mpre 10 ao dizer que a 296 Georges Didi-Huberman les, Ninf flrentina, 1900. Capa do mans. 67. Aby Warburg e André Joll Warburg, Foto: Instituto Warburg Londres: Arquivo do Instituro pesquisa cientifica de Warburg”, mas Ninfa era nao apenas um “objeto 4 também “o simbolo desta”.""" A mais linda borboleta que j@ ruscamente o vidro e vem dangar no anul... Agora, preciso recuperdla, ma ndo estou equipado para esse tipo de exercicio. Ou, mais exaramente, 8 bem que gostaria, mas mi- uando se aproxima ha fereaeao inesieenial moprowbea @ieeecutaara aprisionei rompe b ‘Aimagemsobrevivente 297 a jovem de passos leves, de me deixar levar alegremente com ela, mas esses arrebatamentos nao sao Para mim," Por que a “ninfa” turbador~ que uma si Para compreendé-lo, fascinava Warburg ( ro, de uma memé: na motricidade, de Ghirlandaio (fig. 67) oferece algo mais ~ e mais per- mples utilizagdo do vocabulério formal da Antiguidade? € preciso olhar mais de perto 0 que, nessa figura, tanto (© que teria igualmente fascinado Freud): trata-se, primei- a das formas “traduzida em linguagem motora, projetada representada 4 maneira da pantomima’”. A figura de Ghirlan- daio esté evidentemente em movimento; 0 que Warburg descobre é que ela também surge como féssil. Duas leituras 0 terdo ajudado nessa constatacio. A primeira € a do texto de Heinrich Heine, Os deuses no exili: texto capi tal, 6 bvio, para qual : 1 iquer ideia que se possa fazer da Nachleben der Antike. Trata-se de mulheres que se assemelh; pécie de fantasmas em claro-escuro, bacanais: uma “multidao de espectro lenta” de ménades que, aos olhos d espécie de emogo voluptuosa” a partic de seus préprios movimentos, “saldos de sarc6fagos seculares”,!5 A outra fonte de Warburg, am estranhamente a estdtuas, uma ¢s- ainda agitadas pela energia das antigas s se divertindo”, uma “assembleia maci- lo contemporaneo, ainda impéem “uma i4 assinalada por Gombrich, é a descrigio que faz Hippolyte Taine dessa mesma figura de serva que, no afresco de Ghirlan- daio em Florenga, carrega seu cesto de frutas com wm, graca muito particular, muito pouco crista (fig. 67): (...) na Natividade de Sao Joao, nica de estétua, tem o impeto, a al modo que as duas eras e ag duas bel dade do mesmo sentimettto verdad, bios e, sob a semi-imobilidade, sob ta ainda [lhe] deixa, adivinha-se a @ Serva que carrega frutas, com uma ti- lacridade e a forca da ninfa antiga, de 28 se encontram e se unem na ingenui- ciro. Um sorriso juvenil aflora [seus] 4 © resto de rigidez que a pintura incomple- Paixdo latente de uma alma intacta (..)-" Com esse texto, temos uma descri¢ao exemplar do Leitfossil: a roupa, © impeto, a paixo e a forga esto realmente em movimento, Mas tudo isso con- so due Prego intima “semi-imobilidade” ou cristalizado na peda dos baixos-relevos antigos: em sume » tudo isso s6 faz mover-se como fossil. Quando contemplamos 0 ele do por Ghirlandaio, ou seja, o “acessério €m movimento” dos drapeados, compreendemos toda a justeza da ©xPressdo empregada por Taine: “com uma tiinica de estatua”. A tinica é agitada por um Sesto € por um vento. Mas sua monoctomia 8 puealtudh parals Ped ie a/antigiida ie dos sarcéfagos (alias, tinua “latente”, 298 Georges Didi-Huberman pela, Ghirlandaio pintou toda a sua “ninfa” até a cesta de frutas assumem, a partir daf, a ‘num afresco vizinho na mesma ca em claro-escuro: pele, roupa Palidez calcificada do marmore). __ Eesse o duplo poder, a dupla persisténcia das coisas sobreviventes téncia do que resta, ainda que sepultado, pot pettficagio persistencia do que retorna, ainda que esquecido, por sopros de vento ou por movimentos-fantas- ma, Nao foi A toa que Warburg evacou sua Ninfa como uma obsessio: um “pesadelo gracioso” [ein anmutiger Alpdruck), como gostava de dizer” Ele nunca saber quem ela era, jamais compreender a razio [ich verlor meinen Ver- dela ~o qual, mais 6 5 persis- confessou vé-la em toda parte, exatamente de onde vinha, ¢ com isso perder stand], Confessou-se fascinado pelo poder de metamorfose tatde, seria explicado pelas pranchas de Mnemosyne ~ € de modo singular, pelo detalhe reiterado de seu andar dangante, quase “alado”.!" eee A partir dai, a analogia entre a Ninfa warburguiana ¢ a Gradiva freudiana s6 Pode saltar aos olhos,!® Os repertorios iconogréficos usados por Warburg — tz Weege sobre a danga na €m especial os livros de Maurice Emmanuel ¢ Fri Antiguidade — conferem um lugar notavel, aids, & figura que despertaria a Paixzio de Jensen e, depois, de Freud.” Se Warburg dizia ver sua Ninfa em toda parte, Freud, por sua vez, podia contemplar permanentemente um molde da Gradiva, pendurado em lugar de destaque n& parede de seu consult6rio, bem acima do diva (fig. 68)- i Ninfa e Gradiva, do nosso ponto de vista, sparecem O10 dois possiveis homes préprios — nomes de fadas ou semidensas ~ Par qualquer ideia que se faca da “imagem sobrevivente”. Ambas emirem um _gesto, o encanto particular de um movimento corporal; ambas fazem surgit um tempo que s6 € compre- ensivel através da hipétese psiquica do inconsciente. Ambas, por fim, exigem eWeflo de combeckoanse; aunasnra naioessautog cae gual aati Vidade severa e estrita da andlise deve comtar con® intricagio das imagens, a Sobredeterminagio dos significantes, a dsseminago dos sonhos e a associagao das ideias. __Nessas condigées, nao nos causard susPres que o comentario freudiano da Gradiva permita esclarecer alguns aspectos fundamentals da Pathosformel Warburguiana, Quando Freud evoca 0 famos? éandar incomum e particular- paradoxo temporal m ente sedutor” da Gradiva, ele insiste pronramen ® Pata Que sustenta tanto a estranheza quanto encanto desse oa iH = a xado no estado natural”, este permaneces comudos desligado de qualquer ‘Aimagem sobrevivente 299 experiéncia “na realidade”.!”' Poderiamos dizer que ele retine a constitui¢ao fugaz do sintoma (momento sibito em que o tempo se “liberta”) e a consti- | tui¢do fossil do fetiche (momento eternizado em que o tempo se “bloqueia”)- A essa dupla constituicio corresponde 0 paradoxo figural do proprio anda tal como Jensen o descreveu, insistindo no aspecto “ancorado”, “terra a ter ra”, de um andar que, no entanto, é tao Que reconhecer nes “flutuante”,!?2 a “dupla natureza” [Doppelnatur], como diz Freud, sendo 0 anacronismo fundamental dos eventos de sobrevivéncia, cujos sinais 08 jogos significantes da narrativa de Jensen — Zoé, “vida”; Hartleben, “dura | vida”; rediviva, “ressuscitada” etc, — semeiam por toda parte? Quando Nor bert Hanold encontra Gradiva, 0 presente “fugaz” do encontro desdobra-s¢ | inteiro no elemento “féssil” de uma lembranga sepultada e de um eterno re- torno. Dirfamos até que, quanto mais jovem é a “ninfa” encontrada, mais A longinquo, mais antigo sera o lugar - psiquico — esse 60 proprio paradoxo dos fantasmas. Em sua ap 08 dois ritmos constitutivos do Leitfossil Tudo isso no deixa de ter consequéncias n: de onde ela retorn: arigdo juntam-se as duas partes, a situaco visual da imagem que retorna. Wladimir Granoff detectou um trabalho de encobrimento ~ ou de i | “cobertura”, “tampa” ~ em algumas cenas caracteristicas do recorte freudiano | da Gradiva.'® Depois, Jean-Michel Rey definiu a epistemologia desse recorte l sob 0 angulo paradoxal do iiberseben, verbo que denota ao mesmo tempo © | “olhar que abarca” ¢ o “nfo ver alguma coisa”: aqui, na realidade, 0 que Um positivista consideraria uma falha de observacao nao resulta em nada mais, | nada menos que a “condicio essencial do advento da psicandlise”, em sU4 relagio critica com 0 visivel,'% | Ao longo de suas préprias anélises dos temas sobreviventes - em imagens capazes de manifestar um poder de Nachleben ou de Uberleben -, Aby Wat burg também tentou construir um conhecimento por izbersehen. Ora, nesse ! plano, foi mais longe que Freud: os comentarios de Ninfa, com efeito, perm | tem esclarecer, num movimento reciproco, Wit episteme freudiana, confrontada com o m, megar, dois exemplos significativos, | {i O primeiro concerne A materialidade essencial das sobrevivencias. Enquat” | to se interroga sobre o estatuto do claro-escuro nas imagens da Ninfa -seja™ Wt elas desenhadas por Botticelli, pintadas por Ghirlandaio ou por Mantegn® | ou esculpidas por Donatello em baixo-relevo~, Warburg avanga pelo caminho de uma compreensao cada vez mais fenomenolégica do material visual.” Nesse momento, ele se pergunta de que modo certa escolha cromética, OU “atmosférica”, torna-se capaz, numa im: mes- alguns aspectos fundamentais da aterial visual. Evoquemos, para ¢O- 'agem, de captar todas as coisas 300 Georges Didi-Huberman 1929, Estado provisorio 927-1 Jo Instituto Warburg. Mnemosyne, 1 69. Aby Warburg, Bilderatlas Londres: Arquivo de uma segio sobre “A Ménade” Foto: Instituto Warburg. fatal, protetora prestativa ¢ a Ninfa ser da obsessiio,”” rersiio entre Va~ la e ninfomana, a meiguice € I de um operador de con » alternadamente, conforme hou o destino dela in- ot fe casa e provocant, violad Ennai homens, ser d eee cries fungi esata Sage ela “polariza” e “despolariza ade de cada encarnacao. Warburg acomPan 303 ‘imagem sobrevivente 70. Aby Warburg, Bilderatlas Londres: Arquivo do Instituto Mnemosyne, 1927-1929, P Warburg. Foto: In rancha 6, stituto Warburg, clusive nos textos humanist: lar as que colecionava na modernidade dos quadros de Quando, ao folhear o manuscrito de nho ~ quase 0 grafo ~ que W tempus (tempo) e amissio ( artic ~ 08 de Bocaccio, em partic ea Delacroix ou de Manet. ; i 1s o dese Ninfa florentina, descobrimos 0 4 nas, arburg tracou diante de duas palavras lati ato de adiar, de ou renunciar), vemo-nos prontamente doxal (fig. 72). O reviramento dos dois perder retardar, de deixar fugir, de pe ; : 5 ara diante de uma espécie de formula é Hs que Pes evoca uma contorgio, a menos 4 304 Georges Didi-Huberman 71. Aby Warburg, Bilderatlas Minemosys 1927-1929. Prancha 47 (detalhe) do Instituro Warburg, Foto: Inseituto Warburg, Londres: Arquivo ‘a uma marca. Vemo-nos 1 sombra, a menos que sek ado antigo, cristalizado parte hachurada seja uma ai entre um vento (nos drapeados) ¢ um fossil (um tra¢: No presente), entre um movimento ¢ Uma paralisia, entre um gesto de graca e um gesto de pavor. A atrag 5 esta presente, sem divida: o encanto da “ninfa”, Mas a ameaga nao esta longe- Se Warburg confessou “Pet cla a expe uma imagem capaz der a eario” diane da Ninf, fo por ter com ncia de Ye tudo: sua beleza era capa de se ‘Aimagemsobrevivente 305 “lant ele oe in, Fate Brite era dilathy lah W Coha. Mlk akin Ae 2aTn an weifnmt we fri, ‘Moments wicike 4h int Abend, thle cli eoguip Btw, Aanfliwe Yeiry fe Arb aseuly, Vin Aprffy ahaa, oe wi WH pA oub e Teeth, hi tof trap alben, dey, th, th: Keovens Pare. AMIS /0 ponadutata. wy Bee 72. Aby Warburg, Ni inf 1900. Desenho a lips extraido de Ninfa folio 6, Londres: Ar florentina, ‘Tuivo do Instituto Warburg, Foto: Instituto Wa burg. converter em horror; sua oferta de frutas, cap bea decepada; sua bela cabeleita ao vento, cap: pero (fig, 54}; seu troféu erctico, capaz dese tomar um, serpente viva (fig. 55) ete. Em suma, a Medusa nunca estava muito distante ~ e é sabido que 0 P*° prio Warburg sentia-se “paralisado™ diante dessa figura que o obsedava, ie ralmente.™ Ele sabia, sem a menor divide, ane propria tradigio classica havia atribuido as ninfas 0 poder de fazer berderem uso da razio 0s mor f a az de se transformar em = | az de ser arrancada em dese’ . 306 Georges Didi-Huberman a ——————— gar por todo iibersehen da ima- tais , que as fitavam.?™ Seria esse © prego a pai para compreender as foreas da Re pee Sera preciso perder a razd0 leben? pes eniae estritamente sarburguianess podetemos Ces Une pec gare dinamica” revela a proximidade entre @ Ninfae a “dialética er stro”. Se o fascinio produzido por essa figura tem realmente um duplo ~ movimento e paralisia, impulso de vida e perigo mortal -, nao sera aces sua propria aura ¢ inteiramente entremeada com uma forga demo- iS Me, Fs Bee Warburg nao parava de voltar, embora quisesse conjura-la? jeg com cerveza. Mas gira em torno de um buraco negro. Ela nos ei cae iatrativo visual dein proceso de afloramento dos tempos ae Eles ficam latentes, correm aqu! € “ai como os veios de um f6ssil, ada prega do drapeado da Ninfa, entre cada mecha de seus cabelos a0 vento, F Esse processo nos fala da estranheza inquietante, é claro. O Unheimliche ir ae ‘eudiano aparenta-se diretamente ‘com o Leitfossil ‘warburguiano: nos dois cas « i 2 Sere 20s, surge o “antigo familiar de outrora”, sua dimensao de coisa secreta ou sepulta — que é subitamente trazida & 122% A Ninfa nos inquieta no leva a “reconhecé-la” como WB fantasma conhe- eceranha semetbanca” que liga coisas sei : ; Bi Epc ae emporalidades desconexas. referencia espontanea de cud a Os deuses no exilio, de Heinrich Heine,” indica-nos que 0 problema cruci De ere . ‘ucial da estranheza inquietante prende-se, sem davida, as proprias relagdes da semelbanga com a sobrevivéncia. Essa “atragao visual”, que nos dé ve ra dos tempos, também nos fala da regress que Warburg renunciou a publicar sua Ninfa florentina, Freud escreve™s na Traumdeutung, que “a transformacio dos pensamentos em imagens visuais pode decorrer da atragao que a lembranga sual, que procura recupera vida, exerce sobre o pensamento que até separado da comeciencia © Avido de se exprimie” 2 Mais tarde, Freud viria a explicitat os tern : mos metapsicol6gicos .sse processo: 0 “reforgo dos restos” — intensificagao tipica das Pathosfor- tistas — Cal mein estudadas por Warburg nos artistas renascen minha de maos vIadas com a “instauragio do desejo”,?!' de modo ave um fragmento sepulta- do, um fossil, vese investido das tensoes proprias do futuro. Jo AsiimazensT unica Warburg diria: as imagens sobreviventt® em geral - oe i extraordinario 0 fato de fazerem da “reversio” temporal, como diz ‘rend na mesma pagina, um vetor de protensio, € de fazerem da “indestruti- bilidade” dos materi : ida ateriais recalcados um vetor de imediatismo, de fugacidade. que essa capaci- mete movimento que 10% ci i lo, porque deixa surgir em si uma rrigem e nos faz mergulhar na crate edo desejo. No mesmo ano em ‘imagem sobrevivente 307 | | Em toda imagem sobrevivente, portanto, os fosseis dancam. Freud esclarece Hl que 0 piv6 desse paradoxo decorre da famosa “consideragio a figurabilidade” [Riicksicht auf Darstellbarkeit|, a capacidade de troca entre palavras e ima- gens cujo arquivo Warburg buscava explicitamente,2? e da qual nosso uso retérico dos “tropos” oferece apenas uma aproximacdo bem fraca: aqui, 0s A gnificantes circulam num meio em que a regresso puxa tudo para seu mate- rial visual, para sua “figuracdo plastica” 213 | Aqui, “figurago plastica” nao quer dizer que uma ideia abstrata tenha encontrado sua metéfora visual certa, ou sua “imagem literéria”. Quer dizet que uma energia ganhou corpo através de sedimentagées do tempo, fossilizou- i -se, mas preservou todo o seu poder de se movimentar, de se transformar. Além disso, Freud fala da “pulsao escépic ‘a” [Schautrieb] como uma instancia I exemplar, capaz de deixar que persistam, “uma ao lado da outra”, todas as {i camadas das “sucessivas erupcdes de lava” que endureceram no decurso da vida psiquica.* Assim, olhar uma imagem — compreendida como Leitfossil - equivaleria a ver dancarem juntos todos os tempos, om Ora, foi exatamente isso que Warburg foi fazer no Novo retamente ~ era 0 ano de 1895 — a uma realidade, de dois rituais distintos, México: assistir di- “danga dos fésseis”. Tratava-se, na mas que Warburg queria pensar em conjun- to: uma danga de mascaras (seres humanos disfarcados de espititos) € uma danga de orgdos (animais repritianos manipulados pelos dancarinos). A pti meira é 0 ritual das efigies katchinas, que o proprio Warburg fotografou2” & segunda € o famoso ritual da serpente, ao qual ele nao péde assistix, mas que comentou com base numa vasta colegio de chapas fotograficas (em particular, as feitas por H. R. Voth em 1893).216 Da ninfa classica que danga nas paredes de um sarc6fago ao indio “selva- gem” que danca na poeira de um planalto desértico, 0 contraste pleto: oclaro-escuro do mérmore contra as vivas pinturas to erético contra parece com- ‘orporais; 0 encan- # pantomima guerreira; a serpente ornamental, enrolada somo ima pulseica (fg. $5)/‘contta\a serpents cepugnante, press entte Ot dentes (fig. 37)... No entanto, de Pompeia a Oraibi — ambas erigidas, nao pot 1 acaso, em terrenos vulcanicos ~, 0 que Warburg esperava enfrentar era 0 mes* mo né de problemas.” Que é uma cultura paga, seja ela sobrevivente em seus monumentos (como no caso ocidental), seja na vida concreta de sua sociedade (como no caso dos indios)? Acima de tudo, como chega tal sobrevivéncia a s¢ manifestas, quer numa minoria de luxo (a elite dos cfrculos humanistas), quer 308 Georges Didi-Huberman forma de serpentes, com dois raios en ‘Pueblo-Indianer in dem Gebiet der. Warburg. 73, Deseo demain indi a Segundo A. Warburg, Bilder aus lord-Amerika, 1923, fig. 1- Foto: Instituto as tribos colonizadas do Novo México)?" Warburg “ro emélogo James Mooney ~ 0 due SSH “método” indigenas: num; Ruta minora de mist & ey escondeu — numa carta era ia a a geral devia & viagem de 1895 as terras me profund nunca teria mente grato a seus indios. Sem © ficado em condigaes de dar Um dia destes, vou forne- o, devo dizer, e, como De fe forma ininterrupta, sent estudo da cultura primitiva deles, eH ogia do Renascimento- érodo, que € inédit vo seria de se espera” em medit 0 considerével campo que as Foi nas maos de uma criana Sis. eira “danga dos fosseis” no-ar”, constata-se 0 un an base ampla a psicol er ai = he uma exposi¢ao do meu ™ , ainda nao é reconhecido - com seta ans in ie aeaae conseguiam “contam Reis a que Warburg ident ua P ae jum desenho inspirado no conto Joao-natiz ei lo indiozinho para se adaptar js regras ocidentals da representagao, ne las na escola: com maior ou menor sucesso, ele tenta manejar espago Rae ce para representar as casas, com suas chaminés cibicas. Mas, se trata de figurar um reldmpager o menino desenha duas serpentes: 0 simbolo c di bolo cosmolégico jmemorial dos hopis ve™ romper a representacao narra- itfossil escapa POF entre Ot mos da crianga meésceis celestes” m0 40 desenhados no fo que os aproxima das cobras vivas que nar”. ificou sua prim tiva a do conto europeu. Um L las, ém asi ee , convém assinalar que esses , mas na encosta na montanha, ‘imagem sobreviverte 309 74, Ritual da serpente em Walpi: posigao da pintura na areia e dos celebrantes. Segundo J. W. Fewkes, “The Snake Ceremonials at Walpi”, Journal of American Ethnology and Archaeology, WV, 1894, p. 76. desceriam para as casas, bem como das fendas sismicas de que o territério dos hopis é inteiramente coberto).2° Portanto, foi na propria vida ~ na vida social - que Warburg espreitou e™ Oraibi a sobrevivéncia dos simbolos “primitivos”. Observou e colecionou objetos ornamentais, sobretudo os humildes vasos de ceramica que vita carre- gados na cabega pelas fndias, como fazia a bela serva com sua cesta de frutas no afresco de Ghirlandaio.”" Diante dele, as sobrevivéncias se encarnavam, confirmando todas as suas intuigdes de jovem pesquisador sobre a estreita correspondéncia entre as representagdes-objeto (os monumentos estudados pela hist6ria da arte) e as representages-ato (os materiais de estudo do antro- pologo: mascaras, rituais, festas, dancas, técnicas corporais).22 Nao nos su preende que a serpente-relampago fosse pintada na prépria pele dos dangati- nos hopis. Mas 0 poder metamérfico ~ deslocamento ¢ encarnagdo — do Leitfossil eta tal que Warburg acabou por observé-lo em sua “traducao [direta] na linguage™ motora”, isto é, em animalidade, gestos, contorgdes orginicas, A serpente COS molégica desenhada pelo informante de Warburg (fig, 35), pelo menino indio (fig. 73) ou na areia das ceriménias de Walpi (fig. 74) também se agitava num monte vivo de cobras nas ceriménias de Oraibi ou de Mishongnovi (fig. 75-76) Esse amontoado de répteis emaranhados, em movimento, sem dtivida oferecet o paradigma extremo de tudo o que Warburg fora procurar no Novo México: a encarnacao imediata da “forca pura” [ganze Kraft] sobre a qual, como bom 310 Georges Didi-Huberman 75, Ritual da serpente em Mishongnovis posi Segundo J. W. Fewkes, Report of the Bureau of nietzschiano, ele desejava monte de serpentes vivas, “dialética do monstro” qu © que é um modo de dominé-la, O que ha em comum entre mo de movimento e um minimo mentos misteriosos, carater perigos isto é, a da cascavel se deixa picar por ela sem em seguid -a no deserto, € porque der, segurando-o com as ma greifen versuch], aquilo que de a tentativa de exerc tentativa de apropriagao d viva [in seinem lebendigen, a 0. Quando alguém a seg E imitando essa “forma vi semelhanca, para the dar sua “tra capaz de mudanga, de metamorfose: (us) ao caréter incompreensivel dos fendmenos ni) vontade de compreendes, tal jo das cobras e dos celebrantes. ke Ceremonies”, 19th Annual 397-1898, p. 971. ““Tusayan Flute and Snal yf American Ethnology, fandamentar o conceito de simbolo2* Diante desse | « homem, por assim dizer, agarra ds mos-cheias a | » beeca seus sonhos, seus simbolos ¢ suas crengas — “nas também de ser subjugado por ela: eo relampago e a cobra, que apresenta um maxi- ide superficie, é a forma deles, seus movi- sem ponto de partida ou de chegada manifestos, e seu uura nia mao sob sua mais perigosa J, como eferivamente fazem os indios, © quando a maté-la, mas, ao contrario, soltando- ‘ana [Menschenkraft] tenta compreen- a as [durch handmsstiges Brfassen 2H be- taro escapa a suas téenicas de manipulacao. crm efeto magico é em primeiro lugar, uma tural em sua forma andloga a forga hum le um fen6meno nat spnlichen Umfangsgebildel.”* wa” que o homem, por sua ver ~ dancando essa Mducio em linguagem motora” ~ tornarse turais o indio opée sua fonmando-se pessoaimente rmando-sy cle ‘Aimagem sobrevivente 311 76. Ritual da serpente em Mishongnovis as cobras amontoadas na “Roda do {i milo”. Segundo A. Dorsey eH. R. Voth, The Mishongnovi Ceremonies of the Snake and Antelope Fraternities, Chicago, 1902, prancha CXLIL | proprio, essa causa das coisas [Ursache der Dingel. (...) A danca das masca i ras é uma causalidade dangada [getanzte Kausalitit Mas essa danga também é, num plano mais profundo, uma contor¢éo: a ima- gem do movimento das pr6prias serpentes - ou A imagem do sintoma histérico =, ela retine a plasticidade das metamorfc ses e um conflito dos drgios ou dos organismos intricados. O virtuosismo das quize do dessemelhante. emelhangas nunca se da sem a es- Plasticidade das metamorfoses: quer ele a tenha descoberto na exuberdncia dionisfaca dos antigos sareéfagos ou n intensidade “selvagem” das dangas indigenas, quer nas méscaras votivas de Florenca ou nas mascaras cerimoniais de Oraibi, Warburg pode desde entio observar a forca magica das semelhan- gas, 0 que conviria denominar, para além de Lévi-Strauss, de eficdcia imagind- ria. Essa descoberta, independentemente de qualquer exotismo”” ede qual quer arquetipismo -, deu inicio ao projeto, tio necessirio quanto delicado, de um comparatismo antropolégico baseado em crit i ios de forma ¢ também de contetido ¢ contexto. Nesse aspecto, imediato de Ernesto de Martino,” Conflito dos or; Warburg aparece como um precursor e uma zanismos, esquize do dessemelhante: Warburg oferes a disso ao contar que, em Walpi, as cobras vivas eram amon- situagaio conere 312 Georges Didi-Huberman lo representadas, em pinturas de areia, 1 hopi (fig. 74): “As cobras sao atiradas léncia, de modo que o desenho é destru- toadas no chao da kiva, onde tinham sid as serpentes geométricas da cosmologi nesse quadro de areia com enorme viol ido e elas se misturam com a areia.”” “presenga” destroi a “representacao”. E preciso dizer que, aqui, 0 simbolo mas esse ato € 0 de um lao que nao para de se +e se reapertar. Um emaranhado mével de Nao basta dizer que, nesse caso, a std em ato em toda parte — distender ¢ se reatar, de se separa serpentes, em sum Warburg o enuncia com muita seu rascunho de 1923 - que todo 0 pro! simbélicas” [Problem der symbolischen Verkniipfungen. Mas indica, nas pa- que essa propria “ligagao” 96 se forma através de “criagio” e “destruigio” [Schépfung, das katchinas afiguram-se a to anédinas e tao pro- mbolos s6 “funcionam” rar a ordem frente ao preciso, quando comega por assinalar ~ em blema a ser resolvido é o das “ligagdes lavras imediatamente seguintes, de um ritmo de “devir” ¢ “declinio”, Zerstdrung|2™ Se a danga dos antilopes 0u @ Warburg, alternadamente, tio cOmicas ¢ t40 trdgicas, fundas, é porque, antes de mais nada, 08 Proprios s ao gerar a crise de uma “tentativa desesperada de instau caos” [ein verzweifelter Ordnungsversuch dem Chaos gegeniiber] Essa crise é estrutural: forma uma esquize que daa cada simbolo vital o destino de um sintoma: “A humanidade inteira é esquizofrénica, eternamente € desde sempre” [die ganze Menschheit ist ewig und zu allen Zeiten schizo- phren|, escreveria Warburg nas mesmas notas. ‘Aqui compreendemos que 0 Leitfossil, que confere & cultura sua propria persisténcia, s6 se manifesta — s6 é extraido da terra — a0 preso de uma dilaceragio do solo: de um terremoto. “Sismégrafo da alma na linha divis6ria entre 28 culturas”, o historiador das que a ponto de correr 0 risco de se abrir, ele mes- imagens registraria essa ¢s' mo, de se dilacerar no contato com ela.” Aimagemsobrevivente 313

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