Resumo
Nos últimos anos o uso de drogas transformou-se em um problema de gestão pública
implicando em diversas áreas, principalmente com o aparecimento do crack. Diante da
gravidade deste cenário entram em cena discussões sobre abordagens terapêuticas na
internação e tratamento do dependente químico. No entanto sabe-se ainda, que para se ocorrer
a reabilitação deve ser haver mudanças comportamentais, e para tal devem-se haver estímulos
que levam a motivação, sendo esse um estado de prontidão, que podem ser classificados em
estágios por Prochaska e Diclement. Neste contexto o presente estudo visa apresentar a
experiência vivenciada pelo serviço de psicologia da unidade de adolescentes do Instituto
Nova Aliança localizada em Piúma/ES sob perspectiva da entrevista motivacional na
respectiva adesão dos pacientes internados. A partir do estudo verificou-se que o uso da
intervenção traz retornos satisfatórios para as internações compulsórias e involuntárias, mas
alguns fatores devem ser observados pelo Estado para gerar políticas mais efetivas.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o uso de drogas transformou-se em um problema de gestão pública com
desdobramentos tanto nas áreas social, quanto na econômica e política, situação agravada
após o surgimento do “crack” (forma de cocaína fumada) considerado atualmente por muitos
especialistas uma substância complexa de tratar em fase de dependência, devido aos seus
efeitos estimulantes e compulsivos. De acordo com as Diretrizes Gerais Médicas para
Assistência Integral ao Dependente do Uso do Crak do Conselho Federal de Medicina (CFM),
a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no Brasil existam 3% de usuários de
crack, o que implicaria em 6 milhões de brasileiros. Destarte, a dependência química tornou-
se uma doença grave, necessitando de um modelo diferenciado de atuação terapêutica, pois os
métodos tradicionais como tratamento ambulatorial não há resultados satisfatórios como se
observa.
Para Kalivas; Volkow (2005 apud, Laranjeiras, 2010, p.15) a dependência química conceitua-
se como “uma doença crônica recidivante do cérebro, na qual o uso continuado de substância
psicoativa provoca mudança na estrutura e no funcionamento desse órgão”. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde, através do CID – 10, a dependência química pode ainda ser
diagnosticada através dos seguintes fatores: forte desejo ou compulsão pelo uso da substância,
dificuldade para controlar a quantidade do uso, falta de controle tanto para início quanto para
término do uso, abandono de outros interesses da vida devido à compulsão pelo uso e, por
fim, persistência no uso apesar de todas as situações adversas trazidas pelo mesmo (SABINO;
CAZENAVE, 2005 apud CATUNGA, 2011, p.2).
Ronaldo Laranjeira (2010) salienta que a dependência química é considerada complexa, pois
necessita de modelos de atenção específicos para que se possa atingir um bom prognóstico.
Sobre a reabilitação, não existem indicadores oficiais de recuperação dos dependentes
químicos, sabe-se que segundo especialistas, no Brasil há uma baixa adesão do usuário ao
tratamento, principalmente o usuário de crack, Ribeiro (2012, p.3) evidencia esta questão ao
afirmar que:
Em razão da mudança está associada a motivação, a EM tem sua base proposta inicialmente
pelo psicólogo americano Miller (Miller, 1983 apud Maciel, 2011, p.2), a qual visa motivar o
cliente para a mudança do comportamento dependente (Maciel, 2011 apud Miller, 1991, p.2)
utilizando do modelo transteórico proposto por Prochaska e DiClemente. Para (Prochasca;
Diclemente, 1983, apud Nepomuceno et al., 2010) a motivação caracteriza-se como processo
dinâmico segundo o modelo transteórico. A motivação é uma posição de presteza ou
disposição para mudança, pode variar conforme acontecimentos na vida do individuo, sua
influência pode ser externa (pressões, ações coercitivas) ou interna (motivação que vem do
próprio indivíduo) (Ryan; Plant, 1995 apud Castro; Passos, 2005, p.1). Desta forma a
Entrevista Motivacional procura identificar o grau de motivação rumo à mudança por meio
dos chamados estágios de mudança
METODOLOGIA
O Instituto Assistencial ao Uso de Drogas Nova Aliança – Instituto Nova Aliança (INA)
criado em 18/09/2003, trata-se de uma Instituição classificada como OSCIP (Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público) com o objetivo de prestar serviços através de equipe
multidisciplinar desenvolvendo e promovendo assistência, tratamento, recuperação e
integração social, das pessoas que usam ou abusam de substâncias psicoativas. Sua equipe
Multidisciplinar é formada por médico psiquiatra, clínico geral, enfermeiros, psicólogos,
assistentes sociais, nutricionista, farmacêuticos, conselheiro em dependência química,
monitores, pedagogos, terapeutas e professores. Atualmente dispõe de 04 unidades de
acolhimento que atendem as modalidades de internação voluntárias, involuntárias e
compulsórias na forma de regime fechado.
A metodologia seguida consiste na abordagem e atividades focadas no Modelo Minnesota
denominado 12 (doze) passos do NA (Narcóticos Anônimos), porém, também são utilizadas
técnicas de Terapia Cognitivo Comportamental e Entrevista Motivacional, além de dinâmicas
de grupo, terapias ocupacionais, atividades físicas, oficinas recreativas, atividades
psicopedagógicas e outras, conforme demanda do paciente em regime disciplinar de direitos e
deveres. O tempo de internação previsto é de 12 meses dividido por etapas de quatro meses
cada. A primeira é denominada grupo de adaptação e aceitação, a segunda grupo de
preparação para mudanças e para reinserção social, enquanto que a terceira e última fase é
denominada grupo de reinserção social e prevenção a recaída.
Durante três meses do ano de 2013 o serviço de psicologia da unidade de adolescentes relatou
experiências vivencias sob a perspectiva da entrevista motivacional e seus respectivos
estágios.
A entrevista motivacional é uma abordagem psicológica não confrontativa que permite a
condução da ambivalência como algo normal no processo de mudança, onde através de uma
escuta crítica e atitude empática por parte do psicólogo, o mesmo conduz o paciente ao
despertar da motivação a partir de direcionamentos, levando a enxergar as perdas causadas
pela drogadição, assim desenvolvendo o desejo, a vontade e esforço de promover atitudes
objetivando mudar seu estilo de vida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período dos três meses foram totalizados 117 pacientes em tratamento na unidade de
adolescentes do Instituto Assistencial ao Uso de Drogas Nova Aliança, todos do sexo
masculino, com a seguintes faixas etárias:
Idade Quantidade %
10 a 12 8 7
13 a 15 27 23
16 a 18 82 70
Tabela 1 – Relação da Idade dos Pacientes Internados
1
Estatuto da Criança e Adolescente
irmãos, problemas com álcool e outras drogas na família, residência em periferias e locais de
risco, baixa escolaridades dos pais, baixo poder aquisitivo, falta de afetividade, ausência de
orientação sobre hábitos saudáveis, ideação por coisas ilícitas e meio contrapodecente.
Estimular a mudança de estilo de vida para esses adolescentes é um “desafio”, devido a serem
ambivalentes e por crenças criadas a partir do contexto vivido, principalmente o meio ilícito,
pois ora aceitam, ora não, regredindo quando contrariado ou advertido, apresentam ser
imediatistas e logo burlam regras.
Visando verificar se a efetividade do tempo proposto nas fases descritas dos objetivos do
tratamento foi contemplado, o serviço de psicologia cruzou os dados dos estágios
motivacionais com o tempo de internação.
Assim verificou-se que os indicadores do estágio motivacional se aproximam do tempo
proposto nas fases que visam a evolução. A Pré-contemplação fase em que há a negação do
problema representa 40%, percentual idêntico ao dos que encontram-se internados de 1 a 4
meses, período este que são desenvolvidos os objetivos da primeira etapa aceitação e
adaptação. 20% e 22% representando 5 e 8 , 9 e 12 meses respectivamente se aproximam da
fase de contemplação, ação e motivação.
[...] Com a implantação desta forma de tratamento, têm sido
pesquisada a controvérsia existente entre o adolescente ser coagido a
ingressar em um programa de tratamento e a eficácia apresentada
pelos tratamentos impostos legalmente. Burke e Gregoire (2007)
mostraram melhoras significativas em pacientes submetidos a um
tratamento imposto legalmente. Os resultados desse estudo mostram
que sujeitos coagidos a um tratamento apresentaram diminuição no
consumo de drogas e uma menor severidade na dependência, em
comparação a sujeitos que se submeteram ao tratamento
voluntariamente. (OLIVEIRA; SZUPSZYNSKI; DICLEMENTE,
2010. )
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CASTRO, MMLD; PASSOS, SRL. Entrevista motivacional e escalas de motivação para
tratamento em dependência de drogas. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
60832005000600004&lang=pt. Acesso 10 de maio de 2013.