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20/07/2016 Sistema de classificação de esportes

 
Sistema de classificação de esportes com base nos critérios:
cooperação, interação com o adversário, ambiente, 
desempenho comparado e objetivos táticos da ação
 
 
Departamento de Pedagogia 
Fernando J. Gonzalez   
Curso de Educação Física
  Universidade Regional do Noroeste fjg@unijui.tche.br
do Estado do Rio Grande do Sul  (Brasil)   
   
 
Resumo
    Este artigo apresenta um Sistema de Classificação de Esportes, desenvolvido com base nos critérios de cooperação, relação de oposição com o adversário e tipo de ambiente onde se realiza a prática esportiva. Por sua vez os esportes sem interação direta
  com o adversário são subdivididos em categorias com base no tipo de desempenho comparado. Já os esportes com interação direta com o adversário são subdivididos segundo o objetivo tático da ação. Este sistema possibilita montar um quadro para classificar  
grande parte dos esportes, permitindo identificar, com base nessa taxionomia, as demandas diferenciadas impostas pelas distintas modalidades aos praticantes. 
    Unitermos: Classificação. Esportes. Objetivo tático da ação. Taxonomia. 
 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital ­ Buenos Aires ­ Año 10 ­ N° 71 ­ Abril de 2004

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Introdução
    As atividades motoras em geral e os esportes em particular têm sido objetos de diversas classificações (PARLEBAS, 1988; RIERA; 1989; WERNER; ALMOND, 1990; FAMOSE, 1992; RUIZ, 1994;
CASTEJÓN, 1995, HERNÁNDEZ, 1994 e 1995; HERNÁNDEZ et. al, 1999, HERNÁNDEZ, 2000; RITZDORF, 2000; SCHMIND; WRISBERG, 2001) com o propósito de identificar seus elementos universais1
e entender melhor suas lógicas internas2 , particularmente no que tange às solicitações colocadas por essas últimas aos praticantes das diferentes atividades. Estas classificações são montadas a partir
de diversos critérios3 que intentam mostrar e destacar diferentes aspectos da estrutura4 e/ou da dinâmica5 dos esportes.

        Na  continuação  apresentaremos  um  sistema  de  classificação  para  o  esporte  desenvolvido  na  base  de  quatro  critérios,  com  o  propósito  de  caracterizar  de  forma  específica  as  exigências  que
diferentes  grupos  ou  categorias  de  modalidades  impõem  aos  participantes  das  mesmas.  Esse  sistema  de  classificação,  na  verdade,  reúne  um  conjunto  de  categorias  identificadas  em  alguns  dos
trabalhos  mencionados,  porém  combina­as  de  uma  forma  diferenciada  no  que  respeita  às  relações  que  podem  ser  estabelecidas  entre  elas,  entendendo  que  o  mesmo  traz  uma  contribuição  para
pensar o campo esportivo desde uma perspectiva que facilita a compreensão das demandas determinadas para os praticantes das diferentes modalidades.

Classificação dos Esportes: Relação de Cooperação e Oposição

        Dentro  das  classificações  possíveis  neste  trabalho,  optou­se,  inicialmente,  por  aquela  que  permite  dividir  os  esportes  em  quatro  grandes  categorias  a  partir  da  combinação  de  outras  duas
distribuições, o que permite construir uma matriz de análise que, embora não inclua todos os esportes, envolve uma importante parte do universo das modalidades. De forma resumida, pode­se dizer
que os critérios são: a) se existe ou não relação com companheiros e, b) se existe ou não interação direta com o adversário. Com base nesses princípios é possível classificar as modalidades em
individuais ou coletivas, quando utilizado o critério relação com os companheiros, e com e sem interação direta com o adversário, quando o critério utilizado é a relação com o oponente.

    Com base no primeiro critério os esportes podem ser classificados como individuais, segundo seu próprio nome indica, quando o sujeito participa sozinho durante a ação esportiva total (duração da
prova, do jogo), sem a participação colaborativa de um colega, e em esportes coletivos, quando as modalidades exigem, pela sua estrutura e dinâmica, a coordenação das ações de duas ou mais
pessoas para o desenvolvimento da atuação esportiva.

    Já quando considerada a relação com o rival como critério de classificação, a interação com o adversário pode ser identificada como a característica central dos esportes com oposição direta. Essa
condição exige dos participantes adaptações e mudanças constantes na atuação motora em função da ação e da antecipação da atuação do adversário.

    Estes esportes também podem, de forma mais ampla, ser denominados de atividades motoras de situação, definidas como "atividades ludomotoras que exigem dos sujeitos participantes antecipar
as ações do/s adversário/s (e colega/s se a atividade for em grupo) para organizar suas próprias ações orientadas a alcançar o/s objetivo/s das atividades lúdicas" (GONZALEZ, 1999, p.4). Outros

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autores denominam a condição de interação com o adversário de oposição direta (RIERA, 1989), da mesma forma que a categoria com interação supõe a presença do adversário que se enfrenta
diretamente, o qual procura a todo momento neutralizar a atuação do rival.

    Combinando estas duas classificações teremos as seguintes categorias:

Esportes individuais em que não há interação com o oponente: são atividades motoras em que a atuação do sujeito não é condicionada diretamente pela necessidade de colaboração do colega
nem pela ação direta do oponente.

Esportes  coletivos  em  que  não  há  interação  com  o  oponente:  são  atividades  que  requerem  a  colaboração  de  dois  ou  mais  atletas,  mas  que  não  implicam  a  interferência  do  adversário  na
atuação motora.

Esportes  individuais  em  que  há  interação  com  o  oponente:  são  aqueles  em  que  os  sujeitos  se  enfrentam  diretamente,  tentando  em  cada  ato  alcançar  os  objetivos  do  jogo  evitando
concomitantemente que o adversário o faça, porém sem a colaboração de um companheiro.

Esportes coletivos em que há interação com o oponente: são atividades nas quais os sujeitos, colaborando com seus companheiros de equipe de forma combinada, se enfrentam diretamente
com a equipe adversária, tentando em cada ato atingir os objetivos do jogo, evitando ao mesmo tempo que os adversários o façam.

    O Quadro 1 mostra alguns exemplos:
Quadro 1 ­ Classificação em função da relação de cooperação e oposição 

Classificação dos Esportes: em função das características do ambiente físico onde se realiza a pratica esportiva.

    Quando se observa o ambiente físico no qual se realiza a prática esportiva, pode­se perceber que a atuação dos praticantes é afetada de forma diferente por ele. Estas formas diferenciadas de o
ambiente  físico  afetar  as  práticas  motoras  permitem  classificar  os  esportes  no  mínimo  em  duas  categorias.  Uma  reúne  o  conjunto  de  esportes  que  se  realizam  em  ambientes  que  não  sofrem
modificações, isto é, não criam incertezas para o praticante no momento em que ele o conhece. Uma segunda categoria agrupa o conjunto de esportes em que o ambiente produz incertezas para o
praticante,  com  base  nas  mudanças  permanentes  do  ambiente  físico  onde  se  pratica  a  modalidade  ou  quando  o  mesmo  é  desconhecido  pelo  atleta.  Assim,  nesta  lógica,  as  práticas  motoras
institucionalizadas classificam­se em:

Esportes sem estabilidade ambiental ou praticados em espaços não­padronizados: São aqueles que se realizam em espaços mutáveis e que, conseqüentemente, apresentam incertezas para o
praticante, exigindo dele a permanente adaptação de sua ação motora às variações do ambiente.

Esportes com estabilidade ambiental ou praticados em espaços padronizados: São os que se realizam em espaços estandardizados e que não oferecem incertezas para o praticante.

    O Quadro 2 mostra alguns exemplos.
Quadro 2­ Classificação em função das características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva. 

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Classificação dos Esportes: em função da lógica da comparação de desempenho e princípios táticos

    Este processo de análise das características esportivas permite identificar dentro das categorias de esportes com e sem interação direta com o adversário subcategorias que se vinculam a diferentes
critérios. Para os esportes sem interação o critério utilizado é o tipo de desempenho motor8 comparado para designar o vencedor nas diferentes modalidades. Já para os esportes em que há interação
o critério de classificação liga­se ao objetivo tático da ação, ou seja, a exigência que é colocada aos participantes pelas modalidades para conseguir o propósito do confronto deportivo.

    Assim, observamos que nos esportes sem interação com o adversário tem­se diferentes tipos de resultados como elemento de comparação de desempenho, permitindo classificar9 as modalidades
em:

Esportes de "marca": são aqueles nos quais o resultado da ação motora comparado é um registro quantitativo de tempo, distância ou peso.

Esportes "estéticos": são aqueles nos quais o resultado da ação motora comparado é a qualidade do movimento segundo padrões técnico­combinatórios.

Esportes de precisão: são aqueles nos quais o resultado da ação motora comparado é a eficiência e eficácia de aproximar um objeto ou atingir um alvo.

    Já os esportes com interação com o adversário, adaptando a classificação de Almond (citado em DEVIS e PEIRÓ,1992) e dando ênfase aos princípios táticos do jogo, podem ser divididos em quatro
categorias:

Esportes  de  combate  ou  luta:  são  aqueles  caracterizados  como  disputas  em  que  o(s)  oponente(s)  deve(m)  ser  subjugado(s),  com  técnicas,  táticas  e  estratégias  de  desequilíbrio,  contusão,
imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa (BRASIL, 1998, p. 70).

Campo e taco :  compreendem  aqueles  que  têm  como  objetivo  colocar  a  bola  longe  dos  jogadores  do  campo  a  fim  de  recorrer  espaços  determinados  para  conseguir  mais  corridas  que  os
adversários.

Esportes de rede/quadra dividida ou muro: são os que têm como objetivo colocar arremessar/lançar um móvel em setores onde o(s) adversário(s) seja(m) incapaz(es) de alcançá­lo ou forçá­
lo(s) para que cometa/m um erro, servindo somente o tempo que o objeto está em movimento.

Esportes  de  invasão  ou  territoriais:  constituem  aqueles  que  têm  como  objetivo  invadir  a  setor  defendido  pelo  adversário  procurando  atingindo  a  meta  contraria  para  pontuar,  protegendo
simultaneamente a sua própria meta.

    Nesse sentido, com base nas categorias descritas, pode ser montado um sistema que reúne o conjunto de classificações e permite localizar os diferentes tipos de esportes (Quadro 3). É possível
realizar  essa  classificação  em  função  das  quatro  categorias  descritas:  a)  a  relação  com  o  adversário,  b)  a  lógica  de  comparação  de  desempenho,  c)  as  possibilidades  de  cooperação  e,  d)  as
características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva.

    O sistema de classificação apresentado não é completo, existem esportes que nele não estão contemplados (por exemplo, o kabaddi, esporte nacional da Índia, aqui classificado como esporte de
luta e coletivo, poderia entender­se que não é compatível com esta classificação). Esta estrutura, contudo, possibilita a classificação da maioria das modalidades esportivas conhecidas, habilitando uma
análise criteriosa dos elementos particulares do universo esportivo e permitindo mapear os elementos comuns entre diversas modalidades.

    As características da lógica interna dos esportes condicionam decisivamente os procedimentos de ensino e treinamento. Dessa forma, este conhecimento é fundamental para o profissional que
pretenda  mediar  entre  as  manifestações  esportivas  e  os  sujeitos,  haja  vista  que  o  reconhecimento  das  especificidades  da  modalidade  permitirá  hierarquizar  os  conteúdos  (o  que  ensinamos)  e
selecionar de forma adequada os procedimentos de ensino (como ensinamos). 

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Quadro 3. Sistema de classificação dos esportes em função: da relação com o adversário,
lógica de comparação de desempenho, as possibilidades de cooperação e 
as características do ambiente físico onde se realiza a prática esportiva.

Notas
1. Definidos por Parlebas (2001, p. 463) como "modelos operativos que representam as estruturas básicas do funcionamento do jogo esportivo e que contêm sua lógica interna".

2. Seguindo Parlebas (2001, p.302), define­se lógica interna como "o sistema das características pertinentes de uma situação motora e as conseqüências que entranha para a realização da ação motora correspondente".

3. Caráter, norma ou modelo que serve para a apreciação de um objeto (coisa, idéia, acontecimento).

4. Sistema de relações abstratas que forma um todo coerente, que subjaz à variedade e variabilidade dos fenômenos empíricos.

5. Relações estabelecidas pelos participantes a partir das regras que regulam o esporte, jogo ou atividade motora.

6. Esporte entendido aqui num sentido restrito como "uma ação social institucionalizada, convencionalmente regrada, que se desenvolve, com base lúdica, em forma de competição entre duas ou mais partes oponentes ou em contra a natureza, cujo objetivo
é, por uma comparação de desempenhos, designar o vencedor ou registrar o recorde, sendo seu resultado determinado pela habilidade e estratégia do participante, e é gratificante tanto intrínseca (prazer, auto­realização, etc.) como extrinsecamente"
(BETTI, 1997, p.35).

7. Muitos dos esportes aqui mencionados podem ser praticados em duplas, alterando conseqüentemente a categoria.

8. Aqui desempenho motor é entendido como desempenho esportivo, definido como: "produto avaliado da atividade motora num contexto institucionalizado de comparação social" (FAMOSE, 1999, p.36).

9. Nesta classificação utilizamos duas categorias propostas por Dudley (apud CASTEJÓN, 1995) (Marca ou Desempenho e Estético) e uma proposta por Almod (apud DEVÍS e PEIRÓ, 1992) (Alvo).

10. Esportes de translação: são aqueles que têm como objetivo deslocar­se de um lado ao outro antes de seus adversários e em que são permitidas (diferente dos esportes de marca) interferências intencionais e diretas dos atletas sobre as ações de seus
adversários.

11. Kabaddi é um esporte asiático intensamente praticado na Índia e outros países tais como: Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Nepal e Japão. Trata­se de um esporte de equipe que tem como objetivo tocar e capturar os jogadores da equipe adversária. É
jogado num espaço de 12,5 m x 10 m, dividido em duas metades. Informações disponíveis em http://www.alldesi.net/fun/sports/kabaddi.htm.

Referências

BETTI, M. Violência em Campo: Dinheiro, mídia e transgressão às regras no futebol espetáculo. Ijuí: Unijuí, 1997.

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CASTEJÓN, F. J. O. Fundamentos de Iniciación Deportiva y Actividades Físicas Organizadas. Madrid: Dykinson, 1995.

http://www.efdeportes.com/efd71/esportes.htm 4/5
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