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CLIO História : Resenhas Página 1 de 2

Costumes em Comum: Estudos Sobre a Cultura Popular Resenhas .... Biblioteca


Tradicional
E. P. Thompson. Trad. Rosaura Eichemberg Cia das Letras, 493 págs.

Por que será que ingleses venderam suas esposas em leilões públicos? Ou passearam pelas ruas, fazendo barulhos infernais, para
queimar efígies de seus vizinhos? Tais são duas das questões colocadas em "Costumes em Comum".
A publicação em português do livro mais acessível de Edward P. Thompson (1924-1993), um dos mais originais e influentes
historiadores do século, é motivo de comemoração. Thompson é mais conhecido por sua obra-prima, "A Formação da Classe Operária
Inglesa", publicada em 1963 (a edição brasileira, pela Paz e Terra, é de 1987). Os vários estudos que compõem "Costumes em
Comum" compartilham das qualidades que tornaram a "Formação" um clássico: o domínio das fontes, as preocupações metodológicas
e políticas claras e relevantes, a originalidade das formulações -tudo apresentado no seu estilo vigoroso, irônico e inconfundível. O
livro atual recua para o século 18 e estuda a cultura consuetudinária inglesa, baseada em práticas e tradições ameaçadas pelo
avanço do mercado capitalista.
Como todos o livros de Thompson, "Costumes em Comum" mostra como as preocupações políticas do autor podem iluminar a
história. Thompson fez parte da extraordinária geração de marxistas ingleses que mudaram profundamente a maneira pela qual
vemos a história: Christopher Hill, Eric Hobsbawm, Rodney Hilton, Raymond Williams e outros. Após vários anos de militância
comunista, Thompson rompeu com o PC em 1956 e participou ativamente na organização da primeira "nova esquerda". Na
"Formação", estabeleceu as bases de uma historiografia profundamente influenciada por Marx, embora visceralmente anti-stalinista.
Rejeitando os determinismos reinantes, restaurou os trabalhadores em seu papel de sujeitos de sua própria história. Analisou o
fenômeno de classe como uma formação sobretudo cultural, resultado concreto das lutas dos trabalhadores, e assim abriu novas
perspectivas para gerações de historiadores e seus leitores.
"Costumes em Comum" retoma e aprofunda vários temas da "Formação", mostrando seu desenvolvimento no decorrer do século 18.
Entretanto, Thompson não resiste à oportunidade de espetar a celebração thatcherista dos supostos encantos do mercado
capitalista, nem poupa de seu tratamento implacável e característico a complacência do establishment historiográfico inglês,
embora o faça quase sempre de modo bem-humorado.
O tema central do livro é a maneira como o povo inglês do século 18 se situou em um complexo de relações sociais, tradições e
rituais que exprimiram uma cultura de resistência e, ao mesmo tempo, de acomodação. Thompson retrata o que considera uma
cultura tradicional rebelde. Identifica uma consciência dupla que resiste, em nome dos costumes, às inovações econômicas e sociais
do avanço do capitalismo. Certamente, é uma cultura tradicional peculiar, mais picaresca que fatalista, disposta a submeter o
teatro do paternalismo às críticas mais irreverentes que se possa imaginar e, apesar de um certo conformismo realista, chega às
vezes à revolta aberta.
Além da riqueza de detalhes e exemplos, as considerações teóricas nunca estão longe do texto. Sua caracterização da hegemonia na
Inglaterra do período, por exemplo, diverge bastante do conceito que se encontra em Gramsci. Em vez de uma hegemonia suscetível
apenas à ação de um partido revolucionário de um certo tipo, Thompson retrata uma hegemonia sempre vulnerável, em certas
condições, à capacidade dos seres humanos de agir, de negociar e de fazer escolhas autonomamente.
O mais abrangente e controvertido capítulo de "Costumes em Comum" intitula-se "A Economia Moral da Multidão Inglesa no Século
18". Saiu pela primeira vez em 1971 e, em vez de revisar o texto aqui, Thompson acompanha a reedição com um novo capítulo, "A
Economia Moral Revisitada", maior que o texto original, em que responde às numerosas críticas que recebeu e tece reflexões sobre
os desdobramentos da sua noção de "economia moral" nas mãos de outros estudiosos. (Infelizmente, não comenta o uso do conceito
feito por estudos brasileiros de quebra-quebras e outros fenômenos parecidos.)
Nos seus próprios escritos, Thompson limita o termo "economia moral" aos confrontos na praça do mercado sobre o acesso aos
gêneros de primeira necessidade. "A questão não é apenas que seja conveniente reunir num termo comum o feixe identificável de
crenças, usos e formas associados com a venda de alimentos em tempos de escassez, mas também que as profundas emoções
despertadas pelo desabastecimento, as reivindicações populares junto às autoridades nessas crises e a afronta provocada por alguém
lucrando em situações de emergência que ameaçam a vida, conferem um peso 'moral' particular ao protesto."
Thompson encara uma grande parte da história do século 18 como um enfrentamento entre a economia política dominante e a
economia moral consuetudinária dos plebeus. Não vê nada de irracional ou especialmente primitivo na prática da multidão. (Aqui há
uma crítica às interpretações bastante ortodoxas de George Rudé e Eric Hobsbawm.)
Central ao argumento de Thompson é sua demonstração de como os dominantes não podiam ignorar críticas formuladas em termos
da economia moral sem pôr em questão o paternalismo que estava na base da sua hegemonia.
Além da inclusão de seu conhecido artigo sobre "Tempo, Disciplina de Trabalho e o Capitalismo Industrial", que perdeu pouco de seu
impacto nestes 30 anos desde sua publicação inicial, o livro conta com vários estudos novos ou menos conhecidos em torno do tema
da cultura plebéia inglesa.
A análise do rito da venda de esposas permite a Thompson abrir mais um janela para observar pressupostos tácitos da cultura
plebéia. O costume em si ofendia profundamente os folcloristas e outros observadores que recolheram menções do costume.
"Sobrevivências pagãs" ou indicações da natureza "animalesca" do povo eram observações típicas. No mínimo, o rito foi tomado como
exemplo da falta de seriedade dos pobres em relação ao casamento. Thompson localizou em torno de 400 casos, embora as
evidências sejam bastante incompletas e difíceis de avaliar.
No rito, a esposa era levada ao mercado, presa por uma corda, em geral amarrada ao redor do pescoço, e entregue assim ao
comprador. Na maior parte do tempo havia a aparência, pelo menos, de um leilão e a troca de algum dinheiro. O aspecto público do
costume indicava que os participantes aceitavam voluntariamente o acordo e impedia esforços posteriores de romper com seus
termos. Há graus variáveis de bom humor indicados nos relatos.
De fato, o costume era geralmente uma maneira de terminar com um casamento e formalizar outro, em uma época em que o
divórcio não estava ao alcance dos pobres. O comprador era muitas vezes identificado como o amante da esposa a ser vendida, e o
rito servia para compensar o marido financeiramente, e talvez psicologicamente, por meio da humilhação da mulher. Em suma, uma
troca de parceiros por consentimento mútuo. O que revela sobre o papel das mulheres dispensa comentários.
O costume exigia, na prática, o consentimento da comunidade com seus termos e uma certa autonomia da cultura plebéia em
relação à culta. Exigia também que as autoridades civis e religiosas fossem distanciadas, desacreditadas ou tolerantes. Em vez de
desprezo pelo casamento, o costume revela uma cultura que levava bastante a sério as formas da instituição e até inventou um rito
para valorizá-la.
Outro costume inglês que Thompson analisa em detalhe é a "rough music", "uma cacofonia rude, com ou sem ritual mais elaborado,
empregada em geral para dirigir zombarias ou hostilidades contra indivíduos que desrespeitam certas normas da comunidade". Como
diz o autor, o costume é uma espécie de "teatro de rua" para divulgar um escândalo, muitas vezes na forma de procissões
parodiando as cerimônias do Estado e da igreja. Nesse sentido, "rough music" se parece com o "charivari" francês, ainda que menos
especializada do que este em ridicularizar segundos casamentos considerados inapropriados. Embora a análise de Thompson se
restrinja aos séculos 18 e 19, o mecanismo certamente encontra-se em situações bem mais recentes como, por exemplo, nos

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episódios de humilhação pública imposta, em vários países europeus após a Segunda Guerra Mundial, às mulheres que tinham
mantido contatos sexuais com as forças alemãs.
A forma, e o tom, de "rough music" variaram bastante, mas no fundo os casos que Thompson reconta são rituais de humilhação
dirigidos a quem, no julgamento da comunidade, ofendeu seu código moral. Os significados do costume são bastante complexos.
Socialmente conservador, reforçando tradições e formas de dominação masculina, "rough music" também teve efeitos subversivos
com seus ritos de inversão, suas blasfêmias e obscenidades. Dirigiu-se não apenas contra adultérios e outras ofensas às normas
sexuais, mas também visou oficiais impopulares e furadores de greves.
Entretanto, uma grande parte dos incidentes refere-se à manutenção de papéis conjugais associados a uma cultura eminentemente
patriarcal. A megera e o corno manso são alvos prediletos. Contudo, e especialmente no século 19, há um número considerável de
casos de "rough music" dirigidos a maridos que espancam suas esposas ou as maltratam de outra forma. Thompson levanta várias
explicações possíveis, indo de uma crescente insegurança masculina diante de mulheres com alguma independência econômica à
hipótese da mobilidade geográfica ter separado muitas mulheres da proteção de seus irmãos e outros parentes.
De qualquer forma, "rough music" demonstra a existência de uma cultura popular capaz de se auto-regular, distante da lei formal e
às vezes até em oposição às normas oficiais. Thompson não sentimentaliza as consequências, nem sempre agradáveis às nossas
sensibilidades, desta forma de justiça popular. Não-conformistas sexuais, por exemplo, sofreram consideravelmente. O resultado,
como diz Thompson, "é apenas tão agradável e tolerante quanto os preconceitos e as normas do povo permitem".
A edição brasileira de "Costumes em Comum", que sai sete anos após a publicação em inglês, é cuidadosa e a tradução parece
confiável. Entretanto, a decisão da editora de tirar as notas do pé da página (onde estão, corretamente, na edição inglesa) para
escondê-las no fim do livro, irrita qualquer leitor, especialmente porque o autor mantém um diálogo constante entre seu texto e as
informações contidas nas notas, que vão muito além de simples referências bibliográficas. Para seguir o texto corretamente, o leitor
atento tem que interromper a leitura -pelos meus cálculos- 1.202 vezes, e procurar as informações complementares no fim do
volume. Mesmo assim, o preço do livro é lamentável.

Michael Hall é professor no departamento de história da Universidade de Campinas.

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