INTRODUÇÃO
A ocorrência súbita de doença ou agravo que coloca uma pessoa em situação
de risco imediato de morte ou incapacidade é, certamente, um cenário dramático.
Este parece ser um risco crescente, sobretudo nos grandes centros urbanos, e tem
gerado na população um sentimento de “risco constante” - o de vir a sofrer um dano à
saúde capaz de ameaçar a sua vida, ou a de alguém querido.
1
Agradecemos os valiosos comentários e a revisão do texto por Juliano Lima, Setor de Planejamento, Hospital Geral
de Bonsucesso, Rio de Janeiro.
2
2
Doutora em Saúde Pública, Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UERJ
3
3
Profissionais cujos depoimentos e informações tornaram este trabalho possível: Dr Sérgio Vieira –Presidente da
Regional ABRAMGE-RJ/ES; Dr. Antonio Jorge G. Kropf, AMIL Brasil - DITEC; Dr. Marcio Serôa de A. Coriolano,
Diretoria Gerencial Técnica – BRADESCO Seguros; Dr Manoel Ribeiro de Sá, psiquiatra e professor da Faculdade de
Medicina de Petrópolis; Dr Mauro Brandão Carneiro, conselheiro do CREMERJ e do CFM; Verônica Schara, Narcisa
Santos, Dra Helena Sales , Dr. Eduardo Mota da, ANS; agradecemos ainda a Ana Cristina, da ANS-Fórum, pela
presteza em atender nossos pedidos de ajuda.
4
(i) Uma situação médica que se manifesta por sintomas agudos ou com
suficiente severidade (incluindo dor severa, distúrbios psiquiátricos e/ou
abuso de substâncias) as quais, na ausência de atenção médica, capaz de:
Tem sido questionado o fato de que a que triagem por telefone não tem a
vantagem do contato visual fornecido pela triagem face-a-face. Em relação à atenção
psiquiátrica de urgência, encontram-se queixas contra a figura do chamado “médico-
porteiro”, sobretudo por uma crescente tendência de medicalização dos problemas de
saúde mental4. Em relação às outras urgências, esta parece ser uma prática mais
comum nos casos em que os pacientes já mantêm um vínculo com o médico.
4
XVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria - São Paulo , 28 a 31 de outubro de 1998 - Maksoud Plaza Hotel / Hotel Inter-
Continental. Relatório da Mesa Redonda “Psiquiatria nos Planos de Saúde” (Psiquiatria On Line: www.polbr.med.br)
8
Gráfico 1
4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
2000 2001 2002
Homens Mulheres
Transporte
25%
Homicídios
38%
Indeterm. 10%
Quedas
4%
Suicídios
6% Outras Fonte: Ministério da
17%
Saúde
11
Esta tem sido uma queixa comum, entre os médicos: a interferência das
operadoras de planos de saúde sobre o seu processo de trabalho, pelo
questionamento do diagnóstico médico e da decisão quanto à utilização de
determinados procedimentos de alto custo. A pesquisa realizada pelo Instituto de
Pesquisas Datafolha em 2002 mostra que, do universo de 2.160 médicos
entrevistados, 93% afirmaram que os planos interferem em sua autonomia, e há
fortes razões para se acreditar que o campo da atenção urgência/emergência seja um
dos mais afetados.
de Resoluções, que são aplicáveis tanto à rede pública como à privada de saúde. No
entanto, não foi possível verificar em que grau essas regulamentações estão
orientando a estruturação e manutenção dos serviços de urgência e emergência no
setor de saúde suplementar.
Parece haver, assim, uma percepção bastante ambígua dos usuários em relação
ao atendimento de urgência e emergência pelos planos e seguros de saúde: ainda que
persista, no seu imaginário, a idéia de uma maior segurança pela compra ou adesão a
um plano, há também o reconhecimento de que a probabilidade de ter que recorrer ao
setor público em situações emergenciais é bem grande. O imaginário, reforçado pela
propaganda crescente de produtos diversificados, como o atendimento pré-hospitalar
18
com transporte aéreo, é logo chamado à realidade pela constatação de que somente
os planos mais caros cobrem este tipo de produto.
setor de saúde suplementar, que indicava, em 1998, uma maior cobertura no Estado
de São Paulo (35,15%), seguindo-se o Distrito Federal (com 25,65%) e o Rio de
Janeiro (com 23,48) . As demais unidades federativas registraram taxas de coberturas
inferiores à 20% (ANS, 2001).
5
Mesmo no interior de alguns estados do Sudeste, como o Rio de Janeiro, encontram-se microregiões onde
praticamente só há atenção médica suplementar por meio de UNIMEDs, como a região das baixadas litorâneas, a
norte e a noroeste fluminenses.
22
CAPITAL INTERIOR
TOTAL
COMER
REGIÃO
COME ESTAD
24 C 24 RC %SOBRE
ESTADO TOTAL TOTAL O
H OUTRO H OUTR O TOTAL
O* REGIÃ
*
O
RJ 6 3 9 24 15 39 48 11.7%
SP 15 6 21 99 18 117 138 33.6%
ES 6 0 6 7 0 7 13 3.2%
SUDESTE
MG 5 1 6 36 10 46 52 12.7%
16
32 10 42 43 209 251 61.1%
SUBTOTAL 6
RS 2 10 12 17 23 40 52 12.7%
PR 12 2 14 9 0 9 23 5.6%
SUL
SC 0 0 0 4 2 6 6 1.5%
SUBTOTAL 14 12 26 30 25 55 81 19.7%
CENTRO-OESTE
GO 2 0 2 4 3 7 9 2.2%
MS 1 0 1 1 0 1 2 0.5%
MT 0 0 0 3 2 5 5 1.2%
DF 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
SUBTOTAL 3 0 3 8 5 13 16 3.9%
NO
AM 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
AP 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
AC 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
PA 2 1 3 0 0 0 3 0.7%
RO 1 0 1 0 0 0 1 0.2%
RR 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
23
TO 0 0 0 0 0 0 0 0.0%
SUBTOTAL 3 1 4 0 0 0 4 1.0%
AL 1 0 1 0 0 0 1 0.2%
BA 10 0 10 1 0 1 11 2.7%
CE 5 0 5 5 0 5 10 2.4%
PB 1 0 1 1 0 1 2 0.5%
NORDESTE
PI 5 0 5 5 0 5 10 2.4%
PE 10 0 10 4 0 4 14 3.4%
MA 7 0 7 1 0 1 8 1.9%
SE 1 0 1 0 0 0 1 0.2%
RN 1 0 1 1 0 1 2 0.5%
SUBTOTAL 41 0 41 18 0 18 59 14.4%
TOTAL 22
93 23 116 73 295 411 100.0%
GERAL 2
* informação de atendimento em horário comercial, ou outros horários.
Fonte: Lista de Prestadores de Serviços - Plano Nacional de Urgência ABRAMGE -
www.abramge.com.br
As cooperativas médicas que integram o sistema UNIMED possuem ampla
distribuição nacional, já que estão presentes em cerca de 4.000 municípios, cobrindo
assim cerca de 76% do território. Em muitos municípios, sobretudo nas regiões
centro-oeste e norte, são a única modalidade de saúde suplementar existente.
Oferecem atendimento pré-hospitalar e domiciliar de urgência, pela compra do
produto SOS UNIMED. Oferecem assistência de urgência e emergência integrada os
usuários em trânsito que adquirem planos com abrangência nacional. A UNIMED-Rio
informa a cobertura do atendimento de urgência para clientes em trânsito, com
reembolso dos valores gastos, nos casos onde não foi possível obter o atendimento
pelo plano.
“tem autorização legal para medicar por telefone”, embora não se especifique que
autorização seja essa. Algumas cooperativas possuem o Técnico Auxiliar de Regulação
Médica – TARM que tem a função de fazer o primeiro atendimento, e, após avaliar a
necessidade, encaminha o caso para o médico regulador. Não há informações sobre
qual a categoria profissional do TARM (UNIMED Santa Maria, RS). A UNIMED-Rio não
possui médico regulador com atendimento 24 horas, e solicita aos clientes que se
dirijam diretamente ao serviço credenciado mais próximo.
Santa Catarina. A Sul América Seguros aparece apenas no Estado da Bahia, e a HSBC
Saúde aparece no Estado do Paraná.
Não há menção à figura do “médico regulador” nos moldes em que este aparece
nas UNIMEDs. A Sul América informa um número de telefone para informações sobre
atendimento 24 horas, mas os produtos se referem à remoção do segurado, ou
seguro em viagem, de acordo com o contrato. A BRADESCO Seguros também informa
atendimento por meio de um 0800, por um atendente e o médico assistente pode
solicitar esclarecimentos ou pedir autorizações para procedimentos junto a outro
médico, com a função de regulação. Esta seguradora identifica, como problema, o fato
de as informações médicas serem resumidas, inviabilizando uma melhor
caracterização do evento. O fato de 85% dos contratos da BRADESCO serem coletivos
diminui eventuais já que nesta modalidade não há carências ou fator de co-
participação.
• Bradesco Seguros – O plano tipo Rede Preferencial está limitado aos estados do
Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco e não há rede
nos outros estados. O Plano Regional possui limitação geográfica para
atendimento não urgente, e atende urgências na rede coberta também pelo
Plano Nacional. O Plano que oferece uma rede mais ampliada é o Rede Nacional
Plus, mas para as capitais pesquisadas a oferta é exatamente a mesma em
todos esses planos. As diferenças estão na hotelaria – quarto, enfermaria – ou
nos valores de reembolso de honorários médicos.
26
• § 1° Nos casos previstos neste artigo, quando não possa haver remoção por
risco de vida, o contratante e o prestador do atendimento deverão negociar
entre si a responsabilidade financeira da continuidade da assistência,
desobrigando-se, assim, a operadora, desse ônus – há, aqui, uma flagrante
contradição em relação ao Art. 1º, que informa claramente que a cobertura
estará garantida para a preservação da vida, órgãos e funções. Se há risco de
vida, não há o que discutir, na nossa opinião.
A não cobertura aos acidentes de trabalho por parte dos planos básicos também
precisa ser rediscutida, já que estes são importante causa de morbidade em urgência
e emergência. A participação de setores da sociedade civil e de representação de
trabalhadores deve ser valorizada.
Finalmente, nos parece que, enquanto não houver um debate ampliado para a
definição dos termos que orientarão as relações entre a classe médica e o setor de
saúde suplementar, não haverá como pactuar regras claras para a regulação do
atendimento de urgência e emergência. Uma vez que este conflito tem sido apontado,
pela classe médica, como um nó crítico importante nas relações com o setor de saúde
suplementar, sugerimos que seja avaliada a possibilidade de desenvolver uma ação
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAHIA, 2001 – Planos Privados de Saúde: Luzes e Sombras no debate setorial dos
anos 90 – Ciência & Saúde Coletiva, 6(2):329-339. 2001.
BAHIA, L & VIANA, A.L – Regulação & Saúde – Estrutura, Evolução e Perspectivas da
Assistência Médica Suplementar- Introdução. Ministério da Saúde, ANS, Rio de
Janeiro, p-7-17, 2002.
MEYER A., MD, PhD Death and Disability from Injury: A Global Challenge
J Trauma, Volume 44(1).January 1998.1-12