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INTRODUÇÃO/APRESENTAÇÃO:

Esta cartilha é fruto de um trabalho de sistematização da


experiência do assentamento Bela Conquista em Itiúba/BA. A
área é composta por 62 famílias e integra o Movimento CETA -
Movimento dos Trabalhadores (as) Acampados(as) e
Assentados(as), sendo uma referência na produção
agroecológica, bem como, no nível de organização, compromisso
com a luta, solidariedade entre as outras áreas de Reforma
Agrária e hospitalidade com todos os visitantes.
Foram muitos passos rebuscando na memória individual e
coletiva os elementos mais significativos da história da conquista
da terra, da organização, da forma de produzir, da participação da
juventude ao longo dos 25 anos de existência do Assentamento e
das relações que permearam todo o processo.
Esperamos que este subsídio ajude na reflexão sobre a
experiência vivida e contribua para transformar a prática do próprio
assentamento e para iluminar outras experiências.

“Mais Vale uma única experiência avaliada e sistematizada do que


mil ações nunca analisadas e interpretadas criticamente”
(Paulo Freire)

1
SIGLAS

CETA - Movimento dos Trabalhadores(as) Acampados(as) e


Assentados(as)
ASA - Articulação do Semiárido
PA - Projeto de Reforma Agrária
CAR - Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional
ITERBA - Instituto de Terras da Bahia
CACTUS - Associação de Assistência Técnica e Assessoria aos
Trabalhadores Rurais e aos Movimentos Populares
EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola
ATES - Programa de Assistência Técnica, Social e Ambiental à
Reforma Agrária
COASB - Central das Associações Comunitárias de Ocupantes e
Assentados do Semiárido Baiano
CEB’s - Comunidades Eclesiais de Base
PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
EFA - Escola Família Agrícola
CERB - Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos
da Bahia
PRONAF - Programa Nacional da Agricultura Familiar
PENAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar
IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada
PROCERA- Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária
SEDES - Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
pobreza
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

2
SUMÁRIO

Introdução/Apresentação .............................................................01
Siglas ............................................................................................02
1 - Sobre a Sistematização ..........................................................04
2 - Metodologia e participantes ....................................................06
3 - Informações gerais sobre o assentamento .............................07
4 - Histórico .................................................................................09
4.1 - A Organização Inicial ..........................................................11
4.2 - Linha do tempo ....................................................................14
5 - Organização e Mística Hoje ...................................................16
6 - Educação ................................................................................17
7 - Agoecologia: Conceito, prática e princípios norteadores .......18
8 - A dedicação das famílias as atividades agrícolas .................. 20
8.1 - Relação com a terra .............................................................24
9 - Assistência técnica e manejo ................................................26
10 - Conclusões ...........................................................................27
10.1 - Chegamos onde queríamos? ...........................................28
10.2 - Se não houvesse investimentos, o assentamento
teriaavançado? .............................................................................28
10.3 - Potenciação da Juventude – por que participam pouco da
vida do assentamento? ................................................................29
10. 4 - Lições aprendidas .............................................................30
10.5 - Dificuldades ........................................................................31
10.6 - Perspectivas .......................................................................31
11 - Referências ............................................................................32

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1 - SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO:

Sistematizar experiências populares segundo Oscar Jara1 é


reconstruir a memória de uma experiência, tomando-a como um
processo histórico, vivenciado em determinados contextos
socioeconômicos, sob a influência de diferentes fatores e atores
envolvidos. É preciso refletir profundamente sobre o processo
vivido, para compreendê-lo, interpretá-lo, e não apenas
sistematizar dados e informações. Sistematizar experiências é
descobrir caminhos para melhorar a nossa prática, é compartilhar
os saberes, e as lições aprendidas, que podem ajudar a iluminar
outras experiências.
Neste sentido, muitos grupos sociais estão se apropriando
da teoria e da prática de sistematização de experiências a fim de
analisar criticamente diversos processos vividos e aprender com
eles.
Elza Maria Fonseca Falkembach (2006) aprofunda o método
de Jara e propõe uma metodologia de sistematização a partir de 8
momentos: 1. Aproximação dos sujeitos da sistematização; 2.
Elaboração do projeto; 3. Viabilidade da sistematização (registros,
recursos humanos e financeiros, vontade dos integrantes da
prática para transformá-la em objeto de reflexão); 4. Registros e
informações (documentos e memória); 5. Construção das
narrativas; 6. Reflexão e teorização; 7. Reconstruções; 8. Produtos
para a comunicação.
Foi com base neste método que desenvolvemos o
processo de sistematização da Experiência da produção
agroecológica do Assentamento Bela Conquista, orientados pelas
seguintes questões e objetivos:

1
CEP – Centro de Estudos e Publicaciones Alforja – Costa Rica.

4
1.1 - PERGUNTAS CHAVE:

Será que chegamos onde queríamos? (onde queríamos


chegar?)
1. Se não houvesse investimentos (projetos, apoios) o
assentamento Bela Conquista teria avançado?

2. Por que há pouca participação dos(as) jovens na vida do


assentamento?

1.2 - OBJETIVOS:

 Fazer a memória da caminhada - relembrar os processos


vividos;
 Perceber como se deu o processo de organização;
 Identificar os motivos de orgulho da área - os pontos fortes e
os pontos fracos na produção;
 Divulgar a experiência - fazer conhecer o processo da
produção a partir de uma prática agroecológica;
 Ter a história sistematizada principalmente para a juventude;
 Demonstrar que a Reforma Agrária dá certo.

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2 - METODOLOGIA E PARTICIPANTES:

O processo de sistematização teve início em dezembro de


2010 e encerrou-se em 2014; nesse período foram realizadas 17
reuniões abertas a todas as famílias da área; 05 momentos com
apenas uma comissão e 02 reuniões com os(as) jovens. Foi
aplicado um questionário a todas as famílias, realizadas visitas e
conversas com os moradores do assentamento nas hortas,
entrevistas e coleta de imagens para a construção do
documentário; seleção, leitura e análise de documentos
confrontados com as narrativas do grupo.

REUNIÃO PARA APROFUNDAR A SISTEMATIZAÇÃO

Todo o processo foi mediado por agentes da Comissão


Pastoral da Terra - CPT Centro Norte/Diocese de Bonfim, cujo
papel foi de auxiliar na relatoria das narrativas orais, na
problematização das questões de acordo com os objeto/eixos
definidos e no diálogo entre a prática agroecológica do

6
assentamento e a teoria a partir das abordagens de Miguel Altieri;
Sergio Sauer e Moisés Balestro sobre agroecologia.
Para aprofundar as reflexões sobre a prática social e a
postura dos(as) assentados(as), nos orientamos pela Pedagogia
Freiriana alicerçada nas idéias de autonomia, liberdade e
emancipação da pessoa humana.
Como produto final, foi produzido o vídeo “A Bela Conquista:
Sistematização de uma Experiência Agroecológica” e esta cartilha
destinada as áreas de Reforma Agrária, a organizações sociais
diversas e as famílias do próprio Assentamento.
Na construção dos textos, buscamos preservar ao máximo
as fala das pessoas que fizeram o processo de sistematização.

3 - INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O ASSEN-


TAMENTO:

O Assentamento Bela Conquista está localizado há 3 km da


sede do município de Itiúba/BA, que fica há 377 km de Salvador,
com população de 36.113 habitantes (IBGE - 2013).
O Projeto de Reforma Agrária foi projetado para comportar
35 posseiros(as), mas devido ao aumento do número de filhos,
atualmente moram na área 62 famílias que trabalham e vivem do
cultivo da terra (da agricultura de sequeiro, plantio de hortaliças) e
do criatório de bovinos e caprinos principalmente; também
desenvolvem projetos complementares para a renda a exemplo do
beneficiamento de frutas.
Cada assentado(a) possui um lote de 13 hectares; o coletivo
dispõe de uma área de 112 ha. Tanto os lotes individuais quanto o
coletivo tem uma reserva legal equivalente a 20% do total da área
do assentamento.
A área total do assentamento é de 720 hectares, doada pelo
Governo do Estado. O termo de doação foi publicado no Diário

7
Oficial conforme a Lei nº 5.998, de 23 de novembro de 1990. Hoje
a luta é para conseguir a escritura definitiva das áreas individuais
e coletiva sem perder o reconhecimento e a identidade de
assentados da Reforma Agrária.
Localizada no Semiárido Baiano, a região é privilegiada por
estar cercada de serras e ter considerável disponibilidade de água
armazenada em um açude com 18 milhões de metros cúbicos,
uma presa 2 e dois poços artesianos, um com vazão de 1000 mil
litros e outro de 2000 mil litros de água. Este último devido ao alto
nível de salinização é pouco utilizado.

AÇUDE DA COMUNIDADE

Em todas as casas do assentamento existem cisternas de


placas de captação de água de chuva do telhado para o consumo
humano. Os assentados também podem contar com 7 cisternas
de produção visando os lotes com dificuldade de acesso a água,
uma cisterna para o uso coletivo construída pela ASA e três
barreiros.
No local do plantio de hortaliças existem tanques de
cimento ou poços manuais forrados com lona de onde as famílias

2
Sinônimo de Represa.

8
retiram a água para molhar as hortas. A água é canalizada e
desce por gravidade do açude para as leiras.

4 - HISTÓRICO:

Em 1987 um primeiro grupo de trabalhadores entrou na


Fazenda Bela Conquista, por iniciativa própria e com pouca
organização, esse grupo foi expulso e processado, mas depois
teve o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itiúba. No
dia 25 de julho de 1989, outro grupo de 22 pessoas quebrou o
cadeado da cancela e ocupou novamente a área. A fazenda
funcionava como uma Estação Experimental do Estado da Bahia,
onde se criava gado e caprinos. Estava abandonada há 12 anos e
alguns fazendeiros já haviam tomado conta de parte das terras,
sem que tenha havido nenhuma repressão do poder público, da
polícia ou de qualquer outra representação do Estado.

ENTRADA DO ASSENTAMENTO

Porém, quando os trabalhadores sem-terra ocuparam a


fazenda, com 48 horas, a polícia efetuou o despejo do grupo de
forma violenta, recolhendo ferramentas de trabalho e ordenando a
saída da área.
De imediato, com o apoio do STR, da Paróquia de Itiúba, da
Diocese de Bonfim e da CPT, principalmente por meio das

9
advogadas drª Maria da Conceição Neves Barbosa e drª Cecília
Petrina de Carvalho, o grupo seguiu para Salvador ocupando a
CAR, depois a Assembleia Legislativa da Bahia. Foram nove dias
de acampamento em Salvador e devido a alimentação ruim muita
gente adoeceu, conforme relatos dos assentados.
Após três dias, o grupo contava com mais de mil pessoas
dando apoio à luta pela terra. É importante destacar a contribuição
da Igreja, na pessoa do saudoso Dom Jairo Ruy Matos, bispo de
Bonfim na época e Dom Lucas Moreira Neves arcebispo de
Salvador que intermediou a audiência com o Governador Nilo
Coelho, o qual determinou um prazo de 15 dias para a medição da
área através do ITERBA e a posse dos trabalhadores na terra.
Sobre essa conquista de direitos, Paulo Freire (1996,P.54)
nos diz: “Afinal minha presença no mundo não é a de quem a ele
se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem
luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história”.
Vale ressaltar que a maioria das famílias veio de Itiúba, de
comunidades vizinhas e algumas moravam na periferia da cidade.
80% trabalhavam como diarista rural nas terras de fazendeiros.
“A gente trabalhava como boia fria, em empreita, cortando
lenha para fazendeiros, vendendo o dia de trabalho... Era cada um
por si e Deus por todos. A plantação era apenas no inverno e
trovoadas e ainda na roça dos outros”. (Carlos André Gonçalves
da Silva).
Grande parte dos homens se mudou logo para a área e a
maioria das mulheres ficou na cidade, para ajudar no sustento,
enquanto não havia produção.
A assistência técnica no início trabalhava a produção tendo
em vista a alimentação e a organização interna das famílias. Era
desenvolvida por um técnico ligado a CPT - Celso Custódio
Bonfim, por Jonas Custódio Bonfim (CACTUS) e Arnaldino
Laranjeira (Tino) do STR que ajudaram muito durante o processo
de instalação e organização do grupo. Outros que contribuíram foi
Romero Falcão e Nelson Mandela, mais no processo de
organização e implementação de projetos. Depois a Assistência
Técnica passou a ser através da CACTUS, da EBDA e ATES.

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4.1 - A ORGANIZAÇÃO INICIAL:

A alimentação era preparada numa cozinha coletiva e


distribuída entre todos, parecido com o retrato das primeiras
comunidades dos Atos dos Apóstolos as feiras que cada família
fazia, eram colocadas em comum e ninguém passava fome (AT.
Cap. 2). Quando faltava a carne, recorria-se ao açude onde havia
muito peixe (carcundinho, tilápia, traíra).

REUNIÃO DOS ASSENTADOS E AS ENTIDADES DE APOIO

A produção era toda coletiva (hortaliças, feijão de corda,


melancia, abóbora, feijão de arranca, milho, batata e tomate) tudo
sem a utilização de veneno, mas ainda praticavam queimadas.
Produziam com os próprios recursos pois, não havia projetos
e com o apoio de entidades como a CPT que doou algumas
sementes, só depois de um ano começaram a acessar os projetos
de produção.
Os assentados sofriam muito preconceito, eram chamados
de “ladrões de terra” pelo povo da cidade e na escola. A situação

11
foi mudando quando as pessoas começaram a ver o trabalho. A
produção de qualidade fez com que a população da cidade
mudasse de opinião. Muitos da periferia procuravam os posseiros
para se informar sobre o processo para entrar numa área de
Reforma Agrária, muitos pediam e ainda pedem terra para plantar.
Todos os dias eram realizadas assembleias das quais todo
mundo participava; ali era o lugar de avaliar os trabalhos do dia e
planejar o dia seguinte.
Durante aproximadamente 4 anos, as famílias moravam
juntas no abrigo de animais, na Casa da Sede e na Casa Grande
e a prática do mutirão se repetia toda semana.
Ao recordar a história, se retrata a saudade e a
aprendizagem trazida pelo coletivo que é uma antiga marca do
assentamento, como afirma o Sr Zé Terra, posseiro da Bela
Conquista: “O que mantém o assentamento vivo é também a
vivência e o trabalho coletivo. É uma oportunidade de encontro,
conversa, planejamento, discussão conjunta”.
A questão política partidária é outro aspecto relevante, pois,
sempre discutiam coletivamente para que a politicagem não fosse
divisora das famílias nem interferisse na organização do
assentamento. Destaca-se a eleição de um assentado, por três
mandatos - Otaviano Barbosa da Silva, filho de lavrador, que
desde a catequese, a partir da Bíblia vê na Reforma Agrária e na
vida pública uma oportunidade de promover alguma mudança
social.
O assentamento Bela Conquista contribuiu para a
organização da COASB, criada em 21 de outubro de 1998 para
dar um suporte institucional aos acampamentos e assentamentos
da região que depois deu origem ao Movimento CETA, tendo
pessoas do assentamento que fizeram parte da diretoria da
COASB na época da fundação e contribuíram com o Movimento
CETA ao qual a associação é filiada até hoje.

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Destaca-se ainda a solidariedade da Bela Conquista que ao
longo dos seus 25 anos de luta contribuiu com a conquista de 16
novas áreas de assentamento, colaborando com alimentação,
dinheiro, apoio nas ocupações e solidariedade com os irmãos de
caminhada.
Quanto a isso, Paulo Freire (1996,p.102) afirma que: “O
operário precisa inventar, através do próprio trabalho a sua
cidadania que não se constrói apenas com sua eficácia técnica
mas também com sua luta política em favor da recriação da
sociedade injusta, a ceder seu lugar a outra menos injusta e mais
humana.”
O grupo sempre participa de manifestações, ocupações,
mobilizações dos movimentos e romarias, principalmente da
Missão da Terra realizada todos os anos na Diocese de Bonfim.
De forma mais especial contribuiu com a 23ª Missão da Terra
realizada em Itiúba no dia 18 de novembro de 2001, quando, na
véspera foi assassinado o camponês Jailton Bispo de Oliveira,
assentado da Reforma Agrária no PA Rio Verde, em Itiúba, que ia
participar da reunião de organização da Missão da Terra.

ABERTURA DA 23ª MISSÃO DA TERRA EM BELA CONQUISTA

13
4.2 - LINHA DO TEMPO DO ASSENTAMENTO
BELA CONQUISTA:

1989: Entrada na área e início da produção

1990: Projeto criatório de 1992: Doação de 20 matrizes e


caprinos e ovinos – aquisição um reprodutor bovino (Governo
de 105 matrizes (Cáritas do Estado)
Brasileira – Fundo Rotativo)
1994-1996 – perfuração de
1994: Acesso ao PROCERA
poço artesiano (CERB)
R$ 39.000, 00 (investimento
em cerca, aguada, pastagem,
aquisição de bovinos e Ano de 1996 e 1997: Implantação de um
caprinos) projeto coletivo para o cultivo de limão,
abacaxi, maracujá, laranja, amendoim,
manga, mamão, acerola e aipim
1994: 02 de fevereiro - (EMBRAPA em convênio com a prefeitura
Fundação da Associação dos de Itiúba). Conquista de um trator sorteado
Assentados da Fazenda Bela pela Secretaria de Agricultura Nacional.
Conquista

2001: PRONAF individual e coletivo 2001: Plantio de 6


R$ 39.930,00 (compra de matrizes e tarefas de palmas
reprodutor bovino; plantio de palmas;
reconstituição de pastagem; formação
de capineira; plantio de sorgo; reforma
e construção de cercas; galpão, 2002: Organização do mercadinho
construção de silo; ampliação de da comunidade e construção de uma
tanque; aquisição de canos. padaria local (SEDES)

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2002-2011: Projeto SEDES 2004: Instalação de energia, instalação
(Aquisição de cerca elétrica, hidráulica para irrigação, quebra da
recuperação de rede hidráulica e barragem.
barragem, construção de uma casa
de Polpas, criatório de peixe,
equipamentos para beneficiamento
do leite)
2008: Projeto com os jovens
(produção de hortaliças – apoio da
2006-2007: recuperação da Secretaria da Agricultura do
Barragem (assentados) município de Itiúba/BA.

2010-2012: Início de grande estiagem


2009: Reforma de 27 Construção de 42 cisternas (ASA) em
casas (INCRA). 2012 Construção de 9 cisternas
(Prefeitura de Itiúba)

2011-201202013: Parceria com a CONAB, para comercialização dos produtos


via PENAE. Em 2012-2013 o valor da entrega chegou a R$ 30.000,00 (trinta mil
reais) equivalente a licitação de seis meses. O lucro atingiu 30%, dividido entre as
treze famílias envolvidas no projeto.

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5 - ORGANIZAÇÃO E MÍSTICA HOJE:

Atualmente as Assembleias da associação são realizadas


toda 1ª terça-feira de cada mês - além de ser um espaço legítimo
para tomar as decisões, são momentos de estudo e de reflexão
que prioriza a discussão sobre os aspectos coletivos do
assentamento. Apenas 50% das pessoas do assentamento
participam de todas as assembleias, uma avaliação é que estão
mais voltadas para os interesses individuais, pois quando a pauta
é projetos todos fazem questão de participar.
Os projetos trabalham a organização e em cada setor se
procura envolver os jovens. No entanto, a terra é pequena, não
comporta os(as) filhos(as) de posseiros(as) que ao constituírem
novas famílias são obrigados a buscar outras alternativas.
Para minimizar esse problema, um caminho experimentado
foi o de tentar integrar os jovens e suas novas famílias a outros
projetos de assentamento, mas não funcionou porque os jovens
que foram não se adaptaram.
As relações sociais do grupo são de solidariedade e
companheirismo, “não deixa de ter diferenças, às vezes há
discordâncias de opiniões, mas a união é uma marca forte do
assentamento”.
“Os jovens andam juntos, vão para as festas, rezam juntos;
os companheiros cuidam uns dos outros. No Assentamento Bela
Conquista não existe alcoolismo, outras drogas, nem violência
doméstica” (José Nelson Bispo).
A maior parte do grupo veio das CEB’s; vive a religião,
celebra junto o culto dominical, resgata a história da luta através
da Palavra de Deus, zela pelo cuidado com a natureza - com a
terra, com a saúde.
Nesse sentido, seu Nelson Bispo, um dos mais velhos do
Movimento CETA costuma dizer que o Trabalho é baseado em
três leis: 1) Deus fez tudo e deu a todos; 2) Somos herdeiros da
terra e por isso temos a missão de cuidar dela e guardar os
princípios; 3) Constituição Federal cujo direito só é garantido
através da luta.

16
6 - Educação:

ATIVIDADE ESCOLAR

Logo que a área foi ocupada, os camponeses criaram uma


escola para a alfabetização das crianças, que funcionava no
abrigo de animais. Os professores eram leigos, não recebiam
salários, contavam apenas com uma ajuda do pe. Eduardo
Clemente que na época estava na paróquia de Itiúba. Isso
demonstra que a educação sempre foi uma prioridade para o
assentamento.
Hoje existe um prédio escolar onde funciona uma turma de
alfabetização de jovens e adultos (EJA) e outra do 1º ao 5º ano
(Ensino Fundamental I). Tem uma professora da área, contratada
pela prefeitura. Com relação à proposta pedagógica utilizada não
se percebe diferença da educação convencional urbana. Além dos
assentados a escola está atendendo a uma quantidade
significativa de alunos da periferia da cidade. Isso para o
movimento CETA, bem como para o assentamento, é uma grande
vitória, tendo em vista a realidade da educação no Brasil cuja
opção política é a de fechamento das escolas públicas no campo,

17
para exemplificar, só na Bahia nos anos de 2012 e 2013, foram
fechadas 5.072 escolas.
O Ensino Fundamental II e Médio dos estudantes do
assentamento acontece na sede do município.
De acordo com João Pedro Stédile “é necessário que a
prática pedagógica e o currículo considerem as realidades
específicas dos estudantes camponeses, a fim de garantir a
formação necessária às demandas do conhecimento técnico, para
desenvolver a produção agroecológica, mas que ao mesmo tempo
gere a identificação dos sujeitos com o campo”.
Neste sentido já existem experiências de cursos técnicos em
agropecuária e Escolas Família Agrícolas voltadas para o campo;
também cursos de nível superior, através do PRONERA.
O Assentamento incentiva para que os jovens da área
possam estudar na Escola Família Agrícola, atualmente 4 jovens
estudam nas EFAS de Monte Santo e de Itiúba que foi construída
em mutirão com a colaboração também de pessoas da Bela
Conquista. Nessas escolas a educação é voltada para a realidade
do campo a partir da pedagogia da alternância. Os estudantes
contribuem no cuidado com os animais, aprendem práticas de
saúde alternativa e discutem alternativas de convivência com o
Semiárido. O Assentamento também acolhe outros estudantes
para estágio.

7 - AGROECOLOGIA: CONCEITO, PRÁTICA E


PRINCIPIOS NORTEADORES

A partir da década de 1990, a agroecologia foi incorporada


ao discurso e a prática de parcela significativa de organizações e
movimentos sociais do campo, hoje “é percebida como uma matriz
produtiva de base ecológica que pode agregar em si, diferentes
formas de agricultura que contrapõe o modelo dominante”.

18
Para alguns autores a agroecologia é muito mais do que
uma forma de gestão dos recursos naturais, configurando-se como
um novo modelo de vida rural, capaz de conjugar “valores,
qualidade de vida, trabalho, renda, democracia, emancipação
política, em um mesmo processo” (PÁDUA, 2001) ou ainda “como
uma ferramenta de resistência dos camponeses(as) na proposição
de um outro projeto de agricultura”. (MMC, S/d).
Na concepção de Miguel Altieri (2012), a proposta
agroecológica enfatiza agroecosistemas que interagem entre si e
possibilitam a melhoria da qualidade e quantidade dos cultivos
sem o esgotamento dos recursos naturais.
Na mesma direção Sevilla Guzmán destaca alguns
elementos importantes sobre agroecologia, como o manejo
ecológico dos recursos naturais através de ação social coletiva;
propostas para um desenvolvimento participativo desde a
produção até a circulação alternativa de seus produtos agrícolas,
estabelecendo formas de produção e consumo que contribuam
para encarar a atual crise ecológica e social.
Balestro e Sauer (2013. p. 11), aprofundam a discussão
considerando três aspectos essenciais para um desenvolvimento
rural capaz de contribuir para a sustentabilidade: baixo consumo
de energia, autonomia em relação aos fertilizantes e insumos e
maior aproveitamento dos recursos presentes na propriedade,
preservação do meio ambiente e distribuição da renda.
Sobre o projeto agroecológico João Pedro Stédile destaca a
necessidade de “técnicas agrícolas em equilíbrio com a natureza;
educação como demanda imprescindível para o campo; projeto
político que exige formação técnica voltado para o
desenvolvimento do modelo produtivo agroecológico; socialização
das práticas e dos conhecimentos produzidos, diálogo entre os
saberes científicos e os saberes tradicionais da humanidade para
produzir alimentos saudáveis”.

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8 - A DEDICAÇÃO DAS FAMÍLIAS ÀS ATIVIDADES
AGRÍCOLAS

FAMÍLIAS TRABALHANDO NAS HORTAS

Bem cedo, com o cantar do galo, homens e mulheres se


levantam para molhar a horta, limpar, plantar, ou colher o coentro,
alface, cebolinha, couve, beterraba, hortelã miúdo, salsinha,
cenoura, rúcula, espinafre, abóbora, melancia, feijão, milho,
quiabo...
A produção é vendida na feira de Andorinha, Itiúba e
Camandaroba. Em Itiúba, todas as famílias têm uma barraca na
feira, cada uma já tem freguês certo.

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COMERCIALIZAÇÃO NA FEIRA DE ITIÚBA

Uma imagem comum é a de mulheres com cestos ou


bacias na cabeça levando hortaliças para vender na cidade. Um
produto reconhecido pela qualidade nutricional e pela ausência de
agrotóxicos.

COMERCIALIZAÇÃO NA FEIRA DE ITIÚBA

21
Também se vê crianças acompanhando os pais, comendo
legumes crus recém colhidos.

FILHA DE POSSEIRO COMENDO CENOURA CRUA

A produção de hortaliças é a base econômica do


assentamento, desde o início. As famílias se identificam com esse
trabalho que necessita de cuidado especial pois, é dele que vem a
sobrevivência.
Cada família tira em média um salário mínimo/mês com a
produção nas hortas, com a roça de sequeiro (milho, feijão), com
os criatórios de gado, caprinos e galinhas. Algumas famílias
complementam essa renda com o Bolsa Família e com a
aposentadoria. Contabilizar tudo o que se produz não é um hábito,
sendo assim, essa renda média pode aumentar considerando o
que é produzido e consumido pelas famílias.
Na área, também se produz limão, goiaba, acerola, mamão,
banana, manga, jamelão e seriguela. Algumas destas frutas são
beneficiadas na casa das polpas do próprio assentamento, que
além de comercializar nas feiras, também fornece a produção de

22
polpas e verduras para a CONAB, que atende a Escola Família
Agrícola de Itiúba, as associações e as comunidades de
Estimação, Cercadinho, Fazenda Nova, Serra de Itiúba e Bom
Despacho. Uma dificuldade é que as frutas produzidas no
assentamento não são suficientes para atender a demanda da
CONAB, busca-se então, a produção frutífera de agricultores
próximos, mas, às vezes se é obrigado a comprar os produtos
vindos de Juazeiro - do agronegócio. Como caminhos para
superar essa dificuldade, o assentamento está se articulando
através da COOPERSABOR – Cooperativa Regional de
Agricultores (as) Familiares e Extrativistas da Economia Popular
Solidária – fundada em 2013, mas planejada há pelo menos seis
anos na região. Por meio dessa organização, tem se buscado que
o agricultor plante as frutas necessárias para suprir as demandas
das fábricas de polpas dos pequenos agricultores e para resolver
o problema do selo de comprovação do produto orgânico exigido
para a comercialização via CONAB. Está se investindo também
em cursos para ampliar a produção, em palestras, trabalho de
conscientização e planejamento para aplicar e desenvolver outras
atividades dentro da área já que ela dispõe de tantos outros
potenciais.
Outro desafio é a dinâmica do mercado, pois em época de
chuva a produção não tem valor, vende-se praticamente de graça
por conta da concorrência e em períodos de estiagem o trabalho é
sofrido e não se consegue uma produção suficiente.
Os períodos de estiagem causam grandes perdas e
preocupações aos camponeses. Com o agravamento da estiagem
em 2012, baixou muito a vasão do açude, obrigando as famílias a
reduzir em 80% a produção de hortaliças, além disso, houve uma
perda de 19 cabeças de gado do coletivo, atualmente a área tem
39 cabeças de gado do coletivo.

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CRIATÓRIO DO COLETIVO

É o Assentamento Bela Conquista que abastece a cidade de


Itiúba com legumes e verduras.
Segundo os(as) assentados(as), com base em recibos e no
cálculo a partir do número de barracas na feira, número de
compra, venda e abatimento de animais e outros impostos, em 10
anos (a partir de 1994) o assentamento gerou em média 30 mil
reais para os cofres públicos do município.

8.1 Relação com a terra

Toda a família está envolvida no processo produtivo, em


alguns momentos com tarefas bem divididas e em outros casos
cada um faz um pouco de tudo.
Os jovens colaboram mais no fim de semana e feriados,
quando não estão na escola. A motivação é diversa: ajudar as
famílias, como obrigação para complementar à renda; outros
possuem sua própria leira, caminham para a independência, para
poder comprar “suas coisas, ter uma renda individual”; outros se
sentem orgulhosos por participar.

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FILHOS DE ASSENTADOS AJUDANDO NO TRABALHO NAS HOSTAS

Claudia Job Schmitt (2013) afirma que: “A gestão familiar


e/ou coletiva dos recursos naturais figura-se como um
componente essencial para a continuidade e ampliação de
iniciativas de promoção de uma agricultura de base ecológica”.
De acordo com as respostas ao questionário respondido por
50% das famílias assentadas na Bela Conquista, o trabalho na
roça é um prazer; é de onde vem a alimentação produzida de
forma saudável, serve como distração -“terapia”, é de onde se vive
e para alguns, é uma tradição familiar:
“A roça é minha vida que é de onde eu tiro meu sustento.
Não deixaria porque é onde me sinto feliz. Quando chove tá tudo
bom” (Lucia Francisca da Silva).
A grande maioria não troca o trabalho da roça por nenhum
outro, mesmo sendo um trabalho pesado e com as dificuldades da
seca como afirma outro morador: “Muitos que saíram para a
cidade tiveram que pedir dinheiro para voltar”.
Em relação aos jovens, a opinião de muitos é que há uma
tendência a saírem porque “acham que no campo não dá para
viver. Querem ser independentes e ter uma atividade que gostam
de realizar”.

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9. Assistência técnica e Manejo:
Ao longo dos anos, as famílias tiveram assistência técnica
através do projeto Lumiar, CACTUS, IRPAA, EBDA, ATER. O
Lumiar foi acompanhado por Celso Bonfim, que “ofereceu cursos
sobre como lidar com a terra, primeiras noções de práticas
agroecológicas, evitar as queimadas, fazer compostagem, manejo
com os animais, etc”.
As famílias aprenderam que a terra bem aproveitada e com
uma produção variada, garante a sua sobrevivência.
Da roça nada é perdido. Os legumes e verduras que não são
comercializados servem de ração para os animais ou como adubo
orgânico para a terra. Utiliza-se também o esterco de gado, de
cabra e a serragem de madeira, as folhas de vegetais secas
servem como cobertura do solo. Como defensivo utiliza-se o nim,
a urina de gado e outros produtos naturais.
As famílias do Assentamento aprenderam a conviver com a
caatinga. Há grande preocupação com a conservação do solo, das
águas e da natureza. Combatem às queimadas nos lotes
individuais, usando o sistema de decomposição natural; às vezes
se planta numa parte e deixa a outra descansar; também manejam
a água para que não venha a faltar.
A maior parte da semente utilizada nas hortas ainda é
comprada, apenas no inverno deixa-se uma parte da leira para
tirar a semente. No início do assentamento houve uma experiência
de um banco de sementes, guardadas em silos, mas “deu bicho”
causando grandes prejuízos.
Os camponeses da Bela Conquista sabem da necessidade
de guardar a semente de confiança deles, para não se tornarem
reféns dos transgênicos e perderem a sua autonomia. Por isso,
cada família tem a preocupação de guardar sua semente do feijão,
milho, melancia, abóbora, mas não há essa prática no coletivo e
precisam rediscutir as formas para guardar também as sementes
das hortaliças.

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10 - CONCLUSÕES:

Durante os 25 anos de existência, a forma de organização, a


vivência coletiva do trabalho e da mística, o apoio de entidades e
organizações parceiras, a assistência técnica, o acesso a projetos,
a qualidade da terra, disponibilidade de água e principalmente a
identificação das famílias com a vida e o trabalho no campo, foram
de fundamental importância para o desenvolvimento do
assentamento Bela Conquista.
A prática produtiva do assentamento refletida a partir das
concepções de agroecologia incorpora elementos centrais como:
a) utilização de técnicas de produção em equilíbrio com a natureza
onde o próprio ecossistema contribui para a melhoria do solo e
prevenção a pragas; b) manejo da terra e das águas tendo em
vista as futuras gerações; c) relações de solidariedade no trabalho
coletivo, cooperação com outras comunidades, sobretudo
acampamentos; d) comercialização justa dos produtos. Soma-se a
isso a identificação das famílias com o modo de vida camponês, o
gosto de morar no campo e o amor a terra de onde tiram o
sustento.
O consumo de legumes e verduras incorporou-se a prática
mudando significativamente a qualidade nutricional da
alimentação.
Houve alteração nas relações de gênero - as mulheres são
as principais responsáveis pelos cultivos das hortaliças e são
valorizadas pelo trabalho que realizam.
A Reforma Agrária mudou significativamente a vida das
famílias que tendo o acesso a terra e a água conquistaram a
autonomia com a dignidade de pessoas livres. De acordo com
Paulo Freire (1996, p. 107) “a autonomia vai se constituindo na
experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo
tomadas. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si,
é processo, é vir a ser”.
“Antes não tínhamos liberdade, tínhamos que trabalhar até
no sábado para ajudar na feira, além da humilhação de ir atrás do

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patrão para receber o dia trabalhado.” (Raimundo Pedro do
Nascimento).
Neste sentido, todos fazem questão de lembrar a todo o
momento que não existe riqueza maior do que não precisar ficar
trabalhado para fazendeiros, poder escolher o que fazer, trabalhar
para si, ou não fazer nada, ter tempo de visitar os amigos...

10.1 - CHEGAMOS ONDE QUERÍAMOS?


“Tenho para mim que o queríamos era chegar numa terra
que fosse nossa, onde a gente pudesse plantar, tirar o sustento da
família, que tivéssemos acesso a educação para os nossos filhos.
De repente, já na terra, percebemos a necessidade de continuar
buscando novas coisas... um sonho puxa outro” (Ricardo José
Ferreira).
Os camponeses declararam não ter chegado ainda onde
queriam, pois ainda tem muito a conquistar: continuar os projetos
que são sonhos do assentamento como a Casa do Queijo que se
encontra parada atualmente embora seja vista como uma
possibilidade de melhorar o aproveitamento da ordenha, melhorar
a comercialização por um preço justo, etc.
Afirmam que a luta não tem paradeiro, é uma rotina tanto na
organização do assentamento quanto na cooperação com os
outros. “Quando a gente pensa sozinho o pensamento é curto e a
gente se dispersa. Quando a gente pensa junto o pensamento se
expande e o sonho cresce junto.” (José Gonçalves Terra).

10.2 - SE NÃO HOUVESSE INVESTIMENTOS, O


ASSENTAMENTO TERIA AVANÇADO?

“A Reforma Agrária só dá certo quando a gente acreditar,


quando as famílias estiverem juntas no trabalhado da terra. Mas
não basta ter o acesso a terra, mas também a água, a assistência
técnica adequada e a investimentos que garantam as condições
de produção e viabilizem a vida na terra”. (Manoel Ferreira dos
Santos).

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As famílias afirmam que não teriam chegado onde
chegaram sem a ajuda dos projetos porque as condições
financeiras das pessoas eram difíceis, “muitos não podiam
comprar sequer uma reis, nem investir na infra-estrutura para a
produção, talvez seria preciso voltar a vender o dia de trabalho
para sobreviver como acontecia no início da conquista da terra”
(José Carlos Ferreira).
Assim, fica claro que os investimentos públicos são
fundamentais para os assentamentos darem certo. Neste sentido,
Dom Jairo (In. Memória) argumentava que: “Todavia, devemos
nos convencer de que a Reforma Agrária é capaz de criar padrões
de vida mais dignos para a população rural e para o conjunto da
sociedade brasileira; será capaz de transformar nossa economia e
influenciar na democracia plena” (Jairo Rui Matos, texto publicado
no Jornal A tarde, 26 de outubro de 1983).

10.3 - PARTICIPAÇÃO DA JUVENTUDE – POR QUE


PARTICIPAM POUCO DA VIDA DO ASSENTAMENTO?

No assentamento existem muitos jovens que sabem o


sentido da Reforma Agrária e a sua importância para a sociedade
pois através dela podem produzir todo o alimento em terras que
antes não eram cultivadas. Esses jovens ajudam os pais na roça
ou em casa e estudam na cidade.
Alguns desses jovens tem vergonha de dizer que são do
campo por conta do preconceito e da discriminação que existe.
No assentamento, sentem a necessidade de ser ouvidos.
Dizem que muitos não dão chance para o jovem falar, porque “não
dão valor a palavra do jovem”. Queixam-se de não ter espaço pros
jovens, de não fazerem parte da diretoria da associação, de não
terem posse, nem projetos específicos de produção para os
jovens.
Quanto a isso, afirmam que por conta do projeto produtivo
que não deu certo com um grupo de jovens anterior, muitas
pessoas da comunidade perderam a confiança neles. Avaliam
que o projeto com os jovens não foi a frente porque havia muita
briga do grupo, “não conseguiam discutir conjuntamente e chegar

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a um consenso, alguns tiveram olho grande - queriam ter e saber
mais que os outros... e faltou responsabilidade de alguns”, mas a
principal causa apontada foi a desunião do grupo.
Para os jovens da Bela Conquista hoje, é preciso que o povo
da comunidade entenda que eles são uma nova geração que
precisa de oportunidades.
Afirmam que viver na Bela Conquista é bom porque é um
lugar tranquilo, mas falta trabalho, quando tem, é preciso trabalhar
duro o dia todo e o que se ganha é pouco. Além disso, na área
não há entretenimento e na escola, não são formados para voltar
para o campo. É o que enfatiza Freire (1996.p. 99) quando diz que
“Do ponto de vista dos interesses dominantes não há duvidas de
que a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora
de verdades”.

10.4 - LIÇÕES APRENDIDAS:

- Aprenderam através da convivência de cada um e com a


troca de experiência com outros grupos, observando o que estava
dando certo e eliminado o que estava errado;
- Aprenderam o que era uma comunidade na vivência
concreta do dia-a-dia;
- Aprenderam como o Estado funciona, que na organização
política da sociedade a lei não funciona igual para todos;
- identificaram que infelizmente a escola “é” do sistema
capitalista e que se os jovens tivessem uma educação do campo
teriam mais gosto pela roça, como acontece com os jovens que
estudam nas EFAS...
- Aprenderam como se faz uma sistematização de
experiências populares:
“Percebemos que no início estávamos sendo indagados
demais. Nós entendemos depois que a sistematização era feita
por nós e que nós é que tínhamos que dar as respostas” (José
Gonçalves Terra).
- Perceberam que está se renovando a prática de como
trabalhar a terra, e fortalecendo a relação com os parceiros;

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- Identificaram que fazer o estoque de sementes no coletivo
e de modo individual é imprescindível para garantir a autonomia.
Mulheres e homens, somos os únicos seres que social e
historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso
somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora,
algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a
lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar
para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura
do espírito. (FREIRE, 1996. p. 69).

10.5 - DIFICULDADES

 A comercialização, pois os preços são baixos quando é


produzido em grande quantidade e em períodos de estiagem há
dificuldade de produzir;
 A área de terra dos pais é pequena e a água limitada. Com
isso, alguns filhos(as) de assentados(as) ainda precisam sair da
área - ou migrar para outros Estados a fim de garantir a
sobrevivência.

10.6 - PERSPECTIVAS

 A luta por políticas públicas efetivas de convivência com o


Semiárido para que os efeitos da estiagem não sejam drásticos;
 Garantir a permanência dos filhos, conscientizando os mesmos
da importância de se trabalhar na terra, no lugar onde vivem;
 Valorizar as experiências dos jovens estudantes das Escolas
Família Agrícolas em momentos de estudo com a comunidade
e no cultivo; dar um acompanhamento para que haja uma
presença mais eficaz como retorno do trabalho da Escola;
 Valorizar a participação da juventude nas discussões e espaços
de decisão e da produção, fazendo com que despertem o
interesse e desenvolvam o sentimento de pertença como jovem
camponês. Quando os jovens tiverem propostas, compartilhar
com eles e buscar integrá-los.

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 Incentivar e desenvolver iniciativas de produção coletiva entre
os jovens tendo-os como atores principais;
 É necessário fortalecer as práticas de educação
contextualizada do e no campo e lutar para que sejam
garantidas as condições de trabalho e de vida digna no campo.

11. REFERÊNCIAS:

BALESTRO, Moisés Villamil; SAUER, Sérgio. Agroecologia e os


desafios da transição agroecológica. Editora Expressão
Popular. 2ª Ed. São Paulo, 2013. p. 11; 12; 13;
CPT Centro Norte/Diocese de Bonfim/BA. Diagnóstico da
Reforma Agrária, 2010. Arquivo.
FREIRE. Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
FALKEMBACH, Elza Maria Fonseca. Sistematização, uma arte
de ampliar cabeças. 2006.
JARA, Oscar. O desafio político de aprender de nossas
práticas. CEP (Centro de Estudos e Publicaciones Alforja – Costa
Rica). Tradução: Luciano Bernardi, CPT Bahia.
MATOS, Jairo Ruy. Pão Partilhado. Ed. Fonte Viva. P. 85.
SCHMITT, Claudia Job. A transição agroecológica e
desenvolvimento rural: Um olhar a partir da experiência
brasileira. In: BALESTRO, Moisés Villamil; SAUER, Sérgio.
Agroecologia e os desafios da transição agroecológica. Editora
Expressão Popular. 2ª Ed. São Paulo, 2013.
TROILO, Gabriel. Agroecologia na perspectiva dos
movimentos sociais do campo; A construção acadêmica da
agroecologia no meio acadêmico-científico. In:__ A
agroecologia e o desenvolvimento da agricultura familiar: Avanço
ou retrocesso para a organização da classe trabalhadora do
campo? (monografia).

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