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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo


SESSÃO ORDINÁRIA
18-12-2017

PROCESSO Nº 43-29.2013.6.08.0040 - CLASSE 31


NOTAS TAQUIGRÁFICAS – Fl. 1/14

RELATÓRIO

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Trata-se de Recurso Criminal interposto por MARCUS
ALFREDO SOARES SANTIAGO, JAILSON MOREIRA ROBERTO, MARCELO JOSÉ
MORELO, DALTON HENRIQUE PINÃO e FLÁVIO AUGUSTO COLA ROCHA em face
da r. sentença de fls. 398/406, proferida pelo MM. Juiz da 40ª Zona Eleitoral do Espírito Santo,
que julgou procedente a pretensão punitiva estatal, condenando-os pela prática do crime previsto
no art. 299 do Código Eleitoral.
A denúncia narra que no dia 03 de outubro de 2012, no Posto de Gasolina Recanto
Verde, conhecido como ALE, na cidade de Conceição do Castelo os acusados teriam fornecido
combustível em troca de votos em favor do candidato Dalton Henrique Pinão.
A denúncia foi recebida em 13/06/2013 (fl. 195), tendo os acusados apresentado
resposta à acusação às fls. 204/226 e a ação prosseguido com a realização de audiência de
instrução e julgamento em 19/12/2013 (fl. 296) com a oitiva de testemunhas, cujos termos foram
registrados eletronicamente nos CD's-ROM acostados à fl. 297 e à fl.303, e os interrogatórios dos
acusados (fl.302), cujos termos também constam do CD-ROM de fl.303.
Encerrada a instrução processual, a Acusação apresentou suas alegações finais às
fls. 326/330vº e a Defesa às fls. 336/386.
Proferida a sentença de fls. 398/405, todos os acusados foram condenados a
uma pena de um ano de reclusão, sendo substituída por uma restritiva de direitos
consistente na prestação de serviços à comunidade, e, além disso, os acusados MARCUS,
DALTON e FLÁVIO foram condenados à pena de 10 (dez) dias-multa e os acusados
JAILSON e MARCELO a uma pena de 01(um) dia-multa, ambas com valor unitário de
1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos, tendo-lhes sido imputado o crime previsto
no art. 299 do Código Eleitoral. Além do mais, nos termos do art. 22, XIV, da Lei
Complementar nº 64/90, o juízo condenatório declarou os recorrentes inelegíveis pelo
prazo de oito anos subsequentes ao pleito de 2012.
Irresignados, os Recorrentes interpuseram recurso às fls. 409/450, por meio do
qual requereram a reforma integral da sentença objurgada, para o fim de absolvê-los do crime a
eles imputado.
Em contrarrazões, o Ministério Público se manifestou às fls. 453/458vº, pugnando
pela manutenção da sentença recorrida.
Ao depois, os autos foram remetidos a esse egrégio TRE, sendo autuados,
distribuídos e encaminhados ao douto Procurador Regional Eleitoral, que apresentou seu parecer
às fls.461/472, pelo conhecimento e provimento do recurso interposto pelos acusados.
Eis, em síntese, o relatório.
Ao revisor.
VOTO
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(Preliminar 1 - Alegada preclusão para o processamento desta ação)

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Trata-se de recurso eleitoral interposto por MARCUS
ALFREDO SOARES SANTIAGO, DALTON HENRIQUE PINÃO, FLÁVIO AUGUSTO
COLA ROCHA, JAILSON MOREIRA ROBERTO e MARCELO JOSÉ MORELO, em
face da sentença de fls. 398/405v.
Cumpre registrar, ab initio, que o presente recurso preenche os requisitos
intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, pelo que entendo que ele deva ser conhecido.
Em suas razões recursais (fls.411/450), os acusados alegam que (1) ocorreu a
preclusão para ajuizar a Ação de Reclamação de Captação Irregular de Sufrágio, tendo em vista
que o Ministério Público não observou o prazo de 05 (cinco) dias, pois teria tomado
conhecimento do fato em 04/10/2012 e ajuizou a ação de reclamação por captação ilícita de
sufrágio em 03/12/2012; (2) as provas obtidas seriam ilícitas, uma vez que a própria Polícia Civil
preparou o flagrante; (3) os policiais civis que participaram do flagrante também teriam cometido
o crime previsto no art. 299 do C.E.; (4) a atipicidade da conduta de todos os acusados, alegando
não haver o dolo específico previsto no art. 299 do C.E.; (5) que o fato a eles imputado seria
atípico também sob o argumento de que os dois policiais civis que participaram do flagrante não
eram eleitores; (6) nulidade da sentença por não ter promovido a individualização das condutas e
das penas imputadas aos acusados, ora recorrentes.
Em sede de contrarrazões o Ministério Público Eleitoral, se manifestou às
fls.453/459 pela manutenção da condenação dos recorrentes, sustentando que I) não há preclusão
para o ajuizamento da presente ação, pois o prazo em questão seria o prazo prescricional previsto
no Código Penal; II) regularidade do auto de prisão em flagrante delito, pois se trataria de
flagrante esperado e não flagrante preparado; III) sustentou que a conduta de todos os acusados é
típica, havendo provas de autoria e materialidade para a condenação deles. Contudo, nada falou
acerca da alegação de que os policiais civis teriam cometido o delito previsto no art. 299 do C.E.
ao abordarem o frentista que os atendeu, também nada dizendo quanto à alegação de nulidade da
sentença no tocante à ausência de individualização das condutas e das penas dos acusados.
O d. Procurador Regional Eleitoral se manifestou nos autos às fls.461/472, no
sentido de ser conhecido e provido o recurso interposto, fundamentando seu parecer no
sentido de que (A) não houve preclusão da matéria discutida na presente ação, pois o prazo
decadencial de 05 (cinco) dias se aplica à ação por captação ilícita de sufrágio e não à ação penal
sobre o cometimento do crime previsto no art. 299 do C.E.; (B) que a prova colhida nos autos é
lícita, em especial àquelas decorrentes do auto de prisão em flagrante, pois não teria havido por
parte da autoridade policial o induzimento para que os acusados cometessem o delito, não
havendo, portanto, o flagrante preparado; (C) que não ficou demonstrado que os frentistas
(JAILSON e MARCELO) e o dono do posto de gasolina (MARCUS) possuíam algum vínculo
político com o então candidato e acusado DALTON, sustentando que eles não teriam cometido a
infração penal a eles imputada; (D) a despeito dos indícios de autoria em relação aos acusados
DALTON e FLÁVIO, sustenta que não houve a caracterização do crime, pois não foi possível
identificar os eleitores ou grupo de eleitores que teriam sido aliciados pela conduta dos acusados.

Pois bem.
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PRELIMINAR (1) - ALEGADA PRECLUSÃO PARA O PROCESSAMENTO
DESTA AÇÃO
Os recorrentes sustentaram a ocorrência de preclusão para o ajuizamento da ação
de reclamação por captação ilícita de sufrágio, sob o fundamento de que a presente ação foi
ajuizada em momento muito posterior ao quinquídio legal.
Todavia, tal alegação não merece prosperar, pois os recorrentes confundem
institutos e ritos procedimentais, fugindo completamente da lógica processual.
Da simples análise processual, nota-se que, a despeito do direito material discutido
guardar relação direta com a competência em matéria eleitoral, a presente demanda é
eminentemente de cunho penal.
Ou seja, apesar das figuras de “captação ilícita de sufrágio”, que ensejariam
demanda a ser ajuizada no prazo de cinco dias mencionada pelos recorrentes, e a “corrupção
eleitoral”, prevista no art. 299 do Código Eleitoral, guardarem certa similitude, em nada se
parecem no tocante ao procedimento adotado para seu processamento e aplicação de eventuais
sanções.
O caso dos autos é o de acusação penal formal, de crime previsto no art. 299 da
Lei 4.737/65, que é processada seguindo o rito de ação penal pública, com competência da
Justiça Eleitoral para seu julgamento.
Portanto, não há falar em preclusão da presente ação, pois não se trata de uma
representação eleitoral, mas sim de ação penal, cuja persecução estatal só seria afastada na
hipótese de prescrição da pretensão punitiva, prevista no art. 109 do Código Penal, o que não se
verifica no caso, pois o prazo prescricional em questão é de oito anos (CP, art. 109, IV), tendo
como último marco interruptivo da prescrição o proferimento da sentença condenatória em
07/03/2017 (CP, art.117, IV), não havendo a incidência de nenhuma causa de redução do prazo
prescricional (CP, Art. 115) e nem a ocorrência de prescrição intercorrente ou retroativa.
Ante o exposto, REJEITO essa preliminar, declarando regular o trâmite da ação
penal.

O Sr. JURISTA RODRIGO MARQUES DE ABREU JÚDICE (REVISOR);-


Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

TAMBÉM ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:-


O Sr. Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa;
O Sr. Juiz de Direito Helimar Pinto;
O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e
O Sr. Juiz Federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa.

VOTO
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(Preliminar 2 - Alegada ilicitude do auto de prisão em flagrante)

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Aduzem os recorrentes que o auto de prisão em flagrante que
deu embasamento à presente ação penal estaria eivado de nulidade, tendo em vista que a autuação
dos acusados teria se dado em um flagrante preparado, e, portanto, todas as provas dele
decorrentes seriam nulas, ante a teoria dos frutos da árvore envenenada.
Entendo que também não merece prosperar tal alegação.
Comungo do entendimento do magistrado do Juízo condenatório quanto a esse
ponto, cujos fundamentos reitero e integro ao presente voto, pois o auto de prisão em flagrante
dos acusados, ora recorrentes, obedeceu aos ditames legais, não havendo a ocorrência da
nulidade alegada, se tratando do denominado “flagrante esperado” e não “flagrante preparado”.
Destaca-se que em nenhum momento os agentes que participaram da diligência
policial instigaram ou provocaram os envolvidos a praticarem a suposta conduta delituosa,
hipótese em que se poderia enquadrar em flagrante preparado.
O que se verificou no caso dos autos é que os policiais se dirigiram ao posto de
gasolina de propriedade de um dos acusados, a fim de averiguar suposta ação criminosa de
distribuição de combustível para fins eleitoreiros e quando lá chegaram foram recebidos por um
dos frentistas que repassou o atendimento a um outro funcionário que, mediante a apresentação
de um “vale combustível” iniciou o abastecimento do veículo.
Conforme entendimento sumulado do STF, o flagrante é preparado quando o
agente policial induz ou instiga o cometimento do delito. O fato de os policiais terem ido à
paisana, não declarando a natureza da operação, não se trata de “delito de ensaio”, mormente por
se tratar de crime formal, cuja consumação ocorre com a entrega do vale ao eleitor com o fim de
lhe obter voto. Em caso semelhante, o Supremo Tribunal Federal assim decidiu:

"(...) Não caracteriza flagrante preparado, e sim flagrante esperado, o


fato de a Polícia, tendo conhecimento prévio de que o delito estava prestes a ser
cometido, surpreende o agente na prática da ação delitiva." (HC 78250, Relator
Maurício Corrêa, Segunda Turma, julgamento em 15.12.1998, DJ de 26.2.1999) – grifo
nosso

Vale a colação de outros julgados pautados sobre a Súmula 145 do STF:

"Quanto à segunda alegação, em que requer seja reconhecido o flagrante


preparado, tenho para mim ser de todo irreparável a decisão proferida pelo STJ que
assentou: 'o fato de os policiais condutores do flagrante terem se passado por
consumidores de droga, como forma de possibilitar a negociação da substância
entorpecente com o ora paciente e demais corréus, não provocou ou induziu os
acusados ao cometimento do delito previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006, sobretudo
porque o tipo do crime de tráfico é de ação múltipla, admitindo a fungibilidade entre os
seus núcleos, consumando-se, apenas, com a guarda da substância entorpecente com o
propósito de venda, conforme restou evidenciado na espécie'."
(HC 105929, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
julgamento em 24.5.2011, DJe de 6.6.2011) - grifei
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"(...) 2. Crime impossível (Súmula 145): não ocorrência, no caso. O fato
como descrito na denúncia amolda-se ao que a doutrina e a jurisprudência tem
denominado flagrante esperado, dado que dele não se extrai que o paciente tenha sido
provocado ou induzido à prática do crime."
(HC 86066, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Primeira Turma,
julgamento em 6.9.2005, DJ de 21.10.2005). - grifei

Dessa forma, resta verificada a regularidade do auto de prisão em flagrante, de


modo que não há falar em ilicitude das provas dele derivadas, razão pela qual também REJEITO
essa preliminar.

O Sr. JURISTA RODRIGO MARQUES DE ABREU JÚDICE (REVISOR);-


Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

TAMBÉM ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:-


O Sr. Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa;
O Sr. Juiz de Direito Helimar Pinto;
O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e
O Sr. Juiz Federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa.

VOTO

(Preliminar 3 – Suposta conduta ilegal dos policiais civis)

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Os recorrentes, em uma construção argumentativa jurídica
truncada, alegando que o Ministério Público teria realizado um tratamento desigual, chegaram a
defender que os policiais civis que participaram do flagrante também teriam incorrido no crime
previsto no art. 299 do Código Eleitoral, pois “(...)solicitaram o abastecimento de seu veículo
para apoio político – voto – em favor do candidato Dalton Pinão...” (fl.429).
Além do mais, chegam a questionar se, diante disso, o próprio Ministério Público
também não teria cometido crime, o de “(...)omissão do dever legal de denunciar(...)”.
Entendo desnecessárias maiores digressões sobre tal alegação, eis que patente seu
descabimento, mormente pela legalidade do auto de prisão em flagrante e a regularidade da
atuação dos policiais civis, tendo os recorrentes confundido os institutos do Direito Penal que
tratam do conceito de crime e de excludentes penais. Ademais, o a rejeição da preliminar
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antecedente, acarreta de forma reflexa na rejeição da ora analisada, pois, em termos, confunde-se
com a anterior.
Assim, REJEITO a preliminar.

O Sr. JURISTA RODRIGO MARQUES DE ABREU JÚDICE (REVISOR);-


Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:-


O Sr. Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa;
O Sr. Juiz de Direito Helimar Pinto;
O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e
O Sr. Juiz Federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa.

VOTO

(Preliminar 4 – Alegada ausência de individualização da pena)

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Em que pese os recorrentes não terem trazido essa questão em
sede preliminar, apresentando-a ao final do seu recurso (fl.449), entendo que ela deva ser
enfrentada antes da análise meritória.
Os recorrentes de maneira sucinta alegaram a nulidade da sentença condenatória,
sustentando não ter havido a observância da individualização das penas impostas aos acusados.
Todavia, nota-se que o magistrado que prolatou a sentença condenatória de fls.
398/405vº observou o critério trifásico da aplicação da pena, levando em consideração os
parâmetros legais para fixação da pena.
Ficando mais evidenciada a individualização da sanção penal quando se observa a
pena de multa aplicada nos autos, sendo que os acusados MARCUS, DALTON e FLÁVIO foram
condenados à pena de 10 (dez) dias-multa e os acusados JAILSON e MARCELO a uma pena de
01(um) dia-multa, ambas com valor unitário de 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos,
pois foram levadas as circunstâncias pessoais de cada um dos acusados.
Desta feita, REJEITO a alegada preliminar de nulidade da sentença por ofensa ao
princípio da individualização da pena.

*
O Sr. JURISTA RODRIGO MARQUES DE ABREU JÚDICE (REVISOR):-
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Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:-


O Sr. Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa;
O Sr. Juiz de Direito Helimar Pinto;
O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e
O Sr. Juiz Federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa.

VOTO

(Mérito)

O Sr. JURISTA ADRIANO ATHAYDE COUTINHO (RELATOR):-


Senhor Presidente: Afastadas as questões preliminares, passo a analisar o mérito
recursal propriamente dito.
O caso dos autos versa sobre o crime de corrupção eleitoral, com previsão legal no
artigo 299, do Código Eleitoral:

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para


outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para
conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

O delito do art. 299 do Código Eleitoral constitui crime comum, tendo como
sujeito ativo qualquer pessoa que pratique as condutas descritas no tipo penal, desde que a
vantagem, a promessa ou o benefício vise à obtenção de voto ou sua abstenção.
Conforme nos ensina a doutrina de FÁVILA RIBEIRO:

“Esse crime corresponde ao ambitus dos romanos, com atualizado


dimensionamento, abrangendo simultaneamente quem dá, quem se propõe a dar,
promete, recebe, para seu proveito ou de outrem, dinheiro, ou qualquer outra
recompensa, em troca de voto ou por promessa de abstenção.
É crime também de consumação imediata, desde que configurada
quaisquer das hipóteses esboçadas, desde o momento em que a oferta é exteriorizada,
haja ou não acolhida.
A consumação do crime encontra-se no momento da oferta ou da dação
em pagamento, não ficando a depender da realização do ato ou do cumprimento da
abstenção.
É necessária a existência de qualquer recompensa, dada ou prometida,
para conseguir o voto ou abstenção de um ou mais eleitor, representada por alguma
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vantagem, qualquer coisa que possa suscetibilizar o interesse de outrem, como emprego,
promoção, recompensa pecuniária, utensílios, dispensa de uma obrigação
convencionada, concessão de bolsa de estudos, distribuição de remédios, de brindes e de
material escolar.
A materialidade do crime desponta com a oferta, e pode envolver o
destinatário da oferenda, desde o momento da aquiescência à proposta que lhe é
dirigida, comprometendo-se a votar ou abster-se de votar.”
(RIBEIRO, Fávila. Direito Eleitoral. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000)

Ensina SUZANA DE CAMARGO GOMES que a norma do art. 299 do Código


Eleitoral “visa resguardar a liberdade do sufrágio, a emissão do voto legítimo, sem estar afetado
por qualquer influência menos airosa” (GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 242).
Nessa linha, assevera ANTÔNIO CARLOS DA PONTE que a “objetividade
jurídica do crime é a liberdade de voto, de modo que os pleitos sejam realizados com
regularidade e lisura”, protegendo-se “a transparência e a honestidade do processo eleitoral”
(PONTE, Antônio Carlos da. Crimes Eleitorais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 103-104).
Acrescenta referido autor, que:

“A corrupção eleitoral ativa só poderá ser reconhecida se o oferecimento,


a promessa ou a dádiva ocorrerem em benefício de um determinado candidato e a ação
do agente for direcionada a um dado eleitor ou grupo de eleitores, sendo, portanto,
imprescindível a individualização da vantagem ou lucro acenado. ”
(PONTE, Antônio Carlos, ob. cit., p. 104)

Não se exige a comprovação de pedido explícito ou direto de voto, mas há


de se demonstrar que a conduta do agente possuía a finalidade de angariar voto ou abstenção de
voto (TSE, AgRg nº 6014, j. 15/03/2007).

Por outro lado, é indispensável à configuração desse delito a existência de


elementos que indiquem, satisfatoriamente, a negociação do voto ou da abstenção através do
oferecimento, promessa ou doação de alguma vantagem ou benefício para o eleitor. Nesse
sentido, tem se posicionado a Corte Superior, senão vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENAL.


PREFEITO, VICE-PREFEITO E VEREADOR. CRIME DE CORRUPÇÃO
ELEITORAL. ART. 299 DO CE. DOLO ESPECÍFICO. COMPROVAÇÃO. PROVA
INDIRETA. PRAZO PRESCRICIONAL. CONTAGEM. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA
DO ART. 115 DO CP. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE. CRITÉRIOS ABSTRATOS E
GENÉRICOS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Para a configuração do delito de corrupção
eleitoral exige-se a finalidade de obter ou dar o voto ou conseguir ou prometer a
abstenção, o que não se confunde com o pedido expresso de voto. Precedentes. 2. A
verificação do dolo específico em cada caso é feita de forma indireta, por meio da
análise das circunstâncias de fato, tais como a conduta do agente, a forma de
execução do delito e o meio empregado.” (Agravo Regimental em Agravo de
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Instrumento nº 7758, Acórdão de 06/03/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY
ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 65, Data 09/04/2012,
Página 16)

O tipo penal, portanto, não admite a modalidade culposa, exigindo-se uma


finalidade (dolo) específica, qual seja, a intenção de obter ou dar voto ou promessa da
abstenção. Com isso, tal finalidade deve estar presente, sob pena de não restar configurado o
ilícito penal previsto no art.299 do C.E. Senão, vejamos:

“RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL. CRIME. ARTIGO 299 DO CE. CORRUPÇÃO ELEITORAL. DISTRIBUIÇÃO
DE COMBUSTÍVEL A ELEITORES. REALIZAÇÃO DE PASSEATA. ALEGAÇÃO.
AUSÊNCIA. DOLO ESPECÍFICO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. PROVIMENTO. 1.
Esta Corte tem entendido que, para a configuração do crime descrito no art. 299 do CE,
é necessário o dolo específico que exige o tipo penal, qual seja, a finalidade de "obter ou
dar voto" e "conseguir ou prometer abstenção". Precedentes. 2. No caso, a peça
inaugural não descreve que a distribuição de combustível a eleitores teria ocorrido em
troca de votos. Ausente o elemento subjetivo do tipo, o trancamento da ação penal é
medida que se impõe ante a atipicidade da conduta. 3. Recurso parcialmente provido e,
nesta extensão, concedida a ordem para trancar a ação penal ante a atipicidade da
conduta.
(TSE - RHC: 142354 GO, Relator: Min. LAURITA HILÁRIO VAZ, Data
de Julgamento: 24/10/2013, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
232, Data 05/12/2013, Página 67/68)

Feitas tais considerações gerais acerca da norma estatuída no art. 299, do Código
Eleitoral, passo a apreciar o conjunto probatório colacionado aos presentes autos, bem como as
ponderações da Acusação recorrida e da Defesa recorrente.
A denúncia narra que no dia 03 de outubro de 2012, no Posto de Gasolina Recanto
Verde, conhecido como 'Posto ALE', na cidade de Conceição do Castelo os acusados teriam
fornecido combustível em troca de votos em favor do candidato Dalton Henrique Pinão.
Segundo a denúncia, a participação do acusado MARCUS no delito se deu em
razão de ele, na qualidade de proprietário e administrador do posto de gasolina, ser o responsável
pela emissão dos vales combustível', enquanto que a participação dos acusados JAILSON e
MARCELO se daria porque recebiam os vales e realizavam os abastecimentos.
Em relação ao acusado FLÁVIO, por ser coordenador de campanha, sua
participação seria a de fornecer, recolher e realizar o pagamento dos mencionados vales. Já
quanto ao acusado DALTON, na figura de candidato, seria aquele beneficiado com o apoio
político comprado com a distribuição dos vales combustível.
Da leitura das peças informativas do inquérito policial que embasou a ação penal,
destacam-se os depoimentos dos condutores do flagrante, o da policial civil Maria Nivalda
Simões Barbosa (fls. 09/10) e do Delegado de Polícia Juarez Serafim Leite Junior (fls. 11/12),
ratificados na fase processual, narrando de forma semelhante que, diante de uma denúncia
encaminhada pela douta Promotora de Justiça Eleitoral, foram apurar supostos crimes eleitorais
no posto de gasolina em questão.
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E, segundo os condutores, quando lá chegaram, já de posse de um 'vale
combustível” perguntaram ao frentista “se era verdade que estavam abastecendo com vale do
candidato Dalton Henrique Pinão, mostrando referido vale, e ele respondeu que sim”.
Ou seja, nota-se que quando da abordagem policial, os agentes não solicitaram a
nenhum dos acusados o fornecimento de um vale combustível e nem os acusados chegaram a
oferecer-lhes tal vale, tendo em vista que já o possuíam, oriundo de uma 'denúncia anônima”,
conforme depoimento da testemunha de acusação Maria Nivalda em sede de instrução
processual.
Dessa forma, o que foi perguntado ao frentista e acusado MARCELO, era se o
posto de gasolina estava abastecendo através daquele vale apresentado pelo policial à paisana,
pelo que foi dito que sim.
Então, a abordagem policial, por si só, não revela o fim de captação ilícita de
votos, mas tão-somente comprova que aquele posto de gasolina era utilizado pela campanha
eleitoral do acusado DALTON para o fornecimento de combustível, ainda que o contexto
desse abastecimento seja suspeito, mas não ficou demonstrado de forma segura a intenção
eleitoreira, pois os policiais nem mesmo chegaram a anunciar apoio ao candidato, somente
perguntando acerca do vale.
Inclusive, o acusado MARCUS, dono do posto de gasolina sustentou a tese de que
eleitores não abasteciam com o uso desses vales mas somente os candidatos da coligação do
acusado DALTON teriam acesso a seu estabelecimento comercial através dos vales combustível
que ele emitia. Diz, ainda, que o candidato da coligação pagava antecipadamente pelo
combustível e a quantidade de litros de gasolina era preenchida previamente.
Da leitura dos denominados “vales”, que se encontram acondicionados dentro de
um envelope plástico branco acostado na contracapa do inquérito policial, nota-se tratar de notas
com timbre do “Auto Posto Recanto Verde”, em que somente consta a quantidade de
combustível, variando de notas com cinco litros e outras com dez litros, constando o dizer
“VALE” e o carimbo com as iniciais e sobrenome do acusado MARCUS, 'M.A.S.SANTIAGO' e
a assinatura do vendedor.
Não consta nos mencionados vales data de abastecimento ou preenchimento do
documento, nem a placa do veículo autorizado ou o nome do candidato.
Foram apreendidos, além daqueles que estavam na posse dos frentistas, outros em
uma cabine do posto de gasolina, tendo, ainda, sido apreendido computador utilizado para o
lançamento dos abastecimentos.
Pelo confrontamento dos documentos apreendidos e os dados coletados, bem como
as informações prestadas pela Justiça Eleitoral quanto às prestações de contas dos candidatos da
coligação política que contratou o posto de gasolina, em especial a do acusado DALTON, nota-se
a ocorrência de irregularidades quanto aos registros dos abastecimentos, das placas dos veículos,
dos candidatos e os lançamentos dessas distribuições quando das prestações de contas.
A despeito dessas irregularidades, não restou cabalmente demonstrado que os
vales combustível foram fornecidos a eleitores para fins de aliciar seus votos, de modo que, com
relação à conduta do acusado MARCUS, entendo que não há indícios seguros de que ele
tenha sido agenciado para executar atividades além daquelas de cunho comercial com a
coligação política “Por Amor e Respeito a essa terra” e com o acusado DALTON.
Cumpre consignar que em nenhum momento o acusado MARCUS negou a
emissão ou distribuição desses vales, se negando, porém, a declarar que suas atividades
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extrapolavam os limites legais da prestação de serviços e o fornecimento de produtos,
chegando a dizer em seu interrogatório (fl.303) que não sabia qual o destino que os candidatos
davam aos vales.
Com isso, tenho que o acusado MARCUS não ofereceu ou distribuiu
combustível em troca de votos, se limitando a vender/fornecer combustível à Coligação “Por
Amor e Respeito a essa terra” que por sua vez repassava os vales aos candidatos, a quem
competia a distribuição.
No que diz respeito aos acusados JAILSON e MARCELO, a denúncia narra que
eles eram frentistas do posto de gasolina do acusado MARCUS e que estariam envolvidos nos
fatos, pois eram eles que procediam o abastecimento através dos vales combustível.
O Ministério Público sustenta que eles teriam participação no esquema, contudo,
da análise das provas colhidas, tanto na esfera policial, quanto na fase processual, não
demonstraram qualquer vínculo político deles com o acusado DALTON.
Ao que consta nos autos, eles não possuíam qualquer gerência sobre os
atendimentos e abastecimentos, não competindo a eles a administração do estabelecimento
comercial e que teriam recebido ordem do proprietário para proceder o abastecimento de
gasolina através dos vales combustível a carros da coligação política.
Conforme relato de um outro funcionário do referido posto de gasolina, a
testemunha Elton Luis Graciano Ferreira (fls. 60/69 e fl.303), os abastecimentos só eram
realizados a carros de candidatos políticos e que a orientação dada pelo acusado MARCUS era
justamente no sentido de que os candidatos que estivessem com os vales deveriam ser atendidos.
Dessa forma, quando os policiais civis chegaram no posto de gasolina no dia dos
fatos e perguntaram aos frentistas sobre o abastecimento dos vales referentes à campanha do
candidato Dalton Pinão, a resposta de fato seria positiva, eis que foi a orientação recebida por
eles.
O acusado FLÁVIO defende a tese de que só era fornecido combustível a veículos
cadastrados de candidatos da coligação “Por Amor e Respeito a essa terra”, cujas placas eram
devidamente registradas. Além disso, diz em seu interrogatório que somente realizou a
distribuição dos vales a candidatos a vereador e negou desconhecer a quantidade de vales
emitidos.
O acusado DALTON também nega categoricamente a distribuição de combustível
para fins de corrupção, afirmando que somente eram distribuídos os vales a candidatos a vereador
pertencente à coligação.
Há de se pontuar que a prática de distribuição de combustível realizada dentro de
um contexto político, em período de campanha eleitoral é questão tormentosa diante das inúmeras
arestas que ela pode gerar.
O cotejo entre os documentos trazidos aos autos, aqueles que constam nos três
volumes anexos e os depoimentos das testemunhas e acusados, tanto na fase policial quanto na
fase processual, revela a existência de diversas inconsistências relacionadas aos abastecimentos
ante a falta do controle e registros dos veículos e pessoas autorizadas, a prestação de contas do
candidato e a declaração fiscal tributária do posto de gasolina acerca desses abastecimentos.

As provas dão contam da utilização de vales combustível por parte da coligação


“Por Amor e Respeito a essa terra”, mas não há prova segura de que tais vales era utilizados
para captar ilicitamente votos.
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Na espécie, não há elementos de prova contundentes a corroborar a prática
ilícita, sobretudo porque, não houve a identificação de nenhum eleitor que teria se
beneficiado pela distribuição do combustível.
A bem da verdade, somente os dois policiais que realizaram a prisão em
flagrante foram ouvidos e falaram expressamente sobre os abastecimentos e nada disseram
sobre os acusados terem pedido voto mediante a distribuição do combustível.
Com efeito, sem a confirmação de que tenha havido, efetivamente, a distribuição
de combustível com a finalidade clara de troca de votos para o então candidato Dalton Pinão, a
alegada materialidade por parte do Ministério Público não encontra respaldo em razão da
ausência de demonstração do dolo específico exigível à configuração do ilícito penal discutido
nos autos.
Ou seja, não se comprovou cabalmente a presença do dolo exigido para a
configuração do delito de corrupção eleitoral: o fim de obter voto.
E o ônus da prova recaía para a Acusação e não para os acusados, que gozam de
presunção de inocência, nos ditames da norma constitucional do in dubio pro reo.
Quadra registrar que o fato de o posto de gasolina não ter feito o devido controle
acerca dos abastecimentos, não mantendo nem sequer uma lista com os veículos cadastrados,
apesar de suspeito, não é fato típico e nem muito menos se amolda ao crime imputado aos
acusados.
Com isso, das circunstâncias expostas, tem-se que as provas são frágeis, não se
revelando suficientes para reconhecer que os recorrentes teriam distribuído combustível em troca
de votos, de maneira a configurar o dolo específico estabelecido pelo tipo penal a ensejar o
decreto condenatório.
A deficiente identificação das pessoas supostamente corrompidas e a
impossibilidade de determinar se, de fato, a distribuição de combustível se dava somente para os
candidatos da coligação ou para eleitores no geral, já seriam indicativos bastantes para afastar a
ocorrência da infração.
Nos depoimentos coligidos nos autos, como se poder verificar, não há nenhuma
menção das testemunhas quanto ao condicionamento do voto de algum eleitor à percepção de
vantagem oferecida ou prometida pelo acusado Dalton Pinão ou os demais acusados.
Dessa forma, frisa-se, não ficou sobejamente demonstrado o dolo específico no
comportamento dos agentes, qual seja, a intenção inequívoca de corromper o eleitor para que nele
votasse em troca do benefício.
Na falta de comprovação da prática de alguma das ações descritas no art. 299 do
Código Eleitoral, ou seja, o dolo específico de "obter ou dar voto" ou "conseguir ou prometer
abstenção" a determinado candidato, não há adequação típica, o que afasta a reprovabilidade da
conduta.
A jurisprudência é firme no sentido de que é necessária a existência de doação ou
promessa concreta de benefício em troca de voto, não bastando à condenação a mera presunção
de sua ocorrência, conforme se verifica:

CRIME DE CORRUPÇÃO ELEITORAL (ART. 299 DO CÓDIGO


ELEITORAL) - NECESSIDADE DE DOLO ESPECÍFICO - VANTAGENS OFERECIDAS
POR CANDIDATOS EM FAVOR DE CABO ELEITORAL DE ADVERSÁRIO -
AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO - OBTENÇÃO DE VOTO OU PROMESSA DE
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VOTO DE ELEITOR - IMPROCEDÊNCIA DA ACUSAÇÃO - PRECEDENTES DO TSE.
"Sendo elemento integrante do tipo em questão a finalidade de 'obter ou dar voto ou
prometer abstenção', não é suficiente para sua configuração a mera distribuição de
bens. A abordagem deve ser direta ao eleitor, com o objetivo de dele obter a promessa de
que o voto será obtido ou dado ou haverá abstenção em decorrência do recebimento da
dádiva"
[TSE. Habeas Corpus n. 463, de 3.10.2003, rei. Min. Luiz Carlos Lopes
Madeira] [TRESC. Acórdão n. 26.894, de 20.8.2012, rei. Juíza Bárbara Lebarbenchon
Moura Thomaselli - grifou-se].

Não é demais lembrar que “[...] Nenhuma acusação penal se presume


provada. Não compete ao réu demonstrar a sua inocência. Cabe ao Ministério Público
comprovar, de forma inequívoca, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalece, em nosso
sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político
brasileiro (Estado Novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes
autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência (Decreto-Lei nº 88, de
20/12/37, art. 20, n. 5). (...)” - STF. HC 73338, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira
Turma, julgado em 13/08/1996, DJ 19-12-1996 PP-51766 EMENT VOL-01855-02 PP-00270).

Destarte, diante da precariedade das provas acostadas aos autos, na esteira do


parecer do Procurador Regional Eleitoral, é imperiosa a absolvição dos acusados, ora
recorrentes, ante a ausência de comprovação do dolo específico a configurar o crime de
corrupção eleitoral, nos termos do art. 299, do Código Eleitoral.
Por tais razões, CONHEÇO DO RECURSO e, no mérito, lhe DOU
PROVIMENTO, para REFORMAR A SENTENÇA E ABSOLVER OS RECORRENTES
DA ACUSAÇÃO A ELES IMPOSTA, por inexistirem provas suficientes, nos moldes do
artigo 386, VII, do Código de Processo Penal.
É como voto.

O Sr. JURISTA RODRIGO MARQUES DE ABREU JÚDICE (REVISOR);-


Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

*
VOTO

O Sr. DESEMBARGADOR RONALDO GONÇALVES DE SOUSA:-


Senhor Presidente: Acompanho o eminente Relator.

PEDIDO DE VISTA

O Sr. JUIZ DE DIREITO HELIMAR PINTO:-


Senhor Presidente: Respeitosamente, peço vista dos presentes autos.
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*

DECISÃO: Adiada em virtude de pedido de vista formulado pelo Dr. Helimar Pinto.

Presidência do Desembargador Annibal de Rezende Lima.


Presentes o Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa e os Juízes Helimar Pinto, Aldary
Nunes Júnior, Adriano Athayde Coutinho, Rodrigo Marques de Abreu Júdice e Marcus Vinícius
Figueiredo de Oliveira Costa.
Presente também o Dr. André Carlos de Amorim Pimentel Filho, Procurador Regional Eleitoral
(Suplente).
\cds
PODER JUDICIÁRIO
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SESSÃO EXTRAORDINÁRIA
30-01-2018

PROCESSO Nº 43-29.2013.6.08.0040 - CLASSE 31 – (Continuação do julgamento)


NOTAS TAQUIGRÁFICAS – Fls. 1/4

VOTO-VISTA

O Sr. JUIZ DE DIREITO HELIMAR PINTO:-


Senhor Presidente: Apenas para rememorar, trata-se de Recurso criminal
interposto por Marcus Alfredo Soares Santiago, Jailson Moreira Roberto, Marcelo José Morelo,
Dalton Henrique Pinão e Flávio Augusto Cola Rocha em face da sentença de fls. 398/406,
proferida pelo MM. Juiz da 40ª Zona Eleitoral do Espírito Santo, através da qual julgou-se
procedente a pretensão punitiva estatal, condenando-se os ora recorrentes pela prática do crime
previsto no art. 299, do Código Eleitoral, declarando-se, ainda, a inelegibilidade dos mesmos para
as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes ao pleito de 2012.
Condenaram-se, também, os réus Marcus Alfredo Soares Santiago, Dalton
Henrique Pinão e Flávio Augusto Cola Rocha ao pagamento de 10 dias – multa, e Jailson Moreira
Roberto e Marcelo José Morelo, ao pagamento de 1 dia-multa, sendo o dia-multa arbitrado em
1/30 do salário vigente à época dos fatos.
Segundo a denúncia, os ora recorrentes, no dia 03 de outubro de 2012, teriam
fornecido combustível em troca de votos para o candidato Dalton Henrique Pinão, no Posto de
Gasolina Recanto Verde, na cidade de Conceição do Castelo.
Conforme ressaltou o ilustre relator, Dr. Adriano Athaíde Coutinho, os recorrentes
interpuseram recurso, aduzindo, em síntese, que não houve fornecimento de gasolina em troca de
obtenção de votos, requerendo, ao final, as suas respectivas absolvições pela suposta prática do
crime previsto no art. 299, do Código Eleitoral.
Embora o Ministério Público de primeiro grau tenha apresentado contrarrazões
pugnando pelo conhecimento do recurso e, no mérito, pelo seu desprovimento, a Douta
Procuradoria Regional Eleitoral opinou, em parecer lançado às fls. 461/472, pela reforma da
sentença proferida pelo Juízo de primeiro grau e absolvição dos recorrentes.
Em julgamento realizado no dia 18 de dezembro de 2017, o eminente Relator, Dr.
Adriano Athayde Coutinho, votou no sentido de dar provimento ao recurso, sob o fundamento de
que as provas acostadas aos autos não demonstram de forma contundente a prática do crime de
corrupção eleitoral, previsto no art. 299 do Código Eleitoral, absolvendo, por consequência, os
recorrentes da acusação contida na exordial, conforme dispõe o art. 386, VII, do Código de
Processo Penal, tendo sido acompanhado pelo culto revisor, D. Rodrigo Marques de Abreu
Júdice, e pelo Eminente Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa.
Pedi vista dos autos para melhor examinar a questão e chego à mesma conclusão a
que chegou o relator, pelos motivos que passo a expor.
Convém pontuar, inicialmente, que de uma forma geral, os crimes eleitorais
objetivam a proteção de bens e valores político-eleitorais preciosos à vida coletiva e,
especialmente, à democracia. Tais bens são eminentemente públicos, indisponíveis e
inderrogáveis, destacando-se, dentre eles, a lisura e a legitimidade do processo eleitoral (em
sentido amplo), o livre exercício da cidadania e dos direitos políticos ativos e passivos, o
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resguardo do direito fundamental ao sufrágio, a regularidade da campanha política, da
propaganda eleitoral, da arrecadação e do dispêndio de recursos, a veracidade do voto e a
representatividade.1
No caso em apreço, os recorrentes foram condenados à pena de 01 (um) ano de
reclusão, substituída por pena restritiva de direitos, na modalidade de serviços à comunidade.
Dispõe o art. 299, do Código Eleitoral:

Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para


si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para
obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a
oferta não seja aceita.
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a
quinze dias-multa.

Da análise do dispositivo supra, tem-se que nas três primeiras hipóteses (dar,
oferecer e prometer) ocorre o crime de corrupção ativa, ou seja, aquela praticada por candidato
(ou de alguém por ele) para com o eleitor, enquanto nas duas últimas (solicitar ou receber),
verifica-se a corrupção passiva, cometida pelo eleitor para com o candidato ou seus cabos
eleitorais.
De qualquer modo, trata-se de tipo penal eleitoral misto alternativo, de forma que a
ocorrência de crime de corrupção será verificada quando da prática de qualquer um dos verbos
que compõem o dispositivo supratranscrito. Além disso, dado a sua natureza formal, para que
ocorra sua consumação, basta a oferta (independente de aceitação), a promessa (independente de
cumprimento), ou a solicitação (ainda que não seja atendido), de modo que a entrega concreta,
efetiva, e real da coisa, bem ou produto, ou mesmo a transferência de sua propriedade, posse ou
detenção, configura mero esgotamento da ação delituosa.
Além disso, para a configuração do crime previsto no art. 299, do Código
Eleitoral, exige-se a comprovação de dolo específico, ou seja, exige-se que reste comprovada a
intenção do agente em obter o voto ou, ainda, em conseguir ou prometer abstenção, como
propósito único da ação.
Nesse sentido é a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral:

“Recurso especial eleitoral. Crime eleitoral. Corrupção


eleitoral. Concurso formal imperfeito. Caracterização. Impossibilidade
de revisão de fatos e provas. Dissídio jurisprudencial não demonstrado.
1. Não há violação ao art. 275 do Código Eleitoral quando as teses da
defesa são examinadas. 2. O recurso especial não se presta ao reexame
de matéria fático-probatória. 3. O crime de corrupção eleitoral (Cod.
Eleitoral, art. 299), na modalidade "prometer" ou "oferecer", é formal e
se consuma no momento em que é feita a promessa ou oferta,
independentemente de ela ser aceita ou não. 4. A oferta de dinheiro em
troca do voto, realizada em ação única, a mais de uma pessoa,

1
GOMES. Jairo José. Crimes e Processo Penal Eleitorais. São Paulo: Atlas. 2015. Pg. 3.
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caracteriza o tipo do art. 299 em relação a cada um dos eleitores
identificados. 5. Há concurso formal impróprio, ou imperfeito, quando
o candidato, em conduta única, promete bem ou vantagem em troca do
voto de dois ou mais eleitores determinados, agindo com desígnios
autônomos (Cód. Penal, art. 70, segunda parte). Recurso especial
desprovido. (TSE - REspe: 1226697 MG, Relator: Min. HENRIQUE
NEVES DA SILVA, Data de Julgamento: 03/09/2014, Data de
Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 183, Data
30/09/2014, Página 487/488)”

No caso em análise, conforme salientou o ilustre relator, o conjunto probatório


constante dos autos não demonstra de forma contundente que os denunciados, ora recorrentes,
teriam promovido doação de combustível aos eleitores do Município de Conceição do Castelo,
com o objetivo de obter votos em favor do candidato Dalton Henrique Pinão, nas eleições de
2012.
Conforme asseverado pelo eminente relator, “a abordagem policial, por si só, não
revela o fim de captação ilícita de votos, mas tão-somente comprova que aquele posto de
gasolina era utilizado pela campanha eleitoral do acusado DALTON para o fornecimento de
combustível, ainda que o contexto desse abastecimento seja suspeito, mas não ficou
demonstrado de forma segura a intenção eleitoreira, pois os policiais nem mesmo chegaram a
anunciar apoio ao candidato, somente perguntando acerca do vale.”
Ademais, analisando-se os documentos apreendidos e os dados coletados tanto na
esfera policial quanto judicial, verifica-se não ter restado devidamente esclarecido que os vales
combustível foram efetivamente fornecidos a eleitores para fins de aliciar votos.
Conforme salientou a Douta Procuradoria Regional Eleitoral à fl. 471: “apesar
das circunstâncias indicarem uma possível prática de compra de votos, resta ausente um fator
essencial para a caracterização do referido crime, qual seja, a ausência de eleitor específico ou
mesmo identificável.”
À vista disso, não tendo sido devidamente comprovada a autoria e a materialidade
da conduta prevista no art. 299, do Código Eleitoral, a absolvição dos recorrentes é medida que se
impõe, conforme ressaltou o culto relator.
Ante o exposto, por inexistirem provas suficientes, acompanho o voto proferido
pelo eminente relator, no sentido de CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE
PROVIMENTO, reformando a sentença de primeiro grau para absolver os ora recorrentes da
acusação contida na exordial, nos moldes previstos no art. 386, VII, do Código de Processo
Penal.
É como voto.

*
ACOMPANHARAM O VOTO DO EMINENTE RELATOR:-
O Sr. Juiz de Direito Aldary Nunes Júnior e
O Sr. Juiz Federal Marcus Vinícius Figueiredo de Oliveira Costa.

*
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DECISÃO: À unanimidade de votos, em REJEITAR AS PRELIMINARES SUSCITADAS, para
ainda, quanto ao mérito, por igual votação, DAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do
voto do eminente Relator.

Presidência do Desembargador Annibal de Rezende Lima.


Presentes o Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa e os Juízes Helimar Pinto, Aldary
Nunes Júnior, Adriano Athayde Coutinho, Rodrigo Marques de Abreu Júdice e Marcus Vinícius
Figueiredo de Oliveira Costa.
Presente também a Dra. Nadja Machado Botelho, Procuradora Regional Eleitoral.
\cds

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