Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a entrevista de anamnese da Terapia do Esquema
(TE), proposta por Loose, observando se é um instrumento adequado para elaboração de uma
conceitualização de caso de acordo com os pressupostos da TE. A entrevista é composta por
12 perguntas, que objetivam investigar os recursos parentais e da criança. Observou-se que as
perguntas são simples e objetivas, semi-estruturadas, avaliativas e categoriais. Há ênfase nas
questões dedicadas à história da infância da criança na perspectiva dos pais e em EIDs
presentes na história de vida dos mesmos. O roteiro permite hipotetizar a presença de EIDs,
esquemas geracionais e modos de esquemas tanto nas crianças em seus primeiros anos de
vida, como dos pais nesse mesmo período.
Abstract
This research aims to analyze the anamnesis interview of the Schema Therapy (TE), proposed
by Loose, observing if it is an adequate instrument to elaborate a case conceptualization
according to the TE presuppositions. The interview is composed of 12 questions, which aim
to investigate the parental and child resources. It was observed that the questions are simple
and objective, semi-structured, evaluative and categorical. There is an emphasis on the issues
of children's history from the perspective of parents and from EIDs present in their children's
life history. The script allows the hypothesis the presence of EIDs, generational schemas and
schema modes in the children in their early years and parents in the same period.
Keywords: medical history; schema therapy for children; early maladaptive schemes.
exigentes, o modo ativo exige e pressiona sendo responsáveis pela frustração das
o indivíduo a cumprir padrões demasiado necessidades básicas provocando os
elevados. Por fim, o último modo é sintomas e comportamentos disfuncionais
caracterizado como adulto saudável, que é (Lopes, 2015; Loose e outros, 2013).
aquele buscado pela terapia. Assim, A qualidade do relacionamento da
ensina-se ao paciente a sempre fortalecer criança com o cuidador principal,
seu modo adulto saudável, de forma que determinado por padrões remotos de
aprenda a moderar, lidar, cuidar ou comportamentos e experiências dos pais é
neutralizar modos disfuncionais (Lopes, o fator ambiental mais importante para o
2015; Young e outros, 2008). desenvolvimento de uma criança saudável
(Loose e outros, 2013). Torna-se
Modelo alemão da Terapia do Esquema fundamental esclarecer tais fatos aos pais
dando-lhes uma visão ampla sobre o tipo
Conforme Loose, Graaf e Zarbock de esquema que a família assimilou ao
(2013), são transmitidos de geração em longo de gerações, visto que por meio da
geração os princípios, tradições familiares, compreensão dos EIDs que foram
normas, valores e estilos emocionais que desenvolvidos ao longo da história familiar
constituem o relacionamento familiar. Pode é possível combater de forma mais eficaz
então acontecer que os pais da criança em tais esquemas, ajudando assim a criança
psicoterapia não tiveram suas próprias (verdadeiro cliente da terapia infantil) a
necessidades básicas supridas durante suas sentir e agir de uma forma mais criativa e
infâncias, colaborando assim para os saudável.
mesmos não suprirem necessidades básicas
do filho. Surge nesse contexto o conceito A anamnese psicológica
de coaching de esquemas, segundo o qual
os esquemas dos pais se sobrepõem aos da No método clínico, a entrevista é
criança, tornando o processo terapêutico um instrumento essencial, sendo uma
mais desafiador. Os esquemas podem técnica de investigação científica em
entrar em um círculo vicioso, pois psicologia. Como técnica, ela possui seu
considerando a dinâmica sistêmica método e regras empíricas próprias com as
geracional, os esquemas desadaptativos, quais não só se amplia e apura um caso
modos e estilos de enfrentamento clínico, mas também permite o avanço do
perpetuam-se nas gerações familiares conhecimento científico quando o
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um modo mais livre, sem haver uma (2003) alerta sobre a elaboração de roteiros
padronização de respostas relacionadas a para entrevista semi-estruturadas. Alguns
uma alternativa (Manzini, 1991). cuidados são necessários na construção das
Manzini (2003) destaca ainda que questões para o entrevistado podendo-se
através da construção de um roteiro com citar: 1) Cuidados quanto à linguagem; 2)
perguntas que focalizam os objetivos Cuidados quanto à forma das perguntas; e
pretendidos é possível haver uma melhor 3) Cuidados quanto à sequência das
organização e planejamento para a perguntas nos roteiros.
interação do pesquisador com o Utilizando-se como base o que foi
informante. Triviños (1987), por sua vez, apresentado sobre a importância de uma
diferencia os tipos de pergunta da boa entrevista e do que deve ser feito para
entrevista semi-estruturada de acordo com o alcance dos objetivos da mesma, foi
duas vertentes teóricas: fenomenológica ou realizada uma análise do roteiro da
histórico-estrutural (dialética). Na vertente entrevista de anamnese para crianças
fenomenológica, o objetivo é atingir a desenvolvida por Loose (2011) para
clareza nas descrições dos fenômenos identificar a sua adequação em termos de
sociais. Dessa forma as perguntas linguagem, estrutura e sequência das
descritivas possuem grande importância perguntas no roteiro.
para a descoberta dos significados dos O objetivo dessa pesquisa teórica
comportamentos de indivíduos em certos foi analisar as características do roteiro de
ambientes culturais. Já na vertente entrevista semi-estruturada (anamnese),
histórico-cultural (dialética), as perguntas elaborada por Loose (2011) que avalia os
possuem teor mais explicativo ou causal. esquemas desadaptativos iniciais e modos
Esse tipo de pergunta tem como objetivo ativos nas crianças e nos pais que
determinar razões imediatas ou mediatas procuram psicoterapia para seus filhos,
do fenômeno social. segundo a Terapia do Esquema. As
Triviños (1987) também distingue características aqui analisadas foram: a) Se
quatro tipos de categorias de perguntas: a entrevista utilizada é um instrumento
questões sobre consequências; questões adequado para elaboração de uma
avaliativas; questões hipotéticas; e conceitualização de caso de acordo com os
questões categoriais. Tais categorias têm pressupostos da Terapia do Esquema alemã
como objetivo abrir perspectivas para para crianças e b) Se o roteiro de perguntas
análise e interpretação de idéias. Manzini corresponde aos objetivos da entrevista.
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Sabe-se que a entrevista semi- Por favor não se acanhe em nos dar
estruturada viabiliza ao entrevistador informações adicionais pois é necessário
discorrer sobre um determinado tema ampliar ao máximo nossa visão atual da
proposto, de uma forma em que ele siga criança. Sua informação é estritamente
um conjunto de questões previamente confidencial. Muito obrigado.” (Loose,
definidas, mas em um contexto mais livre, 2011).
dando abertura para discussão sobre o que Considerando que a entrevista tem
se responde. Esse tipo de possibilidade como objetivo investigar de forma ampla
alinha-se perfeitamente ao conceito de os primeiros anos de vida da criança a luz
conceitualização cognitiva estabelecido de possíveis EIDs ativos nos pais naqueles
pela Terapia Cognitivo Comportamental e períodos, assim como algumas
pela Terapia do Esquema. informações da infância dos pais, pode-se
Considerando que a anamnese afirmar que a entrevista cumpre seus
compõe os instrumentos para se objetivos. Na primeira parte da entrevista
estabelecer uma conceitualização cognitiva as questões buscam compreender de forma
adequada (Lopes & Lopes, 2013), a precisa todos os eventos que fizeram parte
estrutura do roteiro de anamnese proposto dos primeiros anos de vida da criança a luz
pela escola alemã parece ser vantajosa, da provável presença de EIDs paternos (cf.
tanto para fins clínicos, quanto para fins de Tabela 1). A segunda parte busca coletar
pesquisa, para se atingir os objetivos informações da infância dos pais, no
pretendidos (conhecer os EIDs dos pais momento em que esses EIDs poderiam ter
que se sobrepõem aos EIDs das crianças). surgido (cf. Tabela 1).
O roteiro permite com base nos
B) Análise dos objetivos da anamnese dados oferecidos pelos entrevistados,
da TE hipotetizar a presença de EIDs tanto nas
crianças ao longo de seus primeiros anos
A entrevista de anamnese inicia com o de vida, como de seus pais nesse mesmo
seguinte cabeçalho: “Caros pais, a correta período, esquemas geracionais e domínios
avaliação dos problemas do seu filho exige de esquemas.
um conhecimento preciso dos primeiros
anos de vida da criança e algumas C) Classificação das perguntas semi-
informações da sua própria infância. estruturadas da anamnese da TE
Gostaríamos, portanto de pedir a sua ajuda.
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sentido, por exemplo, se os pais descrevem na relação com a criança futuramente, pois
a notícia da gravidez de forma harmoniosa, quando os pais são empáticos permitem a
hipotetiza-se a ativação do modo adulto criança expor seus sentimentos em
saudável. Por sua vez, se o modo criança palavras e gestos favorecendo a satisfação
zangada esteve ativado estes pais poderiam da necessidade de liberdade de expressão e
descrever a gravidez como algo que de emoções. Além disso, oferecem para si
frustrou suas necessidades e os e para os filhos ambientes em que há
sobrecarregou (Lopes, 2015). previsibilidade nas interações. Por sua vez,
Essa questão ainda permite um relacionamento em que a necessidade
hipotetizar EIDs ativos nos pais no básica de autonomia entre os cônjuges não
momento da notícia da gravidez. Um está sendo suprida, pode haver efeitos
exemplo seria uma mulher, que possui dessa desarmonia na relação com a criança,
esquemas desadaptativos de desconexão e por exemplo, não proporcionando ao filho
rejeição estabelecidos precocemente com senso adequado de independência, da
os pais, ao saber da gravidez ela poderia se autoeficácia no ambiente familiar (Lopes,
conectar intensamente e de forma 2015).
patológica com o bebê (hipercompensação Dessa forma, as repostas a essa
do esquema de abandono) ou poderia questão da entrevista de anamnese dão
desconectar-se totalmente dele uma descrição acerca das necessidades
(manutenção do esquema de abandono), emocionais básicas atendidas ou não
nutrindo em ambos os casos uma relação atendidas pelos parceiros durante a época
potencialmente prejudicial com a criança em que a gravidez foi descoberta e,
(Lopes, 2015). portanto, permite hipotetizar o tipo de
atmosfera afetiva que havia no lar quando
Como você classifica, a partir da a criança nasceu (Young e outros, 2008).
perspectiva de hoje, a qualidade de seu
relacionamento naquela época? (Por Planejamento e desejo de
exemplo, amoroso, distante, ou similar) gravidez: - Mãe: a gravidez no geral:
Em um relacionamento em que o ocorreu no momento esperado, foi
casal possui um vínculo amoroso e estável, planejada, foi desejada, não foi desejada. -
nota-se um convívio mais saudável, Pai: a gravidez no geral: ocorreu no
caracterizado pela confiança mútua, momento esperado, foi planejada, foi
conforto e compaixão. Isso será projetado desejada, não foi desejada
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No domínio V, supervigilância e
De acordo com Young e outros inibição, os esquemas pertencentes a ele
(2008) os esquemas têm começo no início podem ser ativados com uma gravidez não
da infância ou na adolescência, como desejada, pois a mãe, ao saber-se grávida,
representações do ambiente da criança pode se tornar extremamente preocupada e
baseadas na realidade. Os esquemas supervigilante aos eventos da vida. Dessa
pessoais refletem com precisão o clima do forma, a mãe pode desenvolver
ambiente remoto. Como exemplo, Young e sentimentos de pressão constante e uma
outros (2008) afirma que um paciente atitude crítica exagerada, impondo
quando diz que na infância possuía uma elevados padrões internalizados para si
família fria e pouco afetiva, geralmente ele durante a gestação. Em relação ao pai, o
tem razão ao relatar isso, mesmo que possa mesmo pode acontecer, tendo em vista que
não entender, ou fazer atribuições falsas seus EIDs também podem ser ativados
sobre o porquê seus pais apresentavam com a notícia da gravidez e durante a
dificuldade de demonstrar afeto ou gestação. O pai pode ativar os esquemas
expressar sentimentos. Segundo os autores deste domínio, preocupando-se
as razões por ele atribuídas aos exageradamente com a proteção do filho e
sentimentos dos pais podem estar com o bem estar deste, dessa forma ele
equivocadas, porém sua sensação sobre o pode também criar padrões internos
clima emocional e sobre como foi tratado elevados sobre ser um bom pai. Ainda
quase sempre é válida. nesse domínio, observa-se que a frieza
O sentimento que a criança tem sentida pela criança na sua família de
sobre a frieza emocional dos pais pode ser origem pode estar relacionada ao esquema
causado por diversos motivos, entre eles, de inibição emocional, na qual os pais
como a gravidez foi vivenciada pela mãe. restringem a expressão de sentimentos com
Ao se ver grávida, a mãe pode ter ativado o propósito de evitar críticas, sendo assim
alguns EIDs que perduram durante toda a percebido pelo filho como indiferente ou
criação da criança, transmitindo então, frio.
sentimentos que esta pode perceber como Com relação ao domínio IV,
distantes ou frios. Considerando os EIDs, a direcionamento para o outro, os pais
experiência da gravidez pode ser podem ver a gravidez como
relacionada com diferentes domínios de autossacrifício, no qual eles terão que
esquemas. cuidar das necessidades do outro (o filho) e
esquecer as próprias necessidades, com a
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rejeição ao bebê presente naquela etapa situações de conflito (Lopes, 2015). Por
(Lopes, 2015). sua vez, se os pais são exigentes e
Em relação a presença de EIDs do punitivos, a criança pode introjetar esse
domínio de direcionamento para outro estilo de enfrentamento (exigente e
ativos durante a gestação pode-se inferir punitivo) e vir a apresentar o modo pais
que a supressão de aspectos importantes da exigentes. Logo, as respostas dos pais a
vida dos pais em vista da chegada do bebê, essa questão podem ajudar a hipotetizar
vivenciados como autosacrifício e busca de modos de esquemas presentes logo nos
reconhecimento, podem gerar expectativas primeiros dias de vida que poderiam vir a
irrealistas sobre a chegada de um filho modelar de maneira vicariante os modos
(Lopes, 2015). apresentados pelas crianças explicando
assim a natureza da queixa.
Como é que você experimentou, como mãe
ou como pai, o nascimento da criança? Do seu ponto de vista, você acredita que
Uma das fontes para a origem dos houve complicações durante ou após o
EIDs é o condicionamento vicariante parto? Você, por exemplo, ficou
estabelecido a partir da observação das assustada?
figuras de apego (pais ou cuidadores). Observa-se que esta pergunta é
Segundo Young e outros (2008), uma das direcionada especificamente à mãe e avalia
teorias do desenvolvimento humano que suas crenças em relação à experiência do
subjazem a Terapia do Esquema é a Teoria parto. A forma como uma mãe percebe
de Apego de Bowlby. Segundo Loose e dificuldades presentes no parto, pode ser
outros (2013) a elaboração dos modos de um indicador de ativação de um modo
enfrentamento bem como os modos pais criança vulnerável, e do EID ligado à
punitivo/exigente, surgem a partir do vulnerabilidade ao dano, já no momento do
condicionamento vicariante. Assim, as nascimento, especialmente se não houve
crianças observam os modos de nenhuma intercorrência grave durante o
enfrentamento dos pais frente a situações parto (Loose e outros, 2013; Lopes, 2015).
aversivas e tendem a reproduzi-los. Nesse Dessa forma, medos de danos ou
sentido, se os pais lidam com suas prejuízos físicos para si ou para a criança
experiências no papel materno e paterno durante esse momento podem indicar a
usando defesas evitativas (modo protetor presença precoce de distorções cognitivas
desligado), as crianças tendem a reproduzir ligadas a catástrofes em termos de saúde,
as mesmas estratégias dos pais frente a catástrofes emocionais ou catástrofes
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Você participou dos cuidados da criança Seu filho teve algum problema nos três
nos primeiros dias e semanas após o primeiros meses de vida? (por exemplo,
nascimento? dor, dificuldade de se alimentar,
Sabe-se que os esquemas resultam dificuldade de manter contato). Quanto
de necessidades emocionais não satisfeitas tempo a criança foi amamentada? Houve
na infância. Tais necessidades são complicações (por exemplo, dor ou
universais, embora algumas se apresentem infecções no peito)? Se não ficou satisfeita
como necessidades mais fortes do que (o), por quê?
outras. Dessa forma, um indivíduo que se Tendo em vista as necessidades
encontra psicologicamente saudável emocionais básicas que um indivíduo
consegue satisfazer de forma adaptativa as precisa ter para um desenvolvimento
necessidades emocionais fundamentais. A saudável, essa questão traz a tona uma
interação que existe entre o temperamento investigação da relação pais-criança,
inato da criança e o primeiro ambiente tem analisando se tais necessidades estão sendo
como resultado a frustração, ao invés da supridas ou não. Sabe-se que nos primeiros
gratificação, dessas necessidades básicas meses de vida da criança, a família precisa
(Young e outros, 2008). realizar adaptações significativas, como
A gravidez pode colaborar para que adquirir novos hábitos, regulação do sono,
as necessidades fundamentais do ser regulação da vigília do bebê, regulação do
humano sejam supridas, porém ela também comportamento afetivo, desenvolvimento
pode fazer com que tais necessidades não da atenção focalizada e busca pelo
sejam solapadas. A participação ativa e equilíbrio entre o vínculo profundo com a
saudável dos pais nos cuidados do bebê criança e a autonomia. Procura-se saber se
nos primeiros meses de vida é um os pais supriram as necessidades básicas da
indicativo de que a criança não frustrou criança nos seus primeiros meses de vida,
necessidades básicas do casal, ao invés colaborando para o seu desenvolvimento
disso, pode ter suprido necessidades saudável e se não frustraram suas próprias
antigas como as de conexão, autonomia, necessidades básicas.
competência, liberdade de expressão
afetiva entre outras. Por sua vez a recusa Cuidador primário/ajudante, 0-3 meses, 3-
de um dos pais de participar desse período 6 meses, etc
inicial pode ser indicativo de ativação de De acordo com Young e outros
EIDs ligados a desconexão e rejeição. (2008) existem quatro tipos de
experiências no início da vida que
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Referências
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FABÍOLA RODRIGUES MATOS, RENATA FERRAREZ FERNANDES LOPES
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As autoras:
Fabíola Rodrigues Matos é mestranda em Processos Cognitivos, na Psicologia pela Universidade Federal de
Uberlândia (2016-2018), graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (2015). E.mail:
fabiolarmatos@yahoo.com.br
Renata Ferrarez Fernandes Lopes possui graduação em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1993) e
graduação em Teologia pela Faculdade Católica de Uberlândia (2013), mestrado em Psicobiologia pela
Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo (1999).
Atualmente é professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. Tem
experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicoterapia Comportamental-Cognitiva para adultos e
crianças. E.mail: rfernandeslopes@fapsi.ufu.br
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