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MACHADO, Cristina de A.

A falência dos modelos normativos de filosofia da ciência:


a astrologia como um estudo de caso. 115 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) –
Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2006.1

Apesar de o título do trabalho levar a crer que o tema principal abordado seja, de fato, a
falência dos modelos normativos de filosofia da ciência, utilizando a astrologia como
um estudo de caso, ou quem sabe um exemplo, creio que posso dizer que esta
dissertação tem como principal objetivo estudar o caso da astrologia, sob a luz da
referida falência dos modelos epistemológicos normativos. E, apesar de a autora o negar
com notável insistência, pode-se sentir, sem muita dificuldade, em sua escrita, o eco
abafado de uma defesa apaixonada do valor epistêmico da astrologia. Astróloga de
profissão, a autora logo afirma: “É importante ressaltar que não se trata aqui de uma
apologia ou um ataque à astrologia, e sim de uma investigação sem juízo prévio” (p.
11). Em que medida suas paixões e a tentativa de mascaramento delas foram úteis ou
prejudiciais à abordagem do tema, é difícil dizer, mas posso afirmar que não a
impediram de desenvolver um trabalho de muito boa qualidade, utilizando a bibliografia
pertinente ao tema e não se furtando a apresentar os argumentos relevantes à discussão
sobre o estatuto epistemológico da astrologia.

A relevância do tema da astrologia, na filosofia da ciência, é bem significativa, já que


foi usada como exemplo, pela maioria dos epistemólogos da tradição anglo-saxã, para
tratar o problema da demarcação das fronteiras da ciência. E o seu estatuto epistêmico
vislumbra possibilidades renovadas, a partir da tendência de desaparecimento dos
modelos normativos de filosofia da ciência, observada a partir da década de 1960, com
Kuhn. É o que a autora aborda no segundo capítulo, após a introdução do trabalho,
discorrendo sobre as diferentes abordagens do problema da demarcação, na filosofia da
ciência anglo-saxã, e delineando o modo como os modelos vão-se tornando cada vez
menos normativos.

O positivismo lógico do Círculo de Viena e o falsificacionismo de Popper eram


propostas normativas para a ciência, e assim conseguiam estabelecer uma fronteira mais

1
Resenha por André Mattos, graduando em Psicologia (UFBA), membro do Grupo de Pesquisa CONES.
ou menos clara entre ela e outras formas de saber, ganhando a astrologia o status de
“pseudociência”, por Popper, figurando ao lado da psicanálise e do marxismo. Kuhn
propõe uma abordagem que recorre à história da ciência, um aspecto que influenciará
epistemólogos posteriores a usar uma abordagem cada vez mais descritiva e menos
prescritiva (normativa). Introduzindo o conceito de paradigma, ele conceberá a ciência
como alternando entre períodos de “ciência normal” e de crise do paradigma, e excluirá
a astrologia do rol das ciências por motivos diferentes do de Popper: por ela não ter
quebra-cabeças para resolver, e não por não ser falseável, o que ele não considera um
critério suficiente. A partir daí, a autora apresenta alguns epistemólogos que já tinham
propostas mais historicizadas, mas ainda são um híbrido das características normativas e
descritivas, como a de Lakatos, que propõe uma metodologia dos programas de
pesquisa científica. Thagard propõe um critério tríplice de demarcação, que envolve a
avaliar a teoria, a comunidade e o contexto histórico, mas que é criticado posteriormente
por ele mesmo. A autora apresenta Feyerabend como “l’enfant terrible da filosofia da
ciência”, e diz que ele colaborou para a falência dos modelos normativos,
desmistificando o método científico e destituindo a ciência de seu lugar privilegiado,
como melhor forma de conhecimento. O seu anarquismo epistemológico se opõe à
existência de critérios absolutos de cientificidade e abre o espaço para uma metodologia
pluralista e uma maior aceitação e valorização de outras formas de conhecimento,
incluindo aí a astrologia. Posteriormente, temos a proposta de Laudan, que afirma que a
ciência resolve problemas, e faz sua análise a partir das “tradições de pesquisa”, sendo
contrário à questão da demarcação da ciência, que considera um “pseudoproblema”. Na
década de 70, houve a chamada “virada sociológica”, a partir da qual se passou a dar
uma grande importância à sociologia da ciência, tendo como principal exemplo a Escola
de Edimburgo. Posteriormente, e mais recentemente, temos a tendência dos chamados
Science Studies, que buscam uma integração entre os estudos de filosofia, história e
sociologia da ciência, pondo uma ênfase na prática e estabelecendo uma agenda política,
sendo também contrários à demarcação de fronteiras.

No terceiro capítulo, o mais extenso da dissertação, a autora aborda o estudo do caso da


astrologia. Afirma que abordará apenas a astrologia ocidental e que, apesar da
diversidade de técnicas e práticas, “é possível afirmar que o postulado fundamental de
qualquer astrologia é que há uma relação entre um determinado conjunto de eventos
celestes, concebidos do ponto de vista geocêntrico, e certos eventos terrestres” (p. 52).
Fala inicialmente sobre a história da astrologia, desde seus primeiros registros na
Mesopotâmia, Grécia e Egito, a sua difusão em Roma e em Alexandria, o seu percurso
na Idade Média, no Renascimento e com o début da ciência moderna. Nos séculos XVII
e XVIII ela sofreu restrições mais severas, e no século XX teria um interesse renovado.
Começam a surgir seções de astrologia em jornais e horóscopos em revistas. Surgem
algumas tentativas de abordar a astrologia cientificamente, e ela encontra até um lugar
na academia. Em 1948, é fundada a Faculty of Astrological Studies, em Londres; a
partir de julho de 2000, o Kepler College, EUA, é autorizado a oferecer bacharelado e
mestrado em estudos astrológicos; em 2004, no Brasil, foi criado um Curso de
Astrologia para Pesquisadores, na Escola de Extensão da UNB. Além disso, teses,
dissertações e artigos sobre o tema têm sido escritos em várias partes do mundo.

A autora apresenta os fundamentos astronômicos da astrologia, cujas especificidades


não valeriam a pena ser apresentadas aqui, e expõe alguns testes empíricos que foram
realizados para avaliar o conhecimento astrológico. Menciona Gauquelin, um estatístico
francês, responsável pela maior pesquisa astrológica do séc. XX. Menciona também um
experimento de Geoffrey Dean, em 2003, na Inglaterra, cujo resultado foi considerado
desfavorável, e cita pesquisas da UNB, de 2004, cujos resultados foram mais favoráveis.
A autora faz uma breve descrição do problema da linguagem astrológica, que, assim
como a linguagem comum, envolveria uma sintaxe, uma semântica e uma pragmática.
Os maiores problemas com relação à formalização e aos testes empíricos estariam no
âmbito da pragmática, que envolve a rotina de interpretação. Em seguida, a autora
apresenta os posicionamentos epistemológicos de Popper, Kuhn, Thagard e Feyerabend,
com relação à astrologia.

Bom, a primeira conclusão tirada disso tudo é que o modelo “normativo-


demarcacionista” de filosofia da ciência caiu em desuso, e com ele o seu vocabulário, de
modo que não faria mais sentido falar em ciência e pseudociência. Na ausência de bons
critérios racionais, a questão da demarcação entraria no domínio ético-político. A
segunda conclusão é que, com esse suposto fracasso na resolução do problema da
demarcação e o abandono do seu vocabulário, que é uma proposta de Laudan, não faria
sentido considerar a astrologia uma pseudociência, tampouco uma ciência.

O posicionamento com o qual a autora pretende resolver a questão é considerar a


astrologia como um modelo narrativo, o que havia sido proposto por Costa (2005):
“Nesse sentido, o mapa é como um texto a ser traduzido, cuja linguagem de partida é a
linguagem astrológica. Seu resultado é um discurso em língua natural, cujo sentido é
construído com base no uso da teoria astrológica.” (p. 79). Esta solução assumida pela
autora faz bem o trabalho de colocar a astrologia na posição de um discurso
estabelecido, um saber com certa validade. Ao neutralizar, em certa medida, a crítica
dos seus opositores, pode também ser vista como um perigo para estes, já que estabelece
esse saber, sem a necessidade de submetê-lo a uma crítica científica, e abre a
possibilidade, por exemplo, do seu estabelecimento como profissão reconhecida, o que,
segundo a autora, já foi requerido junto ao MEC. Ao se estabelecer como uma narrativa,
e não almejar um estatuto muito maior que esse, me parece que a astrologia estaria
esquivando-se com habilidade de um veto, o veto àqueles que não podem falar sobre o
real. Se as ciências, às quais já foi creditado este poder, hoje sofrem repetidos ataques
aos seus privilégios epistêmicos, seria isso suficiente para equiparar a elas a astrologia,
que a muitos parece tão absurda? Seria possível engajar programas de pesquisa, e
mesmo uma tradição de pesquisa, que se debrucem sobre a testagem empírica das
previsões e dos problemas da astrologia?

A dissertação, mesmo trazendo um panorama bem amplo, ainda nos deixa com a
sensação de que é necessário um maior aprofundamento, tanto na filosofia da ciência
quanto na astrologia, para tomarmos um posicionamento mais seguro. De todo modo,
traz perspectivas e provocações a esses questionamentos, que são, sem dúvida, muito
instigantes.

Resenha por André Mattos, 5 de setembro de 2010.

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