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(P-524)

OS CONQUISTADORES
AMARELOS

Autor
CLARK DARLTON

Tradução
RICHARD PAUL NETO

Revisão
ARLINDO_SAN
(De acordo, dentro do possível, com o Acordo Ortográfico válido desde 01/01/2009)
Os calendários do planeta Terra e dos outros mundos
da humanidade registram os meados do mês de fevereiro do
ano 3.442. Faz mais de um ano que a catástrofe desabou
sobre quase todos os seres inteligentes da Galáxia. Mas
ainda não existe uma boa chance de impedir que o misterioso
“Enxame” prossiga em seu vôo através da Galáxia ou
reverter a manipulação da constante 5D por ele realizada,
que provoca um retardamento mental na maior parte dos
seres.
Mas Perry Rhodan e seus companheiros imunes fazem
tudo que está ao seu alcance para desvendar o mistério do
“Enxame”. Com exceção de umas poucas excursões, a Good
Hope II com o Administrador-Geral a bordo permanece
quase sempre perto do “Enxame”, para colher informações e
fazer pesquisas.
Com essa atividade os terranos já conseguiram alguns
resultados bastante promissores. Mas seus conhecimentos
sobre os objetivos e o destino do “Enxame” e sobre os
verdadeiros donos da galáxia-mirim ainda são bastante
incompletos.
Gucky, o rato-castor, toma uma decisão. Vai ampliar os
conhecimentos a respeito do “Enxame”. Seus companheiros
o previnem contra isso, mas ele se envolve numa perigosa
experiência parapsíquica, entrando em contato com um velho
amigo há muito desaparecido.
Depois disso Gucky sai num voo, e sua expedição se
encontra com Os Conquistadores Amarelos...

======= Personagens Principais: = = = = = = =


Perry Rhodan — O Administrador-Geral que espera por
Gucky.
Gucky — O rato-castor que quer libertar um amigo.
Ras Tschubai, Alaska Saedelare e Toronar Kasom —
Companheiros e colaboradores de Gucky.
Harno — O prisioneiro do planeta de Cristal.
O Y’Xanthomrier — Uma estátua que desperta para a vida.
1

A última transição levara o “Enxame” bem para dentro da Via-Láctea. Depois ele
passou a desenvolver cinqüenta por cento da velocidade da luz e mudou de direção várias
vezes, mas seguia para Quinto-Center ou para o centro da Via-Láctea.
Não houvera mais nenhuma transição.
Em compensação o “Enxame” começou a roubar sistemas solares.
Do ponto de vista ótico o “Enxame” podia ser considerado uma galáxia artificial
independente, que penetrava em outra galáxia, mais precisamente, na Via-Láctea, numa
velocidade equivalente a cinqüenta por cento da da luz. Era formado por sóis capturados,
seus planetas e um número ainda desconhecido de espaçonaves estranhas, parte das quais
estava envolta em campos energéticos impenetráveis.
Um campo energético muitíssimo maior, cuja produção exigia quantidades incríveis
de energia, cercava todo o “Enxame”. Em sua ponta, que tinha oitocentos e vinte anos-luz
de largura, ele só se abria para capturar novos sistemas solares. Estes eram acelerados aos
poucos por meio de campos energéticos especiais até alcançar a velocidade do
“Enxame”.
O “Enxame” propriamente dito tinha onze mil anos-luz de comprimento e seu
diâmetro no centro chegava a dois mil anos-luz aproximadamente.
Era uma pequena galáxia artificial, criada e dirigida em seu conjunto por
inteligências desconhecidas, uma gigantesca espaçonave que muito provavelmente corria
de galáxia a galáxia, roubando planetas que lhe convinham para abastecer-se de matérias-
primas — e dirigia-se a um destino ainda menos conhecido.
Em resumo, um fenômeno nunca antes observado nestas proporções. Mas não era
só.
O “Enxame” era precedido por uma onda de deterioração mental provocada por
uma modificação da constante gravitacional da quinta dimensão. Segundo as primeiras
hipóteses, a onda de deterioração mental servia para evitar que seres inteligentes
examinassem a natureza do “Enxame” ou até chegassem a atacá-lo. A hipótese parecia só
ter fundamento em parte, pois certos acontecimentos levavam à conclusão de que a
modificação da constante 5D só tinha uma finalidade: pôr fora de ação o imortal do
planeta Peregrino!
Desta forma o ser chamado Aquilo se transformou na figura-chave dos
acontecimentos cósmicos.
Por mais tremendos e incríveis que pudessem ser estes acontecimentos, o fato é que
os resultados do aparecimento da galáxia artificial eram uma terrível realidade.
Civilizações desmoronaram, impérios estelares ameaçaram esfacelar-se, alianças
deixaram de ser válidas, uma galáxia inteira corria o perigo de desaparecer.
E tudo isso somente para destruir um único ser vivo — isto se realmente era um ser
vivo no sentido próprio da palavra...
Perry Rhodan, o Administrador-Geral do Império Solar, não desistiu. Salvou Aquilo
de uma situação desesperadora e resolveu não perder mais tempo. Só havia um meio de
descobrir as verdadeiras intenções do “Enxame” e de seus donos:
O ataque!
Não um ataque militar, porque este estaria condenado ao fracasso desde o começo.
Não existia poder capaz de derrotar o “Enxame”.
Só restava a astúcia.
Além disso havia os mutantes.
Só por isso Rhodan concordou com o plano do rato-castor Gucky, depois que este,
numa experiência arriscada, estabeleceu contato com o ser energético chamado Harno.
Naquele tempo as duas naves, a Good Hope II e a Intersolar, encontravam-se perto
do “Enxame”. Quando Gucky acordou da rigidez cadavérica contou as experiências pelas
quais passara durante o tempo em que sua mente consciente ficara separada do corpo. E
Gucky fez uma sugestão importante, que acabou sendo aceita por Rhodan.
Eis o relato de Gucky:
— Sei que me arrisquei muito, mas meu plano era procurar Harno. Por quê? A
resposta é evidente, Perry. O “Enxame” encerra um perigo do qual nem mesmo o imortal
do planeta Peregrino está a salvo. Logo, havia razão para supor que Harno também era
atingido por este perigo. E havia outra dedução lógica: se ainda há alguém que possa
ajudar, este alguém é Harno. Falei com Ribald Corello, que mais tarde me ajudou a
separar corpo e espírito no espaço e no tempo. A desmaterialização no tempo foi difícil,
mas consegui realizá-la. Meu consciente desprendeu-se do corpo e flutuei livremente no
espaço, entre os universos. Chamei Harno, mas só depois de bastante tempo consegui
estabelecer contato com ele. Tornou-se prisioneiro do “Enxame”.
A informação deixou Rhodan, Atlan e Bell apavorados, mas o rato-castor não deu
tempo para que refletissem sobre isto. Prosseguiu em seu relato:
— Isto mesmo, Harno é prisioneiro do “Enxame”, mas consegui fundir meu
consciente com o seu. Transformei-me em Harno. E vi o Y’Xanthomrier, um ídolo vivo
ao qual o “Enxame” obedece e que chora lágrimas de sangue. O ídolo resolveu roubar um
sistema solar e Harno revelou-me sua posição.
Com isto já dera uma indicação sobre seu plano.
Gucky conhecia a posição astronáutica de um sistema solar que ia ser roubado. A
posição de um sol vermelho com dois planetas ricos em matérias-primas.
— Qual é seu plano? — perguntara Rhodan.
E Gucky explicara.
— Ras Tschubai, Alaska Saedelaere e Toronar Kasom me acompanharão.
Pegaremos um jato espacial, pousaremos no segundo planeta do sistema ao qual me referi
— e deixamos que o “Enxame” nos recolha juntamente com este planeta. É simples!
Podia parecer simples. Mas não era.
Depois de hesitar bastante Rhodan concordou com o plano arriscado. O jato
espacial partiu. Pousou no planeta de gelo e foi alcançado e recolhido pelo “Enxame”,
que se aproximava a uma velocidade equivalente a cinquenta por cento da da luz.
O contato pelo rádio com Perry Rhodan foi interrompido.
A partir desse instante Gucky e seus três companheiros destemidos eram
considerados desaparecidos.
Ninguém sabia o que era feito deles.
Ninguém sabia se ainda estavam vivos.
***
Depois de esperar em vão um novo contato de Gucky, a Good Hope entrou no
espaço linear para percorrer a primeira etapa. Pouco antes disso Rhodan se despedira de
Atlan e Julian Tifflor, que mantinham a Intersolar em sua posição dez anos-luz à frente
do “Enxame”. Rhodan pretendia dirigir-se com a Good Hope para o fim do “Enxame”,
porque ninguém podia saber onde o jato espacial dado como desaparecido sairia dele —
se é que isso ia acontecer.
Bell, que se encarregara da navegação, calculara a rota de maneira a retornarem ao
espaço normal depois de cinco mil anos-luz, ao lado do “Enxame”, a uns cinco anos-luz
deste.
Depois da manobra de reentrada, a tela de imagens da Good Hope mostrou um
estranho e grandioso espetáculo ótico. Toda a área de projeção ficou repleta de milhares
de estrelas deslocando-se em velocidade alucinante, verticalmente, ao sentido do
deslocamento da nave. As estrelas mais próximas apareciam como faixas luminosas.
Afinal, ainda desenvolviam uma velocidade absoluta de cinquenta por cento luz. As mais
distantes continuavam sendo estrelas, mas seu movimento podia ser visto a olho nu.
O “Enxame”!
O campo energético global envolvia o “Enxame”. Simbolizava a unidade de cerca
de oitocentos mil sóis de planetas capturados por ele, na Via Láctea e em outras galáxias
às quais fizera sua visita calamitosa.
Ninguém sabia de onde vinha e ninguém era capaz de imaginar para onde queria ir.
Ao que parecia, seu caminho o levaria através de toda a Via Láctea, e ele deixou um
rastro que ainda poderia ser visto dali a milhões de anos.
Joak Cascal, chefe da sala de rádio, entrou na sala de comando. Ficou fascinado
com o panorama projetado na tela e absorveu o espetáculo sem igual de verdadeira
grandeza cósmica. Em seguida foi para perto de Rhodan.
— Estou permanentemente na recepção, mas por enquanto não recebi nada. Nem
um pio.
Bell adiantou-se na resposta.
— Nem era de esperar que fosse diferente, Joak. Mas não desanime. Quando houver
uma possibilidade, por menor que seja, Gucky dará um sinal de vida. Fellmer Lloyd
também está a postos, para que os sinais telepáticos não deixem de ser captados. — O
arcônida apontou para a tela panorâmica. — Então. Que acha?
— Nunca vi nada igual.
— Ninguém de nós viu. Mas o fato é que está lá.
— Infelizmente — respondeu Cascal e voltou à sala de rádio sem fazer
comentários.
Rhodan virou a cabeça.
— Como vai a segunda etapa linear, Bell?
— Será iniciada dentro de trinta minutos.
— Muito bem. Peço que fique aqui. Vou deitar algumas horas. Quando estiver
cansado, acorde-me.
— Talvez o acorde antes, caso aconteça alguma coisa que você possa achar
interessante.
— Naturalmente, meu chapa. — Rhodan acenou com a cabeça e foi até a porta. —
Mas faço votos de que não tenha necessidade de acordar-me.
Bell seguiu-o com os olhos. Os últimos dias tinham sido cansativos, embora não
tivessem realizado operações propriamente ditas. Mas justamente a espera desgastara os
nervos. Era mais cansativa que uma aventura excitante.
— Quer dizer que será daqui a trinta minutos — disse a Kosum, que estava sentado
à frente dos controles. — Até lá podemos fazer uma pausa.
O emocionauta apontou para a tela de imagens.
— Uma pausa não é nada má, Mr. Bell. Há tanta coisa para ver que mal tenho
tempo para piscar os olhos. Cascal tem razão. Nunca vimos nada igual. E numa hora
destas Rhodan vai dormir.
— Levou apenas cinco minutos para absorver todas as impressões. Mas acho que o
senhor tem razão. Eu seria capaz de contemplar durante horas o espetáculo do “Enxame”
passando perto de nós. Pense bem. Se ficássemos parados no lugar em que estamos,
demoraria mais de dez mil anos até que o “Enxame” tivesse passado — isso naturalmente
se não realizasse uma transição.
— Pois eu estou mais preocupado com o destino de Gucky — disse Kosum.
Bell deu-lhe razão.
— Eu também. Mas até agora ele sempre teve sorte, mesmo nas situações mais
difíceis. Está em companhia de Ras Tschubai, que é outro cara de sorte. Além de Alaska
e Toronar. Juntos vão dar um jeito.
Bell sentou numa poltrona e olhou para a tela panorâmica.
O tempo custou a passar.
***
Na outra nave, a Intersolar, as coisas não eram muito diferentes, embora a imagem
projetada na tela panorâmica não tivesse nenhuma semelhança com a da Good Hope.
Depois que a outra nave que tinha Rhodan a bordo desapareceu, Atlan e Julian
Tifflor ficaram sentados mais algum tempo. Olharam para a tela, onde o “Enxame” só
podia ser visto de frente, uma massa compacta de sóis, a dez anos-luz de distância. Que
nem uma concentração de estrelas, que naturalmente só podia ser visto desse lugar
porque os reflexos de rastreamento ultraluz lançavam sua imagem na tela como que num
passe de magia. Se não fossem esses recursos técnicos, a luz levaria dez anos para chegar
do “Enxame” à Intersolar.
Atlan, que já tinha mais de onze mil anos de vida e estava mais familiarizado com
os acontecimentos cósmicos que qualquer terrano, sacudiu a cabeça.
— Não me lembro de já ter ouvido falar no “Enxame”. Se já esteve aqui, isso deve
ter sido há muito, muito tempo. Mas que esteve esteve, pois deixou seus rastros. Isto eu já
sei.
Julian Tifflor fitou-o com uma expressão indagadora, mas ficou calado. Sabia que
Atlan falaria sem que ninguém pedisse, desde que julgasse o problema importante.
— Os sacos de carvão, Julian. Todas as outras regiões em que há relativamente
poucas ou nenhuma estrela numa extensão de centenas de anos-luz...! Antigamente havia
estrelas nessas regiões, mas quando o “Enxame” atravessou a galáxia em outros tempos,
ele as levou. Pode ter sido a cem ou duzentos mil anos. Talvez volte toda vez que a
galáxia completa um movimento de rotação. É bem verdade que com os recursos técnicos
que ele usa, esse tipo de dependência não seria necessário, mas nossos conhecimentos a
respeito dele ainda são muito escassos.
— Talvez não demoremos a saber mais alguma coisa — disse Tifflor, numa alusão
à tarefa de Gucky e seus companheiros. — Se tudo correr segundo o plano.
Havia uma expressão de dúvida no rosto de Atlan.
— Se! Nem podemos ter certeza de que voltaremos a ver um deles. Eu não deveria
ter concordado.
— Isso não teria adiantado nada — opinou Tifflor. — Se o rato-castor mete uma
coisa na cabeça, ninguém consegue tirar. Além disso os preparativos já representaram um
grande risco, como fui informado por Ribald Corello. Acha que tudo isso deveria ter sido
em vão?
Desta vez Atlan não respondeu. Contemplou em silêncio a cabeça do “Enxame” que
corria atrás da nave à velocidade de cinquenta por cento luz, sem que se notasse qualquer
movimento.
Em algum lugar, atrás do campo energético cristalino que mal encobria o brilho das
estrelas, havia dois terranos, um ertrusiano e um rato-castor.
O jato espacial acelerou devagar e com cuidado.
O disco achatado, com trinta e cinco metros de diâmetro, até parecia um bacilo no
corpo de um dinossauro.
Toronar Kasom, o ertrusiano enorme, estava sentado à frente dos controles. Ras
Tschubai, o teleportador, ajudava-o no trabalho difícil cuidando dos aparelhos de rádio e
rastreamento. Gucky e Alaska Saedelaere estavam descansando em um dos camarotes.
Era possível que nos próximos dias não tivessem mais tempo para dormir.
O “Enxame” continuava sendo mais rápido que eles. Naturalmente Kasom não teria
nenhuma dificuldade em compensar a diferença de velocidade numa manobra rápida, mas
temia que dessa maneira pudessem ser descobertos, o que queriam evitar de qualquer
maneira. Da maneira que iam a nave podia ser confundida com um meteorito capturado
pelo “Enxame”, que estava sendo acelerado aos poucos pelos campos energéticos
especiais que também agiam sobre os sóis e planetas roubados.
Algumas faixas luminosas brancas alongadas tinham ficado mais curtas depois que
o jato espacial aumentou a velocidade. Os instrumentos mostravam que estavam correndo
a dez mil quilômetros por segundo na direção do “Enxame”, que ainda continuava sendo
quinze vezes mais rápido.
— Rastreamento negativo — disse Ras, que continuava nos controles. — Todos os
objetos detectados comportam-se normalmente e permanecem na rota. Qualquer mudança
seria notada imediatamente.
— Isso me deixa muito mais tranquilo — disse Kasom em tom sarcástico. — O que
dizem os telerrastreadores?
— Sóis, planetas e espaçonaves — muitas e muitas espaçonaves! Encontramo-nos
numa galáxia independente. Quanto a isso não pode haver nenhuma dúvida. Entrar nós
entramos. Resta saber se conseguiremos sair.
— No momento não deveríamos preocupar-nos muito com isso, Ras. Por enquanto
o importante é que não descubram nossa presença e que o “Enxame” não tome medidas
contra nós. Se formos caçados, será nosso fim.
Um grupo de espaçonaves de formas estranhas voando em formação apareceu em
uma das pequenas telas acopladas com os rastreadores. As naves eram parecidas com
triângulos voando com a base para a frente. Deviam ser mais de trezentas.
— Que pássaros esquisitos são esses? — perguntou Ras, chamando a atenção de
Kasom para o estranho fenômeno. — Os instrumentos registram valores muito reduzidos.
Talvez sejam naves de reconhecimento.
O ertrusiano estudou as naves desconhecidas.
— É possível. Mas mesmo que sejam, não temos motivo para ficar preocupados. Se
seus rastreadores tivessem acusado alguma coisa, já estariam atrás de nós. Somos muito
pequenos.
Ras armazenou todos os dados que estavam sendo colhidos. Aos poucos foi obtendo
um quadro geral das regiões mais próximas no interior do “Enxame”. As medições ainda
eram difíceis e em parte chegavam a ser incompletas e pouco precisas, mas já havia
coisas que se delineavam claramente. No “Enxame” reinava a ordem.
Era uma ordem que Ras e Kasom não compreenderam logo, mas sem dúvida ela
existia. O telerrastreamento acusou, além do grupo de trezentas naves de reconhecimento,
algumas unidades maiores, que também viajavam em grupos, dando a impressão de que
cada um tinha um lugar bem determinado na pequena unidade galáctica.
O “Enxame” estava organizado, muito bem organizado até. Cada nave tinha seu
lugar, da mesma forma que cada sol capturado e cada planeta, tanto os que desenvolviam
cinquenta por cento da velocidade da luz como aqueles que ficavam rapidamente para
trás e eram acelerados aos poucos.
Parecia que nada fora deixado ao acaso.
A distância média entre os sóis era de três anos-luz, ao menos na cabeça do
“Enxame”. Certos sóis estavam a apenas um ou dois dias-luz uns dos outros, enquanto
outros estavam praticamente isolados no espaço. Seus vizinhos brilhavam a meio ou até a
um ano-luz de distância. Isso não chegava a ser perigoso para o voo normal, mas sim
para uma rápida manobra linear, para a qual não pudesse ser feita uma programação
detalhada.
Mas ainda havia coisas de que nem Kasom nem Ras desconfiavam. Gucky e
Alaska, que estavam descansando naquele momento, não tinham a menor ideia do perigo
grave que se aproximava.
***
O “Enxame” realmente era muito bem organizado.
Em virtude dessa organização cósmica, da qual dependia a existência do “Enxame”,
era inevitável que até mesmo um objeto voador de tamanho insignificante como um jato
espacial acabasse sendo descoberto.
Antes de mais nada os donos do “Enxame” possuíam uma frota de vigilância que
entrava em ação toda vez que novos planetas eram capturados para serem incorporados
ao gigantesco “Enxame”. Essa frota de vigilância era formada por cerca de cinquenta mil
unidades de todos os tipos e tamanhos.
Algumas esquadrilhas eram incumbidas de, depois da captura de um sistema,
reduzir a velocidade elevada que desenvolviam e adaptá-la à dos respectivos planetas e
sóis. Essas naves permaneciam em posição de espera e observação numa grande
distância, que oferecia a necessária segurança. Tratava-se de uma medida de precaução.
Os donos do “Enxame” sempre tinham de contar com a possibilidade de que os
habitantes inteligentes de algum mundo por eles assumido já conhecessem a astronáutica.
Apesar do processo de deterioração mental a que tinham sido submetidos, esses
habitantes ainda poderiam pôr em perigo a ordem dentro do “Enxame”. Se resolvessem
atacar com as frotas de guerra que possuíam, podiam causar grandes danos.
A frota de vigilância devia evitar isso mantendo sob observação os mundos
capturados e, principalmente, ficando atenta em eventuais indícios da prática da
astronáutica. Qualquer objeto, por menor que fosse, devia ser detectado e identificado.
Havia outra frota, muito mais perigosa. Era a chamada frota de caça, cujos
comandantes trabalhavam em estreita colaboração com a frota de vigilância. Era postada
nos lugares em que, segundo os cálculos, poderiam aparecer os habitantes de algum
planeta com suas espaçonaves. Cada nave que quisesse abandonar seu mundo e
atravessar o “Enxame” sem correr perigo devia realizar uma manobra de adaptação
rigorosamente fixada. Com base na aceleração provável podia-se calcular em que lugar
um veículo destes devia aparecer depois de completada a adaptação da velocidade.
Naturalmente as duas frotas controlavam um gigantesco setor no espaço, mas os
rastreadores de grande alcance permitiam que com o tempo fossem detectadas e
identificadas todas as aglomerações de matéria, por menores que fossem.
O “Enxame” era organizado.
Nada ficara entregue ao acaso.
***
Gucky dormira profundamente cerca de uma hora. Sentia-se descansado. Mas em
vez de levantar e dirigir-se à sala de comando do jato espacial que ficava perto do lugar
em que estava, ele chegou à conclusão de que Alaska ainda dormia e não podia
incomodá-lo. Resolveu fechar os olhos e concentrou-se no conhecido modelo intelectual
do ser energético chamado Harno, que era mantido prisioneiro em algum lugar dentro do
“Enxame”.
O rato-castor recebeu uma torrente de pensamentos estranhos, mais ou menos
intenso. Assustado, reduziu o nível de concentração. Voltou a avançar tateando
cuidadosamente. Desta vez usou o filtro telepático, que eliminava automaticamente os
modelos não desejados. Esta eliminação era feita segundo a intensidade. Desta forma os
impulsos não cessavam de repente.
— Harno! Se estiver me ouvindo, responda! Harno!
Gucky repetia constantemente sua mensagem telepática, depois de desistir da
intenção de captar Harno sem chamá-lo. Desta vez tinha de dar um jeito de entrar em
contato com Harno sem o auxílio de Corello, uma vez que se encontrava no interior do
“Enxame”. Já não havia nenhum campo energético opaco, capaz de isolar até mesmo os
impulsos mentais.
— Harno! Aqui fala Gucky, seu amigo. Responda, Harno!
Alaska, que estava deitado do outro lado do camarote, mexeu-se e abriu os olhos.
Olhou para o rato-castor.
— Desde quando deu para falar sozinho? — perguntou em tom de compaixão.
Gucky abriu os olhos e respondeu indignado:
— Dê o fora, mente fútil! Você acabou com minha concentração. Tento entrar em
contato com Harno. Você me faria um grande favor se pudesse sair daqui. Diga aos
outros que me dêem meia hora de paz.
Alaska Saedelaere, o semimutante mascarado, levantou preguiçosamente e ajeitou o
traje de combate.
— Não se irrite, baixinho! Como podia saber que você estava falando com Harno?
Está bem, vou dar o fora e avisarei aos outros. Da outra vez trate de ser mais gentil, senão
lhe dou uma surra.
Gucky ainda estava refletindo para escolher que copo devia atirar atrás de Alaska,
quando este fechou a porta que dava para o corredor. O rato-castor ficou só. Voltou a
fechar os olhos e concentrou-se.
— Harno! Está recebendo minha mensagem? É Gucky. Responda!
O rato-castor abriu com muito cuidado o setor de recepção de seu cérebro que
sofrerá uma mutação, sem permitir que os inúmeros impulsos estranhos atingissem seu
consciente. Sabia que o modelo de Harno era forte e intenso. Dificilmente deixaria de
ouvi-lo se o recebesse.
Por um instante sua atenção foi distraída por Kasom e Alaska, que discutiram na
sala de comando por causa de alguns ecos projetados nas telas dos rastreadores. Mas de
repente, muito forte e nítido, surgiu o contato com Harno. Era como se tivesse sido feita
uma ligação direta pelo rádio.
— Gucky! Você está nítido e intenso. Onde está?
— Corremos o perigo de uma vigilância telepática?
— Não.
— Estou dentro do “Enxame”, com dois companheiros. Deixamo-nos capturar
juntamente com um planeta. Estávamos avançando com nosso jato espacial em direção à
cabeça do “Enxame”. Onde está você? Podemos ajudar?
— No momento ninguém me pode ajudar. Se alguém precisa de ajuda são vocês. A
frota de caça os detectará e perseguirá. Não deverá demorar. Vocês devem...
Gucky interrompeu o fluxo mental.
— Frota de caça? Que é isso?
— São naves especiais que receberam a tarefa de destruir todas as naves estranhas
que aparecerem no “Enxame”. Se forem detectados, vocês estão perdidos. Por isso lhe
peço que não perca mais um segundo. Não voem no mesmo sentido do “Enxame”, mas
em sentido contrário. A parte dianteira fica a cerca de três mil anos-luz. Vocês deverão
entrar no “Enxame” até um terço de seu comprimento. Lá encontrarão dois sóis gigantes
azuis, que giram um em torno do outro como se fossem gêmeos. Ficam a dezoito anos-
luz um do outro, e bem no meio deles fica o planeta de Cristal...
— O planeta de Cristal...?
Os impulsos mentais de Harno eram mais fracos, menos constantes. Parecia que
alguma coisa perturbava sua concentração, mas ele se esforçava para não ser distraído.
— É um planeta artificial, um mundo de cristal com milhões de superfícies
lapidadas de maneiras diferentes, que parecem espelhos. O planeta parece com um
gigantesco diamante, um cristal planetário, um espelho com milhões de facetas, que
reflete a luz dos dois sóis em todas as cores e deixa ofuscado qualquer um que se
aproxima sem o devido cuidado. Você não poderá errar, pois o planeta brilha a vários
anos-luz de distância mais que qualquer outra estrela.
— O que encontraremos no planeta de Cristal? Por que devemos ir para lá, Harno?
Os impulsos mentais de Harno tinham ficado tão fracos que o rato-castor mal
conseguia percebê-los. Receava que o contato pudesse ser interrompido antes que ele
obtivesse as informações mais importantes.
— Harno? Ainda está por aí? O planeta de Cristal... o que há nele?
Mais uma vez chegou uma resposta, fraca e quase imperceptível.
— É importante, muito importante. Tratem de encontrá-lo depressa! Voltarei a fazer
contato assim que for possível. A três mil anos-luz do limite do “Enxame”, dentro dele,
numa posição central. — vocês não podem perdê-lo...
Os impulsos acabaram de repente.
Gucky ficou deitado mais algum tempo, mas abriu os olhos. Olhou pára o teto baixo
e refletiu se valia a pena tentar estabelecer contato de novo. Harno pelo menos
conseguiria transmitir a posição exata. Três mil anos-luz — era uma informação muito
vaga. Mas de outro lado o lendário planeta de Cristal podia ser visto de longe. Devia
tentar.
Gucky estava saindo da cama quando recebeu os pensamentos de Kasom, que não
eram nada tranquilizadores. O rato-castor correu para a sala de comando o mais depressa
que pôde.
Os três homens estavam sentados nas grandes poltronas anatômicas, tensos e
prontos para entrar em ação.
— Por que não foram buscar-me? — perguntou Gucky e sentou na quarta poltrona.
— Numa situação destas...
— Você pediu que ninguém o perturbasse — interrompeu Kasom laconicamente.
— Podemos enfrentar os problemas sozinhos. Fomos detectados.
— Isso eu já sei. A propósito: Fiz contato com Harno. Kasom, devemos mudar de
rota. Será uma mudança de cento e oitenta graus.
Kasom nem sequer levantou os olhos.
— Vamos voar em sentido contrário ao “Enxame”? Por quê?
— Harno não chegou a indicar a posição exata, mas disse que devemos procurar
dois sóis gigantes azuis que giram em tomo de um planeta artificial — um planeta de
Cristal. Harno afirma que seu brilho não pode deixar de ser visto.
— Voltar? — Kasom apontou para as telas dos rastreadores.
— Eles nos detectaram e estão atrás de nós. Se fizermos uma curva de cento e
oitenta graus, voaremos contra a corrente. Seria perigoso, Gucky.
— Podemos ser atacados aqui da mesma forma que no centro do “Enxame”. Vamos
programar um salto linear de três mil anos-luz. Depois veremos o resto. Talvez ele nos
percam.
— Sabem que estamos aqui e acabarão nos encontrando de novo.
Gucky fitou Kasom. Parecia furioso.
— Quer fazer-me um favor? Não fale tanto! Estamos perdendo um tempo precioso.
Cada segundo vale ouro. Como comandante da missão...
— Está bem, está bem. Alaska, programe a nova rota e a etapa linear. Não temos
nada a perder...
Ras Tschubai, que ainda não se envolvera na discussão, fez uma pergunta.
— Harno não deu nenhuma indicação? Pelo menos poderia ter dito o que vamos
encontrar no misterioso planeta de Cristal.
— Só disse que é importante, muito importante. E Harno deve saber. É prisioneiro
do “Enxame” há muito tempo.
Ras não fez mais nenhuma pergunta.
As pequenas espaçonaves que se aproximavam em alta velocidade apareciam
nitidamente nas telas. Sem dúvida tratava-se de unidades de combate ou caças
incumbidos da vigilância no interior do “Enxame”. Pareciam ser rápidas, ágeis e bem
armadas, mas nenhum dos ocupantes do jato espacial teve vontade de fazer a experiência.
Pelos cálculos de Ras os perseguidores deviam ser em número de duzentos.
Finalmente Alaska concluiu a programação. A folha foi introduzida no computador,
o processamento teve início. Só então Kasom resolveu fazer o jato espacial mudar de
direção durante o voo normal.
Já tinham alcançado a velocidade de cinquenta mil quilômetros por segundo — um
sexto da velocidade da luz. Por isso Kasom teve de fazer uma curva ampla. Mas apesar
disso pegou os perseguidores de surpresa. Certamente não acreditavam que a presa, que
já acreditavam segura, tentaria penetrar mais profundamente no “Enxame”.
Kasom fez o jato passar perto de um sol e acelerou ao máximo. A pressão foi
neutralizada pelo campo antigravitacional. Dali a pouco entrariam no espaço linear.
Neste instante os perseguidores abriram fogo. Os primeiros feixes energéticos que
avançavam à velocidade da luz passaram à frente do jato. Por enquanto não houve
nenhum impacto direto.
Alaska correu para junto dos controles de fogo. Gucky apressou-se em gritar:
— Só um tiro de alerta, Alaska! Use o canhão conversor. Dali a instantes um sol
artificial surgiu entre eles e as naves de caça. Por pouco não entraram nele. As manobras
de desvio puderam ser vistas perfeitamente. Custaram alguns preciosos segundos aos
perseguidores. O jato aproveitou estes segundos para afastar-se muitos milhões de
quilômetros.
— Quanto tempo falta? — perguntou Kasom a Alaska, que saltara para perto do
setor de navegação. — Estão voltando...
— Vinte segundos exatamente.
Vinte segundos podiam transformar-se numa eternidade, se a vida dependia deles. A
cada segundo os perseguidores chegavam mais perto. Felizmente se mostraram
cuidadosos, por causa da proximidade de um sol e talvez porque temessem mais uma
bomba conversora.
Quando os primeiros raios avançaram à velocidade da luz, Alaska ficou sentado.
— Faltam três segundos — disse.
O sol próximo, todos os outros sóis, os perseguidores — o “Enxame” inteiro
desapareceu quando o jato espacial mergulhou no espaço linear.
— Agora nos deixarão em paz por algum tempo — disse Kasom e respirou aliviado
enquanto se recostava na poltrona. Fitou Gucky com um sorriso amável nos lábios. —
Não fique zangado comigo pelo que fiz há pouco, baixinho. Estava um pouco nervoso. O
que encontraremos mesmo no planeta de Cristal? Não faz nenhuma ideia?
— Não faço a mínima — confessou Gucky, que já esquecera o incidente. Podia
fazer tudo, menos guardar ressentimentos, ao menos em situações como esta. — Acho
que Harno também não teve tempo para explicações minuciosas. Prometeu que voltaria a
chamar.
Kasom sacudiu a cabeça.
— Um planeta artificial acompanhado por dois gigantes azuis! Será que se trata de
um gigantesco centro de controle do “Enxame”? Não deve ser tão simples! Mas Harno
deve ter tido um motivo para dar-nos esta informação. Certamente teve alguma coisa em
mente.
— Fiquem quietos um instante! — gritou Gucky em tom áspero, o que era um sinal
de que estava extremamente nervoso. — Tenho contato com Harno.
Todos ficaram calados. Observavam atentamente o rato-castor, que estava deitado
de olhos fechados numa poltrona muito grande para ele, concentrando-se. De vez em
quando mexia os lábios, dando a impressão de que dizia alguma coisa a si mesmo, mas
depois ficava imóvel, dando a impressão de que estava escutando.
Finalmente, depois de quase cinco minutos de silêncio absoluto, Gucky ergueu-se e
encarou os amigos. Havia em seu rosto uma expressão de satisfação completa.
— Então? Que houve? — perguntou Kasom em tom impaciente.
— Harno enviará um raio vetor parapsíquico — respondeu Gucky.
— Que vem a ser isso? — perguntou Kasom estupefato. — Nunca ouvi falar.
Tomara que consigamos captar o raio com nossos aparelhos.
— Dificilmente — respondeu o rato-castor com um sorriso de deboche. — Nem
que você procure e regule os aparelhos sem parar. Um raio vetor parapsíquico só pode ser
captado por um excelente telepata como eu. Este raio tem uma vantagem. Não depende
de nenhum recurso técnico e além disso funciona no espaço linear tão bem quanto no
universo normal. Resta saber se Harno não será perturbado e poderá transmitir
livremente. Mas se eu receber alguns fragmentos, isso basta. Já sei que Harno está em
cima do planeta de Cristal ou dentro dele. A única coisa que temos de fazer é seguir o
raio vetor.
— Já o está recebendo?
— Naturalmente. E como! Não será necessária nenhuma correção de rota. Estamos
na direção certa.
Alaska acompanhou o ligeiro tremor dos ponteiros dos instrumentos.
— O voo linear corre de acordo com o plano. Não tenho como verificar se fomos
detectados por raios de rastreamento da quinta dimensão. Os instrumentos reagem
normalmente. Talvez tenhamos sorte.
— Se o planeta artificial é tão importante, ele deve ser muito bem vigiado — disse
Ras. — Dentro de pouco tempo seremos detectados de novo. Quando voltarmos ao
universo normal teremos de agir depressa.
— Depressa, muito bem! — Kasom refletiu. — Resta saber como devemos agir.
— Isso nós resolveremos na hora — respondeu Gucky, que não parecia
impressionado. — O importante é encontrarmos as pérolas de vidro.
Aproveitaram o resto do tempo passado no espaço normal para descansar um pouco
e preparar-se para as tarefas difíceis que tinham pela frente.
Até que chegou o momento em que iam retornar ao universo normal.
Desta vez Ras Tschubai sentou junto aos controles de tiro. Alaska Saedelaere
encarregou-se dos goniômetros e dos rastreadores. Kasom ficou sentado à frente dos
controles de voo enquanto Gucky desempenhava as funções de goniômetro, mantendo
contato unilateral ininterrupto com Harno.
— Faltam dez segundos...! — disse Ras com a voz calma, mas tensa.
Tinham percorrido três mil anos-luz num tempo relativamente curto. Se os
perseguidores não possuíam sensores do semi-espaço, tinham perdido a presa que já
acreditavam segura. Mas nem por isso o perigo tinha desaparecido. Devia haver naves de
caça em todos os lugares no interior do “Enxame”, principalmente em torno do planeta de
Cristal, que devia desempenhar um papel muito importante.
Cinco segundos!
Todos concentraram-se no primeiro instante, que podia trazer a decisão. Ou os
perseguidores já estavam à sua espera, ou então teriam de procurar de novo, o que
representaria uma pausa. Além disso, não sabia se não precisariam realizar uma busca
mais demorada para encontrar o planeta de Cristal.
Agora...!
Os sóis puderam ser vistos de novo.
Depois de alguns instantes Alaska informou que não descobrira nenhum veículo
espacial nas imediações. Por enquanto Ras não teria trabalho.
— Tenho contato com Harno — anunciou Gucky. — Está transmitindo uma
informação.
Os outros não fizeram perguntas. Ficaram quietos, para não perturbar o contato.
Sabiam que as informações de Harno podiam ser muito importantes.
Desta vez Gucky recebeu os impulsos mentais de uma forma bem nítida e
compreensível. Até sobrepuseram-se ao raio-vetor que ficara mais forte.
— Gucky! Está vendo o cristal? É o cristal das almas aprisionadas. Dentro dele
estão aqueles que reinam, riem e sofrem. Você também me encontrará no cristal — e o
Y’Xanthomrier com o olho sábio.
— Ainda não vemos o cristal, Harno.
— Continuem voando em sentido oposto ao do “Enxame”. Logo o verão.
Os impulsos de comunicação voltaram a desaparecer. Só ficou o raio-vetor. A única
coisa que tinham de fazer era segui-lo.
À sua frente estava um sol normal amarelo, que segundo as informações de Alaska
era acompanhado por três planetas. O segundo, ressaltou Alaska, era um mundo de selva
tropical com mares e montanhas, sem sinais de uma civilização, mas que devia servir
muito bem como esconderijo...
— Queremos encontrar o planeta de Cristal! — disse Kasom em meio às suas
observações. — Não temos tempo para expedições privadas.
Alaska respondeu com uma calma surpreendente.
— O senhor tem razão, Kasom. Como sempre. Acontece que acabo de descobrir
novos perseguidores nos aparelhos de rastreamento. Vêm de várias direções. Se
desaparecermos por algum tempo no planeta, eles perderão nossa pista. Não adianta
entrarmos em luta com eles.
— E o planeta de Cristal?
— Eu não disse que devemos passar alguns anos no planeta selvagem. Acho que
algumas horas ou talvez um dia serão suficientes. Qual é sua opinião, Gucky?
Gucky parecia muito aliviado por terem pedido sua opinião. Afinal, era o
comandante da missão. Por isso só poderia apoiar a sugestão de Alaska.
— Algumas horas não fazem diferença. Enquanto esses caçadores que tanto nos
incomodam estiverem atrás de nós, não convém irmos diretamente ao planeta de Cristal.
Além disso ainda não os encontramos. Até acho possível que quando tivermos mais
calma consigamos informações mais detalhadas. Em resumo: apoio o plano de Alaska.
Ras acenou com a cabeça. Bastara um olhar ligeiro para as telas dos rastreadores
para convencê-los. Kasom suspirou e acabou cedendo.
— Está bem, Alaska, faça o favor de fornecer os dados do sistema...
***
Os dados colhidos pelo telerrastreamento eram corretos, mas não confirmaram que
o planeta sem nome era habitado por seres vivos que possuíam alguma inteligência.
A manobra de aterrissagem foi precedida por uma caçada excitante e uma hábil
manobra diversionista. Três grupos diferentes aproximaram-se do jato espacial e abriram
fogo a grande distância. Kasom teve muito trabalho para escapar ao ataque. Seguia uma
rota que o levaria para perto do sol amarelo.
Alguns minutos se passaram sem que nada acontecesse. Os caças do “Enxame”
corriam atrás do jato espacial e atiravam nele. Alguns raios energéticos foram refletidos
pelo campo energético. Os perseguidores não tiveram tempo para concentrar seu fogo em
um único ponto do campo defensivo, uma vez que Kasom, numa manobra arrojada, fez
de conta que estava levando o pequeno veículo bem para dentro dos sóis.
Os sistemas de refrigeração trabalharam a toda. Kasom até se arriscou a desligar os
campos energéticos, para conduzir todas as energias disponíveis ao sistema de
arrefecimento.
Os perseguidores desistiram. Mudaram de rota antes que fosse tarde. Entraram em
posição num ponto mais distante do espaço e tentaram descobrir por meio dos
rastreadores quais eram os planos do piloto da nave desconhecida, que em sua opinião
devia ter enlouquecido. Será que queria mesmo conduzir o veículo à morte certa?
— Fora de alcance — informou Alaska de junto dos controles. — Os campos de
interferência do sol impedem qualquer contato pelos rastreadores.
Kasom acenou com a cabeça. Fez uma pequena mudança de rota, que faria o
veículo sair do sistema depois de passar a apenas alguns milhões de quilômetros da
atmosfera solar, levando-o para perto do segundo planeta, que ficava praticamente atrás
do sol relativamente ao primeiro ponto de observação.
Alaska acionou de novo o telerrastreamento. Começaram a chegar dados mais
precisos, inclusive a confirmação de que Yellow II, nome que tinham dado ao planeta por
causa da cor de seu sol, era habitado. Não havia indícios de uma civilização técnica, mas
não havia dúvida de que no mundo selvagem existiam animais e seres semi-inteligentes,
que já tinham construído núcleos primitivos junto aos rios e mares e ao pé das
montanhas.
Ras Tschubai teve oportunidade de formular algumas hipóteses.
— Já estamos a três mil anos-luz do começo do “Enxame”. Quer dizer que o planeta
Yellow II foi capturado há pelo menos seis mil anos, a não ser que tenha sido feita uma
transição para colocá-lo em sua posição atual. Ainda não sabemos como isso funciona —
e se funciona. Mas de uma coisa temos certeza. A vida que existia no planeta capturado
por enquanto não foi perturbada. Parece que os donos do “Enxame” têm tempo, muito
tempo.
Alaska contentou-se com os dados já colhidos a respeito do planeta e voltou a ligar
o telerrastreamento, enquanto Kasom fazia os preparativos para o pouso. Nem deu voltas
em torno do planeta como se costumava fazer. Fez o jato correr em alta velocidade sobre
um mar, em voo baixo. Devia ser um mar muito raso, pois em toda parte viam-se bancos
de areia, recifes e cadeias de montanhas subaquáticas que quase chegavam à superfície. A
água era cristalina.
Kasom dirigiu-se a Alaska.
— Então? Eles nos perderam?
— Parece que sim. Ainda há três grupos de naves, mas estão fora do sistema.
Talvez não saibam o que aconteceu. Não me surpreenderei se bloquearem o sistema.
— Nesse caso aproveitaremos a noite para sair daqui — disse Gucky em tom muito
sério, na esperança de que alguém achasse graça. Mas teve uma decepção. Ninguém
tomou conhecimento de suas palavras.
Kasom tinha muito trabalho com o pouso, que pretendia realizar na costa do oceano
que acabavam de atravessar, desde que o terreno lhe parecesse apropriado. Reduziu a
velocidade ao ver a faixa escura no horizonte.
Alaska forneceu os últimos dados.
— Atmosfera de oxigênio, gravidade igual a da Terra, tempo de rotação trinta
horas. Deve haver estações do ano — mas não ficaremos para descobrir. Não vejo
problemas para o pouso.
A costa era baixa. Depois de uma larga faixa de areia começava a mata virgem.
Bem à frente do jato havia uma povoação na margem da baía, que formava um porto
natural.
Kasom mudou de direção e seguiu para a parte da costa em que havia construções, a
uns três quilômetros da aldeia portuária. Tinha certeza de que a chegada da nave fora
notada e que logo apareceria alguém. Era o que ele queria. Já que aceitara a sugestão de
Alaska, pretendia aproveitar o tempo.
Havia uma coisa que ele esperava descobrir.
O disco pousou suavemente na areia, perto da mata virgem. As copas largas das
árvores gigantescas representavam uma excelente proteção contra a visão de cima. De
outro lado seria possível realizar sem maiores perigos uma decolagem-relâmpago se
houvesse alguma surpresa.
O propulsor silenciou. Kasom recostou-se.
— Podemos ficar aqui algumas horas. Pode detectar os grupos de caças com os
telerastreadores, Alaska?
— Não muito bem, mas é possível.
— Ótimo. Vamos esperar que desistam das buscas. Só podem pensar que caímos no
sol. Gucky, está captando o raio-vetor de Harno?
— O raio ainda está lá, mas não por muito tempo. Com o movimento de rotação do
planeta ficará abaixo da linha do horizonte. Aí teremos uma pausa de quinze horas na
transmissão. Se quiser que eu continue a receber, teremos de ir para o outro lado.
— Isso pode ficar para depois. Está recebendo impulsos mentais dos nativos?
— Estou recebendo em grande quantidade. Eles nos viram e estão enviando uma
delegação. Não somos os primeiros astronautas que descem no planeta.
— interessante. Estou curioso para saber o que vão contar. Quero descobrir há
quanto tempo este mundo se encontra dentro do “Enxame” e o que aconteceu neste
tempo.
— Dali se poderiam tirar certas conclusões sobre os acontecimentos em conjunto —
concordou Ras. — Deve haver algum sistema atrás disso.
— Sem dúvida — disse Ras e voltou a observar a praia, que podia ser vista muito
bem da cúpula da sala de comando. — Estou curioso para ver como são os nativos.
— Descendem de insetos — disse Gucky laconicamente. — Foi a única coisa que
descobri.
— São pacatos?
— Completamente!
Apesar do movimento de rotação relativamente lento de Yellow II, o sol foi
baixando para o horizonte. Dentro de pouco tempo começaria o crepúsculo. De repente
Ras apontou para o norte.
— Lá vêm eles. São pelo menos doze. Estão a pé. Parece que não têm automóveis.
— Só têm canoas primitivas — explicou Gucky, que fazia o controle telepático dos
desconhecidos. — Saem com elas para pescar no mar.
— Estão armados?
— De forma alguma. São tão pacatos como borboletas. Estão um pouco curiosos
para descobrir o que viemos fazer aqui desta vez.
— Desta vez? — perguntou Kasom esticando as palavras.
— Isso mesmo. Acham que fazemos parte daqueles que já os visitaram.
— Provavelmente foram exploradores do “Enxame” — opinou Ras. Voltou a olhar
para os nativos que se aproximavam devagar. — Parecem formigas supergrandes, mas
sem o corpo apertado na cintura. Além disso só possuem quatro pernas.
Kasom levantou.
— Sou o mais impressionante, pelo menos quanto à figura. Vou ao encontro deles.
Vocês ficarão aqui. Estejam atentos e entrem em ação caso a situação se torne crítica. —
Kasom fez um sinal para Gucky e sorriu. — Concorda, senhor comandante?
O rato-castor retribuiu o sorriso.
— Ficarão impressionados com sua pança — disse.
Kasom não levou arma. Só pegou a pequena tradutora que prendeu num cinto sobre
o peito largo. Saiu pela eclusa de ar e foi em direção aos nativos, que tinham parado a
cem metros de distância e esperavam pacientemente. Quando o viram, juntaram as
cabeças alongadas com as antenas finas, dando a impressão de que discutiam sua
presença e faziam comentários.
Kasom não deixou que isso o impressionasse. Seguiu calmamente até chegar perto
do pequeno grupo. Ras vira bem. Realmente pareciam formigas de cerca de um metro e
meio. Mas havia grandes diferenças. Os grandes olhos multifacetados fitaram Kasom
com uma expressão de curiosidade. Não deram sinais de medo ou de se terem assustado.
Se um dia os encarregados do “Enxame” tinham aparecido nesse planeta, sobre o que, de
acordo com as informações de Gucky, não podia haver a menor dúvida, eles certamente
se tinham mostrado bastante discretos e cautelosos.
Isso correspondia às intenções de Kasom.
Ele parou.
— Viemos como amigos e logo sairemos daqui — disse e a tradutora fez a tradução
de sua fala de cumprimento por meio de estranhos chiados, que foram entendidos
imediatamente pelos nativos. — Não ficaram espantados? Costumam receber muitas
vezes visitas do céu?
Os nativos voltaram a confabular, mas Kasom compreendia o que diziam.
— Não é igual aos outros...
— Não faz parte deles.
— Talvez seja mau e...
— Precisamos falar com ele. Seria uma grosseria...
Kasom esperou pacientemente. Não adiantaria pedir que se apressassem. Além
disso ele tinha tempo. O sol estava desaparecendo. Continuaria claro pelo menos por
mais uma hora.
Finalmente um dos nativos dirigiu-lhe a palavra.
— Faz muitos sóis que recebemos a primeira visita. São tantos sóis que nem
podemos contá-los mais. Mas eles eram diferentes. Fizeram perguntas e nos deixaram.
Nossa vida não mudou por isso, mas ficamos sabendo que não estamos sós entre as
estrelas.
— Vocês mesmos viram?
Kasom sabia que esta era a pergunta decisiva, da qual dependia tudo. Aguardou
ansiosamente.
O mesmo porta-voz respondeu:
— Não. Já faz muito tempo. Mas nossos pais contaram, e eles souberam de seus
pais e estes por sua vez...
Fazia várias gerações!
Kasom não sabia qual era o tempo de vida de uma geração de insetos. Fez a
pergunta e ficou sabendo que os nativos conheciam os anos. É bem verdade que lhes
davam o nome de períodos de chuva. Uma vez por ano chovia muito tempo, por causa de
um movimento pequeno do eixo planetário e da posição em relação ao sol por ele
causado. As formigas viviam de trinta a quarenta períodos de chuva em média.
Quer dizer que fazia mais de cem anos que forasteiros tinham descido em Yellow II.
O correspondente a cento e cinquenta anos do planeta Terra.
O sistema se encontrava dentro do “Enxame” há mais de cento e cinquenta anos, e
nada tinha acontecido! Era o que Kasom queria saber.
Tratava-se de uma informação muito importante, da qual se podiam tirar muitas
conclusões.
Kasom agradeceu e respondeu a algumas perguntas a respeito dele e de seu povo.
Naturalmente só podia falar em parábolas, mas com isto acabou descobrindo algumas
coisas muito interessantes. Foi informado por exemplo do fato impressionante de que as
formigas não tinham a menor ideia de que seu universo mudara. Não sabiam que seu
mundo fora capturado por uma galáxia artificial, que era o “Enxame”. Nem desconfiavam
de que Yellow e seus dois planetas corriam pelo cosmo à velocidade de cinquenta por
cento luz. Por isso não podiam saber que as matérias-primas de seu mundo primitivo
tinham sido escolhidas há séculos para um dia servirem de fonte de energia aos donos do
“Enxame”.
Quando isso acontecesse, eles teriam de morrer.
Kasom já ouvira bastante. Apesar das perspectivas sombrias que se abriam para as
formigas ele experimentou um certo alívio. Parecia que para o “Enxame” o tempo não
tinha nenhuma importância. Os donos do conjunto gigantesco planejavam milhares de
anos para a frente. Talvez sua expectativa de vida fosse muito grande, ou então sua
organização social e seu sistema político previam que cada geração cuidasse da seguinte
e da que se seguisse a esta e vivesse daquilo que fora deixado pelas gerações passadas. Só
assim, pensou Kasom, é possível manter em funcionamento um sistema político como o
“Enxame”.
O “Enxame” era mesmo um sistema político. Sobre isto já não podia haver a menor
dúvida. Um estado gigantesco, de dimensões incríveis, diante do qual comunidades como
o Império Solar ou outros impérios siderais da Galáxia eram verdadeiros anões.
Quem havia atrás disso?
— Como eram os forasteiros vindos do céu? — perguntou Kasom. — As tradições
revelam isso?
Os nativos conferenciavam de novo antes de responder.
— Não existe uma descrição uniforme, amigo. Alguns eram como nós, mas outros
se pareciam com os habitantes do mar ou os caçadores de plantas voadores que vivem nas
copas das árvores. Também havia bípedes entre eles, mas eram menores que você, amigo.
Talvez nem todas as histórias sejam verdadeiras. Já faz muito tempo.
Havia outra coisa que Kasom achava estranha.
— Vocês não têm medo de nós? — perguntou. — Se já faz tanto tempo que não
aparecem visitantes das estrelas, nossa presença pode ser considerada um acontecimento
fora do comum. Não vejo ninguém que tenha vindo cumprimentar-nos, a não ser vocês.
Estão desarmados. Existe uma explicação lógica para isso?
— A explicação é simples, amigo. É possível que as tradições sejam pouco precisas
no que diz respeito ao aspecto dos visitantes, mas em um ponto elas são muito exatas.
Recebemos instruções minuciosas sobre a maneira de receber futuros visitantes.
— Instruções?
— Sim, instruções. E nós as seguimos. Espero que tenham ficado satisfeitos.
— Que dizem essas instruções?
Desta vez as formigas conferenciaram por muito tempo. Parecia que não estavam
completamente de acordo sobre a resposta. Kasom entendia alguma coisa do que diziam,
mas não conseguiu estabelecer a ligação entre as palavras. Esperou pacientemente, apesar
de já estar escurecendo.
Finalmente o porta-voz voltou a usar a palavra.
— Vocês devem conhecer as instruções, pois elas vieram de vocês.
Kasom não esperava isso.
— Também somos mortais, e o tempo apaga muitas coisas — disse em tom
indiferente. — Quando nossos antepassados visitaram vocês, nossa geração ainda não
tinha nascido. Existem tradições, mas elas não revelam como devem comportar-se os
mundos que já foram visitados por nós. De forma pacata, acredito.
Os nativos voltaram a conferenciar. Finalmente veio a resposta.
— Devemos ser pacatos, sem dúvida. Não sabem mais nada?
— Não. O que eu disse não basta?
O porta-voz fez um sinal para os companheiros. O grupo preparou-se para voltar à
aldeia. Já estava bem escuro.
— É bom que entre vocês as tradições também se tenham perdido. Antes assim.
Não refrescaremos a memória de ninguém, pois nosso povo é pacato e sabe o que quer.
Construímos um belo mundo e queremos que continue assim. Vocês podem visitar-nos
quantas vezes quiserem. Sempre serão recebidos como amigos. Passem bem. Ficarão
muito tempo?
— Não. Logo os deixaremos. Não querem mesmo dizer o que diziam as instruções
reveladas pelas lendas?
— Não!
O tom em que foi proferida esta palavra revelava uma firme decisão — e uma dose
de alívio.
Kasom não teve a menor dúvida de que as instruções deixadas pelos donos do
“Enxame” deviam ser desagradáveis. Por isso só aparecera uma delegação, em vez de
todos os habitantes da aldeia. Mas que instruções seriam estas? E por que os nativos não
queriam revelá-las?
A despedida foi amável, mas fria, mas também havia nela um tom de alívio e
esperança. As sombras do passado foram apagadas. Mas Kasom sabia que o futuro
continuava incerto.
Voltou ao jato espacial e contou o que tinha acontecido. Ao concluir acrescentou
em tom pensativo:
— Na verdade descobri muita coisa, apesar de não achar muito clara essa história
das instruções e não gostar dela. Sabem o que eu acho?
Os outros olharam para ele com uma expressão indagadora. Gucky fez uma careta.
— Então? — disse Ras em tom insistente.
— Os nativos receberam ordens de suicidar-se se aparecesse outra visita do espaço.
Os outros fitaram-no com uma expressão de incredulidade.
— Isso é um absurdo! Por que fariam isso? — Alaska sacudiu a cabeça de espanto.
— O senhor tem uma fantasia desvairada, Kasom.
— Não é tão desvairada assim, meu caro. Pense um pouco. Basta ver o alívio que
sentiram quando perceberam que eu não conhecia as instruções, quando os insetos
deviam supor que eu tinha uma ligação com os visitantes de outros tempos. O que
poderia combinar melhor com os desejos dos donos do “Enxame” que o suicídio dos
habitantes de um planeta que eles querem saquear?
Ras dirigiu-se a Gucky.
— Não descobriu nada? Devem ter pensado nas instruções que receberam.
— Não prestei atenção — confessou o rato-castor. — Além disso acho a hipótese de
Kasom exagerada. A população de um mundo preferiria ser destruída a matar-se
voluntariamente. Receio que você esteja enganado, Kasom.
— Sua fantasia realmente se descontrolou — opinou Ras Tschubai, que olhava para
os nativos enquanto se afastavam na escuridão, depois de terem parado um instante e
olhado para trás.
— Acha que alguém seria capaz de levar a população de um mundo a morrer
voluntariamente?
Kasom preferiu não apresentar outros argumentos em defesa de sua tese. Sentou-se
à frente dos controles e perguntou.
— E o raio-vetor de Harno, Gucky?
— Faz tempo que desapareceu abaixo do horizonte. Não recebo mais nada.
— Muito bem. Nesse caso vamos decolar e pousamos do outro lado do planeta, no
lugar em que é meio-dia. Precisamos tentar descobrir a posição do planeta de Cristal,
custe o que custar. Pelo menos a posição aproximada.
— Só com o raio-vetor? — Gucky sacudiu energicamente a cabeça. — Impossível!
Tenho a direção, mas não posso saber qual é a distância.
Kasom sorriu.
— Pense um pouco, baixinho. Se usarmos um pouco de lógica, conseguiremos.
Você mesmo constatou que depois que o sol se põe, o raio-vetor é absorvido ou ao menos
bloqueado pela massa do planeta.
— Há poucos minutos ainda o recebi. O sol já se tinha posto. Você teve azar, meu
chapa.
— Azar por quê? Isso até facilita a determinação do lugar exato. — Kasom pegou
uma folha de escrita e pôs-se a desenhar alguma coisa. — Este é o sol e aqui fica Yellow
II. Viemos daqui, e o planeta estava atrás do sol, do lado direito. Descreve um
movimento de rotação para a direita, visto de cima. Se você ainda captou os sinais de
Harno depois do pôr-do-sol, o planeta de Cristal deve ficar mais ou menos aqui. —
Kasom marcou um ponto no mapa feito por ele. — Este ponto corresponde mais ou
menos ao centro do “Enxame”, e a direção está certa, conforme você mesmo afirmou.
— Kasom fez cálculos por um instante. — Fica a uns trinta anos-luz daqui,
cinquenta no máximo.
— Acha que isso está certo? — perguntou Gucky em tom desconfiado.
—Até podemos apostar — disse Kasom.
Alaska entrou na conversa.
— Nossos rastreadores e os outros aparelhos e instrumentos são bem precisos. Acho
que para uma distância máxima de cinquenta anos-luz, considerando essa distância por
duas vezes como os lados iguais de um triângulo isósceles, a dimensão do planeta pode
ser adotada como sendo a base conhecida. Desta forma podemos fazer o cálculo exato da
distância.
A ideia deixou-o tão entusiasmado que ele alimentou o computador com os dados
conhecidos enquanto Kasom decolava e voava sobre o mar, para o leste, ao encontro do
sol que já desaparecera ao oeste.
Depois de percorrer vinte mil quilômetros o jato espacial pousou de novo, desta vez
num platô de rocha coberto por uma vegetação rala, bem acima da mata virgem que se
estendia de horizonte a horizonte.
Ali dificilmente se poderia esperar uma visita dos nativos.
Alaska desligou o computador. Entregou o resultado a Kasom.
—Trinta e seis anos-luz — disse em tom calmo.
Kasom acenou com a cabeça. Parecia satisfeito.
— Quer dizer que o que eu pensei estava certo. Acho que devemos programar uma
etapa linear de trinta e seis anos-luz. Devemos voltar ao espaço normal bem perto do
planeta de Cristal.
— Cuidarei dos caçadores do “Enxame” — disse Alaska. — Talvez tenham
desistido.
Alaska teve uma decepção.
O telerrastreamento detectou quatro grupos grandes circulando em tomo do sistema
a um dia-luz de distância.
— Excelente! — Kasom não parecia preocupado ou nervoso. — Vamos programar
o voo linear de maneira a sairmos do espaço normal a uma hora-luz de Yellow II. Parece
que eles não possuem mesmo sensores do semi-espaço, porque estes grupos não são os
mesmos que nos perseguiram.
— Voltei a receber nitidamente o raio-vetor — anunciou Gucky. — Harno faz o que
pode. Se continuar assim, pode alugar-se como estação goniométrica intergaláctica.
Alaska voltou a fixar a direção exata e repetiu os cálculos que realizara sem os
dados do raio-vetor deslocado em vinte mil quilômetros. O resultado foi o mesmo. Trinta
e seis anos-luz.
Ras levantou, espreguiçou-se e voltou a sentar-se.
— Sugiro que Kasom e eu durmamos algumas horas antes de decolar. Temos dias
cansativos pela frente.
Kasom olhou para fora. Os raios do sol do amanhecer de um dia num mundo
primitivo cobriam a paisagem solitária e vazia. Yellow II era um mundo lindo. Talvez
fosse também um mundo rico em matérias-primas. E um mundo com habitantes pacatos.
Um mundo que não devia cair nas mãos dos senhores do “Enxame”.
— Partiremos ao pôr-do-sol — disse e levantou-se. — Ras, concordo plenamente
com sua sugestão, isto se o comandante não tiver nenhuma objeção.
Gucky estremeceu. As brincadeiras já começavam a enervá-lo. Mas ele demonstrou
uma calma surpreendente.
— Concedido — disse laconicamente. — Tratem de tirar um ronco.
Alaska esperou que a porta se fechasse e perguntou:
— Até parece que você quer ver-se livre de nós.
— Quero mesmo, Alaska. Imagine só! Lá fora há um mundo esperando que eu o
explore... — Gucky bateu em seus ombros num gesto bonachão. — Você certamente terá
a gentileza de montar guarda na nave enquanto eu fizer isto, não é? Não me diga que vai
recusar...
—Eu queria... — principiou Alaska, mas calou-se.
Gucky desmaterializara-se. Apareceu do lado de fora, a cem metros do jato espacial,
no platô. Caminhou meio desajeitado em torno de algumas pedras grandes, fazendo de
conta que queria tomar posse deste mundo em seu próprio nome.
Alaska gostou que ele tivesse esse prazer e pôs-se a calcular a etapa linear que
tinham combinado.
***
O relógio-calendário marcava o dia 15 de fevereiro de 3.442, tempo terrano.
Em Yellow II era o fim da tarde. Gucky terminara sua excursão e voltara ao jato
espacial.
— Então? — perguntou a Alaska, que estava preguiçosamente deitado na poltrona,
cochilando. — Tudo pronto? Os outros ainda estão dormindo?
Alaska piscou os olhos.
— Nem se mexem. A primeira etapa linear — tomara que também seja a última —
foi programada. A única coisa que Kasom tem que fazer é decolar. O resto será
automático.
Gucky sentou-se.
— Andei teleportando por aí. É uma região maravilhosa. Gostaria de passar
algumas semanas de férias aqui. — O rato-castor tirou lentamente o traje de combate que
usara durante sua expedição particular. Quando notou o olhar espantado de Alaska, sorriu
ironicamente. — Está admirado, não está? Ainda estou com a pele molhada — tomei
banho. Descobri um lago de águas límpidas a uns cem quilômetros daqui. Não resisti.
— E se houvesse peixes perigosos ou coisa parecida?
— Nem uma minhoca! — afirmou o rato-castor. — Foi uma coisa maravilhosa. A
propósito: Vou acordar os cavalheiros. Está na hora de nós cochilarmos um pouco.
Kasom não precisa de nós para fazer subir esta lata velha.
— O voo foi programado — concordou Alaska. — Kasom não terá muito trabalho.
Kasom e Ras estavam muito bem-humorados ao entrar na sala de comando. Gucky,
que os acordara, seguiu-os e deixou a porta aberta. Ainda estava falando no banho que
tomara, deixando água na boca dos outros.
— Não se encontrou com nenhum nativo? — perguntou Kasom.
— Parece que aqui em cima não mora nenhum. Também vi poucos animais.
— E os grupos de caças? — perguntou Kasom a Alaska.
— Dão voltas em torno do sistema a grande distância. Se acelerarmos bem
entraremos no espaço linear antes que nos detectem de verdade.
— Muito bem. Neste caso eu sugeriria que Ras e eu nos encarreguemos da
decolagem e da ruptura das linhas inimigas. Enquanto isso vocês comerão alguma coisa e
dormirão. Quando chegarmos ao destino teremos de reunir nossas forças.
— Você lê pensamentos? — perguntou Gucky, fingindo-se de espantado. — É que
também íamos apresentar essa proposta inteligente.
Kasom sentou-se à frente dos controles.
— Pois tratem de dar o fora e não nos incomodem mais! — Kasom acenou com a
cabeça para Ras. — Cuide do centro de controle de tiro, Ras. Não acredito que
precisemos, mas ninguém pode ter certeza...
Alaska e Gucky retiraram-se sem mais comentários. Se alguma coisa não corresse
de acordo com o plano, eles perceberiam em tempo. Não deixariam de ouvir o alarme.
Dali a dez minutos Kasom decolou.
O jato espacial acelerou ao máximo de sua capacidade, entrou na rota previamente
calculada e precipitou-se espaço a fora.
A programação do voo linear entrou em funcionamento automaticamente quando a
nave alcançou a velocidade necessária.
Kasom ficou de olho nos rastreadores. Parecia que ainda não tinham sido
detectados. Mas os quatro grupos de caças apareciam nitidamente nas telas.
Antes que pudesse acontecer qualquer coisa, o jato entrou no espaço linear sem
incidentes. Kasom recostou-se na poltrona e respirou aliviado.
— Pronto — disse a Ras. — Resta saber o que encontraremos pela frente quando
voltarmos ao espaço normal.
Ras apontou para os controles de artilharia.
— Ficarei a postos para qualquer emergência.
O tempo custou a passar. A pequena nave percorreu a distância imensa percorrendo
bilhões de vezes a velocidade da luz, em sentido relativista. Permaneceu num universo
diferente, um universo superdimensional, que praticamente ficava encravado entre a
quarta e a quinta dimensão. Não houve nenhuma colisão com aquilo que costuma ser
chamado de matéria.
A fase crítica seria a da reentrada no espaço normal, na qual a velocidade ficaria
pouco abaixo da da luz. A matéria voltaria a ser matéria.
Kasom examinou os instrumentos.
Ainda teriam dez minutos de descanso.
Lembrou-se dos nativos de Yellow II. O problema não lhe saia da cabeça. Quais
eram mesmo as estranhas instruções que tinham recebido? Deviam suicidar-se? Aos
poucos ele mesmo foi achando isso pouco provável. Talvez tivessem recebido ordem de
ajudar a saquear o planeta, de servir de mão-de-obra aos conquistadores. Seria bastante
desagradável, mas melhor que o suicídio.
Kasom recordou que os nativos tinham ressaltado que os astronautas que tinham
descido no planeta em outros tempos eram diferentes uns dos outros. Dali se podia
concluir que se tratava de representantes de vários povos.
De povos cujos planetas tinham sido capturados pelo “Enxame”?
Kasom foi obrigado a reconhecer que isso parecia ter lógica. Também se poderia
concluir que os conquistadores precisariam de novos contingentes de seres vivos, porque
sua galáxia ambulante crescia a cada ano. Talvez só destruíssem a população dos planetas
capturados quando ela não concordasse com suas condições.
Mais cinco minutos.
De qualquer maneira, uma conquista sempre é uma conquista. Quer agisse com
brutalidade, quer se mostrasse humanitário, o “Enxame” roubava aos povos
independentes a liberdade de evoluir segundo permitia a natureza. Impunha-lhes sua
vontade e escravizava-lhes. O “Enxame” passava a ser uma causa justa no sentido da
liberdade pessoal.
Manobra de entrada!
Os anteparos fecharam-se automaticamente quando o fogo branco incandescente
atingiu o jato.
2

Demorou alguns longos segundos até que Kasom e Ras pudessem abrir
cuidadosamente os olhos. Apesar dos anteparos o fogo continuava ofuscante e o branco
transformara-se numa mistura fantástica de todas as cores que se possam imaginar.
Um gigantesco diamante parecia estar suspenso no espaço bem à sua frente.
O planeta de Cristal — devia ser ele!
Kasom respirou profundamente. Era bem verdade que Gucky havia dado uma
descrição, mas a realidade era mais formidável. Os rastreadores automáticos que
começaram a funcionar automaticamente no mesmo instante forneceram os primeiros
dados. Confirmaram que o planeta de Cristal era mais ou menos do tamanho da lua
terrana e estava exatamente a dezessete horas-luz. Como o jato espacial voava em
velocidade pouco inferior à da luz em sentido contrário ao “Enxame”, que desenvolvia
metade dessa velocidade, dali resultava matematicamente uma vez e meia a velocidade
da luz. Desta forma poderiam chegar ao planeta de Cristal dentro de dez ou doze horas.
Os rastreadores não indicaram nenhum objeto entre a nave e o planeta.
— Céus — como é bonito! — disse Ras profundamente impressionado.
— Bonito e, sem dúvida, perigoso.
O planeta parecia ser uma peça de vidro lapidado refletindo milhões de vezes a luz
dos dois sóis que ficavam em posição lateral e derramando o brilho sobre si mesma. Os
reflexos quase não podiam ser vistos a olho nu, por causa dos anteparos.
Kasom recuperou-se da surpresa.
— Os rastreadores, Ras! Precisamos de todos os dados disponíveis a respeito do
planeta — se realmente é um planeta. É artificial. E possui dois sóis, sem dúvida. Mas
um planeta...?
Os telerrastreadores entraram em funcionamento. Enquanto isso Ras examinava o
espaço à procura de objetos que talvez pudessem ser unidades espaciais.
Kasom apertou o botão do intercomunicador para acordar Gucky e Alaska. Dali a
alguns minutos os dois apareceram na sala de comando. Pareciam descansados, mas
quando viram o planeta de Cristal sua calma desapareceu. Até Gucky ficou mudo de
espanto diante do cenário sem igual.
— Então? Não dizem mais nada? — perguntou Kasom num tom que até podia dar a
impressão de que o planeta de Cristal fora construído por ele. — Ninguém de nós nunca
viu coisa igual. A propósito: Harno continua a transmitir?
— Sem alteração — observou Gucky em tom distraído e contemplou
ininterruptamente a maravilha cósmica. — O raio-vetor vem diretamente daquilo. Aliás,
ele poderia parar com isso. Está se cansando à toa. Fiquem quietos por alguns minutos.
Quero ver se consigo comunicar-lhe isto...
O rato-castor mergulhou num estado de concentração total. Seus lábios mexeram
sem que deles saísse um som. Kasom e os outros compreenderam que ele voltara a
estabelecer contato telepático com o ser feito de energia.
Depois de cinco minutos o rato-castor informou:
— Harno voltou a dizer que o diamante é o cristal das almas aprisionadas, mas não
forneceu dados mais precisos. Os que governam, riem e sofrem... Não faço ideia do que
quer dizer com isso. De qualquer maneira Harno já sabe que logo chegaremos ao destino.
Acho que voltará a comunicar-se conosco se isso for necessário. Quer que pousemos e
tentemos entrar no planeta. Está sendo fortemente vigiado, mas Harno é de opinião que
os rastreadores não são capazes de detectar objetos pequenos. Talvez nosso jato espacial
seja um objeto pequeno.
— Talvez — disse Kasom em tom de dúvida. — Se não for...
— Um grupo grande aproxima-se do lado esquerdo do “Enxame” — interrompeu
Ras em tom apressado. — Parece que são caças, de novo. Cuidarei dos controles de tiro.
Alaska, poderia ter a gentileza de encarregar-se dos rastreadores?
Todos foram aos seus lugares. Kasom usou a direção manual para poder realizar
manobras instantâneas. No caso de um ataque cuidaria da defesa. Alaska incumbiu-se dos
rastreadores e goniômetros.
Gucky foi o único a refestelar-se sorrindo numa poltrona à frente da qual não havia
instrumentos.
— Afinal, sou o chefe — argumentou ao ver os olhares de desaprovação dos amigos
e ler seus pensamentos ofensivos. — Além disso vocês não deixaram nenhum trabalho
para mim.
— Quem decide aqui é você — respondeu Kasom com uma evidente malícia.
Um sol vermelho passou à direita do jato. Estava tão distante que não chegou a
formar um traço colorido, mas continuava a ser uma bola de fogo vermelha que se movia
a olhos vistos. Nessas distâncias incríveis um movimento destes não representava
nenhum perigo, mesmo com a nave se deslocando à velocidade de cento e cinquenta por
cento luz. Mesmo a uma distância de uma hora-luz ainda teriam quarenta minutos para
desviar-se.
— Fomos detectados pelo grupo — informou Alaska. — Segue em nossa direção,
um pouco para a frente. Pretende interceptar-nos.
O planeta de Cristal aumentava e era cada vez mais luminoso. Não havia dúvida
sobre as intenções dos caças. Queriam interpor-se entre o objeto detectado e o planeta de
Cristal.
— Devem saber que somos a nave que fugiu — disse Ras, que continuava junto aos
rastreadores. — Provavelmente foram informados pelos outros grupos, que estão a três
mil anos-luz daqui.
— Deixemos que se aproximem — disse Kasom calmamente.
— E depois mostre-lhes uma coisa, Ras! — acrescentou Gucky.
Era um pedido surpreendente para o pacato rato-castor. A única explicação era o
amor que sentia pelo planeta das formigas. Além disso talvez ainda fosse muito fresca a
lembrança de SV-I, onde tinham encontrado os vosgos, aqueles ursos inofensivos e
brincalhões de que Gucky tanto gostara. O planeta SV-i servira-lhes de esconderijo ao
serem captados pelo “Enxame”.
Mas também se tinham transformado em presa dos conquistadores.
Os caças erraram nos cálculos ou não puderam voar mais depressa. De qualquer
maneira não conseguiram colocar-se entre o planeta de Cristal e o jato. Abriram fogo do
lado esquerdo.
Como já se disse mais de uma vez, o jato espacial deslocava-se à velocidade de
cento e cinquenta por cento luz relativamente ao “Enxame”. Na verdade desenvolvia
velocidade pouco inferior à da luz relativamente ao resto do Universo que envolvia o
“Enxame”. Mas os feixes energéticos disparados pelos caças também avançavam à
velocidade da luz. Mas apesar disso erraram o alvo.
Aproximavam-se do alvo à velocidade da luz e em linha reta relativamente ao
“Enxame”, mas com um deslocamento lateral equivalente à metade da velocidade da luz
em direção ao centro do “Enxame”.
Não podiam atingir o alvo.
— Tiveram azar! — disse Gucky em tom maldoso. — Só são um pouco mais bobos
que nós.
Viu-se que Gucky era mais inteligente do que Kasom acreditara.
— Uma bomba de conversão chega instantaneamente ao alvo; será teleportada, por
assim dizer. Desta forma o deslocamento relativo dos objetos já não fará nenhuma
diferença. — O rato-castor fitou Kasom com uma expressão de triunfo. — Tenho razão,
Ras?
O teleportador acenou com a cabeça sem virar o rosto. Os cálculos mantinham-no
completamente ocupado.
— Desta vez você tem. Colocarei uma bomba bem à frente da proa deles. Eles
voam para cima dela, pois com a velocidade que desenvolvem não terão tempo para
mudar de direção.
— O que acontecerá com eles?
— Nada, porque aí também serão rápidos demais. Atravessarão a bola de fogo. É
só. Talvez suas antenas externas se derretam, talvez mais alguma coisa. De qualquer
maneira isto lhes servirá de alerta.
Kasom manteve o jato espacial na rota que o levaria ao planeta de Cristal e aos dois
sóis gigantes azuis, que em comparação com o diamante pareciam pálidas imitações.
— Há outros grupos aproximando-se de várias direções — anunciou Alaska
preocupado.
— Preparem os trajes de combate — ordenou Gucky. — Se necessário teremos de
teleportar para fora da nave. Tive meus motivos para trazer Ras. Levará Alaska, enquanto
eu me encarregarei de Kasom?
— Quer que abandonemos a nave?
Kasom olhou para Gucky com uma expressão assustada.
— Quem lhe deu essa ideia?
— Só se não tivermos outra saída. Não se esqueça do que Harno disse. Informou
que objetos pequenos não podem ser detectados nem mesmo pelos melhores aparelhos,
por causa da energia irradiada pelos sóis próximos. Comparado conosco o jato ainda é
muito grande.
— Mas abandonar o jato...! — Kasom sacudiu a cabeça num gesto de perplexidade.
— Como poderemos um dia sair do “Enxame” sem uma nave espacial?
Gucky fez um gesto de pouco-caso.
— Aqui existem mais naves do que gostaríamos, Toronar. Não deve ser difícil
organizar uma delas.
Kasom desistiu. Voltou a cuidar da navegação.
Ras, que acabara de concluir seus cálculos, disparou o primeiro tiro com o canhão
conversor. A bomba desmaterializou e foi levada ao alvo através da quinta dimensão. No
mesmo instante em que Ras apertou o botão ela detonou a uns cinco milhões de
quilômetros de distância. A tela do rastreador mostrou, apesar de a bola de fogo só poder
ser vista a olho nu dali a mais ou menos dezoito segundos.
O grupo de caças correu bem para dentro do inferno e separou-se em todas as
direções. Alguns aparelhos balançaram sem reduzir a velocidade, dando a impressão de
que tinham sofrido avarias graves.
— Deste jeito não conseguiremos — disse Alaska de repente. — Devem ter
mobilizado toda a frota de defesa. Há grupos se aproximando de todos os lados, inclusive
algumas unidades maiores. Acho que o melhor seria entrarmos de novo no espaço linear,
para não cairmos nos sóis azuis à velocidade da luz se tivermos de abandonar o jato.
— Alaska — disse Gucky. — Programe a brincadeira! Estava mesmo na hora.
A etapa começou dentro de cinco minutos.
— O planeta de Cristal ainda está a dezesseis horas-luz — explicou Alaska. —
Programei a etapa para quatorze horas-luz e meia. Espero que seja o suficiente.
Era o que todos esperavam.
No último instante, quando já tinham sido cercados, entraram no espaço linear e dali
a pouco rematerializaram no fogo espectral do planeta de Cristal, que superava todos os
outros astros.
Kasom ligou os jatopropulsores de frenagem.
***
Parecia mesmo que os conquistadores tinham enviado ao encontro do jato todas as
unidades estacionadas nas proximidades do sistema azul, pois Kasom conseguiu
aproximar o veículo a menos de quinhentos milhões de anos-luz do planeta de Cristal
antes que aparecessem os primeiros caças.
Alaska detectou campos energéticos muito intensos, que deviam ter origem no
planeta de Cristal. Os instrumentos não revelaram nada sobre a natureza e a finalidade
destes campos.
Ras mandou a primeira bomba conversora ao encontro dos grupos de caças.
Enquanto isso Gucky continuava a contemplar fascinado o Cristal das almas
prisioneiras, conforme Harno chamara o objeto artificial. Tentou estabelecer contato com
o ser feito de energia. Conseguiu.
— Estamos aqui, Harno! Que devemos fazer?
— Pousar! Se alguém os impedir ou se forem atacados, abandonem a nave. Os
campos energéticos do Cristal sem dúvida os levarão à superfície. Depressa...
O contato foi interrompido.
Gucky já sabia o que queria. Sua teoria fora confirmada.
— Voltarei a chamar assim que tivermos pousado — prometeu.
Mais uma vez feixes energéticos foram repelidos pelo campo energético do jato
espacial. Logo o fogo ficaria mais concentrado, e então nenhum campo energético por
melhor que fosse os protegeria.
— Chegou a hora — gritou Gucky. — Temos de abandonar a nave. Com que
velocidade nos aproximamos do Cristal?
— Ainda são duzentos por segundo. Distância trezentos mil.
— Muito bem. Fechar trajes. Deixem os equipamentos desligados por enquanto.
O rato-castor segurou a mão de Kasom e esperou que Ras fizesse o mesmo com
Alaska. Lançou mais um olhar triste para a cabine do jato espacial, fez um sinal para Ras
— e teleportou.
Os anteparos dos capacetes eram fechados e quase opacos, mas o planeta de Cristal
brilhava como mil sóis. Mas só irradiava uma luz fria, senão o jato espacial se teria
derretido há horas.
O jato espacial...!
Gucky captou os pensamentos de Ras. O teleportador também abandonara a nave e
estava suspenso a alguma distância dali, ao lado de Ras. Gucky deu dois saltos
cuidadosos e conseguiu encontrá-lo. Ligaram os quatro trajes espaciais com grampos
magnéticos para não se perderem, pois era difícil enxergar os objetos através dos
anteparos.
— Lá está ele! — disse Ras, referindo-se ao jato espacial. — Ainda bem que
estamos bem longe, pois vão dar cabo dele.
Cinco ou seis naves torpedeiras abriram fogo concentrado contra o pequeno disco,
cujo campo defensivo fora desligado há algum tempo. Por isso nem seria necessário
concentrar o fogo num ponto, mas isso aumentaria o efeito desejado. O jato espacial
desmanchou-se numa explosão atômica. Não restou nem um pedaço de matéria e nem
mesmo os melhores especialistas seriam capazes de descobrir sua origem.
Os quatro amigos mantinham os rádios desligados para não serem descobertos.
Comunicavam-se encostando os capacetes. As ondas acústicas propagavam-se em seu
interior e eram conduzidas através das vibrações dos próprios capacetes.
— Temos de reduzir a velocidade — disse Kasom em tom preocupado. — Do jeito
que vamos acabamos nos espatifando. Estamos caindo em direção ao planeta de Cristal.
— É aonde queremos chegar — lembrou Gucky. — Vamos frear por meio de
alguns saltos de teleportação. Mas há outro detalhe. Harno referiu-se a campos
energéticos que nos recolheriam. Não se preocupe. Nada acontecerá conosco.
O diamante parecia maior e tomara-se mais nítido. Já se viam certos detalhes que
antes não tinham sido percebidos. O objeto do tamanho da lua realmente era formado por
milhões de superfícies lapidadas de formas diferentes, como triângulos, hexágonos,
quadrados, até elevações parecidas com pirâmides e semi-esferas, que refletiam cada raio
de luz milhares de vezes. O planeta brilhava em todas as cores imagináveis, com uma
intensidade que frustrava todas as tentativas de distinguir outros detalhes em sua
superfície.
Alaska mantinha-se ocupado com o microrrastreador instalado em seu traje de
combate. Tratava-se de um aparelho com um desempenho extraordinário, que trabalhava
com a mesma precisão do instalado no jato espacial. Alaska fez um sinal para Kasom,
que encostou o capacete ao seu.
— Desistiram da busca de eventuais sobreviventes. É um sinal de que não podem
detectar-nos. Gucky entendeu o que Harno quis transmitir. Somos muito pequenos para
eles. Os campos energéticos dos dois sóis sobrepõem-se aos impulsos de seus
rastreadores, mas não aos dos nossos.
— Ainda estão por perto?
— Estão. Ainda não podemos usar o rádio, se bem que não acredito que poderiam
captar sinais tão fracos. Vamos ficar quietos, que nada nos acontecerá, ao menos por
enquanto.
Os quatro continuavam a cair em direção ao planeta de Cristal
Mesmo sem o efeito de frenagem de seu equipamento de voo, a velocidade
diminuía. A superfície do astro artificial tornara-se maior, enchendo completamente o
campo de visão. Só faltavam algumas centenas de quilômetros...
— Já fomos alcançados pelos campos energéticos anunciados por Harno — afirmou
Ras. — Não me sinto muito à vontade. Se podem segurar Harno, nós nunca mais nos
livraremos deles.
— Você é um derrotista! — repreendeu-o Gucky. — De qualquer maneira não
temos alternativa. Você deveria ter pensado nisso mais cedo.
— Quem entra numa com você nem deve tentar usar o cérebro — respondeu Ras.
— Os caças mudaram de direção — comunicou Alaska. — Afastam-se de nós e do
sistema. Acho que não está sendo vigiado ou bloqueado constantemente.
Já era uma boa notícia, que além disso teve o mérito de interromper e pôr fim à
discussão entre Gucky e Ras. Talvez seu pouso mais ou menos voluntário no planeta de
Cristal nem fosse notado — a não ser por aqueles que viviam dentro dele. Se fossem
prisioneiros, talvez poderiam transformar-se em aliados.
Ainda estavam caindo e a superfície ficava apenas cem quilômetros abaixo deles.
Parecia ser um mundo de vidro, de espelhos. Devia ter sido construído por uma
tecnologia incrível, que não tinha igual no cosmo. Qual era sua finalidade? Se
conseguissem descobri-la, talvez chegariam um pouco mais perto do mistério do
“Enxame”.
De repente Gucky ficou muito nervoso. Fazia gestos dentro do traje de combate que
ninguém entendia. Só compreenderam o que ele dizia depois de encostar os capacetes ao
do rato-castor.
— Impulsos telepáticos! O planeta deve estar cheio de telepatas. isso não existe!
Kasom acenou violentamente com a cabeça. Levou algum tempo para encostar seu
capacete de novo ao de Gucky, embora isso nem fosse necessário, porque o rato-castor
não precisava disso para compreendê-lo.
— Também estou recebendo os impulsos, apesar de não ser telepata.
— Deixei bem claro que são impulsos telepáticos — quase chegam a ser
hipnoimpulsos, que também podem ser captados por quem não é telepata. Não tenho
nenhuma explicação. Logo, não me pergunte. A única coisa que podemos fazer é esperar,
e ter cuidado. Com Ras e Alaska está acontecendo a mesma coisa.
Realmente era assim. Ras e Alaska sentiram os pensamentos estranhos entrarem à
força em sua mente, ainda com certo cuidado, mas de forma insistente e segura.
Dominavam os próprios pensamentos e os reprimiam. Eram pensamentos alegres, quase
de júbilo. Parecia que as almas prisioneiras queriam cumprimentar os recém-chegados.
Gucky tinha certeza de que era absurdo pensar que tantos telepatas podiam ser
prisioneiros no planeta de Cristal. Devia haver outra explicação para o fenômeno
surpreendente.
De fato havia!
Gucky teve muito trabalho para comunicar sua teoria aos outros. Os pensamentos
alegres quase chegavam a ser mais fortes que sua linguagem acústica.
— O planeta...! É um ampliador, um ampliador gigantesco de impulsos mentais.
Acho que é capaz de converter em impulsos telepáticos e transmitir até mesmo os
pensamentos de seres completamente normais, fazendo com que qualquer pessoa possa
recebê-los. É a única explicação que encontro para a grande quantidade de pensamentos
que nos atinge. Mas para que serve isto? Um transmissor de telepatia dentro do
“Enxame”, e ainda, segundo afirma Harno, os prisioneiros...?
Um superamplificador de impulsos parapsíquicos?
Será que este transmissor, este amplificador, era tão potente que com ele se podia
dominar outros povos a anos-luz de distância?
— Um amplificador de impulsos telepáticos? — certificou-se Kasom.
Gucky acenou com a cabeça e informou:
— Isso mesmo! Faculdades telepáticas que já existem são reforçadas de uma forma
que nem conseguimos imaginar, impulsos mentais normais são convertidos em emissões
telepáticas. Acho que isto nos fez avançar bastante. — O rato-castor olhou para a
superfície. — Acho que ainda faltam cinquenta quilômetros...
— Quarenta e oito — corrigiu Alaska.
Enquanto desciam, Gucky esforçou-se ao máximo para voltar a fazer contato com
Harno. O ser feito de energia lhe parecia um ponto de referência fixo na situação mais
que enigmática em que se encontravam, mesmo que eles mesmos quisessem considerar-
se prisioneiros.
Os impulsos de Harno chegaram muito fracos, mas depois de algum tempo foi
possível ampliá-los. Gucky fez algumas perguntas, que foram prontamente respondidas.
— Você tem razão, é um amplificador. Os mutantes e semimutantes com suas
faculdades parapsíquicas servem de fonte de energia. É perfeitamente possível usar este
planeta, que pode ser transformado numa lente direcional, para influenciar outros
sistemas, dominar povos inteiros. Compreende o perigo que isto representa, Gucky? A
partir de agora seus impulsos são mais fortes, muito mais concentrados. Devem estar
próximos, muito próximos.
— Daqui a pouco pousaremos.
— Não se preocupem. Terão uma recepção amável. Os servos os cumprimentarão.
Trata-se de seres inocentes que há tempos violaram as leis do “Enxame” e agora têm de
pagar por isso. Mas existem outros seres contra os quais vocês terão de cuidar-se, apesar
de não constituírem um perigo direto. Trata-se dos modificadores de detalhes.
— De quem?
— Dos modificadores de detalhes! São, sem exceção, mutantes ou ao menos
semimutantes. São capazes de comunicar-se telepaticamente mesmo sem os efeitos do
cristal, bem como teleportar ou usar a telecinésia para pôr um inimigo fora de combate.
Você terá de enfrentar alguns problemas...
— Terei horas agradáveis pela frente — afirmou Gucky e voltou a olhar para baixo.
— Faltam vinte quilômetros...
— Quando chegar a hora, o portão se abrirá — comunicou Harno.
Seus impulsos voltaram a ficar mais fracos.
— Quase não o compreendo, Harno!
— O portão... voltarei a chamar assim que tiver recuperado as forças. Não se
preocupem, vocês não correm um perigo iminente...
Harno calou-se.
Gucky tentou digerir o que ouvira — ou melhor, o que recebera telepaticamente —
e encontrar um sentido em tudo isso. Só conseguiu em parte. Servos e modificadores de
detalhes...! Que era isso?
O que modificavam os seres que se deixavam servir pelos presos? Por que tinham
de ser mutantes para fazer isso?
Durante os últimos quilômetros voltou a absorver pensamentos que continuavam a
chegar em grande quantidade a ele e a seus companheiros. Além de alegria, esses
pensamentos exprimiam expectativa e esperança.
Esperança de quê?
Será que os servos estavam mesmo tão ansiosos para expiar sua culpa servindo e
mostrando-se submissos? De que forma serviam?
De repente Gucky percebeu que alguma coisa mudava na superfície reflexiva, bem
embaixo deles. Apareceu uma mancha escura redonda, que aumentou lentamente. Mais
ou menos como um portão pelo qual se podia entrar no planeta de Cristal...
— Olhe a abertura — disse Kasom preocupado. — Vamos cair nela. Precisamos
teleportar.
— Fomos alcançados pelos campos energéticos, e Harno referiu-se ao portão. Não
podemos fazer nada para evitar que isso aconteça. — Gucky não se sentia muito bem
dentro da própria pele, mas sabia que no momento estavam praticamente indefesos. —
Temos de confiar em Harno.
Os impulsos mostravam que já tinham sido examinados e classificados
parapsiquicamente.
Dois mutantes, um semimutante, um ser normal.
Era isso mesmo. Ras e Gucky eram mutantes, Alaska podia ser considerado um
semimutante, Kasom era completamente normal.
O diâmetro da abertura redonda era relativamente pequeno. Pelos cálculos de
Kasom devia ser de cinquenta metros. Embaixo dela via-se uma superfície fosca, que
prometia apoio firme para os pés. À esquerda e à direita, ou melhor, em toda parte,
ficavam as superfícies de cristal, que não eram planas, mas lapidadas. Subiram, enquanto
os quatro amigos desciam nas profundezas. Enquanto isso o “portão” voltou a fechar-se
em cima deles.
Tinham sido recolhidos pelo planeta de Cristal.
NAVE-DISCO DOS INSTALADORESDO “ENXAME”
Dados Técnicos:

Nave de pequeno porte em forma de disco. Corpo principal da nave:


100 m de diâmetro, 40 m de espessura. Feita de um metal azul-claro
parecido com terconite.
Propulsão: propulsores de partículas de antigravitacionais para voo
infraluz. Propulsor de transição para hipervoo. Sistema de propulsão linear.

1. Sistema positrônico robotizado de 6. Dormitórios (20-70 cm de altura) com


direção. nichos em forma de favo e salas
2. Hiperrádio com antena emissora e com recipientes esféricos cheios de
receptor circular. alimentos concentrados.
3. Sala de comando secundária com 7. Sala circular com aparelhos de
sistema positrônico de navegação e controle do sistema de hibernação e
equipamentos de interpretação dos regulagem de clima.
resultados fornecidos pelos 8. Eclusa queda para as instalações de
rastreadores. hibernação, com porta para
4. Sala de comando principal com instaladores do “Enxame”, de
direção manual, telas de tamanho reduzido e abertura
rastreamento, console de controle vedável, para equipes de
dos canhões, instalações de manutenção compostas de seres de
comando de hiper-rádio, assentos tamanho normal.
em forma de concha para a 9. Centro de aparelhos de rastreamento
tripulação, controles dos robôs- e medição (8 ao todo), com capas
pilotos e instalações destinadas a protetoras fechadas, que podem ser
manter a tripulação em sono abertas em caso de necessidade.
profundo. 10. Sala de máquinas com geradores
5. Canhão térmico energético (8 de campos defensivos,
unidades), com suprimento de regeneradores de ar e água,
energia independente. instalações de climatização e
abastecimento de energia de 21. Divisão de controle de máquinas.
emergência. 22. Sala de máquinas principal do setor
11. Sala intermediária isolada entre o inferior, com 8 reatores de fusão
setor superior e inferior da nave, nuclear, hiperpropulsor e escotilha
com projetores especiais que levam que dá para o lado de fora, para fins
os instaladores do “Enxame” a de manutenção.
reduzir ou aumentar de tamanho. 23. Jatopropulsores com bancos de
12. Subida em caracol para o setor energia (8 ao todo).
superior da nave, sem degraus (4 24. Centro de rastreamento pronto para
ao todo). entrar em funcionamento, com
13. Propulsores antigravitacionais com anteparos protetores abertos,
projetores antigravitacionais e antenas levantadas, câmeras e
neutralizadores de pressão. equipamento de controle de tiro do
14. Sala circular com escada de canhão térmico, além de holofotes
emergência que leva ao setor externos de iluminação global (24
superior da nave e conjuntos de ao todo).
abastecimento de energia dos 25. Ante-sala da eclusa com armários
projetores especiais que se de trajes espaciais e armas de fogo
encontram em semi-espaço. portáteis, bem como condutor de
15. Anel de apoio. energia para as salas de máquinas
16. Centro de observação com console do setor superior.
e 30 telas de imagens dispostas em 26. Depósito com sala de eclusa em
rede, para controle ótico das salas baixo (4 ao todo).
internas da nave-cogumelo e seus 27. Propulsor de hipertransição com
arredores. conversores de energia e bateria de
17. Depósitos, divisões cientificas, reserva.
enfermaria e instalações sanitárias. 28. Jato de propulsão (8 ao todo) com
18. Sala de máquinas principal do setor armadura de reforço externa.
superior com conversores de 29. Poço central do elevador de ligação
energia, bancos de energia e rampa da nave-cogumelo com placa de
inclinada que leva à escotilha de vedação e condutos de ligação com
cima e escada para a sala de a nave-mãe (só usado com a nave-
máquinas inferior. cogumelo ancorada).
19. Oficina com máquinas e aparelhos 30. Oito blocos de ancoragem,
para manutenção, além de armários acoplados com a estrutura de
com trajes espaciais. decolagem da nave-cogumelo. Os
20. Depósito de matérias-primas e blocos também podem servir como
peças sobressalentes. apoio no pouso em base firme.

Dados Gerais:
Esta nave de pequeno porte é usada pelos instaladores do “Enxame” para sair de uma nave-
cogumelo pousada em determinado planeta e voltar ao “Enxame” a que pertencem. A nave decola sobre
uma armação que sai do ponto mais alto da nave-cogumelo. Antes da decolagem toda a tripulação de
50.000 pessoas do “cogumelo” entra na pequena nave. Ao passarem de uma nave a outra, os seres de
2,50 metros de altura diminuem de tamanho vinte vezes. Desta forma os instaladores do “Enxame”, que
só têm doze centímetros e meio, cabem nas salas de hibernação da parte superior da nave-disco.
Depois que todos os seres estão hibernando, a nave é dirigida por um robô-piloto. Se necessário,
pequena parte da tripulação que está hibernando pode ser acordada antes da hora, para fazer a direção
manual da nave depois de voltar ao tamanho normal. Além disso um grupo de controle acorda a certos
intervalos, para verificar a aparelhagem da nave e realizar pequenos reparos. Depois que a nave-
cogumelo deixada para trás termina suas tarefas, a tripulação volta na nave-disco para levá-la de volta
ao “Enxame”.
3

Kasom verificou seus instrumentos. Ligou o rádio e fez sinal para que os outros
fizessem o mesmo.
— Oxigênio! — foi a primeira coisa que comunicou. — Pode-se respirar. Vamos
tirar os capacetes?
A pergunta fora dirigida a Gucky, que afinal comandava a missão.
— É claro que vamos. Não corremos perigo imediato. Foi o que Harno garantiu.
Mas acho que devemos ficar com as armas em condições de atirar. Não quero ser atirado
pelo ar por um telecineta que tenha enlouquecido.
Abriram os capacetes.
O ar era fresco, puro — e obviamente artificial.
Estavam numa sala redonda, cujo teto os separava da superfície do planeta de
Cristal. Não havia nem móveis, nem portas, nem corredores — nada. Somente a sala
vazia.
Gucky fez o que já poderia ter feito antes. Contou detalhadamente o diálogo mudo
que tivera com Harno e deu as informações que recebera dele. Ficou aliviado ao ver que
os amigos se acalmaram, mostrando-se confiantes, embora sua situação pudesse ser tudo,
menos clara.
O chão, as paredes e o teto — só então se deram conta disso — eram amarelos.
Amarelo-ocre!
Os trajes das criaturas que apareceram de repente quase não se destacaram contra
este amarelo. Também eram amarelos-ocre.
Todos usavam trajes amarelo-ocre, mas eram quase sempre diferentes uns dos
outros. Viam-se formas humanóides em estranhas variações, descendentes de insetos com
seis, oito ou mais pernas. Até havia répteis voadores, mas também pareciam desajeitados
nos trajes amarelos, que pareciam representar uma espécie de legitimação.
Mas por mais diferentes que fossem, tinham uma coisa em comum além da cor
amarela: era o pensamento de alegria submissa, da felicidade de servir — e uma
esperança indefinida.
— Não são perigosos — disse Gucky aos companheiros. — Não nos atacarão, pois
foram programados para servir. Seus donos são os modificadores de detalhes a que Harno
se referiu. Não me admiraria se também andassem todos de amarelo. Uma cor
desagradável!
— Que querem de nós?
— Vieram para cumprimentar-nos, Kasom. Trate-os bem, que não são culpados de
nada.
Durante os cumprimentos, realizados em meio a inúmeras mesuras, Gucky recebeu
pela primeira vez depois da chegada ao planeta de Cristal, os impulsos mentais nítidos de
Harno. Eram apenas ligeiras informações do ser feito de energia.
— Cuidado! O Y’Xanthomrier com o olho sapiente...!
Gucky mal acabara de confirmar precariamente a recepção quando os impulsos de
Harno desapareceram. Provavelmente tivera de mobilizar suas reservas de energia para
irradiar esta mensagem telepática. Logo, devia ser muito importante.
Gucky conhecia o Y’Xanthomrier, mas nunca ouvira falar do olho sapiente. Era a
primeira vez que ouvia a expressão.
O que mais teriam pela frente...?
Como os cumprimentos não queriam terminar, Kasom perguntou em tom
impaciente:
— Para que serve isso, Gucky?
— Vejo que a paciência não é seu lado forte. Acha que eu estou gostando? Mas os
servos devem ser a vanguarda; o grosso ainda vai chegar. Receio que os cumprimentos
dos mutantes não sejam tão encantadores como isto. — Gucky apontou para uma massa
de carne com sete pernas, que caminhava desajeitadamente de um lado para outro,
balançando a cabeça monstruosa, dando a impressão de que o pescoço fino podia quebrar
a qualquer momento. — Estão à nossa espera e querem medir forças conosco.
— Medir forças? — Kasom parecia perplexo. — Poderia explicar melhor? Seria
bom que dissesse o que sabe. Fale logo!
— Eles vivem aqui. Também devem ser prisioneiros que gozam de certos
privilégios. São usados pelos verdadeiros chefes, isto é, pelos comandantes do “Enxame”.
Ainda não sei para quê, mas as indicações de Harno permitem certas especulações.
— Quando tiver oportunidade, você vai explicar melhor — disse Kasom
laconicamente e retribuiu às pressas a mesura de um dos servos. — Não estou com
vontade de correr em linhas cruzadas.
— Olhem — disse Ras de repente. — Ali está surgindo uma abertura.
Todos olharam na direção indicada. Uma estranha mudança de cor se verificava na
parede amarela. Só depois de olhar melhor viu-se que se tratava de uma abertura, pois o
fundo também era amarelo-ocre. Parecia que a sala que ficava atrás da abertura era mais
bem iluminada.
Uma porta...?
Antes que pudessem formular hipóteses sobre a finalidade daquela porta apareceu
uma figura humana de estatura alta. O rosto parecia enérgico e de traços finos. Os olhos
em forma de amêndoa demonstravam autoridade, uma vontade firme, mas também
sensibilidade e até fraqueza — uma contradição inexplicável. O homem que se
aproximou a passos tranquilos usava um traje folgado que caía sobre o corpo em dobras,
feito de tecido amarelo-ocre.
Os servos fizeram uma mesura e afastaram-se às pressas.
O amarelo olhou por muito tempo para os quatro companheiros antes de começar a
falar. Suas palavras não faziam sentido, mas os quatro as compreenderam sem tradutora,
pois seus pensamentos penetraram sem dificuldade em suas mentes.
— Sejam bem-vindos no cristal das almas prisioneiras, amigos. Logo chegará o
tempo em que teremos de medir forças. Faço votos de que se mostrem fortes e corajosos.
Somente aquele que sobreviver poderá servir os senhores. Quem é forte torna-se útil à
comunidade.
— Que comunidade? — perguntou Gucky, sem responder às palavras do amarelo.
— Quem é a comunidade?
O homem de amarelo sorriu de forma quase imperceptível.
— Vocês ainda vão descobrir. De qualquer maneira as forças de sua mente devem
ser acima do normal e parapsiquicamente treinadas, senão não poderão ficar aqui. Além
de nossos servos o cristal é habilitado somente por mutantes. Somos prisioneiros, mas
também somos livres. Servimos somente com nosso espírito, enquanto os outros servem
com o corpo e suas forças. Repito: sejam bem-vindos, amigos, e façam o favor de
acompanhar-me. Mostrarei onde podem morar.
Gucky captou um pensamento de alerta de Kasom e preferiu não fazer outras
perguntas. Seguiu o homem de traje amarelo juntamente com os companheiros. O traje,
que encobria completamente a pessoa que o usava, parecia flutuar à sua frente.
***
Mais tarde Harno lhes comunicou que teriam cerca de vinte e quatro horas de
descanso. Explicou que era o tempo de adaptação dos prisioneiros. O contato foi
interrompido antes que Gucky pudesse fazer uma pergunta.
Olharam para os lados.
Considerando que o planeta do tamanho da lua era oco até o centro, podia-se
calcular quanto lugar devia haver nele. Por isso não era de admirar que os alojamentos
podiam ser considerados generosos quanto ao espaço disponível.
Cada um dispunha de um apartamento, adaptado às suas necessidades. O de Gucky
era menor que o ocupado pelo enorme ertrusiano Kasom. Até o banheiro tinha sido
adaptado ao seu tamanho. Até se podia ter a impressão de que as residências tinham sido
construídas especialmente para eles.
A luz indireta saía das paredes; era amarela.
Parecia que a única cor que havia era o amarelo, embora em centenas de variações e
tonalidades. Mas o amarelo-ocre predominava. Os móveis estofados brilhavam num ocre,
as roupas de cama eram ocres, e ocres eram os tetos e as paredes.
Gucky apertou o botão de descarga da toalete.
— Se sair água amarelo-ocre, eu vou...!
Felizmente saiu água de verdade, cristalina.
Desta forma ninguém ficou sabendo o que ele faria se tivesse sido diferente.
Os quatro encontraram-se na sala do apartamento de Kasom.
— E agora? Vamos passar o dia sem fazer nada? — Alaska mexeu nos aparelhos de
rastreamento. — Talvez isto sirva para alguma coisa...
— Não custa tentar, se bem que não acho que vai adiantar muito, pelo menos aqui.
De qualquer maneira já sabemos mais alguma coisa, pois aproveitei a hora que já
passamos aqui. Deitei na cama.
Kasom acenou com a cabeça.
— Quer dizer que você foi para a cama e encontrou a solução? — perguntou em
tom irônico.
— Mais ou menos. — Gucky não parecia nem um pouco ressentido. — Quando se
fica na cama, completamente relaxado, de olhos fechados e concentrando-se
exclusivamente nos pensamentos que andam por aí, a gente recebe muita coisa que
juntada num mosaico forma um quadro que faz certo sentido. Foi o que fiz.
— Qual foi o resultado? — quis saber Alaska.
— Já ia contar. É claro que as ideias que tive talvez não sejam todas corretas, mas
posso contar mais ou menos o que vem a ser isto aqui. Já disse em outra ocasião que o
planeta de Cristal talvez seja um amplificador de impulsos mentais. De fato é. Mutantes
são mantidos presos neste mundo artificial, onde gozam certa liberdade. Cerca de dez mil
mutantes vivem concentrados neste mundo. Dez mil impulsos mentais são captados por
uma maquinaria — e armazenados. A um comando estes impulsos podem ser ampliados
milhões de vezes e irradiados a qualquer momento em certa direção. Produzem o efeito
de hipnoimpulsos que têm de ser cumpridos. Em outras palavras, com o planeta de
Cristal e os dez mil mutantes que se encontram em seu interior pode-se controlar o
“Enxame”.
Por algum tempo ninguém disse uma palavra. Uma suspeita terrível se confirmara.
Os donos do “Enxame” eram capazes de dirigir os habitantes de todos os planetas num
raio de mais de cinco mil anos segundo sua vontade, como se fossem marionetes. O
resultado era este. Mas as instalações que produziam esta maravilha técnica eram ainda
mais fantásticas que a ideia das possibilidades que elas representavam. Impulsos mentais
sendo captados e armazenados, para serem reforçados e transmitidos em certa direção
toda vez que isto fosse necessário!
Seria o resultado de uma civilização técnica incrível? Produto de uma inteligência
genial?
Ou se trataria da obra de um pensamento diabólico?
— Estamos em situação difícil — resumiu Ras calmamente.
Gucky acenou com a cabeça num gesto bonachão.
— Adivinhou, meu chapa! Se estamos em dificuldades! O planeta de Cristal deve
ser o objeto mais valioso num raio de milhares de anos-luz. Só me admiro de que não
seja mais bem vigiado. Não foi difícil entrar aqui; só derrubaram nosso jato espacial.
Quase me sinto inclinado a admitir a hipótese louca de que nos deixaram descer no
planeta de propósito.
— A hipótese não é tão louca como você pensa — disse Kasom em tom pensativo.
— Também penso assim. A propósito: o que significam as palavras do mutante amarelo,
de que logo teremos oportunidade de medir forças com ele?
Gucky fez um gesto vago.
— A este respeito também descobri alguma coisa, mas não posso garantir que seja
certo. Parece haver uma lei segundo a qual os comandantes do “Enxame” — vamos
chamá-lo de conquistadores... — Gucky sobressaltou-se, olhou para a parede amarela e
corrigiu-se: — Aqui tudo é amarelo. Que tal se finalmente déssemos um nome aos
amarelos? Não acham que poderíamos chamá-los de conquistadores amarelos? Talvez
nem sejam amarelos, mas não há dúvidas de que preferem esta cor. Assim temos um
nome para eles. Os conquistadores amarelos reúnem aqui todos os mutantes em que
conseguem pôr as mãos. Concedem-lhes toda a liberdade possível, mesmo àqueles que se
matarem uns aos outros. Naturalmente trata-se de um processo de seleção imposto pelas
circunstâncias. Só os fortes sobrevivem, e somente eles podem ser úteis à comunidade,
isto é, aos conquistadores amarelos. E um sistema sofisticado. No planeta de Cristal todos
são inimigos de todos, mas só se luta em determinados momentos e lugares e, o que é
mais importante, só se podem usar as forças do espírito para lutar e assassinar.
— Assassinar? — Ras fitou Gucky com uma expressão de perplexidade. — Quer
dizer que eles também assassinam?
— Que nome você dá a isso, se eles se matam uns aos outros numa arena?
— Numa arena? — Parecia que Ras não compreendia mais nada. — Quer dizer que
eles possuem arenas nas quais se luta?
— Isso mesmo. Mas não se apresentam com machadinhas, fundas ou armas
energéticas. Lutam com as mãos e os cérebros mutados. Enfrentam-se encarando uns aos
outros. Cada um só conta com as forças do espírito e com elas deve tentar derrotar o
adversário. Um hipno tentará incutir no adversário, que talvez seja telecineta,
pensamentos pacíficos ou suicidas, e o telecineta tentará atirar o adversário para o alto e
deixá-lo cair. — Gucky sacudiu a cabeça. — Garanto que isso ainda pode ficar divertido.
Mas estou curioso para ver que forças do espírito Kasom usará para defender-se.
— Poderia fazer o favor de explicar melhor? — pediu o ertrusiano com um tom de
ameaça.
Gucky fez um gesto de pouco-caso.
— Não quero dizer o que você pensa. Você não é mutante, apesar de possuir uma
capacidade limitada de ler pensamentos, e de captar e interpretar os dos mutantes. Mas
como poderá defender-se de um teleportador que agarra você para largá-lo embaixo do
teto alto? Você baterá nos ladrilhos que nem um saco cheio de pedras. Não é mesmo? A
não ser que entre os espectadores haja um pequeno telecineta muito competente, que
segura você e o faz descer devagar. Não tenho razão?
Kasom acenou com a cabeça. Parecia envergonhado.
Alaska sorriu.
—Tirarei a máscara e mostrarei meu rosto.
Gucky também sorriu.
—Todo mundo sofrerá um colapso — afirmou em tom confiante.
***
Dormiram algumas horas. Depois disso Gucky resolveu fazer um reconhecimento.
Como mutante triplo levava vantagem sobre qualquer mutante simples. Mas apesar disso
Kasom teve suas dúvidas.
— Não seria melhor esperarmos até que alguém cuide de nós?
— Será que já cuidaram alguma vez? Cederam-nos um apartamento formidável,
mas alguém já recebeu uma coisa para comer? Se não fossem nossas reservas de
alimentos concentrados já teríamos morrido de fome. Já que sabem tudo, também
deveriam saber isto. Vocês nem imaginam quanta vontade tive de comer umas cenouras,
pontas de aspargos e biscoitos. Não recebi nada! Só alimentos concentrados e água. —
Gucky suspirou. — Em outras palavras: vou dar uma olhada por aí. Se aparecer o velho
de camisola amarela, digam-lhe que estou à procura de uma boa sopa de massa.
— Desde quando você deu para gostar de massas? — perguntou Alaska em tom de
incredulidade.
— Faz dez segundos — informou Gucky. — Não acha que uma porção de macarrão
pode servir de pretexto para uma porção de coisas? Pois é! Vocês foram avisados.
Voltarei dentro de uma hora.
— Tomara — disse Kasom.
Gucky olhou para ele com um ar de reprovação, fitou a parede amarela e
desmaterializou.
Viu-se num corredor, a cem metros dos apartamentos. Certificou-se rapidamente de
que não havia ninguém por perto. Não podia guiar-se pelos impulsos telepáticos, que
eram muito numerosos.
Usava apenas o traje de combate. Deixara o capacete no apartamento. Quase chegou
a ficar triste porque seu traje não era amarelo, pois assim não chamaria tanto a atenção
num ambiente ocre.
Saiu andando despreocupado, seguindo a direção de impulsos mentais bastante
nervosos, cuja distância não pôde calcular. Só se encontrou com alguns servos de
amarelo, que o cumprimentavam de forma muito respeitosa e perguntavam quais eram
seus desejos. A intuição levou Gucky a fazer perguntas a respeito da próxima luta na
arena e do lugar em que seria realizada.
— Neste momento está começando uma prova de força entre dois senhores
amarelos — responderam. — Na arena número sete.
— Ah, é? Na arena número sete? — repetiu Gucky, na esperança de que alguém
pensaria no lugar em que ficava essa arena. Alguém fez isso, e assim Gucky descobriu
que ela ficava algumas centenas de metros na direção que estava seguindo. — Vou
assistir. Obrigado.
Os servos deixaram-no passar.
Uma luta entre dois mutantes! Talvez seria conveniente presenciar o duelo.
Eventualmente poderia tirar certas conclusões sobre como agir dali em diante. E seria
muito conveniente que não o vissem durante a luta.
O rato-castor ligou o campo defletor.
Teve uma surpresa. O campo funcionou, apesar dos campos energéticos e da
interferência dos impulsos.
Gucky tornou-se invisível.
Seguiu despreocupado. Preferiu não realizar uma teleportação, pois queria ver os
lugares por onde passava. Não descobriu nada de importante. Dois servos passaram por
ele sem dar-lhe a menor atenção. Não o viram.
Finalmente Gucky alcançou a entrada da arena. Os impulsos mentais concentrados
de trezentos mutantes apontaram-lhe o caminho. A luta estava para começar.
Mais de metade dos lugares estavam desocupados. Gucky parou na entrada e
absorveu o espetáculo fantástico que se ofereceu aos seus olhos espantados.
De fato tratava-se de uma espécie de arena, embora parecesse antes o palco de um
teatro gigantesco. Era uma sala oval na qual só havia assentos em anfiteatro na parte dos
fundos. A parte da frente era ocupada pelo palco, que também ficava numa posição
elevada, mas de tal forma que os espectadores olhavam para baixo. Nos fundos do palco
havia estranhas máquinas e aparelhos cuja finalidade Gucky não conseguiu adivinhar,
meio escondidos atrás dos bastidores. Talvez fossem utensílios que os lutadores usavam
durante os diversos duelos, cuja execução por sua vez dependia das características dos
“gladiadores” alcançadas pelas mutações.
Duas figuras com trajes amarelo-ocre entraram no palco, um de cada lado e
encontraram-se no centro. Gucky aproveitou a pausa causada pela apresentação para
procurar um lugar. Não estava com vontade de passar uma ou duas horas de pé.
O rato-castor acompanhou atentamente os preparativos do duelo. Como podia ler os
pensamentos dos presentes, não teve dificuldade em compreender o que estava
acontecendo.
Segundo o programa, a luta seria entre um telecineta simples e um rastreador de
reações — era a melhor maneira de exprimir o significado. Gucky não descobriu muita
coisa a seu respeito, porque os impulsos mentais que entravam em sua mente ao mesmo
tempo eram muito numerosos, não permitindo a necessária concentração para classificá-
los e separar o que era importante. Um rastreador de reações era capaz de enxergar um
segundo no futuro; saberia exatamente o que o adversário faria neste segundo. Não era
uma grande vantagem diante de um telecineta. Na opinião de Gucky, o rastreador de
reações estava claramente em desvantagem.
Os lutadores cumprimentaram-se solenemente e ouviram as recomendações dos
árbitros que estavam sentados num camarote ao lado do palco. Podiam escolher as armas
que queriam usar.
O telecineta dispensou generosamente as armas, mas o rastreador de reações
dirigiu-se aos fundos do palco e pegou alguns objetos que Gucky não pôde ver muito
bem. Os árbitros deram seu consentimento. O telecineta era um bloco de carne disforme,
cheio de músculos, com um rosto não-humano. Gucky achou-o parecido com um sapo
gigante que rastejava desajeitadamente sobre as pernas traseiras. Em comparação com ele
o rastreador de reações parecia débil e franzino. Tinha aspecto humanóide, embora
houvesse grandes diferenças. Gucky simpatizou imediatamente com ele ao saber que fora
obrigado a lutar.
Os dois ficaram frente a frente.
O telecineta robusto provavelmente acreditava que seria fácil denotar o adversário,
como já fizera com muitos outros. Que poderia fazer contra ele um rastreador de reações
que só podia contar com as próprias mãos?
Gucky recostou-se no assento para concentrar-se melhor. Espantado, percebeu que
um campo energético que saía do palco impedia qualquer contato telepático entre os
lutadores. Era uma vantagem para o rastreador de reações, que não dependia da telepatia.
Além disso o telecineta não podia saber o que pretendia fazer seu adversário.
Finalmente Gucky viu as armas escolhidas pelo rastreador de reações.
Três facas de metal comuns!
Não fora muito inteligente de sua parte. O telecineta podia interceptar as facas
durante o voo e imprimir-lhes outra direção, até mesmo uma direção que as fariam voltar
ao atirador. Gucky tentou em vão descobrir as intenções do rastreador de reações que
parecia ter sido leviano. Desistiu.
Os lutadores continuavam a olhar-se. Esperavam. Parecia que cada um queria que o
outro adivinhasse sua tática. Ficaram parados sem mexer-se, um de cada lado do palco, a
quase trinta metros de distância. O telecineta de mãos vazias, o rastreador de reações com
uma faca em posição de arremessos na mão direita e as outras duas na esquerda.
Gucky sentiu a tensão que se apoderara do público, formado por membros de todas
as formas de vida que se possam imaginar. Podiam assistir um espetáculo destes quase
todos os dias, mas ele nunca perdia o encanto, porque os adversários que se enfrentavam
sempre eram completamente diferentes e sempre havia variações na condução da luta,
cujo resultado nunca podia ser previsto.
Num movimento rapidíssimo o rastreador de reações levantou a mão direita, dobrou
o braço para trás e arremessou a faca. Esta voou na direção em que estava o telecineta,
mantida na horizontal por campos magnéticos embutidos — para deter-se de repente
entre os contendores e parar no ar.
O telecineta reagira.
A faca girou no ar até que a ponta ficou voltada para o rastreador de reações, que
estava parado, esperando, e usou sua faculdade. Antes que a faca voltasse para junto dele,
abaixou-se. A arma mortífera passou chiando em cima de sua cabeça e foi parar num
campo energético.
O rastreador de reações só possuía duas facas.
O desempenho dos dois lutadores rendeu aplausos, mas eles não se deixaram
distrair. Continuavam na mesma posição. Faziam uma avaliação. O telecineta
provavelmente refletia sobre o que seu adversário faria com as duas facas que lhe
restavam. Se as perdesse, poderia ser considerado morto.
Gucky, que também era telecineta, já tinha uma ideia sobre o que pretendia fazer o
rastreador de reações. Os acontecimentos que se seguiram lhe dariam razão...
O rastreador de reações voltou a levantar a mão direita, com a qual segurava a
segunda faca. Não havia dúvida sobre suas intenções. Queria atirar a faca mais uma vez
contra o telecineta, que estava parado, esperando.
E arremessou...!
A faca mal saíra de sua mão, quando ele segurou a terceira faca na direita, que ele
atirou quase no mesmo instante. Exatamente como Gucky esperara.
Foi um sucesso.
O telecineta viu o primeiro arremesso e sua reação foi rápida e segura como da
primeira vez. Deteve a faca no meio da trajetória, inverteu sua direção e mandou-a de
volta ao atirador. Enquanto fazia isso, a terceira faca atingiu-o no peito. Fora arremessada
com tanta força que penetrou quase até o cabo na carne esponjosa. Enquanto a segunda
faca passava acima da cabeça do rastreador de reações, o telecineta tombou morto.
Para aquele dia a luta chegara ao fim.
Gucky ouviu os aplausos, mas não participou deles, embora suas simpatias
estivessem do lado do vencedor. O rastreador de reações fora mais inteligente que o
telecineta, que confiara somente em sua capacidade, sem preocupar-se com a do
adversário. Além disso o telecineta não esperara que o adversário fosse jogar a terceira
faca logo após a segunda.
Os espectadores levantaram e saíram da arena.
O vencedor estava de pé à frente do colégio de árbitros e recebeu uma recompensa
que consistia principalmente em dispensá-lo das lutas por um tempo considerável.
Gucky teleportou de volta à sala do apartamento de Kasom.
4

Gucky apresentou seu relato sem que ninguém o interrompesse. Enfeitou-o com
numerosos detalhes, e não esqueceu de mencionar que não temia um duelo destes.
— O tempo que nos foi concedido quase passou — disse Kasom depois que Gucky
não se lembrou de mais nada para contar. — Logo virão buscar-nos e nos mandarão à
arena, a não ser que estejam preocupados com outras coisas. Pois nós temos outras
preocupações! Onde está Harno, que temos de encontrar de qualquer maneira? Como
faremos para sair deste planeta maluco, depois que tivermos encontrado ou talvez até
libertado Harno?
— Ainda teremos tempo para quebrar a cabeça com isto. No momento temos os
mutantes amarelos em cima de nós. Mostram-se tão preocupados com nosso bem-estar.
— Gucky fez um gesto de desprezo. — Fazem isso porque querem tirar vantagem. Sobre
isto não existe a menor dúvida. Estão curiosos para conhecer nosso desempenho na arena.
— Isso pode ficar divertido — disse Alaska, que só era considerado semimutante
por causa do fragmento de cappin chamejante que trazia no rosto, pois não possuía
nenhuma capacidade parapsíquica especial. — Como farei para defender-me, Gucky?
Será que basta eu tirar a máscara?
— Garanto que sim, Alaska. Ninguém pode ver seu rosto sem ficar louco. Quando
isso acontecer, você terá ganho.
— Será uma palavra sua no ouvido dos árbitros.
Ras olhou para a parede atrás da qual, segundo sabia, ficava o corredor que levava
ao seu apartamento. Teve a impressão de que o amarelo-ocre mudara bastante nos
últimos segundos. Tinha certeza, embora os outros ainda não tivessem notado. O amarelo
ficou mais pálido, quase transparente, mas ainda não se via o corredor. Era uma
transparência que não permitia que se vissem os objetos que ficavam logo atrás da
parede, só liberando a visão para uma distância que parecia infinita.
Um dos mutantes amarelos saiu do nada e entrou diretamente na sala.
Os outros também o viram. A conversa foi interrompida.
— Esperamos que tenham descansado e estejam adaptados — disse o mutante com
uma voz estranhamente aguda, usando uma língua que ninguém teria compreendido se
não fossem os impulsos telepáticos. — Estão dispostos a medir forças conosco?
Gucky estava sentado na cama de Kasom, com as pernas afastadas. Sacudiu
energicamente a cabeça.
— Não estamos, meu chapa! Estamos é com fome. Aqui não se come?
— Vocês trouxeram suas provisões. Depois que as tiverem gasto, elas serão
renovadas.
— São as reservas de emergência. Tragam uma coisa que preste, senão poderão
esperar muito até que nós os teleportemos para o inferno.
— Ah, são os teleportadores!
— Sim. Vocês terão uma surpresa! — Gucky estava com a corda toda e talvez
tivesse dito mais se não notasse a expressão de advertência no olhar de Kasom. Por isso
só repetiu o pedido que já fizera. — Queremos quatro refeições decentes, senão não
falamos com mais ninguém.
O amarelo disse que ia providenciar comida e acrescentou:
— A primeira luta será realizada daqui a cinco horas. A sorte decidirá quem de
vocês terá o privilégio de ser o primeiro.
— O privilégio! — repetiu Ras em tom de desaprovação. — Quanta gentileza,
teremos o privilégio.
O amarelo confirmou, todo compenetrado:
— Terão, sim. É uma honra concedida a poucos. Nem todos podem medir forças na
arena.
O amarelo desapareceu da mesma forma que viera — através da parede.
— Esse cara deve possuir dons tremendos — opinou Kasom. — Atravessa a parede.
Será que pode penetrar na matéria?
— Funde-se com ela, numa espécie de adaptação atômica. — Naturalmente Gucky
sabia melhor que os outros. — Dizem que isso existe. Se vocês se encontrarem com ele
na arena, ele afundará no chão e vocês ficarão na pior se aparecer de repente atrás de
vocês. A situação começa a ficar crítica, minha gente, mas não tenham medo. Ajudarei
vocês. Ficarei invisível na área reservada aos espectadores e cuidarei para que nada lhes
aconteça.
— Pois então cuide para que você não seja o primeiro a entrar em luta —
recomendou Alaska em tom seco. — Como poderíamos ajudar se você é o maior?
Gucky acenou com a cabeça num gesto condescendente,
— Isso mesmo. Não há dúvida de que neste ponto sou o maior. Por isso dificilmente
precisarei da ajuda que com tanta boa vontade querem prestar. Olhem! Lá vem a comida.
Gucky detectara os servos no corredor. Ras abriu a porta e fez sinal para que as
numerosas travessas, panelas e pratos fossem colocados na mesa grande da sala de
Kasom. Os servos retiraram-se em meio a respeitosas mesuras.
Enquanto isso Gucky examinou o conteúdo das panelas e travessas.
— Parece bem apetitoso, mas isso não quer dizer que seja gostoso. Quer dizer que
os amarelos que lutam com o espírito também experimentam necessidades fisiológicas.
— Gucky tirou com o dedo uma fruta esverdeada de uma das travessas, cheirou
desconfiado, e enfiou-a na boca.
— Hum... — disse finalmente. — Nada mau. Dá para a gente se acostumar. Sentem,
cavalheiros! Sirvam-se...
A refeição era composta principalmente de alimentos parecidos com frutas, de sabor
bastante agradável, que pareciam bem nutritivos. Não havia talheres, mas ninguém sentiu
falta. Em uma jarra transparente havia vinho.
Kasom tomou um grande gole.
— Esta bebida também não é de se desprezar — afirmou satisfeito.
— Um caldo químico! — recusou Gucky prontamente. Comeram até ficar
satisfeitos. Os servos vieram tirar as louças. Depois disso os amigos voltaram a ficar a
sós. Alaska ficou estendido na poltrona.
— Se me mandarem à arena empanturrado como estou, vocês podem logo enterrar-
me. Vou dormir uma hora.
— Trate de dormir um pouco mais depressa — recomendou Gucky em tom
bonachão. — Não temos muito tempo.
***
Acharam que Kasom serviria melhor que os outros para representar os recém-
chegados na arena. Logo Kasom, o único que não possuía dons parapsíquicos.
Enquanto se dirigiam à arena número sete, Gucky tentou acalmá-lo.
— Não se preocupe, Toronar. Estarei perto de você. — Quem visse o gigantesco
ertrusiano ao lado de Gucky, que mal tinha um metro de altura, só poderia achar as
palavras do rato-castor bastante esquisitas. — Vamos mostrar-lhes com quantos paus se
faz uma canoa. Apresento-me apenas como teleportador. Ninguém deve saber que além
disso sou telecineta e telepata. Assim poderei ajudar você. Resta saber quem será o
adversário que você terá de enfrentar. O amarelo disse que desta vez a luta será muito
interessante, porque as faculdades individuais dos adversários não serão anunciadas.
Estes caras sempre têm de inventar uma novidade.
— Não demoraremos a descobrir o que o outro sabe fazer — afirmou Ras em tom
otimista, mas Gucky chamou-o à realidade.
— Dificilmente, Ras. Já falei sobre o campo de bloqueio que cobre o palco. Este
campo neutraliza todos os impulsos mentais emitidos pelos dois combatentes. Dessa
forma ninguém saberá o que Kasom pode fazer, mas infelizmente também não
descobriremos as faculdades de seu adversário. Vamos esperar. É a única coisa que
podemos fazer.
Uma esteira rolante aproximou-os depressa do destino. Cada vez mais mutantes
amarelos juntavam-se a eles, mas quase não lhes davam atenção. Seus pensamentos não
mostravam nervosismo nem curiosidade. Parecia que o espetáculo quase diário das lutas
na arena já começava a deixar seus espíritos embotados. De qualquer maneira Gucky
achava que os conquistadores amarelos não podiam fazer muita coisa com seus impulsos
mentais.
Era este o motivo das lutas? Talvez. Mas também era possível que os impulsos
mentais dos dois combatentes, em vez de serem neutralizados pelo campo energético que
envolvia o palco, eram captados e irradiados para o banco de dados. Os pensamentos dos
combatentes significavam força, vontade de submeter-se e a ânsia de matar. Eram os
impulsos necessários ao hipnodomínio de outros povos.
A sala dos espectadores estava quase cheia quando chegaram. Sem qualquer
explicação Kasom foi separado deles e levado. Gucky ainda enviou alguns impulsos
mentais tranquilizadores atrás dele. Só depois puderam procurar três lugares para sentar.
Encontraram-nos bem na frente e juntos. A visão do palco era boa e total.
O colégio de árbitros já estava presente. Parecia estar à espera dos lutadores.
Os impulsos mentais que atravessavam a sala eram tão numerosos que Gucky tinha
certeza de que ninguém poderia fazer sua escuta mental. A separação desses impulsos era
extremamente difícil e só seria possível para um mutante que fosse um excelente telepata.
— Vocês só interferirão se houver uma emergência — cochichou Gucky para que
Ras e Alaska não precisassem esforçar-se para entendê-lo. — Deixem por minha conta.
Quando fizer um sinal, ajudem. Nesse caso Alaska terá de tirar a máscara, ou Ras
teleportará Kasom para um lugar seguro. Sei que isto é contra as regras que vigoram aqui,
mas não importa. Encontrar-nos-emos no apartamento.
— Entendido — respondeu Alaska em tom decidido. Kasom foi o primeiro a entrar
no palco. Parecia hesitante e um pouco inseguro. Parecia que ainda não sabia quem era
seu adversário. Nisto e no resto dependia de Gucky, que ele descobriu imediatamente na
sala reservada ao público. Notou seu olhar confiante e logo ficou um pouco mais
tranquilo.
Dali a pouco apareceu um adversário na entrada que ficava do outro lado do palco e
aproximou-se para o cumprimento que seria realizado no centro da arena.
Kasom assustou-se.
Não foi tanto o aspecto totalmente não-humano que fez Kasom perder um pouco de
sua tranquilidade, mas o tamanho. Maciço como um pedaço de tronco, o ser se
movimentava sobre quatro pernas curtas em forma de coluna. Sobre um corpo quase
quadrado e um pescoço muito grosso assentava uma cabeça relativamente pequena com
três olhos, que fitavam Kasom com uma expressão de desconfiança e hostilidade.
Alguma coisa dizia ao ertrusiano que estes olhos representavam um perigo e que devia
cuidar-se contra eles.
Os cumprimentos foram puramente formais. Praticamente só consistiram em os dois
se encararem por algum tempo em silêncio. Em seguida o colégio de árbitros deu ordem
para o início da luta.
Cada um retirou-se para seu lado do palco. Como todos os impulsos mentais eram
interceptados, nenhum dos lutadores podia saber que faculdades possuía o outro — o que
de certa forma favorecia Kasom, que parecia mais perigoso do que era.
Os dois tinham dispensado o uso de armas.
Kasom sabia que naquele momento Gucky ainda não podia ajudá-lo. O mutante
ainda não revelara suas faculdades de mutante. Parecia que esperava a iniciativa de
Kasom, que naturalmente se encontrava numa situação muito difícil. Tentava compensá-
la mostrando-se orgulhoso e dando-se ares de superioridade.
Finalmente o colosso resolveu dar pelo menos uma amostra de sua capacidade, mais
para satisfazer o público ávido de sensações que para alertar o adversário. Kasom
percebeu de repente que as pupilas dos três olhos pareciam caminhar. Não se fixavam
mais nele, mas num ponto situado à frente de seus pés.
Em seguida os olhos ficaram chamejantes e dali a um instante o chão do palco ficou
incandescente no lugar em que eles se fixavam. Kasom deu um passo rápido para o lado
para não morrer queimado.
Os três olhos voltaram a fitá-lo normalmente, com a expressão de quem espera
alguma coisa.
Gucky cochichou para Ras e Alaska.
— Que nem nosso amigo Ivã Goratchim, que para nossa tristeza faleceu
prematuramente — ou pelo menos é parecido. Ele é capaz de provocar reações nucleares
controladas com as forças do espírito guiadas pelos olhos. Seus três olhos fixam-se em
determinado ponto e assim que ele usa sua força mutada, neste ponto é liberada energia.
Quer dizer que se quiser pode queimar Kasom. Mas parece ter consciência de seu poder,
sente-se infinitamente superior — e é imprudente. Bem, já estamos informados...
Era claro que Kasom também estava informado e além disso sabia que não tinham
como defender-se desse adversário. Se Gucky não entrasse em ação logo, estaria perdido.
Kasom olhou para os amigos e experimentou uma sensação de enorme alívio ao ver o
rato-castor, que não tirava os olhos do colosso, acenar com a cabeça de forma quase
imperceptível.
O que poderia fazer Gucky para ajudar Kasom? Podia teleportar e sequestrar o
adversário, mas isto não resolveria o problema. Que diria Kasom para explicar aos
árbitros o que tinha feito para derrotar o adversário — um adversário que simplesmente
desaparecera?
Não adiantaria falar em telepatia.
E a telecinésia? Gucky era um excelente telecineta, mas ainda não se tinha certeza
absoluta se o campo energético que envolvia o palco neutralizava somente os impulsos
telepáticos, ou todas as influências parapsíquicas.
Nada disso! A luta entre o rastreador de reação e o telecineta provara o contrário.
Kasom já não tinha a menor dúvida sobre o que o rato-castor pretendia fazer.
Olhou para o colosso com uma expressão de desafio. Devia provocá-lo para a luta.
Só assim Gucky teria motivo para entrar em ação de uma forma que parecesse uma
reação de Kasom.
O conversor atômico aceitou o desafio, apesar de não ter a menor ideia de que
espécie de mutante era seu adversário. As três pupilas começaram a caminhar de novo.
Kasom apavorou-se ao notar que se concentravam em seu pé direito. Deu instintivamente
um passo para o lado e olhou para Gucky, que compreendeu imediatamente que a coisa
começava a ficar séria.
— Prestem atenção! — cochichou Gucky para os amigos e olhou fixamente para o
palco. — O gorducho vai ter uma surpresa.
Kasom ficou perplexo ao ver seu adversário fazer meia-volta, num ângulo de
exatamente cento e oitenta graus, ficando de costas para ele. Depois foi subindo devagar,
sem virar o rosto para Kasom.
Depois que o colosso tinha subido dez metros, Gucky soltou-o. O gigante
desajeitado caiu. A arena foi sacudida quando o corpo enorme e pesado bateu no palco. O
colosso ficou deitado. As pupilas dos três olhos mexiam-se desordenadamente, sem poder
concentrar-se. Kasom sentiu-se aliviado ao notar isso. Seu adversário estava vivo, mas
fora posto fora de combate. E todos deviam acreditar que fora derrotado para ele.
Kasom foi para perto do adversário levantado e tentou ajudá-lo a levantar. Mas logo
apareceram alguns servos amarelos que se encarregaram disso. Os árbitros pediram que
Kasom se aproximasse, enquanto o campo energético se apagava.
O resultado foi proclamado.
Não havia dúvida de que Kasom saíra vencedor do duelo, apesar de não ter matado
o adversário.
***
Estavam reunidos outra vez no apartamento de Kasom.
— Muito bem — disse Ras. — A primeira luta terminou. Amanhã será a segunda.
Mas não podemos ficar sentados aqui toda vida, enfrentando lutas. Temos de libertar
Harno ou ao menos estabelecer contato com ele. — Ras fitou Gucky. — Que há com ele?
Conseguiu fazer contato de novo?
O rato-castor sacudiu a cabeça:
— Não. Voltarei a tentar durante o período de descanso. Mas amanhã será a última
vez que entraremos na arena. Sobre isto não existe nenhuma dúvida. Se ficarmos, será
para descobrirmos mais alguma coisa a respeito dos mutantes amarelos. Sem dúvida o
planeta de Cristal ocupa uma posição-chave. Precisamos descobrir seu ponto fraco.
Os servos voltaram a trazer bebidas e alimentos. Retiraram-se sem comentários.
Não apareceu mais nenhum dos mutantes. Deixaram-nos em paz.
Mais tarde Gucky recolheu-se ao seu apartamento e tentou entrar em contato com
Harno, cujos impulsos mentais quase tinham desaparecido. Parecia que tinha muita
dificuldade em chegar a ele. Talvez estivesse envolto num campo de bloqueio energético.
Durante o descanso as luzes ficaram mais fracas. O brilho do teto amarelo era
menos intenso. Só espalhava uma penumbra amarela que fazia bem aos olhos e dava
sono.
A “noite” passou sem incidentes, mas no dia seguinte, no café da manhã, um dos
mutantes levou-os à arena. O mutante ficou parado na sala do apartamento de Kasom e
esperou que Alaska, Ras e Gucky chegassem. Em seguida anunciou as condições da luta
daquele dia.
— Quem lutará será o homem que usa o nome de Alaska. Terá um adversário muito
competente, que já saiu vitorioso em três lutas e se apresentou como voluntário para
servir aos senhores. Será vitorioso mais uma vez, a não ser que Alaska possua dons muito
especiais. Seu adversário ainda não permitiu que nenhum derrotado continuasse vivo.
— Será formidável — disse Alaska. — Posso saber de que tipo é meu adversário?
O que sabe fazer?
— É um telecineta. Além disso possui o dom da teleportação a pequena distância.
Pode mudar instantaneamente sua posição em alguns minutos, tomando difícil ao
adversário derrotá-lo. — O mutante olhou atentamente para Alaska. — Por que esconde o
rosto? Ou não tem rosto?
— Mostrarei a meu adversário, se ele insistir.
— Sem dúvida ele insistirá antes de matá-lo.
— Quando será realizada a luta? — perguntou Kasom.
— Dentro de duas horas. O senhor sabe como chegar à arena. Esperamos que seja
pontual.
O mutante amarelo voltou a atravessar a parede e desapareceu.
Gucky olhou para Saedelaere.
— Estava admirado porque nunca fizeram perguntas a respeito de sua máscara.
Agora fizeram. Pretende mesmo tirá-la?
— Se meu adversário insistir, tirarei. Mas dependerei de sua ajuda. Sei do que é
capaz. Não terá dificuldade em enfrentar um telecineta e teleportador de potência
reduzida.
— Quanto a isso não há problema, Alaska. Você será vitorioso, da mesma forma
que Kasom. — Gucky apontou para a mesa. — Vamos acabar de comer, antes que
apareça outro esbirro amarelo para interromper-nos...
— Já tomamos café — lembrou Ras.
Gucky fitou-o com uma expressão de perplexidade.
— Será? — O rato-castor sacudiu a cabeça e pegou uma das frutas saborosas que
havia sobre a mesa. — Tinha esquecido mesmo. Veja o que a imaginação faz com a
gente. Estou com tanta fome que até parece que passei por um tratamento de perda de
peso.
— Esse tratamento não lhe faria mal — afirmou Kasom em tom malicioso.
Desta vez teleportaram para a arena sem que tivessem de revelar seu segredo.
Alaska dirigiu-se imediatamente ao palco, onde foi recebido por um árbitro.
O adversário já estava à sua espera.
Era de aspecto humanóide, com algumas diferenças insignificantes que pareciam ser
sinal de uma evolução independente. Sem dúvida era natural de um planeta capturado e
foi levado ao planeta de Cristal por um comando especial dos conquistadores amarelos,
para que sua mente fosse explorada.
Fitou Alaska com uma expressão de superioridade e crueldade. Parecia ter plena
consciência de suas faculdades superiores e parecia que para ele a forma pela qual daria
cabo de seu adversário não fazia nenhuma diferença.
A máscara de Alaska parecia inofensiva. Talvez todo mundo acreditasse que queria
esconder uma cicatriz que desfigurava seu rosto. Na verdade havia um fragmento de
cappin chamejante atrás da máscara. O cappin se perdera durante uma pedotransferência,
indo parar no corpo de Alaska, de onde nunca mais conseguiu sair. Quem visse o rosto de
Alaska sem máscara e contemplasse o fogo-fátuo chamejante entraria em estado de
confusão mental. Não escaparia à loucura.
— Desta vez não há nenhum campo defensivo em torno do palco — cochichou
Gucky ao ouvido do vizinho. — Cada adversário pode ler os pensamentos do outro. Não
sei por que resolveram fazer isto hoje, mas o fato é que a tarefa de Alaska se torna mais
fácil, e a minha também. O principal é que ele pense o menos possível, para não revelar
suas intenções. — Gucky não pôde abster-se de uma observação irônica. — Bem, o
coitado não costuma mesmo pensar muito...
Acontece que naquele momento Alaska pensava em muita coisa. Felizmente não
pensava nas qualidades de mutante que não possuía, e principalmente em sua tarefa e na
missão de que participava. Só pensava na melhor maneira de pôr fora de ação o
adversário, mas não lhe ocorreu nada.
O rosto do telecineta abriu-se num largo sorriso. Os impulsos mentais que captava o
fizeram sentir-se seguro e o levaram a descuidar-se. Ficou de pé, com as pernas afastadas,
a vinte metros de Alaska, bem à sua frente, com os punhos cerrados, concentrado e
esperando.
Alaska também estava esperando. Não tinha alternativa.
De repente teve uma sensação desagradável no ventre. Parecia que seu estômago se
revoltara. Será que eram as frutas que comera no café? Sabia que consumira grande
quantidade delas. Logo naquele momento, em que tinha de concentrar-se ao máximo para
sobreviver, se manifestavam as consequências.
Quando olhou nos olhos do adversário, viu uma expressão de astúcia e satisfação.
No mesmo instante a dor no ventre desapareceu.
Fora uma provocação do telecineta, que realizara uma intervenção parapsíquica. Da
próxima vez talvez atacasse seu coração...
Alaska olhou para a sala reservada ao público. Viu Gucky piscar os olhos e
compreendeu que o rato-castor estava atento. Lera seus pensamentos e descobrira o
ataque. Da próxima vez reagiria conforme as circunstâncias.
O telecineta ainda estava sorrindo.
— Tire a máscara! — disse. — Gosto de ver o rosto de meu adversário antes de
matá-lo.
Alaska compreendeu cada palavra pronunciada na língua estranha, mas recusou.
— Não tirarei a máscara. É possível que você se assuste com meu rosto. É melhor
esquecer seu desejo.
— Eu insisto — disse o telecineta em tom arrogante. — Se não quiser tirar a
máscara voluntariamente...
O telecineta entrou em ação antes que Gucky pudesse reagir.
Alcançou a máscara, que estava a vinte metros de distância e arrancou-a.
A máscara caiu ruidosamente no palco.
O telecineta contemplou apavorado o rosto chamejante, mas antes que
compreendesse tudo e pudesse olhar para outro lado o fragmento de cappin produziu seus
efeitos devastadores. O telecineta estendeu as mãos como que para defender-se, correu
gritando para os fundos do palco, pegou uma pequena arma energética, destravou-a e
correu para o camarote dos árbitros.
Mas os árbitros e a maior parte dos espectadores também tinham visto o rosto de
Alaska, apesar da rapidez com que ele se abaixou e pegou a máscara. Mas quando a
colocou já era tarde.
A multidão parecia ter enlouquecido.
O telecineta passou a atirar ao acaso nos árbitros e espectadores. Um dos servos,
que trabalhava como segurança na arena, tirou-lhe a arma. Mas o telecineta não desistiu.
Saltou do palco dando gritos furiosos e atacou seus colegas mutantes, que ainda não
estavam compreendendo o que tinha acontecido. O homem chamado de Alaska devia
possuir dons terríveis. Podia deixar todos loucos...
Gucky teleportou para o palco e levou Alaska.
— Vamos, Ras, pegue Kasom e vamos dar o fora! Voltaremos ao apartamento.
Depois veremos o resto...
Desmaterializaram e escaparam do inferno. Não chegaram a ver o telecineta
enlouquecido ser linchado pela multidão —- isso de uma maneira toda especial.
Choques elétricos vindos do nada atingiram-no, alguém lhe apertou
telecineticamente a garganta, um teleportador levou-o até o teto alto e deixou-o cair.
Como se isso não bastasse, um conversor de moléculas entrou em ação, fazendo com que
os restos mortais do lutador desaparecessem completamente.
Mas a impressão do rosto chamejante de Alaska não se apagou tão depressa,
embora o tempo de exposição tivesse sido muito curto para produzir um efeito
permanente. A lembrança ficou. Alaska, que desaparecera do palco, teve de ser trazido de
volta. Prometia outras lutas interessantes que renderiam impulsos mentais positivos para
os bancos mentais dos conquistadores amarelos.
A caçada começou...
5

Colocaram os trajes de combate, mas não fecharam os capacetes. Verificaram suas


provisões e chegaram à conclusão de que poderiam passar bastante tempo sem ser
abastecidos pelos mutantes. Logo, não dependiam de uma hospitalidade duvidosa.
Dali a pouco Gucky trouxe uma notícia agradável.
— Tive contato com Harno! Estava preso num campo de absorção que não deixava
passar seus impulsos, conforme eu acreditava. Parece que o campo foi desligado por
algum tempo. Harno só enviou um raio-vetor para não se trair.
— Onde está ele?
— No centro do planeta artificial. Precisamos teleportar.
— É um risco danado! — O rosto de Ras assumiu uma expressão séria. — Ou será
que um raio vetor basta?
— Basta, mas não acho conveniente saltar diretamente para a cova do leão. Temos
de avançar por etapas. Acontece que não temos muito tempo. Já vêm para cá.
— Os mutantes?
— Sim, os mutantes. Querem Alaska, um mutante que enlouquece milhares
somente porque o vêem. Nunca viram nada igual.
Alaska examinou a máscara.
— Tão depressa não deixo que eles a tirem de novo, se bem que poderia ter sido
pior. O cara poderia ter espremido meus pulmões antes que desconfiássemos de suas
intenções.
— Levarei Kasom como da outra vez — disse Gucky. — Ras ficará ocupado com
Alaska. — O rato-castor olhou em volta. — É uma pena abandonarmos um lugar tão
lindo. Bem que gostei. Se bem que ainda estou aborrecido porque os amarelos não me
julgaram digno de entrar na arena. Se eles soubessem o quanto me subestimaram...!
— Eles já fizeram isso com outros — consolou-o Kasom. — O importante é que
nós sabemos quanto você vale.
— Você me deixa muito feliz — assegurou Gucky e levantou o braço num gesto de
alerta. — Está chegando alguém! Se atravessarem as paredes de novo, está na hora de
darmos o fora...
Os quatro seguraram-se pelas mãos para não se perderem. Gucky fixou a posição de
impulsos mentais muito fortes que vinham de baixo, concentrou-se no salto — e
teleportou.
Os mutantes que entraram no apartamento dali a pouco não encontraram nenhum
sinal dos hóspedes involuntários.
***
O Y’Xanthomrier olhou com uma expressão clemente para os servos.
Somente uma vez por dia — no período de luz — os servos tinham permissão de
entrar no pavilhão do Y’Xanthomrier e demonstrar sua devoção ao ídolo, bem como
manter a ordem. Os mutantes amarelos que tinham sido eleitos tinham acesso permanente
ao pavilhão, mas não usavam o privilégio com muita frequência.
O Y’Xanthomrier era uma estátua de sessenta metros de altura e vinte e cinco de
largura, com as feições de um ídolo gigantesco. Era amarelo-ocre e de aspecto
perfeitamente humano. No rosto balofo parecido com o de um sapo só se via um olho.
Era uma esfera multicor brilhante de quase dez metros de diâmetro. O olho dominava
todo o rosto.
Era o olho sapiente...?
Medrosos, os servos executavam seu trabalho de todos os dias. Só de vez em
quando um deles se atrevia a olhar para o ídolo por alguns segundos. Tinham medo dele,
pois o Y’Xanthomrier dominava tudo com seu espírito malvado, até os mutantes
amarelos que eram obrigados a obedecer-lhe.
De certa forma o ídolo era simplesmente o transmissor de ordens dos
conquistadores amarelos...
***
O planeta de Cristal tinha cerca de três mil e quinhentos quilômetros de diâmetro.
Logo, Gucky e seus companheiros tinham de deslocar-se mais ou menos mil setecentos e
cinquenta quilômetros embaixo da superfície para chegar aonde queriam. Harno afirmava
que se encontrava bem no centro do planeta artificial, sendo um prisioneiro direto do
Y’Xanthomrier.
Quando rematerializaram quase nada parecia ter mudado em torno deles, mas Ras e
Gucky sabiam que tinham percorrido mais de mil quilômetros, na vertical e para baixo.
Viram-se num pavilhão amarelo-ocre, sem nenhuma instalação.
Os impulsos mentais que chegavam aos não-telepatas eram muito fracos. Somente
Gucky foi capaz de recebê-los de forma mais nítida. O rato-castor encontrou uma
explicação para isso.
— O material de construção usado no planeta isola quase completamente os
impulsos quando eles têm de atravessar camadas de certa espessura. Dali se conclui que
nesta altura não existem habitantes. Recebemos os impulsos de mutantes que estão
apenas três ou quatro pavimentos acima ou abaixo de nós. Não vamos perder tempo,
amigos. Harno está à nossa espera.
Teleportaram de novo, desta vez pelo menos quinhentos quilômetros.
O impulso direcional de Harno superava os outros impulsos mentais. Encontravam-
se a menos de duzentos quilômetros do ser feito de energia. Além dos sinais enviados por
Harno e de alguns impulsos mentais dos mutantes amarelos havia outros impulsos que
Gucky não conseguia identificar logo. Recebia-os de forma bem nítida, mas não faziam
sentido. Não se tratava de pensamentos palpáveis, mas de impulsos emocionais parecidos
com comandos. Era como se alguém quisesse sugestionar alguma coisa a outro ser.
Gucky lembrou-se vagamente de já ter recebido esses modelos intelectuais
abstratos... Quando e onde fora isso...?
O Y’Xanthomrier...? O ídolo que chorava lágrimas vermelhas...?
Mas era claro! Quando se encontrava na quinta dimensão, em estado imaterial, para
entrar em contato com Harno, ele vira o ídolo, de uma forma vaga como que através de
milhares de véus. Mas também recebera esses modelos intelectuais abstratos, que não
transmitiam ideias reais, mas apenas emoções — e as impunham.
— A direção é a mesma — comunicou aos outros. — Harno e a estátua encontram-
se no mesmo lugar. E a estátua emite impulsos de comando! — Gucky abanou a cabeça
num gesto de dúvida. — Como uma coisa que não tem vida pode fazer uma coisa dessas?
Ou será que é orgânica?
— O planeta de Cristal também é artificial — lembrou Kasom.
— Aí a coisa é diferente, Toronar. O planeta não emite impulsos próprios, mas o
ídolo o faz. Resta saber se faz isso por iniciativa própria ou se desempenha as funções de
estação retransmissora. Bem, não demoraremos a saber. Vamos dar mais um salto.
Desta vez os dois teleportadores não tiveram dúvida em seguir diretamente o
impulso direcional de Harno e concentrar-se em seu ponto de saída. Só tiveram o cuidado
de incluir um jato de segurança de cem metros, para não rematerializar diretamente no
destino desconhecido.
A primeira coisa que sentiram foram impulsos mentais muito intensos, que
absorveram completamente as emissões de Harno. Mas não precisavam mais do sinal do
ser de energia para orientar-se.
Estavam no pavilhão de Y’Xanthomrier.
O ídolo superava as figuras minúsculas de alguns mutantes amarelos que se
aproximavam de uma das numerosas saídas para abandonar o pavilhão. Para Kasom, Ras
e Alaska seu aspecto era, apesar das descrições feitas por Gucky, tão apavorante que
ficaram parados contemplando a estátua, da qual partia um fluxo de impulsos muito
fortes, orientado contra eles.
O ídolo notara sua presença e queria impor-lhes sua vontade. Já não era uma luta
dissimulada, um cuidadoso tatear das forças e capacidades, nada de retirada e fuga. Só
podia haver uma decisão.
— Tão depressa ele não toma conta de nós — cochichou Alaska, que parecia
completamente imune contra os impulsos. — Temos um meio de pô-lo fora de combate,
Gucky? A propósito: Onde está Harno?
O rato-castor não respondeu logo. Olhou fascinado para a estátua, concentrando a
atenção no olho gigantesco do ídolo. Suas suposições vagas começaram a confirmar-se
quando captou os impulsos de Harno por uma fração de segundo.
O olho...!
— O olho — disse em tom de ênfase — é Harno! É mantido na posição por campos
energéticos parapsíquicos. É a prisão de que nos falou, uma prisão na qual não pode
escapar sozinho. Uma prisão sem possibilidade de fuga, a não ser que se destrua o cárcere
— e é o que vamos fazer. Só receio que será difícil.
Um robô...? Ou será que o Y’Xanthomrier era um ser orgânico a serviço dos
conquistadores amarelos? Mas será que em alguns mundos já tinham existido seres
gigantescos como estes, gigantes deste tamanho feitos de matéria orgânica...?
Kasom mantinha-se surpreendentemente calado. Não dizia nada, não fazia
perguntas, não apresentava sugestões, o que era muito estranho. Ficou parado, imóvel,
contemplando a estátua, com a mão direita pousada sobre a arma energética. Os impulsos
do ídolo engoliam seus pensamentos — se é que naquele momento trazia algum
pensamento na cabeça.
Alaska não ficou nem um pouco impressionado. O fluxo de impulsos do ídolo o
atingia, mas não fazia efeito. Mas Ras tinha de esforçar-se para repelir os comandos
mentais. Mas conseguiu e não foi submetido à influência do ídolo.
Gucky concentrou-se na estátua, mais precisamente em sua base maciça, onde devia
haver um ponto fraco onde podia iniciar sua ação. Ficou um pouco admirado porque
segundo parecia não havia campos energéticos para proteger o gigante. Os únicos campos
energéticos que detectou foram aqueles que mantinham Harno preso.
O rato-castor ainda tentava apalpar telecineticamente o interior da estátua quando
foi inundado por um fluxo de impulsos muito mais intenso que os outros. Este fluxo
parecia ser dirigido especialmente contra ele. O Y’Xanthomrier o identificara como o
inimigo mais perigoso e tentava impor-lhe sua vontade.
Gucky usou todas as forças para defender-se, mas logo percebeu que a estranha
figura era mais forte que ele. Se não concentrasse todas as energias parapsíquicas na
defesa estaria perdido e se transformaria em prisioneiro dos conquistadores amarelos, tal
qual Harno e os mutantes amarelos. Naquele momento Gucky compreendeu que qualquer
tentativa dos mutantes de rebelar-se contra seu senhor seria inútil.
O Y’Xanthomrier era imune a qualquer ataque parapsíquico e por isso era o meio
ideal de dominar os mutantes. Gucky convenceu-se cada vez mais de que estava
enfrentando uma estrutura artificial, não uma criatura orgânica.
Talvez fosse uma mistura das duas coisas...
Depois de algum tempo Kasom perdeu a paciência e os nervos, dando um rumo
decisivo aos acontecimentos. Sem dúvida sua intenção não fora esta, mas o fato é que
ajudou Gucky a sair da situação difícil em que se encontrava.
Há horas Kasom era maltratado pelas forças desconhecidas, sem que se desse conta
disso. Via-se indefeso diante de poderes contra os quais não podia defender-se. Não era
mutante e não possuía nenhum dom parapsíquico que pudesse usar contra este inimigo.
Em compensação possuía outra coisa.
A arma energética pesada!
Antes que alguém pudesse impedi-lo, Kasom levantou a arma e despejou um feixe
de energia quente contra o Y’Xanthomrier. Os raios energéticos atingiram o alvo, porque
nenhum campo defensivo protegia o gigante. Trilhas de fogo entraram em linha reta no
corpo enorme, devoraram o material desconhecido e destruíram-no. Explosões
arrancaram pedaços do corpo maciço, deixando à vista uma confusão de componentes
eletrônicos, mas também de peças orgânicas.
Era mesmo um semi-robô!
Kasom viu o resultado do ataque de surpresa e experimentou uma sensação de
alívio. O fluxo de impulsos era menos intenso, até dava a impressão de que ia
desaparecer. O ídolo, construído somente para a defesa no plano espiritual, não tinha
como defender-se de um ataque material.
Quando o calor começou a ficar insuportável, Kasom fechou o capacete com um
movimento rápido. Ras e Alaska seguiram seu exemplo, enquanto Gucky parecia
atarantado, tentando compreender o que estava acontecendo. Travara uma luta
desesperada com o monstro e não conseguira absolutamente nada, ao contrário de
Kasom...
O rato-castor também fechou o capacete e ligou o rádio.
— O olho, Kasom! Trate de não atingir o olho — é Harno!
Kasom acenou com a cabeça. Parecia zangado. Levantou a arma energética e voltou
a atirar.
Uma fresta abriu-se do lado direito do pavilhão, um portão formou-se e por ele
passou mais de uma dúzia de mutantes amarelos que pararam estupefatos, contemplando
seu ídolo ferido. Não fizeram nada para ajudá-lo. Fizeram meia-volta e desapareceram
tão de repente como tinham vindo.
O Y’Xanthomrier não lhes dava mais ordens.
As explosões no corpo do gigante eram cada vez mais violentas. Ras também abrira
fogo contra ele e fazia pontaria principalmente nas robustas pernas em forma de coluna.
O calor foi absorvido pelos equipamentos de refrigeração dos trajes de combate, mas
apesar disso os quatro amigos ligaram os campos paratron, que os protegeriam também
de um possível ataque.
Gucky ainda não estava usando a arma. Permanecia imóvel, um pouco afastado dos
outros, assistindo ao espetáculo. Tentava desesperadamente entrar em contato com
Harno, que estava preso em forma de olho gigantesco na cabeça desajeitada do ídolo e
começou a encolher aos poucos. Dali a pouco o olho não tinha mais de cinco metros de
diâmetro — e continuava a diminuir.
— Harno! — gritou Gucky. — Harno! Que devemos fazer?
Harno só tinha dois metros de diâmetro.
Dali a pouco era apenas um metro...
De repente os impulsos mentais de Harno tornaram-se bem nítidos. Kasom, Alaska
e Ras também puderam captá-los. Era como se o ser feito de energia lhes dirigisse a
palavra.
— Logo estarei livre... As amarras energéticas estão desaparecendo, vocês
conseguiram! Continuem... irei para onde estão vocês...
Enquanto Kasom e Ras continuavam atirando para destruir o semi-robô e quebrar
seu poder mental para sempre, Gucky observava fascinado o que estava acontecendo com
Harno, que se tornara menor que uma maçã. Só podia ser visto a uma distância tão
grande por causa do brilho intenso que emitia. Parecia uma estrela.
Harno libertou-se definitivamente da prisão na cabeça do ídolo e voou através do
pavilhão. Durante o voo sua luminosidade diminuiu bastante, até desaparecer de vez.
Harno ficou de uma cor preto-fosca, conforme se estava acostumado a vê-lo. Era do
tamanho de uma castanha.
Gucky estendeu a mão aberta para que a minúscula esfera pousasse nela. Harno não
perdeu tempo. Desceu nela e ficou deitado.
— Seria conveniente colocar-me em um dos seus bolsos — informou. — Não
demora e este lugar se transformará num inferno.
— Você acha que dentro de meu bolso não correrá perigo? — perguntou Gucky
espantado.
— Não é só por isso. Se acontecer alguma coisa que nos separe, poderá ser difícil
estabelecermos contato de novo. Além disso não devemos perder muito tempo em
abandonar este planeta e o “Enxame”.
Gucky viu o Y’Xanthomrier fazer um movimento.
— Vamos, Harno! Entre no bolso de minha jaqueta. Trate de pensar num meio de
sairmos deste planeta. Não podemos teleportar para fora do “Enxame”.
— Ajude-nos! — gritou Kasom para Alaska. — Esta coisa começa a andar. Temos
de destruí-la. Ras e eu não podemos fazer isto sozinhos.
O colosso avançou desajeitadamente. Suas faculdades mentais tinham falhado
diante dos intrusos. Logo, só lhe restava usar a violência para pô-los fora de ação.
Alaska também abriu fogo contra o gigante, que continuava a aproximar-se. Atirou
nas partes orgânicas expostas. Kasom esforçava-se para paralisar o setor mecânico do
ídolo.
Gucky percebeu que os fluxos de comando tinham desaparecido de vez. O
retransmissor não funcionava mais. Isto também significava que os mutantes amarelos
não eram controlados mais pelos desconhecidos que governavam o “Enxame”. Se
houvesse uma revolta no planeta de Cristal, as consequências seriam imprevisíveis.
Fora o fato de que se encontravam numa situação extremamente difícil, a missão
por enquanto podia ser considerada um grande sucesso. Harno estava livre e uma parte
importante do sistema de comando do “Enxame” fora paralisada. Só faltava saírem dali
sãos e salvos.
Gucky também pegou a arma, uma vez que não foi possível deter o gigante por
meio da telecinésia. Harno voltou a fazer contato telepático.
— No planeta de Cristal só existem três espaçonaves. Tentem chegar à superfície.
Eu lhes mostro o caminho.
— Mais tarde, Harno. Primeiro vamos liquidar este toco, para que os mutantes
amarelos possam refletir sobre os motivos pelos quais estão neste mundo. Valem muito
como aliados.
— Isso é um pensamento inspirado no desejo — disse Harno. — Se os mutantes
deixam de emitir impulsos combativos, é possível que os planetas que dependiam destes
impulsos também se revoltem. Não demoraremos a saber.
O Y’Xanthomrier já percorrera quase metade da distância que o separava dos
intrusos. Seus movimentos eram cada vez mais inseguros, e em certo momento até
chegou a cair. Kasom deu um salto e atirou no gigante bem de perto. Toda a raiva
armazenada dentro dele se descarregou nesse ato, que não foi um sucesso total.
O ídolo voltou a levantar e saiu andando de novo. Kasom recuou apavorado. Tivera
certeza quase absoluta de que desta vez conseguiria.
Alaska veio em seu auxílio. Com o movimento apressado que fez para puxar Kasom
ainda mais para trás, sua máscara se soltou e caiu na parte inferior do capacete. Com o
calor que fazia era impossível prendê-la de novo.
— Temos de sair daqui! — gritou Ras, que não percebera o que tinha acontecido.
— Nunca daremos cabo desta fera...!
Mas neste instante houve uma mudança estranha com a fera.
O Y’Xanthomrier parou. Não possuía mais nenhum olho que se pudesse ver, mas
devia haver órgãos de visão naturais ou artificiais em cima ou dentro de seu corpo que
ficara parcialmente exposto. Estes órgãos reagiram ao rosto chamejante de Alaska,
transmitiram a impressão às células orgânicas do cérebro e estas também reagiram.
O gigante balançou e tombou que nem uma árvore derrubada. Algumas peças de
revestimento artificiais quebraram-se, deixando à mostra o interior, que em sua maior
parte era formada por sistemas eletrônicos e positrônicos e os respectivos condutores. Um
pequeno reator atômico caiu do suporte danificado e rolou para o lado. Felizmente não
houve uma explosão, que naquele lugar teria efeitos devastadores.
O Y’Xanthomrier permaneceu imóvel. Parecia que há muito tempo deixara de
emitir impulsos. Talvez estivesse morto.
— Para cá, Toronar! — gritou Gucky quando Kasom quis avançar para satisfazer a
curiosidade. — Liquidamos isso aí. Está na hora de cuidarmos da própria segurança.
Quando os mutantes compreenderem o que aconteceu, a situação poderá tornar-se crítica.
— Por quê? Nós não os libertamos?
— Tente explicar isso a eles tão depressa. Venha logo!
Kasom reconheceu que realmente não havia mais nada a fazer para ele e os outros
no pavilhão do Y’Xanthomrier. O gigante estava deitado no chão, imóvel. Alaska, que
ficara bastante perplexo com os efeitos do rosto chamejante de cappin, voltou a colocar a
máscara, depois de certificar-se de que podia colocar o capacete sem perigo.
— Até parece um milagre — disse.
— O milagre é você — afirmou Gucky em tom seco. — Vamos logo! Harno está
insistindo.
— Onde está ele? — perguntou Ras.
— No meu bolso. Ele acha que devemos ir à superfície. Lá ele nos mostrará o
caminho para o único hangar do planeta, onde há três naves à nossa espera.
— Ah, é? Estão à nossa espera?
Desta vez Gucky cansou-se de responder a perguntas inúteis. Segurou o braço de
Kasom.
— Vou dar o fora com Kasom. Se quiserem acompanhar-nos, façam o favor de
apressar-se...
Foi o suficiente. Ras segurou a mão de Alaska Gucky cuidou para que Kasom e
Alaska ficassem em contato. Em seguida fez um sinal para Ras.
— Vamos lá...
Os quatro desmaterializaram no momento em que centenas de mutantes amarelos
entraram correndo no pavilhão.
6

A teleportação levou-os diretamente à superfície e só então Harno, que continuava


alojado no bolso de Gucky como uma esfera do tamanho de uma castanha, voltou a fazer
contato. Seus impulsos mentais eram tão fortes que podiam ser captados até mesmo pelos
não-telepatas.
— O hangar fica a trinta quilômetros daqui. Exatamente na direção em que Kasom
está olhando agora. Saltem trinta quilômetros. É um platô, uma gigantesca lente
lapidada...
Teleportaram de novo. Não havia sinal de que eram perseguidos. Os mutantes
deviam estar ocupados com seus próprios problemas.
Viram-se numa superfície ligeiramente côncava, cercada por cristais de formas
bizarras e torres de vidro. Harno informou que o hangar ficava bem embaixo deles.
Acrescentou que a eclusa só podia ser aberta do lado de dentro.
—As naves são vigiadas?
— Não. As tripulações encontram-se nos alojamentos e ainda não foram postas de
prontidão. Peguem uma das chaves. Eu lhes direi como devem usar os controles. As
naves estão equipadas apenas com propulsores de transição. Nada de voo linear, portanto.
Saltem logo!
Os quatro voltaram a teleportar, desta vez somente cinquenta metros para baixo,
conforme ordenara Harno.
Foram parar no hangar.
As naves eram pequenas e quadradas. Os propulsores tinham sido instalados nos
quatro cantos, sobre aletas móveis. As naves não tinham mais de trinta metros de
diâmetro.
A do meio estava estacionada sobre um trilho que subia obliquamente, terminando
junto ao teto cristalino que deixava passar a luz do sol azul.
Os quatro ainda estavam com os capacetes fechados. Comunicavam-se pelo rádio.
— Vamos pegar a nave do centro, que está pronta para decolar — decidiu Gucky.
— Levarei Kasom e teleportarei primeiro para dentro da nave. Ras, você seguirá com
Alaska quando eu disser.
Gucky não esperou a resposta. Saltou.
Os controles do centro de comando, que ficava numa cúpula chata sobre a parte
superior do quadrado, pareciam estranhos e complicados, mas não havia dúvida de que
podiam ser manipulados pelos órgãos de apreensão humanóides. Além disso Harno já
estava dando suas instruções, que Gucky transmitia imediatamente a Kasom. A nave
podia ser inserida num processo de decolagem automático a partir da sala de comando.
Este processo a faria sair do hangar.
— Tudo entendido? — perguntou Gucky depois que Harno terminou.
Kasom acenou com a cabeça.
— Naturalmente. Não é tão complicado como parece à primeira vista. O cálculo das
transições não terá a precisão a que estamos acostumados no voo linear, mas isto pode ser
corrigido depois. Quanto a mim podemos partir.
Gucky chamou Ras pelo rádio e dali a instantes o teleportador e Alaska apareceram
na sala de comando. Via-se perfeitamente o hangar através das pequenas aberturas que
cercavam a sala de comando. Por enquanto não se viam perseguidores.
As poltronas eram pequenas e estreitas. Só Gucky cabia nelas. Os outros
acomodaram-se da melhor maneira possível no chão.
— Esta nave deve ser usada por anões — resmungou Kasom, queixando-se da falta
de conforto. — Gostaria de saber como são.
— Provavelmente também devem ser prisioneiros do “Enxame”, que em virtude de
uma influência parapsiquica foram obrigados a servir. — Ras apontou para os controles.
— E agora, Kasom? Você pode fazer isso de pé?
— Vou dar um jeito — respondeu o ertrusiano e tentou recordar exatamente as
instruções de Harno. — Vou iniciar a decolagem. A nave acelerará automaticamente até
alcançar a velocidade de transição. Até lá tenho de programar o primeiro salto.
Enquanto Kasom estava ocupado, Harno comunicou:
— No fim do “Enxame” está começando um fenômeno que se repete
constantemente a intervalos irregulares. Um planeta explorado que se tomou inútil é
expelido, porque seu transporte representaria uma carga inútil. Para isso ele é freado e o
campo energético de envolvimento é aberto. O planeta fica para trás. É nossa única
chance de sair do “Enxame”.
— Foi mais ou menos como entramos — disse Gucky. — Aliás, como você sabe
tudo isso?
— Fui durante bastante tempo o olho sapiente do Y’Xanthomrier — explicou o ser
energético. — Praticamente eu mesmo controlei estes processos a partir do planeta de
Cristal.
— E agora que o superídolo foi destruído?
— A única coisa que ele faz é transmitir as ordens expedidas pelos conquistadores
amarelos a um centro de execução automático. A ordem de expelir o planeta ao qual me
referi foi dada quando vocês ainda estavam presentes. O processo foi iniciado antes da
destruição do Y’Xanthomrier e não pode ser mais revertido.
— Atenção! — disse Kasom. — Está na hora. Vou apertar este botão — e então
acontecerá o que esperamos. Tomara!
Kasom estava de pé entre duas poltronas nas quais podia segurar-se caso isso se
tornasse necessário. Ras e Alaska estavam sentados no chão. Gucky era o único que
permanecia confortavelmente instalado em uma das pequenas poltronas anatômicas.
Kasom apertou o botão.
Os propulsores começaram a trabalhar no interior da nave antes que ela começasse a
movimentar-se e subisse devagar pelo trilho inclinado. A eclusa interna abriu-se no teto
transparente e voltou a fechar-se quando a nave parou à frente da eclusa externa. A
atmosfera artificial foi retirada até que o vácuo reinou na câmara da eclusa.
Depois disso abriu-se a gigantesca comporta externa, enquanto a nave se desprendia
dos grampos que a mantinham presa ao trilho e passou a flutuar no espaço. Os
propulsores começaram a trabalhar a toda e a figura quadrada precipitou-se espaço a fora
acelerando fortemente.
Não havia anteparos de proteção contra a luz. Kasom assustou-se e teve de fechar os
olhos, ao ser surpreendido pelo brilho do planeta de Cristal. Mas ele logo ficou atrás da
nave e foi-se afastando rapidamente.
O setor do espaço cósmico que ficava no interior do “Enxame” estendia-se à sua
frente...
***
O fim do “Enxame” ficava a pouco menos de sete mil anos-luz do planeta de
Cristal. Kasom percorreu esta distância em duas transições, antes de tentar calcular com o
auxílio de Harno a posição exata da nave.
Havia poucas estrelas no setor do espaço em que se encontravam, o que tornava
mais difícil a orientação. Os rastreadores que Alaska acionou de acordo com as instruções
de Harno só mostrou alguns asteróides que se deslocavam devagar, aproximando-se
inexoravelmente do fim do “Enxame” que continuava a desenvolver metade da
velocidade da luz. Logo, os asteróides também seriam expelidos.
— São muito pequenos para servirem de esconderijo — avisou Harno. — Temos de
encontrar o planeta. Será nossa única proteção quando aparecer a frota de caças, que
certamente não nos fará esperar muito.
Alaska continuou procurando, enquanto Kasom realizava pequenas transições
perpendicularmente ao deslocamento do “Enxame”. Ninguém sabia qual era o alcance
dos rastreadores, nem mesmo Harno. Mas ele conhecia a posição aproximada do planeta
que se tornara inútil.
Finalmente os esforços de Alaska pareciam ter resultado.
— Há um objeto grande três anos-luz à nossa frente. Permanece praticamente
imóvel relativamente ao “Enxame”. Deve ser ele.
— É, sim! — confirmou Harno. — Kasom, a transição!
Antes de entrarem em transição Alaska detectou cinquenta naves pequenas vindas
do “Enxame”, que avançavam em grupos separados. Sem dúvida dispunham de sensores
com os quais podiam registrar as ondas de choque de uma transição. Mas era duvidoso
que também pudessem verificar a direção e o alcance da transição.
De qualquer maneira os caças tinham iniciado a perseguição. Os acontecimentos do
planeta de Cristal tinham-se tornado conhecidos e provocado o alarme. Naturalmente
haveriam de desconfiar que alguém tentaria abandonar o “Enxame” aproveitando a
manobra de expulsão já indicada e ficariam atentos. Ainda bem que o processo não podia
ser mais revertido. E ainda melhor era que também seria expelido certo número de
planetas menores e asteróides. Desta forma a busca se tornaria muito mais difícil para os
caças e as chances dos fugitivos aumentavam.
Quando a nave saiu da transição, o planeta deserto ainda estava a duas horas-luz.
Não podia ser visto a olho nu porque não havia nenhum sol por perto cuja luz pudesse
refletir. Mas o planeta aparecia perfeitamente nos rastreadores operados por Alaska.
— Não há nenhum caça num raio de três anos-luz — disse Alaska, satisfeito. —
Mas não custarão a chegar.
— Prossigam à velocidade da luz — aconselhou Harno. — Desta forma os
perseguidores terão mais dificuldade em localizar-nos. Pousem no planeta deserto. Ele foi
explorado e escavado em grande parte. Oferece esconderijos de sobra.
— Há habitantes? — perguntou Kasom.
— Os habitantes foram evacuados em tempo e colocados em outros planetas, onde
serão usados como força de trabalho.
— Malditos tiranos! — exclamou Gucky indignado. — Onde já se viu brincar com
sóis, planetas e seres vivos? Quem são mesmo estes conquistadores amarelos? Os
senhores do Universo?
— Eles se julgam como tais — informou Harno.
O ser energético saíra do bolso de Gucky e estava suspenso na sala. Era de cor
negra, dando a impressão de que absorvia todos os raios de luz.
— O que você sabe a respeito dele? — quis saber Gucky. — Terei de informar
Perry Rhodan e os outros quando voltarmos.
— Pouca coisa — confessou Harno. — Mas de qualquer maneira vocês resolveram
mais um dos enigmas com que quebravam a cabeça nos últimos séculos. As naves da
frota exploradora solar não encontravam constantemente sóis queimados e planetas
completamente desertos no espaço intergaláctico? Vocês não viviam se perguntando por
que esses sóis não tinham tido uma morte natural, mas davam a impressão de que alguém
tinha roubado sua energia? E os planetas! Os cientistas de vocês não formularam uma
teoria segundo a qual esses planetas tinham sido explorados por alguma supercivilização?
Não havia muitos especialistas que faziam pouco desses cientistas porque não eram
capazes de imaginar que essa supercivilização pudesse existir? — Harno fez uma pausa e
acrescentou: — Pois elas existem! Estamos tentando desesperadamente fugir de uma
delas.
Kasom ligou um aparelho indicado por Harno que funcionava em base
infravermelha. Desta forma a imagem do planeta deserto pôde ser projetada na tela.
Não foi um quadro agradável. Um mundo nu, sem vegetação na superfície e cheio
de crateras artificiais. As antigas montanhas tinham sido aplainadas e o interior do
planeta fora escavado. Só restava uma massa de poeira e rocha nua.
— A Terra ficaria assim se fosse aproveitada pelo “Enxame” — disse Ras
consternado. — Temos de evitar de qualquer maneira que isso aconteça! Qual seria o
destino da humanidade...?
— Isso não acontecerá! — disse Kasom e fez uma retificação de rota. — Vejamos
qual é o melhor lugar para pousar. Ainda temos pouco mais de uma hora; depois teremos
de frear. Tomara que Harno saiba como se faz isto...
— Harno sabe — informou o ser feito de energia.
Os caças que vinham em sua perseguição demoraram a chegar. Ainda bem. Uma
transição de uma hora-luz seria difícil e, mais que isso, inútil. Tinham de pousar antes
que os caças chegassem.
O tempo custou a passar e dentro de pouco tempo Kasom começou a reduzir a
velocidade. O planeta estava bem à sua frente e aumentava de tamanho quase a olhos
vistos. Ninguém poderia afirmar que com isso se tornava mais bonito e atraente.
Mas Kasom já distinguia melhor as crateras. Viu que se tratava de gigantescos
orifícios de perfuração que penetravam no interior do planeta.
— O que você está pensando é certo — interveio Harno. — Leve a nave para uma
das crateras e faça-a descer na vertical. Tome cuidado para que não sofra avarias. Pelos
meus cálculos o processo de expulsão deve começar dentro de uma hora.
Ras e Gucky ficaram calados, para não perturbar Kasom durante a manobra difícil.
Alaska também preferiu ficar quieto. Olhava fixamente para a paisagem hostil em direção
à qual estavam caindo.
A nave encontrava-se bem em cima de um dos gigantescos orifícios de perfuração e
começou a descer devagar. Dentro de pouco tempo alcançou a borda da cratera — e
continuou descendo. Escureceu depressa, mas Kasom preferiu não ligar os faróis
externos. Operou no infravermelho.
Depois que tinham descido mil metros, Kasom fez uma sondagem com raios de
rastreamento.
O fundo da cratera ficava oitenta quilômetros abaixo deles.
— Não precisamos descer tanto — disse Harno, que controlava ininterruptamente
os pensamentos do ertrusiano. — Daqui a pouco chegaremos às primeiras galerias
laterais, que estão ligadas com os outros orifícios de perfuração. Vamos entrar em uma
destas galerias, a três quilômetros de profundidade, e esperar. Sairei da nave e exercerei
as funções de observador. Desta forma nunca seremos localizados.
Foi o que fizeram.
A galeria horizontal tinha quase cem metros de largura e até vinte metros de altura.
A nave coube perfeitamente nela e fez um pouso suave no chão liso de pedra derretida.
Os propulsores silenciaram. Kasom espreguiçou-se e suspirou:
— Ainda bem que posso sentar. Quase não sinto mais os ossos.
— E eu estou com fome! — acrescentou Gucky e pôs-se a remexer as provisões
guardadas em seu traje de combate.
***
Harno saiu da sala de comando e da nave sem que fosse necessário abrir qualquer
eclusa. Atravessou o casco metálico. Manteve contato telepático com os que ficaram e de
vez em quando transmitia informações.
— Há alguns caças por perto. Estão vasculhando a superfície do planeta à nossa
procura. Naturalmente sabem que podemos estar escondidos no labirinto de cavernas,
mas felizmente parecem não ter tido a ideia de destruir o planeta.
Por algum tempo não aconteceu nada. Finalmente Harno continuou seu relato
telepático:
— O processo de passagem pela eclusa está sendo iniciado. A parte traseira do
campo energético começa a abrir-se. Alguns asteróides pequenos já atravessaram a fresta,
que se toma cada vez mais larga. Ainda demorará dez minutos até que nós abandonemos
o “Enxame”.
Foram dez minutos de angústia, mas o que eles mais temiam não aconteceu. Talvez
os conquistadores amarelos não conhecessem nenhuma arma parecida com a bomba de
Árcon, se bem que numa supercivilização isso não era muito provável. De qualquer
maneira não fizeram nada. Os caças só deram voltas em tomo do planeta, mas retiraram-
se às pressas quando este se aproximou rapidamente do campo energético aberto.
Finalmente Harno anunciou que tinham passado.
O “Enxame” continuou voando a cinquenta por cento luz, enquanto o campo
energético voltava a fechar-se.
Harno voltou no mesmo instante.
— Conseguimos! Podemos ir à superfície sem correr perigo e fazer contato com
Rhodan. A Good Hope está a quatro anos-luz daqui.
Gucky segurou Harno na mão estendida.
— Como sabe disso?
— Por que não haveria de saber? — disse o ser energético.
Gucky sacudiu a cabeça. Parecia indignado.
— Mal a gente o tira do aperto, e ele volta a ficar atrevido. Da próxima vez você vai
esperar!
— Alguns milhões de anos não fazem nenhuma diferença — retrucou Harno. —
Vamos, Kasom. Há trabalho a fazer. Na Good Hope Rhodan já fica pisando o chão
nervosamente...
— E Bell? — quis saber Gucky.
— Bell acha que vocês estão mortos. É um pessimista.
— Pois vai ficar com cara de bobo quando apareceremos perto dele.
Kasom manobrou a nave cuidadosamente para a superfície e em seguida acelerou
ao máximo, enquanto Alaska ativava o rádio seguindo as instruções de Harno. Gucky
recolheu-se a um canto tranquilo e tentou estabelecer contato telepático com Fellmer
Lloyd, para chegar antes dos amigos.
O planeta deserto ficou mergulhado na noite eterna.
***
Quase uma semana se passara na Good Hope, e a espera começava a transformar-se
num verdadeiro martírio. Ainda não havia nenhum sinal de que a missão de Gucky
tivesse sido bem-sucedida — e de que ele e seus companheiros ainda estivessem vivos.
No dia 20 de fevereiro de 3.442, tempo terrano, Bell entrou na sala de comando,
rabugento, depois de uma noite mal dormida. Rhodan já estava à sua espera. Fellmer
Lloyd estava sentado numa poltrona, um pouco mais afastado, no que não havia nada de
extraordinário. O telepata ficava constantemente na recepção, à espera de um sinal de
vida de Gucky.
— Vamos ficar pretos de tanto ficar parados! — afirmou Bell. — Ou você acredita
em milagres, Perry?
Rhodan acenou calmamente com a cabeça.
— Acredito. O milagre já aconteceu.
Bell encarou-o com uma expressão de perplexidade.
— Aconteceu...? O que aconteceu?
— O milagre de que você falou. Tivemos contato com eles.
— Com Gucky?
A palavra Gucky foi pronunciada num tom de alívio de que só mesmo Bell, que já
se tomara muito menos obeso, seria capaz. Afinal, todos sabiam da amizade que o ligava
ao rato-castor.
— Os outros também — confirmou Rhodan. — Devem chegar daqui a pouco.
Neste momento o rastreamento anunciou uma nave desconhecida.
— São eles! — disse Fellmer Lloyd, que mantinha contato com Gucky. — Mas há
um problema com a nave — acrescentou em tom apressado. — Está entrando num
processo de autodestruição. Teleportarão para fora dela...
Viram a cena na tela panorâmica da Good Hope...
De repente o casco do objeto quadrado ficou incandescente, como se tivesse entrado
em velocidade muito elevada na atmosfera de um planeta. Uma torrente chamejante de
metal derretido ficou na esteira da nave.
De repente o veículo desmanchou-se numa explosão atômica.
Bell ia soltar um grito de pavor, quando alguém pisou violentamente em seus pés.
No mesmo instante Ras e Alaska materializaram na sala de comando.
Kasom apressou-se em sair de cima dos pés de Bell.
— Perdão, senhor, mas eu não podia...
Gucky já o soltara.
Kasom informou em palavras ligeiras que tinham sido obrigados a abandonar a
nave quadrada no último instante, porque um mecanismo secreto acionara um sistema de
autodestruição quando se aproximavam da Good Hope.
Finalmente Rhodan pôde dar as boas-vindas aos recém-chegados. Pediu que Gucky
fizesse um ligeiro relato. O rato-castor deixou-se convencer, principalmente porque não
queria que alguém se antecipasse. Em seguida tirou Harno do bolso e largou-o no ar,
onde o ser energético ficou suspenso.
— Este é Harno — disse com um gesto dramático. — Ele pode contar uma porção
de coisas a respeito dos conquistadores amarelos.
— A respeito de quem? — perguntou Rhodan surpreso.
— Foi o nome que lhes demos — os conquistadores amarelos. Aposto que são
amarelos como limões. — Pensativo, Gucky olhou para o teto. — Pelo menos suas
roupas são amarelas — amarelas-ocre! Parece que usam esta cor para proteger-se.
A tripulação da Good Hope foi informada pelo intercomunicador sobre o sucesso da
expedição. Mais uma vez Gucky era o herói, mas em sua modéstia não aceitava as
felicitações que lhe eram oferecidas.
— Ora, amigos, que seria de mim se não fosse Kasom, ou meu amigo Ras, ou
principalmente Alaska? Não faria nada, absolutamente nada! Isto sem falar de Harno. Ele
nos ajudou a fugir. Se não fosse ele, não estaríamos mais vivos.
Kasom fitou-o com uma expressão de perplexidade.
— Sente-se bem? — perguntou com muito cuidado. — Será que vai acabar ficando
doente...?
Gucky sorriu ironicamente e prosseguiu:
— É claro que no fundo também se poderia dizer: O que seria de Harno, Kasom,
Alaska e Ras se não fosse eu...?
Bell deu uma estrondosa gargalhada.
— Graças a Deus! Ele está bem, com uma saúde de ferro! Kasom, o senhor me deu
um susto tremendo com sua suspeita.
Rhodan deu ordem para que o comando tivesse um descanso prolongado e pediu a
Harno que o acompanhasse à sua cabine. Acenou com a cabeça para Bell.
— Atlan ainda será informado. Você me acompanha? Queremos conversar com
Harno.
Os dois saíram e Harno acompanhou-os voando perto de sua cabeça, uma pequena
esfera, muito preta, em cuja superfície brilhante podia refletir-se todo o universo.
Kasom segurou a mão de Gucky.
— Leve-me para a cama — pediu cansado. — Não dou mais um passo...
Naquele dia 20 de fevereiro a humanidade e todos os povos da Via-Láctea tinham
feito um grande progresso. Eram ameaçados pelo “Enxame”, e parecia não haver nenhum
meio de deter os conquistadores amarelos ou impedir-los de realizar seu projeto.
Mas desde aquele dia sabia-se que os donos do “Enxame” eram vulneráveis.
Já era um começo, uma nova esperança.
Até justificava a esperança louca de um dia poder negociar com os conquistadores
amarelos...

***
**
*
Gucky e os membros de sua expedição saíram do
“Enxame” sãos e salvos, em companhia de Harno, e
chegaram à nave de Perry Rhodan, que logo partirá
para outra missão.
Mas antes de acompanharmos Perry Rhodan,
iremos à uma colônia terrana. Lá tem início um terrível
fenômeno...
Leia a história no próximo volume da série Perry
Rhodan, sob o título A Grande Matança.

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