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A NARRATIVA SERIADA Como se sabe, a programacio televisual é muito fregjentemente concebida em forma de blocos, cuja duragio varia de acordo com cada modelo de televisio. [Em geral, televises comerciais tém blocos de menor durago que as televisbes piblicas, pela razdo Sbvia de que precisam vender mais intervalos comerciais, Uma emissao didria de um determinado programa é normalmente constituida por lum conjunto de blocos, mas cla propria também & um segmento de uma totalida- de maior ~ © programa como um todo ~ que se espalha ao longo de meses, anos, em alguns casos até décadas, sob a forma de edigdes difrias, semanais ou men- sais. Chamamos de serialidade essa apresentagio descontinua ¢ fragmentada do sintagma televisual, No caso especifico das formas narrativas, 0 enredo & geral- ‘mente estruturado sob a forma de capitulos ou episédios, cada um deles apresen- {ado em dia ou horatio diferente e subdividido, por sua ver, em blocos menores, separados uns dos outros por breaks para a entrada de comerciais ou de chamadas para outros programas. Muito freqiientemente, esses blocos incluem, no inicio, ‘uma pequena contextualizagio do que estava acontecendo antes (para refrescar a meméria ou informar o espectador que nao vit o bloco anterior) e, no final, um _gancho de tensio, que visa mantero interesse do espectador até o retorno da série depois do break ou no dia seguinte. Os episédios da série de David Lynch Twin Peaks (1990-91), por exemplo, comegavam sempre com uma répida retrospecti- ‘no momento mais -va dos episodios anteriores ¢ terminavam invariavelms quictante. 84 + A TELEVisio LEvADA A séaio Existem basicamente trés tipos prineipais de narrativas seriadas na televi- sito. No primeiro caso, temos uma tnica narrativa (ou virias narrativas entrelagadas « paralelas) que se sucede(m) mais ou menos linearmente a0 longo de todos os capitulos. E 0 caso dos teledramas, telenovelas ¢ de alguns tipos de séries ou minisséries, Esse tipo de construgio se diz teleolégico, pois cle se resume funda- ‘mentalmente num (ou mais) conflito(s) basico(s), que estabelece logo de inicio tum desequilibrio estrutural, ¢ toda evolugdo posterior dos acontecimentos con- siste num empenho em restabelecer 0 equilibrio perdido, objetivo que, em geral, 86 s¢ atinge nos capitulos finais. No segundo caso, cada emissio é uma histéria completa ¢ auténoma, com comeco, meio e fim, € 0 que se repete no episédio seguinte sio apenas os mesmos personagens principais ¢ uma mesma situagio narrativa, Nesse caso, temos um protétipo basico que se multiplica em variantes diversas a0 longo da existéneia do programa. E o caso basicamente dos seriados = por exemplo, o célebte Malte mulher (1979-81) ~ e de programas humoristicos do tipo Monty Python's Flying Circus (1969-74). Nessa modalidade, um episo- dio, via de regra, nao se recorda dos anteriores nem interfere nos posteriores: 0 personagem principal aparece ferido no final de um episédio, 0 vilio é colocado na cadcia, mas no episédio seguinte jé no hi mais sinal do ferimento nem 0 vilio esté mais na prisfo. O caso mais absurdo é 0 desenho dirigido por Trey Park South Park (desde 1998), que tem wm personagem, o Kenny, que morre em todos 0s episédios, mas sempre retorna vivo nos episédios seguintes. Nesse tipo de ‘estrutura, a contrério da modalidade anterior, nio ha ordem de apresentagio dos episédios: pode-se inverté-los ou embaralhé-los aleatoriamente, sem que a situa- ‘io narrativa se modifique. Finalmente, temos um terceiro tipo de serializagio, em que a inica coisa que se preserva nos virios episédios & 0 espirito geral das historias, ou a temitica; porém, em cada unidade, nfo apenas a historia comple- tae diferente das outras, como diferentes também so 0s personagens, os atores, ‘08 ceniitios ¢, as vezes, até os roteristas ¢ diretores. 0 caso de todas aquelas ‘em comum apenas o titulo genérico e o estilo das séries em que os episédios i historias, mas cada unidade é uma narrativa independente, A série The Outer Limits (Quinta dimensao; primeira versio: 1963-64), por cxemplo, é constituida de episédios em que a tinica coisa em comum é a presenca em cena de monsiras, do espaco extraterrestre, sejam eles insetos gigantes, microorganismos parasité- rios ou rochas ineligentes, Na mesina categoria se poderia enquadrar também a série brasileira Comedia da vida privada (1995-97), em que as diferentes hist®- rias mensais tm em comum apenas o fato de focalizarem sempre a vida domés tica€ 0 eterno conflito homem-mulher (akém, naturalmente, dos arrojados estilos ‘A wagnata SERADA + 8 de mise-en-seéne ¢ ediglo). Neste livro, seguindo principalmente sugestdes de Renata Pallottini, adotaremos, sempre que pertinente, a seguinte terminologia, vamos chamar de capitulos os segmentos do primeiro tipo de serializagio, de «episédios seriados os segmentos do segundo tipo e de episédias wnitérios as narrativas independentes do terceiro tipo." Naturalmente, 05 trés tipos de narrativas podem as vezes s2 confundir. As telenovelas brasileras pertencem, sem divida a primeira modalidade, ou seja, 4a(s) histria(s)iniciada(s) no primeiro capitulo se desenrola(m) teleologicamente a0 longo de toda a série, até 0 desfecho final nos iltimos eapitulos, mas pode(n arrastar-s indefinidamente, repetindo ad infinitum as mesmassituay6es ou criando situagdes novas, enquanto houver altos indices de audiéneia, Isso significa que as mbémn earacteristicas de seriado, Por outro lado, exis telenovelas ineorporam tem seriados em que, malgrado se possa verificar uma estrutura bisica de episé- dios independentes, permitindo, portanto, que possam ser assistides cm qualquer nimero ou ordem, ha uma situagio teleologica, um inicio que explica as razdes ‘do($) eonflito(s) © uma espécie de objetivo final que orienta a evolugio da narra- ‘iva, Aqui também a série pode desdobrar-se ao infinito, enquanto houver audin- cia, mas ha um episédio inaugural que explica 0 contexto da sére e & possivel ainda que, em algum momento, os realizadores resolvam colocar um ponto final histéra, fazendo com que os personagens principais possam atingir uma meta prefixada, A situagao basica do seriado Matte mulher, por excmplo, se explica no prinwiro episéaio, com 0 conflito conjugal, a separagio do casal e o trauma da filha, Todos os demais episédios serio derivagées do fato de Malu estar descasa- da, ter de iniciar uma nova vida sozinha e ainda trabalhar 0 trauma da filha, No seriado The Fugitive (1964-67), temos uma situagdo bisica também apresentada no primeiro epis6dio: 0 Dr. Richard Kimble, equivocadamente acusado de matar 4 sua esposa, passa seus dias interminavelmente fugindo da policia e tentando encontrar o verdadeiro assassino, antes que ele préprio seja capturado. Cada um dos episédios seguintes sera uma variacio cm torno da fuga ¢ da imvestigagio do crime, Finalmente, tr8s anos depois do inicio do seriado, o crime édesvendado © © assassino fuzilado pelo mesmo policial que perseguia Kimble, finlizando, pot tanto, a narrativa, Hi virias explicagdes sobre as razies que levaram a televisio a adotar ® ago como a principal forma de estruturagio de seus produtosaudiovisuais- "Renata Plot, Dromanwia de televido ($0 Paulo: Maden, 1998), wp. 31.4. 86 + A reLewsio Levaoa A séno Para muitos, a televisio, muito mais do que os meios anteriores, funciona segun- do um modelo industrial e adota como estratégia produtiva as mesmas prerroga- as da produgio em série que jé vigoram em outras esferas indusrias, sobretudo na indistia automobilistica. A necessidade de alimentar com material audiovisual ‘uma programagio ininterrupta t judo da televisto a adogdo de modelos de produgdo em larga escala, onde @ serializacio ¢ a repetiglo infinita do mesmo protétipo constituem a regra. Com isso, & possivel produzir um nimero bastante clevado de programas diferentes, utilizando sempre os mesmos atores, 0S mes- ‘mos cendrios, 0 mesino figurino e uma tinica siningo dramitica. Enquanto pro- utos como o livro, 0 filme e o disco de misica slo concebidos como unidades ‘mais ou menos independentes, que demoram um tempo relativamente longo para serem produzidos, o programa de televisio & concebido como um sintagma pa- dro, que repete 0 scu modelo bisico ao longo de um certo tempo, com variagdes maiores ou menores, O fato mesmo da programagao televisual como wm todo constituir um fluxo ininterrupto de material audiovisual, transmitido todas as hhoras do dia ¢ todos os dias da semana, aliado ainda ao fato de que uma boa parte 4a programasio é constituida de material 20 vivo, que iio pode ser editado pos- teriormente, exigem velocidade ¢ racionalizagio da produgio. A tradigdo parece demonstrar que tm certo “fatiamento” da programagao permite agilizar a produ 420 (0 programa pode jé estar sendo transmitido enquanto ainda esti sendo pro- duzido) ¢ também responder as diferentes demandas por parte dos distintos ssegmentos da comunidade de telespectadores. Mas € preciso considerar que nio foi a de narrativa, Ela jé existia antes nas formas epistolares de literatura (cartas, ser= mbes, ete), nas narrativas miticas intermninéveis (As mil e wma noites), depois {eve um imenso desenvolvimento com a técnica do folhetim,utilizada na lite rapublicada em jomais no século passado, continuou com a radio do radiodrama ‘ou da radionovela e conheccu a sua primeira versio audiovisual com 0s seriados do cinema, Na verdade, foi o cinema que forneceu o modelo bisico de serializagio Audiovisual de que se vale hoje a televisio. O seriado nasce no cinema pot volta de 1913, como decorréncia das mudangas que estavam acontecendo no mercado de filmes. Nessa época, parte considerivel das salas de cinema era ainda os {805 nickelodeons, que s6 passavam filmes curtos, inclusive porque o piiblico fi- cava em pé ou sentado em incdmodos bancos de madeira sem encosto. Os Jongas-metragens (feature films), que comegam a surgir nessa época, s6 podiam ser exibidos nos saldes de cinema, mais confortiveis ¢ mais caros, embora nume- ricamente ainda pouco expressivos. O filme atender is duas evisio que criou a forma seriada ‘A nanRarva SERIADA + 87

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