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DESENCANTO DO MUNDO

A Racionalização da esfera econômica em Weber

ANTUNES, Fabiano Martins


Graduando em Ciências Sociais – UFSC

RESUMO

O presente artigo pretende fazer uma análise entre dois textos: o ensaio de Max
Weber acerca das “Rejeições religiosas do mundo e suas consequências” e o
capítulo 2 da História do pensamento econômico de E.K.Hunt onde é apresentado
o surgimento da racionalidade econômica no ocidente. Weber mostra que o
processo de crescente racionalização da vida teve como uma das suas
consequências o desencantamento do mundo. Analisar esse processo em paralelo
com o surgimento da economia política como ciência, através da obra dos
fisiocratas é o assunto desse artigo.

Palavras-chave: Desencantamento do mundo, racionalização, modernidade.

1. INTRODUÇÃO

Max Weber, um dos pais da sociologia, gastou boa parte da sua obra para
entender melhor a modernidade e seus desdobramentos sobre a vida humana.
Apesar de ser mais conhecido por sua obra “A ética protestante e o espírito do
capitalismo”, foi nos seus ensaios de sociologia, mais precisamente no ensaio que
trata das “Rejeições religiosas do mundo e suas direções”, que ele trata do
abandono do mundo pela esfera religiosa e sua “ética de fraternidade” e o
desenvolvimento de uma racionalização própria a cada esfera da vida, assim
como, da esfera econômica. Processo esse que caracteriza a modernidade no
ocidente. Com base nessa análise Weberiana podemos analisar de forma paralela
esse processo de “autonomia da esfera econômica” e o surgimento da economia
política como ciência, através da obra dos fisiocratas, primeiros pensadores de
uma teoria econômica dita científica.

2. SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO E RACIONALIZAÇÃO

Em seu ensaio Weber faz uma análise ao mesmo tempo histórica e social da
evolução da religião, mas precisamos ter em mente que a sociologia da religião em
Weber não tem o fim de puramente explicar o fenômeno religioso, o autor está
interessado nos processos de racionalização e para ele a sociologia da religião
aponta para um importante elemento nesse processo racional.
Ele cita que o “o mágico precedeu o profeta e o salvador” (Weber, 1982).
Dessa forma ele aponta que o primeiro passo da humanidade para tentar
domesticar o mundo foi através da magia e de seus ritualismos. Quando surgem
as chamadas “religiões de salvação” com seu apelo profético, principalmente no
profetismo hebreu e depois no protestantismo ascético, a magia vai dando lugar a
ética, pois toda religião de salvação desenvolve uma ética, ou seja, é uma forma
de tentar dirigir o modo de vida das pessoas em direção a um valor universal. Na
visão de Weber esse já é um passo importante no processo de racionalização que
já estava em curso a muito tempo na história da humanidade. Ocorre então nessas
chamadas Religiões de salvação uma sistematização e racionalização do modo de
vida na forma de mandamentos e profecias que apontam para uma ética a ser
seguida. E quanto mais racional for essa ética religiosa mais ela entrará em tensão
com as ordens estabelecidas no mundo exterior, por exemplo, toda religião de
salvação cria uma nova comunidade social dos “salvos”, essa nova comunidade
social acaba entrando diretamente em atrito com os laços naturais de
relacionamento como o clã e a família sanguínea, pois agora a fidelidade do
“salvo” é com a nova comunidade da qual ele faz parte e que segue a mesma ética
de valores proposta pela profecia. Essa quebra de laços naturais causa uma
desvalorização das relações de clã e sangue, levando a uma outra coisa
importante no processo de racionalização e emancipação das esferas da vida: “a
autonomia interior e lícita das esferas indivíduais” (Weber, 1982), o indivíduo passa
a criar uma lógica própria de agir no mundo e de forma paradoxal isso abre a porta
para a racionalização em outras áreas da vida que por sua vez procurarão se
emancipar da esfera religiosa.
As religiões de salvação ou proféticas, seguindo então sua lógica própria e
substituindo a magia por um conjunto de normas éticas para regulação da vida,
acabaram desenvolvendo uma ética religiosa de caritas, ou seja de amor ao
sofredor e a partir daí uma ética de fraternidade, que implica numa série de
preocupações e obrigações para com os membros da comunidade de fé, e além
dela, de obrigações para com os seus semelhantes menos desprovidos. Mas essa
lógica ética religiosa iria cada vez mais se chocar com a também crescente lógica
racional das demais esferas da vida e onde mais essa tensão se deu, segundo
Weber, foi na esfera econômica. No dizer do autor:

“a religião de fraternidade sempre se chocou com as


ordens e valores desse mundo...A divisão tornou-se
habitualmente mais ampla na medida em que os valores
do mundo foram racionalizados e sublimados em termos
de suas próprias leis.” (Weber, 1982)

3. PROTESTANTISMO E A RACIONALIZAÇÃO DO CAPITALISMO

A superação da religião de magia pela religião da ética abriu espaço para


que outras esferas da vida também criassem uma lógica própria. Na visão de
Weber um momento histórico onde isso foi definitivo para a formação da
racionalidade ocidental e o desenvolvimento do capitalismo foi a Reforma
Protestante. Olhando para além do seu aspecto puramente religioso, Weber
procura analisar os efeitos socioculturais da reforma protestante nas sociedades
européias. Ela significou a quebra da hegemonia e do reinado da lógica católica
sobre todas as áreas da vida que vinha se mantendo por toda a idade medieval. As
implicações sociais, políticas, culturais e econômicas dessa emancipação seriam
grandemente sentidas em todas as esferas da vida, e principalmente na esfera
econômica.
Quando mais o mundo da economia capitalista desenvolvia e seguia sua
lógica própria e suas leis imanentes, mais em choque entrava com a lógica da
fraternidade pregada pela religião católica. No passado o apelo a uma ética de
fraternidade baseada em obrigações e cuidados fazia sentido numa sociedade
agrária formada por senhores feudais e servos, pois nesse tempo as relações
entre eles eram essencialmente pessoais. As relações no passado eram pessoais
e por isso podiam ser reguladas por uma ética baseada nos relacionamentos, mas
as relações cada vez mais impessoais do capitalismo racional não permitem mais
isso.
Nesse mesmo tempo, na esfera econômica, vemos o surgimento dos
primeiros escritos mercantilistas e o surgimento cada vez maior da lógica do
individualismo, que contratava com a ética religiosa da fraternidade. Os
emergentes capitalistas começam a propor uma nova visão da natureza humana
baseada nos ideais de liberdade e individualidade, mostrando a necessidade das
pessoas serem livres das grandes restrições econômicas, eles defendiam:

“a idéia de que o ser humano deveria ser independente,


dirigir-se a si mesmo, ser autônomo, livre – deveria ser
um indivíduo, uma unidade distinta da massa social, e
não ficar perdido nela.” (Hunt, 2005).

Segundo Weber nenhuma religião de salvação conseguiu resolver de forma


satisfatória essa tensão com a crescente racionalização da esfera econômica.
Segundo ele, apenas dois caminhos surgiram na tradição religiosa que
conseguiram lidar coerentemente com essa tensão. O primeiro foi o do misticismo,
melhor exemplificado nos monges que numa franca rejeição do mundo se
enclausuraram em seus mosteiros, abrindo mão ao mesmo tempo de contrair
matrimônio e de possuírem um patrimônio. A questão contraditória no misticismo é
que os mosteiros e a igreja católica tornaram-se verdadeiros centros
concentradores de riqueza, riqueza essa que acabou também contribuindo para a
acumulação de capital tão importante na consolidação do crescente capitalismo
racional.
Outro caminho foi a da ética puritana da “vocação”, que rotinizou todo
trabalho no mundo como um serviço a Deus e um estado de Graça. Vendo no
trabalho uma maneira de servir a Deus e cumprir sua verdadeira ética, o
puritanismo conseguiu dar uma resposta para resolver a tensão com o crescente
racionalismo capitalista.
É nesse ponto que o protestantismo e a ética individualista nascente dos
novos capitalistas tem algo em comum: a busca pela liberdade. Por um lado os
protestantes queriam libertar-se do domínio religioso de Roma, enquanto os
capitalistas queriam libertar-se do domínio econômico e político de Roma e das
monarquias apoiadas por ela. Apesar dos primeiros mentores do movimento
protestante se parecerem mais com o pensamento católico quanto as questões
econômicas, sendo portanto mais conservadores, por fim suas crenças acabaram
apoiando o individualismo, uma vez que a salvação tornava-se mais uma questão
de fé e não mais de obras, ou seja, não dependia mais do aval da instituição Igreja,
mas sim se tornava um assunto de fé individual e de consciência. O livre exame
das escrituras e o sacerdócio universal dos crentes eram doutrinas, ou melhor
racionalizações, que serviam de apoio intelectual e filosófico para a ética
individualista.

“Foi com essa insistência na interpretação da vontade


de Deus pelo próprio indivíduo que os puritanos
procuraram espiritualizar os (novos) processos
econômicos…As novas doutrinas enfatizavam a
necessidade de sair-se bem em sua passagem pela
terra como o melhor caminho para agradar a Deus e
ressaltavam a diligência e o trabalho duro.” (Hunt, 2005)

Embora a religião protestante não tenha sido diretamente uma porta-voz dos
interesses da racionalidade capitalista que surgia, acabou provendo o “espírito” ou
atitude básica que impulsionou o avanço e desenvolvimento do capitalismo.
Mesmo a ética protestante sendo contra a extravagância e a dissipação
desnecessária da riqueza, combinando valores de frugalidade e trabalho duro,
isso acabou ajudando indiretamente na acumulação de capital. Um exemplo
dessa ética é melhor visto em um dos sermões intitulado “O uso do dinheiro” de
John Wesley, líder de um movimento posterior chamado “Metodista” que tinha na
observância metódica de hábitos tanto de devoção pessoal quanto de conduta
ética o seu alicerce para uma vida espiritual bem sucedida: “Ganhe o máximo que
puder, Poupe o máximo que puder e Doe o máximo que puder!” (Wesley, 1954).
Essa foi a ética que prevaleceu em boa parte dos protestantes, onde o
trabalho, a poupança e a doação (ou investimento) eram sempre estimulados
desde que fossem feitos sem prejudicar o próximo ou numa atividade que fosse
honrada, de acordo com a ética moral, é claro que isso nem sempre correspondeu
a realidade.
Teoria Religiosa Prática Religiosa
Imagem de Deus Imagem do Mundo Salvação
Religião Teocêntrica Visão positiva --------------------------------
Religião Teocêntrica Visão negativa Dominação do mundo
Religião Cosmocêntrica Visão positiva Acomodação ao mundo
Religião Cosmocêntrica Visão negativa Fuga Mística do mundo
(Sell, 2002, p.127)

Importante ressaltar que a Ética Protestante apresenta uma visão negativa


da realidade do mundo, com essa realidade atingida pelo pecado e portanto
totalmente corrompida, mas apresenta, na visão de Weber, uma atitude “ativa”
diante dessa realidade, chamada de protestantismo ascético, cabendo aos
“escolhidos” e “predestinados”, como designados pelo Calvinismo, trilhar o
caminho da dominação ascética do mundo, por meio das suas vocações, principal
meio de cumprir sua missão na terra e assim “glorificar a Deus”. Segundo o
professor Carlos Eduardo Sell:

“A conclusão que se pode tirar deste complexo


esquema de Weber é bastante óbvia. As religiões
orientais levam o crente a uma atitude contemplativa
diante do mundo. Já o caráter específico da religião
ocidental consiste em levar o crente a uma atitude de
engajamento diante do mundo. Foi por isso que a ética
religiosa protestante favoreceu a origem do capitalismo,
enquanto as religiões orientais não inspiraram nenhum
movimento neste sentido.” (Sell, 2002, p.127)

4. O RACIONALISMO ECONÔMICO

Como vimos, houve um processo de desencanto do mundo que levou a


racionalização da vida e consequentemente a racionalização da esfera
econômica. Weber nos ajuda a ver pela sua sociologia da religião como esse
processo se deu no ocidente, associado ao surgimento da protestantismo
ascético.
De todos os pensadores antes de Adam Smith, foram os fisiocratas os que
melhor souberam dar vazão a uma visão mais racional da economia, buscando
leis naturais que governassem as sociedades. Alguns de seus conceitos, anda que
embrionários e superficiais como: noção de trabalho produtivo e improdutivo , de
excedente econômico, interdependência mútua dos processos de produção, os
fluxos circulares da moeda e das mercadorias e as crises econômicas que podem
surgir pelo acúmulo do capital, serviram de base para os pensamentos
econômicos posteriores.
A partir deles e do Tableau Economique de François Quesnay, o
racionalismo na esfera econômica foi se acentuando cada vez mais. A partir daí
vemos essa esfera cada vez mais de desassociar da ética religiosa, assumindo
uma lógica própria que passou a governar as sociedades, dando surgimento a
economia política como ciência.
Com o advento e consolidação do capitalismo como sistema econômico
provido de fundamentos e de uma lógica própria, o processo de racionalização
ocorrido no ocidente atinge seu ápice. É nesse ponto que Weber faz sua análise
crítica desse processo, mostrando suas consequências negativas.

5. CONCLUSÃO

Ao contrário dos filósofos iluministas e dos positivistas do seu tempo,


Weber tinha uma posição mais crítica quanto aos avanços e sucessos do modo de
produção capitalista. Ele via o desenvolvimento tecnológico, a racionalização da
vida e o aumento da produção de riquezas que o sistema possibilitava. Mas ele viu
algo também: a perda do sentido da vida pelo homem moderno.
Ele perceberu que a troca da religião pela razão, cuja maior expressão é a
ciência moderna, afetaria todas as áreas da vida humana, e transformaria a
cultura ocidental e também a esfera econômica.
Dentro dessa visão de Weber o capitalismo e portanto o surgimento da
economia com ciência fariam parte de um processo mair e mais amplo que ele
chamou de “desencantamento do mundo” que culminou na racionalização da vida,
a partir de agora a vida das pessoas seria movida por um sistema econômico,
como peças numa engrenagem bem montada e ajustada racionalmente e não
mais seriam movidas por suas crenças, valores ou relacionamentos.
A esfera religiosa desempenhou um papel importante na formação da
sociedade ocidental, causou a superação da magia por meio das religiões de
salvação, trouxe a tona a ética e os valores que procuravam dar explicação e
sentido a vida, mas também proporcionou o uso livre da razão, que acabou por
emancipar-se da própria religião, levando a vida a um nível de racionalização que
não foi atingido em nenhum outro momento da história. A emancipação da esfera
econômica e o surgimento da economia política proporcionou avanços incríveis e
um aumento jamais visto na produtividade, mas segundo Weber a um custo muito
grande: a perda do sentido da vida. Como recuperar isso? De que forma é
possível um “reencantamento do mundo”? Talvez essas sejam questões para os
próximos pensadores econômicos explorarem.

REFERÊNCIAS

HEILBRONER, Robert L.. Introdução à histórias das idéias econômicas. 3 ed.


Rio de Janeiro: Zahar, 1969. 321 p.

HUNT, E.K.. História do pensamento econômico: Uma perspectiva crítica. 2 ed.


Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 512 p.

SELL, Carlos Eduardo. Max weber e a racionalização da vida. Petrópolis, RJ:


Vozes, 2013. 304 p.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx. 2 ed.


Itajaí: Univale, 2002. 228 p.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo:


Martin Claret, 2004. 230 p.

WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982. 325 p.

WESLEY, John. Sermões. São Paulo: Imprensa Metodista, 1954. 540 p.

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