RESUMO
O presente artigo pretende fazer uma análise entre dois textos: o ensaio de Max
Weber acerca das “Rejeições religiosas do mundo e suas consequências” e o
capítulo 2 da História do pensamento econômico de E.K.Hunt onde é apresentado
o surgimento da racionalidade econômica no ocidente. Weber mostra que o
processo de crescente racionalização da vida teve como uma das suas
consequências o desencantamento do mundo. Analisar esse processo em paralelo
com o surgimento da economia política como ciência, através da obra dos
fisiocratas é o assunto desse artigo.
1. INTRODUÇÃO
Max Weber, um dos pais da sociologia, gastou boa parte da sua obra para
entender melhor a modernidade e seus desdobramentos sobre a vida humana.
Apesar de ser mais conhecido por sua obra “A ética protestante e o espírito do
capitalismo”, foi nos seus ensaios de sociologia, mais precisamente no ensaio que
trata das “Rejeições religiosas do mundo e suas direções”, que ele trata do
abandono do mundo pela esfera religiosa e sua “ética de fraternidade” e o
desenvolvimento de uma racionalização própria a cada esfera da vida, assim
como, da esfera econômica. Processo esse que caracteriza a modernidade no
ocidente. Com base nessa análise Weberiana podemos analisar de forma paralela
esse processo de “autonomia da esfera econômica” e o surgimento da economia
política como ciência, através da obra dos fisiocratas, primeiros pensadores de
uma teoria econômica dita científica.
Em seu ensaio Weber faz uma análise ao mesmo tempo histórica e social da
evolução da religião, mas precisamos ter em mente que a sociologia da religião em
Weber não tem o fim de puramente explicar o fenômeno religioso, o autor está
interessado nos processos de racionalização e para ele a sociologia da religião
aponta para um importante elemento nesse processo racional.
Ele cita que o “o mágico precedeu o profeta e o salvador” (Weber, 1982).
Dessa forma ele aponta que o primeiro passo da humanidade para tentar
domesticar o mundo foi através da magia e de seus ritualismos. Quando surgem
as chamadas “religiões de salvação” com seu apelo profético, principalmente no
profetismo hebreu e depois no protestantismo ascético, a magia vai dando lugar a
ética, pois toda religião de salvação desenvolve uma ética, ou seja, é uma forma
de tentar dirigir o modo de vida das pessoas em direção a um valor universal. Na
visão de Weber esse já é um passo importante no processo de racionalização que
já estava em curso a muito tempo na história da humanidade. Ocorre então nessas
chamadas Religiões de salvação uma sistematização e racionalização do modo de
vida na forma de mandamentos e profecias que apontam para uma ética a ser
seguida. E quanto mais racional for essa ética religiosa mais ela entrará em tensão
com as ordens estabelecidas no mundo exterior, por exemplo, toda religião de
salvação cria uma nova comunidade social dos “salvos”, essa nova comunidade
social acaba entrando diretamente em atrito com os laços naturais de
relacionamento como o clã e a família sanguínea, pois agora a fidelidade do
“salvo” é com a nova comunidade da qual ele faz parte e que segue a mesma ética
de valores proposta pela profecia. Essa quebra de laços naturais causa uma
desvalorização das relações de clã e sangue, levando a uma outra coisa
importante no processo de racionalização e emancipação das esferas da vida: “a
autonomia interior e lícita das esferas indivíduais” (Weber, 1982), o indivíduo passa
a criar uma lógica própria de agir no mundo e de forma paradoxal isso abre a porta
para a racionalização em outras áreas da vida que por sua vez procurarão se
emancipar da esfera religiosa.
As religiões de salvação ou proféticas, seguindo então sua lógica própria e
substituindo a magia por um conjunto de normas éticas para regulação da vida,
acabaram desenvolvendo uma ética religiosa de caritas, ou seja de amor ao
sofredor e a partir daí uma ética de fraternidade, que implica numa série de
preocupações e obrigações para com os membros da comunidade de fé, e além
dela, de obrigações para com os seus semelhantes menos desprovidos. Mas essa
lógica ética religiosa iria cada vez mais se chocar com a também crescente lógica
racional das demais esferas da vida e onde mais essa tensão se deu, segundo
Weber, foi na esfera econômica. No dizer do autor:
Embora a religião protestante não tenha sido diretamente uma porta-voz dos
interesses da racionalidade capitalista que surgia, acabou provendo o “espírito” ou
atitude básica que impulsionou o avanço e desenvolvimento do capitalismo.
Mesmo a ética protestante sendo contra a extravagância e a dissipação
desnecessária da riqueza, combinando valores de frugalidade e trabalho duro,
isso acabou ajudando indiretamente na acumulação de capital. Um exemplo
dessa ética é melhor visto em um dos sermões intitulado “O uso do dinheiro” de
John Wesley, líder de um movimento posterior chamado “Metodista” que tinha na
observância metódica de hábitos tanto de devoção pessoal quanto de conduta
ética o seu alicerce para uma vida espiritual bem sucedida: “Ganhe o máximo que
puder, Poupe o máximo que puder e Doe o máximo que puder!” (Wesley, 1954).
Essa foi a ética que prevaleceu em boa parte dos protestantes, onde o
trabalho, a poupança e a doação (ou investimento) eram sempre estimulados
desde que fossem feitos sem prejudicar o próximo ou numa atividade que fosse
honrada, de acordo com a ética moral, é claro que isso nem sempre correspondeu
a realidade.
Teoria Religiosa Prática Religiosa
Imagem de Deus Imagem do Mundo Salvação
Religião Teocêntrica Visão positiva --------------------------------
Religião Teocêntrica Visão negativa Dominação do mundo
Religião Cosmocêntrica Visão positiva Acomodação ao mundo
Religião Cosmocêntrica Visão negativa Fuga Mística do mundo
(Sell, 2002, p.127)
4. O RACIONALISMO ECONÔMICO
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982. 325 p.