Juízo de retratação
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Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do
prosseguimento do julgamento (§ 2º do art. 942). Mesmo que isso ocorra, ou seja, que
alguém mude de opinião, ainda assim deverão ser colhidos os votos dos
Desembargadores convocados. Nesse sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta a
aplicação da técnica de julgamento do art. 942.
Embargos infringentes
Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso prevista no CPC/1973.
Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que
fosse acórdão. Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que
houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer prevalecer
as razões do voto vencido.
Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a
sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação rescisória.
O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica
de julgamento” do art. 942 que possui algumas semelhanças com os embargos
infringentes, mas que não se trata de recurso.
“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os embargos
infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de interposição, constituindo
apenas uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra decisão de
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mérito e da ação rescisória, não unânime.”
(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 885).
Por quê?
O art. 198 do ECA diz que, nos procedimentos de competência da Justiça da Infância e da
Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, deve-se adotar
o sistema recursal previsto no CPC.
Como o sistema recursal do CPC prevê a técnica de complementação do julgamento (art.
942), isso deverá ser também aplicado para os recursos do ECA.
Por quê?
Realmente o sistema recursal do CPC deve ser aplicado para os procedimentos da Justiça
da Infância e da Juventude. Isso está expressamente previsto no art. 198 do ECA.
Ocorre que ao menor infrator devem ser assegurados os mesmos direitos de que gozam
os maiores de 18 anos que forem réus em processo criminal.
Por mais que a medida socioeducativa não seja considerada “pena”, ela possui,
indiscutivelmente, uma natureza sancionatória.
Se for aplicado o art. 942 do CPC em uma apelação não unânime que tenha sido favorável
ao adolescente infrator (ex: o Tribunal rejeitou a medida socioeducativa), isso significa que
esse adolescente terá um tratamento mais gravoso do que os réus maiores de 18 anos
possuem no processo penal. No processo penal, se a apelação for favorável ao réu, não
se aplica o art. 942 do CPC nem caberão os embargos infringentes do art. 609 do CPP.
Isso porque os embargos infringentes somente são cabíveis na hipótese de o julgamento
por maioria tiver sido contrário ao réu. Em outras palavras, os embargos infringentes são
um recurso exclusivo da defesa.
Ora, se não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o acórdão não
unânime foi favorável ao réu, com maior razão também não se pode admitir a técnica do
art. 942 do CPC se o acórdão não unânime foi favorável ao adolescente infrator.
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