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Primeira parte: o suplício

I. O corpo dos condenados. O autor inicia este capítulo expondo dois documentos
que explicitam dois estilos penais diferentes. O primeiro documento é a descrição de
um suplício, um espetáculo público bastante violento [“Finalmente foi esquartejado.
Essa última operação foi muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam
afeitos à tração; de modo que, em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como
isso não bastasse, foi necessário, para desmembrar as coxas do infeliz, cortar-lhe os
nervos e retalhar-lhe as juntas” (p. 09)]; já o segundo documento descreve alguns
artigos do código de execução penal, com toda a sua utilização fragmentária do
tempo e sua sutileza punitiva [“Art. 17. – O dia dos detentos começará às seis horas
da manhã no inverno, às cinco horas no verão. O trabalho há de durar nove horas
por dia em qualquer estação. Duas horas por dia serão consagradas ao ensino. O
trabalho e o dia terminarão às nove horas no inverno, às oito horas no verão” (p.
10)]. Entre eles há um hiato surpreendente de apenas três décadas (do final do
século 18 e início do século 19). Para alguns relatos da época (e também atuais), o
desaparecimento do suplício tem a ver com a “tomada de consciência” dos
contemporâneos em prol de uma “humanização” das penas. Mas a mudança talvez
se deva mais ao fato de que o assassino e o juiz trocavam de papeis no momento do
suplício, o que gerava revolta e fomentava a violência social. Era como se a execução
pública fosse “uma fornalha em que se acende a violência” (p. 13). Sendo assim,
necessário seria criar dispositivos de punição através dos quais o corpo do supliciado
pudesse ser escondido, escamoteado; excluindo-se do castigo a encenação da dor.
A guilhotina já representa um avanço neste sentido, pois faz com que aquele que
pune não encoste no corpo do que é punido. A partir da segunda metade do séc. 19,
na mudança do suplício para a prisão, embora o corpo ainda estivesse presente nesta
última (por ex: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra), é a
um outro objeto principal que a punição se dirige, não mais ao corpo, e sim à alma.
“A expiação que tripudia sobre o corpo deve suceder um castigo que atue,
profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade, as disposições” (p. 18).
Mesmo que não haja grande variação acerca do que proibido e permitido nesse
período, o objeto do crime modificou-se sensivelmente. Não só o ato é julgado, mas
todo um histórico do criminoso, “quais são as relações entre ele, seu passado e seu
crime, e o que esperar dele no futuro” (p. 19). Assim, saberes médicos se acumulam
aos jurídicos para justificar os mecanismos de poder não sobre o ato em si, mas
sobre o indivíduo, sobre o que ele é. A justiça criminal se ampara em saberes que
não são exatamente os seus e cria uma rede microfísica para se legitimar.
Na primeira parte, no primeiro capítulo, apresenta-se exemplo de suplício e utilização do tempo. Foucault
relata o esquartejamento de Damiens que havia sido condenado por cometer parricídio. Com uma riqueza
de detalhes, o processo é descrito, assim como a dificuldade do carrasco em executar seu ofício. A rotina
de uma prisão também é descrita através do regulamento redigido por Léon Faucher para a “Casa dos jovens
detentos em Paris”. Desses relatos, o autor estabelece a seguinte relação: “Eles não sancionam os mesmos
crimes, não punem o mesmo gênero de delinquentes. Mas definem bem, cada um deles, um certo estilo
penal.”. (p. 13).

É no fim do século XVIII e começo do século XIX, que se começa a ocorrer gradativamente a supressão
do espetáculo punitivo. “Punições menos diretamente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer,
um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação.” (p. 13). O corpo deixa de
ser o principal alvo da repressão penal. O cerimonial da pena passa a ser um novo ato de procedimento ou
de administração. Isso porque o espetáculo adquiriu um cunho negativo, pois expunha os espectadores a
uma atrocidade que todos queriam evitar, mostrava-lhes a frequência dos crimes, fazia o carrasco se igualar
ou até mesmo ultrapassar o criminoso e tornava o supliciado um objeto de piedade e admiração. “a certeza
de ser punido é o que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro.” (p. 14).

A aplicação da pena, a partir daí, passa a ser um procedimento burocrático, procurando corrigir e reeducar.
“O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos.” (p.
16). Penas mais suaves, com mais respeito, mais humanidade, menos sofrimento. Houve, assim, o
deslocamento do objeto da ação punitiva, não sendo mais o corpo, mas a alma. Toma-se como objeto a
perda de um bem ou de um direito. Porém, é certo que a privação pura e simples da liberdade nunca foi
eficaz sem complementos punitivos referentes ao corpo. “ainda que não recorram a castigos violentos ou
sangrentos, mesmo quando utilizam métodos ‘suaves’ de trancar ou corrigir, é sempre do corpo que se trata
– do corpo e de suas forças, da utilidade e da docilidade delas, de sua repartição e de sua submissão.” (p.28).
Um conjunto de julgamentos apreciativos, diagnósticos, normativos, concernentes à pessoa criminosa se
encontrou então acolhido no sistema do juízo penal.
Primeira parte: o suplício

I. O corpo dos condenados. O autor inicia este capítulo expondo dois documentos que explicitam
dois estilos penais diferentes. O primeiro documento é a descrição de um suplício, um espetáculo
público bastanteviolento [“Finalmente foi esquartejado. Essa última operação foi muito longa,
porque os cavalos utilizados não estavam afeitos à tração; de modo que, em vez de quatro, foi
preciso colocar seis; e como isso não bastasse, foi necessário, para desmembrar as coxas do
infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas” (p. 09)]; já o segundo documento descreve
alguns artigos do código de execução penal,com toda a sua utilização fragmentária do tempo e
sua sutileza punitiva [“Art. 17. – O dia dos detentos começará às seis horas da manhã no inverno,
às cinco horas no verão. O trabalho há de durar nove horas por dia em qualquer estação. Duas
horas por dia serão consagradas ao ensino. O trabalho e o dia terminarão às nove horas no
inverno, às oito horas no verão” (p. 10)]. Entre eles há um hiatosurpreendente de apenas três
décadas (do final do século 18 e início do século 19). Para alguns relatos da época (e também
atuais), o desaparecimento do suplício tem a ver com a “tomada de consciência” dos
contemporâneos em prol de uma “humanização” das penas. Mas a mudança talvez se deva mais
ao fato de que o assassino e o juiz trocavam de papeis no momento do suplício, o que gerava
revolta efomentava a violência social. Era como se a execução pública fosse “uma fornalha em
que se acende a violência” (p. 13). Sendo assim, necessário seria criar dispositivos de punição
através dos quais o corpo do supliciado pudesse ser escondido, escamoteado; excluindo-se do
castigo a encenação da dor. A guilhotina já representa um avanço neste sentido, pois faz com
que aquele que pune não encoste no corpodo que é punido. A partir da segunda metade do séc.
19, na mudança do suplício para a prisão, embora o corpo ainda estivesse presente nesta última
(por ex: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra), é a um outro objeto
principal que a punição se dirige, não mais ao corpo, e sim à alma. “A expiação que tripudia sobre
o corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobreo coração, o intelecto, a
vontade, as disposições” (p. 18). Mesmo que não haja grande variação acerca do que proibido e
permitido nesse período, o objeto do crime modificou-se sensivelmente. Não só o ato é julgado,
mas todo um histórico do criminoso, “quais são as relações entre ele, seu passado e seu crime,
e o que esperar dele no futuro” (p. 19). Assim, saberes médicos se acumulam aos jurídicospara
justificar os mecanismos de poder não sobre o ato em si, mas sobre o indivíduo, sobre o que ele
é. A justiça criminal se ampara em saberes que não são exatamente os seus e cria uma rede
microfísica para se legitimar.

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