FORTALEZA
2016
CAROLINA MARIA NASCIMENTO DOS SANTOS
FORTALEZA
2016
CAROLINA MARIA NASCIMENTO DOS SANTOS
_________________________________________________
Carolina Maria Nascimento dos Santos
_________________________________________________
Prof. Ms. Renata Monastirscy Gauche (Orientador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7
_________________________________________________
Prof. Ms. Leonilia Gabriela Bandeira de Souza (Examinador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7
_________________________________________________
Prof. Ms. Raimundo Bezerra Lima Junior (Examinador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7
_________________________________________________
Prof. Ms. Dilson Alexandre Mendonça Bruno
Faculdade 7 de Setembro – FA7
Coordenador do Curso
Dedico esta monografia a todos os
apaixonados pela cultura japonesa. Às pessoas
que me apoiaram neste processo. E também
àqueles que, no futuro, darão continuidade a
este estudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado o dom da vida e me guiado neste
caminho.
À minha orientadora, Renata Gauche, por manter meu desespero controlado e por
todas as suas boas instruções para a construção desta monografia.
Aos alunos e profissionais que doaram seu tempo e compartilharam suas experiências
de vida, sem os quais eu não poderia apresentar o presente estudo.
À minha mãe, Adele, pela paciência e suporte na realização deste trabalho.
Ao meu pai, Adilson, por ter me apoiado financeira e emocionalmente, para que eu
pudesse concluir este curso.
Às minhas irmãs, Ana Clara e Juliana, pelo companheirismo e por terem me ajudado
nos momentos difíceis.
Ao meu noivo, Willian, que mesmo distante se manteve presente, incentivando-me a
dar o melhor de mim.
Às minhas parceiras e amigas de faculdade, Flávia e Beatriz, por terem dividido
angústias, medos e felicidades, o que tornou este processo mais tranquilo.
Enfim, meu ―muito obrigada‖ a todos que fizeram parte, direta ou indiretamente, deste
momento importante da minha formação profissional.
―A qualidade mais importante de um ninja não
é o número de jutsus que ele domina; o mais
importante é a coragem de nunca desistir‖
(Jiraya, Animê Naruto).
LISTA DE FIGURAS
Este trabalho discorre sobre a influência da cultura pop nipônica relacionada ao interesse de
se aprender a língua japonesa em Fortaleza. Investigaram-se os principais fatores
determinantes dessa interculturalidade, como: a imigração japonesa no Brasil; a história dos
mangás e animês até a sua chegada ao nosso país; o significado da palavra ―otaku‖ e como
são os otakus de Fortaleza, bem como essa cultura se comporta dentro da semiosfera. Além do
que foi explorado, pesquisou-se de que maneira ocorre e quais as consequências do contato de
uma cultura com a outra, em especial da cultura nipônica e da brasileira. Para tanto, este
estudo utilizou ferramentas metodológicas qualitativas e quantitativas de pesquisa, através de
revisão bibliográfica, levantamentos estatísticos e entrevistas semiestruturadas. A coleta de
dados foi realizasa a partir de visitas a duas instituições de línguas estrangeiras em Fortaleza,
onde foram elaboradas 11 entrevistas com alunos e profissionais da área. A análise das
entrevistas demonstrou que a imigração japonesa no Brasil foi relevante, sendo uma das
condições para que a cultura japonesa se propagasse e se tornasse parte da cultura brasileira.
Efetivamente, o que motivou a grande maioria dos alunos a ingressar no curso de japonês foi
a sua admiração pela cultura pop japonesa e por seus produtos de consumo em massa. O
contato com a cultura japonesa fez com que os alunos explorassem novas experiências,
conhecessem um mundo novo e, a partir disso, modificassem o seu jeito de ser, pensar e agir.
This survey analyses the influence of the Japanese pop culture on the interest of learning
Japanese language in Fortaleza –Ceará – Brazil. It was investigated the relevant factors which
are determinants to that inter-culturality, such as: Japanese immigration in Brazil, the history
of ―mangas‖ and ―animes‖ until their coming to our country, the meaning of the word
―otaku‖, how are the Fortaleza ―otakus‖ and how the culture behave within the semi-osphere.
Besides, it was explored how and which consequences of the contact with two different
cultures, specially Japanese and Brazilian cultures. This study have used qualitative and
quantitative methodologies of survey, through bibliographic revision, statistics and semi-
structured interviews. The gather of data was made through visits at two foreign languages
schools in Fortaleza – Ceará – Brazil, where it was made eleven interviews with students and
professionals. The analysis of those interviews demonstrated that the Japanese immigration in
Brazil was relevant, being one of the conditions to the propagation of the Japanese culture and
becoming part of the Brazilian culture. Effectively, what motivated the bulk of the students to
choose Japanese language course was their appreciation for the Japanese pop culture and for
their mass products. The contact with the Japanese culture stimulated students to explore new
experiences, knowing a new world and changing their way of life, way of thinking and acting.
Key words: Inter-culturality. Japanese pop culture. Semiotics of culture. Mass Culture.
Cultural industry.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 A CULTURA POP JAPONESA E SUA CHEGADA AO BRASIL ................... 14
2.1 O primeiro contato dos Brasileiros com a Cultura Nipônica …….......…….…….... 14
2.2 A Cultura Pop Japonesa no Brasil ……………......................................................... 20
2.3 Os ―Otakus‖ em Fortaleza ......................................................................................... 25
3 CULTURA, SEMIÓTICA E INTERCULTURALIDADE ................................. 28
3.1 Entendendo os conceitos de Cultura, Cultura Pop e Indústria Cultural: Um
caminho para a Cultura Pop Japonesa na perspectiva da Semiótica da Cultura ....... 28
3.2 O diálogo entre Culturas através da perspectiva da Semiótica ................................. 33
3.3 Mestiçagem, Hibridação e Interculturalidade: Contextos de um mundo
Globalizado ............................................................................................................... 36
4 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA E RESSIGNIFICAÇÃO DA CULTURA
JAPONESA EM FORTALEZA ………….....………........................................... 40
4.1 As Escolas de Língua Japonesa no Brasil ……….....……...……….…………….... 40
4.2 Análises das Entrevistas ………….....……………....…..…………………………. 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 54
APÊNDICE I - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................... 59
12
1 INTRODUÇÃO
1
Organização com vínculo ao Ministério das Relações Exteriores do Japão, fundada em 1972, tendo como
objetivo estabelecer o intercâmbio cultural entre o Japão e outros países (Fonte: http://fjsp.org.br/institucional/).
13
Para a fundamentação teórica deste trabalho, podemos citar, como principais autores:
Nestor Garcia Canclini, Roque de Barros Laraia, Irene Machado, Iuri M. Lotman, Edgar
Morin, entre outros.
Como aluna de Publicidade e Propaganda, entender esses conceitos no campo prático
é uma possibilidade enriquecedora e fundamental na construção de habilidades necessárias
para a formação profissional. Um olhar crítico sobre os fenômenos da cultura em nossa
sociedade constrói janelas de novos saberes.
14
Portanto, a imigração japonesa para o Brasil foi um dos fatores que contribuiu para a
propagação da cultura pop japonesa no país. Em 1992, a Sociedade Brasileira de Cultura
Japonesa2 (Beunkyo) publicou o livro ―Uma Epopéia Moderna - 80 anos da imigração
japonesa no Brasil‖, discorrendo sobre a abertura da imigração no Japão até a participação dos
japoneses em nossa cultura, religião, comércio, etc. É a partir desse livro que iniciaremos
nosso diálogo teórico e nos aprofundaremos nesse assunto.
Somente na década de 1880, os japoneses entraram para a história da imigração e
deixaram suas terras, sendo um dos fatores de incentivo a abertura dos portos para o comércio
internacional, em 1854, quebrando o seu isolamento com mundo ocidental. Quando se
instaurou a Era Meiji, em 1868, 42 pessoas emigraram para a ilha de Guam, localizada no
Pacífico, e 148 para o Havaí, trabalhando em plantações de arroz ou canaviais. Desde o
começo da Era Meiji até a II Guerra Mundial, o número de emigrantes nipônicos foi de
1.013.000 (KENNEDY; OKASAKI, 1992).
No Brasil, foi graças à abertura dos portos e à concessão de terras a estrangeiros, em
1808, que se iniciou a chegada de imigrantes no país. E em 5 de novembro de 1895, foi
2
Organização fundada em 1955, responsável por organizar eventos anuais, receber autoridades e administrar
instalações culturais voltadas para a cultura japonesa (Fonte: http://www.bunkyo.org.br/pt-BR/quem-somos).
15
Seja como for, as informações disponíveis indicam que três anos depois da chegada
do Kasato-Maru já havia imigrantes com dinheiro suficiente para comprar terras.
Provavelmente, o pagamento das terras teria sido feito em suaves prestações, como
iria acontecer, anos depois, nas zonas interioranas. Ou, ainda, como se tratava de
terras de uma colônia federal, é possível até que elas fossem cedidas gratuitamente
aos imigrantes (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992, p. 79).
leva de terras que era dividida em lotes, para que fossem comprados pelos interessados.
Surgiu, dessa forma, a primeira colônia japonesa chamada de Hirano, fundada por Unpei
Hirano.
Com a chegada do segundo navio de imigrantes ao Brasil (Ryojun-Maru), graças a
negociações feitas pelo representante do Sindicato Tóquio Ikutaro Aoyagui, o governo do
Estado de São Paulo concedeu, gratuitamente, 50.000 hectares de terras no município de
Iguape para a construção de uma colônia japonesa (DAIGO, 2008).
Haviam entrado, até então, cerca de 4.500 imigrantes no Brasil, a bordo dos vapores
Kasato Maru, Ryojun Maru, Itsukushima Maru e Kanagawa Maru, este último da
Toyo Shokumin Kaisha (Empresa de Colonização Toyo). A maioria se decidiu pela
viagem levada por falácias do tipo ―É possível regressar para o Japão em poucos
anos, após ganhar muito dinheiro‖; não havia então quem comungasse dos ideais de
Aoyagui, ou seja, ―colonização‖ e ―residência permanente‖ no Brasil (DAIGO,
2008, p. 19).
Em paralelo ao avanço das colônias japonesas, em setembro 1914, ano que aconteceu
a Primeira Guerra Mundial, foi aberto o Consulado Geral do Japão em São Paulo, inaugurou-
se a rota regular de vapores da Osaka Shosen Lines (O.S.K.) para a América do Sul e os
imigrantes passaram a criar bases para viver na cidade de São Paulo. Além disso, ocorreu a
concentração de empresas de capital japonês e seus escritórios (DAIGO, 2008).
Nessa época começaram a ser constituídas as bases para a vida dos imigrantes na
cidade de São Paulo, como a abertura da escola Taisho Shogakko, do Nippon Club,
o lançamento do periódico Nambei Jihô. Assim que foi inaugurado, o Clube de
19
Durante a Segunda Guerra Mundial, conforme Daigo (2008), em julho de 1941 houve
um decreto que proibiu a circulação de jornais na língua japonesa, o que fez com que a
maioria dos japoneses ficasse sem informações sobre o que ocorria no resto do mundo. Em
janeiro de 1942, o Brasil rompeu suas relações com os países do eixo, acarretando o
fechamento de consulados e repartições diplomáticas no país.
Somente após um ano do término da guerra, vários jornais japoneses foram fundados
para que as pessoas tivessem mais informações, e os imigrantes que aqui ficaram, na sua
grande maioria, decidiram por morar permanentemente no Brasil (DAIGO, 2008).
De acordo com Daigo (2008), em 1953, uma nova leva de imigrantes chegou ao
Brasil, sendo 51 yobiyose (chamados por particulares) e 54 imigrantes da quota Tsuji; e em
1955, a Cooperativa Agrícola de Cotia recebeu permissão para trazer 1.500 jovens imigrantes.
Mas foi somente em 1962 que aconteceu a ratificação do Acordo de Imigração pelos governos
brasileiro e japonês.
Nesse mesmo período, o governo brasileiro adotou a política de incentivo à vinda de
empresas estrangeiras ao país, o que aumentou o número de empresas japonesas no Brasil,
reflexo do bom relacionamento entre esses dois países, que perdura até hoje. O ano de 2008,
ano do centenário da imigração japonesa no país, foi o ano que marcou a importância, em
aspectos culturais e econômicos, desse relacionamento, sendo considerado o Ano de
Intercâmbio Brasil-Japão (DAIGO, 2008).
Daigo (2008) descreve que, atualmente, podemos perceber que os brasileiros se
interessam bastante pela cultura japonesa, sendo identificada na culinária, nos mangás, nos
animês, etc. Essa cultura nos encantou e encanta até hoje, sendo ela um dos fatores que
desperta o interesse do brasileiro a aprender a língua japonesa.
20
Para Ozamu Tezuka, desenhar mangá não significava somente entreter, mas sim
expressar em seus roteiros todos os sentimentos humanos, como a dor, a alegria, a tristeza, o
amor, a raiva, etc. Não é surpresa para ninguém que Tezuka se tornou um dos mais completos
artistas desse meio, oferecendo através dos mangás e animês uma grande variedade de temas
e personagens que são apreciados até hoje (LUYTEN, 2014).
3
Disponível em: <http://forum.jogos.uol.com.br/comecei-uma-quest-de-ler-todos-os-mangas-do-osamu-
tezuka_t_3405696>. Acesso em: nov. 2016.
22
Fonte: TV Tropes4
Carvalho (2007) afirma que, assim como o mangá, o animê é um dos principais
veículos de divulgação da cultura japonesa no mundo. A palavra animê significa ―animação‖,
podendo ser uma adaptação animada de um mangá. O ―Deus do Mangá‖, Ozamu Tezuka,
também marcou o início da era dos animês, juntamente com o sucesso da série ―Tetsuwan
Atomu‖ (Astro Boy).
Em 1950, foi criado por Osamu Tezuka, o mangá de ―Kimba, o Leão Branco‖ e
posteriormente, em 1965-66, esse se tornou um animê visto em vários países. No Brasil, foi
exibido na TV Tupi (canal 4) entre 1970 e 1975. Na história de Kimba, um pequeno leão
branco passa por diversas aventuras com seus amigos e aprende muitas lições de vida para se
tornar o Rei da Selva (NAGADO, 2011).
Quando o filme ―O Rei Leão‖ foi lançado pela Disney, em 1994, suas semelhanças
com a criação de Tezuka chamaram a atenção dos japoneses na época. Uma petição foi
assinada por mais de mil profissionais de animê e mangá exigindo que a Disney reconhecesse
que o seu longa foi inspirado em ―Kimba, o Leão Branco‖. Porém, a companhia de mídia
americana alegou que nenhum de seus profissionais teve contato com a produção japonesa e,
apesar de toda repercussão, nada aconteceu. Nos dias atuais, a negociação dos direitos de
veiculação de um animê no Brasil e no mundo requer longas reuniões empresariais, o que não
existia há alguns anos atrás (NAGADO, 2011).
4
Disponível em: <http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Manga/AshitaNoJoe>. Acesso em: set. 2016.
23
A chegada dos animês no Brasil ocorreu a partir da década de 1960, com o live-action
(filmagem com atores) National Kid e outras 08 séries japonesas. A partir dos anos de 1970,
a quantidade de títulos aumentou para 24, sendo 17 animês como: ―Ultramen‖, ―Speed Racer‖
e ―A Princesa e o Cavalheiro‖. Na década seguinte, esse número já estava em 38, sendo 22
animês. Como reflexo disso, a Record exibiu várias produções audiovisuais nipônicas nos
anos 90, como: ―A Fuga de King Kong‖ (1967), ―King Kong versus Godzilla‖ (1962) e
―Latitude Zero‖ (1969) (CARLOS, 2010).
A década de 1990 marcou a história com a exibição de ―Cavaleiros do Zodíaco‖
(1994), ―Yu Yu Hakusho‖ (1997), ―Sailor Moon‖ (1996), ―Super Campeões‖ (1994),
―Guerreiras Mágicas de Rayearth‖ (1994) e ―Dragon Ball‖ (1996), com um total de 38
produções, sendo 32 animês. Foram 33 animês que fizeram história entre 2000 e 2001, entre
eles: ―Sakura Card Captors‖, ―Samurai X‖, ―Dragon Ball Z‖ e ―Pokémon‖ (CARLOS, 2010).
O animê ―Cavaleiros do Zodíaco‖ foi exibido pela primeira vez na TV Manchete, em
1994, marcando o sucesso de uma história envolvente com base na cultura mitológica. O
animê “Pokémon‖ foi sucesso em mais de 50 países e até hoje pode ser considerado o maior
fenômeno da cultura pop japonesa no mundo. Nesse contexto, podemos dizer que os mangás
e animês sofrem adaptações, conforme a época, e são canais de comunicação entre crianças,
jovens e adultos (CARVALHO apud SATO, 2007).
5
Disponível em: <https://www.madman.com.au/actions/wallpapers.do?method=browse&videogramId=2628>.
Acesso em: set. 2016.
24
Atualmente, segundo Carlos (2010), com a internet, muitos brasileiros podem baixar
ou acessar, de modo on-line, os produtos da cultura pop japonesa, de forma rápida e acessível,
aumentando a disseminação e a divulgação dos mesmos no Brasil.
A partir do momento em que se difunde o consumo em massa6 de produtos culturais
japoneses em diversos países, acontece também o processo de exportação do termo ―otaku‖.
Esse termo surgiu no Japão, em 1983, na revista Manga Burikko, na qual o colunista Akio
Nakamori usou o termo para nomear os jovens que tinham dificuldades em se relacionar
socialmente e preferiam ficar trancado em casa consumindo mangás, animês, etc.
(TRAVANCAS, 2015).
O termo chegou ao Brasil e em outros países com um significado diferente do que se
originou no Japão. Aqui, ser otaku significa apreciar e consumir os produtos culturais
japoneses e interagir com pessoas do mesmo grupo de interesse. Muitas vezes, essa interação
ocorre em eventos de animê por todo o país (TRAVANCAS, 2015).
A manifestação mais palpável dessa tribo urbana acontece nos eventos de animê,
convenções que oferecem atividades relacionadas à cultura pop japonesa, como
palestras de dubladores, quizzes temáticos, shows musicais, concursos de cosplay
(fantasia de personagens), exibições de animês e estandes de lojistas. Há também
toda uma gama de atividades não ligadas diretamente ao Japão, como torneios de
6
A cultura de massa é aquela que é produzida a partir das normas da produção industrial, se destinando à uma
grande massa social por meio da difusão maciça (MORIN, 2002).
25
RPGs, música pop coreana, videogames e lutas com espada de espuma. Todos esses
diferentes subgrupos convivem no mesmo evento, em constante negociação de
espaço físico e simbólico, evidenciando o caráter híbrido das práticas otakus,
resultantes da natureza difusa e cambiante do tribalismo pós-moderno. Essa tensão
de heterogeneidades, longe de abalar o convívio da tribo, promove a diversidade que
solidifica o conjunto (TRAVANCAS apud MAFFESOLI, 2015, p. 7).
Segundo Barata (2009), os otakus brasileiros são aqueles que assistem a animês, leem
e compram mangás, colecionam itens, compram acessórios e roupas relacionados a essa
cultura, participam de eventos e escutam músicas japonesas.
Dentro do grupo de otakus brasileiros, ainda encontramos subgrupos, como: os
cosplayers, aqueles que se vestem e se caracterizam de personagens de animês, mangás, jogos
e filmes. E também os gamers, que são adeptos aos jogos japoneses (BARATA, 2009).
Uma boa parte dos cosplayers se transforma em personagens por sentirem uma
identificação pessoal pelo mesmo, seja na personalidade ou no físico. É uma preparação
minuciosa, árdua e fidedigna. Não é somente um vestir-se do personagem, mas uma
interpretação do mesmo, onde o otaku se torna o objeto de admiração (JUNIOR; SILVA,
2007).
Para Travancas (2015), o fã da cultura pop japonesa só se torna um verdadeiro otaku
quando ele interage e se relaciona com o seu ―grupo de interesse‖. Sendo assim, sua
manifestação mais concreta ocorre nos eventos de animê em todo o país. Mas como são os
otakus de Fortaleza?
com uma reunião de amigos para assistir a animês, ler mangás e conversar sobre esses
assuntos, virou um evento de grande porte que ocorre duas vezes ao ano, durante 03 ou 02
dias (BARATA, 2009).
O evento teve sua primeira edição em dezembro de 2001 e foi produzido pelo grupo
―Otaku no Vídeo‖, no auditório da biblioteca da Universidade de Fortaleza (UNIFOR),
quando o evento ainda era conhecido como Super Amostra Nordestina de Animês. Logo, no
ano seguinte, nos dias 20 e 27 de julho, um público de aproximadamente 700 fãs passou a se
reunir no Teatro Celina Queiroz (UNIFOR). Em agosto de 2003, o evento já era realizado no
Centro de Convenções e reuniu, em dois dias, 3.000 pessoas. A partir daí, o número de otakus
só aumentou (SIQUEIRA, 2009).
Com o crescente número de participantes, o projeto ganhou notoriedade e visibilidade
na sociedade, tornando-se cada vez mais sério, o que fez com que em 2006, segundo Barata
(2009) a FCNB (Fundação Cultural Nipônica Brasileira) passasse a organizar o evento,
gerando mais credibilidade e possibilidades.
Atualmente, o evento ocorre no Centro de Eventos do Ceará, reunindo milhares de
apaixonados pela cultura japonesa. Só no ano de 2014, em dois dias o evento reuniu 35 mil
pessoas (O POVO, 2016).
Segundo Siqueira (2009), é nesse evento que ocorre o ápice da sociabilidade do otaku,
onde eles se reencontram e fazem novas amizades, compartilham de um mesmo interesse, e é
nesse espaço que ocorre a ressignificação da cultura japonesa, através das roupas, culinária e
costumes.
Encontramos crianças, jovens e adultos fazendo parte desse grupo, seja por
interesses nostálgicos de rever animês, personagens de muitos anos atrás, seja os
mais jovens que curtem também os desenhos mais clássicos ou por interesse pelos
mais recentes. O evento e essa cultura atraem uma diversidade de pessoas que vêm
crescendo a cada ano que passa. Vão surgindo cada vez mais tipos de produtos para
satisfazer as necessidades e desejos desses consumidores (BARATA, 2009, p. 50).
7
Disponível em: <http://www.papocult.com.br/2015/07/13/vem-ai-o-sana-2015/>. Acesso em: set. 2016.
28
Na linha dos conceitos antropológicos, de acordo com Chauí (2008), podemos definir
a Cultura em três importantes significações: como criação simbólica da lei; como criação de
uma ordem simbólica da linguagem e das realidades consideradas humanas; e como o
conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições através das quais os seres humanos
concretizam relacionamentos entre si e com a Natureza, e diferenciando-se da mesma por
meio de ações transformadoras.
Traçando um paralelo com os conceitos citados, podemos refletir que é a partir do
29
momento em que o homem tem a capacidade de produzir símbolos que ele passa a se
diferenciar dos outros animais. Os símbolos são aqueles que dão significado aos objetos,
produtos e manifestações culturais. Todo o comportamento do homem tem origem nos
símbolos e toda cultura depende deles, sendo o exercício de simbolização o criador da cultura
e o responsável pela sua propagação (LARAIA, 2009).
Nesse sentido, a partir do olhar do antropólogo argentino Canclini (2007), podemos
pensar o significado de cultura definido primeiramente em dois pontos: o primeiro, com o
conceito de que cultura seria o acúmulo de conhecimentos e aptidões do homem; e o segundo,
em que o significado de cultura se encontrava no confronto entre natureza-cultura e
sociedade-cultura.
O mesmo autor, quando confronta natureza com cultura, conclui que cultura seria tudo
aquilo criado pelo homem e por todos os homens, o que também determinou que toda
sociedade possui cultura. Já o confronto entre sociedade e cultura mostrou que, dentro de uma
sociedade, existem relações de sentido e significação que organizam a vida social. E seria esse
mundo de significações que constitui a cultura. Dessa forma, ―a cultura abarca o conjunto de
processos sociais de produção, circulação e consumo da significação da vida social‖
(CANCLINI, 2007, p. 41).
Fazendo uma reflexão sobre esses conceitos, percebemos que a definição de cultura
exige uma compreensão ampla e complexa. Ademais, como a cultura é algo em constante e
dinâmica transformação, o seu entendimento também requer um estudo contínuo e profundo.
Num contexto de um mundo globalizado, vivemos num planeta onde a produção do
entretenimento se equivale à produção industrial, no fato de que geramos uma grande
quantidade de produções artísticas culturais, a fim de atender à grande demanda existente e
fomentar a economia de mercado. É nesse sentido que, ao falar de indústria do
entretenimento, não podemos deixar de refletir sobre o conceito de Indústria Cultural,
fundado na década de 40 pela Escola de Frankfurt (CAMPOS, 2006).
A Escola de Frankfurt estabeleceu suas bases teóricas em Marx, Freud e Nietzsche,
pensadores que revolucionaram os estudos sobre a sociedade, o homem e a cultura. Os
intelectuais que faziam parte dessa escola estavam ligados a múltiplas áreas do conhecimento,
como: artes, literatura, filosofia, sociologia, etc., compreendendo, dessa forma, uma gama de
assuntos e áreas do saber. Dentre os vários assuntos discutidos nessa escola, abordou-se a
necessidade de estudar os meios de comunicação e também a influência da mídia e da cultura
de mercado na sociedade contemporânea (MOGENDORFF, 2012).
30
De acordo com Mogendorff (2012), um dos frutos da transição do século XIX para o
século XX, onde ocorreu um momento de transformação socioeconômica, foi a indústria
cultural. Foi ela que transformou a cultura em um bem de consumo e deu origem a processos
como a massificação, em diversos setores da sociedade.
Não podemos falar de indústria cultural, cultura de massa e meios de comunicação de
massa em um período anterior à Revolução Industrial. Foi nessa época que a economia de
mercado passou a ser baseada no consumo de bens, quando a mão-de-obra rural migrou para a
cidade, a fim de trabalhar nas fábricas, onde existiam a exploração do trabalhador e a divisão
do trabalho, e onde surgia uma sociedade de consumo em meio a uma sociedade capitalista
liberal, culminando no fenômeno da industrialização (COELHO, 1993).
O pensamento frankfurtiano estuda os meios de comunicação de massa e define que,
na indústria cultural, os bens produzidos pelo homem são apropriados pelo capitalismo para
dominar o espaço social e, assim, transformar a arte em mercadoria (CAMPOS apud
FREITAG, 2006).
Conforme Coelho (1993), duas características desse processo industrial merecem
destaque: a coisificação e a alienação. Para esta sociedade, o modelo de maior valor é o bem,
o produto. Dessa forma, tudo se transforma em coisa, inclusive o próprio homem. E,
consequentemente, esse homem seria alienado ao trabalho, ao produto de seu trabalho, à sua
própria vida. Vemos, nesse quadro, a cultura se transformando em algo perecível, feita a partir
de processos industriais e em série, para o consumo em massa.
Para Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, dois pensadores da Escola de Frankfurt,
na Indústria Cultural a arte é distribuída pelos veículos de comunicação de massa e, dessa
forma, servia para manipular o homem e acabar com o seu pensamento crítico. Para eles,
diferente do termo ―cultura de massa‖, que seria a cultura espontânea produzida pelas massas
de forma natural, a indústria cultural era a produção da cultura como produto para ampliar o
ramo mercadológico (MARTINS; TOMAZ, 2012).
Em outras palavras, a produção cultural e intelectual passa a ser guiada pelo consumo
e, assim, as produções artísticas seguem padrões e técnicas para alcançar o lucro e a venda em
grande escala. Como consequência, vemos as obras de arte, as ideias e as próprias pessoas
sendo transformadas em produtos de consumo. Existe uma inversão no processo de produção
artística, no qual se cria o produto para impulsionar a necessidade de consumo do mesmo,
quebrando o que antes era consequência de uma manifestação natural de uma sociedade ou
sujeito (RÜDIGER, 2001).
31
engloba algo que tem grande identificação popular e permanece na memória comum,
tornando-se referência naquela sociedade.
A ascensão da cultura pop aconteceu juntamente com o progresso da industrialização,
desde o século XVIII, na Europa Ocidental. A partir do momento em que se formou uma
sociedade industrial, todos os bens e produtos culturais e de lazer passaram a ser produzidos
em grande escala, seguindo o modelo de produção de massa, para atender cada vez mais
pessoas. E foi a partir do século XIX, nos Estados Unidos, que surgiram novos gêneros da
cultura pop dentro dos meios de comunicação de massa, como o jornal, a fotografia, o cinema,
as revistas ilustradas e as novelas, dando o pontapé inicial para o que conhecemos nos dias de
hoje (KHUMTHUKTHIT, 2010).
Foi sob a influência dos Estados Unidos que o Japão passou por uma modernização e
industrialização de seus produtos culturais após a Segunda Guerra Mundial. As raízes de sua
cultura pop nasceram da importação de quadrinhos e animações vindos do exterior. Mas
apesar de todas as influências culturais vindas de fora, o Japão criou seus próprios ídolos,
utilizando o processo de consumo de massa americano para criar um produto único e
culturalmente japonês (KHUMTHUKTHIT, 2010).
O cenário pós-guerra, segundo Khumthukthit (2010), foi alavanca para o mercado do
entretenimento japonês, pois o público pressionava e ansiava por produtos culturais que
pudessem alimentar suas esperanças e divertir seu espírito. O que fez com que surgisse um
gigantesco e voraz mercado do entretenimento, que atualmente é exportado e apreciado em
todos os cantos do planeta.
No Japão, desde a era do pós-guerra, a cultura pop do próprio país tem sido um
sucesso comercial. Porém, hoje em dia, a cultura pop do Japão não só continua a
evoluir e florescer no seu interior; ela também atrai um amplo séquito no exterior,
dando ao Japão um novo impacto cultural no mundo, que complementa o seu
impacto econômico já estabelecido (KHUMTHUKTHIT, 2010, p. 70).
A maneira como a cultura pop japonesa foi incorporada pela cultura brasileira e
passou a gerar novas experiências na sociedade, como o aprendizado da língua japonesa, é o
processo que iremos analisar neste tópico. Quando passamos a prestar atenção nos
significados e na transferência de função e sentido de um objeto, quando ele passa de uma
cultura para outra, é que, conforme Canclini (2007), percebemos a necessidade de uma
definição semiótica da cultura.
O encontro entre culturas sob a ótica da semiótica não é tratar do choque, da
hierarquia, da hegemonia e do jogo de perdas e ganhos nos conflitos entre civilizações, mas
sim analisar o resultado desse encontro e como é feito o diálogo entre essas culturas
(MACHADO, 2002).
Lotman (2007) afirma que a semiótica é uma disciplina científica, na qual seus
primeiros fundamentos foram definidos por Ferdinand de Saussure, sendo ela a ciência que
investiga a função dos signos na sociedade. Saussure também determinou que a linguagem
como sistema social seria a base de todas as ciências sociais.
Segundo Machado (2007, p.34), a semiosfera: ―pode ser vista como um ambiente no
qual diversas formações semióticas se encontram imersas em diálogo constante‖. Lótman
definiu a semiosfera como o espaço vivo e dinâmico onde vários sistemas culturais interagem,
34
O que estabelece o limite entre um sistema (ou subsistema) e outro são os padrões
que delimitam o espaço daquilo que lhe é próprio e daquilo que lhe é estrangeiro, e o
que instala a dinâmica entre os sistemas é a possibilidade de modelização desses
padrões, garantindo sua tradução mesmo na perspectiva da intraduzibilidade
(MASELLA, 2014, p. 25).
criatividade. Dessa maneira, esse ambiente está diretamente ligado ao significado das coisas,
aos símbolos e a representação do homem no universo. É na noosfera que são criados os seres
imaginários e mitológicos, os heróis, os demônios (IZZO, 2009).
A cultura brasileira, segundo Machado (2007), sempre foi uma cultura de mistura,
tendo como tendência assimilar o que é significativo e importante de outras culturas. As
migrações que ocorrem em nosso país, nesse sentido, intensificaram as trocas culturais já
existentes, pois, nesse processo, redescobrimos e damos outro valor ao que já existia,
buscando diálogo constante entre as culturas. Contudo, o diálogo cultural só ocorre quando há
o compartilhamento de mundos, experiências e universos simbólicos (SILVA, 2009).
Um exemplo disso é a maneira como a cultura japonesa foi consumida e ressignificada
dentro da nossa cultura. Percebemos isso na culinária, nos animês (desenhos animados
japoneses), dramas (novelas japonesas), mangás (histórias em quadrinhos japonesas), jogos e
músicas japonesas que são apreciadas diariamente pelos brasileiros.
Na religião também não foi diferente. Cresceu o número de budistas, xintoístas e seitas
de origem japonesas no Brasil. Segundo Mori (1992, p. 582), sobre a Federação do Budismo
do Brasil (fundada em 1958), ―Esta Federação realiza, todos os anos, no fim de semana mais
próximo a 8 de abril, data do nascimento de Buda, a festa das flores, com programas variados
e também visitas às entidades beneficentes e viagens para locais do interior com o objetivo de
ampliar os trabalhos de divulgação dos ensinamentos‖.
Com relação à culinária, segundo a Associação de Restauradores Gastronômicos das
Américas (Aregala), em 2014 o Brasil contava com aproximadamente 3.000 restaurantes
japoneses. E segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-
SP), a cidade tem 600 restaurantes japoneses, contra 500 churrascarias, consolidando-se como
a capital do sushi.
Portanto, a semiosfera é o espaço abstrato, mas real, da cultura que possibilita que os
sistemas da cultura se manifestem, interajam e dialoguem. E como a semiosfera é composta
por diversos sistemas, cada cultura funciona de modo diferente da outra, contaminando e
sendo contaminada. Quando uma cultura se contamina por outra, pode ocorrer o processo de
hibridação e interculturalidade, onde estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma
separada, combinam-se para gerar novas estruturas. Como o Brasil é caracterizado pela
prevalência de uma cultura de mistura, percebemos que a cultura japonesa já faz parte e vem
sendo incorporada à nossa história e significação.
40
Mas o objetivo maior era a educação dos filhos, que vieram acompanhando os pais
ou que haviam nascido no Brasil. O maior desejo do imigrante era educar os filhos
como filhos de súditos nipônicos; ensinar-lhes a língua nipônica e ministrar-lhes
ensinamentos sobre a cultura e o espírito japoneses. ―Para que quando regressassem
ao Japão não passassem vexame‖ por não saber falar o idioma dos ancestrais
(KIYOTANI E YAMASHIRO, 1992, p. 99).
No entanto, em abril de 1933, no Governo Vargas, entrou em vigência uma lei que
fiscalizava e regulamentava a educação de filhos de estrangeiros no país. As principais
medidas que afetaram o ensino nipônico foram: a proibição do ensino de línguas estrangeiras
para menores de quatorze anos de idade; os professores deveriam ser aprovados em exames
de habilitação; os livros deveriam ser aprovados pelos órgãos fiscalizadores e foram proibidos
os livros que prejudicavam a formação do espírito nacional brasileiro. Com essas medidas,
tornou-se praticamente impossível manter uma escola estrangeira no país (KIYOTANI E
YAMASHIRO, 1992).
42
Foi um duro golpe ao ensino japonês e muitos consideraram o fim do sonho de poder
educar os filhos como japoneses; no entanto, uma minoria ainda conseguia dar aulas ilegais
em casebres, com um grupo pequeno de alunos, e resistiam a essa opressão como podiam.
Apesar das visitas policiais e das denúncias feitas por brasileiros nacionalistas, eles não
desistiram de tentar dar a educação que seus descendentes mereciam (UCHIYAMA; TAJIRI
E YAMASHIRO, 1992).
Aqueles que não viam esperanças, acabavam por mandar seus filhos de volta ao Japão
ou pensavam na possibilidade de se mudarem para a China. O nacionalismo extremo fez com
que não existisse mais uma extensão do Japão no Brasil e que os japoneses aqui se sentissem
estrangeiros (UCHIYAMA; TAJIRI E YAMASHIRO, 1992).
Depois de muito pensar e refletir, pais que desistiram de ‗ensinar o idioma nipônico
a fim de formar bons brasileiros‘, desiludidos, estão enviando os filhos para o Japão.
Chegam a mais de 70 o número de niseis que, acompanhados dos pais ou sós,
seguiram para o Japão a bordo dos navios Buenos Aires-Maru, Santos-Maru e Rio
de Janeiro-Maru que recentemente passaram pelo Brasil (UCHIYAMA; TAJIRI E
YAMASHIRO, 1992, p. 239).
A partir da segunda metade da década de 30, todas as escolas de ensino japonês foram
fechadas, às vésperas da segunda Guerra Mundial, o que acarretou os ―anos das trevas‖ para a
comunidade japonesa no Brasil, de 1937-38 a 1947-48. Somente em julho de 1954, um grupo
de 100 professores e administradores de escolas japonesas se reuniu para fundar a Federação
das Escolas de Língua Japonesa do Estado de São Paulo, sendo registrada oficialmente em 16
de janeiro de 1955 e designada como Federação das Escolas de Língua Japonesa do Brasil,
em setembro de 1988. Em 1946-47, os jornais de língua japonesa foram reeditados, mas as
escolas só foram reabertas na década de 50 (KIYOTANI; WAKISAKA, 1992).
Outro marco muito importante foi a criação do Curso de Língua e Literatura Japonesa
do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo (USP), em 1963, sendo o primeiro curso de japonês em uma
universidade brasileira (NAKASUMI; YAMASHIRO, 1992).
Paralelamente ao crescimento do interesse pela cultura japonesa no país, crescia
também o número de escolas de japonês em todo o Brasil. Um exemplo disso foi a criação do
Curso de Japonês do Núcleo de Línguas Estrangeiras (NLE) da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), em agosto de 1993, na cidade de Fortaleza, devido à grande demanda de
pessoas que manifestavam interesse em aprender a língua. Atualmente, o curso está presente
em duas sedes, uma localizada no bairro de Fátima e a outra no Itaperi. A sede de Fátima,
conta com 10 turmas de japonês neste ano, em média possuindo 18 alunos em cada. Já a sede
Itaperi, conta com 04 turmas com 15 a 20 alunos em cada (NIHONGO UECE, 2016).
44
cada entrevista. Dessa forma, as informações surgem de maneira mais livre e sem uma
padronização de alternativas (MANZINI, 2004).
Consequentemente, o roteiro deste trabalho foi feito a partir das seguintes questões
básicas: Por que você escolheu fazer o curso de japonês? Por que você gosta da cultura
japonesa? Qual foi o seu primeiro contato com a cultura japonesa? De que forma a cultura
japonesa faz parte da sua vida? O que mudou na sua vida desde que você começou a aprender
japonês? O modo como a cultura japonesa faz parte da sua vida influenciou seu modo de agir,
falar, vestir, comportar-se ou pensar?
Durante as visitas ao Núcleo de Línguas da UECE e ao Instituto Poliglota, foram
realizadas 11 entrevistas. Uma delas com um grupo de 10 alunos, uma com a Coordenadora
do Instituto Poliglota, uma com a professora que leciona nos dois centros de ensino e as
demais de forma individual, com alunos de diversas idades. Por uma questão de sigilo ético,
os nomes dos entrevistados foram substituídos pela nomenclatura de Aluno 1 a Aluno 18.
Dentre os 18 alunos entrevistados (15 da UECE e 03 do Poliglota), calcularam-se uma
média de idades e os resultados foram condensados no gráfico a seguir.
Como observado, a maioria dos alunos (61,1%) apresenta uma idade média entre o
intervalo de 19 a 23 anos, fase em que normalmente já ingressaram no mundo universitário e
buscam novos horizontes profissionais. A segunda maior proporção foi para a faixa etária de
24 a 28 anos (22,2%). Para essa amostra, podemos concluir que existe um interesse maior nos
estágios entre o jovem adulto e o adulto, totalizando 83,3% dos entrevistados.
46
Bom, não seria só a cultura brasileira, o Japão tá invadindo o mundo inteiro, como
os Estados Unidos, a Europa, todo mundo tá começando a importar a cultura
japonesa. Acho que é o efeito da globalização. Só que, o Brasil, em particular, tem
um pouquinho mais de destaque nisso, eu diria que é por causa da imigração
japonesa no Brasil. Eu acho que foi por isso que a gente conseguiu sair se agarrando
à cultura japonesa com mais intensidade em relação às outras (Aluno 13).
Eu sempre me interessei pela cultura japonesa, desde pequeno, desde que eu assistia
os animês que passavam na TV Manchete, os ―tokusatsus‖ 8, animês, Cavaleiros do
Zodíaco, tudo mais. (...) Apesar de eu sempre ter gostado de ―tokusatsus‖ quando
criança, tipo Jiraya, Jaspion, Cibercops, esse tipo de coisa, eu sempre achava
bacana, mas era aquilo ali. O que despertou mesmo minha vontade de querer
aprender japonês foram os jogos (Aluno 11).
8
Tokusatsu pode ser traduzido como ―filme de efeitos especiais‖, sendo sinônimo de live-actions (filme com
atores reais) de super heróis produzidos no Japão (Blog Space Tokusatsu).
47
Dentre aqueles que entraram no curso por influência de produtos culturais, como os
mangás, animês e jogos, e aqueles que entraram por outros motivos, levantamos os seguintes
dados, conforme gráfico abaixo:
Como podemos identificar, a grande maioria (83,3%) revelou como o fator mais
relevante para iniciar o curso de japonês o contato, muitos na infância, com programas
televisivos, revistas e desenhos animados de origem japonesa. Verificamos um interesse
crescente na vida dos entrevistados por essa cultura, interesse esse que foi reforçado pela
globalização e facilidade de acesso aos produtos dessa cultura via internet.
Na sua maioria, o que começou como hobby ou um gosto pessoal, desenvolveu-se
para algo cada vez mais abrangente na vida deles. Essa paixão inicial desencadeou a vontade
de estudar a língua japonesa para, posteriormente visitar, estudar, morar e trabalhar no Japão.
Podemos ver isso no fragmento abaixo retirado da entrevista:
Como a maioria das pessoas que começam a aprender japonês, foi por causa de
animê e tal, e eu gostava bastante. Mas depois de um tempo, eu me interessei
bastante pela cultura mesmo, pela cultura e arte de lá. E depois eu fui me interessar
pelo mercado de trabalho, eu fui querer aprender a língua mais por causa disso, de
ir pra lá e ir trabalhar lá. E é pela cultura em geral também. (Aluno 1).
Outro dado relevante observado nas entrevistas foi que, com relação à grande
diferença entre a nossa cultura e a cultura nipônica, essa se revelou o fator de maior
atratividade e admiração para os mesmos. Para Khumthukthit (2010), essas diferenças
48
E eu também tenho um apreço pelos outros aspectos da cultura, como, por exemplo,
a questão da disciplina, a diferença da visão de sociedade, porque lá eles têm uma
visão muito mais firme a respeito de que cada um tem seu lugar. Às vezes isso pode
ser ruim, às vezes é uma das melhores coisas que tem. Se você tem um funcionário
japonês, o lugar dele é lá, trabalhando, ele não vai faltar. É uma das coisas que eu
admiro e que eu acho interessante ter (Aluno 13).
Então, como muita notícia de lá, começa com o japonês, do japonês pro inglês e do
inglês pro Brasil, eu quero pegar isso. Eu gosto também dessa coisa da tradução e eu
gosto muito do japonês por causa disso, tem muita perda da tradução quando você
pega do japonês pro inglês e do inglês pro português. Então eu quero me aproximar
ainda mais dessa língua. (...) Tem muito jogo no oriente, principalmente jogos
antigos, que eles não são traduzidos pra cá. Então, ou você tem que esperar uma
tradução de fansuber, da galera que trabalha com tradução, ou então você tem que
esperar um dia a empresa lançar. Então eu queria acabar com essa barreira pra mim
(Aluno 11).
Ambas concordam no que diz respeito à procura pelo curso de japonês. A maioria
busca aprender por causa dos animês e mangás e uma minoria por outros interesses, como
artes marciais japonesas ou religião. Destaca-se também um crescente interesse pela língua
nipônica para estudar e fazer intercâmbio, pós-graduação ou graduação no Japão.
Sabendo que os otakus brasileiros são aqueles que assistem a animês, leem e compram
mangás, colecionam itens, compram acessórios e roupas relacionados a essa cultura, vão para
eventos e escutam músicas japonesas (BARATA, 2009) e que, segundo Travancas (2015), o
fã da cultura pop japonesa só se torna um verdadeiro otaku quando ele interage e se relaciona
com o seu ―grupo de interesse‖, a importância de eventos como o SANA também foi assunto
50
discutido nas entrevistas, bem como de que modo a cultura japonesa se faz presente em
Fortaleza.
Para o Aluno 9, esses eventos acontecem para que pessoas com o mesmo gosto
possam se encontrar e adquirir materiais da cultura que admiram. Ao mesmo tempo, estando
ali, ela percebe um sentimento de pertença e identificação a esse grupo.
O Aluno 11 lembra-se da época na qual as pessoas se reuniam na Praça Portugal para
falar de animês e mangás, e onde havia uma comercialização de fitas e depois de DVD‘s. E
que hoje esse grupo dos excluídos, como ele o denominou, que marcavam encontros feitos de
amigo para amigo, transformou-se em uma grande comunidade que se reúne em um evento
gigantesco, com várias empresas envolvidas e patrocínios.
O Aluno 16 gosta tanto dos eventos de animês da cidade que já se caracterizou de
vários personagens, participando de uma forma mais intensa, pois adota em cada evento um
personagem para se caracterizar, como o Deidara (Naruto), a Lucy (Fairy Tail), a Crona (Soul
Eater), o Mello (Death Note) e atualmente está fazendo o Ciel (Black Butler). E para o Aluno
18, esses eventos proporcionam um contato maior com a cultura e a realidade do Japão.
Verificamos, através das entrevistas, a ocorrência de um processo de
interculturalidade. A interculturalidade, de acordo com Coll (2002), acontece quando duas ou
mais culturas entram em contato umas com as outras, sendo o encontro de sistemas de signos,
de estruturas e representações, de práticas, mitos, crenças, símbolos e tudo o que faz cada
cultura ser única. O diálogo intercultural é caracterizado pela troca e interações entre os
mundos em um contexto, sendo esse diálogo exercício que remete ao intercâmbio de situações
da vida humana, a partir de práticas culturais concretas (SILVA, 2014).
Este diálogo intercultural, segundo a Unesco (2009), é a transformação de um
conjunto de referências que já existem em outro totalmente novo e único. E sendo a cultura
brasileira, de acordo com Machado (2007), uma cultura de mistura, tendo como tendência
assimilar o que é significativo e importante de outras culturas, percebemos esse movimento de
ressignificação e recriação cultural na vida de nossos alunos de japonês de diversas maneiras.
O Aluno 13 reforça, em sua entrevista, que a cultura brasileira tem a ―mania‖ de
englobar a cultura dos outros e, dessa forma, o Brasil não simplesmente toma para si a cultura
japonesa, mas a transforma e absorve da forma que melhor vai se adaptar à nossa vida.
Durante a entrevista, ele menciona um exemplo curioso que demonstra a criatividade do
brasileiro, que é o sushi de morango com chocolate, inovação culinária produzida para
agradar o nosso paladar.
51
Em relação ao Budismo, o Aluno 17 nos conta que essa religião começou na Índia, foi
para a China, depois para o Japão, para enfim alcançar o Brasil. Cada vez que o Budismo vai
atingindo uma cultura, ele vai se adequando ao estilo de vida daquelas pessoas. Dessa forma,
essa religião também passa por processos de ressignificação e modificação ao entrar em novas
culturas.
O Aluno 10 é tão apaixonado pela cultura japonesa que passou a se dedicar às artes e
literatura para se tornar um escritor, artista plástico, desenhista e mangaká (autor de mangás),
e também com a finalidade de futuramente residir no Japão. Conforme percebemos no
fragmento retirado da entrevista: ―Eu sempre fui apaixonado pela cultura japonesa e eu
pretendo ir morar no Japão. E ser escritor, artista plástico, mangaká, desenhista, o que der pra
ser eu vou ser.‖ Já o Aluno 5, que gostava de desenhar quadrinhos, ao conhecer o estilo de
mangá, transformou sua técnica para se aproximar aos modelos japoneses.
O Aluno 11 revelou-nos que sua personalidade foi moldada pela cultura nipônica, e
que muito de sua infância e caráter sofreram influências do que ele assistia da produção
japonesa na época, como afirma: ―o tipo de pessoa que eu sou e a maneira como eu interajo
com as pessoas, eu acho que os desenhos ajudaram a ter essas boas características que eu
tenho. Cada dia a gente vai aprendendo e se transformando e vendo o que a gente pode levar
pro dia a dia.‖ Ele acredita que o japonês vai ser muito importante em sua carreira como
jornalista, pois será um diferencial na hora de trabalhar com informações e novidades na
indústria de jogos japoneses. O Aluno 15 partilha desta opinião:
O Aluno 17 complementa essa opinião, ao dizer que toda cultura que aprendemos é,
de certa forma, absorvida, e tentamos traduzi-la para a nossa vida. Ele acrescenta que, depois
de ter conhecido a cultura japonesa, ele continuou sendo um brasileiro, mas incorporou
muitos dos valores da cultura nipônica em sua vida (como, por exemplo, a cordialidade e a
forma com que trata as pessoas ao seu redor). O Aluno 18 relata que, ao observar o ponto de
vista e o modo de viver em sociedade no Japão, passou a ser uma pessoa mais educada, e a
partir disso aplicar esse e outros valores em sua vida.
52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
reflexo desse processo nos relatos de nossos alunos. O contato com a cultura japonesa fez
com que eles explorassem novas experiências, conhecessem um mundo novo e, a partir disso,
modificassem o seu jeito de ser, pensar e agir. Consequentemente, os seus projetos de futuro
foram afetados, abrindo possibilidades para viagens, intercâmbios culturais e formações
acadêmicas, onde a língua japonesa também representa um diferencial na formação
profissional.
Outro fator relevante deste trabalho foi observar que, apesar de culturas tão diferentes,
a ocidental e a oriental podem se tornar mutuamente atrativas. Os entrevistados relataram que,
muito além dos produtos de massa, os mesmos se encantaram com os valores humanos e
comportamentos nipônicos, que não se encontram tão presentes na nossa cultura, mas que
impactaram suas vidas, como: o modo mais educado de ser; o respeito pelo ambiente; a
valoração da amizade e o modo harmônico de viver em sociedade.
Ressaltamos a importância de que novos estudos sejam feitos, de modo a compreender
como a interculturalidade se faz presente no sentido inverso ao que estudamos isto é, como a
nossa cultura influencia os japoneses e seus descendentes aqui e no Japão.
O presente trabalho se mostrou muito significativo no desenvolvimento de habilidades
e competências para minha futura atuação profissional. Todavia, proporcionou-me
gratificantes experiências humanas, consequentes do contato com pessoas incríveis e suas
histórias de vida. Adquiri, dessa forma, um novo olhar sobre os fenômenos da cultura e suas
repercussões na vida das pessoas.
54
REFERÊNCIAS
COELHO, T. O que é Indústria Cultural. 35 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.
DAIGO, M. Pequena história da imigração japonesa no Brasil. São Paulo: Gráfica Paulus,
2008.
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
LOTMAN, Iuri M. Por uma teoria semiótica da cultura. Belo Horizonte: FALE/UFMG,
2007.
LUYTEN, S. M. B. Mangá e animê: Ícones da Cultura Pop Japonesa. 2014. 11F. Artigo
(Doutora em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2014.
MORI, K. Vida religiosa dos japoneses e seus descendentes residentes no Brasil e religiões de
origem japonesa. In: Uma Epopéia Moderna-80 anos da Imigração Japonesa no Brasil.
Comissão de Elaboração da História dos 80 anos da Imigração Japonesa no Brasil. São Paulo:
HUCITEC: Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, 1992.
TRAVANCAS, P. R. Otaku é você!: os fãs da cultura pop japonesa no Brasil e sua tribo.
INTERCOM - XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação: Rio de Janeiro, p.
1-13, 2015. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-
0338-1.pdf >. Acesso em: 30 set. 2016.
58
Pq - Por que escolheu aprender japonês? Quais as motivações que o levaram a fazer este
curso?
Aluno 10 - Eu sempre fui apaixonado pela cultura japonesa e eu pretendo ir morar no Japão.
E ser escritor, artista plástico, mangaká, desenhista, o que der pra ser eu vou ser. E é
basicamente isso.
Aluno 3 - Eu não tenho nenhum motivo específico, é porque eu conheço muitos japoneses, eu
tenho muitos amigos e eles me ensinavam algumas palavras. Aí eu me interessei pela língua e
eu tô fazendo só por hobby mesmo.
Aluno 2 - Eu desde pequeno também sempre gostei, achei muito interessante a cultura, a
disciplina. Agora, quando eu tinha 09 anos, eu me apaixonei por uma mocinha japonesa. E ela
foi embora, e eu achei que ela tinha ido pro Japão. E eu fiquei com isso na cabeça de aprender
japonês. E só foi aparecer a oportunidade agora.
Aluno 1 - Como a maioria das pessoas que começam a aprender japonês, foi por causa de
animê e tal, e eu gostava bastante. Mas depois de um tempo eu me interessei bastante pela
cultura mesmo, pela cultura e arte de lá. E depois eu fui me interessar pelo mercado de
trabalho, eu fui querer aprender a língua mais por causa disso, de ir pra lá e ir trabalhar lá. E é
pela cultura em geral também.
Aluno 4 - Eu também sempre tive interesse pela cultura japonesa e tudo. E no começo eu só
queria fazer porque eu gostava mesmo. E depois eu pensei um pouquinho e decidi que eu
quero fazer faculdade lá.
Aluno 5 - Eu sempre tive esse contato com a cultura e com as coisas dos desenhos, de falar
com o povo, só que sempre tinha que ter a tradução. E eu tô tentando tirar esse intermédio.
60
Aluno 7 - Eu tô fazendo japonês porque eu sempre tive contato, sempre achei legal, sempre
gostei. Então, eu tive que sair da faculdade no começo do ano e estava sem fazer nada e vi que
a UECE tinha oferecido vaga e resolvi tentar.
Aluno 6 - Sempre gostei da cultura japonesa e tem pouco material na internet traduzido para
português e inglês, então eu queria aprender para ter mais acesso.
Aluno 8 - No começo eu não gostava de nada relacionado ao Japão, porque era tudo
relacionado à modinha de animê e eu tinha muita raiva de animê. Até o dia em que eu me
deixei conhecer a cultura japonesa através dos animês e mangás mesmo, e eu realmente vi
que era mais do que eu imaginava, realmente tinha coisas muito interessantes. E depois eu
conheci a língua e eu achei muito incrível esse alfabeto completamente diferente, eu ficava:
―Eu quero muito entender isso, porque é muito difícil e eu adoro essas coisas complicadas‖.
Apesar de ser chato, é muito legal também. Aí foi assim, eu entrei no curso, a professora,
ficou falando mais sobre a cultura, o que ela viveu lá e isso foi instigando a curiosidade de
conhecer lá. E eu pretendo conhecer a língua. Eu acho o Japão muito interessante, os
costumes que ela (professora) falou, deles serem educados e essas coisas, eu achei muito legal
e eu quero muito conhecer lá.
Pq - Qual o primeiro contato que vocês tiveram com a cultura japonesa?
Aluno 5 - Foi ―Sakura Card Captors‖ e ―Ino e Yasha‖ na TV.
Aluno 3 - Eu assistia ―Dragon Ball‖. Teve uma lembrança também, que foi minha irmã me
fazendo comer sushi, aí eu vomitei.
Aluno 2 - A minha foi uma história de amor. Eu gostei da menina, mas eu era muito novo e
não entendia dessas coisas, era só coisa de criança mesmo. Mas o fato dela realmente ser
descendente de japonês foi o que me motivou a querer conhecer (o Japão) e, nesse negócio de
querer conhecer, aí veio o negócio gigantesco da cultura, da disciplina, dos samurais, eu
achava tudo muito bonito. E foi o que me motivou a querer aprender japonês. É possível que
eu vá atrás dela depois.
Aluno 10 - Comigo também foi pelos animês e por algumas revistas que tinham, que elas
traziam vários desenhos assim, que traziam as novidades e os jogos também. Tinha muito
―tokusatsu‖ também naquela época , fora ―Power Ranger‖, mesmo não sendo japonês, mas na
época eu assistia também Jaspion, mesmo não sendo da minha época, mas meu pai me
incentivou a assistir, ele tinha a fita cassete que eu assistia muito. E os próprios mangás que
eu sempre gostei de desenhar e eu ficava lá copiando o desenho.
Aluno 5 - Esse negócio de desenhar, eu comecei a desenhar através de quadrinhos e, quando
eu fui vendo o estilo de mangá, e fui entrando nesse negócio de animê e tudo mais, eu
transpus o meu estilo para desenhar em estilo mangá mesmo. Foi isso que eu fiz.
Pq - O que vocês acham de eventos como o SANA e qual a importância desses eventos no
Brasil e em Fortaleza?
Aluno 8 - Eu só vou pra comprar coisas.
Aluno 9 - É porque a gente é minoria que gosta dessas coisas, e quando tem um evento
assim, você consegue encontrar pessoas que têm os mesmos gostos que você, você consegue
encontrar material sobre essa cultura que você gosta. Então dá pra você se sentir parte de
alguma coisa quando tem um evento desse.
61
Pq - Por que escolheu aprender japonês? Quais as motivações que o levaram a fazer este
curso?
Aluno 11 - Eu sempre me interessei pela cultura japonesa, desde pequeno, desde que eu
assistia aos animês que passavam na TV Manchete, os ―tokusatsus‖, animês, Cavaleiros do
Zodíaco, tudo mais. E, atualmente, depois na vida adulta, me interessei por jornalismo e ainda
me interesso por vídeo game. Eu quero saber mais da indústria japonesa, da indústria de
jogos, tudo mais. Então, como muita notícia de lá, começa com o japonês, do japonês pro
inglês e do inglês pro Brasil, eu quero pegar isso. Eu gosto também dessa coisa da tradução e
eu gosto muito do japonês por causa disso, tem muita perda da tradução quando você pega do
japonês pro inglês e do inglês pro português. Então eu quero me aproximar ainda mais dessa
língua.
Pq - Qual o primeiro contato que você teve com a cultura japonesa?
Aluno 11 - Apesar de eu sempre ter gostado de ―tokusatsus‖ quando criança, tipo Jiraya,
Jaspion, Cibercops, esse tipo de coisa, eu sempre achava bacana, mas era aquilo ali. O que me
despertou mesmo minha vontade de querer aprender japonês foram os jogos. Tem muito jogo
no oriente, principalmente jogos antigos, que eles não são traduzidos pra cá. Então, ou você
tem que esperar uma tradução de fansuber, da galera que trabalha com tradução, ou então
você tem que esperar um dia a empresa lançar. Então eu queria acabar com essa barreira pra
mim sabe? Da mesma forma que eu aprendi inglês jogando vídeo game ou RPG, eu queria ter
aprendido japonês dessa mesma forma só que não consegui. Então por isso que eu tô aqui
também. Mais uma vez é juntando o útil ao agradável com a minha profissão, jornalista.
Pq - O que você acha de eventos como o SANA e qual a importância desses eventos no
Brasil e em Fortaleza?
Aluno 11 - Isso demonstra que a gente tem um público que se importa que consome a cultura
oriental, a cultura japonesa específica. E eu acho importante, eu fico feliz. Por exemplo, no
meu tempo, tinha o SANA que era uma coisa muito pequena e tinham outros pequenos
eventos. E hoje eu fico feliz de ver que cada vez mais tem eventos japoneses aqui
acontecendo na cidade. A gente tem evento japonês aqui na Beira Mar, eu fico cada vez mais
feliz de ver como essa cultura, que eu acho tão interessante, tá crescendo e felizmente a gente
vê eventos japoneses sendo realizados na praça Luís Távora, de pessoas apresentando artes
marciais japonesas, karatê, tudo mais. Isso é muito bacana. Quanto mais eu vejo a propagação
de uma cultura que é tão boa, que a gente devia se espelhar como é a cultura japonesa, acho
melhor.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 11 - Eu costumo dizer que a minha personalidade foi moldada pela cultura japonesa,
pelos programas que eram passados aqui de origem japonesa, como os ―tokusatsus‖ (Jiraya,
Jaspion, Changeman) e outras coisas da época também, que moldaram o meu jeito de agir
com as outras pessoas. Muito da minha infância, caráter e personalidade teve influência da
cultura japonesa na época. E o tipo de pessoa que eu sou e a maneira como eu interajo com as
pessoas, eu acho que os desenhos ajudaram a ter essas boas características que eu acho que eu
62
tenho. Cada dia a gente vai aprendendo e se transformando e vendo o que a gente pode levar
pro dia-a-dia.
Pq - O que da cultura japonesa você admira e passou a fazer parte da sua vida?
Aluno 11 - É mais a questão da amizade, lealdade e sinceridade. Basicamente todo o animê
fala sobre isso. Principalmente aqueles de colegial que falam da amizade, esse tipo de coisa.
Eu prezo muito pelos meus amigos, eu tenho poucos, mas os poucos que eu tenho são como
irmãos. Eles (animês) sempre falam sobre a importância da amizade e esse tipo de coisa.
Quando eu era adolescente eu não era muito sociável e acabava vendo mais animês e lendo
mais mangás do que interagia com as pessoas, o que me ajudou a ser mais sociável com as
pessoas também.
Pq - Qual foi a consequência de aprender o japonês na sua vida?
Aluno 11 - Hoje em dia, quando eu assisto ou jogo coisas em japonês eu consigo traduzir uma
coisa ou outra. E isso eu acho fantástico. Pensar que a menos de um ano eu não entendia nada.
Eu entendia alguma coisa porque, de tanto assistir animê você acaba absorvendo algumas
coisas, querendo ou não. Mas hoje eu fico: ―Caramba, eu aprendi isso em sala de aula‖ ou
―Caramba, eu estudei isso ontem!‖ ou ―Meu Deus, eu sei o que significa este kanji.‖ Isso é
bem legal.
Pq - Você usa o japonês no seu dia a dia, mesmo que sem querer?
Aluno 11 - Eu usava de vez em quando algumas expressões, mas eu ainda sonho com o dia de
me pegar pensando em japonês de forma natural.
Pq - Por que é importante aprender japonês para você como jornalista?
Aluno 11 - Eu acho que é um diferencial. E também porque eu quero trabalhar com
informações e novidades na área de jogos. E hoje em dia você saber japonês nessa área é
muito importante, porque você não vai ficar dependendo de outros na hora de conversar com
um desenvolvedor japonês, na hora de conversar com um presidente de uma empresa que
produz jogos em japonês. Então você acaba pegando informações que às vezes um tradutor
deixa escapar ou deixa um mal entendido. É aquela coisa, se eu quero trabalhar com a
indústria de jogos eu preciso saber japonês pelo menos. Além de ser um diferencial, vai me
fazer destacar de outras pessoas. Minha língua nativa é o português, minha segunda língua é o
inglês e se a minha terceira língua for o japonês, posso ir pra onde eu quiser no mundo. No
Canadá, por exemplo, tem uma empresa chamada Ubisoft, eles falam francês e inglês, então
eu posso falar inglês com eles. O pessoal da Nintendo fala em japonês, então eu falo em
japonês com eles. Então assim, as principais empresas de jogos são japonesas ou tem alguém
que fala inglês, sendo mais um motivo pra eu querer aprender o japonês.
Pq - Como você vê a cultura japonesa no Brasil e em Fortaleza?
Aluno 11 - Eu sei que a cultura japonesa é muito forte em São Paulo, sendo a segunda maior
colônia japonesa que existe no mundo. De uma maneira geral, a culinária, o sushi, se
propagou bastante no Brasil. Houve um boom da culinária japonesa a pelo menos 10, 15 anos.
Fora isso, de cultura japonesa aqui em Fortaleza no geral aumentou muito. Quando eu era
adolescente, as pessoas se reuniam na praça Portugal pra falar de animês e mangás, havia
aquela comercialização de fitas e depois de DVD. Fortaleza, não sei por qual motivo, sempre
teve um pé no Japão.
Pq - O que mudou nesse público da época da praça Portugal para hoje?
Aluno 11 - Aquele público era bastante reduzido, era um grande grupo dos excluídos. Hoje
em dia não existe mais isso. O SANA e os outros eventos de animê da época eram minúsculos
e hoje em dia, o SANA tá quase do tamanho do Anime Friends. É uma coisa que não dá mais
pra ignorar. Era uma coisa de amigos para amigos e passou a ser uma coisa grande, com
várias empresas atrás, patrocínios. É uma coisa que virou comércio.
63
Pq - Me conte um pouco sobre a sua formação e por que você começou a dar aulas de
japonês.
S.M - Eu comecei o curso de japonês na UECE em 2009, porque eu gostava de animê e essas
coisas relacionadas com a cultura japonesa. Na época, o meu último semestre também foi o
último da Professora Laura Tey (atual Coordenadora do Curso) e ela me convidou a dar aulas
porque eu era uma aluna muito aplicada e não tinham muitos professores de japonês na
região. A partir daí, já dou aulas há 06 anos. Eu também já fui para o Japão duas vezes, uma
como estágio em uma escola e na outra para fazer um curso.
Pq - Você viu alguma diferença de público nesses 6 anos de ensino do japonês?
S.M - Eu acho que, quando eu comecei, tinha mais interesse, ou melhor, quando eu estudei,
tinha mais interesse. Nos últimos anos teve um boom de cultura coreana na cidade e parece
que dividiu o público, não sei o porquê, podia ficar todo mundo gostando dos dois né? E
quando entrou essa informação da Coréia, acabou dividindo o público jovem, mas sempre a
faixa etária foi essa do pessoal aqui, 20 anos. A maioria vem aprender por causa dos animês e
mangás. Teve alguns que vieram por causa do esporte, por causa das artes marciais japonesas.
Eu tive um aluno que fazia judô e o nome dos golpes são em japonês, por isso que ele quis
aprender. E também já teve aluno que veio estudar por conta de religião. Tem alguns poucos
grupos religiosos de origem japonesa aqui na cidade, então gente que pratica essas religiões já
veio atrás de estudar o japonês. O que não tinha antes e que agora tem bastante é gente que
vem estudar procurando fazer intercâmbio no Japão, estudar lá, fazer pós-graduação ou
graduação. E antes não tinha, antes era uma ou duas pessoas na sala, nessa praticamente todo
mundo quer fazer pós-graduação lá no Japão, tem alguns aqui que podem fazer graduação
porque tem um limite de idade.
Pq - Você lembra qual foi o seu primeiro contato e o que mais te marcou com a cultura
japonesa?
Aluno 12 - O meu primeiro contato foi… Na verdade foram vários de uma vez, porque eu
assisti simultaneamente, ―yuragi-sou‖, ―Cavaleiros do Zodíaco‖, ―Sailor Moon‖, aí eu vi
―tokusatsu‖ também, que é tipo Power Ranger. E é isso.
Pq - Você vai pro SANA também?
Aluno 12 - Já fui várias vezes, já dancei também na área K-POP, mas faz um tempo que eu tô
afastada.
Pq - Qual a importância do SANA pra quem gosta da cultura japonesa?
Aluno 12 - O SANA eu conheci quando eu tinha 14 anos de idade, o primeiro SANA que eu
fui era a 4ª edição, então foi a muito tempo atrás e não tinha quase ninguém. Era no Centro de
Convenções e depois passou para o Centro de Eventos porque aumentou o número de pessoas
que iam lá. Eu acho que o SANA é importante sim, mas não só ele, a internet em si é o maior
meio de comunicação e você conhece tudo por ela.
Pq - Você tem vontade de ir pro Japão?
Aluno 12 - Óbvio! Eu acho que morar eu não ia querer, por conta dos desastres da natureza
que tem lá, mas pro Japão eu iria com certeza, para férias e tal, e, principalmente, gastar
muito.
vejo interessado em coisas que abordam mais esse aspecto. Por exemplo, um filme recente
que teve, que não recebeu o crédito que merecia, foi ―47 Ronin‖, aquele filme é uma carta de
amor à cultura japonesa. Começa com o protagonista ―Keanu Reeves‖ (ator), que é
apaixonado pela garota e eles não terminam juntos no final. O filme deixa bem claro, ela é
realeza, por assim dizer, e ele é plebeu. Eles nunca podem ficar juntos. E o filme não tenta
enrolar a gente, ele joga isso da maneira mais direta possível. O filme representa de uma
maneira justa a cultura japonesa.
Pq - Como você vê a consequência da cultura brasileira absorvendo a cultura japonesa?
Aluno 13 - Bom, não seria só a cultura brasileira, o Japão tá invadindo o mundo inteiro, como
os Estados Unidos, a Europa, todo mundo tá começando a importar a cultura japonesa. Acho
que é o efeito da globalização. Só que, o Brasil em particular, têm um pouquinho mais de
destaque nisso, eu diria que é por causa da imigração japonesa no Brasil. Eu acho que foi por
isso que a gente conseguiu sair se agarrando a cultura japonesa com mais intensidade em
relação as outras. Mas apesar de tudo são culturas bastante diferentes, e a brasileira tem a
mania de englobar a cultura dos outros como se fosse a nossa. Tanto é que o Brasil não
simplesmente pega a cultura japonesa, ele transforma e absorve do jeito que é. Tanto é que a
gente tem uma coisa que você nunca vai ver no Japão: sushi de morango com chocolate. Isso
é uma das coisas peculiares do Brasil que deixa com um pouquinho de charme.
Pq - Você vai pra eventos de animês como o SANA?
Aluno 13 - Faz um bom tempo que eu não vou, eu prefiro ver um filme aqui, to mais num
canto reservado, to que nem um macaco velho que fica num canto reservado e escondido sem
sair pra sociedade.
Já no quadro acadêmico, vejo muita perspectiva por ser meu interesse usufruir e relacionar a
cultura japonesa e sua influência no desenvolver narrativo, principalmente o relacionado aos
quadrinhos e demais frutos da cultura popular japonesa.
Então a gente desde o início no Poliglota teve o foco na abordagem comunicativa, só que não
existiam livros comunicativos de japonês. E aí, o Japão tem um programa de bolsas pra
professores de japonês, pessoas que falam japonês e que querem ser professores, e dois dos
nossos professores já foram para esse programa, foram pra lá e passaram 06 meses, a outra
passou 1 ano, fazendo formação de professor de japonês como língua estrangeira. E eles
trouxeram muita coisa atual, então atualmente o método foi se desenvolvendo e a gente hoje
consegue ter um curso comunicativo de japonês de fato.
Pq - Qual a duração do curso?
F.G - São seis níveis até o A2. A gente trabalha de acordo com o quadro de referências
Europeu. O quadro de Referências Europeu ele é um negócio assim realmente tão bem feito
que o mundo inteiro tá começando a adotar como padronização mesmo. Antes você tinha
níveis como: elementar, intermediário e avançado. Só que o que o alemão chamava de
elementar, de básico, era muito mais do que o elementar dos Estados Unidos por exemplo. O
alemão, para ele, os conhecimentos básicos você já tinha que saber um monte de coisas.
Enquanto que o elementar nos Estados Unidos era realmente só aquela fala do dia-a-dia, da
rua, enfim. Aí o quadro de Referências Europeu foi criado logo depois da União Europeia,
nos anos 2000 por aí, depois da introdução do euro, da economia comum, e eles estão
querendo padronizar também os cursos universitários, e pra isso surgiu a necessidade de ter
níveis que todo mundo soubesse o que é. Se eu disser que você é A1, o mundo inteiro sabe o
que é A1 certo? E aí a gente tenta adaptar também para o japonês, o curso tem certificados
próprios, uma nomenclatura própria, que é equivalente com o quadro comum de referências
para a língua estrangeira que a Europa criou. O Quadro de Referências Europeu é todo
baseado no que você sabe fazer, você consegue superar que tipo de situação? E o nosso grupo
de japonês em grupo vai até o A2, o A2 é o nível de relacionamento pessoal. Você consegue
resolver todos os problemas práticos na rua, que seria o A1, e você ainda consegue
desenvolver uma relação interpessoal, ou seja, ter uma amizade, falar da sua vida pessoal, dos
seus gostos, das suas experiências passadas, das suas expectativas futuras, tudo aquilo que faz
parte do mundo da vida pessoal e da amizade. Então esse é o nível que a gente chega com o
pessoal em grupo. Aí se quiser aprofundar a linguagem do trabalho, aí você vai ter que fazer
um pouco mais.
Pq - E depois que o curso termina, você já soube de algum aluno que foi para o Japão?
F.G - Sim, eu não sei se trabalhar, mas visitar já teve sim. É bem bacana o retorno quando
chega assim: ―Ai, eu consegui usar e conversar e foi bacana‖. É bem legal isso.
eu conheci uma amiga que era também vidrada. Aí ela: ―Vamos assistir, vamos pesquisar‖. Aí
a gente assistiu e pesquisou. Aí estamos aí.
Pq - E você vai pra eventos de animês?
Aluno 16 - Sim! O primeiro SANA que eu fui foi em 2008. Eu fui no primeiro SANA sem
cosplay, aí eu fui vendo os cosplays e pensei: ―Quero fazer!‖ Aí o primeiro cosplay que eu fiz
foi do Deidara, em 2009, e eu já estava batendo as fotos, já estava morta de feliz. Aí assim por
diante, eu fui fazendo mais. Eu já fiz do Deidara (Naruto), da Lucy (Fairy Tail), da Crona
(Soul Eater), Mello (Death Note) e agora eu to fazendo do Ciel (Black Butler).
Pq - Você vai em todo SANA ?
Aluno 16 - Teve uma época que eu parei de ir porque sempre eu viajava e não dava pra ir. E
também meu amigo que ia comigo, ele acabou não indo mais também porque ele teve que
resolver umas coisas da vida dele, aí eu ficava com vergonha de ir sozinha, porque você fica
meio sem rumo. Aí depois eu voltei a ir porque eu arranjei um namorado e eu obrigava ele a
ir.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 16 - Eu acho que não mudou tanto não. Eu não mudei meu estilo, nem nada não, só
cresceu a vontade de conhecer mais.
Pq - Você usa o japonês no seu dia a dia, mesmo que sem querer?
Aluno 16 - Antes das aulas eu falava algumas coisas, mas não naturalmente, aí depois das
aulas de japonês, quando eu tô na aula de espanhol, às vezes a professora pergunta alguma
coisa pra mim e ao invés de falar Sí (sim em espanhol) eu responto Hi (sim em japonês).
Pq - Você pensa em estudar ou morar no Japão depois?
Aluno 16 - Sim e se eu gostar muito eu pretendo morar sim, mexer os pauzinhos aí. Às vezes
a gente vai com aquela expectativa e às vezes não é o que a gente esperava. A gente gosta da
cultura, mas às vezes morar no lugar você pode não aguentar.
Pq - O que você admira na cultura japonesa?
Aluno 16 - É porque é muito diferente da cultura ocidental e também até entre os orientais
eles são bem diferentes. Eu gostei, me senti atraída por esse diferente.
ritos são utilizados termos japoneses. Existem mais de 80 linhas e escolas budistas. E o
budismo foi se espalhando pela Ásia, começou na Índia, foi pra China e depois foi pro Japão.
Então, cada vez que ele foi entrando numa cultura, ele foi se adequando ao estilo de vida
daquelas pessoas. Inclusive incorporando a religião daquele local. O japonês já foi o período
tardio do crescimento do budismo e a linha budista que a gente segue lá são ―os últimos dias
da lei‖. Como se fosse o prazo de validade do budismo na humanidade, em que acredita-se
que o monge que fundou esse budismo é o sucessor do Buda Sidarta Gautama, ele nasceu
naquela época para trazer os novos valores budistas pra humanidade.
Pq - Qual foi a consequência de aprender o japonês na sua vida?
Aluno 17 - Aprender o japonês só tornou mais claro muitas das coisas que eu já fazia no dia-
a-dia. Eu gosto muito da cultura japonesa, de entrar em contato e estudar. Então dá aquele
brilho nos olhos quando você lê um mangá, uma notícia, alguma coisa, que por mais que seja
pouco você entende o contexto daquilo. É muito legal! Você se sente como se fosse surdo e
começasse a escutar. Essa é a sensação.
Pq - Me conta um pouco de como a cultura japonesa está inserida no seu dia a dia?
Aluno 17 - No meu dia a dia, infelizmente ele não está inserido no meio acadêmico, porque
eu tô me graduando em direito, no último semestre. Porém, desde pequeno eu tenho um
fascínio por história e eu tenho muitos livros da história japonesa, então, alguns deles estão
em japonês, e ter o acesso ao japonês é uma possibilidade de acessar esse conhecimento.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 17 - Com certeza! Toda cultura que a gente aprende, de certa forma a gente absorve e
tenta traduzir pra nossa vida. Claro que depois de conhecer a cultura japonesa eu não me
tornei uma pessoa japonesa, mas muitos valores japoneses eu incorporei a minha vida. Tanto
que eu considero que a minha forma de tratar pessoas é diferente do que uma pessoa que não
teve esse estudo. Por exemplo, a cordialidade ao tratar com pessoas, geralmente as pessoas
não levam muito em consideração o estado de vida da pessoa quando vai falar com ela. Eu já
tento passar uma conversa mais polida, mais respeitosa com essa pessoa, justamente porque
eu não sei qual é a luta dessa pessoa.
Pq - Como você vê a cultura japonesa no Brasil de forma geral?
Aluno 17 - A prática budista tem muitos termos do Japão pra denominar coisas. O nome das
práticas tem termos específicos em japonês e a gente acaba se acostumando. A gente acabou
incorporando isso na nossa vida como algo natural. Em Fortaleza, as pessoas veem mais a
parte gastronômica, só mencionando mesmo o japonês na parte gastronômica porque não
temos nenhum contato com o Japão cultural aqui em Fortaleza. Isso a gente vê mais nas
colônias do sudeste, São Paulo, no Pará, se não me engano. Mas aqui em Fortaleza é mais
difícil realmente. As escolas de japonês daqui só vão até o curso básico, que são 06 semestres,
pelo menos no Poliglota funciona assim. Se você quiser estudar do intermediário pra frente
você tem que ir para outra região estudar ou pro Japão mesmo.