Administrador!
Resumo
Foi elaborado a partir de revisão da literatura tanto sobre modelos de intervenção quanto
sobre diagnóstico organizacional mais especificamente, além da vivência de um dos autores em
processos de consultoria organizacional e em ensino da matéria ao longo de alguns anos. Os dois
autores, de posse de uma série de informações sobre o assunto, proveniente de investigações de
campo e de documentos, procederam uma sistematização conceitual, de forma a apresentá-lo,
didaticamente.
Considerações Iniciais
1
Resolução no. 2, de 04.10.93, que estabelece o currículo mínimo do Curso de Graduação em Administração,
carga horária mínima desse curso e outras considerações sobre o mesmo.
2
Após estas poucas considerações que demonstram parte de uma preocupação mais
acentuada com a matéria, é que sugerimos, então, discutir o assunto, aqui neste texto, através de
três itens: (1) Fundamentos do diagnóstico organizacional: do significado geral ao significado
que interessa ao administrador; (2) Desenvolvimento do diagnóstico organizacional: dos
diversos modos possíveis à tendência de cada um; e (3) Modelo organizacional e aspectos de
um modo de diagnóstico : do modo de pensar a organização ao modo de intervir/diagnosticar.
Além disto, nas considerações finais, pretendemos, a partir de uma experiência que está sendo
vivenciada, indicar uma estrutura disciplinar para o assunto.
Em tempo, como pudemos observar pela bibliografia indicada, diversos textos já foram
desenvolvidos por pensadores de diversas linhas de pensamento administrativo. O texto que ora
colocamos para a comunidade destacada diferencia -se dos mesmos no sentido de que ele
procura não só apresentar um método de desenvolver um diagnóstico, como trazer a baila
algumas reflexões importantes que facilitaria ao administrador encontrar um modo que lhe fosse
próprio, e não, torná-lo apenas um replicador de esquemas de outros.
Não pretendemos, por ora, esgotar o assunto, nem mesmo aprofundarmo -nos em todas
as particularidades, mas sim, abrir um novo espaço de debate, permitindo que avancemos no
instrumental inerente a quem administra. Ainda, a limitação de nosso discurso se prende ao fato
de apenas tratarmos o assunto de uma forma geral. Todavia, isto não nos parece uma restriç ão
para esclarecer o mesmo; muito pelo contrário, apresenta-se com a vantagem de introduzir a
questão, além de provocar uma angústia necessária a quem está envolvido – seja como
2
Isto vinha s endo feito através de disciplinas anteriores como Introdução à Administração (Administração I e
II) e Organização & Métodos.
3
estudioso, seja como praticante – neste processo que tentamos demonstrar como inerente ao
próprio ato de administrar organizações com ou sem fins lucrativos, de grande a micro empresas,
e em contextos de natureza diversa.
3
Por questão de conveniência, aqui neste texto, denominaremos tal processo de intervenção organizacional,
expressão característica em pensadores da abordagem do desenvolvimento organizacional, como poderá ser
percebida pela literatura correspondente indicada.
4
Em Grave (1990), colocou-se um significado de sobrevivência que amplia os horizontes de atuação do
administrador, justificando-o, inclusive.
4
É perceptível que o administrador, no seu dia -a-dia, tende a decidir com a base de
dados que lhe é disponível. Esta base de dados, por vezes, se apresenta não ordenada, não
sistematizada, provocando certas dificuldades de apreensão inequívoca da situação
organizacional – pois, é em vista de tal situação que ele toma as decisões de ajuste que devem
melhorar o estado atual (e futuro) da organização. Ilustrando, vejamos o comentário de
KEPNER & TREGOE (1980):
5
De acordo com o nosso modo de pensar a administração, preferimos o termo interveniência; contudo,
mantemos intervenção por ser mais comum no vocabulário da área.
6
Entendemos Administração como uma prática de mediação humana no que chamamos de Organização.
7
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Ed. Abril Cultural, 1971.
5
8
O grifo é nosso.
9
Seixas & Grave (1998) tentaram demonstrar que existem tendências humanas, diferenciadas, na explicação da
realidade – seja geral, seja organizacional.
6
vivências, distintos uns dos outros, que irão conformar nosso modo de pensar, decidir e agir.
Desta forma, resultarão modos diversos de apreensão da realidade.
Nossos estudos permitiram que isto fosse reafirmado. Vários modos são característicos
nas diversas abordagens administrativas conhecidas nos discursos dos pensadores nesta área de
conhecimento. Entendemos abordagem como um modo de tratar determinada questão;
chamamo-la de administrativa porque nossa atenção se prende ao comportamento de quem
administra ou de quem esteja tratando o problema organizacional com tal natureza. Mais ainda,
definimos comportamento como o pensar, o decidir e o agir; no caso da administração, como o
pensar, o decidir e o agir na mediação de pessoas associadas no trabalho intencional, produtivo e
coletivo, que definimos como organização.
Então, repetindo, de acordo com discussões que temos efetuado, diversos modos se nos
apresentam. Considerando que o diagnóstico é um dos componentes desses modos, é
observável, também, que os modos de diagnósticos são distintos, em conformidade com o modo
geral de intervenção. Todavia, vejamos um modelo geral que pudesse identificar uma intervenção
organizacional. Tomemos a intervenção organizacional – aspecto comum a toda e qualquer
abordagem – como um processo inerente ao ato de administrar. Como processo, o mesmo
compreende algumas etapas, independentemente do modo particular com o qual cada
administrador tratará a questão administrativa. É sobre uma dessas etapas que queremos falar: o
diagnóstico organizacional. A título ilustrativo, propomos o seguinte esquema geral:
diagnóstico organizacional
Figura 1 - Um esquema geral de intervenção organizacional voltado para uma mudança intentada
Podemos ver que os modos com ênfase em aspectos físicos salientam o saber fazer –
procuram saber objetivamente o que está ocorrendo e o que é preciso ser feito diante da
situação; já os modos que enfatizam os aspectos humanos salientam o saber compreender –
procuram entender porque que as coisas ocorrem como estão ocorrendo, um saber subjetivo da
situação em pauta. Estes referidos modos apresentam aspectos peculiares que os identificam10.
Os modos fisicalistas focalizam-se: (1) no objetivo, no prescritivo, no normativo; (2) nos
processos físicos; e (3) na relação do indivíduo com seus instrumentos de trabalho; os modos
humanistas : (1) no subjetivo, no explicativo, no orientativo; (2) nos processos humanos; e (3) na
relação das pessoas.
10
Os conceitos fisicalista e humanista foram apropriados de Seixas & Grave (1998).
11
”Faça um modelo antes de construir” [WHITEHEAD, in W. J. Reddin, Eficácia Gerencial. São Paulo: Atlas,
1981, p. 25].
8
A questão que se abre neste tópico é que a toda e qualquer ação administrativa, e o
diagnóstico é uma delas, precede uma realidade organizacional ou um esquema conceitual
da organização , que orientará a leitura, a análise e a interpretação do administrador da própria
realidade organizacional. Neste instante, esquema conceitual e realidade organizacional se
confundem - eis o sentido que estamos dando a modelo organizacional: uma realidade concebida
ou percebida a anteriori pelo administrador. Esta concepção se dá segundo conjuntos de
princípios, preceitos e valores a respeito do assunto, de domínio do examinador (quem
diagnostica).
So
Do
9
Ad
Ce Ci
Melhor dizendo, estes resultados indicarão o nível de ajuste das relações organizacionais:
melhor ajustadas, melhor desempenho; pior ajustadas, pior desempenho. Este
desempenho ocorre em vista de condições tanto externas e internas, variáveis interatuantes, que
refletirão no processo administrativo, exigindo determinado comportamento dos administradores,
manifestado em termos de seu pensar, decidir e agir nas questões organizacionais. Considerando
que a ação administrativa consiste, em essência, planejar e gerenciar a aplicação dos esforços
humanos no trabalho, estas se concretizam através de decisões: de Estratégicas a Operacionais.
Estratégicas, representando medidas de ajuste das macro relações organizacionais; Operacionais,
das micro relações organizacionais. Na prática, tais decisões serão expressas pelo administrador
por intermédio de Estratégias, Estruturas e Políticas & Procedimentos, no sentido de mediar as
relações entre os participantes organizacionais.
12
Note que estamos definindo desempenho como o ato e o fato de comportamo -nos; a atividade e os
resultados; os meios e os fins organizacionais que estejam associados com a sobrevivência qualificada da
organização.
10
que possam estar comprometendo a sobrevivência da organização; (2) exame das condições
causais, externas e internas, para verificação do contexto em que os desvios estão ocorrendo; e
(3) exame do modelo administrativo para averiguação das causas associadas aos referidos
desvios, pressupondo-os fruto de ações administrativas de várias ordens. Estes exames seriam
precedidos de ações preliminares que introduzem o processo intervencional e procedidos de
relatórios sobre a situação, caracterizando o problema organizacional: desvios de desempenho,
causas prováveis e conseqüências futuras.
Considerações Finais: do que foi exposto a uma proposta de disciplina para o Curso de
Administração
- analisar e interpretar as condições externas e internas que podem estar favorecendo tais
desvios; e por fim
Outrossim, o diagnóstico tem seu início em sintomas: (1) alguma coisa está errada; (2)
algo vai mal; ou (3) as coisas poderiam estar melhores. Assim sendo, repetindo NEWMAN &
WARREN (1980:245), poderíamos concluir que o diagnóstico começa com o sentimento de
uma oportunidade de melhoria. Logo, diagnosticar a organização na perspectiva do
administrador é examinar uma dada situação vigente 13, a fim de determinar o que é satisfatório ou
insatisfatório na referida situação - situação esta associada ao desempenho organizacional que
13
Definimos situação como o estado em que se encontra a realidade em um dado momento e espaço; por sua
vez, estado como as condições em que se encontram os elementos ou as variáveis e suas interelações que
constituem a realidade. Quanto a definição de realidade, podemos encontrar em Seixas & Grave (1998), de
acordo com nosso pensamento.
11
Sentimo-nos muito à vontade para dizer que, sem este exame, seja formal, sistematizado,
racional ou não, o administrador se depara com perguntas de diversas ordens, impossibilitando-o
de medidas efetivas no sentido de um desempenho necessário para manter a organização em
estado de sobrevivência duradoura. Entretanto, não somos ingênuos o suficiente para ter a
ciência de que, o diagnóstico é um dos múltiplos instrumentos de que o administrador precisaria
servir-se para tomar medidas efetivas; e mais, um instrumento com sérias limitações como (1) há
perigo de estreitamento da visão do administrador; (2) refere-se a algo que já sucedeu e não
necessariamente perdura; e (3) fala do futuro apenas através do passado14 . Mesmo assim, é
muito provável que o diagnóstico se identifique como um instrumento que, apesar de suas
profundas limitações:
14
Em verdade, o que precisamos mesmo é um instrumento que integre diagnóstico e prognóstico, dado que
entendemos ser o diagnóstico um exame da situação presente com base na situação passada (como resultado,
parecer sobre uma situação passada); e o prognóstico, exame da situação presente com base na situação
futura - possível, provável ou coisa assim (como resultado, parecer sobre uma situação futura).
12
Assim sendo, o diagnóstico para o administrador tem uma função mais ampla do que
teria para o médico. Parece-nos que, para o administrador, os problemas em si são focos
específicos, desculpas para buscar o entendimento do problema maior que é a compreensão da
própria realidade organizacional, realidade esta composta por inúmeras forças interagentes que
irão constituir as relações organizacionais, objeto de estudo da administração, em nosso
entendimento.
Seu conteúdo programático evoluiu nos últimos quatro anos, apresentando a seguinte
configuração:
Fonte de Consulta
ALBRECHT, Karl. Programando o futuro : o trem da linha norte. São Paulo: Makron Books,
1994
BARNARD, Chester I. As funções do executivo . São Paulo: Atlas, 1971 (1938)
BOWDITCH, James L. e BUONO, Anthony F. Elementos do comportamento
organizacional. São Paulo: Pioneira, 1992
BECKHARD, Richard. Desenvolvimento organizacional: estratégia e modelos . São Paulo:
Edgard Blücher, 1972
BUCHELE, Robert B. Diagnóstico de empresas em crescimento. São Paulo: Atlas, 1980
CARAVANTES, Geraldo R.; CARAVANTES, Cláudia; BJUR, Wesley. Administração e
qualidade: a superação dos desafios. São Paulo: Makron Books, 1997
CAVALCANTI, Marly; MELLO, Álvaro A. A. Diagnóstico organizacional: uma metodologia
para pequenas e médias empresas. São Paulo: Loyola, 1981
CELINSKI, Leszek. Guia para diagnóstico em administração de recursos humanos :
roteiros e instrumentos. Petrópolis: Vozes, 1994
14