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Títlllo do originol jiwICt',I'

Prefácio
Les preciellses ridicllles

Or~(l/liZoçiio do texto e /loto.\'


f
, Gustave Micilallt
/. 12 uma
coisa estranha que se imprimam as pessoas
à revelia delas. Não encontro nada igualmente injusto,

I
Trodllçiío e perdoarei qualquer outra violência mais que a essa.
Maria Cristina Guimal~s Não é quc cu queira aqui (ornar modesto o autor
e desprezar por honra I minha comédia. Ofenderia toda
Paris se a acusasse de ler podido aplaudir a uma tolice:
I'replIraçiio I tex I)( e, revi.l'iio
10 como o público é o juiz absoluto desse tipo de obra,
Gabor i\rany\ cu estaria sendo insolente desmentindo-o c, ainda que
tivesse tido a pior opinião do mundo sobre a minha
Precio,\'o,\' ridículo,\' antes de SUa represen(ação, devo
acreditar agora que ela vale alguma coisa, já que ta'ntri
gente a elogiou; mas como um:l grande parle da graça
que viralllnela depcnde da a~~ãoe do 10m dc voz,julgava
imporlanle não a despojarem desses ornamenlos e achava
que o Sueesso ohtido pelas Precio,\'o,\' na representação
j,í havia sido grande o suficiente para que parássemos
por ali. 2
Tinha resolvido, afirmo, não as representar senão
it vela , 1);11";1 absolutamente não dar a alguém a Opor-
tunidade ele dizer o provérbio\ e I não queria que elas

D'rcitos desta edição reservados por~ , I Jc:rl"'e,I'.I'âo 1Jtl.l'tol/t('ob.l'cllra, Moliáe '1uerl'l'iu t!i;('r: para adlJuirir
G, AR:NYI LIVROS-: EDITORA VERI~DAS ('SSU .,
hOllrox{/ rc-'1'1{/{IÇ'Üo di' Oll/or /JIor!l',\,/o?
Alameda dos Blcudo~, 360 - Na el'/la, ilulI/il/ada "utâo 1'01' I'ela,\' lJlI" 0.1'criado.l' t',l'pcl'ital'alll
IJO.\' il1letv{I/os .
Alpes da Cantarelra
07600-000 - MjlÍriporã - SP .• "lJi:-,,'" d" UII/a II/llllier 'lU" .1'(' aclia lit'!a (' 111/0L': 'l:'Ia é bOl/ita
Fone; (011) ,1K5-17M ti1(94)
luz da vc/o, lI/a,l' o dia ","traga Illtlo ", (Dictionnairc de I' Acaúérnic,

1<J97

11

, " Teatro de Bourbon para a Gal.er~a .d? Pa- versos franceses ou latinos6• Acho mesmo que seria lou-
pulassem do _ d 't/ -lo e tive a mfeltcldade
lácio·, Entretanto nao pu e eVI ~nh~ e a cair nas mãos vado em grego, e não se ignora que um encômio em
de ver.uma cópia roubada a ~: ~ma E:cl~lsividade obtida grego seja de uma eficácia maravilhosa no frontispício
dos edItores, acompan?ad 'to' "Oh tempos! oh costu- de ,um livro. Mas me dão a lume sem que eu tenha o
insidiosamente. Clamei mUI .t'nha necessidade de ser vagar de me examinar, e não posso nem sequer obter
mes!", fIzeram-me ver que eu I _ último mal a liberdade de dizer duas palavras para justificar minhas
' d er um processo, e esse
intenções] sobre o assunto dessa comédia. Gostaria de
publtcado
. d' ou. quee movo .
o prImeiro. . , , é preciso se deixar
AssI'n1
a1l1 a e ao
piO! 'ma u coisa fazer ver que ela se conserva sempre nos limites da
chegar destino e allt?rIzar . , que não se abs-
sátira honesta e decente; que as coisas mais notáveis
teriam de fazer sem ml,m. h embaraço é um livro a estão sujeitas à cópia feita por macacos maus que me-
Meu Deus! que estran o. . ira recem ser apupados; que essas imitações viciosas daquilo
dar a lume e um autor que ao ser PUbltcaddOaPd~I~:~p:eeu que há de mais perfeito foram desde sempre matéria da
" , , Se houvessem me ,
vez e amda Jovem. , mim e tomar todas Comédia e que, pela mesma razão que os verdadeiros
pelo meno~ t~ria Podl~~~~~~~~se~utores, agora meus Sábios e os verdadeiros bravos ainda não se lembraram
as precauçocs que os ,. m ocasiões como essa. absolutamente de se ofender com o Doutor ou com o
confrades, costumam tomdl e . uaI uer que à sua Capitão da Comédia, assim como os Juízes, os Príncipes
AI ~ ie 'lchar um grande senhOl q . q , e os Reis ao ver Trivelin ou qualquer outro no teatro
em ( '. Protetor de mmha obra e cUJa
revelia tomana como , d dicatória mOito representar de forma ridícula o juiz, o príncipe ou o
libcralidade tentaria com uma carta-. e . refácio

I!
rei; também as verdadeiras preciosas não teriam razão
f1oread'lj me daria ao trabalho de esclever um p de se irritar quando se encena as Ridículas, que as imitam
d,'to'e'belo e não me faltariam livros para me pr~vd~r mal. Mas enfim, como disse, não me dão tempo de
eru tudo
de 1
o que: se pode dizer de sábio sobre a , Trage sua
Ia
respirar, e o senhor de Luynes8 quer fazer a compilação
' C médi'l a Etimologia de ambas, sua on~em,
imediatamente. Em boa hora, já que Deus assim quis.
~ '~. iaão e ~~do o mais: Conversaria com amIgos, ~ue
e m aç recomen d"açao de minha peça não me recusanam ,
para

-I Do Paláciu c/a Justiça: onde e.\'!a\'(1111 eS!lliJelecidns as lojas dos

liI'friros l1uIis mod(~..


('1/1 . M I. Mamaroll, rico financista
det!icalvrw de Cmna n . (e
5 V r ti .
~. - I, reciar lima lragédill' A caçoada daJrase allten~r
towJml'Il1r lIICl1I'{/ .•.{, ( ar . 11 de Corneille e sobre seu lrmao
lall'c: "({lia igllalme/lll' sobre ~ ~~l I d 'spre'aro grllpo deMaU",e 6.Era () COS(Wll(' da época.
77wma.'i. inc!uÍl1o ('ntre os que ellta~ l.'Jftavam l .... 7 Note-se n precaurt70.
- -Df lJouroom'us", como ele dl:'W. 8 O edilor de Moliére,

12
13
PERSONAGENS

f'J\ c \ \ e re
AS PRECIOSAS RIDÍCULAS
LA GRANGE} Pretendentes recusados
DU CROISY
GORGIBUS - Bom burguês
MAGDELON - Filha de Gorgibus } preciosas ridículas
CATHOS - Sobrinha de Gorgibus
Comédia reprcsclIllIda /llI Pcti! BouriJon MAROTTE - Criada das preciosas ridículas
ALMANZOR - Criado das preciosas ridículas'
Marquês de MASCARlLLE2 - Criado de La Grange
T...-~~·...o: t'\~ ~'~~ Visconde de JODELET - Criado de Ou Croisy
DOIS CARREGADORES DE LITEIRA
sr, U,., 1/~"e..J-/'1 -i'1')'t- VIZINHAS
VIOLlNIST AS

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I I ProfllUJCirl-Jt' Mml/oll, entôo Marr6/. TralCl-u l/e llimilllllivos fJO·
"I pu/tires ou bHrglle,\'~s. Alman!or é o nome de WJT persOlIO~~ellJl/e Polcxandrc,
rOlllllflce de M, Ú~ Roi de Gomben·itle.
2 EJSt' p{lpel era desempenhado por Moli;,,.e.

15

DU CROISY

o que o senhor me diz dc nossa visita'! Ficou sa-


tisfeito com ela'!

LA GRANGE

CENA UM Na sua opinião tcmos ambos motivo para isso?

DU CROISY
La Gmngc. DII Cmis)'
Para falar a verdade, de modo algum.

LA GRANGE
DU CROISY
Quanto a mim. confesso que estou absolutamente
Senhor la Grange ... escandalizado. Onde já se viu, diga-me. duas pedantes
da província) se fazerem de tão rogadas quanto aquclas.
LA GRANGE e dois homens serem tratados com tanto desprezo quanto
nós? O máximo a que elas se dignaram foi a nOSoferecer
o quê? uma cadeira. Nunca vi duas pessoas cochicharem tanto
entre si como aquelas, bocejar tanto, esfregar tanto os
olhos e perguntar tantas vezes: Que horas são? Elas
DU CROISY ;J responderam com mais do que sim e não a tudo o que
,~ nós conseguimos lhes dizer? E enfim o senhor não concorda
Olhe um pouco para mim sem rir. comigo em que se fôssemos as piores criaturas do mundo
não nOStratariam tão mal quanto aquelas duas?
LA GRANGE
J O illl/}()1"UlIJll" lllJUj síio (lS paJa'r'rcIs "d" províllc;{/". TrfJfa·Sl' tle
Sim'! estahelecer lI"" mio Sl' visa o PaMcio clt: Bourgogne.
1
I

Ib 17

\
DU CROISY
gabando ,de ser galante e de versejm', c dc~prcza os
OU,lrOS cnados, chegando mesmo a chamá-los dc "ros-
Parece-me que o senhor se ressentiu demais com selros. o
o caso.

DU CROISY
LA GRANGE
E então, o que o senhor pensa em fazer com ele?
Por certo que me ressenti, e tanto que quero me
vingar dessa insolência. Sci por que fomos desprezados.
O ar pn:cioso não contaminou apenas Paris, ele se es- LA GRANGE
palhou também pelas províncias, e nossas donzelas
ridículas tomaram um bom hausto dele. Numa palavra, O que eu penso em fazer com ele! É preclso
. ...
M as antes vamos sair daqui,
não há nessas duas nada mais que uma mistura de afetação
e pretensa elegfmcia; sei como é preciso ser para merecer
cicias lima boa acolhida, e se o senhor confiar em mim,
nús lhes pregaremos utlla peça que as fará perceber sua
tol ice c as ensinará a conhecer um pouco melhor o mundo
elll que vivem.

DU CROISY

E como' será isso?

LA GRANGE

Tenho um criado de nome Mascarille que muita


gente considera uma espécie de alma sensível, pois nos
dias que correm não há nada mais barato que a alma
sensível. É um tipo extravagante que encasquetou de
querer passar por homem de condição. Está sempre se

I IX
1<)

CENA DOIS CENA TRÊS

GorKibus, J)u Croisy, [li Grallge Marotle, Gorgibus

GORGIBUS MAROTTE
O que deseja, senhor?
E então? O senhor viu minha sobrinha e minha
filha; as coisas vão bem? Qual foi o resultado de sua
vi.sita? GORGIBUS
Onde estiío as suas patroas?
LA GRANGE
MAROITE
O senhor ficaria mais bem informado conversando
com elas do que conosco. Apenas podemos lhe agradecer No quarto.
o favor que nos fez e proclamar que continuamo's a ser
seus humildes servidores.
GORGIBUS
Fazendo o quê?
DU CROISY

Seus humildes servidores. MAROITE


Pomada para os lábios.
GORGIBUS
GORGIBUS
Nossa' Parece que eles estão saindo mal satisfeitos,
Qual terá sido a razão desse descontentamento? Preciso Já chega de pomadas. Diga-lhes para descer. Acho
procurar saber. Êi! que essas velhacas com suas pomadas estão querendo

20 21
me tlrruinar. Por toda parte só vejo claras de ovo, leite - CENA QUATRO
virginal c uma infinidade de bugigangas que eu não
cOl;heço. Desde 4ue nós estamos aqui elas já usaram o
toicinho de lima dezena de porcos, pelo menos, e quatro
criados se alimentariam com os mocotós de carneiro Magdelon, Cathos, Gorgi!Ju.l'
que essas duas consomem diariamente para se embe-
lezar.

GORGlBUS

É realmente imprescindível gastar tanto para en-


gordurar o focinho. Digam-me o que vocês fizeram com
esses senhores que se despediram com tanta frieza ao
saírem daqui? Não lhes recomendei recebê-los como
pessoas que cu considerava seus futuros maridos?

MAGDELON

E COIllO, meu pai, o senhor queria que nós julgás-


semos o procedimento irregular daqueles dois?

CATHOS

Como uma jovem um pouco razoável poderia se


entender com eles, meu tio'!

GORGlBUS

E o que vocês reprOVarUlTInesses senhores?

23

se casasse com Mandane e sem mais aquela Aronee se


MAGDELON casasse com Clélic'.
Que linda galanteria, a deles! ESS;1 não! Começar
pelo casamento! GORGlBUS

O que é que ela está querendo dizer?


GORGIBUS

E por onde você queria que eles cOl~eç;~ssem? Pelo MAGDELON


concubinato'! O comportamento deles nao e motIvo de Papai, minha prima lhe dirá, assim como cu, que o
lisonja para vocês c para mim? Haveria algo mais casamento jamais deve o<:orrerantes das outras aventuras.
honroso que isso? E esse laço sagrado ao qual eles Um apaixonado, para ser agradável, deve saber manifestar
aspiram não é um testemunho da honestidade de suas seus belos sentimentos, empregar doçura, ternu-rae paixão,
intenções? e seguir regras precisas em suas sondagens. Em primeiro
lugar é necess{u-ioque a pessoa por quem ele vai se apaixonar
seja vista pela primeira vez num Templo, num passeio ou
MAGDELON
nalguma cerimônia pública; ou que ele vá ao encontro
Ah, meu pai! O que o senhor está dizendo é digno fatal na casa dela conduzido por um parente ou um amigo
do mais desprezível dos burgueses. Ouvindo-o fal~r'as- e saia de lá sonhador e melancólico. Durante algum tempo
sim fico envergonhada, e o senhor devia procurar saber ele esconde do objeto amado sua paixão. entretanto lhe
faz várias visitas, nüo deixando nunca de propor como
o que é de bom-tom.
tema de conversa uma questão galante que instigue a in-
leligência do grupo. Chega o dia da declaração, que
GORGIBUS normalmente deve ser feita na alameda de algum jardim,
numa oportunidade em que os acompanhantes se distanciem
Não qucro saber o que é de tom nem de melodia'. O
um pouco; e a essa declaração se segue imediatamente
que cu sei é que o C;L~amentoé uma coisa santa e sagrada
uma zanga, perceptível por nosso rubor, e que leva o apai-
e que começar por ele é próprio das pessoas honestas.
xonado a se afastar por um momento. Em seguida ele

MAGDELON
..• Fl'r.wnagl'lls,os primeiros do Gmnd Cyrus. 0.'1tillimos tle Clélic.
!"U11I(lflCeSde MallelcinC! de SClldéry assinados 1'01' seu imuio, Gl~orges
Meu Deus' Se todos parecessem com o senhor o
ti,., Scudéry. Trala· ..•e de obras caracu}ríJlicllS tia época do I',,~ciosismo.
romance logo acabaria! Que lindo seria se de saída Cyrus
25
24
encontra um modo de acalmar-nos e de mTancar de nós [neles exprime isso e que eles absolutamente não têm
essa confissão tão difícil. Depois disso vêm as aventuras: Iesse ar que Jogo nos leva a formar uma boa opinião
os rivais que logo se põem no cmninho de uma inclinação i sobre as pess_oas?Fazer uma visita amorosa com calções
já definida, a perseguição dos pais, o ciúme gerado por ,sem guarnlçao de renda, chapéu sem plumas, um pen-
falsas aparências, as queixas, os desesperos, os raptos e !teado simples e um casaco indigente em matéria de fitas!
ludooqueaelessesegue. Eis como as coisas são conduzidas 'IMeu Deus, que apaixonados são esses! Que frugalidade
segundo o bom-tom, e num galanteio fino essas regras Inos adornos e que conversa deselegante! Ninguém tolera.
nã"Opodem ser ignoradas. Mas chegar de repente na IObservel também que o peitilho deles não é bem-feito
união conjugal! Só fazer a corte junto com o contrato', e que para seus calções estarem na largura certa faltava
elecasamento e começar o romance pelo seu final! Repito, ,maiS de meio palmo.
meu pai, não há nada mais mercantil que esse proce- I
dimenlo, e eu fico nauseada só de imaginar isso.

GORGTBUS
GORGlI3US
Que diabo de discurso estou ouvindo? Isso é que Acho que as duas estão malueas e não entendo
r'da desse linguajar. Cathos, e você, Magdelon ...
alto estilo'
!
CATI-TOS
J MAGDELON
Na verdade, tio, minha prima tocou no essencial.j
Como se pode receber bem indivíduos tão inconvenientes l' Ah, meu pai, por favor, esqueça esses nomes es-
no galanteio? Garanto que esses dois ~unca viram o iranhos~ e nos chame por outros.
mapa do Amor Tcrno e quc Bilhetes Carinhosos, Agra- I
dinhos, Bilhctes Galantes e Lindos Versos são terras i
desconhecidas para eles5• O senhor não percebe que tudo!
; GORGTBUS

~o mapa 110 Amor Temo f lima alegorta.. eXistente e11l Clchc. ,.; O r Como! Nomes
•••.
estranhos?
~ •
Por acaso
( •
- -
ni.10 sao OS
viajallte, II{/rtimla da Amizade Nr",n, devia "assar "elas localülodes imo- pomes que voces receberam no batismo?
gil/{írill,\" til' /li/hei€' C(~rinllOso, {)(c., parti che~(lr a Amor Terno n.a I
J)cd{J((/çiio 0// fi Amor Temo lia Hstillln; III(/S SI' ele se 1J(~rde.\'se, corna I" .

I
() "".\'COl/e ir l/ar 110 Mar P(~rigo.w. Note-se () aclimulo de e.tpressóes! As preclOscu' se (Im1t:lllllOmeS rebu.fcalln.f (por exemplo Arlhénice,
preciosas na Jáia de emlLOs. '{'agr(/lIlll de ClI1/terille, para CI Madame de Rambouillel).
I '
I
27
I

MAGDELON CATHOS

Meu Deus, quanta vulgaridade! Uma das coisas No que me diz respeito, meu tio, tudo o que posso
que 11l,\isme espanta é o senhor ter sido capaz de fazer lhe dizcr é que acho o casamento uma coisa totalmente
uma filha tuo voltada para as coisas do espírito quanto ehocante. Como é possível tolerar o pensamento de se
eu. Por acaso no estilo galante já se ouviu falar em deitar ao lado de um homem nu em pêloB?
Cathos ou em Magdelon? E o senhor não reconhece
que bastaria um desses nomes para desacreditar o mais
MAGDELON
lindo romance do mundo?
Deixe-nos tomar um pouco de ar no ambiente fino
CATHOS de Paris, onde mal acabamos de chegar. Deixe-nos tecer
à vontade nosso Romance e não tenha tanta pressa de
É verdade, meu tio, que um ouvido um pouco delicado concluí-lo.
sofre furiosamente ao ouvir essas palavras; e os nomes
Polixcne, que minha prima escolheu, e Aminthe7, que eu GORGTBUS
me dei, têm uma graça que o senhor não pode negar.
(á parte) Não há a menor dúvida, elas estão com-
pletamentc doidas. (Em voz alia) Repito: não entendo
GORGIBUS nada dessas frioleiras; quero ser o senhor absoluto, e
para cortar esses discursos vou lhes dizer: ou voeês se
Ouçam: só há uma única palavra· que serve. Não casam logo ou, palavra de honra, as duas vão para o
enlra na minha caheça que vocês tenham outros nomes convcnto, isso eu prometo.
além dos que seus padrinhos e madrinhas lhes deram;
e quanto aos scnhores de qucm estamos tratando,conheço
a família deles e seus bens, e quero decididamente que
! vocês se disponham a aceitá-los como maridos. Já estou
cansado de carregá-Ias no colo, e para um homem da
r minha idade a guarda de duas jovens pesa um pouco.

7 Pulixl'ne e Aminthe siio nomes inspirados lia lileralllra contem- M Moliát' I'oltarrí a se ocupar do recaIO afetado das preciosas
l'0r/últ'!I til' Molii;re. eln Escola de mulheres, cella 3.

18 29
CENA CINCO CENA SEIS

Cai/lO,\', Maf{delofl Marolfe, Calhos, Magdelofl

CATHOS MAROTTE

Céus, minha cara, como seu pai tcm a cabeça tomada' Lá fora tem um criado perguntando se as senhoras
pelas coisas materiais' Que inteligência espessa e que estão em casa e diz que seu amo quer vir aqui para
alm:! sombri:!1 vê-las.

MAGDELON MAGDELON

o que você quer, minha cara? Estou confusa por Aprenda. sua tola, a se expressar com menos vul-
causa dcle. Custo a me convencer de que possa ser garidade. Diga: Está lá fora um necessário perguntando
verdadeiramente sua filha, e acho que algum dia uma se as senhoritas estão em comodidade de scr vistas.
,Ivenlura qualquer ir{1me revelar 11mnascimento mais
ilustre.
MAROTTE

CATI·JOS Ora! Eu não entendo nada de latim e não aprendi


filosofia num daqueles livrões de amor que as senhoras
Acredito que sim. Claro, todas as aparências do tanto comentavam.
mundo indicam isso; e também quanto a mim, quando
me olho ...
MAGDELON

Que insolente! Temos de agüentar isso! E quem é


o senhor desse lacaio?

31

MAROTIE CATHOS

Ele me disse que seu nome é marquês de Mascarille. Traga-nos o espelho, sua ignorante, e tome muito
cuidado para não sujar o vidro com a comunicação de
sua imagem.

MAGDELON

Ah, minha cara, um marquês\ Sim, vá dizer que


pode nos ver. Sem dúvida é um homem de alma sensível
quc ouviu falar de nós.

CATHOS

Seguramente, minha cara.

MAGDELON

Ele deve ser recebido aqui, e não em nossa sala;


vamos pelo menos arrumar um pouco os cabelos e fazer
jus :1 nossa reputação. Rápido, passe à minha mão o
conselheiro das graças.

MAROTTE

Juro por Deus. eu não sei que hicho é esse. Falem


língua de gente, se 'lucrem que cu entenda.

32 33
)
I

CENA SETE MASCARILLE

Heim'!

Mascarille. Dois Carregadores di: liteira


SEGUNDO CARREGADOR

Estou dizendo, senhor, para o senhor nos dar o


MASCARILLE dinheiro, por favor.
i
Êi!, Carregadores, êi! Parem, parem, parem! Acho
que esses patifes estão determinados a me quebrar, de MASCARILLE
tanto bater em muros e pedras.
. (dando-lhe uma bofetada) Como! Velhaco, pedir
dlllhelro a uma pessoa da minha qualidade'!

I
\
PRIMEIRO CARREGADOR

Ora essa, é que a porta é muito estreita. O senhor


queria que a gente entrasse até aqui.
SEGUNDO CARREGADOR

É assim que se paga aos pobres'! E nós vamos


'I ,' jantar a sua qualidade'!

MASCARJLLE

11 Sei disso. E vocês acham, seus patifes, que eu iria I


expor a boa disposIção de minhas plumas às inclemências .
MASCARILLE

Ah! Ah! Ah! Vou lhes ensinar. Esses canalhas ou-


da estação chuvosa e deixar a impressão de meus sapatos sam brincar comigo.
na lama'! Andem, levantem daqui esta liteira.

PRIMEIRO CARREGADOR
SEGUNDO CARREGADOR
(pegando um dos varais da cadeira) Vamos! Pa-
Então por favor nos pague, senhor. gue-nos logo .

.14
35

MASCARILLE MASCARJLLE

O quê'! Calma. Tome, isto é pelo bofetão. Com bons modos


as pessoas conseguem de mim tudo o que querem. An-
dem, venham me pegar mais tarde para irmos ao Louvre
pnvar da intimidade do rei. '
PRIMEIRO CARREGADOR

Disse que eu quero o dinheiro imediatamente.

MASCARILLE

Esse é razoável.

PRIMEIRO CARREGADOR

Então ande logo.

~-- MASCARILLE
r
I Assim está bem: você fala como deve ser; mas o
outro é um patife que não sabe o que diz. Tome. Está

t satisfeito'!

f
I

PRIMEIRO CARREGADOR

Não, não estou satisfeito; o senhor deu um bofetão


no meu companheiro e ... (Ergue o varal)
\
37

\I
CENA OITO CENA NOVE

M(lgdelon, C(l/hos, M(lscarille, Almanzor


M(lro/te, M(lscaril/e

MAROTTE MASCARILLE

Senhor, minhas senhoras não vão demorar. (depois de cumprimentar) As senhoras com certeza
estiio surpresas com a audácia de minha visita; mas sua
reputação lhes ocasiona essa situação desagradável, e o
MASCARILLE mérito tem para miril cncantos tiio poderosos que eu
corro até onde for preciso para encontrá-lo.
Elas não devem absolutamente se apressar; estou
esperando muito bem acomodado.
MAGDELON
MAROTTE Se o senhor persegue apenas o mérito, não é em
nossas terras que deve caçar.
Chegaram.

CATHOS

Para haver mérito em nossa casa foi preciso que


o senhor o trouxesse.

MASCARILLE

Ali!, vou lIpresenllu' UIII recurso contra essas pala-


vras. A Reputação lhes faz justiça ao comentar seu valor,

\

39

..i

,

e as senhoras têm nas mãos as cartas necessárias pa.ra , CATHOS


dar um capote em tudo o que há de galante em Pans.
o que o senhor teme?

MAGDELON
MASCARILLE
A complacência conduz um pouco longe demais
a liberalidade dos seus louvores, e nós não temos ne- Algum roubo de meu coração, algum assassinato
nhuma intenção, minha prima e eu, de considerar um de minha liberdade. Vejo aqui olhos com expressão de
alimento sério essa doce lisonja. gente muito esperta, de ladrões da liberdade, de carrascos
da a:ma. Como, diabo, logo que nos aproximamos, eles
se poem em guarda mortal? Ah!, palavra de honra, des-
CATHOS I confio deles e vou evitá-los, ou então quero uma garantia
Minha cara, seria preciso que trouxessem cadeiras. segura de que eles não me farão nenhum mal.

MAGDELON MAGDELON

Minha cara, ele é do gênero divertido.


Ô! Almanzor.

ALMANZOR CATHOS
,
l- Scnhora.
I
I Como o Amilcar do romance."
\:
MAGDELON

RClpido,realoque para cá as comodidades da conversa.


I MAGDELON

Não é preciso temer nada; nossos olhos não têm


Inenhum plano mau, e a simples promessa
bastar para seu coração dormir tranqüilo.
deles deve

MASCARlLLE
. '1
Mas pelo menos há segurança para mim aqUi. 9 Personagem ele Clélic. Cartagin;;,r jnl'ia! e g{l/(llIlt'.

40 41
CATHOS MASCARlLLE

Mas por favor, senhor, não seja (nexorável com A cidade está um pouco lamacenta; mas sempre
essa pollrona que lhe estende os braços há um quarto há as liteiras.
de hora; satisfaça um pouco seu desejo de abraçá-lo.

MAGDELON
MASCARILLE
Na verdade a liteira é um entrincheiramento móvel
(depois de se pentear e de ajeitar () babado dos maravilhoso contra os ataques da lama e do mau tempo.
calçr7e.\) Então, senhoras, o que estão achando de Paris?

MASCARILLE
MAGDELON
. Recebem muitas visitas? Que homem de espírito
Ai de nós! O que poderíamos dizer? Seria preciso pnva com as senhoras?
ser o antípoda da razão para não confessar que Paris é
o grande cenáculo de maravilhas, o centro do bom gosto,
do espírito fino e da galanteria. MAGDELON

Ai de nós. Ainda não somos conhecidas; mas temos


MASCARILLE condIção ~e sê-lo, e uma amiga particular nos prometeu
trazer aqUI todos aqueles senhores que estão na Coleç(io
Tenho para mim que fora de Paris não há absolu- de Poesias Esco{hidas.
tamente salvação para as pessoas de bem.

CATHOS
CATHOS
E outros que nos foram recomendados como árbitros
É uma verdade incontestável. oberanos das coisas do espírito.

42 43

MASCARILLE isso ~ue fazem~s figura em sociedade; e se uma pessoa


Jgno~aAes~ascOIsas cu não dou o menor valor a toda a
Ninguém melhor que cu resolverá o problema das II1tehgencIa que ela possa ter.
senhoras: todos eles me visitam, c posso lhes garantir
que nunca me levanto sem estar rodeado por meia dúzia
de homcns de alma scnsível. CATHOS

,Com efeito, acho que é se exceder no ridículo


MAGDELON alguem se gabar de ser um espírito refinado e não
saber nada d.o que está acontecendo hoje; e no que
Oh' Meu Deus! Ficaremos em dívida eterna com
me diZ respeito, eu morreria de vergonha se viessem
o senhor por esse favor de amigo; pois afinal é preciso
n:e perguntar se vi alguma coisa nova e eu não t'
contar com o conhecimento de todas essas personalidades VIstO. Ivesse
sc quiscrmos freqüentar os ambientes requintados. São
elas que dão um empurrãozinho na reputação que se
adquire em Paris; e o senhor sabe que basta sermos MASCARILLE
IUlbituées de algumas delas para ficarmos com a fama
ele ilustrada. mesmo que seja só por isso. Maspara mim, É mesmo vergonhoso não estarmos a par de tudo o
o que acho particularmente importante é que atp~és qu~ se faz; m~s não se aflijam: quero introduzir nesta casa
dessas visitas ilustres somos instruídas sobre centenas
uma AeademH~de almas sensíveis e prometo-lhes que as
de coisas cujo conhecimento é indispensável e'que fazem
senhoras sabemo de c~r antes de qualquer outra pessoa
parte da essência das almas sensíveis. Por esse caminho
lodos os versmhos escrItos em Paris. Este que está diante
sempre chegam ao nosso conhecimento as noticiaúnhas
das
, .senhoras t,mlbém
_ .se defende um pouc'o quan d o quer,
galantes. as delicadas trocas de Prosa e Verso. Assim
se sabe que fulano escreveu a peça mais linda do mundo ~:I~. s~nh~ras verao que, nas mais requintadas alcovas de
sohre um tal assunto; fulana é a autora da letra de tal an.s .a mmha larva esta presente em duzentas Canções,
melodia; esse fez um madrigal sobre uma noite de fe- oullos tantos Sonetos, qlJatrocentos Epigramas e mais de
licidade; aquele compôs estrofes aludindo a uma mil Madngms, sem faJar nos Enigmas e nos Retratos.
infidelidade; o senhor fulano fez ontem uma sextilha
para a senhorita fulana e ela lhe respondeu esta manhã
MAGDELON
às oito horas; um certo Autor tem um determinado pro-
jeto; outro escreve um Romance, estando já no terceiro Confesso-lhe que SOl! furiosamente entusiasta dos
volume; outro, ainda, vai ter o seu publicado. É com etratos; para mim não há nada tão galante.' .

\
I;(
44
45
__ ' _o. ~_

MASCARILLE
MASCARILLE
Os Retratos são difíeeis de escrever e exigem um
espírito profundo: as senhoras ~erão alguns dos que eom- Prometo dar um a eada uma das senhoras, e dos
pus; eles não lhes desagradarao. que estiverem com melhor encadernação. Apesar de isso
não fazer jus à minha condição, concordo com a pu-
blicação para dar uma renda aos livreiros, que ficam
CATHOS me perseguindo.

Quanto ú mim, eu amo terrivelmellle os Enigmas.


MAGDELON

MASCARILLE Imagino quão grande seja o prazer de ver impressa


"'assa obra.
Eles instigam o espírito. Fiz quatro ainda esta manhã
e vou recitar-lhes para que as senhoras os resolvam. MASCARILLE

Sem dúvida. Mas, 11 propósito, preciso lhes dizer


MAGDELON um improviso que fiz ontem na casa de uma duquesa
minha amiga, a quem visitei. Sou diabolicamente forte
Os Madrigais são agradáveis. quando bem elaborados. nos improvisos.

MASCARILLE CATHOS

Esse é o meu talento particular, e .presentemente O improviso é justamellle a pedra de toque do espírilo.
estou pondo em Madrigais toda a históna romana.
MASCARILLE
MAGDELON Então escutem.

AI1', claro, será a suprema das belezas; vou querer


pelo menos um exemplar, se o senhor os mandar im- MAGDELON
primir.
SOmos todas ouvidos.
46
.
(' 'i
47

MASCARILLE
MAGDELON
Oh! Oh! Eu lUla cuidei de me acautelar;
Sim, acho esse "Oh! Oh!" admirável.
Enquanto a mirava, sem com o mal sonhar,
A sorrel/á seu olhar me mlllJolI () coraçüo.,
Pega leI/irão!Pegaladrüo! Pega ladrão! Pega ladrão!
MASCARILLE

CATHOS Talvez não seja assim tão extraordinário ..

Ah' Meu Deus! É vazado no mais puro estilo ga.


lante.
CATHOS

,
i
i
MASCARILLE

Tudo O que faço tem o clima cavalhei.resco; 'esse


improviso absolutamente niío sabe a pedantIsmo., '
Ah, meu Deus, o que o senhor está dizendo? É
uma dessas coisas que não têm preço.

r MAGDELON

Scm dúvida, e eu preferiria ter feito essc "Oh! Oh '"


MAGDELON do que Ulll poema épico.

Ele está a mais de duas mil léguas de distânda do


pedantismo.
MASCARILLE

MASCARILLE Por Deus! A senhora tcm llluito bom gosto.

As senhoras observaram o começo: "Oh! Oh!"? É


extraordinário. "Oh! Oh!" Como um homem que subi·
tamente pt'l'l'ehe as coisas: "Oh! Oh!" A surpresa: "Oh! MAGDELON
Oh!"
I~, não é de todo mau.

49
MASCARILLE Pega ladrão!" As senhoras não ficam imaginando um
homem que grita e corre atrás de um ladrão para que
Mas as senhoras também não admiram isto: "Eu o prendam: "Pega ladrão! Pega ladrão! Pega ladrão!
não cuidei de me acautelar"? "Eu não cuidei de me Pega ladrão!"?
acautelar"! Eu não cheguei a me aperceber da coisa, é
um modo natural de falar, "Eu não cuidei de me acau-
telar". "Enquanto a fitava", quer dizer, me entretinha MAGDELON
em sua contemplação, a observava, mirava-a com aten-
ção, "sem com o mal sonhar'::. inoc~~,temente, sem É preciso admitir que é uma reviravolta inteligente
malícia, como um pobre cordemnho, A sorrelf~ s:u e galante.
olhar. .." O que as senhoras acham dessa expressa0 à
sorrelfa"? Não foi bem escolhida?
MASCARILLE
CATHOS
Vou lhes recitar a ária que escrevi para esses
Primorosamente. versos.

MASCARILLE
CATHOS
À sorrelfa! Às escondidas; parece um gDto que aca-
o senhor estudou musica?
bou de pegar um rato. À sO'Te1fa!

MAGDELON MASCARILLE

Não haveria palavra melhor. Eu? De modo algum.

MASCARILLE
CATHOS
"Me roubou o coração", levou meu coração, arre-
batou-o de mim. "Pega ladrão! Pega ladrão! Pega ladrão! E então como é possível uma coisa dessas?

51

MASCARILLE
MASCARILLE
As pessoas de qualidade sabem tudo sem jamais As senhoras não acham que o canto expressa bem
ter aprendido nada. o pensamento? "Pega ladrão! ...••E depois, como se gri-
tassem bem alto: "Pe, pe, pe, pega ladrão!" E de uma
vez só, como alguém que perde o fôlego, "Pega ladrão!"
MAGDELON

Certamente, minha cara. MAGDELON

Chama-se a isso saber o porquê das coisas, o sentido,


MASCARILLE a intenção das intenções. Tudo é maravilhoso, garanto-
lhe; estou arrebatada pela ária e pejos versos.
Escutem e vejam se lhes agrada: hã, hã; la, la, la,
la. A brutalidade da estação ultrajou furiosamente a deli-
cadeza das minhas cordas vocais; m'LSnão tem importância, CATHOS
é sem compromisso. (Canta.)
Nunca vi nada tão vigoroso.
"Oh! Oh! Eu mio pude me acautelar ... "
MASCARTLLE
CATHOS Tudo o que faço me chega de forma natural: sem
estudo.
Ah! Que ária tão apaixonada! Ela não nos faz morrer?

MAGDELON
MAGDELON
A natureza o tratou como mãe apaixonada, e o
o ouvido logo percebe a cromática 10 senhor é seu filho dileto.

la Os dicionários da época deixam claro que não se sabia ao cerlo MASCARILLE


() {fIlC' {/ r.\'prt'.'iScio "cromnfic{/ ", Ma.\' Magdelon faz questão
Jigll(!ic(II'(l
c/c' Imm ('I'iclt'nciCl"
{'IIlflfl',l!.ci·/a ,\'CII /"'('/Utro.
o que as senhoras fazem para passar o tempo?
52
53
- ': 2

CATHOS MAGDELON
Em nada. Não precisa dizer mais nada. Paris é um lugar ad-
mirável. Aqui acontece diariamente uma centena de
MAGDELON coisas que se ignoram nas províncias, por mais que se-
Jamos voltados para o espírito,
Até agora estamos num terrível jejum de diversões.

CATHOS
MASCARILLE
Ofereço-me para lev{l-];lS ao teatro qualquer dia Basta; agora que estamos instruídas, cumpriremos
destes, se as senhoras quiserem; vão representar lá uma com nosso dever de aclamar devidamente tudo o que
for dtlo.
peça nova e eu gostaria que a víssemos juntos.

MAGDELON MASCARILLE
Não há como reeusar. Não sei se me engano: mas a senhora têm todo o
jeito de já ter escrito alguma peça.
MASCARILLE

Mas peço-lhes que aplaudam devidamente quando MAGDELON


estivermos lá, pois me comprometi a promover a Peça
e o Autor voltou a procurar-me esta manhã para me Ah! Há um pouco de verdade no que O senhor diz.
pedir isso, Aqui é costume os Autores irem ler para
nós, pessoas distintas, suas peças novas a fim de fazer-nos
MASCARILLE
nos comprometer a gostar delas e lhes dar uma boa
rcputação: imagine se quando nós dizemos alguma coisa Ah, palavra de honra, temos de vê-la. Cá entre
a galeria ousa nos contradizer. Sou muito rigoroso nisso, nós, eu escrevi uma e quero que seja encenada.
c quando prometo a um Poeta, grito sempre: "Eis uma
bela peça!" antes de se acenderem as velas'l.
CATHOS
I\ Veja {/ nota 2 do prefeício de Mo/iere.
Ah! E à que companhia o senhor vai entregá-la?

ss

MASCARILLE
MAGDELON
Boa pcrgunta' Aos grandes Comediantes12, Só eles
são capazes de fazer valer as coisas; os outros são ig- Furiosamente bem. É sem dúvida da Perdrioeon'3
e .
norantes que recitam como se fala; não sabem fazer
ressoar os versos nem parar nos pontos bonitos; e como
MASCARlLLE
saberemos onde há um ponto bonito se o ator não faz
uma pausa e com isso nos alerta de que precisamos O CJueacham da renda de meus calções?
comunicar à pessoa ao lado a nossa admiração?

MAGDELON
CATHOS
De absoluto bom-tom.
Com efeito, há sempre um modo de levar a platéia
a notar a beleza de um~1obra, e as coisas não valem
senão pelo que as fazemos valer. MASCARILLE

MASCARILLE P~sso me gabar de que há no mínimo um quarto


de vara a maIS que nos calções comuns.
O que as senhoras acham de meus acessórios? Com-
binam eom a roupa?
MAGDELON

CATHOS Preciso admitir que nunc ' I


a VJ e evada a tal ponto
a c Iegancia dos adornos.
A

Perfeitamente.
;.1
IA, .,' MASCARrLLE
MASCARILLE
1 \
i '1 olfato~mpreste um pouco a eslas luvas a reflexão de seu
! ;, Escolhi bem a fita?

12 A exrrC.'iJêío "ns gNllldes comediantes" era comum para designar


13 A Perdrigeo'l 0/1 P d' ,
\.\1 (I lroupe lif' MoJiêre. Este. evitlttl1lcmenle. (l emprega com ironia. marinhos ,er /gi ou, era WJ1(/ Prc'stil:iat1" loja d(~ Gr-

,,\ 56
57
MASCARlLLE
MAGDELON
Sabem que pago um luís de OUJO por cada uma
Elas têm um odor terrivelmente bom.
delas? Tenho essa mania de comprar tudo o que há de
mais belo.

CATHOS
MAGDELON
Jamais respirei um odor de tão fina mistura.
Asseguro-lhe que há simpatia entre nós: sou de
Ullla delicadeza furiosa com tudo o que uso; e, mesmo
MASCARILLE as meias só as tolero quando feitas por boas obreiras.

E esse aqui? (reclillando a cabeça para que elas


MASCARILLE
cheirell/ .1'/111 peruca empoada)
(griwndo bruscamente) Ai' Ai' Ai' Vamos com
calma. Que Deus me condene, senhoras, mas isso já é
MAGDELON demais; tenho queixas a fazer sobre o comportamento
das senhoras; isso não se f,\z.
É de absoluta qualidade; a sede de meu intelecto
roi deliciosamente atingida por ele.
CATHOS

MASCARILLE o que houve? O que tem o senhor?

As senhoras nada me disseram de minhas plumas;


MASCARILLE
o que acham delas?
Ora! As duas contra o meu coração ao mesmo tem-
po? Atacando-me pela direita e peja csquerda? Ah, isso
CATHOS ol'l'nde o direito dns pessoas: é uflla luta desigual; vou
gritar pedindo socorro.
Espantosamente belas.
59

CATHOS
CENA DEZ
É preciso admitir que ele diz as coisas de um modo
particular.

Mamtte, Mascarille, CallIOS, Magdcloll


MAGDELON

Tem uma sutileza de espírito admirável.


MAROTTE
CATHOS
Senhora, estão pedindo para vê-la.
o senhor sente mais medo que dor, e seu coração
grita antes que o escalpelem,
MAGO ELON

MASCARILLE Quem?

pó.
", MAROTTE
.}
"

1
o viscondc de lodelet.
.~
"·1
i
<

MASCARILLE
I~
!~ o visconde de lodclet?

MAROTTE

Sim, senhor.

61
CENA ONZE
CATHOS

Conhece'! JodeLel, Mascarilie, CaliJoS,


MafideLol1. Marotle, Almanzor
MASCARILLE

É me,\ melhor amigo.


MASCARILLE

MAGDELON
Ah, visconde!
Faça-o entrar rápido.
JODELET
MASCARILLE
(abraçam-se) Ah, marquês!
ee~IOUmaravilhado
Não no~ vemo~ há algum tempo .
eom este encontro fortUito.
MASCARlLLE

CATHOS Corno estou contente de encontrá-lo!

Ei-\o.
I JODELET
\
q
.. Que alegria sinto vendo-o aqui!

MASCARILLE

i Beije-me mais uma vez, por favor.


; -.;
i
I
I
I·:


MAGDELON
MAGDELON
.'
'omeçamo~ a ficar conheci- (dirigindo-se a Almanzor) Vamos, rapazinho, é pre-
(a Cnlhos) Meu .1n)O,c _
. '1 caminho para no~ ciso sempre repetir as coisas? Não vê que é necessário
das: () mundo requmtado poe-se • o acréscimo de uma poltrona?
ver.

MASCARlLLE
MASCARILLE
. \l . apre~ente este cava- Não se impressionem com o aspecto do visconde;
Senhoras, permitam ~ll~e .'e~ que' ele é digno de ele acabou de sair de uma doença que deixou seu rosto
Iheiro. Dou-lhes mmha p.1 .lVr.1ce pálido como as senhoras vêem.14
que as senhoras o conheçam.

JODELET
JODELET
São os frutos das vigílias da Corte e da~ fadigas
'. . . . es o ue lhes devemos, e os atra- da Guerra.
t, Justo lendel-lh. q . lin:itos senhoriais sobre
livos das senhoras cobran, seus l . .,
todos os tipos de pe~soas. MASCARILLE
As senhoras sabem que esse visconde que aqui
MAGDELON está é um dos homens mais intrépidos do nosso século?
É um bravo a toda prova.
. . ' .... civilidades até os últimos con-
Isso c lOonduzlI SUtiS
I'ins do li~on.ieiro. .
JODELET

E você não fica nada atrás, marquês, e si'bemos


CATHOS do que é capaz.
em no~so almanaque
Este dia vai ficar marcac Io
como um dia de bem-aventurança. 14 Alusão ao rosto enfarinhado do ator de farsa ou talvez à doença

tl que se refere o personagem no final ({a cena OIlU.

65
MASCARILLE
MASCARILLE

É verdade. já nos vimos em algumas ocasiões. É o que me faz querer abandonar a espada.

CATHOS
JODELET
Por mim, tenho uma simpatia furiosa pelos homens
E em lugares onde fazia muito calor.
d e espada.

MASCARILLE
MAGDELON
(o/hando para as duas) Sim, mas não tanto quanto
aqui. Ai! Ai! Ai' Eu também os estimo; mas quero que o espírito
tempere a bravura.
JODELET
Nosso conhecimento se fez no exército, e a primeira MASCARILLE
vez em que nos vimos, ele comandava um regimento
da Cavalaria nas galés de Malta. . ~~Cê se lembra, visconde, daquela fortificação em
meIa- U,\ que tomamos ao inimigo no cerco de Arras?
MASCARILLE

É verdade: enlretanto o senhor já eslava nesse em- JODELET


prego antes de mim. e me lembro de que eu não passava
de um oficialzinho quando o senhor já comandava dois o que você quer dizer com meia-lua? Era lua cheia.'5
mil cavalos.
15
MP {) /( re I'0JSi\ldmente se ba.reou num faro , .'
JODELET um administrador provincial que apesar lie valoroso :~ ocorr;l!O c~m
versado na remlinologia militar. Segluu/o a crônica c I o era" li mUlto
A Guerra é uma bela coisa; mas, palavra de honra, puseram (J esse ifuliv(dllO que rUis ferrar wb \''U onreml'0ranea, pro-
lima meia-lua, A resposta d l" ,. : (; governo S(I ergm'sse
a Corte recompensa muito mal quem, como n6s, serviu do rei niio Si': a o {umlfustrador fOI a seguinte: "No serviço
fi l nada pela metade: façamos uma lua inteira",
no exército.
(,7

JODELET
MASCARILLE
(descobrindo o peito) Eis uma bala que me atra-
Acho que você tem razão. vessou de um lado a outro no ataque de Gravelines.

JODELET MASCARILLE
Por certo que me lembro, earamba: fui ferido na Ih (pondo a müo no botüo (/e seu.I· calções) Quero
perna com um tiro de granada do qual ainda trago a e mostrar uma ferida furiosa.
cicatriz. Pegue aqui, por favor; a senhora vai sentir
alguma coisa: aí.
MAGDELON
CATHOS
. N~o é necessário; acreditamos no senhor sem pre-
(depois de apalpar o hlRar) É verdade, a cicatriz cisar vc-Ia.
é grande.

MASCARILLE
MASCARILLE

Dê-me um pouco sua mão e veja isso; aqui, logo nós. São marcas honrosas que revelam quem somos
abaixo da nuca. Achou?

CATHOS
MAGDELON
Não duvidamos nem um pouco do que os senhores
Sim, estou sentindo alguma coisa. são.

MASCARILLE MASCARILLE
Foi uma bala de mosquete recebida na última cam- Visconde, sua carruagem está .lá fora?
panha cm que lutei.
69
MASCARILLE
JODELET
Êi! Champagne, Picard, Bourguignon, Cascaret,
Por quê? Basque, la Verdure, Lorrain, Provençal, Ia Violettel Que
todos os serviçais vão para o diabo! Acho que na França
inteira não deve haver nenhum cavalheiro tão mal servido
MASCARILLE quanto eu. Esses canalhas sempre me deixam só.
poderíamoS levar essas jovens a passear nos arre-
dores da cidade e lhes daríamos um presente.
MAGDELON

Almanzor, diga ao pessoal do senhor.marquês que


MAGDELON busque os violinistas e chame os cavalheiros e damas
da vizinhança para povoar a solidão do nosso baile.
Hoje não podemos sair. (Almanzor sai)

MASCARILLE MASCARILLE

Então vamos chamar os violinistas e dançar. Viseonde, o que voeê diz desses olhos?

JODELET
JODELET
E você, marquês, o que acha deles?
Por Deus, é uma boa idéia.

MASCARILLE
MAGDELON
Digo que nossos sentimentos a custo sairão daqui
. n1as será necessário de calças limpas. Pelo menos no que me tange, recebo
Com isso nós consentimos;
estranhos abalos e meu coração está por um fio.
um acréscimo de companhia.
71
70

MAGDELON honra, quando tiver tempo livre lhes escreverei um im-


proviso que as senhoras acharão o mais belo do mundo.
Como tudo o que ele diz é natural! Ele trata as
coisas cio modo mais agradável do mundo.
JODELET

CATHOS Ele é inteligente como um demônio.

É vcrdade que ele gasta furiosamente sua inteligência.


MAGDELON

MASCARILLE E galante, e que palavras elegantes ele usa!

Para lhes mostrar que sou autêntico, quero fazer


um improviso sobre isso. (Reflete) MASCARILLE

Visconde, diga-me, faz muito tempo que você não


CATHOS vê a condessa?
Oh', com toda a devoção de meu coração eu lhe.
suplico que faça isso. Ter alguma coisa feita para nós! JODELET
Há mais de três semanas que não a visito.
JODELET
Eu também "ostaria de fazer o mesmo; mas ando MASCARILLE
com a veia poética um pouco prejudicada, devido à
quantidade dc sangrias que fiz nestes últimos dias. Você sabe que o duque veio me ver hoje de manhã
e quis me levar consigo ao campo para a caça a um
cervo?
MASCARlLLE

Que diabo está acontccendo? O primeiro verso se~- 'MAGDELON


pre me vem fácil; mas tenho dificuldade com os demms.
Não gostaria de fazer isso às pressas, mas, palavra de . Nossas amigas' estão chegando.

72 73
CATHOS
CENA DOZE
Então vamos, minhas caras, tomem seus lugares.

Jodelel, MascariLLe. Calhas. Magdelon, Marotle. MASCARILLE


Lllcile, Célimime, Almanzor, os violinistas
(dançando sozinho como em prelúdio) La, la, la,
la, la, la, la, la,

MAGDELON
MAGDELON
Meu Deus' Minhas caras, pedimos-lhes perdão. Es-
ses senhores tiveram a fantasia de trazer música para Seu porte é elegantíssimo.
nos animar os pés, e nós mandamos diligenciá-Ias para
preencher os vazios de nosso grupo.
CATHOS

E parece que ele dança bem,


LUCILE

Sem dúvida estamos agradecidas por isso. MASCARILLE

(tendo tirado Magdelon para dançar) Meu coração


vai dançar esta corrente com a mesma leveza dos pés.
MASCARILLE Na cadência, violinos, na cadência. Ah, que ignorantes!
Não é possível dançar com eles. Que o diabo os carregue!
o baile é improvisado; mas qualquer dia destes Vocês não sabem tocar com ritmo? La, la, la, la, la, la,
vamos dar um de acordo com os preceitos. Vieram os la, la. la. Mais rápido, seus caipiras.
violinistas~

JODELET
ALMANZOR
(dançando em seguida) Êpa, não acelerem tanto
Sim. senhor, estão aqui, assim a cadência; estou saindo de uma doença.

75
74

CENA TREZE CENA CATORZE

Os ilnteriores, DII Croisy, La Granfie, Mascarille Mascarille, lodelet, Cathos, Magdelon, etc,

LA GRANGE MAGDELON

(com 11mbasliío /1a miío) Ah! Ah! Patifes, o que O que significa isso?
vocês fazem aqui? Estamos à sua procura há três horas.
JODELET
MASCARlLLE
É uma aposta.
(sendo sl/rrado) Ai! Ai! Ai! O senhor não me disse
que haveria uma surra. '
CATHOS
JODELET
Como! Permitir que os espanquem dessa forma?
Ai! Ai! Ai!

LA GRANGE MASCARILLE

Só mesmo vocês, seus infames! Querendo se passar . Meu ~eus! Eu não quis deixar transparecer nada,
por homens importantes, pOIS sou Violento e me exaltaria.

DU CROISY
'MAGDELON
Espero que isso lhes tenha feito lembrar quem são
vocês. (Saem os dois.) Suportar uma afronta dessas na nossa presença?

76 77
MASCARlLLE
CENA QUINZE

Não foi nada, vamos terminar a dan~a. Nó~ nos


conhecemos há muito tempo, e entre amIgos nao se
Du Croisy, La Grange, Mascaril/e, lodelel,
z.anga por tão pouco. Magdelon, CaI/lOS, Marotte, Lucile, Célimelle,
Almanzor, os violinistas

LA GRANGE
Ah, seus patifes, vocês não vão rir ~IS nossas custas,
isso eu prometo. E vocês aí, entrem. (Entram três ou
quatro espadaclzins)

MAGDELON

Como ousam os senhores vir nos incomodar desse


modo em nossa casa?

DU CROISY

Como, senhoras, podemos suportar ver nossos la-


caios serem mais bem recebidos que nós? Que eles
venham às nossas custas cortejá-las e lhes oferecer um
baile?

MAGDELON

Seus lacaios?

79
7R

suas belas, terão de procurar outros patrocinadores, ga-


LA GRANGE ranto-lhes.
Sim, nossOSlacaios, e não é nem bonito nem honesto
desencaminhá-los como fazem as senhoras. LA GRANGE

É demais, suplantar-nos e ainda por cima com nossas


MAGDELON próprias roupas.

Oh, céus! Que insolência!


MASCARILLE
LA GRANGE Oh, como a Sorte é inconstante!
Mas eles não terão a vantagem de se val.er de noss~s
rou as ara cortejá-las, e se as senhoras qUiserem, a~a-
\oS:s~ri, garanto-lhes, pelos belos olhos deles. Rapldo, DU CROISY
vamos despojá-los aqui mesmo.
Depressa, vamos tirar toda a roupa deles.

JODELET
LA GRANGE
Adeus nossa elegilllcial
Levem esses trapos, rápido. Agora, senhoras, do
jeito que eles estão, sintam-se à vontade se quiserem
MASCARILLE continuar seus ,amores. Vamos deixá-las em total liber-
dade para isso, e declaramos, este senhor e eu, que não
Era uma vez o marquesado e o viseondado. ficaremos nem um pouco eneiumados. (Saem ambos)

DU CROISY CATHOS
Ah ah patifes, vocês tiveram a audácia de concorr~r Ah, que confusão!
conosco~ S~ quiserem sc tornar atraentes para sedUZir
RI
l\O
CENA DEZESSEIS
MAGDELON

Estou a ponto de arrebentar de raiva.

Os mesmos, Gorgihus
UM VIOLINISTA
• E agora.. ') Quem vai nos pagar?
(ao marques)
GORGlBUS

MASCARILLE Ei, seus infames! Puseram-nos em maus lençóis,


pelo que estou vendo, fiquei sabendo de belas coisas
Peçam ao senhor visconde.
1 contadas por esses dois senhores que acabaram de sair!

O VIOLINISTA \ MAGDELON
. h' ?
(a .Im/der) Qucm vai nos dar o dm elro. iI
Ah, meu pai, eles nos pregaram uma peça dolorosa.

JODELET GORGlBUS

Peçam ao senhor marquês. Sim, é uma peça dolorosa, mas que só aconteceu
por causa da impertinência de vocês, suas infames. Eles
fiearam sentidos com o tratamento que vocês lhes deram,
e entretanto, coitado de mim, eu tenho de suportar a
:lfronta.

MAGDELON

Ah, mas juro que nós vamos nos vingar, senão eu


morro de amargura, E vocês, patifes, ousam continuar
aqui depois dessa insolência?

83

.~ w_,,,,.·=ct.::~:.·_:::,-., ':.;- - -

I
'/

MASCARILLE
i CENA DEZESSETE
oi
. ~.? O mundo é assim!
'.I.
Tratar desse modo um m,lrqucs. , les que •
"
A menor desgraça e SOl .
'nos desprezados pOI aque
. \ . o V'IInoS procurar a
1 Gorgibus, Magdelon, Cathos, os violinistas
,
nos amavam. v ,lInos,.
compan 1elr,"
. .' prezam a va
- 1
l
\ 1°'11" veJo que aqlll so .
sorte em outro I co' , ., .. c\ inteiramente
• C"I
aparen \, e I'' -aodCloo
, menor valO! a Vlrtu e
nua. (Saem am!Jos,) UM VIOLINISTA

Senhor, confiamos em que, na ausência deles, o


senhor nos pagará pelo que toeamos aqui.

GORGIBUS

(espancando-os) Sim, sim, vou pagar-lhes, e eis


com que moeda. E vocês, suas velhacas, não sei o que
me impede de fazer-lhes o mesmo; todos irão comentar
o caso e se divertir à nossa custa, e eis o que vocês
conseguiram com suas extr:lvagâncias. Sumam daqui,
suas bruxas, sumam-se para sempre. (Sozinho) E a causa
\ dessa loucura: discursos vazios, divertimentos nocivos
de espíritos ociosos, romances, versos, canções, sonetos
e sonatas, gostmia que todos os diabos os carregassem!

\'- I-.J\

85

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