2. Arte e tempo.
- Um mundo envolvido da essência é sempre o começo do mundo em geral, um
começo do universo, um começo radical absoluto.
- Mas definir desta forma a essência é também definir o nascimento do tempo.
Mas não o tempo desdobrado, com suas dimensões desenvolvidas, nem mesmo
as séries separadas que se distribuem segundo ritmos diferentes.
- Deleuze utiliza um termo neoplatônico para descrever o estado do tempo antes
de seu desenvolvimento: a complicação, que envolve o múltiplo no uno, e afirma
o uno no múltiplo. A eternidade não parecia ausência de mudança, tampouco o
prolongamento de uma existência sem limites, mas o estado complicado do
próprio tempo.
- Da mesma forma, o artista tem a revelação de um tempo original, enrolado,
complicado em sua própria essência, abarcando de uma só vez todas suas
séries e dimensões. Aí jaz o sentido da expressão “tempo redescoberto”.
- Existem dois tempos redescobertos, um puro e revelador, que é o da arte, e
outro que através dos recursos da memória involuntária nos dá uma simples
imagem da eternidade, que é o da sensibilidade.
- A arte está para além das memórias e recorre ao pensamento puro como
faculdade das essências. O que a arte nos faz é redescobrir o tempo, tal como
se encontra enrolado na essência. Por isso a arte é o único signo que nos faz
redescobrir o tempo perdido, pois ela porta os signos mais importantes, cujo
sentido está contido numa complicação primordial, verdadeira eternidade, tempo
original absoluto.
3. Diferença e repetição