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próprios assuntos internos, mas conservaria o rei britânico como chefe de estado, com
a política exterior e de defesa sendo ainda decidida em Londres, No entanto, a minoria
protestante nos seis condados setentrionais do Ulster declarou sua oposição severa em
deixar a União. À beira da guerra civil, tanto nacionalistas quanto unionistas do Ulster
formaram forças voluntárias até que outra guerra muito maior irrompeu em agosto de
1914 entre a Grã-Bretanha e a Alemanha.
Retroagindo à Guerra Civil inglesa na década de 1640, os rebeldes irlandesestinham
esperado derrubar o governo inglês enquanto Londres se preocupava além-mar. A Primei-
ra Guerra Mundial oferecia uma grande oportunidade para os nacionalistas irlandeses
radicais, que tinham formado seu próprio partido marginal, o Sinn Fein ("Nós Sozinhos"),
em 1907. Embora a implementação da Lei da Autonomia tivesse de ser suspensa durante
a guerra, o Partido Nacional lrlandês encorajou católicos irlandeses a se juntar ao Exército
britânico. Milhares se alistaram (muitos para escapar do desemprego), mas a maioria se
recusou a lutar no exterior. Esperando desencadear uma revolta irreprimível de amplitude
nacional, os radicais tramaram uma insurreição, enquanto milhões de soldados britânicos
combatiam na Frente Ocidental. Alguns radicais no exterior buscaram ajuda militar com
os alemães, um delito traiçoeiro, mas a Alemanha não podia oferecer nenhuma ajuda.
ldeólogos do Sinn Fein, como Padraig Pearse, desenvolveram uma ideologia mística
da lrlanda, como uma terra a ser redimida por um "sacrifício de sangue" de mártires
voluntários, e formaram o Exército Republicano lrlandês (lRA). Apesar da falta de apoio
alemão e do desinteresse dentro da própria lrlanda, no domingo de Páscoa Pearce e
seus camaradas ocuparam o centro de Dublin, proclamando uma República lrlandesa
no seu quartel-general provisório, a agência dos Correios na Sackville Street. Cerca de
1.600 voluntários ocuparam diversos prédios de Dublin, embora centros administrati-
vos, como o castelo, não fossem tomados.
Tropas britânicas apressaram-se em reprimir a rebelião em cinco dias de luta cruen-
ta. De início, os dublinenses reagiram com antipatia aos voluntários que se rendiam,
cuja insurreição provocara a morte de 318 civis contra apenas 64 rebeldes, além de
destroçar boa parte da cidade. Mas o comandante militar britânico deu aos rebeldes
muito mais propaganda sangrenta do que eles poderiam ter pedido. Ele ordenou o fu-
zilamento de 15 líderes rebeldes, transformando-os em mártires instantâneos. Sob lei
marcial, 3.500 pessoas foram presas, mas muitas nada tinham a ver com a revolta. Para
os britânicos, as medidas duras se justificavam os rebeldes os haviam traído, na ver-
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O LIVRO DE OURO DAS REVOTUÇÕES I 201
UM REIIIí! DIVIDIDÍ!
Membros do IRA
se rendem após a
insuneição da Páscoa
de 1916, numa cena
doÍilne Michael
Collins.
Os britânicos alistaram veteranos de guerra para combater o lRA. Estes, assim cha-
mados "Pretos-e-Castanhos" (por causa da cor de seus uniformes), careciam de co-
nhecimento local e frequentemente reagiam aos ataques do IRA com suas próprias
atrocidades, alienando o povo comum irlandês e intensificando a violência. Cerca de 17
mil policiais da Guarda Real lrlandesa e Pretos-e-Castanhos combateram cerca de 5 mil
guerrilheiros do IRA em uma guerra cada vez mais selvagem de ambos os lados.
As duas principais figuras republicanas eram Eammon De Valera e Michael Collins,
ambos sobreviventes da lnsurreição da Páscoa. De Valera levantou fundos de mais de 5
milhões de dólares de simpatizantes irlando-americanos, que deram ao Sinn Fein uma
enorme vantagem na rivalidade propagandística com o velho Partido Nacional lrlandês e
pagaram por muitas armas. Collins foi o organizador militar do movimento e o pesadelo
das forças britânicas e seus simpatizantes'
Embora De Valera e Collins parecessem ser nacionalistas inflexíveis, Collins estava pre-
parado para comprometer-se na luta até o fim. Reconhecendo que os Unionistas Protestan-
tes do Ulster não aceitariam ser incorporados a um sul domrnado pelo Sinn Fein, Collins
barganhou com os britânicos sobre autogoverno para vinte e seis condados da lrlanda.
Collins encontrou-se com próceres unionistas, incluindo Winston Churchill, e foi
firmado um compromisso. Vinte e seis dos trinta e dois condados da lrlanda iriam obter
a independência com um governo em Dublin, com o rei britânico continuando como
chefe de estado nominal e a Marinha Realcontrolando o acesso aos portos principais da
lrlanda. A lrlanda do Norte, contudo, teria um governo separado sob domínio unionista
e continuaria sendo parte do Reino Unido. Muitos republicanos irlandeses sentiram-se
O LIVRO DE OURO DAS REVOLUÇOES I 2O3
traídos pelo compromisso, que destruía seus sonhos de uma república totalmente irlan-
desa. Seguiu-se uma cruel guerra civil.
De Valera liderou a ala rejeicionista do lRA, voltando-se contra ex-companheiros que
se venderam aos britânicos, inclusive Michael Collins, que foi assassinado num ataque
de surpresa por seus ex-camaradas. Mas a abordagem linha-dura do IRA acabou por
afastar muitos que o apoiavam.
Na primavera de 1923, os homens de De Valera estavam perdendo a guerra civil e
solicitaram um cessar-fogo. Os Estados Livres haviam perdido oitocentos homens. As
perdas do IRA foram certamente mais elevadas, com centenas de civis apanhados
em
meio aos tiroteios.
Mesmo tendo aceitado o cessar-fogo no final de maio de 1923, o IRA recusou-se a
entregar as armas, "jogando-as fora" onde pudessem ser recuperadas para lutas futuras.
Foi o começo de uma longa tradição do IRA de interromper a luta armada, mas nunca
se desarmar até que seu objetivo de uma república unida de toda a lrlanda fosse alcan-
çado. Embora uma república irlandesa fosse declarada em 1948, com a consequente
retirada da comunidade Britânica, o Ulster permaneceu agitado, mesmo após a morte
de De Valera em 1975.
Ao final dos anos 1960, o status de segunda classe dos católicos na lrlanda do Norte
de governo protestante provocou protestos civis inflamados e uma campanha terrorista
por parte de um IRA revigorado. Trinta anos de terror mútuo e contraterrorismo levaram
a um processo de paz no final dos anos 1990, entre o governo britânico e os líderes
protestantes e políticos nacionalistas e a ala política do lRA. Embora fosse acertado
um
cessar-fogo, o desenvolvimento pleno por ambas as partes não se materializou, fazendo
com que protestantes e católicos se olhassem com desconfiança.