(Romanini)
A. Parrot: “A vida, tal como aparece nos relatos do Gênesis que são
consagrados, encaixa-se perfeitamente com o que hoje sabemos, por outras
vias, sobre o início do segundo milênio, mas imperfeitamente com um
período mais recente” (Abraham et son temps, “Cahiers d’archéologie
biblique” 14, Neuchatel, elachaux et Niestlé, 1962, p. 11).
“Autores como Wallhausen, Thompson e Van Setes, que rejeitam todo valor
histórico, afirmam que os relatos dos patriarcas nos informam unicamente
sobre a época em que os textos foram redigidos. Isso é contraditado pelos
menos no que concerne à religião dos patriarcas. Se os autores bíblicos
tivessem inventado as tradições dos patriarcas, inspirando-se na religião
que eles próprios praticavam, os relatos teriam sido bem diferentes. Os
patriarcas praticavam, segundo, os textos bíblicos, uma religião pré-
israelita, pré-mosaica. Alguns pontos podem mostrá-lo.
Na religião de Israel, a lei ocupa um lugar bem central, sua observância traz
a bênção; sua rejeição, a maldição. Na religião dos patriarcas, encontramos
promessas e bênçãos (12, 2-3), mas dadas sem menção de estipulações
que os patriarcas deveriam observar para obtê-las. Não existe tampouco
ameaça de julgamento, no caso de não serem fiéis.
3. Anacronismos
“Um versículo do ciclo de Abraão diz que “Abraão residiu por muito tempo
na terra dos filisteus” (21, 34), mas esses filisteus só se instalaram em
Canaã depois de 1200 a.C. O nome da cidade da qual partiram Terah e sua
família, “Ur dos caldeus” (11, 31), também constitui problema. A cidade de
Ur é conhecida e muito antiga, mas o termo “Caldéia” é problemático. Os
caldeus só surgem nos textos assírios no século IX a.C. Além disso, referir-
se a “Ur dos caldeus” pressupõe a ascensão ao poder dos caldeus, ou seja,
babilônicos, que só ocorre no final do século VII a.C. No início do segundo
milênio, talvez se dissesse “Ur dos sumérios”. Tais dificuldades não
perturbam aqueles estudiosos, eles as explicam por meio de anacronismos
que não afetariam o fundo verdadeiramente histórico dos textos. Os autores
dos relatos dos patriarcas substituíram os nomes antigos pelos nomes em
uso na época em que escreviam.