Resumo: A produção literária da paranaense Denise Stoklos é composta de romance, poesia, manifestos e peças
teatrais, sendo este último seu campo mais frutífero. Em mais de quarenta anos de carreira é considerada uma
referência artística no Brasil e em outros países devido às suas produções que tem como fundamentação teórica o
conceito de Teatro Essencial. Procurando colaborar na ampliação de debates acerca da escrita feminina brasileira, este
trabalho visa compreender as relações subjetivas presentes no conceito de Teatro Essencial formulado por Stoklos,
verificando suas impressões sobre o fazer artístico teatral.
Palavras-chave: Teatro Essencial; Denise Stoklos; Escrita Feminina.
A carreira como autora, diretora e atriz de Denise Stoklos teve início no ano de
1968, em Curitiba, capital paranaense. Uma data bem marcante para se projetar no
cenário cultural brasileiro, uma vez que nesse ano o país estava vivenciando uma série
de manifestações estudantis e artísticas contra o regime político militar. Estudante, na
época, de jornalismo e ciências sociais, Stoklos pertencia ao grupo teatral Ferramenta da
Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná.
Como membro do grupo teatral citado anteriormente, a estudante além de
autora do texto Círculo na lua, lama na rua também foi responsável pela direção geral e
atuou em dois papeis, as personagens Denise e Cesar. A estreia ocorreu em 27 de
novembro de 1968 no teatro de Bolso em Curitiba e sobre sua repercussão na mídia da
época é possível verificar as seguintes ponderações:
realmente ali estava um bom texto, beleza criada, poesia se espalhando, entrando
pelos ouvidos, tocando sensibilidade, mãos irriquietas contendo a custo o aplauso
que não deveria chegar em hora de atrapalhar, concentração; e o texto crescendo
em beleza e valor, mas se perdendo em apresentação, se perdendo em passos mal
dados, se perdendo sem direção, se diluindo em falas desarticuladas...
Mas é preciso lembrar que tudo é apenas um início, não esquecemos que estamos
diante do primeiro vôo, por isso a apresentação está válida...sobretudo pela
qualidade do texto (GEBRAN, 1968).
1
Nova Dramaturgia é a denominação atribuída à geração de dramaturgos de 1969 que marcou a cena
teatral brasileira com o selo da iconoclastia. Ver: GUINSBURG, J; FARIA, João Roberto; LIMA, M.A.
Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Perspectiva:
Edições SESC-SP, 2009, p.229.
Performer não tem diretor nem autor. Ele vai lá e cria com o corpo dele...de acordo
com a idiossincrasia dele. Então é único! Daí performer é um pouco mais próximo
do que ator. Parece que dá mais espaço para esse nosso ator do Teatro Essencial,
quando ele cria o que ele vai dizer. (STOKLOS, apud SILVA, 2008, p.56).
Vivenciar um lugar onde tudo é possível, onde não há fronteiras para a criação e a
única diretriz é seguir aquilo que você, como artista inserido no mundo e suas
relações, tem a dizer. (Antonia Ratto)
Mergulhei no que pra mim é de mais ESSENCIAL e percebo que essa palavra tem
um grande poder. Ela me faz ir para dentro, me faz buscar todas as portas batidas e
emperradas que carrego, que silencio, que finjo que não existem. (Claudia D’Orey)
No Teatro Essencial a expressão da artista é um modo de vida. Toda ética revela
uma estética. (Jaqueline Valdivia)
A questão fundamental do que mais tem me estimulado como integrante do Projeto
Solos do Brasil é o ator como senhor absoluto do seu ofício, trazendo para si as
funções de diretor, dramaturgo, coreógrafo e sonoplasta, iluminador e figurinista.
(Danilo Souto Pinho)
Por um teatro de ator...pela criação, pelo ato de criar...para comunicar...pelo
desenvolvimento de minha arte...por uma utopia...por um teatro mais essencial.
(Fabio Vidal)
Diante desta gestação com Denise nasce “Oferenda Aos Santos Excluídos”,
manifesto de um jovem cidadão do mundo, a partir se suas vivências. (Jefferson
Monteiro)
É bom voltar a acreditar no teatro como transformador e acreditar na sua essência e
na potência do ator solo. (Jô Rodrigues)
Um teatro onde o ator toma seu lugar no palco, picadeiro, praça, não interessa. O
que realmente importa é a presença viva do ator. (Jorge Baía)
O caráter subjetivo do Teatro Essencial traz a tona uma antiga discussão que
sempre acompanhou o ofício teatral: qual a função do teatro?
A dramaturgia de Denise Stoklos é comunicativa, quer mostrar ao público que
a arte pode ir além da simples transmissão de informações e adaptações dos clássicos.
Sua obra permite ao público uma nova percepção do conceito de teatro e para que isso
aconteça o ator/criador precisa mergulhar profundamente no abismo do seu interior e
revelar por meio do corpo, da voz e da emoção sua produção artística.
O teatro de Denise Stoklos não propõe, mas encena, mostra no corpo, na voz, no
espaço-tempo da cena a originalidade e a criação da sua arte de atriz como
possibilidade de invenção de novas maneiras de existência sendo que isto, não
diferente do teatro em geral, torna-se um saber do teatro brasileiro, paranaense,
“deniseano” (RODRIGUES, 1995).
Referências
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GEBRAN, P. O círculo de Denise. Diário do Paraná, dez. 1968. In: O Debate. Irati-PR:
Martins & Abib Ltda, 1969.
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