Data: 18.05.2015
Prof: Leonardo
Depois que surgiu a endoscopia, diminuiu muito a incidência de tratamento cirúrgico no estomago,
principalmente na primeira indicação de retirada de corpos estranhos. Só que ainda tem poucas pessoas que
trabalham com esse tipo de exame por imagem.
Temos sempre que pensar no bem-estar do paciente, então se pudermos retirar o corpo estranho com o
mínimo de trauma possível é melhor.
GASTROPATIAS:
É indicado em casos de:
Corpos estranhos: quando não conseguimos retirar por endoscopia.
DVG: vulgarmente chamada de torção gástrica e que é caracterizada por um timpanismo. É uma doença com
alta taxa de mortalidade e tem uma incidência alta em cães de médio a grande porte.
Úlcera/erosão: geralmente são tratadas clinicamente, mas em alguns casos temos que intervir
cirurgicamente.
Neoplasia: é raro, porém o mais comum é o adenocarcinoma primário.
Obstrução benigna do escoamento gástrico.
A maioria dessas doenças cursam inicialmente com vomito, associado a anorexia e mesmo depois que ele
para de se alimentar, ele continua tendo o estimulo para o vomito. O problema é que esse vomito não respondível
ao tratamento clinico pode levar o paciente a uma esofagite (inflamação do esôfago) e em casos mais graves podem
levar a falsa via, levando a uma pneumonia aspirativa.
Se o paciente apresentar pneumonia antes da intervenção cirúrgica, é melhor tratar com antibiótico pelo
menos 1 dia antes ou algumas horas antes do procedimento cirúrgico, para evitar piora do quadro clinico.
Fatores predisponentes:
Ocorre em cães de porte médio a gigante. É mais comum acontecer em machos do que em fêmeas, mas
pode acontecer nas fêmeas também. Além disso, cães que apresentam tórax profundo tem uma maior incidência da
doença, pois existe uma teoria que eles possuem o ligamento gastrofrênico mais frouxo, então facilita a torção do
estomago. Porém, as duas características mais fortes da doença é a alimentação uma vez ao dia, que para um cão de
médio a grande porte vai ser uma quantidade muito grande, então alimentando uma vez ao dia ele permanece por
um tempo muito prolongado em jejum, então quando ele vai se alimentar acaba não mastigando direito gerando
pedaços grandes no estomago, que tendem a fermentar e essa fermentação produz gás que gera timpanismo. Além
disso, o fato dele comer rápido gera aerofagia, o que favorece o timpanismo.
Alguns anos atrás essa doença era sempre associada a exercício pós-prandial, mas hoje em dia muitos
pacientes apresentam a DVG sem se exercitar, porém percebemos que pacientes que se exercitam pós alimentação,
são os pacientes que se classificam no grupo mais grave, com uma torção total.
Fisiopatologia:
O estomago vai torcer no seu próprio eixo, no sentido horário. Essa sobrecarga alimentar na região fúndica
do estomago faz um peso no estomago e esse alimento não corretamente mastigado, gera um quadro de
fermentação, formação de gás e dilatação da câmara gástrica. Já se foi comprovado que a torção acontece numa
alavanca que o piloro faz no estomago. Então o peso do alimento na região fúndica, associado a alavanca do piloro,
geram o quadro de torção. Tanto que o tratamento cirúrgico é a fixação do piloro, a gastropexia pilórica.
O cão não consegue eructar e isso dificulta a saída do gás, então ele tem timpanismo e a tendência é aquilo
fermentar cada vez mais e ter mais timpanismmo. Então começa um ciclo vicioso, esse timpanismo começa a
aumentar, porque as bactérias produtoras de gás começam a produzir mais gás e começamos a ter obliteração do
cárdia e do piloro, pois os esfíncteres tendem a contrair. Então vamos ter dificuldade no escoamento, então esse
estomago pode torcer, além de ter a dilatação. Uma vez que ele torce, os principais vasos (artérias gástricas, artérias
gastroepiplóicas e artéria gastroesplênica) que fazem a irrigação do estomago obliteram, então temos um paciente
evoluindo para um quadro clinico de choque. Essa torção do estomago, pela intima relação que o estomago tem
com o baço, muitas vezes faz com que o baço torça junto com ele. Então é comum em qualquer exame de imagem
encontrar o baço fora da topografia normal dele, ao invés de estar do lado esquerdo ele pode estar no centro ou do
lado direito.
Sinais clínicos:
A característica da doença é a dilatação abdominal progressiva, se fizermos a percussão vamos ter um som
timpânico (gás), principalmente nos pacientes que sofrem a torção além da dilatação. Ele tem um esforço para
vomitar, mas é improdutivo, ele não consegue vomitar.
No início da doença o paciente fica bastante inquieto, ele não tem posição para deitar. Quando ele sofre a
torção, começa a ter sinais clínicos de choque pela congestão, então ele começa a apresentar prostração ao invés de
inquietação.
A produção de saliva é abundante, ele vai ter bastante sialorréia. A maioria dos pacientes chegam em
decúbito, poucos pacientes vão chegar andando na clínica, porque é uma doença que evolui muito rápido.
Como a alimentação geralmente é feita a noite, o animal apresenta os primeiros sintomas de madrugada e
muitas vezes a sintomatologia só vai ser vista pela manhã e ai pode ser tarde para socorrer o animal.
- Sinais de choque: taquicardia, pulso fraco ou ausente, TPC aumentado. Geralmente eles são taquipneicos,
porque o estomago comprime o diafragma e ele fica com dificuldade respiratória.
Tratamento cirúrgico:
Quando o paciente já estiver estabilizado, sem taquicardia, com TPC próximo do normal, PA próximo do
normal e com pulso cheio, podemos induzir a anestesia geral, porque agora ele está apto para receber a droga
anestésica.
Uma vez induzida a anestesia podemos fazer a laparotomia, que é protocolada, vamos fazer seguindo as
mesmas etapas, então nunca vamos nos perder. A última coisa a fazer é a fixação do estomago e a primeira coisa
que vamos fazer é avaliar o estomago e o baço. Devemos avaliar o grau de necrose que eles apresentam ou não e
isso vai ser uma análise macroscópica das lesões, vamos avaliar se o órgão está aumentado, se apresenta pontos de
necrose. Tem alguns pacientes que durante a rotação do estomago e consequente rotação esplênica, podem ter
uma ruptura esplênica, então vai ter hemoperitônio, que é mais grave.
Na periferia do estomago a serosa fica mais clara, mais próxima do normal e aonde tem as artérias ela fica
bem mais enegrecida. Nesse momento devemos tracionar o estomago para fora da cavidade e decidir se vamos
fazer esplenectomia ou não. Hoje em dia optamos pela esplenectomia antes do reposicionamento do estomago,
porque quando o baço está grande, congesto, ao reposicionarmos o estomago vamos devolver o fluxo de sangue
para o baço e consequentemente o retorno do baço. Então temos muitos casos de arritmia por conta de radicais
livres que ficam concentrados no baço e caem na corrente sanguínea. Então se avaliarmos que o baço apresenta
necrose, devemos fazer esplenectomia antes de reposicionar o estomago. Porém, se o baço não tiver com necrose
mantém ele.
Devemos avaliar também se o estomago tem necrose ou não, se tiver necrose nós temos que fazer a
gastrectomia. A porção da grande curvatura pode ser quase toda retirada, mas vamos estar tirando o omento
também que se insere ali. Já na pequena curvatura vamos ter mais dificuldade em fazer a gastrectomia, porque a
artéria celíaca passa próximo, então temos que tirar as áreas de necrose com cuidado, temos que usar o bom-senso.
Pacientes que apresentam necrose estomacal no momento em que fazemos a laparotomia, ele tem 11 vezes mais
chances de vir a óbito do que um paciente que não apresenta necrose.
Na cirurgia existem marcadores de prognostico, então aquela alteração vai gerar um prognostico bom ou
ruim e na DVG a necrose é um marcador de prognóstico desfavorável. Então toda vez que tivermos necrose gástrica,
sabemos que esse paciente tem uma grande probabilidade de vir a óbito, mesmo fazendo a gastrectomia. Para gerar
uma necrose gástrica, o estomago tem que estar com baixa perfusão tecidual por um tempo muito prolongado. A
necrose esplênica é mais comum, porque o principal vaso para o baço será obliterado na torção.
Então se o baço estiver com necrose devemos retirar ele, se não tiver devemos manter. Vamos avaliar o
estomago e ver se tem áreas de necrose ou não. Se tiver sido possível a passagem da sonda orogástrica, esse
estomago vai ter pouco conteúdo e se tiver sido feita a lavagem não vai ter conteúdo. Se não tiver feito a passagem
da sonda e tiver batido só o trocater, vamos ter bastante conteúdo, porque só tirou o ar. Então em pacientes que
apresentam conteúdo, obrigatoriamente vamos ter que fazer uma gastrotomia para retirar esse conteúdo e aqui
que ocorre a grande probabilidade de infecção, porque esse conteúdo está bem contaminado.
Se no centro cirúrgico tiver aspirador, sonda e pessoas para te ajudar, ao invés de fazer a gastrotomia para
retirar conteúdo, podemos passar a sonda orogástrica, porque ele já vai estar intubado. Então vamos conectar o
aspirador a sonda e vamos fazer a lavagem e a retirado do conteúdo via sonda orogástrica. Devemos retirar o
conteúdo, mas podemos escolher a melhor forma para isso.
Depois devemos reposicionar o estomago e não devemos fazer a gastrectomia antes de reposicionar, porque
algumas áreas que apresentam alguma dúvida se estão em necrose ou não, por exemplo, uma área que está entre o
rosáceo que é o normal e o enegrecido que é necrose, é uma área de intercessão, então quando devolvermos o
estomago para a posição normal ele vai reperfundir e o tecido volta a coloração normal. Então a gastrectomia deve
ser feita depois que o estomago está na posição normal, porque provavelmente vamos poder fazer uma intervenção
menor, porque algumas áreas de suspeitas vão ser normalizadas. Também podemos pegar soro fisiológico morno e
lavar o estomago para causar vasodilatação, porque assim algumas áreas suspeitas provavelmente vão reperfundir e
voltar ao normal.
Sempre é necessária a fixação do estomago, porque é muito comum um paciente que teve DVG ter
novamente. Então no final sempre fazer a gastropexia pilórica direita.
Cuidados pós-operatórios:
É o grande problema, geralmente o que acontece é que o paciente fica no canil com um veterinário ou um
enfermeiro observando ou muitas vezes fica sozinho. Nós temos poucas clinicas com UTI e quando tem é bem caro a
diária e esse paciente necessita disso, porque é muito comum esses cães apresentarem arritmia pós-operatória, por
conta da liberação de radicais livres liberados no reposicionamento do baço e do estomago. Só que ela não acontece
no pós-operatório imediato, geralmente ela acontece entre 12 e 36hrs de pós-operatório e nesse momento
provavelmente o paciente vai estar sem nenhum cuidado intensivo. Caso seja diagnosticado e só vai ser
diagnosticado se o paciente estiver acoplado num monitor cardíaco, ela é facilmente revertida com lidocaína.
Então muitas vezes a cirurgia é um sucesso e o animal acaba morrendo no pós-operatório por causa da
arritmia que ninguém diagnosticou. Por isso, devemos ter cuidado no pós-operatório. Quando sabemos que o animal
não vai ficar numa UTI, podemos fazer infusão continua de lidocaína no pós-operatório, mesmo que ele não tenha a
arritmia. Só que foi visto que a lidocaína não atua muito bem quando temos um desbalanço entre sódio e potássio, e
geralmente vamos ter uma acidose metabólica nesse paciente. Então, teoricamente nós devemos primeiro corrigir
esse déficit para depois fazer a lidocaína. Uma outra droga que podemos usar é a procainamida. Sempre devemos
corrigir essa arritmia, porque ela vai evoluir para uma fibrilação.
Além disso, se fizermos uma gastrectomia parcial, devemos ter cuidado com drogas pró-cinéticas, que
aumentam a motilidade, como ranitidina e metoclopramida. Então devemos trocar a ranitidina pelo omeprazol e a
metoclopramida pela ondansetrona, porque vamos controlar o vomito sem alterar a motilidade.
Devemos manter o animal em jejum 12hrs no pós-operatório, depois vamos começar a introduzir água e se
não tiver vomito introduz o alimento, sempre em pequenas quantidades e várias vezes ao dia. A melhor opção são
as rações terapêuticas úmidas hipercalóricas, como A/D, Recovery, etc. Fazer a alimentação 5 vezes ao dia, sempre
em pequenas quantidades e depois de uns 10 dias podemos introduz a ração seca aos poucos. O mais importante é
fracionar a alimentação durante o dia.