A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Em 1779 Samuel Crompton inventa a “mule”, uma combinação da “water frame” com
a “spinning jenny” com fios finos e resistentes.
DESDOBRAMENTOS SOCIAIS
A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida da classe
trabalhadora e transformando radicalmente as estruturas da sociedade. Como resultado
desse processo temos:
Intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes
concentrações urbanas.
OBS: Londres atingiu um milhão de habitantes em 1800.
A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o
trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas
uma etapa da produção.
Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do
proletariado urbano (classe operária), como classe social definida e impiedosamente
explorada (vivendo em condições deploráveis em cortiços e submetido a salários
irrisórios com longas jornadas de trabalho).
O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra
masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e
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crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. (David Copperfield de
Charles Dickens, Germinal de Émile Zola)
OBS: Na indústria têxtil do algodão, em 1835, as mulheres representavam mais de 50%
da massa trabalhadora. Em certos trabalhos empregavam-se crianças de até seis anos de
idade.
O agravamento dos problemas sócio-econômicos, com o desemprego e a miséria,
foram acompanhados de outros problemas como a prostituição e o alcoolismo.
Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento
“ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas
por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”,
que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário.
Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que
evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos
modernos.
O aprofundamento da dicotomia entre capital e trabalho resultante da Revolução
Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e
proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo,
consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime.
OBS: A Inglaterra, sendo a primeira nação a se industrializar, teve todas as condições que
lhe permitiram fazê-lo em regime de livre-concorrência, isto é, de franco liberalismo.
Após a Inglaterra, é lógico, nenhum país poderia mais dispor de condições idênticas, pois
já existia a concorrência dos produtos ingleses. Sendo assim, o protecionismo passou a
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ser essencial a todos aqueles que desejassem desenvolver sua própria indústria, se
quisessem poupá-la da competição dos produtos britânicos.
O CASO JAPONÊS
Teve como ponto de partida a chamada "Revolução Meiji", ou seja, a queda do
regime "shogunal" e sua substituição pela autoridade imperial. Tal mudança e as
transformações que lhe deram origem e que se lhe seguiram permitem caracterizar aquela
revolução como de caráter burguês, pois, embora a burguesia mercantil fosse ainda
débil e a industrial, quase inexistente, o fato é que a partir daí as relações de tipo
capitalista, sob o impulso estatal, desenvolveram-se com grande rapidez no Japão.
A antiga aristocracia feudal, através de seus setores mais progressistas que
assumiram o controle da burocracia estatal, teve seus direitos senhoriais abolidos (o
que representou a libertação da mão-de-obra, fator imprescindível ao desenvolvimento
capitalista) e convertidos os direitos feudais em rendas e, mais tarde, títulos da dívida
pública, os quais, depositados nos bancos recém-criados, lhes deram a condição de seus
maiores acionistas.
A base familiar tradicional, ramificada e hierarquizada, transferiu-se ao campo
econômico-financeiro, dando origem, progressivamente, a uma economia concentrada,
em mão de um número reduzido de famílias, cada qual controlando um grande número
de empresas bastante diversificadas que constituem os Zaibatsu.
Durante os primeiros tempos, o Estado assumiu as tarefas empresariais mais
urgentes, dada a carência de empresários e de capital. A burocracia de jovens samurais
promoveu uma elevada taxa de reinvestimento, erguendo-se assim fábricas e estaleiros,
construindo-se estradas e ferrovias e estabelecendo-se modernos sistemas de
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comunicação. Simultaneamente, a educação mereceu atenções especiais, importando-se
também técnica e técnicos estrangeiros e promovendo-se a ida de jovens ao exterior a
fim de estudarem.
Os investimentos estatais foram possíveis em grande parte porque o camponês, em
troca da supressão dos direitos senhoriais, se viu compelido a pagar ao Estado o
equivalente a 1/3 de sua colheita em dinheiro.
OBS: Até 1900 esse imposto representou 80% dos recursos fiscais disponíveis.
A agricultura avançou bastante nesse período, principalmente em termos de
produtividade, beneficiando-se também do crescimento do mercado interno. A parte
excedente da população rural dirigiu-se para as cidades, daí a abundância de mão-de-
obra disponível para a industrialização.
OBS: O declínio continuado da pequena propriedade acelerou mais ainda essa
tendência.
A industrialização japonesa, dadas as peculiaridades de que se revestiu, pôde prescindir
de grandes capitais externos. A mecanização, porém, progrediu lentamente. O
artesanato e a pequena indústria predominaram até 1929 com uma imensidade de
pequenas empresas espalhadas pelas cidades e pelos campos.
Entre 1855 e 1890 o Estado resolveu vender ao capital privado as empresas já
suficientemente rentáveis, de modo a obter recursos para novos investimentos em
setores deficitários.
OBS: Calcula-se que, em 1893, cerca de 84% da população japonesa eram ainda rurais e
apenas 6% viviam em cidades de mais de 100 mil habitantes. Em 1913, 72% da
população ainda eram rurais. Tais índices, portanto, diferem em muito dos
correspondentes aos Estados Unidos e à Inglaterra, aproximando-se da situação da
Rússia pré-revolucionária.
O CASO ALEMÃO
A industrialização da Alemanha foi mais tardia, dado seu esfacelamento político e,
sobretudo a persistência de relações do tipo feudal ou semifeudal em muitas de suas
áreas potencialmente mais ricas. Apenas na Renânia houve o que se poderia chamar de
industrialização mais precoce, com base nos têxteis e numa certa burguesia.
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O estabelecimento do Zollverein, sob o controle prussiano, a partir de 1833,
permitiu oferecer aos poucos um mercado unificado à produção de origem alemã e mais
ainda um início de barreira protecionista à concorrência dos produtos de origem
britânica, especialmente.
A partir de 1860 acelera-se a construção das ferrovias, complementando a "União
Aduaneira", com o que se abrem novas possibilidades para a exploração dos recursos
minerais e para a instalação de novas fábricas. Assim é que de 1860 a 1880 a
industrialização acelera-se de modo vertiginoso, pressionando no sentido da unificação
política, de tal modo que, por volta de 1880/90, a indústria alemã já estava entrando de
maneira decidida no caminho da concentração monopolística.
Tal processo de industrialização, bem mais rápido do que todos os outros havidos na
Europa, beneficiou-se, além do mais, do fato de ter-se iniciado quando chegava ao fim a
chamada "primeira revolução industrial" e tinha início a denominada "segunda
revolução industrial", isto é, queimando etapas, começando por onde os seus
antecessores estavam agora chegando, os alemães entraram diretamente na era do aço,
da eletricidade e da indústria química, ao contrário dos ingleses, que começaram pelo
ferro, carvão e tecidos.
Favorecida pela conjuntura internacional, a nova indústria alemã parte logo para a
indústria pesada — de bens de produção — onde tende a deslocar os britânicos de
suas posições.
Convém notar finalmente que a Alemanha não constitui um exemplo de
industrialização através do liberalismo econômico, pois coube ao Estado prussiano de
início e ao alemão, mais tarde, um papel decisivo nesse processo.
OBS: A bem dizer, só a Inglaterra pode ser tomada como exemplo de industrialização
em regime de livre concorrência privada. Nos demais países, em geral, a participação do
Estado, maior ou menor, foi decisiva.
Na Alemanha, por exemplo, coube ao Estado impulsionar as empresas no sentido da
concentração de tipo monopolista, a fim de permitir um elevado grau competitivo aos
seus produtos no mercado internacional. É uma indústria que já nasce praticamente sob
o signo dos monopólios, os famosos cartéis.
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