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RESENHAS REVIEWS 953

Trabalhadores do mundo: ensaios para uma his- A proposta de Linden para uma História
tória global do trabalho. Marcel van der Linden. Global do Trabalho aponta também para um
Campinas: Editora da Unicamp, 2013, 520 p. conceito mais amplo de trabalhador. O autor
dialoga diretamente com Marx, para quem o
Paulo Cruz Terra trabalho livre assalariado – no qual o trabalha-
Departamento de História da Universidade Federal Flu- dor, enquanto indivíduo livre, dispõe de sua
minense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil força de trabalho como uma mercadoria – era a
<p003256@yahoo.com.br>
forma de mercantilização do trabalho verdadeira-
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00128 mente capitalista. Contudo, os assalariados cons-
tituíam apenas uma entre as cinco classes ou
semiclasses subalternas no capitalismo, que in-
Como pensar/escrever uma História Global do cluiria ainda os trabalhadores autônomos, “que
trabalho? Essa é a questão que permeia o livro são proprietários de sua força de trabalho e de
Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma his- seus meios de produção e vendem os produtos
tória global do trabalho, de Marcel van der Linden, ou serviços resultantes de seu trabalho”; a pe-
publicado em 2013, pela Editora da Unicamp. quena burguesia, “formada por pequenos pro-
Trata-se de uma tradução para o português de dutores e distribuidores de bens que empregam
uma obra publicada originalmente em inglês, um número reduzido de trabalhadores”; os es-
em 2008. O autor foi diretor de pesquisa do Ins- cravos, “que não possuem nem sua força de tra-
tituto Internacional de História Social, situado balho nem suas ferramentas e são vendidas”; e o
em Amsterdã, e, assim como a instituição, se tornou lumpemproletariado, “que é totalmente excluído
uma referência em termos da história global do do mercado de trabalho legalizado” (Linden, 2008,
trabalho, cujas linhas gerais nos são apresen- p. 30). Com exceção dos trabalhadores assalaria-
tadas nesse volume. dos, os outros grupos foram considerados como
A História Global do Trabalho consiste mais, historicamente menos significativos para Marx.
segundo o autor, em uma “área de interesse” do Linden ressalta que pesquisas empíricas em
que um bem-definido paradigma teórico. Lin- diversas partes do mundo apontaram, entretanto,
den propõe o estudo transcontinental, mais do que as proposições de Marx sobre a classe tra-
que transnacional, dos movimentos sociais tra- balhadora e a mercantilização do trabalho eram
balhistas e das relações de trabalho. Por trans- muito restritas. O autor argumentou que no capi-
continental entende-se colocar “todos os pro- talismo há “uma variedade quase infinita de
cessos históricos num contexto mais amplo, por tipos de produtores, e as formas intermediárias
‘menores’, em termos geográficos, que sejam esses entre as diferentes categorias são definidas de
processos” (Linden, 2008, p. 14), tecendo com- formas mais fluidas do que nítidas” (Linden, 2008,
parações entre diferentes países e/ou, principal- p. 30). Ele indica, por exemplo, que os trabalha-
mente, analisando as interações internacionais. dores assalariados eram bem menos livres do
Ao enfocar as conexões globais, segundo Lin- que sugeria a visão clássica, e que existiam di-
den, a História Global do Trabalho se contrapõe versas maneiras de prender um empregado a
ao nacionalismo metodológico e ao eurocentrismo seu emprego.
presentes na história do trabalho produzida na Considero a visão mais abrangente de classe
Europa e na América do Norte. O eurocentrismo trabalhadora como uma das principais contri-
define-se como “o ordenamento mental do mundo buições do livro. Contudo, é preciso afirmar
a partir da perspectiva da região do Atlântico que outros historiadores, inclusive brasileiros,
Norte”. Nesse sentido, a história da classe tra- já chamavam a atenção para a ampliação do con-
balhadora e dos movimentos trabalhistas dessa ceito de trabalhador, mesmo não estando liga-
região foram vistas como acontecimentos sepa- dos à História Global do Trabalho. Se, em 1998,
rados, e quando era dada atenção a outros lo- Silvia Hunold Lara denunciava a exclusão dos
cais, “estes eram interpretados de acordo com escravos nas análises da história social do tra-
os esquemas do ‘Atlântico Norte’” (Linden, 2008, balho no Brasil (Lara, 1998, p. 26), o quadro tem
p. 11). O nacionalismo metodológico, por sua vez, sido alterado mais recentemente. Marcelo Badaró
“funde sociedade e Estado”, naturalizando o Mattos, por exemplo, afirmou que a experiên-
Estado-nação. cia de convivência entre escravizados e livres

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foi fundamental no processo de formação da gicos, ao analisar especificamente os iatmul, um


classe trabalhadora do Rio de Janeiro. Essa con- povo da Papua Nova-Guiné.
vivência teria ocorrido em diversos aspectos, Ao longo do livro, somos apresentados a mui-
como no mercado de trabalho, nas organizações tos exemplos de diferentes partes do mundo so-
criadas, além das ações coletivas. Segundo Mattos, bre os variados assuntos tratados. Aliás, chama
os trabalhadores escravizados e livres conviviam a atenção a erudição de Linden, que domina
tanto nas fábricas quanto na rua, além de par- uma vasta bibliografia, arrolada em impressio-
tilharem outros espaços, como moradia, lazer, ali- nantes 81 páginas ao final da obra. A utilização
mentação e transporte (Mattos, 2004, p. 62). dos exemplos mundiais é possível, segundo o
O Brasil, aliás, está presente em diversas par- autor, pois, apesar da diversidade e especifi-
tes do livro. O Grupo de Trabalho da Associação cidades das experiências, “as formas de ação
Nacional de História (Anpuh) “Mundos do Tra- coletiva inventadas pelos trabalhadores subal-
balho”é citado como exemplo de organizações ternos de todo o mundo refletem uma lógica pró-
surgidas no âmbito internacional, no período pria e bem definida, que é possível identificar e
recente, que têm ampliado o estudo da história verificar” (p. 406). O autor apresenta justamente
do trabalho. Além disso, o caso dos escravos ao uma preocupação em buscar as frequências e
ganho do Brasil é exposto como um tipo especí- tendências que podem ser agrupadas em alguns
fico dentro da escravidão. Só que nesse caso há tipos básicos comuns.
uma confusão causada pela tradução. Linden uti- Se os muitos exemplos das várias partes do
liza como referência um artigo de Maria Cecília mundo podem ser vistos como um dos pontos
Velasco e Cruz, que escolheu a expressão slaves- positivos do livro, eles também apresentam pro-
-for-hire como tradução de “escravos ao ganho”. blemas. Para Leon Fink, as categorias altamente
A versão brasileira do livro, por sua vez, tra- articuladas estabelecidas por Linden “tendem a
duziu a expressão em inglês como “escravos de ignorar grandes distinções entre Estado-nações
aluguel”. Contudo, as expressões representam e as suas políticas culturais”, bem como podem
relações distintas: enquanto em uma os escra- levar à perda do senso de “cronologia, periodi-
vos são alugados pelos senhores, que recebem zação e turning points históricos” (Fink, 2010).
diretamente os proventos desse aluguel; na es- Crítica semelhante foi feita por Fernando Tei-
cravidão ao ganho, por sua vez, são os escra- xeira da Silva, que indicou que a “justaposição
vos que cobram pela execução de serviços e/ou de exemplos sacados de diferentes tempos e es-
venda de produtos e repassam os ganhos aos paços tende a sacrificar a própria historicidade
seus senhores, sendo permitido ao trabalhador dos fenômenos analisados e a percepção da mu-
cativo reter o que excedesse a quantia combi- dança histórica” (Teixeira, 2014, p. 360).
nada previamente. O livro de Linden é uma leitura instigante e
Além da discussão sobre o conceito de clas- propõe importantes reflexões para os interessa-
se trabalhadora, presente na primeira parte do dos na história do trabalho. A História Global do
livro, a obra se debruça sobre a ação coletiva Trabalho proposta por ele, por sinal, já tem dado
dos trabalhadores, entendida como “uma ação importantes frutos pelo mundo. No Brasil, no
mais ou menos coordenada por parte de um entanto, ainda está engatinhando. De certo, um
grupo de trabalhadores (e, talvez, seus aliados), grande empecilho para o seu desenvolvimento
visando a atingir um objetivo específico, que é a falta de financiamento em nosso país para
eles seriam incapazes de alcançar individual- pesquisas que, nessa perspectiva, geralmente
mente, dentro do mesmo período de tempo e demandam amplos recursos para um trabalho
pelos meios a eles disponíveis” (Linden, 2008, em equipe. Infelizmente, tudo tende a piorar, já
p. 19). Assim, Linden aborda as variações do que o apoio ao desenvolvimento da ciência tem
mutualismo, na segunda parte, e as formas de minguado cada vez mais.
resistência, na terceira, que incluem as greves,
os protestos de consumidores, os sindicatos e o
internacionalismo operário. A quarta, e última
parte, trata das contribuições das disciplinas
adjacentes, como a teoria do sistema-mundo, de
Wallerstein, ou o diálogo com estudos etnoló-

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Referências

FINK, Leon. Review of vand der Linden, Marcel.


Workers of the World: Essays toward a Global Labor
History. H-Net Reviews, julho 2010. Disponível
em: <www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=
30764>. Acesso em: 15 de jul. 2016.

LARA, Silvia H. Escravidão, cidadania e história


do trabalho no Brasil. Projeto História, São Paulo,
n. 16, 1998.

LINDEN, Marcel van der. Trabalhadores do mundo:


ensaios para uma história global do trabalho. Cam-
pinas: Editora Unicamp, 2013.

MATTOS, Marcelo B. Experiências comuns. Escravi-


zados e livres na formação da classe trabalhadora
carioca. Tese (apresentada ao Concurso para Pro-
fessor Titular de História do Brasil) – Departamento
de História, Universidade Federal Fluminense, Ni-
terói, 2004.

SILVA, Fernando T. van der Linden, Marcel – Tra-


balhadores do mundo: ensaios para uma história
global do trabalho. Revista Brasileira de História,
São Paulo, vol. 34, n. 67, p. 357-363, 2014.

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