Trabalhadores do mundo: ensaios para uma his- A proposta de Linden para uma História
tória global do trabalho. Marcel van der Linden. Global do Trabalho aponta também para um
Campinas: Editora da Unicamp, 2013, 520 p. conceito mais amplo de trabalhador. O autor
dialoga diretamente com Marx, para quem o
Paulo Cruz Terra trabalho livre assalariado – no qual o trabalha-
Departamento de História da Universidade Federal Flu- dor, enquanto indivíduo livre, dispõe de sua
minense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil força de trabalho como uma mercadoria – era a
<p003256@yahoo.com.br>
forma de mercantilização do trabalho verdadeira-
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00128 mente capitalista. Contudo, os assalariados cons-
tituíam apenas uma entre as cinco classes ou
semiclasses subalternas no capitalismo, que in-
Como pensar/escrever uma História Global do cluiria ainda os trabalhadores autônomos, “que
trabalho? Essa é a questão que permeia o livro são proprietários de sua força de trabalho e de
Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma his- seus meios de produção e vendem os produtos
tória global do trabalho, de Marcel van der Linden, ou serviços resultantes de seu trabalho”; a pe-
publicado em 2013, pela Editora da Unicamp. quena burguesia, “formada por pequenos pro-
Trata-se de uma tradução para o português de dutores e distribuidores de bens que empregam
uma obra publicada originalmente em inglês, um número reduzido de trabalhadores”; os es-
em 2008. O autor foi diretor de pesquisa do Ins- cravos, “que não possuem nem sua força de tra-
tituto Internacional de História Social, situado balho nem suas ferramentas e são vendidas”; e o
em Amsterdã, e, assim como a instituição, se tornou lumpemproletariado, “que é totalmente excluído
uma referência em termos da história global do do mercado de trabalho legalizado” (Linden, 2008,
trabalho, cujas linhas gerais nos são apresen- p. 30). Com exceção dos trabalhadores assalaria-
tadas nesse volume. dos, os outros grupos foram considerados como
A História Global do Trabalho consiste mais, historicamente menos significativos para Marx.
segundo o autor, em uma “área de interesse” do Linden ressalta que pesquisas empíricas em
que um bem-definido paradigma teórico. Lin- diversas partes do mundo apontaram, entretanto,
den propõe o estudo transcontinental, mais do que as proposições de Marx sobre a classe tra-
que transnacional, dos movimentos sociais tra- balhadora e a mercantilização do trabalho eram
balhistas e das relações de trabalho. Por trans- muito restritas. O autor argumentou que no capi-
continental entende-se colocar “todos os pro- talismo há “uma variedade quase infinita de
cessos históricos num contexto mais amplo, por tipos de produtores, e as formas intermediárias
‘menores’, em termos geográficos, que sejam esses entre as diferentes categorias são definidas de
processos” (Linden, 2008, p. 14), tecendo com- formas mais fluidas do que nítidas” (Linden, 2008,
parações entre diferentes países e/ou, principal- p. 30). Ele indica, por exemplo, que os trabalha-
mente, analisando as interações internacionais. dores assalariados eram bem menos livres do
Ao enfocar as conexões globais, segundo Lin- que sugeria a visão clássica, e que existiam di-
den, a História Global do Trabalho se contrapõe versas maneiras de prender um empregado a
ao nacionalismo metodológico e ao eurocentrismo seu emprego.
presentes na história do trabalho produzida na Considero a visão mais abrangente de classe
Europa e na América do Norte. O eurocentrismo trabalhadora como uma das principais contri-
define-se como “o ordenamento mental do mundo buições do livro. Contudo, é preciso afirmar
a partir da perspectiva da região do Atlântico que outros historiadores, inclusive brasileiros,
Norte”. Nesse sentido, a história da classe tra- já chamavam a atenção para a ampliação do con-
balhadora e dos movimentos trabalhistas dessa ceito de trabalhador, mesmo não estando liga-
região foram vistas como acontecimentos sepa- dos à História Global do Trabalho. Se, em 1998,
rados, e quando era dada atenção a outros lo- Silvia Hunold Lara denunciava a exclusão dos
cais, “estes eram interpretados de acordo com escravos nas análises da história social do tra-
os esquemas do ‘Atlântico Norte’” (Linden, 2008, balho no Brasil (Lara, 1998, p. 26), o quadro tem
p. 11). O nacionalismo metodológico, por sua vez, sido alterado mais recentemente. Marcelo Badaró
“funde sociedade e Estado”, naturalizando o Mattos, por exemplo, afirmou que a experiên-
Estado-nação. cia de convivência entre escravizados e livres
Referências