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Explode América

Latina
Por estes anos, Santiago do Chile e Buenos Aires parecem as
capitais mundiais do teatro independente. Um fenómeno
para o qual contribuem um público apaixonado, a tradição,
longos períodos de ensaios e, ironicamente, a precariedade
do emprego artístico. Jorge Louraço Figueira

E de novo, como no ano anterior, luta de classes explicada às


explode mais um espectáculo crianças, com pornografia e pop”),
vindo de Buenos Aires ou de uma “telenovela teatral” de dez
Santiago do Chile, fazendo capítulos e 20 horas. Ainda vamos
sensação um pouco por todo o a tempo de muitos outros: “Tercer
mundo, Europa incluída. Obras de Cuerpo”, o novo de Tolcachir;
jovens directores e dramaturgos “Sin Sangre”, do Teatro Cinema;
sul-americanos, como Guillermo “Amarillo”, do Línea de Sombra,
Calderón e Rafael Spregelburd, ou as novas dos grupos Espanca viável, e as memórias do terror da “Manifesto de
que aliam a novidade e a frescura (de Belo Horizonte, célebres por Ironicamente, ditadura continuaram a reemergir Niños”, do
a peças com diálogo, enredo e “Congresso Internacional do constantemente, criando uma argentino
personagem. Medo”) e XIX.
a precariedade sensação de tempo cíclico, em que Daniel
Por estes anos, Buenos Aires O que distingue esta produção? do emprego artístico, o futuro é o passado, que os mais Veronese: a
e Santiago do Chile parecem as Várias coisas. Em primeiro lugar, jovens querem romper. violência,
capitais mundiais do teatro, pelo um público apaixonado, fervoroso os “day jobs” Quebrar esse impasse parece sobretudo a
menos da produção independente, e entendido, que vive o teatro ser um dos movimentos deste violência que
que se distingue tanto do teatro tanto quando os seus criadores e os locais novo teatro. A cena é expressão não se vê, é
comercial, feito de comédias e faz mais pelos espectáculos no da violência que decorre lá fora, uma história
mais ou menos televisivas e de passa-palavra do que a imprensa alternativos geram para sempre, vê-se agora. E daí implícita da
musicais, como do teatro oficial ou a publicidade. Nos últimos vem a força desta dramaturgia, América
das salas do Estado, sempre às anos, foram criadas Escuelas de
um luxo de espaço da articulação estética dessa Latina
voltas com os clássicos mais ou Espectadores em Buenos Aires e de tempo impossível violência, no seio de sociedades
menos integrais, na busca de e outras cidades argentinas, na globalizadas, mediocráticas, onde
formas originais de expressar Cidade do México, em Montevideu no modo de produção a representação autêntica da
o ar dos tempos. Este chamado e em Santiago. A atenção dos violência e da opressão se tornou
“Teatro de Grupo” prolifera na espectadores ao que se faz europeu um bem escasso. Em “Manifesto
América Latina, as mais das vezes aumenta a responsabilidade dos de Niños”, de Veronese, produção
por necessidade. Em Buenos criadores, que respondem com do El Periférico de Objectos, o
Aires e São Paulo, há meio milhar trabalhos cada vez melhores. público espreita para dentro de
de estreias por ano, em centenas Em segundo lugar, a tradição. uma cabine onde a violência
de salas registadas ou espaços Fugindo à Guerra Civil de apertados da produção e das salas física pode ocorrer a qualquer
improvisados, promovidas por Espanha, Margarita Xirgu, a actriz europeias jamais facilitariam momento. Os nomes de crianças
pequenos colectivos teatrais. de Lorca, percorreu as capitais coisa assim. Nem permitiriam assassinadas estão pintados
A Portugal têm chegado mais latino-americanas, elevando aos espectáculos ficarem em nas paredes e são ditos em voz
timidamente ecos dessa vaga, nos o nível de qualidade da produção cena indefinidamente: “Mujeres” alta. O premiadíssimo “Pedro de
festivais e em iniciativas pontuais, teatral. Fixou-se em Montevideu ficou seis anos em cartaz e Valdivia”, do Tryo Teatro Banda
com as estreias de Rafael nos anos 50. Nos anos 70, em digressão; “La Omisión” é outro exemplo disso: enquanto
Spregelburd (“La Estupidez”) e Enrique Buenaventura, Santiago quatro. A perseverança ajuda. vai contando a história do
Guillermo Calderón (“Deciembre”), García, Aristides Vargas, Boal, e Vale a pena repetir a recolha conquistador do Chile, enumera os
no Festival de Almada, em 2007 companhias como o Yuyachkani de citações feita por Marcos actos sanguinários do século XX. “Sin Sangre”,
e 2009, respectivamente, de ou o Escambray praticamente Ordoñez no “El País”. Spregelburd: Os novos grupos da América dos chilenos
Claudio Tolcachir (“La omisión inventaram o teatro de grupo “Só funcionam os projectos Latina contam as suas histórias. Teatro
de la família Coleman”), em 2009, sul-americano, influenciado verdadeiramente impossíveis”; Este teatro é real porque pretende Cinema,
no Centro Cultural de Belém, e por Brecht e por Grotowski. Daulte: “Os teatreiros argentinos reagir ao real, reflectindo-o, “Pedro de
dos paulistas XIX (“Hysteria”) no Mais recentemente, Sinisterra desconhecem o significado da mas também porque é feito da Valdivia”, do
FITEI, em 2004. Nas próximas trabalhou com muitos autores palavra não”; Tolcachir: “O teatro diferença entre os sonhos e a Tryo Teatro
semanas poderemos ver dois em vários países da América faz-te sentir que as coisas são vida real – a matéria que Eugene Banda, e o
espectáculos chilenos do Latina e Bartis é responsável possíveis”; Veronese: “Quando O’Neill aconselhou ao dramaturgo argentino
“Próximo Futuro”, na Gulbenkian, pela formação de boa parte dos tenho um tempo livre ensaio uma brasileiro Jorge Andrade registar Rafael
e a versão que Daniel Veronese actores e encenadores de Buenos peça – ou duas”. Mas há outra nas suas peças. Spregelburd
fez de “Hedda Gabler” (“Todos Aires. Estes criadores herdaram coisa: método. As entrevistas dos
os grandes governos evitaram o também uma tradição de abordar jovens directores-dramaturgos
teatro íntimo”), na próxima edição os assuntos indirectamente, não são apenas “soundbytes”, mas
do Festival de Almada, a 6 de concentrando-se na criação de pequenos tratados de produção
Julho. metáforas e analogias, chegando teatral, que revelam concepções
Ficam ainda por ver grupos aos temas através de histórias e amadurecidas do trabalho, da
como Luna Avante e Lagartijas cenas potencialmente universais, estética e dos meios de produção
tiradas al sol, da Cidade prática desenvolvida durante disponíveis.
do México; e encenadores- as ditaduras. Como se transmite Que aconteceu aos grupos
dramaturgos como Mariana isso? Este ano, para assinalar o históricos, entretanto? Em
Percovich e Gabriel Calderón, do bicentenário da independência Bogotá, no ano passado, no
Uruguai. Do Brasil, continuam do Chile, o festival Santiago a Mil encontro internacional do
desconhecidas em Portugal as promoveu a reposição ou novas Instituto Hemisférico de Política
últimas obras de grupos de São produções das mais relevantes e Performance, pude assistir
Paulo como a Companhia São peças ou montagens do teatro a “El Ultimo Ensayo”, dos
Jorge de Variedades, o Núcleo chileno. peruanos Yuyachkani, e a “A
Bartolomeu de Depoimentos e o Depois, períodos de ensaio Título Personal”, do Teatro de La
Teatro de Narradores. E já é tarde longos, de um ano ou mais, em Candelaria, de Bogotá, onde eram
para alguns dos espectáculos que que a discussão sobre o texto, postos em cena os impasses da
fizeram história, como “Mujeres a encenação e a actuação se criação perante o desabar tanto
sonãron caballos”, de Veronese vai encaixando aos poucos. das ditaduras de direita quanto
(em que três casais têm de Ironicamente, a precariedade das esperanças de esquerda.
conviver num minúsculo espaço do emprego artístico, os “day Desde o início do milénio, não
sobrelotado de móveis), ou mesmo jobs” e os locais alternativos só a democracia se revelou uma
impossível, caso de “Bizarra”, desocupados geram este luxo de desilusão, como as esquerdas
de Spregelburd (subtítulo: “A espaço e de tempo. Os calendários não forneceram alternativa

42 • Sexta-feira 18 Junho 2010 • Ípsilon

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