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3/08/2011 12h00 - Atualizado em 17/11/2011 12h38

Entrevista: Henry Jenkins fala sobre


a relação dos fãs com as narrativas
Tema da pesquisa está relacionado ao seminário Regiões Narrativas
Por Miguel CondeRio de Janeiro

Disponível em: http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2011/08/entrevista-henry-jenkins-fala-sobre-relacao-dos-fas-


com-narrativas.html

De que maneira as novas tecnologias transformam a relação entre produção e


consumo de filmes, músicas e histórias? Até que ponto os pesquisadores da mídia
devem repensar a relação do público com a cultura pop para dar conta das práticas
surgidas no meio digital? O pesquisador americano Henry Jenkins, da Universidade da
Carolina do Sul, tem se dedicado, nas últimas décadas, a pensar essas questões. E
são estas e outras questões que envolvem o tema do Seminário Internacional
Regiões Narrativas, que acontece nos dias 24 e 25 de agosto no Rio de Janeiro, com
o apoio do Globo Universidade. Em virtude da proximidade entre os temas, o Globo
Universidade republica entrevista com Henry Jenkins concebida pelo pesquisador
durante o V Seminário Internacional Obitel, realizado em agosto de 2010.
23/08/2011 12h00 - Atualizado em 17/11/2011 12h38

Entrevista: Henry Jenkins fala sobre


a relação dos fãs com as narrativas
Tema da pesquisa está relacionado ao seminário Regiões Narrativas
Por Miguel CondeRio de Janeiro
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De que maneira as novas tecnologias transformam a relação entre produção e consumo de filmes,
músicas e histórias? Até que ponto os pesquisadores da mídia devem repensar a relação do
público com a cultura pop para dar conta das práticas surgidas no meio digital? O pesquisador
americano Henry Jenkins, da Universidade da Carolina do Sul, tem se dedicado, nas últimas
décadas, a pensar essas questões. E são estas e outras questões que envolvem o tema
do Seminário Internacional Regiões Narrativas, que acontece nos dias 24 e 25 de agosto no
Rio de Janeiro, com o apoio do Globo Universidade. Em virtude da proximidade entre os temas,
o Globo Universidade republica entrevista com Henry Jenkins concebida pelo pesquisador
durante o V Seminário Internacional Obitel, realizado em agosto de 2010.
Em entrevista, Henry Jenkins discute os conflitos decorrentes das novas relações criativas
(Foto: Renato Velasco)

Definindo-se como um híbrido de acadêmico e fã ("aca-fan", no termo em inglês), Henry Jenkins


é um dos principais teóricos do que chama de cultura participativa, um ambiente em que as
fronteiras entre criadores e consumidores são menos claras. Jenkins é autor de inúmeros livros.
No Brasil, é possível encontrar "Cultura da Convergência" (2009). Outros títulos são: Children´s
Culture Reader (1998), From Barbie to Mortal Combat (2000), Rethinking media
change (2003), Democracy and new media (2003), Fans, bloggers, and
gamers (2006), Confronting the challenges of participatory culture (2009). Nesta entrevista, ele
diz que seu pensamento sobre a produção dos fãs foi moldado pela leitura de zines, ainda antes
da vida acadêmica, e discute os conflitos legais decorrentes dessas novas relações criativas.

Globo Universidade - Em seu site, você recorda que, ao entrar na pós-graduação, sua
primeira impressão foi de que a abordagem usual da cultura pop diferia muito da sua
experiência pessoal como fã de filmes e séries. Quando encontrou um caminho para afinal
estudar o que amava?
Henry Jenkins - Duas coisas me levaram à pós-graduação: ser um cinéfilo e um fã da mídia.
Ambos moldaram minha paixão. Mas, quando cheguei lá, a primeira experiência que tive de
estudos de cinema era baseada em muita hostilidade em relação à cultura pop. Acreditava-se num
controle do sentido a partir do topo, uma visão quase conspiratória sobre a dominação dos
espectadores pela indústria. Fiquei muito frustrado com isso, a ponto de quase desistir do curso,
até que conheci John Fiske [pesquisador e acadêmico especialista em cultura pop]. Ele tinha
acabado de chegar da Austrália, estava no pico de sua carreira e levava a sério tanto os textos
quanto o público. Ele pensava esta área como um conjunto de recursos por meio dos quais damos
sentido a nossas vidas e ao mundo, e entendia o papel criativo do público na reação àquilo que
ele consumia. Nas aulas de Fiske, fui introduzido a essas abordagens e encorajado a explorar
meu interesse. Ele foi a figura chave que abriu caminho para meu trabalho e para toda uma
geração de pesquisadores nos EUA.

GU - Como era, na época, a situação das linhas de pesquisa associadas aos Estudos
Culturais nos EUA?
HJ - Bem, adoraria contar uma história de luta e superação, mas a verdade é que tive um enorme
apoio da Universidade de Iowa e da Universidade de Winsconsin. Eram centros que queriam
explorar novos métodos. Tive sorte de Fiske vir aos EUA no momento em que os Estudos
Culturais estavam decolando globalmente como forma de pensar a mídia. E tive sorte também de
ser contratado pelo departamento de Literatura do Massachusetts Institute of Technology (MIT)
para dar aulas. Embora às vezes sentisse hostilidade de colegas, institucionalmente recebi um
apoio sólido para desenvolver meu trabalho.

GU - Por que escolheu o MIT?


HJ - O MIT foi o único lugar que me fez uma oferta de emprego depois que me formei. Era a
única escolha que tinha e me pareceu, na época, uma escolha interessante, porque estava no
centro da revolução digital. Eu cheguei lá e, em uma semana, Mark Davis, do laboratório de
mídia, veio me convidar para participar do grupo de estudos de inteligência narrativa, que era
formado por alunos de pós-graduação. Foi um encontro entre pensamento tecnológico e
humanístico sobre mídia. Muitos pesquisadores de ponta saíram desse grupo. Eu nem usava e-
mail quando cheguei ao MIT. O digital estava no ar de tal forma que vi que não podia deixar de
pensar nisso. Comecei a escrever sobre videogames, comunidades de fãs online, comecei a
pensar questões de transmídia muito cedo, embora o conceito só tenha tomado forma mais tarde.
Lá, as pessoas que desenvolviam a tecnologia estavam interessadas em entender quais seriam
seus impactos sociais. Isso criou um diálogo que me incluía e onde podia aprender muito.

GU - Suas pesquisas nessa época sobre comunidades online foram seu primeiro
contato com a produção dos fãs da cultura pop?
HJ - Eu vinha lendo ficção de fãs (fan fiction) dez anos antes de começar minha pós-
graduação. Os zines eram parte do meu mundo, o que moldou muito meu pensamento
sobre o público da cultura pop. Essas eram pessoas que não apenas estavam
engajadas criticamente com o que consumiam, mas que estavam ativamente
reescrevendo e tomando para si esses textos. Eu procurava uma linguagem teórica
que me permitisse falar sobre isso. Quando mudei para o digital, foram as listas de
discussão de programas de TV que me interessaram. O primeiro artigo que escrevi
sobre fãs digitais foi a respeito de Twin Peaks e as especulações sobre quem matara
Laura Palmer. Os antigos zines eram feitos a partir das contribuições enviadas por
cartas. Nessa época, o processo todo levava três ou quatro meses para ser concluído.
Era possível ler criações feitas a partir de episódios exibidos meses antes. Nas
comunidades online, as reações vêm cinco minutos após o fim do episódio, se tanto.

GU - Algumas pessoas têm associado o conceito de transmídia a definições


mais genéricas do pós-moderno, descrevendo-o como um fenômeno de
fragmentação e proliferação de narrativas. Você subscreve esse tipo de leitura?
HJ - Os pensadores do pós-moderno levantam muitas questões importantes sobre
como a narrativa é apropriada e reescrita em diferentes espaços. No entanto, o
problema é que eles não estão imersos na cultura de fãs, nem se interessam pelos
textos populares do pós-moderno, apenas pela vanguarda. Então, acabam sendo
como uma Escola de Frankfurt requentada. Minha experiência como fã é que esses
textos são muitos significativos e que evocam o passado para as pessoas. Só ao
pensarmos a atividade do público, podemos entender os sentidos desses textos. Não
caio na crítica pós-moderna sobre significantes vazios, superfícies etc. Entendo que
seja muito fácil falar de transmídia como mais uma forma de fragmentação ou
desconstrução do texto, mas o que vejo é o oposto disso: uma forma de aprofundar o
vocabulário da história.

GU - Você observou que muitos produtos da mídia contemporânea recuperam


um vocabulário antigo, pré-moderno, e se definem como "sagas" ou
"mitologias". O quanto devemos levar a sério essas referências?
HJ - A linguagem de saga ou da mitologia, que os produtores usam hoje,
provavelmente vem das conversas de Joseph Campbell com George Lucas, e de seus
especiais para a televisão, onde ele descrevia a natureza das narrativas mitológicas
como básicas e que, no fundo, podem ser reconhecidas universalmente. Se você olhar
em guias para roteiros de cinema ou televisão, eles foram moldados pelas ideias de
Campbell. Quanto à audiência, estamos vendo uma revitalização de alguns dos
mecanismos da cultura popular na era digital. Em tempos remotos, a cultura popular,
grosso modo, era uma cultura na qual os conteúdos passavam fluidamente de uma
pessoa para outra, pertenciam a uma comunidade e não a um indivíduo. As
habilidades eram ensinadas organicamente como parte das interações diárias das
pessoas. Havia xamãs com poderes particulares, mas as práticas diárias de narração,
ou de produção de música, ou de colchas, necessitavam da criação coletiva. A cultura
de massa até certo ponto esmaga essa habilidade, estabelece fronteiras em torno do
texto através dos direitos autorais. O digital criou outra oportunidade para essa
criatividade de base prosperar. Não é que todo mundo será um produtor, mas mais
pessoas produzem. Conforme fazem isso, escolhem como matéria-prima o conteúdo
da cultura de massa. Não é um retorno ao passado arcaico. É quase uma dialética de
duas forças opostas se encontrando na mídia digital. Uma das coisas que me atrai à
América Latina é que aqui a cultura popular sobreviveu de maneira muito mais pública.
Há fortes tradições inscritas na vida de muitas pessoas no Brasil. Conforme elas
passam ao digital, estou muito interessado em entender o que acontecerá.

GU - Uma tensão que surge do encontro de um modelo de criação popular no


contexto da cultura de massa é a questão de quem ganha dinheiro com isso,
não?
HJ – Sim. Esse é um tema central do livro que estou escrevendo agora, Spreadable
media. Quem produz valor e quem ganha dinheiro são as mesmas pessoas na cultura
digital? Muitas das justificativas de proteção dos direitos autorais se baseiam na ideia
de que o fã deprecia o valor do original. Ao permitir que muitas pessoas criem, você tira
a originalidade e a singularidade dos conteúdos protegidos. Eu quero argumentar que,
na verdade, os fãs têm uma relação emocional com a obra e, economicamente,
aumentam seu valor ao introduzirem novos sentidos. Esse é um ponto. O outro é o
debate sobre a Web 2.0. Alguém disse: "Web 2.0: nós fazemos todo o conteúdo, vocês
fazem todo o dinheiro". É um modelo que usa a criatividade da audiência, mas não
reconhece ou recompensa esse esforço criativo. Há um problema de exploração
dessas comunidades sem compensação. Uso a palavra compensação em vez de
pagamento porque essas comunidades não são necessariamente baseadas numa
lógica comercial. Elas estão baseadas numa lógica de reciprocidade. O pagamento
talvez não faça sentido para elas. Se você se vê como parte de um processo popular,
botar pagamento no meio pode corroer a reciprocidade que está no coração do
processo. Um dos problemas com a crítica do trabalho grátis é que ela considera que
todo trabalho é trabalho alienado. Quando falamos do trabalho grátis como trabalho
sem recompensa, estamos dizendo "você está trabalhando, o que é uma coisa
desagradável, para alguém fazer dinheiro em cima disso". No entanto, estou muito
interessado no que diz o pensador Richard Sennett, que escreveu um livro chamado
"O artesão", no qual fala sobre os múltiplos sistemas de compensação sob os quais
um artesão operava. Sim, ele ganhava dinheiro dos produtos que vendia, mas também
havia a satisfação de um trabalho bem feito. Neste caso, as recompensas também
eram estéticas e sociais. O que acontece se pensarmos nos fãs como artesãos? Eles
podem escolher trabalhar num sistema de recompensa econômica, mas também num
sistema de recompensa cultural.
GU - Como as empresas estão lidando com isso?
HJ - Há muita confusão. Sempre que sento numa sala de reuniões, há uma variedade
de reações a esse assunto. O departamento jurídico quer controlar rigidamente a
propriedade intelectual, o marketing quer envolver os consumidores com a mídia e os
criadores ficam divididos entre a empolgação de ver sua história se tornarem parte viva
da cultura e a ansiedade por perder controle sobre os personagens e os enredos.
Como consultor, minha tarefa é pensar em soluções que podem trazer dinheiro, mas
essa não é minha meta principal, e sim diversificar a cultura, assegurar mais atenção
aos consumidores e expandir seus direitos.

GU - Como você lida com as tarefas de ser, ao mesmo tempo, acadêmico, fã e


consultor de empresas?
HJ - A primeira coisa a ser dita é que um fã não é necessariamente acrítico. Fãs têm
um modo particular de crítica, profundamente investido no texto. Eles podem se tornar
críticos da indústria, da ideologia, das estratégias de marketing. Muitas vezes, estão a
um passo de serem a principal oposição à indústria. Ser um aca-fã não significa que
não faço perguntas, mas sim que as faço de forma diferente. Diria que o mesmo é
verdadeiro na minha relação com a indústria. Por causa da minha experiência no MIT,
onde há uma forte tradição de consultoria a empresas, tive acesso à indústria. Porém,
participo do processo produtivo com uma mentalidade reformista. As perguntas são as
mesmas, mas a linguagem é pragmática, com muito mais chance de mudar as práticas
corporativas.

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