Santa Maria, RS
2018
Alvaro Pouey de Oliveira Filho
Santa Maria, RS
2018
Alvaro Pouey de Oliveira Filho
_____________________________________
Fernanda Kieling Pedrazzi, Dr.ª (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
______________________________________
Sônia Elisabete Constante, Dr.ª(UFSM)
_______________________________________
Francisco Alcides Cougo Júnior, Msc. (UFSM)
Santa Maria, RS
2018
“Quando de nós só teriam sobrado vestígios e alguns
desses fossem encontrados e entre esses,
fotografias, pensemos que um fato seria possível: por
meio delas, para os que as encontrariam, pudesse se
operar uma revelação. As fotografias diriam sobre
quem fomos e como vivemos. No seu imóvel silêncio,
alguma coisa poderiam dizer...”
Francisca Michelon
RESUMO
Este trabalho visa investigar, pela ótica da Arquivologia, as relações existentes entre
a fotografia jornalística e o texto na construção da notícia nos meios de comunicação
impressos. A ligação entre a fotografia e o texto, no âmbito jornalístico, pode aportar
subsídios importantes para a descrição do documento fotográfico da imprensa escrita.
O processo de descrição será analisado a partir da Norma Brasileira de Descrição
Arquivística (Nobrade) e a Rules for Archival Description (RAD2), do Canadá. A
fotografia jornalística, como um produto informativo, deve alcançar um elevado grau
de recuperação e contextualização, mantendo também uma rastreabilidade que
oportuniza a (re) utilização de um mesmo conjunto fotográfico, ou de uma unidade
fotográfica, em diferentes reportagens. A análise considera as fotografias como
documentos nato-digitais e também toma em conta que esse produto pode ser
utilizado tanto em meio analógico (jornal impresso em papel) como nas páginas da
web dos veículos de comunicação. Visando ressaltar a importância da fotografia
jornalística para a sociedade, a investigação analisa a fotografia jornalística como
elemento de construção da memória social. O estudo aponta ainda a necessidade de
revisar a Norma Brasileira, incluindo os itens de descrição que deem conta de
englobar as fotografias nato-digitais.
This study aims to investigate, from the perspective of Archivology, the relations
between the journalistic photography and the text on the construction of news in the
printed media. The relation between the photography and the text, within the
journalistic sphere, can bring important subsidies to the description of the photographic
document on the written press. The description process will be analysed in accordance
with the Brazilian Standard of Archival Description (Nobrade) and the Rules for
Archival Description (RAD2), from Canada. The journalistic photography, as an
informational product, must achieve a high degree of recovery and contextualisation,
while also maintaining a traceability that makes it possible to (re) use the same
photographic set, or a photographic unit, in different reports. The analysis considers
the photographs as digital-born documents and also takes into account that this
product can be used both in analogue media (newspaper printed on paper) and in the
web pages of communication vehicles. Aiming to highlight the importance of
journalistic photography to society, the research analyzes the journalistic photography
as an element of social memory construction. The study also points out the need to
review the Brazilian rules, including the description items that account for
encompassing the digital-born photographs.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 78
1 INTRODUÇÃO
12
para a arquivística, que deve observar as necessidades de recuperação e
contextualização no cotidiano das redações jornalísticas.
O estudo desenvolve-se primeiramente definindo o que é a fotografia
jornalística e suas relações com o texto, buscando alicerçar, com base nas teorias
jornalísticas, a união entre a fotografia e o texto nos meios de comunicação impresso
e digital, ponto fundamental deste trabalho.
Com o intuito de reconhecer a fotografia jornalística como um registro da
memória social e sua importância na reconstrução do passado, dedica-se uma parte
desse trabalho para esse fim, mesmo que uma breve explanação. Seguindo na
construção do entendimento do significado de fotojornalismo, coube também citar o
surgimento deste no Brasil.
Sendo que o objeto fotografia desenvolvido nesse estudo é no meio digital,
surgiu a necessidade de tecer um breve comentário a respeito do que é essa
fotografia, e como esta é obtida e representada. Por fim, entra-se no assunto central
deste trabalho que é a descrição dos documentos de arquivo, voltado para a fotografia
digital jornalística, e suas necessidades para a recuperação e contextualização. Para
isso, é desenvolvida uma análise das relações entre a fotografia e o texto no âmbito
dos meios de comunicações impresso e digital.
13
2 METODOLOGIA
14
Logo nos primeiros materiais bibliográficos encontrados a respeito da fotografia
de imprensa, observou-se a estreita relação e/ou dependência da fotografia com o
texto. Esse fato trousse o entendimento de que fotografia e texto, no âmbito
jornalístico, são orgânicos.
Munido com essa informação, buscou-se compreender quais são as relações
possíveis que existem entre fotografia-texto. Para isso, direcionamos as buscas para
o uso da linguagem no meio jornalístico.
Outro ponto importante para a fotografia jornalística e o arquivo é no que se
refere à compreensão do impacto que a fotografia digital trouxe. Para isso, também
utilizando-se da pesquisa bibliográfica, relata-se o que é a fotografia digital.
No âmbito arquivístico, as principais ferramentas de análise foram a Norma
Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade) e a Regras para Descrição Arquivística
(RAD2) do Canadá, realizando uma análise dos campos descritivos e buscando os
elementos de cada uma dessas normas que satisfizessem a descrição da fotografia
jornalística.
15
3 FOTOGRAFIA DIGITAL JORNALÍSTICA E DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA
16
Sendo um documento de arquivo, a fotografia jornalística está sujeita às
intervenções técnicas arquivísticas, as quais salienta-se a descrição, que visa o
acesso, explicação do contexto de criação e utilização do documento. Tendo em vista
que um conjunto documental fotográfico de uma determinada notícia pode e/ou é
utilizada para outra notícia vinculada a um tema similar, com base na descrição
documental pode-se rastrear a história e o contexto deste conjunto, auxiliando tanto
na recuperação como no entendimento dos documentos. Esta reutilização da
fotografia de imprensa faz surgir a necessidade de uma análise mais detalhada quanto
ao princípio da unicidade.
O processo e o produto da descrição arquivística serão analisados enquanto
sua capacidade de, além de auxiliar na busca e ao acesso dos documentos, de
servirem como contextualizadores da fotografia jornalística, tomando por base o texto
ou a legenda como ferramentas auxiliares nesse processo de descrição. A descrição
arquivística será tratada em capítulo específico.
18
encontrar para criar o documento fotográfico. Por outro lado, o fotodocumentalista
realiza um trabalho de longo prazo, contando uma história e sem uma margem de
tempo pré-determinada para executar. Nesse ponto compreendemos que esse
profissional, diferente do fotojornalista, possui entendimento do tema que vai
fotografar, criando um discurso através das imagens (SOUSA, 2002).
O ponto de união entre o fotojornalista e o fotodocumentalista é objetivo
essencial de ambos: “contar uma história em imagens” (SOUSA, 2002, p.8). As
abordagens desses profissionais são relatadas por Sousa, tomando como exemplo
qualquer acontecimento. Assim,
3 A partir desse ponto, todas as traduções de Castellanos (2003) são traduções livres do autor.
4
Tradução livre do autor.
19
As relações orgânicas que se buscam demonstrar entre a fotografia de
imprensa e o espaço onde essa é disposta para transmitir informação, é relatada pelo
autor como não sendo criadas ao acaso, mas sim controlada, visto que a fotografia
cria um “diálogo com outros elementos do suporte que é a página” (PEREIRA
JÚNIOR, 2006, p.113).
Sobre a relação texto-imagem e seus valores informativos, Pereira Júnior
reflete em torno da qualidade e capacidade que fotografia e texto possuem para
transmitir a informação. Nesse contexto o autor diz que “não é raro o caso em que o
texto, por melhor e mais informativo, perde importância e espaço na página por falta
de imagem” (IBIDEM). Não obstante, o autor refere-se à matéria de conteúdo frágil,
dizendo que essa ganha vitalidade com uma boa foto.
21
um exemplo: “(...) este nome constituindo um saber que pode exercer grande
influência sobre a leitura da mensagem propriamente dita: uma fotografia pode ter
sentidos diferentes se publicada no L’Aurore ou no L’Humanité” (BARTHES, 1990,
p.11).
No que se refere à emissão e recepção da mensagem, Barthes coloca-as como
sendo de ordem sociológica e diz: “estudam grupos humanos, definem motivos e
atitudes e tentam relacionar o comportamento destes à sociedade total que fazem
parte” (BARTHES, 1990, p.11). Nestas afirmações de Barthes, podemos perceber que
o jornalismo, e dentro desse a fotografia jornalística, exerce grande influência na
construção da memória social coletiva, uma vez que está diretamente associada ao
reflexo das atividades cotidianas da sociedade.
Recuando no tempo, Kossoy defende que a fotografia, na segunda metade do
século XIX, tornou o mundo familiar e “o homem passou a ter um conhecimento mais
preciso e amplo de outras realidades, realidades que eram, até aquele momento,
transmitidas unicamente pela tradição escrita, verbal e pictórica” (KOSSOY, 2001,
p.26). Essa possibilidade de ampliar a visão de mundo que ocorreu, ainda hoje exerce
grande impacto na sociedade, sendo que as fotografias podem ser transmitidas quase
que instantaneamente por meio de smartphones, computadores e alcançarem os
grupos sociais na mesma velocidade com que foram produzidas. Kossoy nos diz que
“o mundo, a partir da alvorada do século XX, se viu, aos poucos, substituído por sua
imagem fotográfica”, tornando-se, segundo suas palavras, “portátil e ilustrado”
(KOSSOY, 2001, p.27).
Seguindo na busca pela relação entre memória e fotografia, Zelizer (2012), traz
em suas palavras a afirmação de que existe um padrão na forma com que as imagens
se apresentam como um veículo da memória, e que, baseado nesse padrão, somos
capazes de reconhecer as evidências do que é representado na sua fixidez. A autora
também refere-se ao impacto necessário para que uma imagem seja fixada, dizendo:
“a textura da memória visual torna-se um facilitador da durabilidade da memória”
(ZELIZER, 2012, p.22).
A partir dessa informação, obtém-se a importante relação sensorial existente
entre a força e a intensidade com que uma imagem se manifesta e a sua capacidade
de fixar-se na memória humana.
22
Na compreensão da fotografia como um gatilho para a memória, é necessário
antes navegar pelos textos de Barthes que nos traz um importante aspecto no
entendimento da fotografia como manifestação do real. Primeiro, Barthes nos
apresenta uma visão do senso comum em relação a esse tema dizendo que a
fotografia representa a própria cena, o real. Em contra ponto a essa realidade
apreendida, o autor alerta que a fotografia é uma redução, o que significa ser um
recorte do espaço, do visível. Nas técnicas de fotografia esse recorte do espaço visível
recebe o nome técnico de enquadramento. Essa redução que Barthes relata, engloba
ainda as questões de proporção, perspectiva e cor (BARTHES, 1990, p.12).
Já a compreensão da fotografia em termos gerais, relacionada ao senso
comum, é descrita pelo autor da seguinte forma: “... é bem verdade que a imagem não
é o real, mas é, pelo menos, o seu analogon perfeito, e é precisamente esta perfeição
analógica que, para o senso comum, define a fotografia” (BARTHES, 1990, p.12).
O “analogon” a que Barthes se refere está ligado à sua mensagem denotada:
23
O fotojornalista e os outros atores envolvidos na objetivação de colocar
diariamente o reflexo da vida de uma sociedade nas páginas dos jornais, tornam-se
partícipes influentes na construção da memória, o que suscita a necessidade de um
debate referente à ética das profissões envolvidas, tema esse que não será tratado
neste trabalho.
No entanto, quando a cidade repousa, ao fim de mais um dia, um mosaico de
fotografias e textos distribuem-se pelo espaço limitado de folhas originalmente em
branco (ou ilimitado, no caso do mundo digital), criando fragmentos daquilo que, mais
tarde, vai compor memória. São fragmentos que transitam entre a notícia nova e
fresca, e revisitações de antigos fragmentos que tomaram, mais uma vez, a atenção
dos olhares da sociedade. Nesse grande círculo de infinitas possibilidades de voltas,
o apoio das fotografias ligadas aos textos torna-se capaz de disparar o gatilho das
rememorações, criando um suporte documental que favorece o traçado da história.
Desde o ponto de vista histórico, vale lembrar, a fotografia como informação e
conhecimento, segundo Kossoy (2001), teve seu desenvolvimento durante a
Revolução Industrial, quando o consumo por imagens levou gradativamente ao
aperfeiçoamento técnico. Nesse contexto, o autor ressalta as novas técnicas de
impressão desenvolvidas pela indústria gráfica naquele período, o que levou a uma
produção massiva pelos meios de comunicação (KOSSOY, 2001, p 26).
Desde seu gradual desenvolvimento, a partir de Joseph Nicéphore Niépce e
Louis Jacques Mandé Daguerre, a fotografia passou por diversas fases, dentre essas
Sousa cita o pictorialismo, quando foram criadas as primeiras convenções
profissionais (SOUSA, 2002).
24
utilização de fotografias incorporadas às notícias porque essas não se enquadrariam
nas convenções e na cultura jornalística na época (SOUSA, 2000, p.17).
A mudança de conceito da relação fotográfica com a notícia, deixando de ser
uma parte secundária, somente de ilustração ao texto, surgiu a partir do primeiro
tabloide fotográfico, em 1904. É a partir daí que a fotografia é considerada como uma
outra categoria de conteúdo e assume papel tão importante na informação jornalística
como o componente escrito (BAYNES,1971 apud SOUSA, 2000, p.18).
A documentação do mundo, da realidade, veio à fotografia quando os
desenvolvimentos técnicos da química e da ótica chegaram, nos meados da década
de 1850. Isso propiciou que os fotógrafos deixassem os estúdios e fossem fotografar
em ambientes externos, trazendo novo sentido de “prova”, “testemunho” e “verdade”
(SOUSA, 2000, p.33).
O fotojornalismo de guerra surge tendo na figura do britânico Roger Fenton
como o primeiro a ser remunerado para realizar uma fotorreportagem (SOUSA, 2000).
As fotografias de Fenton da Guerra da Criméia foram publicadas no The Illustrated
London News e no Il fotografo, de Milão, no ano de 1855 (SOUSA, 2000). As
fotografias foram publicadas ainda como gravuras, no entanto Sousa relata que essas
seriam as primeiras fotografias que indicariam a predileção do fotojornalismo que
nascia com as fotografias dos conflitos bélicos (SOUSA, 2000).
Corroborando que a guerra foi um impulsionador para a fotografia e o
fotojornalismo, Wells diz: “Um dos maiores fatores no desenvolvimento da fotografia
em torno do mundo foi o desejo de registrar as guerras” (WELLS5, 2015, p. 81).
A Guerra da Criméia ( 1853 – 1856) possui importância para as fotografia de
imprensa, uma vez que todos os outros conflitos que se seguiram foram registrados
por fotojornalistas. Alguns destes conflitos, segundo Sousa, foram entre Áustria e
Sardenha (Luigi Sacchi, Berardy e Ferriers, pai e filho, 1859); ataque da Prússia e
Áustria contra a Dinamarca (Friedrich Brant, Adolph Halwas e Heinrich Grat, 1864),
entre outros (SOUSA, 2000, p. 35). Wells relata que Fenton, utilizando o processo do
colódio úmido, produziu mais de 350 fotografias nas quais a guerra foi retratada de
forma calma, disciplinada e ordem, não mostrando mortes e os seus horrores (WELLS,
2015).
5
A partir desse ponto, todas as traduções de Wells (2015) são traduções livres do autor.
25
Quando se submerge na história da fotografia de imprensa, outro conflito que
merece atenção é a Guerra Civil Americana (1861 e 1865) quando, segundo Sousa
(2000), surgem práticas na construção da imagem, isto é, fotografias que mostravam
a realidade de morte do conflito. O autor relata que é nesse conflito que, pela primeira
vez, os fotojornalistas estavam na frente de batalha. Da Guerra Civil Americana,
Sousa salienta aspectos que vieram a influenciar o fazer fotojornalístico, sendo alguns
destes:
6“Produtor fotográfico”: entende-se aqui a pessoa do fotógrafo, quem executa o ato de registrar a
imagem através da câmera.
26
O nascimento do fotojornalismo moderno, segundo Sousa, aconteceu na
Alemanha, após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), onde, num ambiente
florescente no mundo das artes, letras e da ciência, acabou por refletir na imprensa.
Nos anos de 1920 e 1930, a Alemanha se tornou o país com o maior número de
revistas ilustradas. “Essas revistas tinham tiragens de mais de cinco milhões de
exemplares para uma audiência estimada em 20 milhões de pessoas” (LACAYO;
RUSSELL, 1990 apud SOUSA, 2000).
Sousa (2000), se refere às mudanças ocorridas nos anos de 1980 no mundo e
que acabou por refletir-se na fotografia de imprensa como a terceira revolução no
fotojornalismo. No relato do autor, salienta-se novas tecnologias de comunicação e
informação, o que trouxe uma impactante e nova realidade sustentada pelas redes
globais.
Para a fotografia jornalística, as mudanças ocorridas no final do século XX
trouxeram fortes impactos na produção e divulgação. Sousa identifica alguns fatores
ligados a essas mudanças para a fotografia jornalística, e dentre estas, vamos nos
deter na capacidade e as possibilidades de manipulação, além da geração de
fotografias por meio de computadores, de fotografias (SOUSA, 2000).
Ainda que esta pesquisa não esteja voltada para a análise diplomática das
fotografias, o relato do autor levanta a necessidade de pesquisas e análises mais
aprofundadas sobre o assunto.
Uma vez que compreendemos a fotografia jornalística como um documento de
arquivo, capaz de testemunhar as ações do universo que ela reflete nas páginas dos
periódicos, bem como testemunha do fazer jornalístico, desenvolver metodologias que
atestem a veracidade da informação fotográfica vinculado nos meios de comunicação
seria de grande valia para a arquivologia e para a sociedade.
27
3.3 A Imprensa e o Fotojornalismo No Brasil
Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879): esse é o nome que deve ser
lembrado quando fala-se de fotografia no Brasil. Florence era origem francesa, e
radicou-se na vila de São Carlos, atual Campinas, no estado de São Paulo. Segundo
Oliveira (2006), realizou pesquisas entre 1832 e 1839, com materiais sensíveis à luz
e semelhantes aos de Niépce, Daguerre e Talbot7, buscando uma forma mais
econômica de impressão das imagens (OLIVEIRA, 2006, p. 2).
Ao lado do botânico Joaquim Corrêa de Melo, Florence desenvolveu suas
pesquisas. Oliveira (2006) afirma que a palavra “fotografia” fora utilizada por estes
fotógrafos desde 1832, antes do termo ser utilizado (no ano de 1840) pelo astrônomo
John Herschel. No entanto, Florence jamais obteve reconhecimento de suas
pesquisas (OLIVEIRA, 2006 p. 2).
O início da imprensa no Brasil se deu quando, segundo Meirelles (2007), após
a vinda da família real portuguesa ao Brasil, em meados de 1808, com a
regulamentação da tipografia no país sendo institucionalizada por D. João Vl por meio
do decreto de 13 de maio de 1808 (MEIRELLES, 2007).
Meirelles salienta o que representou, na realidade, a abertura da oficina
tipográfica e posteriormente a Gazeta do Rio de Janeiro:
7Willian Henry Fox Talbot: (1800 – 1877), oficialmente o criador do processo de fotografia baseado
no princípio do negativo / positivo. Disponível em:
<https://alternativafotografica.wordpress.com/2009/08/16/ william-henry-fox-talbot/> Acesso em: 13,
abril, 2018.
28
Buitoni (2007) revela que a revista “Semana Ilustrada”, surgida em maio de
1900 até o final da década de 1950, e editada na cidade do Rio de Janeiro, além de
trazer fotografias nas suas edições desde seu primeiro número, foi responsável pelo
“imaginário visual” do país.
O grande impulso que a fotografia obteve nos meios de comunicações está
ligado ao desenvolvimento técnico dos equipamentos de captação das imagens. O
filme em rolo, as lentes anastigmáticas8, mais claras (com maior capacidade de
absorção de luz) e sem distorções foram elementos, segundo Barbosa e Louzada,
fundamentais para o desenvolvimento do fotojornalismo (BARBOSA; LOUZADA,
2012, p. 63).
A revista “O Cruzeiro”, de 1928, foi, segundo Buitoni, a responsável pelo
surgimento da “mentalidade de fotojornalismo” no Brasil (BUITONI). A autora descreve
essa relação:
Outro aspecto relevante que nos trazem as autoras acima citadas é de que, foi
a partir da década de 1940 que o fotojornalismo brasileiro é definitivamente
consolidado através das publicações da revista O Cruzeiro, onde ocorreu uma quebra
de paradigmas nos temas editoriais que buscaram o gosto do leitor (BARBOSA;
LOUZADA, 2012).
8Objetivas com vários tipos de vidro ótico nos quais a distorção devido à incidência oblíqua dos raios
de luz e à curvatura do campo de imagem, corrigindo assim o astigmatismo. A imagem capturada é
muito mais nítida (BARBOSA; LOUZADA, 2012, p. 63).
29
Os jornais diários, nesse momento, não priorizam a linguagem fotográfica
porém, com a aproximação do governo de Getúlio Vargas com os Estados Unidos, a
partir de 1942, passam a sofrer influência, especialmente da revista Life, o que trouxe
fortes mudanças no jovem fotojornalismo brasileiro (BARBOSA E LOUZADA, 2012).
Barbosa e Louzada (2012) a essa influência Norte Americana, somada ao
amadurecimento da população para a leitura e o consumo de imagens, trouxe as
condições necessárias para desenvolver a imprensa de massa, na qual as imagens
assumem seu lugar de destaque. Dizem as autoras à respeito disso: “estão criadas
as premissas fundamentais para a nova etapa no desenvolvimento da imprensa,
priorizando uma visualidade que prepara o olhar do público para o cotidiano em
permanente movimento” (BARBOSA; LOUZADA, 2012, p.64).
Essa mudança é exemplificada pelas autoras supracitadas em uma análise do
jornal “Última Hora” do dia 12 de junho de 1951. São destacadas três características
deste veículo de comunicação: “o apelo visual, a exploração do sensacional e a
inclusão das temáticas cotidianas e populares (BARBOSA; LOUZADA, 2012, p. 64).
É de fundamental importância que, segundo as autoras, tanto a fotografia como as
manchetes possuíam igual importância na reportagem.
É nesse veículo de comunicação, pela análise descrita por Barbosa e Louzada,
que a fotografia buscava oferecer um maior poder de informação (BARBOSA;
LOUZADA, 2012, p. 64).
No século XXl, podemos constatar uma imensa proliferação das fotografias,
sendo transmitidas automaticamente dos equipamentos profissionais ou celulares
para qualquer lugar do mundo, no entanto, foi no ano de 1936, que a fotografia
jornalística experimentou uma nova realidade. Nesse ano, “o jornal “O Globo” publicou
por primeira vez uma fotografia da olimpíada de Berlim, transmitida via rádio, processo
conhecido como “radiofoto” “ (BARBOSA e LOUZADA, 2012, p. 64).
Ao analisarmos brevemente o desenvolvimento do fotojornalismo na imprensa
brasileira, cabe apenas salientarmos que, desde sua primeira utilização até os dias
atuais, podemos observar um constante fluxo de utilização das mesma e a forte cultura
da imagem como transmissor da informação.
30
3.4 (Re) Conhecendo o objeto fotográfico digital
[...] o código da imagem existe numa realidade física que são os suportes. A
captura vem condicionada pelas características e o software de câmeras e
scanners, que são determinantes para a obtenção de uma determinada
fotografia. Assim mesmo, a materialização final da imagem é produzida numa
tela ou em uma impressora. (FRANCH, 2008, p. 21)
11 RAW, da tradução em Inglês significa: cru, bruto ou matéria-prima. (DICIONÁRIO OXFORD, 2003,
p.561
12 “O CCD é produzido a partir de pastilhas de silício, onde são enterradas microscópicas hastes
13 AP – Associated Press.
34
4 ARQUIVOLOGIA E O DOCUMENTO DE ARQUIVO DESCRITO
36
qualquer objeto que contenha informação. Reforçando essa generalização do que é
um documento, Bellotto escreve: “segundo as conceituações clássicas e genéricas, o
documento é qualquer elemento gráfico, iconográfico, plástico ou fônico pelo qual o
homem se expressa” (BELLOTTO, 2014, p. 38).
O documento de arquivo, por outro lado, segundo as Diretrizes para a
Presunção de Autenticidade de Documento Arquivísticos Digitais, do Conselho
Nacional de Arquivos, na resolução nº37, diz que: “documento de arquivo é o
documento produzido ou recebido por uma pessoa física ou jurídica, no decorrer das
suas atividades, qualquer que seja o suporte, e retido para ação ou referência”
(CONARQ, 2012, p. 2).
No artigo “Registros documentais contemporâneos como provas de ação”, da
canadense Luciana Duranti, encontramos uma análise precisa quanto ao documento
de arquivo e suas funções:
A razão pela qual eles puderam servir a tantas finalidades é que os matérias
arquivísticos, ou registros documentais, representam um tipo de
conhecimento único: gerados ou recebidos no curso das atividades pessoais
ou institucionais, como instrumentos e subprodutos, os registros documentais
são as provas primordiais para as suposições ou conclusões relativas a essa
atividade e às situações que elas contribuíram para criar, eliminar, manter ou
modificar (DURANTI, 1994, p.50).
15Tipo documental: Divisão de espécie documental que reúne documentos por suas características
comuns no que diz respeito à fórmula diplomática, natureza de conteúdo ou técnica do registro. São
exemplos de tipos documentais cartas precatórias, cartas régias, cartas-patentes, decretos sem
número, decretos-leis, decretos legislativos, daguerreótipos, litogravuras, serigrafias, xilogravuras
(ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.163).
38
A quarta característica dos registros documentais é o “inter-relacionamento”.
Referente ao inter-relacionamento autora declara:
16
A partir desse ponto, todas as traduções de Duranti (1993) são traduções livres do autor.
17O original em inglês diz “trace”, que pode significar também rastro; pista; sinal; DICIONÁRIO
OXFORD (2003, p. 637).
40
As práticas descritivas estão, segundo Padrón (2011), diretamente associadas
à história dos arquivos. A autora nos remete, em sua tese doutoral, à Mesopotâmia,
Grécia e Roma justificando a existência dos arquivos para o controle das atividades
econômicas e legais. Padrón diz que: “os registros eram conservados para uso
administrativo, para salvaguardar os direitos de seu produtores e para preservar os
conteúdos dos arquivos em caso de desastres, guerra ou incêndios” (PADRÓN 18,
2011, p.34).
O primeiro passo para chegarmos à descrição dos documentos de arquivo é o
de compreender claramente o Princípio da Proveniência. Segundo Cunningham
(2007), “se não se sabe a proveniência de um documento, então o documento não
pode ser mais do que uma fonte descontextualizada de informação” (CUNNINGHAM,
2007, p.77).
Quando nos referimos ao Princípio da Proveniência, estamos aportando a base
fundamental da disciplina que, nas palavras de Rousseau e Couture (1998), é a base
teórica, a lei que rege todas as intervenções arquivísticas. (ROUSSEAU; COUTURE,
1998, p. 79)
Para os autores acima citados, a importância do respeito ao Princípio da
Proveniência é dado que:
18 A partir desse ponto todas as citações de Padrón (2011) são traduções livres do autor.
41
fundo da pessoa responsável/criadora pelo/do documento, ou seja, considerando a
noção de autoria (instituição/fotógrafo).
A questão acima mencionada é desenvolvida a partir de Rousseau e Couture
(1998):
De certo modo, ele [Natally de Wailly] desejava que os arquivistas não
esquecessem nunca, nas suas intervenções, que os arquivos são em
primeiro lugar o produto das atividades de uma pessoa física ou moral e que
uma parte importante do seu valor provém justamente do fato de poderem,
para fins administrativos ou de investigação, testemunhar de modo
privilegiado essas mesmas atividades. (ROUSSEAU; COUTURE, 1998, p.81)
O motivo de citar essas três normas pode ser explicado através das palavras
de Mundet: “estes três precedentes nacionais influenciaram de forma determinante as
futuras normas internacionais de descrição” (MUNDET, 2012, p. 234).
Um dos pontos mais importantes que essas normas trouxeram para as normas
internacionais foi a descrição multinível que, segundo Mundet, “é oriunda da norma
45
britânica”, ou seja, o ato de descrever passou a visualizar o arquivo como um todo,
representando-o como um reflexo da instituição e suas atividades (MUNDET, 2012, p.
234).
O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística traz uma noção de
descrição multinível. Assim é a
47
e organizacional; também muda a visão do contexto da criação de registros
dentro de organizações hierárquicas estáveis para situá-los em redes
horizontais fluídas de funcionalidade de fluxo de trabalho. (COOK, 2012, p. 4)
Código de referência
Título
Data
Nível de descrição
Dimensão e suporte
Fonte: CONARQ, 2006
49
Quadro 2: Elementos da Área 2 da Nobrade
Identificação do produtor
História administrativa-biográfica
História arquivística
Fonte: CONARQ, 2006
Âmbito e conteúdo
Avaliação
Eliminação e temporalidade
Incorporações
Sistema de arranjo
Fonte: CONARQ, 2006
50
Caso as fotografias jornalísticas produzidas para uma determinada notícia ou
reportagem sejam separadas e armazenadas em outro local, diferente daquele onde
estará situado o texto original do repórter responsável, ou o exemplar digital, o
preenchimento deste campo será capaz de demonstrar a relação orgânica entre
ambos.
Identifica-se como importante o elemento que refere-se às cópias. O texto da
Nobrade informa que: “aplica-se igualmente a situações em que as cópias integrantes
de um fundo são de originais integrantes de um outro fundo, mesmo que sob a
custódia da mesma entidade” (CONARQ, 2006, p. 49).
Na parte do texto da norma que se refere aos procedimentos, encontramos:
52
A liberdade no acréscimo de informações, quando necessário, que a norma se
refere, livra o CONARQ de responsabilidades, deixando a cargo dos arquivistas
encontrarem as soluções que melhor atendam às necessidades dos documentos
descritos. Além disso, quando a norma se refere a “qualquer documento,
independente de seu suporte”, não determina quais documentos podem ou devem
receber o acréscimo de informação na sua descrição.
A imagem que segue, extraída da página web do Jornal do Brasil, traz uma
fotografia que não indica o produtor e também nenhuma informação vinculada à sua
utilização anterior. A única informação que nos leva a compreender e contextualizar a
fotografia está aportada pelo título da reportagem. Na Figura 3, como legenda da
fotografia, extraímos o seguinte texto: “Onda de indignação no Brasil desencadeou
uma guerra na internet entre seus defensores e quem tenta destruir sua imagem”.
Figura 3: Notícia com a repercussão do assassinato da Vereadora Marielle
53
Fica evidente (devido a morte da vereadora) que a fotografia utilizada na
reportagem apresentada na Figura 3 foi produzida em outro momento, o que nos leva
a indagar: Que momento foi esse? Qual o assunto da reportagem que essa fotografia,
ou outra produzida nesse mesmo momento, tratava? Dada a análise realizada até o
momento, essas respostas poderiam ser substancialmente respondidas caso a
“descrição de assuntos” fosse sempre alimentada a cada utilização de alguma
fotografia feita para uma determinada reportagem.
Ainda caberia uma importante pergunta a respeito da fotografia da Figura 3 e
da reportagem que compunha a sua primeira utilização: quais as datas de
criação/produção e publicação da fotografia? A possibilidade de responder a essa
pergunta não nos é oferecida pela Norma Brasileira de Descrição Arquivística, pelo
menos quanto aos elementos previstos e/ou obrigatórios. Para tanto, tem-se que
recorrer à outra norma, o que será desenvolvido a seguir.
Neste ponto cabe ressaltar o Princípio da Unicidade, importante para a
Arquivologia: “o documento será único dentro de determinado conjunto orgânico em
determinado momento, independente de haver cópias ou não” (BELLOTTO, 2015, p
5). O problema reside em que, o conjunto documental fotográfico de uma reportagem
pode ser reutilizado em outras matérias jornalísticas, criando um novo conjunto
documental, mas mantendo o vínculo direto com a reportagem que motivou sua
primeira criação. Assim, no caso das fotografias de cunho jornalístico, esse princípio
é falho e necessita ser revisitado pela Arquivística.
Uma vez tendo salientado a partir da Norma Brasileira de Descrição
Arquivística aquelas áreas e elementos que são importantes para a descrição das
fotografias jornalísticas, percebemos, ou identificamos, a falta de um campo de
descrição capaz de contextualizar temporalmente a utilização e reutilização de uma
fotografia de um determinado conjunto, que é a data de publicação e difusão,
inexistente na norma brasileira.
A reutilização de uma fotografia, no contexto jornalístico, produz uma ruptura,
ou ao menos, faz surgir um questionamento teórico à cerca da noção da unicidade
para o documento de arquivo.
54
Recorrendo às normas de descrição que nos oferecem diferentes realidades
arquivísticas no mundo, encontramos a resposta a essa questão na Rules for Archival
Description25 (RAD2), do Canada, publicada em Julho de 2008.
Essa norma, como primeiro princípio, segundo Padrón:
25 A partir desse ponto todas as inserções da norma Regras para Descrição Arquivística (RAD2) são
traduções livres do autor.
26 Agência dos Arquivistas Canadenses.
55
Cabe ressaltar que a fotografia digital carrega consigo uma série de
informações passíveis de serem utilizadas no momento da descrição dessa tipologia
documental, são os “metadados”, assunto comentado no subcapítulo 2.4: “(Re)
Conhecendo o objeto fotográfico digital”.
Salienta-se, brevemente, a importância que existe em compreender esse
“novo” suporte, e para isso Bushey27 comenta: “de igual importância é a necessidade
para os arquivistas, para expandir seu entendimento de como as novas mídias (áudio
digital, vídeo e imagens estáticas) são criados e gerenciados” (BUSHEY, 2008, p.127).
Pensa-se ser relevante trazer exemplos de como se apresentam os metadados
produzidos no momento em que o fotógrafo dispara o obturador, até a migração para
um computador.
Dos metadados podem ser extraídas informações para o preenchimento de
alguns campos importantes para a descrição das fotografias digitais (Figuras 4 e 5).
Cabe ressaltar que o exemplo que se traz a seguir é de um equipamento “Canon T5i”,
classificado como sendo uma máquina “de entrada” isto é, uma máquina para
aprendizado de fotografia com capacidade de troca das objetivas. As máquinas
profissionais utilizadas pelos fotojornalistas são capazes de produzir mais metadados,
como por exemplo, a localização geográfica em que a fotografia foi produzida.
27 A partir desse ponto todas as traduções de Bushey são traduções livres do autor.
56
Figura 4: Metadados da fotografia digital – primeiros campos
57
Figura 5: Metadados da fotografia digital – últimos campos
28JPG pode ser conhecido como JPEG, conforme consta no subcapítulo 2.4 “(Re) Conhecendo o objeto
fotográfico digital” deste TCC.
58
13 vê-se o registro do metadado que apresenta o número de série do computador que
recebeu as fotografias do cartão de memória da máquina.
Esse breve relato com respeito aos metadados oferecidos pelas câmeras
digitais, podem ser de grande valia no momento de descrever as fotografias
jornalísticas, agregando informações importantes e um melhor resultado final ao
trabalho arquivístico. Corroborando com o aqui exposto, trazemos mais uma vez as
palavras de Bushey que diz, de forma concisa, da necessidade dos arquivistas
estarem familiarizados com a atividade dos fotógrafos que trabalham com imagens
digitais, estando melhor preparados para antecipar os tipos de imagens digitais que
receberão e as necessidades de arquivamento (BUSHEY, 2008).
Retomando a descrição, busca-se compreender a RAD2 em seus detalhes.
Essa norma é estruturada conforme tabela abaixo:
Parte l: Descrição
Introdução
1 Regras Gerais para Descrição
2 Regras para a Descrição para as unidades de múltiplas mídias
3 Documentos Textuais
4 Materiais Gráficos
5 Materiais Cartográficos
6 Arquitetura e Desenhos Técnicos
7 Imagens em Movimento
8 Gravações de Som
9 Documentos em Formato Eletrônico
10 Documentos em Microformas
11 Objetos
12 Documentos Filatélicos
13 Itens Isolados (separados)
Fonte: Bureau, 2008
Requisito 1º: A descrição arquivística deve ser realizada com atenção aos
requerimentos de uso; Requisito 2º: A descrição de todo o material de arquivo
(por exemplo, fundos, séries, coleções e itens separados) deve ser integrado
e proceder a partir de um conjunto comum de regras; Requisito 3º: O respeito
aos Fundos é a base para o arranjo e descrição do arquivo; Requisito 4º: Os
criadores do material arquivístico devem ser descritos: A descrição das
funções e atividades do(s) criador/criadores que produzem o material de
arquivo é importante para entender o contexto em que esses são criados.
Requisito 5º: A descrição reflete o arranjo, ou seja, os níveis de descrição são
determinados pelo arranjo. (BUREAU, 2008, p. 23-24)
60
Quadro 6: Título e Área de declaração de responsabilidade da RAD2
Regras preliminares
Título Próprio
Designação geral do material
Títulos paralelos
Outras informações do título
Declaração de responsabilidade
Fonte: Bureau, 2008.
29Palavra aportuguesada do inglês "lide", conduzir, liderar. O jornalismo usa o termo para resumir a
função do primeiro parágrafo: introduzir o leitor no texto e prender sua atenção. Fonte:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_producao_l.htm> Acesso em: 12 abr. 2018.
61
aquela originária. Um exemplo fictício, apresentado na Figura 6, mostra os usos
distintos para um mesmo conjunto.
62
Se estabelecemos uma comparação entre as normas RAD2 e ISAD(G)
podemos dizer que a norma canadense não segue a mesma estrutura de
dados nem a mesma forma de organização que propõem a norma
internacional, mas toma em conta vários dos elementos que esta apresenta
para a descrição arquivística. (PADRÓN, 2011, p.143)
Áreas Descritivas
ISAD(G) RAD2
Área de identificação -
Área de contexto -
Área de conteúdo e estrutura -
Área de condições de acesso e uso
-
Área de notas Áreas de notas
Área de controle da descrição -
- Área de título e menção de
responsabilidade
- Área de datas de criação, publicação e
difusão
- Área de descrição física
- Área de descrição arquivística
Fonte: PADRÓN, 2011, p.143.
65
Figura 7: Capa do Diário de Santa Maria, edição nº 4.858, sem texto.
Figura 8: Página interna do jornal Diário de Santa Maria, edição nº 4.858, sem texto.
67
A relação da informação fotográfica torna-se mais amistosa com o leitor
quando é devolvido o pequeno texto (lead) e a autoria (com data) originais, como
podemos observar na Figura 9.
Figura 9: Página interna do jornal Diário de Santa Maria, edição nº 4.858, com texto.
68
Figura 10: Capa do jornal Diário de Santa Maria, edição nº4.858, com texto.
Figura 11: Página interna completa do Diário de Santa Maria (Edição nº4.858, 2018, p. 19)
70
no primeiro caso citado por Vanoye (2003, p. 256), quando a relação da fotografia com
o texto é de “ornamento”.
A reportagem especial apresenta muitas fotografias, como as quais aparecem
na Figura 12.
Figura 12: Página interna completa do jornal Diário de Santa Maria (Edição nº4.858, 2018, p.
20)
71
Olhando atentamente para a Figura 12, observa-se que as fotografias desta
página, em número de quatro, são de autoria do fotojornalista responsável pela
cobertura, sendo a fotografia em destaque da prefeita do município de Quevedos. O
ponto positivo que podemos salientar, e de grande utilidade para a descrição
arquivística, é que as pessoas retratadas nesta página, foram devidamente
identificadas com o nome e a profissão em suas legendas incluídas próximas as
imagens.
Partindo para a análise da página 21, da mesma reportagem do jornal Diário
de Santa Maria, na Figura 13, a primeira fotografia, em que aparece a fachada do
banco destruída, não é evidenciado a autoria e produção da fotografia.
Figura 13: Página interna completa do jornal Diário de Santa Maria (Edição nº4.858, 2018, p.
21)
72
Na primeira das cinco fotografias da página 21, conforme a Figura 13, após
pesquisas realizadas na internet a respeito do assalto relatado, detecta-se imagens
muito semelhantes à apresentada nessa reportagem. Como pode ser observado na
Figura 14, em reportagem de outro veículo, a diferença nos parece ser somente de
enquadramento, o que levanta dúvidas de autoria, data de produção e edição daquela
reportagem do Diário.
30Em contato via WhatsApp do número que se encontra no site FrNews, recebeu-se a informação de
que a autoria da foto seria de um funcionário de um estabelecimento comercial daquela localidade
(Quevedos - RS). No entanto a pessoa contatada não soube dar mais informações.
73
Na busca por exemplificar a relação entre a fotografia jornalística e o texto
deparamo-nos com um problema bastante comum que é a reutilização de fotografias,
sem referências de produtor, datas de produção e edição, utilizadas por diferentes
veículos de comunicação.
Foi realizada uma pesquisa na página do Diário de Santa Maria no dia 15 no
dia 15 de dezembro de 2017, quando a referida fotografia recebeu créditos para “São
Pedro Agora/Reprodução”. Pergunta-se: por que o reuso da imagem também não
recebeu créditos?
A existência dos campos de descrição sugeridos nessa pesquisa poderia
satisfazer as perguntas que surgiram, e assim, satisfazer um dos preceitos da
descrição de arquivos que é a de facilitar o acesso e, além disso, poder reconstruir os
caminhos de utilização de uma fotografia jornalística.
74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
75
Entende-se, ainda, a necessidade de haver um espaço permanente de
discussões sobre a Nobrade para que ela consiga dar conta de todas as possibilidades
que os acervos têm nos dias de hoje. As universidades e os cursos de Arquivologia
têm importante contribuição à fornecer, nesse sentido, uma vez que os acadêmicos e
professores debruçam-se nestas questões dioturnamente, levantando referencial
teórico de substancia e exemplos práticos das necessidades mais latentes.
Aos acadêmicos de Arquivologia, que durante a formação estão envoltos num
ambiente propício para debates, questionamentos e buscas, recomenda-se que
aprofundem seus conhecimentos e tragam novos estudos referentes às diversas
áreas da arquivística, solidificando seus estudos científicos na área.
Os campos de descrição levantados durante o processo de pesquisa na RAD2
seriam capazes de satisfazer tanto os arquivistas e/ou responsáveis das instituições
jornalísticas, bem como poderiam servir de maneira eficaz à recuperação e
contextualização das fotografias jornalísticas. Além disso, trouxe-se um campo que
torna o uso da fotografia rastreável nas diversas publicações que estas, por ventura,
sejam reutilizadas.
Quando sugerimos a necessidade de revisão da norma que trata da descrição
dos documentos de arquivo no Brasil, não nos referimos a rever os princípios que
delineiam a disciplina, mas sim, trazer esse instrumento para a nova realidade da
produção documental. Não se trata de uma revolução, trata-se de um realinhamento
do instrumento. Dando suporte teórico a essa sugestão, trazemos as palavras de
Couture: “reexaminar não é rejeitar, revisar não é demolir” (COUTURE, 2015, p. 148).
Esta é a proposta colaborativa que se oferece.
O texto utilizado de Carol Couture abre-nos outro questionamento: qual o
verdadeiro grau de reconhecimento social dos arquivos como componentes
essenciais para a construção e mantenimento da cultura nacional? Sabendo-se que a
descrição documental arquivística funciona como um facilitador de acesso e
reconstituição de memórias esquecidas, qual seu alcance, como processo, nas
instituições públicas e privadas do país?
Outra questão que é suscitada durante o processo de pesquisa refere-se à
utilização de um instrumento defasado em relação à nova realidade digital (Nobrade).
Mais uma vez utilizamos as palavras de Couture: “o arquivista já não pode, da mesma
76
forma que com o analógico, intervir no final do ciclo de vida dos documentos"
(COUTURE, 2015, p. 148). O autor ainda salienta que:
BARTES, Roland. O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S.A.
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