Bibliografia:
Bernardo Pimentel
**Trabalho Optativo – Ir à uma sessão que tenha sustentação oral, de Apelação: objeto da causa, as partes.
pedido da causa e do recurso, causa de pedir, nº do processo, a decisão que se questiona, síntese do
acórdão e relato dos fatos ocorridos durante a sessão. Certidão com o nº do processo, a data, e o nome de
quem compareceu. (Pode ser digitado)
AULA – 20/08/15
Os meios de impugnação das decisões judiciais são remédios processuais que tem como objetivo eliminar
ou corrigir um vício, se não combater uma ilegalidade existente em uma decisão judicial. A razão de ser da
criação desses meios, principalmente, é garantir justiça a parte, na medida em que ela tem a possibilidade
de obter a revisão daquela decisão judicial aos seus olhos viciada ou ilegal, com julgadores, em tese, mais
experientes em busca de justiça.
Ao se construir um sistema de impugnação das decisões judiciais, o único foco não é só garantir justiça a
parte que foi prejudicada com aquela decisão. Também é necessário considerar a necessidade de que o
processo tem uma duração razoável. Portanto, não se pode eternizar o processo judicial com mil e uma
possibilidades de impugnação das decisões. É necessário que chegue um momento no processo que a
solução dada seja definitiva e não mais passível de revisão, para garantir segurança jurídica e estabilidades
das relações sociais.
O que é central e mais importante é que ao se construir um sistema de impugnação das decisões, o
legislador não fica atento somente a necessidade de justiça dentro do processo com a possibilidade de
revisão daquela decisão, como também, por outro lado, tem que ponderar para a necessidade de
celeridade processual e a segurança jurídica. A solução deve se dar em um tempo razoável e, que algum
momento ela se torne definitiva e aplicável. Portanto, justiça, celeridade e segurança.
Existem outras vantagens e desvantagens. Em termos de vantagens, o fato de saber é que quem prolata
uma decisão é um ser humano, um juiz e ele, assim como qualquer ser humano, é passível de incorrer em
falhas - de produzir uma decisão com falhas. E, diante da falibilidade do juiz, enquanto ser humano, que é
importante que se institua um meio de impugnação das decisões judiciais. Inclusive, isso teria também, um
caráter preventivo. Quando um juiz sabe que sua decisão é passível de impugnação e de revisão, sobretudo
por outro órgão, ele já tem uma preocupação maior com a qualidade do seu trabalho.
Pode-se também constatar que esses meios de impugnação das decisões, em especial os recursos,
permitem que os nossos tribunais, que tem competência recursal por excelência, que ao julgar esses
recursos, uniformizem a interpretação do nosso direito, dando soluções semelhantes a casos semelhantes -
sobretudo, em um sistema de precedentes vinculantes como o nosso. Há alguns recursos, por exemplo,
que no nosso sistema que tem a finalidade de uniformizar a interpretação do nosso direito.
Entretanto, também há desvantagens que conduzem a um cometimento do nosso legislador ao criar um
meio de impugnação das decisões. A primeira grande desvantagem diz respeito ao desprestígio do órgão
de primeira instância. Na medida em que ele e todos sabem, que sua decisão poderá ser impugnada e
revisada por um órgão superior. Então, o órgão de primeira instância, em algumas situações, acaba se
sentindo como mero órgão consultor. Sobretudo, quando a opinião do juiz de primeira instância é diferente
do órgão superior. Isso é negativo por que é o órgão de primeira instância que tem o contato direto e
imediato com as partes, com as provas, com o caso. Quem tem uma visão mais próxima da realidade,
pautada na oralidade, é o juiz de primeira instância. Por isso, se observa, em alguns tribunais uma
tendência de revisar as decisões - só há revisão quando há um grande erro, um grande vício.
Meios de impugnação
Existe uma visão tradicional que coloca como meios de impugnação das decisões judiciais só os recursos e
as ações autônomas de impugnação. Mas, essas não são as únicas vias possível, há também os sucedâneos
recursais.
Então, com um olhar fixo no nosso sistema, podemos identificar três meios possíveis de impugnação das
decisões: os recursos, as ações autônomas de impugnação e os sucedâneos recursais.
O recurso é uma via de impugnação da decisão dentro do mesmo processo em que ela foi proferida -
prolongando a litispendência daquele processo e não gera, de modo nenhum, processo novo. Ex: Apelação,
agravo de instrumento, embargos de declaração. OBS: Os embargos infringentes e o agravo retido foram
extintos no NCPC
As ações autônomas de impugnação são remédios processuais que se caracterizam por conduzir a
instauração de um processo novo. Então, a revisão daquela decisão se em um contexto de um processo
integralmente novo. Ex: ação rescisória, reclamação constitucional, mandado de segurança contra ato
judicial.
Sucedâneos recursais é todo aquele meio de impugnação judicial que não se enquadra nem como recurso
nem como uma ação autônoma. Ex: reexame necessário.
Conceito de recurso
A partir das características comuns dos recursos que estão presentes no nosso sistema que podemos
construir um conceito básico. O recurso é o remédio voluntário de impugnação da decisão judicial dentro
do mesmo processo em que ela foi proferida com o objetivo de obter a sua reforma, a sua anulação, o
seu esclarecimento ou a sua integração (e sua correção - NCPC).
Só a decisão judicial pode ser objeto de recurso. O despacho não é impugnável por recurso - art. 1001 do
CPC 2015. Só a decisão judicial é um pronunciamento do juiz que resolve questões e que pode gerar algum
tipo de prejuízo ou inconformismo ao interessado. O despacho não tem essa natureza, não tem caráter
decisório - é um ato de mera movimentação dentro do processo - que tem objetivo a dar impulso a marcha
processual, sem que se resolva alguma questão específica. Se um despacho resolver uma questão, esse ato
passaria a ter uma natureza de ato decisório e portanto, seria passível de impugnação.
O fato da decisão judicial ser recorrível, não quer dizer que toda decisão judicial será passível de recurso.
Obviamente que haverá decisões, que por opção do legislador, não haverá possibilidade de impugnação
por recurso. Nesses situações, o legislador prestigiou a celeridade e a segurança em detrimento da justiça.
Tudo é uma questão de ponderação de valores. Nos juizados, por exemplo, as decisões interlocutórias são
irrecorríveis. No CPC de 2015, uma característica que pode-se observar é que com a extinção do agravo
retido e a delimitação mais específica do agravo de instrumento, as interlocutória não serão passíveis de
recurso. Elas só poderão ser impugnados com agravo de instrumento nas hipóteses previstas
expressamente no CPC.
Quando um recurso é interposto, isso prolonga o estado de litispendência daquele processo, sem jamais
gerar um processo novo. Renova o procedimento, desencadeando um procedimento recursal. O recurso
tem a natureza jurídica de um ato postulatório, e como todo ato postulatório, ele conduz a instauração de
um procedimento que é o procedimento recursal (renovação do procedimento inicialmente instaurado). O
recurso, também como ato postulatório, se submete a um juízo de admissibilidade e de mérito.
O recurso tem como objetivo a reforma, anulação, esclarecimento e a integração da decisão (correção de
erro material - NCPC). A reforma e a invalidação são os objetivos centrais dos recursos em geral - se for
constatado naquela decisão, um erro de julgamento, é caso de reforma-lo. Se há um erro de procedimento,
um erro formal é caso de invalida-lo. Os embargos de declaração tem um objetivo diferente que é
esclarecimento de uma obscuridade ou uma contradição; ou a integração de uma lacuna - o suprimento de
uma omissão; além da correção do erro material (NCPC). Independentemente da natureza do pedido, o
que se observa e o que se visa é uma prestação jurisdicional revisora.
Uma boa parte dos nossos doutrinadores defendem que o recurso tem a natureza jurídica de extensão do
direito de ação dentro do processo - Desdobramento do direito de ação, papel de renovar o procedimento,
instaurando o procedimento recursal. Visa uma nova prestação revisora, etc.
O recurso é um ato postulatório que tem um mérito, um pedido individualizado pela causa de pedir
recursal e se submete a um juízo de admissibilidade. O mérito do recurso é diferente do mérito inicial.
Apesar do recurso enquanto postulação ser diferente da petição inicial, eles estão intimamente
relacionados. No recurso, se pede uma revisão da decisão que foi dada sobre a postulação inicial.
Classificação dos recursos
Total e parcial
O recurso total é aquele em que se questiona todo o conteúdo impugnável daquela decisão. Ou seja, tudo
aquilo que foi desfavorável a parte. Então o recurso total é aquele em que se questiona todos os capítulos
que foram desfavoráveis a parte.
O reurso parcial é aquele que se questiona uma parte do conteúdo impugnável daquela decisão. Ou seja, só
uma parcela dos capítulos que foram desfavoráveis a parte. Quando se interpõe um recurso parcial, só se
questionando uma parte do conteúdo impugnável da decisão judicial, os capítulos que não foram
impugnados precluem - não poderão ser revisados pelo tribunal e não serão mais passíveis de revisão.
Inclusive, se preencherem os requisitos necessários para tanto, irão transitar em julgado. Seria chamada de
coisa julgada parcial. Autorizando, portanto, que esses capítulos já transitados, fossem objeto de uma
execução daquela parcela. O prazo para interpor ação rescisória desses capítulos que formaram coisa
julgada, conta da data que se formou a coisa julgada sobre eles (entendimento de Paula), mas essa não foi
a opção do NCPC que entende que o prazo conta do transito em julgado da última decisão dada na causa
do processo como um todo. Art. 1507 do NCPC e 1013 §1º
Quando se interpõe um recurso, só impugnando um capítulo principal, isso automaticamente devolve para
apreciação do tribunal, os capítulos acessórios.
Originário e Extraordinário
Essa classificação é super questionada. Parte da doutrina não aceita essa classificação por que, em alguns
países, ela é adotada em um sentido que é inaplicável em nosso ordenamento. Muitos países usam a
expressão recurso extraordinário para uma ação autônoma de impugnação da decisão transitada em
julgado. Então, dizem esses autores, que nesses países essa classificação se justificaria. Por que o recurso
ordinário serio o recurso propriamente dito e se diferenciaria em essência no que eles chamam de recurso
extraordinário.
No nosso sistema, ambos os recursos são remédios voluntários de impugnação da decisão dentro do
mesmo processo em que ela foi proferida - quando ainda há um processo pendente - portanto, ela ainda
não transitou em julgado. A distinção se daria em razão do objeto imediato do recurso. De acordo com
alguns doutrinadores, o recurso ordinário teria como objeto imediato a defesa de um direito subjetivo da
parte. Só, em caráter mediato, estaria discutindo o direito objetivo. Ou seja, a correta interpretação da lei.
O recurso extraordinário ocorre o oposto. O recurso extraordinário em sentido lado, que abrange o especial
para o STJ e o extraordinário em sentido estrito para o STF, seu o objeto imediato seria a defesa do direito
objetivo. Questionar uma violação a um lei federal, conseguir uma uniformização da sua interpretação,
questionar uma violação da Constituição. Portanto, o seu objeto imediato seria a defesa do direito objetivo
federal ou constitucional. Só indiretamente estaria defendendo o direito subjetivo da parte.
Além disso, esses recursos se diferenciam por outras razões. Em primeiro lugar, por que o recurso
extraordinário não admite reexame de fato de prova - o que tem sido mitigado. O recurso extraordinário é
um recurso de estrito direito, onde só se poderia discutir e questionar questões de direito. Também se
aponta o fato do recurso extraordinário exigir o esgotamento das vias ordinárias para sua utilização. E o
fato dele exigir pré questionamento (necessidade de que a questão de direito que esta sendo suscitada
tenha sido objeto de decisão na instância inferior).
A doutrina que critica essa classificação ganha mais fôlego com o CPC 2015. No CPC de 73 um dos
argumentos para se fazer essa classificação era o art. 467 expressamente falar em recurso extraordinário e
ordinário. Já o art. 502 do NCPC não faz mais essa diferenciação.
Fundamentação livre e vinculada
O recurso de fundamentação livre é aquele cuja causa de pedir é aberta por que pode tecer qualquer tipo
de crítica a aquela determinada decisão - pode-se arguir a existência de qualquer vício ou irregularidade.
Não há limites ou restrição as possibilidades de fundamentação do seu recurso.
Já no recurso de fundamentação vinculada,a sua causa de pedir é típica e fechada. Só se pode tecer críticas
aquela decisão que esteja expressamente prevista em lei. Os vícios, os erros que se pode apontar no bojo
dela são somente aquelas autorizadas pelo legislador. Por exemplo: embargos de declaração por que o
legislador no dispositivo do art. 1022 do NCPC diz expressamente quais são os fundamentos possíveis nos
embargos de declaração - quais são os vícios que se pode arguir no bojo desse recurso. Então há uma
limitação a essas possibilidades de arguir esses vícios e nenhum outro - só se pode arguir contradição,
obscuridade, omissão e erro material.
Já a apelação é um recurso de fundamentação livre - pode-se arguir qualquer tipo de erro procedimental,
de julgamento. Pode-se trazer qualquer vício que se enquadre em um erro de procedimento ou um erro de
julgamento.
No recurso de fundamentação vinculada deve-se trazer a causa de pedir típica sob pena de inadmissão
desse recurso. O fundamento dessa inadmissão seria uma irregularidade formal e há quem diga que a
irregularidade decorreria do seu não cabimento.
Independente e adesivo
Em determinados casos, a decisão poderá ser favorável e desfavorável para ambas as partes, mais
especificamente, aquela em que há uma sucumbência recíproca. Há capítulos, portanto, favoráveis e
desfavoráveis para o autor e também para o réu. Nesses casos, em que ambas as partes sucumbem em
parte, é possível que ambas recorram. Esse recurso pode ser um recurso independente ou principal assim
como pode ser um recurso adesivo. O recurso independente é aquele autônomo e que se interpõe
independentemente da conduta da outra parte. Já o recurso adesivo é aquele em que se interpõe a
depender da conduta da outra parte.
Quando a decisão é publicada e as partes são intimadas dela, é possível que uma das partes esteja disposta
a não recorrer se o outro também não recorrer. Portanto, a parte aceita o capítulo em desvantagem se a
outra parte também aceitar o capítulo em que perdeu. Então, a parte ao invés de interpor um recurso
independente, fica na "espreita", observando se o seu adversário vai recorrer. Se ele interpuser um recurso
independente, a parte no prazo em que tem para responder o recurso dele, pode interpor um recurso
adesivo.
Recurso adesivo
O recurso adesivo é uma forma de interposição de recurso. Podem ser interpostos de forma adesiva, a
apelação, o recurso especial e o recurso extraordinário - art. 997 do NCPC. No CPC de 73 também
poderiam os embargos infringentes - foram extintos do NCPC.
A doutrina entende que o recurso ordinário constitucional (ROC) também poderá ser interposto de forma
adesiva quando ele fizer um papel típico de apelação, mais especificamente, quando for utilizado para
impugnar sentenças dada nas causas internacionais - competência federal.
Nos juizados especiais, há o entendimento forte que não há possibilidade de recurso adesivo. Entende-se
também que não cabe recurso adesivo em remessa necessária (se foi feito um reexame obrigatório de uma
sentença dada pela Fazenda Pública, não dá para interpor um recurso adesivo contra isso por que não há
um recurso independente).
O recurso adesivo, a princípio, se submete aos mesmos requisitos de admissibilidade de julgamento dos
recursos independentes. O Prazo é de 15 dias para responder o recurso independente. No que se refere a
legitimidade do recurso adesivo, o art. 997, só fala em parte. Isso dá ensejo a falarem que só a parte tem
legitimidade para interpor esse recurso. Logo o MP, atuando como parte, poderá interpor recurso de forma
adesiva. Já o MP, fiscal da lei, como ele não é parte do processo, parte da doutrina entende que não, mas é
controverso.
E o terceiro juridicamente prejudicado? Há quem diga que o terceiro juridicamente prejudicado pela
decisão, só poderá recorrer de forma adesiva contra recurso independente de outro terceiro.
Em termos de terceiro, Freddie entende que poderia se admitir o recurso de interposto de forma adesiva
por um terceiro colegitimado que seja contraposto a um recurso da outra parte.
O recurso adesivo tem que ser necessariamente da mesma espécie que o recurso independente. Só pode
interpor apelação adesiva por que o recurso independente também foi uma apelação, por exemplo.
Quando esta diante de um mandado de segurança de competência originária de um tribunal, a decisão
dada desse mandado de segurança desafia dois recursos possíveis: se a decisão for denegatória da
segurança, o impetrante pode se valer de ROC (recurso ordinário constitucional). Mas, se a decisão for
concessiva da segurança, a parte ré só pode se valer de recurso especial ou extraordinário. Se a decisão for
de sucumbência recíproca, o fato do impetrante ter usado um ROC independente, não autoriza que o réu
use um recurso especial ou extraordinário adesivo. Por que o ROC independente não autoriza um recurso
especial ou extraordinário adesivo já que são recursos de tipos diferentes. Então, o recurso só pode ser
interposto de forma adesiva se ele for do mesmo tipo do recurso independente.
O que fica em condição é a admissibilidade, o exame do mérito do recurso adesivo não fica condicionado
ao exame do mérito do recurso independente. Entretanto, há casos excepcionais, que isso pode ocorrer.
Situação em que, por exemplo, o juiz da uma sentença condenando o réu a pagar danos morais ao autor e
também condenando ele, no ônus da sucumbência, fixando honorários de 10% sobre o valor da
condenação. O réu interpõe um recurso independente de ambos os capítulos. Pedindo uma revisão dos
danos morais e uma inversão dos ônus da sucumbência. O autor, então interpõe um recurso adesivo cujo
objetivo é só majorar o valor dos honorários sucumbências. Se o recurso do réu for acolhido de modo que
seja afastado os danos morais e que seja invertido o ônus da sucumbência, fará sentido apreciar o recurso
adesivo do autor? Se já inverteu o ônus da sucumbência, não há como aumentar o valor dela em relação a
ele. Então o exame de mérito do recurso do réu, a depender de como ele ocorra, poderá tornar
prejudicado o recurso adesivo do autor.
Duplo grau
Não existe um conceito jurídico positivo no nosso ordenamento de duplo grau. Na verdade, a sua definição
é feita através da consideração de dados do nosso sistema jurídico.
O duplo grau, traz em si, a ideia de que a solução justa da causa pressupõe que ela seja objeto de exames
sucessivos, a princípio, por julgadores mais experientes e que parta de uma segunda reflexão. Seria uma
reflexão mais justa - uma prestação jurisdicional revisora.
A grande discussão da doutrina brasileira é se existe um princípio do duplo grau no nosso ordenamento. A
princípio, existem doutrinadores que sustentam que não existe esse princípio consagrado na nossa
constituição (não haveria uma previsão expressa no art. 5 da CF do duplo grau). Entretanto, uma grande
parte da doutrina entende que esse princípio está implícito no nosso ordenamento. Vários argumentos são
nesse favor: o art. 5, LV garante o contraditório e a ampla defesa com os recursos a ele inerentes. Então, ao
prever esse direito ao recurso, se estaria se consagrando o duplo grau. Estaria implícito a ideia de controle
das decisões judiciais, sobretudo por órgãos superiores. Há quem diga ainda, que ele é decorrência do
próprio princípio do devido processo legal - É uma limitação do poder do Estado e também do poder dos
juízos. O recurso, como meio de impugnação, é um mecanismo de controle da legalidade, da validade das
decisões judiciais que serão apreciadas por outros órgãos. Seria, portanto, uma decorrência também do
Estado democrático de direito.
Há o argumento, por parte de alguns doutrinadores, de que a própria CF estruturou o nosso poder
judiciário de forma hierarquizada prevendo órgãos hierarquicamente superiores e instituindo, na própria
CF, a sua competência recursal e revisional das decisões como um todo.
Ainda que se admita o duplo grau como um princípio constitucional, esse princípio, assim como qualquer
outro, jamais será absoluto. Existem outros valores a serem prestigiados.
Entretanto, costuma-se dizer, que quando reconhecido o duplo grau como princípio constitucional, deve-se
ser reconhecida também a sua natureza de ordem pública. Em razão disso, se diz que os meios de
impugnação das decisões seriam regidos por normas cogentes. Isso significa, que não seria possível de as
partes convencionar o cabimento de um recurso quando ele não é cabível por lei. E tampouco pular uma
instância recursal quando há um recurso previsto em lei.
Com o advento do CPC de 2015, isso deve ser no mínimo repensado. O NCPC no seu art. 190 traz a clausula
geral de negociação - prever que partes capazes em processos que versem sobre direitos passíveis de
autocomposição podem selar negócios processuais mudando a rota procedimental.
AULA- 03/09/15
Taxatividade
Consiste na exigência de que a enumeração dos recursos seja taxativamente prevista em lei. De acordo
com esse princípio, a parte só pode se valer de um recurso se tiver uma previsão legal. No CPC de 2015,
os recursos estão previstos no art. 994. A criação de um recurso seria matéria de reserva legal, ou seja, só
a lei federal pode criar um recurso. Por isso, nossos tribunais se manifestaram no sentido de que não é
possível criar um novo recurso no nosso sistema através de uma interpretação extensiva ou simples
analogia. Além disso, também não seria possível criar o recurso com uma norma regimental, ou estadual.
Existe um precedente de criação de um recurso no juizado especial, mas o STF julgou isso inconstitucional,
sob o argumento de que a criação de recursos é matéria de competência processual, sendo, portanto, de
competência privativa da União. Para Paula, no momento em que o juiz prevê uma competência
concorrente para tratar de procedimentos, torna-se plenamente possível um lei estadual crie um recurso,
desde que de modo supletivo- suprindo omissão ou suplementar- que complementa, de algum modo,
aquilo que já está regulado por lei.
Não se sabe em que medida essa regra de que o recurso deve ser criado por lei, pode ser relativizada à luz
da clausula geral de negociação. No processo arbitral as partes podem criar o recurso que quiserem.
Singularidade/ Unirecorribilidade
Em regra, para cada decisão, há um único recurso previsto em lei. Esse princípio não está explicito no
nosso ordenamento, mas pode ser extraído implicitamente pelo fato de o legislador só prever um recurso
para cada decisão. Se a parte interpuser dois recursos para uma mesma decisão, o segundo recurso será
inadmitido.
Há casos excepcionais em que se utiliza mais de um recurso para a decisão. Os embargos são uma
exceção clássica à regra. Toda decisão impugnada por embargos, pode depois ser desafiada por um recurso
de lei previsto para ela. A sentença pode ser embargada, e depois pode haver uma apelação; a
interlocutória agravada pode ser embargada e depois, se for o caso, pode haver um agravo de instrumento;
um acórdão que tenha fundamento federal/ constitucional, pode se utilizar um recurso especial
/extraordinário, respectivamente.
Os embargos de declaração tem um caráter preparatório e com eles, o vicio existente na decisão é
sanado, para que a decisão fique preparada para ser impugnada pelo recurso previsto em lei.
Existem outros casos em que é possível a utilização de mais de um recurso para uma decisão, à exemplo de
um acórdão que tenha fundamento federal e constitucional, é possível utilizar um recurso especial para
atacar o fundamento federal, e o extraordinário para atacar o fundamento constitucional.
Fungibilidade
É um principio que possuiu uma aplicação muito forte, admitindo que no âmbito recursal, um recurso
inadequado seja recebido como se adequado fosse. Esse recebimento pressupõe o preenchimento de
requisitos criados em doutrina e jurisprudência: 1 ) que haja duvida objetiva e razoável em torno do
recurso cabível por lei ( pode decorrer da doutrina, da jurisprudência, ou da própria lei); 2) que não haja
um erro grosseiro da parte; 3) que não tenha precluído prazo para o recurso efetivamente cabível.
O Mandado de Segurança de competência originária do STJ, quando é julgado se a decisão for denegatória
cabe um recurso ordinário constitucional, se for concessiva, cabe recurso externo. O STJ tem sumula
dizendo que se é prolatada uma decisão denegatória no julgamento, e a parte não utiliza o ROC para
recorrer, se valendo do REX ou do RESP seria um caso de erro grosseiro. Nesse caso, não seria possível a
concretização do principio da fungiblidade.
No CPC de 73, esse ultimo requisito inviabilizava a concretização do principio da fungibilidade, porque
tinham recursos que tinham prazos completamente distintos. Era o que ocorria, por exemplo, com a
apelação e o agravo de instrumento. Com o CPC de 2015, isso deixa de ser um problema, porque o prazo
dos recursos é de 15 dias, com exceção dos embargos que continuaram com cinco dias.
A fungibilidade não está expressamente prevista em lei, mas é extraída do regime de invalidades, ou mais
especificamente, do art. 188, 277 e seguintes do CPC de 2015.
Colegialidade
É um principio que vem prestigiar e nos assegurar que o julgamento dos recursos seja colegiado, realizado
por um órgão coletivo do tribunal, seja um órgão plenário (composto por todos os seus membros), seja
fracionário. Isso não está expresso em lei, mas a doutrina diz que pode ser extraído em dispositivos da
nossa CF, que garante julgamentos colegiados para as medidas recursais. Ex: Art. 104, 111, 114, da CF.
A preocupação de estabelecer esse princípio é para sustentar que não é possível uma norma
infraconstitucional deixar uma decisão monocrática, singular, dada por um só membro do tribunal, ser
irrecorrível. Sempre deve caber um recurso contra essa decisão, que normalmente é um agravo interno,
para que se possa impugnar a decisão e submetê-la à apreciação de um órgão colegiado (geralmente
daquele que faz parte o membro do tribunal). O CPC de 73 deixou algumas decisões monocráticas
irrecorríveis. Ex: Decisão que convertia o agravo de instrumento em agravo retido.
O novo CPC se remodelou no sentido de contemplar esse principio do colegiado, não deixando decisões
monocráticas irrecorríveis.
OBS! O agravo interno é o recurso, por excelência, cabível contra as decisões monocráticas.
Consumação
Dialeticidade
Voluntariedade
O recurso é um remédio voluntário, que pressupõe uma vontade livre da parte de pedir a revisão da
decisão, e por isso não pode haver duvidas da parte acerca disso. Por isso que a renuncia, desistência, ou
aceitação dos termos da decisão, sejam elas expressas ou tacitas, por serem incompatíveis com a vontade
de recorrer, geram a inadmissibilidade do recurso.
De acordo com o principio da personalidade, uma vez interposto, o recurso só trará benefícios para a
própria pessoa do recorrente. Há uma exceção à essa regra, que está no art. 1005 do CPC, que permite
que o recurso beneficie também um litisconsorte unitário do recorrente, ou um codevedor solidário (
quando as defesas que forem opostas ao credor forem comuns).
1. Generalidades
O recurso é um ato de postulação que tem um mérito, um objeto litigioso consistente num pedido
recursal, devidamente individualizado pela causa de pedir recursal, e como todo ato postulatório se
submete a um duplo exame- de admissibilidade e de mérito.
Inicialmente, deve ser realizado um juízo de admissibilidade do recurso, da sua validade. Neste caso, serão
analisados se foram preenchidos os requisitos de admissibilidade daquele remédio recursal (se o recorrente
tem legitimidade para recorrer, se o recuro era cabível, etc). Se não forem preenchidos esses requisitos, e
ficar configurado um vicio insanável, o recurso será inadmitido, o que o tribunal pode fazer simplesmente
declarando que o recurso fica inadmitido, ou não é conhecido pelo tribunal.
Contudo, se foram preenchidos os requisitos de admissibilidade do recurso, e for, portanto, ultrapassada a
barreira da admissibilidade, o tribunal poderá se debruçar sobre o seu mérito, julgando o pedido recursal,
individualizado sobre a causa de pedir. Assim, ou o tribunal julga o recurso procedente, acolhendo o
pedido, ou julga improcedente, não acolhendo o pedido.
3. Requisitos de admissibilidade
3.1 Extrínsecos
a) Tempestividade. 1003.
A tempestividade é a exigência de que o recurso seja interposto no prazo de lei, sendo que este prazo foi
uniformizado no CPC de 2015, sendo em regra em 15 dias, salvo os embargos que será de 5 dias. Costuma-
se dizer que o prazo para interposição de recursos é peremptório, e por conta disso, não poderia ser
alterado por disposição das partes. Entretanto, com o novo CPC, que trouxe a cláusula de negociação, essa
premissa deve ser revista, sendo aparentemente possível que as partes negociem sobre esse prazo. O
CPC de 2015 tem cláusula expressa vedando que o juiz reduza esse prazo, mas permitindo que o
magistrado dilate esse prazo. Então, o prazo não pode ser reduzido pelo juiz sem o consentimento das
partes, mas é admissível que o juiz o altere para ampliá-lo. (Art. 139, VI e art. 222, §1º).
Existem casos previstos em lei de suspensão ou interrupção desse prazo. Em primeiro lugar, prevê casos de
suspensão em: período de férias forenses para o advogado particular (20 de dezembro e 20 de janeiro);
casos em que for criado algum obstáculo ao cumprimento do prazo prejudicial à parte, ou em detrimento
dela (ex: greve); na hipótese de programa desenvolvido pelo judiciário para fazer autocomposição (Arts.
220 e 221). Uma vez cessado o motivo da suspensão, o prazo começa a correr de onde parou. Já na
interrupção, o prazo volta a contar do zero. O prazo recursal é interrompido nas hipóteses de cabimento
de embargos de declaração; falecimento da parte ou do seu advogado; e por motivos de força maior que
determine a suspensão de todo o processo (Art. 1004).
Em que pese o prazo para o recurso seja de 15 dias, o legislador estabelece nos arts. 180, 183 e 186, prazos
diferenciados para os agentes públicos. Seria um prazo em dobro para qualquer manifestação nos autos, e
portanto, também para recurso, que é assegurado para o Ministério Público, Fazenda Pública (abrangida
suas autarquias e fundações) a Defensoria Pública, as entidades não governamentais que estejam
prestando serviço de assistência judiciária gratuita mediante convênio com a Defensoria Pública e
também os Núcleos de Prática Jurídica das faculdades de Direito. Esse prazo em dobro não se aplica se
houver uma ressalva expressa da lei. Então, se houver uma lei prevendo prazo próprio, específico para um
determinado ente federativo, por exemplo, não se aplica a dobra prevista no CPC para Fazenda Pública.
O art. 229 prevê prazo para recurso em dobro dos litisconsortes que possuam advogados diferentes, de
escritórios diferentes, em autos não eletrônicos.
O termo inicial é contado da intimação da decisão. Se for por publicação do diário oficial, sendo ele
impresso, considera-se a intimação no primeiro dia útil posterior à publicação e sendo eletrônico,
disponibilizado o diário, considera-se publicada a decisão no dia seguinte, e o prazo começa a contar a
partir do primeiro dia útil seguinte ao da publicação.
Se for uma intimação eletrônica, feita pelo portal, o prazo passa a ser contado pela data em que se
consulta, ou do fim do prazo para a consulta da intimação. Se for por via postal, conta a partir da juntada
do AR. Se for mandado, conta-se a partir da juntada do mandado (Art. 231 do CPC). Se a decisão foi
prolatada em audiência, a parte se considera intimada para recorrer da decisão na própria audiência.
Nos casos em que o réu nem foi citado, mas foi dada uma liminar contra ele, além da citação do réu para
responder, ele deverá ser intimado dessa decisão para poder recorrer (se quiser) e cumprir. O prazo para
recorrer da liminar começará a contar quando se juntarem aos autos o comprovante de intimação, seja por
mandado, por AR, etc. O termo inicial é contado na forma do art. 231 do novo CPC. Qual o termo que ele
tem para cumprir a decisão pessoalmente? O CPC de 2015 estabelece que o prazo para o réu cumprir a
decisão, a ordem judicial, conta da data em que ele recebe o mandado de intimação, pouco importando se
esse mandado foi juntado aos autos. Então, o prazo para o réu recorrer da liminar conta na forma do art.
231 do CPC, mas o prazo para cumprir, conta de quando ele é intimado, de quando recebeu o mandado
ou carta de intimação.
A tempestividade do recurso é verificada a partir da data em que ele foi protocolado, pouco importando
a data que os autos foram devolvidos. O STJ já firmou entendimento nesse sentido.
É possível protocolar o recurso antes de correr o prazo para o recurso? Esse é o recurso chamado de
prematuro. Inicialmente, o STJ e STF diziam que o recurso prematuro era intempestivo, mas depois
voltaram atrás desse entendimento. O CPC de 2015 eliminou essa controvérsia, com dispositivo expresso
de que o ato praticado antes do prazo previsto para tanto que não é intempestivo ou inadmissível.
Se o recurso for protocolado por fax, da data em que foi protocolado há um prazo cinco dias para
protocolar o original. Esses cinco dias para protocolar o original correm mesmo que o primeiro dia caia em
um dia não útil. Contudo, se o quinto dia de prazo cair em prazo não útil, terá que ser prorrogado para o
primeiro dia útil seguinte – entendimento do STJ.
O STJ não admite o protocolo via e-mail.
O protocolo pela via postal também é uma via possível. O STJ vinha adotando o entendimento que a data
para a verificação da tempestividade do recurso começaria a contar a partir do momento em que chega
na secretaria. O CPC de 2015, no art. 1003, §4º, disse expressamente que se o protocolo é postal, a
tempestividade do recurso é verificada a partir da data em que é postado.
b) Preparo. 1007
O preparo é o adiantamento das despesas relativas ao recurso, o que abrange a taxa judiciária paga e
despesas postais – poste de remessa e retorno para instâncias superiores.
O preparo continua a ser um requisito de admissibilidade do recurso, que se não for comprovado no
momento de interposição do recurso irá acarretar na pena de deserção, que vai conduzir à
inadmissibilidade do recurso. Isso não ocorrerá, contudo, se o recorrente provar que houve um justo
impedimento para que ele não realizar o preparo, caso em que o relator do recurso pode relevar a pena
de deserção por uma decisão irrecorrível, dando à parte um prazo de 5 dias para ela fazer o preparo (Art.
1007, §6º).
Nosso CPC em que pese exija como regra geral o preparo, prevê casos específicos de isenção do preparo.
Art. 1007, §1º - Esse artigo traz um rol de sujeitos que são isentos do preparo. Ex: MP, beneficiado pela
gratuidade da justiça, etc.
É possível o recorrente requerer a gratuidade da justiça no recurso, e se fizer isso, não terá que fazer o
preparo logo. Se o relator indeferir o benefício da gratuidade, intima o recorrente para que ele faça.
Além disso, há recursos que não exigem preparo, como os embargos.
Em principio, a realização do preparo deve ser comprovada no ato de interposição do recurso, com
algumas exceções: nos juizados, pode comprovar 48h depois de interpor; na Justiça Federal o preparo da
Apelação e do ROC pode ser comprovado no prazo de cinco dias.
Se a parte fizer um preparo insuficiente, com base no art. 1007, §2º, o relator irá intimar o recorrente, na
pessoa do seu advogado, para que no prazo de cinco dias complemente o preparo. É uma aplicação da
teoria do adimplemento substancial, uma vez que, havendo o adimplemento mínimo do preparo recursal,
não há em que se falar em inadmissão imediata.
No CPC de 73, a regra geral é a de que o preparo deve ser comprovado no ato de interposição do recurso.
O máximo que se pode encontrar de relativização é alguns doutrinadores dizendo que é possível
comprovar o preparo depois, desde que esteja dentro do prazo recursal. No STJ, a relativização que se
encontra é no sentido de que se o recurso foi protocolado no ultimo dia do prazo, depois do expediente
bancário, é possível comprovar o preparo no primeiro dia útil seguinte.
O CPC de 2015 prevê que se o preparo não for comprovado no momento da interposição do recurso, o
recorrente será intimado na pessoa do seu advogado para comprovar a realização do preparo em dobro,
sob pena de deserção. Não há um prazo fixado aqui, mas para Paula, o prazo seria de 5 dias. Vale ressaltar
que se a parte não comprova o preparo na interposição do recurso, e intimada, faz o recolhimento em
dobro de modo insuficiente, sem todo o valor devido, não caberá mais nenhum prazo para a
complementação do preparo.
Outra situação comum na prática forense é aquela em que a parte se equivoca no preenchimento da guia
do preparo. Nesse sentido, o legislador prevê duas situações: aquela em que a parte se equivoca, e o juiz
percebe que o preparo foi recolhido corretamente- recurso será admitido; ou aquela em que, em razão do
equivoco, o preparo é recolhido de modo incorreto – onde a parte será intimada no prazo de 5 dias para
sanar o vicio.
c) Regularidade formal
É a exigência de que o recurso preencha os requisitos formais previstos em lei – que a parte impugne
especificamente os termos da decisão e que o recurso tenha um pedido e uma causa de pedir necessária.
Inclusive, o pedido deve recorrer logicamente da causa de pedir, sob pena de inépcia do recurso. As
hipóteses de inépcia também se aplicam ao recurso, já que este se constitui como um ato postulatório.
Além disso, cada recurso tem seus próprios requisitos formais, que se colocam como requisitos de
admissibilidade. Quando se interpõe, por exemplo, um recurso especial com divergência jurisprudencial,
deve haver uma comprovação dessa divergência, sob pena de o recurso ser inadmitido.
3.2 Intrínsecos
a) Legitimidade. 996
Tem legitimidade para recorrer a parte vencida (mesmo que seja só parte de só incidente, e não de todo
o processo); MP (como parte ou fiscal da lei); o terceiro juridicamente prejudicado (aquele que poderia
ingressar através de alguma das modalidades de intervenção de terceiro e não ingressou).
É por isso que é possível dizer que o terceiro interessado é um é colegitimado para defender a relação
material que está sendo discutida em juízo, ou é titular de uma relação jurídica que é conexa com uma
relação jurídica discutida em juízo. As regras de prazo e preparo do recurso desse terceiro são as mesmas
previstas para a parte.
No que tange ao MP, vale resaltar que a legitimidade do MP para recorrer é concorrente com a das
partes, mas é primária – pode recorrer mesmo que as partes não o façam.
Pelo novo CPC, o amicus curie não pode recorrer, ressalvada a possibilidade de interposição de embargos
de declaração e recurso da decisão dada no incidente de resolução de causas repetitivas. No caso de o
amicus curie ser a CVM- Comissão de valores mobiliários, por lei extravagante, há uma legitimidade
subsidiária para recorrer. Logo, a CVM só pode recorrer se as partes não recorrerem.
Da decisão que indefere o ingresso do amicus curie cabe recurso? A lei não prevê, mas existem julgados
dizendo que isso é possível.
b) Interesse
O interesse recursal também é um requisito de admissibilidade do recurso, e se desdobra em interesse
utilidade e interesse necessidade. O interesse utilidade é a exigência de que o recurso seja apto a trazer
um beneficio, uma vantagem para o recorrente. Não está presente, por exemplo, quando o tribunal prolata
um acórdão com fundamento federal e constitucional (sendo ambos suficientes, por si só, para
manutenção da fundamentação da decisão) e o recorrente interpõe apenas RESP. A utilidade então é a
exigência de que o recurso seja apto a trazer alguma vantagem para o recorrente. O interesse
necessidade é que o recurso seja necessário para tanto.
É preciso ser sucumbente para ter interesse recursal? Não. O terceiro, por exemplo, nem é parte do
processo e pode ter interesse recursal. Uma parte pode ter ganhado o acolhimento de um pedido
subsidiário, e ter interesse de recorrer para prevalecer o pedido principal.
Além disso, sempre se defendeu que para haver a existência do interesse do recurso, seria necessário
que o recurso fosse apto para modificar a conclusão da decisão, não havendo o interesse de questionar
só a fundamentação da decisão. Mas há exceções a essa regra, cada vez mais significativas: quando houver
coisa julgada secundum eventum probationis (Ex: É possível que uma parte queira que a fundamentação
diga que a improcedência foi por ausência de provas para que não haja coisa julgada); quando há a
utilização dos embargos; quando se quer alterar a ratio decidendi de uma decisão que pode ter força de
precedente vinculante. A ação declaratória incidental foi extinta pelo NCPC, de modo que, a questão
prejudicial incidental decidida na fundamentação faz coisa julgada desde que preenchidos os requisitos do
art. 503 do CPC – da resolução depender o julgamento do mérito; se tiver ocorrido contraditório prévio e
efetivo, não se aplicando em caso de revelia; se o juiz tiver competência para resolvê-la como questão
principal. Então, é possível querer questionar a fundamentação da decisão para que o juiz reveja a solução
dada à questão prejudicial incidental, já que isso vai fazer coisa julgada.
AULA- 10/09
D) Cabimento
É a exigência de que seja interposto um recurso previsto como adequado por lei. Essa adequação é regida
pelos princípios mencionados da taxatividade, singularidade e fungibilidade.
Juízo de mérito
O recurso tem um objeto litigioso como mérito assim como qualquer ato postulatório. O seu mérito
também é composto por um pedido individualizado com uma causa de pedir. Os pedidos possíveis no
recurso são, em regra, o pedido de invalidação da decisão e o pedido de reforma da decisão. Para cada um
desses pedidos há uma causa de pedir adequada por que o pedido deve decorrer logicamente da causa de
pedir. A causa de pedir é o fato jurídico que dá ensejo a formulação de cada um desses pedidos.
Se o pedido é de invalidação, a causa de pedir adequada é o error in procedendo. Será um erro de
procedimento, de atividade, um erro formal cometido pelo magistrado na condução do procedimento ou
na pratica de determinado ato de procedimento. Como, por exemplo, prolatou uma decisão extra petita;
Prolatou uma decisão sem fundamentação; Conduziu um procedimento que indeferiu a produção de
provas que eram indispensáveis para a parte provar o que alegou - cerceamento do direito de defesa;
Julgou com base em um decumento novo sem possibilitar a outra parte a vista prévia - Violação do
contraditório. Esses erros conduzem naturamente o pedido de invalidação da decisão com o julgamento
rescindente e quando não for possível, o próprio tribunal sanar o vício e seguir adiante.
Se o pedido é de reforma, a causa de pedir adequada é o error in judicando. Será, portanto, um erro de
julgamento, erro de fundo que se revela basicamente quando o magistrado no conteúdo da sua decisão
julga mal a causa. Seja por que aplicou-se uma lei que não deveria ser aplicada; ou por uma má valoração
das provas; ou porque considerou ilícita uma prova que não era, etc. Enfim, houve um erro de julgamento.
É possível a cumulação de pedidos recursais. A cumulação própria é aquela que se formula mais de um
pedido visando que todos sejam acolhidos. Por exemplo, invalidação de um capítulo da decisão, a reforma
de um segundo capítulo da decisão por um determinado fundamento e a reforma de um outro capítulo
com outro fundamento.
Também é possível uma cumulação imprópria, mais especificamente, a eventual ou pedido subsidiário.
Ocorre, por exemplo, quando a parte pede em caráter principal a invalidação de um capítulo da decisão,
mas caso o tribunal entenda que não é caso de invalidado, subsidiariamente se faz o pedido de reforma.
O mérito recursal não se confunde, necessariamente, com o mérito da causa originária - podem ser
completamente diferentes.
O recurso pode ser objeto de dois diferentes tipos de julgamento: O julgamento rescindente e o
julgamento substitutivo. O julgamento rescindente é aquele em que o juiz admite o recurso e acolhe o
pedido de invalidação da decisão, caçando-a para que outra seja proferida em seu lugar (se não for
possível sanar o vício pelo o próprio Tribunal). O julgamento substitutivo se da toda vez que o recurso foi
admitido, mas a decisão não foi anulada. Por que uma vez admitido o recurso e não tendo sido anulada a
decisão, o julgamento do recurso automaticamente substitui o julgamento constante na decisão
recorrida (nem que seja para manter a decisão recorrida). Pode ocorrer, portanto, em três situações.
Quando o recurso é admitido para o juiz acolher o pedido de reforma. Quando o recurso é admitido para o
juiz não acolher o pedido de reforma - mantém a decisão recorrida. E quando o recurso é admitido para o
juiz não acolher o pedido de invalidação - mantém a decisão recorrida. Nessas três situações o julgamento
do recurso substitui o julgamento da decisão recorrida. Regra que se extrai do art. 1008 do NCPC. Na
verdade, a contrário senso, só não ocorre esse efeito substitutivo quando o recurso é inadmitido ou
quando ele admitido para acolher um pedido de invalidação.
Efeitos
Regressivo
É aquele que autoriza o órgão a quo a rever a situação recorrida, isto é, quando se admite que uma vez
interposto o recurso, o órgão prolator da decisão possa se retratar, possa rever sua decisão. Isso não é
um efeito genérico de todo recurso como é, por exemplo, o efeito devolutivo. Esse efeito só subsiste para
alguns recursos específicos que será visto ao longo do curso. Ex: Agravo de instrumento; Algumas apelações
como apelação contra indeferimento da inicial; apelação em caso de sentença que não resolve o mérito;
*Alguns autores chamam esse efeito regressivo de efeito diferido. Porém cuidado, por que outros autores
falam de efeito diferido com outro sentido para se referir a situações típicas do recurso adesivo, em que a
admissibilidade de um recurso fica na dependência de outro recurso.
Obstativo - Impeditivo
O recurso uma vez interposto, como ele prolonga o estado de litispendência do processo, naturalmente
obsta/ impede o trânsito em julgado da decisão recorrida. Isso é claro e óbvio quando o recurso é
admitido. O recurso que é admitido é eficaz e produz esse efeito. O problema é quando o recurso é
inadmitido - esse recurso invalidado produziria efeitos? Como impedir o transito em julgado da decisão
recorrida? Existem três grandes visões em torno disso.
A primeira visão é do Barbosa Moreira, para ele, apenas os recursos admissíveis produzem efeitos, e
portanto, impedem o transito em julgado. O recurso inadmitido seria ineficaz e por isso não impediria o
trânsito em julgado da decisão recorrida. Deste modo, por essa visão, quando o recurso for conhecido, não
haveria discussão, a data do transito em julgado seria a data da ultima decisão. E quando o recurso for
inadmitido, a data do trânsito em julgado daquele processo vai retroagir até a data do fato que ensejou a
inadmissibilidade desse recurso. Isso pode gerar um problema imenso por que o prazo para ação rescisória
começa a contar da data do trânsito em julgado da decisão. Então, se o seu recurso for inadmitido, corre o
risco do prazo da ação rescisória ter decorrido.
Há quem adote uma visão intermediária - julgados do STJ e a súmula 100 do TST - só o recurso inadmitido
por intempestividade ou por manifesto descabimento são ineficazes e não impedem o trânsito em julgado
da decisão recorrida. Nesses casos, a data do trânsito em julgado retroage a data do fato que ensejou a
inadmissão do recurso. Isso é para evitar que a parte interponha um recurso com intuito de postergar o
termo inicial da ação rescisória.
A terceira visão conta com julgados nos nossos tribunais e com parte da nossa doutrina. De acordo com
essa visão, o recurso inadmitido é eficaz por que a decisão que o invalida é uma decisão desconstitutiva e
enquanto não é decretada a invalidade do recurso, ele será válido e produzirá efeitos. Só depois que
decretada a invalidade do recurso é que pode-se dizer que ele passou a ser ineficaz. Então, o recurso
inadmitido, enquanto não for invalidado, produz efeitos e por tanto impede o trânsito em julgado. Logo, a
data do trânsito em julgado será a data em que se opera a preclusão sobre a última decisão dada na causa
- que provavelmente será a decisão de inadmissão do recurso. Com isso fica resguardada a segurança
jurídica da contagem do prazo para ação rescisória.
Devolutivo
A interposição do recurso transfere para a apreciação do tribunal aquela matéria que foi impugnada no
bojo da decisão recorrida. Portanto, só devolve a reapreciação da matéria impugnada da decisão recorrida
- dos capítulos da decisão recorrida que foram impugnados. Então, por exemplo, se a decisão tem quatro
capítulos, e a parte no seu recurso só questiona um capítulo, será só essa matéria desse capítulo
impugnado que vai ser devolvida para reapreciação do tribunal.
É um efeito comum a todos os recursos – provocar o reexame da decisão. Segundo Fredie, deve-se
considerar, atualmente, que o efeito devolutivo do recurso decorre da interposição de qualquer recurso,
equivalendo a um efeito de transferência da matéria ou de renovação do julgamento para outro ou para
o mesmo órgão julgador.
O efeito devolutivo deve ser visto em sua extensão e profundidade. Portanto, no plano horizontal e
vertical.
O efeito devolutivo em sua extensão, no plano horizontal, precisa o que se submete, por força de
recurso, ao julgamento do ad quem. Esse capítulo da decisão que foi expressamente impugnado vai se
tornar a questão principal do seu recurso, o objeto litigioso do recurso. E, é delimitado, portanto, pela
vontade do recorrente (a delimitação da extensão da devolutividade é voluntária).
Entretanto o efeito devolutivo também deve ser visto em sua profundidade - em uma perspectiva vertical
(chamado por alguns de efeito translativo). A profundidade do efeito devolutivo determina as questões
que devem ser examinadas pelo órgão ad quem para decidir o objeto litigioso do recurso, identificando o
material que deve ser trabalhado para o julgamento. Então, o tribunal para reapreciar essa parcela da
decisão impugnada pela parte poderá se debruçar sobre todas as questões de fato e de direito que foram
suscitadas e discutidas ao longo do processo ainda que elas não tenham sido expressamente decididas
pelo juízo a quo. Então, o tribunal para julgar o objeto litigioso do recurso, poderá usar como fundamento
toda e qualquer questão suscitada e discutida na instância inferior ainda que essa questão não tenha sido
expressamente solucionada. Bem como também poderá apreciar, nesse contexto, questões de ordem
pública, examináveis de ofício. Essa profundidade do efeito devolutivo é delimitada não pela vontade das
partes, mas por lei. A lei que diz que órgão "Ad quem" pode aprofundar o quanto quiser. No plano
horizontal, o órgão fica preso ao que foi delimitado pelas partes, mas verticalmente ele pode aprofundar o
quanto quiser. O efeito devolutivo em profundidade em que pese seja definido por lei, é delimitado pelo
efeito devolutivo em extensão. O tribunal não pode com base em uma questão dessa pretender
reexaminar um capítulo que não foi devolvido para a sua apreciação. Esse aprofundamento só é possível
para se rever o capítulo que foi impugnado. Até por que as capítulos não impugnáveis transitam em
julgado. Então, o efeito devolutivo em profundidade é delimitado pela extensão voluntariamente definida
pelas partes.
Suspensivo
Expansivo
É uma manifestação do princípio da personalidade. A princípio, o recurso uma vez interposto, só vai
beneficiar a pessoa do recorrente. Entretanto, o legislador trouxe situações excepcionais que cabe uma
expansão subjetiva do recurso admitindo que ele beneficie o litisconsorte unitário do recorrente ou o
devedor solidário dele.
APELAÇÃO
Conceito e cabimento
Art. 1009 a 1014 do NCPC.
Tradicionalmente, a apelação é definida como um recurso cabível contra sentença. Considerada um dos
recursos mais importantes do nosso sistema por que devolve para apreciação do tribunal tudo aquilo que
foi discutido em primeiro instância - dentro dos limites impugnado.
No NCPC, o cabimento da apelação ficou mais amplo. No regime do NCPC, as decisões interlocutórias dadas
ao longo da fase de conhecimento, em regra, não desafiam o agravo de instrumento. Salvo aquelas
expressamente prevista no rol do art. 1015. O legislador optou por estabelecer que essas interlocutórias
não vão precluir e caberá a parte interessada impugna-las no final da fase de conhecimento em sede de
preliminar aposta em apelação ou contrarrazões de apelação. A via adequada para questiona-las é essa.
Então, isso acaba ampliando o objeto da apelação - além de discutir a sentença, vai se discutir as decisões
interlocutórias dadas ao longo da fase de conhecimento que não pode ser agravada. O legislador ressalva
também que mesmo aquelas questões que poderiam ter sido objeto de decisão interlocutória impugnável
por agravo, mas que o juiz optou por decidir na sentença, poderá ser discutida na apelação. Por exemplo, a
tutela antecipada, a princípio, é concedida por uma decisão interlocutória que pode impugnada por agravo
de instrumento. Só que é perfeitamente possível que essa tutela provisória ao invés de ser dada na fase de
conhecimento por uma decisão interlocutória seja concedida pelo juiz no bojo da própria sentença, ainda
assim, ela vai ser discutida através de apelação.
RESUMO: O legislador estabelece dois tipos de matérias que podem ser discutidas no bojo da apelação:
aquelas decisões interlocutórias não agraváveis e aquelas questões que poderiam ter sido objeto de
interlocutória agravável, mas não foram, foram decididas na sentença.
*Se a parte se ver diante de uma interlocutória não agravável ao logo da fase de conhecimento, e resolve
questiona-la com preliminar das suas contrarrazões de apelação, o juiz precisa intimar o apelante para se
manifestar sobre ela. Como ela trouxe algo novo nas suas contrarrazões de apelação, que é uma preliminar
impugnando interlocutória, o juiz terá que abrir vista ao apelante para se manifestar em 15 dias.
Situações especiais
Há casos especiais de sentença que não é apelável. Por exemplo: a sentença dada no bojo de execução
fiscal cujo valor não exceda 50 ORTN não é impugnada por apelação - deve ser impugnada por embargos
infringentes de alçada. O prazo deles é de 10 dias, não se sujeitam a preparo e é o próprio órgão que
prolatou a decisão - a quo- que julga o recurso. Nesses casos, se a parte ao invés de usar embargos
infringentes de alçada , usar apelação, não se aplica a fungibilidade. Entende-se que é erro grosseiro.
Nas causas internacionais em que litigam Estado estrangeiro ou organismo internacional com o município
ou pessoa residente no Brasil, a sentença prolatada não desafia apelação. A sentença será desafiada por
ROC (Recurso ordinário constitucional). O ROC se submete aos mesmos requisitos de apelação. O que
diferencia é o fato dele não ser julgado por TJ ou TRF - é julgado pelo STJ. A sentença é dada pelo juiz
federal e o recurso vai direto para o STJ. O recurso, no STJ, não é julgado por uma câmara com três
desembargadores, é julgado por uma turma de 5 ministros exigindo maioria absoluta no seu julgamento.
A última exceção é da Falência. De acordo com a lei de falência, a decisão que decreta falência desafia
agravo de instrumento.
Efeito suspensivo
A apelação é quase o único recurso que tem o efeito suspensivo no regime do NCPC. Sendo que o legislador
no parágrafo primeiro do art. 1012 traz um rol das hipóteses em que ela não terá efeitos suspensivos com
algumas inovações:
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua
publicação a sentença que:
I - homologa divisão ou demarcação de terras;
II - condena a pagar alimentos;
III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;
IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição.
Nos casos em que a apelação não tem efeitos suspensivo é possível iniciar a execução provisória. E se esse
cumprimento provisório da sentença for muito danoso para a outra parte, ela pode perfeitamente pedir
que seja concedido efeitos suspensivo a apelação.
A forma de pedir efeitos suspensivo para apelação é bem genérica. Independentemente da apelação está
nos autos de primeira ou segunda instância, quem tem competência para analisar o seu requerimento
sobre os efeitos suspensivos é o tribunal. Dirige o requerimento ao tribunal ou ao relator se o processo já
tiver sido distribuído. Os fundamentos são: quando a parte demonstra grande probabilidade de êxito no
seu recurso, se não, que seja demonstrado o risco de dano.
A primeira situação possível é aquela em que a sentença de primeira instância foi meramente terminativa
de inadmissibilidade da demanda - não resolvendo o mérito. Nesses casos, admite-se que o tribunal, em
sede de apelação, possa dar provimento a apelação para afastar a causa de inadmissibilidade da demanda
e feito isso, adentrar no exame do mérito e fazer o primeiro julgamento. Já que o mérito não foi examinado
na primeira instância.
Em segundo lugar, também poderá fazer isso quando ele decretar a nulidade de uma sentença extra petita
(não foi congruente com os limites da demanda). Automaticamente abre espaço para reexame ou exame
de uma questão que não foi examinada. Então, nesses casos em que houve um desrespeito aos limites
impostos pela congruência, o tribunal está autorizado em reconhecer isso, decretar nulidade se for o caso e
já mergulhar no que há de mérito que deveria ter sido examinado e não foi.
Esse exame de mérito também é possível quando o tribunal constata que houve uma decisão citra petita,
ou seja, que houve uma omissão do juiz de primeira instância com relação a alguns pedidos que foi
formulado. Nesse caso, em nome da celeridade, o tribunal vai julgar esses pedidos pela primeira vez em
grau de recurso.
Outra hipótese é quando o tribunal decreta a nulidade da sentença por falta de fundamentação. O próprio
tribunal vai analisar as questões de mérito e fundamentar, substituindo a decisão recorrida.
Outra hipótese é aquela em que a sentença recorrida extinguiu o processo com exame do mérito em razão
de prescrição e decadência. O tribunal, em sede de apelação, poderá, afastando a prescrição ou a
decadência, se debruçar pela primeira vez sobre o restante do mérito.
Procedimento
Passou por uma mudança profunda. Vai ser apresentada por uma petição escrita dirigida ao órgão "a quo" -
juízo de primeira instância. O juízo de primeira instância não faz mais juízo de admissibilidade em relação a
apelação - ele só vai tomar providências meramente ordinatórias. Vai determinar a intimação do apelado
para que apresente contrarrazões no prazo de 15 dias. E nas contrarrazões do apelado existir uma
preliminar questionando decisão interlocutória, o juiz vai intimar o apelante para se manifestar no prazo de
15 dias. E se o apelado apresentou apelação adesiva também intima o apelante para se manifestar em 15
dias.
Feitos isso, os autos serão remetidos para o tribunal. No tribunal, esses autos vão ser distribuídos para o
órgão competente do recurso - a câmara - e dentro dessa câmara para um relator. O primeiro passo do
relator é verificar se há algum pedido de tutela provisória que ele deva apreciar, como por exemplo, a
concessão de efeito suspensivo do recurso, sendo que da decisão dele sobre essa matéria cabe agravo
interno no prazo de 15 dias. E além disso, também cabe ao relator verificar se é o caso de ele decidir
monocraticamente o recurso dentro das hipóteses do art. 932 III a V.
SEGUNDA UNIDADE
AULA- 24/09
AGRAVO DE INSTRUMENTO
O agravo é um gênero de um recurso do qual extraímos algumas espécies. No regime do CPC de 73,
excluído o contexto dos recursos extraordinários, costuma-se falar em três espécies de agravos: de
instrumento, retido e interno. O agravo instrumento e o agravo retido são tradicionalmente utilizados
contra decisão interlocutória de juiz de primeira instância. E o agravo interno contra decisão monocrática
de membro de tribunal. Por enquanto, nosso foco, é a recorribilidade das interlocutórias que no CPC de 73
se dá através do agravo retido e o agravo de instrumento.
Pelo texto originário do CPC de 73, todas decisões interlocutórias eram agraváveis por agravo de
instrumento ou agravo retido no prazo de 5 dias. A parte que optaria por um ou outro recurso. A diferença,
em termos, era que o agravo de instrumento subia de imediato para o tribunal. O agravo retido ficaria
retido nos autos e só seria conhecido se reiterado na apelação ou contrarrazões da apelação na fase final
de conhecimento.
Mas, no novo milênio foram feitas reformas ao CPC de 73. A partir dessas reformas, a regra passou a ser a
recorribilidade das interlocutórias por agravo retido. E o agravo de instrumento ficou reservado para casos
excepcionais - só seria cabível em casos de urgência, nas hipóteses expressamente previstas em lei, como
por exemplo, contra decisão que inadmitiu a apelação. A doutrina dizia que o agravo de instrumento
também seria cabível nos casos em que o agravo retido fosse inútil ou se mostrasse incompatível com a
impugnabilidade da interlocutória (não poderia esperar o final da fase de conhecimento para ser revista).
Sendo que o prazo para agravo de instrumento e agravo retido passa a ser 10 dias.
Com o advento do NCPC, há uma mudança radical. O agravo retido é excluído do sistema. Nem todas as
interlocutórias serão agraváveis. Só são agraváveis as decisões interlocutórias que podem ser impugnadas
por agravo de instrumento nas hipóteses expressamente prevista em lei. E as outras decisões
interlocutórias que não desafiam agravo de instrumento poderão ser impugnadas em sede de apelação ou
contrarrazões de apelação. Portanto, elas não precluem. Esse regime é um regime muito parecido com o
regime do processo do trabalho. Se uma decisão interlocutória, não desafiar agravo de instrumento, sendo
que é necessário para a parte que ela seja revista de imediato, seria caso de mandado de segurança judicial
contra ato judicial (será utilizada como sucedâneo recursal) se essa decisão for considerada um ato abusivo
que atenta contra direito liquido e certo da parte. O prazo do agravo de instrumento no NCPC é de 15
dias.
Cabimento. Taxatividade. Analogia. Art. 1015, 354, parágrafo único, 356, §5º NCPC.
As hipóteses de cabimento do agravo de instrumento estão concentradas no art. 1015 no NCPC. Dispositivo
este que não exclui a possibilidade de previsão de cabimento de agravo em outros artigos da lei. Mas, o seu
cabimento é definido por lei. Parte da doutrina entende que o legislador trouxe um rol taxativo das
hipóteses de cabimento de agravo de instrumento. Entretanto, a enumeração das hipóteses de cabimento
do agravo constam em um texto normativo. E assim como qualquer outro texto normativo fadado a
equivocidade e dubiedade e exige interpretação. Exige, portanto, uma interpretação que atribua sentido as
hipóteses de cabimento - é inexorável o uso da analogia (até para que se possa compreender a extensão do
que o legislador quer dizer no dispositivo).
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
Abrangidas as decisões que concedem, denegam, modificam e as que revogam uma tutela provisória
já concedida. Qualquer tipo de tutela provisória - de urgência ou de evidência. Parte da doutrina defende
que também caberá agravo de instrumento contra decisão que posterga a análise do pedido do tutela
provisória para depois contraditório, para depois da oitiva da outra parte. Portanto, essa negativa de
apreciação imediata do pedido de tutela provisória de urgência também é impugnável.
Se a tutela provisória foi concedida no bojo da sentença com o objeto de subtrair o efeito suspensivo
da do recurso de apelação, será impugnável com apelação.
II - mérito do processo;
Decisões interlocutórias que resolvem antecipadamente uma parte do mérito. Por exemplo:
Prescrição, decadência. Ou a decisão que julga antecipadamente parte do mérito. Sendo que esses casos
estão previstos no art. 354, parágrafo único e art. 356, §5º.
Há um enunciado do FPPC no sentido de que cabe agravo de instrumento contra as decisões que
resolvem antecipadamente ou julgam antecipadamente a reconvenção. É uma interpretação analógica.
Há outros casos, como por exemplo, a decisão que julga liminarmente improcedente um dos pedidos
ou uma parte dos pedidos.
O FPPC também prever cabimento de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que julga
procedente o pedido de condenação do réu a prestar contas - enunciado 177. Por ser de uma decisão de
mérito ela é questionável por agravo de instrumento.
As decisões parciais que não resolvem o mérito, extingue uma parte da demanda sem resolução de
mérito, dadas com base no art. 485 do CPC, também podem ser impugnadas por agravo de instrumento
como prever o art. 354, parágrafo único.
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase
de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.
Regularidade Formal
- Prazo: 15 dias
- Preparo: Depende de previsão em lei local para ser exigido. Art. 1017, §1º.
- Petição Escrita. Requisitos
O agravo de instrumento deverá ser interposto por uma petição escrita que deverá preencher os requisitos
do art. 1016. Essa petição deve conter os nomes da parte; Paula sugere que, como os autos principais ficam
na primeira instância que seja colocado a qualificação das partes; Deve-se colocar as suas razões recursais
(causa de pedir: error in procedendo, error in judicando, os motivos); o pedido recursal; Exige-se também
que se coloque o nome e o endereço completo dos advogados das partes do processo.
Além disso, a petição de agravo de instrumento deverá ser acompanhada do instrumento que é composto
por cópias de peças obrigatórias e facultativas dos autos principais.
Instrumento
§ 3o Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade
do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único.
Se a parte esquecer de juntar algumas peças, principalmente as peças obrigatórias, no regime do CPC de 73
será caso de inadmissão do recurso. O CPC de 73 é peremptório, não admitindo inclusive nenhum tipo de
saneamento. Contudo, o CPC de 2015, no art. 1017 §3º prever expressamente que na ausência de cópia de
alguma dessas peças, o relator tem o dever de intimar a parte para que no prazo de 5 dias complemente
a documentação. Portanto, no regime do NCPC, a ausência de uma peça, mesmo obrigatória, não conduz
automaticamente a inadmissão do recurso. Se não corrigido no prazo de 5 dias, será caso de inadmissão do
agravo por falta de peça obrigatória.
Esse dever do relator emana do princípio da boa-fé objetiva. É um dever de prevenção do julgador - de
prevenir a parte da existência de um vício na sua atuação em tempo de corrigi-la.
OBS: é dispensada a cópia das procurações dos advogados em algumas situações específicas. Quando, por
exemplo, o advogado é o Procurado do Estado, ou membro do MP. Não existe instrumento de procuração
outorgando poderes a eles, esses poderes são outorgados por lei.
Ou quando, por exemplo, o agravo é interposto contra decisão que indeferiu uma liminar. O réu nem foi
citado, não há réu em juízo, quem dirá procuração outorgada ao advogado do réu. Não há como juntar a
cópia de uma procuração que confere poderes ao advogado do réu. Hipótese que seria inviável, portanto.
Paula entende que seria necessário como uma peça obrigatória a cópia do contrato social (ato constitutivo)
da pessoa jurídica que é parte do processo. É importante para auferir que quem assinou a procuração teria
poderes pelo ato constitutivo para tanto. Mas, não está previsto em lei e existe precedente no STJ dizendo
que não é obrigatório.
OBS: Se não existir alguma das peças obrigatórias, o advogado deverá juntar uma declaração de
inexistência daquela peça obrigatória sob sua responsabilidade pessoal.
c) Peças facultativas
O agravante poderá juntar peças facultativas, que não são imprescindíveis, que em verdade, são peças
interessantes e conveniente para adequar a apreciação da lide. A própria lei prever no art. 1017, III que o
agravante poderá juntar ao processo facultativamente peças que sejam úteis e interessante para
apreciação da controvérsia. Assim como, o legislador permite que o agravado também o faça. Nesse caso,
se o agravado nas contrarrazões juntar uma nova peça, o juiz terá que intimar o agravante para em 15 dias
se manifestar.
São aquelas que não são obrigatórias por que não estão no rol, contudo não poderia ser também
meramente facultativas visto que elas são necessárias e essenciais para que o Tribunal possa entender a
controvérsia. Por exemplo, todo litígio gira em torno de um contrato, o tribunal precisa ter acesso ao
instrumento daquele contrato para entender a controvérsia e firmar sua opinião. Essas peças essenciais
devem ser juntadas sob pena de inadmissão do agravo. Claro que não é uma inadmissão imediata. Se a
parte é intimada para juntar a peça em 5 dias e não junta, será caso de inadmissão. Essa exigência decorre
de uma interpretação extensiva da súmula 288 do STF. Sendo que no mesmo regime do CPC de 73 já se
entende que a ausência dessas peças não conduz a inadmissão automática do recurso. Há uma decisão do
STJ dada no julgamento de causas repetitivas, inclusive, dizendo que a ausência de uma peça essencial não
conduz a inadmissão automática do recurso - o relator primeiro deve intimar a parte para que apresente a
peça e se a parte não apresentar, o relator irá inadmitir. No NCPC, o art. 1017, §3 já diz isso expressamente.
e) Desnecessidade de autenticação
Originariamente, exigia-se que as peças fossem autenticadas. Contudo, uma medida provisória dispensou a
Fazenda Pública dessa autenticação e gradativamente, os tribunais em nome da economia e da celeridade
começaram a dispensar qualquer parte dessa autenticação. Essa é a regra geral. O art. 425, IV do NCPC
autoriza essa conclusão. Se alguém questionar a autenticidade dessa peça, a parte deverá apresentar a
peça original ou junta uma autenticada.
Protocolo
III: Nesse caso, a tempestividade do recurso é auferida da data em que ele foi postado;
IV: admite-se o protocolo por fax. Protocola por fax, contudo em 5 dias deverá ser apresentado o original
ao tribunal. Se a parte optar protolocar o agravo por fax, não é necessário apresentar todo instrumento por
fax. Instrumento só precisa ser apresentado junto com o protocolo da via originária junto ao tributal.
V: via eletrônico, por exemplo. Inclusive se os autos do processo forem eletrônicos e acessíveis em primeira
e segunda instância igualmente, não há necessidade de instrumento do agravo por que as peças
obrigatórias, essenciais e necessárias estarão nos autos eletrônicos acessíveis ao tribunal. O art. 1017 §5º
prever isso.
Comprovação da interposição
Procedimento
Art. 1.019: O agravo de instrumento será protocolado no tribunal e lá será distribuído para um colegiado
composto por três desembarcadores e dentre entres será sorteado um relator.
Distribuição. Relator
É o relator que vai dar processamento inicial a esse agravo de instrumento. Em primeiro lugar, cabe a esse
relator verificar se é o caso decidir monocraticamente o agravo de instrumento dentro das hipóteses do
art. 932, III e IV.
A primeira delas é do relator negar segmento ao agravo inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamento da decisão; O agravo estará prejudicado se o juiz de primeira
instância tiver se retratado. A segunda possibilidade de decisão monocrática é aquela que nega provimento
ao agravo de instrumento que contraria um precedente vinculante (súmula do STF, súmula do STJ..).
Se não for o caso de julgar monocraticamente o agravo, inadmissível ou improcedente, o relator deverá
julgar um eventual pedido de concessão de efeitos suspensivos a esse agravo ou de antecipação dos efeitos
da tutela recursal. Contra essas duas decisões, caberá agravo interno no prazo de 15 dias para que a
decisão monocrática do relator seja submetida a revisão pelo colegiado do qual ele faz parte.
A princípio, se o agravado tem advogado constituído nos autos, ele será intimado na pessoa do seu
advogado por publicação no Diário ou se não houver circulação do Diário na localidade, pela via postal.
Entretanto, se o agravado não tiver advogado constituído nos autos, nesse caso a intimação será pessoal.
Além da intimação do agravado, o relator deverá intimar o MP quando for o caso dele atuar como fiscal da
lei, e será feita preferencialmente por meio eletrônico se houver. O MP terá o prazo de 15 dias para se
manifestar.
Caberá o relator solicitar um dia para julgamento do agravo. Na sessão de julgamento, o relator ler o
relatório, não caberá sustentação oral (se o agravo tiver por objeto decisão de mérito equivale a uma
apelação, sendo o caso de uma sustentação oral) e portanto, lido o relatório, o relator dará o seu voto e os
demais membros do colegiado também darão o seu respectivo voto. Uma vez dado os votos, o presidente
irá do órgão vai anunciar o resultado do julgamento e vai determinar a lavra do acórdão que será feito pelo
próprio relator, ou se o relator for vencido, o acórdão será lavrado pelo primeiro autor do voto vencedor. O
acórdão necessariamente deve ter uma ementa e essa ementa será publicada no órgão oficial.
E se na pendência do meu agravo tiver sido prolatada a sentença e interposta uma apelação? Primeiro
julga o agravo ou julga a apelação? A regra do NCPC é que o agravo deve ser julgado antes da apelação.
Inclusive, se ambos estiverem em pauta na mesma sessão de julgamento , primeiro julga o agravo e depois
a apelação.
Superveniência da sentença
As vezes, é prolatada uma decisão interlocutória e a parte interpõe um agravo de instrumento. Contudo, o
agravo de instrumento demora tanto para ser julgado que a sentença em primeiro grau é prolatada. Surge
a questão: com o advento da prolação da sentença final, o agravo perderá seu objeto? ficará prejudicado?
Ou ainda há razão de ser do seu julgamento? A questão é polêmica. Encontra-se decisões simplistas nos
tribunais dizendo que como a sentença é definitiva e o agravo só questiona interlocutória, o agravo ficaria
prejudicado. A rigor, da leitura da doutrina e da jurisprudência surge algumas controvérsias sobre essa
questão. Há dois diferentes critérios.
O primeiro critério é o da hierarquia: de acordo com esse critério, obviamente o critério que prevalecia era
o entendimento do tribunal e não uma sentença de primeira instância. E por isso, jamais uma sentença de
primeira instância poderá ser incompatível com o entendimento de segunda instância, daí, se entender que
a sentença fica com sua eficácia condicionada ao não provimento do agravo. Só quando o agravo é
desprovido, a sentença começa a produzir os seus efeitos. O entendimento da segunda instância deve
prevalecer hierarquicamente.
AGRAVO INTERNO
Nomenclatura
É um recurso que possui diversos nomes atribuídos pela lei, pela doutrina, pelo tribunal como, por
exemplo, regimental, legal, agravinho, inominado, etc. O nome mais comum é agravo regimental, sendo
agravo interno a nomenclatura mais correta a ser usada. O termo agravo regimental não é o mais
adequado exatamente por que ele não é regimental, criado por regimento interno e disciplinado pelo
tribunal. O agravo interno é disciplinado por lei. Em segundo lugar, o termo agravinho não condiz já que o
diminutivo não se coaduna com a importância do recurso. O agravo interno seria, de fato, o nome
tecnicamente mais correto e reflete o fato desse agravo ser interposto no mesmo tribunal em que a
decisão foi preferida e dentro dos meus autos em que a decisão foi preferida. Essa foi a opção
terminológica do NCPC.
É cabível agravo interno contra decisão isolada de membro do tribunal, normalmente decisão dada por um
relator. O objetivo central desse agravo é permitir que essa decisão isolada do relator seja submetida ao
colegiado a qual ele faz parte. Previsto também em art. 39 da lei 8038.
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado,
observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
Fundamento
O fundamento desse recurso é o princípio da colegialidade, entende-se que há uma probabilidade grande
que a decisão dada por uma colegiado será mais justa, além de ser um fator de legitimação da decisão do
tribunal, na medida em que presume-se que será mais legítima a decisão se decorrer de discussões entre
julgadores, e também do fato que há um controle recíproco, em tese, na hora do julgamento.
O prazo para o agravo interno é de 15 dias, sendo que o artigo 1.070 do NCPC faz questão de esclarecer
que é de 15 dias o prazo para a interposição de qualquer agravo contra qualquer decisão de relator ou
membro isolado de tribunal. Isso por que existem legislações extravagantes do agravo interno com prazo
diferentes. Portanto, esse dispositivo acaba revogando, implicitamente, outros dispositivos de lei que
preveem prazos diversos.
A súmula 177 do STJ prevê prazo em dobro para o Ministério Publico e a Fazenda Pública.
Art. 1.070. É de 15 (quinze) dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em
regimento interno de tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal.
Preparo - controvérsia
É necessário preparo em agravo interno? É controverso. Há quem diga que a necessidade de preparo será
determinada por lei local. O regimento interno de custas do Tribunal de Goiás, por exemplo, prever
preparo. Mas, no STF e no STJ, por exemplo, não há há previsão de preparo para esse recurso. Entretanto,
há quem diga que não é possível de nenhuma forma se prever preparo para o agravo interno, sendo
inadmissível (é o que defende Nelson Nery, julgados do STJ). Primeiro eles argumentam que o agravo
interno não é propriamente um recurso tal como os demais, sendo apenas um passo a mais dentro do
recurso ou da ação em que ele é utilizado para viabilizar o julgamento colegiado, garantido pela
Constituição. Exatamente em razão disso, o agravo interno não gera nenhum custo adicional ao judiciário
que justifique a cobrança do preparo. Se outros recursos que não geram custos adicionais ao judiciário
dispensam o preparo (a exemplo dos embargos declaratórios), em nome da igualdade, o preparo também
não deveria ser exigido ao agravo interno. E, justamente por isso, há julgado do STJ dizendo que não é
exigível preparo ao agravo interno, agora se a lei local o prevê, a ausência de preparo jamais poderá
conduzir a deserção. Isso por que a deserção é matéria de Direito processual e privativa de competência da
união, portanto uma lei local não poderia prever deserção por ausência de preparo onde não é exigido.
É uma petição escrita com causa de pedir e pedido. O recorrente deve impugnar especificadamente os
termos da decisão monocrática agravada. Não pode-se repetir a petição do recurso originário, como agravo
de instrumento ou apelação, ou repetir a petição inicial da ação originária. Tem que haver relação com a
concretude que está questionando.
§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da
decisão agravada.
Procedimento
a) protocolo nos autos; b) contraditório; c) Juízo de retratação; d) inclusão em pauta; e) relatório; f)votos.
voto do relator fundamentado
§ 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso
no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo
órgão colegiado, com inclusão em pauta.
Deve-se protocolar perante o relator e será encartado nos mesmos autos. O relator automaticamente
deverá garantir o contraditório - intimar o agravado para se manifestar em 15 dias. Isso é novidade. No CPC
de 73 não há previsão do contraditório. Ouvido o agravado, o relator poderá fazer um juízo de retratação.
Sendo que se ele não se retratar, deverá solicitar a inclusão do agravo em pauta de julgamento. Na sessão
de julgamento pertinente tudo caminha muito parecido. O relator ler o seu relatório e vai para os votos,
primeiro relator e depois dos outros membros. Com relação ao voto do relator, este não pode repetir a
decisão monocrática agravada - deve dar um voto fundamentado apreciando os argumentos desse novo
recurso. Existe a conexão com a concretude que está apreciando.
§ 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar
improcedente o agravo interno.
Efeitos
Os efeitos do agravo interno são os mesmos de qualquer recurso. Sendo que seguem a regra de não terem
efeitos suspensivos. Entretanto, há quem diga que se o recurso originário tinha efeitos suspensivos, o
agravo interno manterá os efeitos suspensivos. Por exemplo, se o recurso originário for uma apelação com
efeitos suspensivos, o agravo interno mantém os efeitos suspensivos (está conduzindo ao julgamento
colegiado da apelação). É uma visão doutrinária.
Se o agravo interno for julgado manifestamente inadmissível e improcedente por decisão unanime do
colegiado, o colegiado poderá impor uma multa de 1 a 5% do valor atualizado da causa, cujo valor será
revertido ao agravado. Primeiro: a inadmissibilidade ou a improcedência do agravo deve ser manifesto.
Segundo: tem que decorrer de uma votação unanime. Terceiro: o valor será revertido ao agravado. Uma
vez preenchido esses pressupostos é dever do colegiado impor a multa para garantir a seriedade na
interposição de recursos que não devem ser utilizados com fins meramente protelatórios.
§ 5o A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa
prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o
pagamento ao final.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Histórico
É originário do Direito português e foi através das ordenações lusitanas que ele chegou em nosso
ordenamento.
Nomenclatura
A nomenclatura mais correta tecnicamente é embargos de declaração. Não está errado falar embargos
declaratórios.
Natureza
Trata-se de modalidade recursal. Há quem questione pelo fato desse recurso ser julgado pelo próprio órgão
que prolatou a decisão. Contudo, ele está no rol do art. 994 de recursos, está dentro da disciplina dos
recursos em espécies e tem características típicas de qualquer recurso. Afinal, ele é um remédio voluntário
que prolonga o estado de litispendência do processo em que consiga a revisão de uma decisão, pouco
importando se é para o mesmo órgão que prolatou ou outro órgão superior. Portanto, ele tem a essência
de um recurso. A doutrina também discute se os embargos são interpostos (dá a ideia de utilização da
medida perante um órgão diferente, hierarquicamente superior) ou se eles seriam oposto (já a oposição
daria entender que estaria utilizando perante o mesmo órgão que prolatou a decisão questionada). Como é
recurso, se seguir toda a disciplina de recurso do nosso código, o termo tecnicamente correto é
interposição. Entretanto, na parte específica dos embargos de declaração, nosso legislador diz que os
embargos são opostos. Na prática forense muitos advogados utilizam essa expressão. Paula prefere usar
oposição.
Noção Geral
Pelo art. 1022 de NCPC, o legislador é claro ao dizer que qualquer decisão pode ser embargada. No regime
do CPC de 73, especificamente nos casos de embargos de contradição ou obscuridade só poderia embarcar
sentença ou acórdão. Então a doutrina se perguntava: e se fosse interlocutória? Quer dizer que essa é uma
decisão que não precisa ser clara nem coerente? Então, a doutrina já naquela época entendia que mesmo a
interlocutória quando contivesse vícios que comprometesse a sua clareza seria passível de embargos. Isso
se extraia de uma interpretação sistemática (art. 535 do CPC de 73 - já que para omissão pode-se embargar
qualquer decisão, no caso de contradição e obscuridade também deveria ser assim - são vícios que não
poderiam permanecer no bojo de uma decisão) e constitucional, em primeiro lugar a partir do dever de
motivação, de fundamentação da decisão judicial, já que decisão fundamentada deve ser clara e isso é uma
garantia constitucional. Se também extrai da noção de acesso à justiça, no sentido de que essa prestação
jurisdicional deve ser clara, inteligível e completa. Então a doutrina entendia que se um acórdão de
conteúdo de interlocutória poderia ser embargada nessas situações, porque uma decisão interlocutória de
primeira instância não poderia? Não faria sentido.
Tradicionalmente pelo CPC de 73, as hipóteses de cabimento são omissão, obscuridade e contradição.
Sendo que o NCPC positiva algo que já se dizia: cabimento por erro material.
Omissão.
No CPC de 73 o legislador dizia que caberia embargos quando a decisão fosse omissa a algum ponto. No
NCPC, o legislador não se restringe a ideia do ponto, mas diz que cabe embargos quando a decisão for
omissa em relação a um ponto ou questão sobre a qual o órgão deva se manifestar (incidentais –
fundamentos e alegações controvertidos; principal - pedido). Então, em primeiro lugar, caberá embargos
quando houver omissão com relação a questão principal quanto ao pedido.
Nos casos em que há omissão em relação ao pedido, na verdade não há decisão sobre esse pedido e nesse
caso é possível falar em vicio, defeito? Não, porque não há decisão defeituosa para que se possa invalidar.
Então, nesses casos, o pedido dos embargos cabível é o pedido de integração para que o magistrado
aprecie o pedido sobre o qual ele foi não se debruçou.
Se a omissão for em relação a algum fundamento ou alegação trazida pelas partes, nesses casos existe
decisão sobre o que foi pedido, entretanto, essa decisão em que pese existente, ela é viciada ou defeituosa
por violação ao contraditório, ampla defesa, dever de motivação, já que o magistrado não apreciou
argumento que deveria ser apreciado. É caso de invalidade. Claro que embarga-se pedindo integração para
o juiz apreciar o fundamento, mas em última análise, se o vício não for sanado, é caso de invalidação. Se a
parte não embargar, poderá arguir essa omissão em sede de apelação já que é um vicio que não preclui.
Ao arguir isso, se for uma omissão em relação a um pedido eu posso pedir ao Tribunal que aprecie
diretamente o pedido ou o Tribunal tem que devolver para o juiz apreciar? O regime de 73 dizia que o
Tribunal deveria devolver para o juiz de primeira instância para apreciar. Contudo, no regime do NCPC isso
muda porque o art. 1013, §3º expressamente prevê que em sede de apelação o Tribunal pode apreciar pela
primeira vez o pedido sobre o qual o órgão a quo foi omisso (faz parte do efeito devolutivo em
profundidade no contexto das causas maduras) se a causa estiver em condições imediatas de julgamento
(se já houve todos os debates, todas as provas).
Se a omissão foi em relação a algum fundamento ou argumento, a parte em sede de apelação pode pedir
que o Tribunal diretamente aprecie esse argumento ou fundamento sobre o qual o juiz foi omisso. Isso
decorre do efeito devolutivo em profundidade da apelação (devolve todas as questões suscitas e discutidas
ainda que não tenham sido discutidas, ainda que haja uma omissão sobre elas).
Se a omissão for em relação a um pedido e a parte não embarga, mas apela, contudo, o tribunal também
foi omisso e a decisão transita em julgado sem que o pedido seja apreciado, posso entrar com rescisória?
Nesses casos não cabe rescisória (não há decisão), de modo que a parte deverá repropor a mesma ação
para o juiz apreciar. Não cabe rescisória, mas sim repropositura da mesma ação.
Se a omissão for sobre um argumento ou fundamento, há um problema específico a ser analisado: Muitas
vezes, é muito comum que o autor ou réu cumulem fundamentos para seu pedido ou para sua defesa.
Nesses casos, surge a discussão: o juiz é obrigado a apreciar todos os fundamentos ou basta que ele aprecie
fundamentos suficientes ou minimamente essenciais daquele pedido ou daquela defesa?
Existe o costume nos tribunais brasileiros de dizer que eles não são obrigados a apreciar todos os
fundamentos do pedido do autor ou da defesa do réu, mas somente os essenciais e suficiente para uma
decisão justa da causa. A doutrina combate isso e diz que para que o juiz diga que a parte ganhou, ele
realmente não precisa apreciar todos os argumentos dela, já que ela saiu vitoriosa, ou seja, não há prejuízo.
Basta ele apreciar aquele que seja suficiente para decretar a vitória dele.
Contudo, para o juiz decretar a derrota do autor ele terá que analisar todos os argumentos e justificar
porque nenhum deles foi suficiente para evitar a sua derrota, sob pena de violar o contraditório e a ampla
defesa. Isso significa, por exemplo, para que o juiz rejeite o pedido do autor, ele terá que enfrentar todos
os fundamentos da inicial e dizer por que eles não foram suficientes para garantir a vitória do autor. Para
ele rejeitar a defesa do réu, e julgar a ação procedente ele tem que enfrentar todos os argumentos de
defesa do réu e dizem por que nenhum deles foi suficiente para evitar a sua derrota.
Isso não era claro em nosso regime de 73 e não era aceito pelos nosso tribunais, justamente para combater
isso o nosso legislador no NCPC é claro e incisivo. Inicialmente no art. 489,§1º está previsto
expressamente que não se considera fundamentada a decisão que não aprecia todos os argumentos que
poderiam conduzir a uma conclusão diversa, que seriam os argumentos do derrotado.
O art. 1022, parágrafo único, II deixa claro que essa é uma omissão embargável. O juiz que não aprecia
argumentos da parte derrotada, é omisso e essa omissão é impugnável por embargo, não podendo o
Tribunal se furtar de analisar esse recurso. Isso é especialmente grave quando essa é uma conduta do
Tribunal. Quando o Tribunal prolata um acórdão omisso em relação a um argumento da parte derrotada ou
omisso com relação ao argumento como um todo, a parte embarga e o Tribunal diz que não há omissão
embargada e rejeita os embargos. Isso é tão gravoso porque é contra esse acórdão de Tribunal que será
cabível recurso especial ou extraordinário para o Tribunal superior e um dos requisitos de admissibilidade
do recurso especial e extraordinário é o chamado pré-questionamento que é a exigência de que a questão
federal ou constitucional arguida tenha sido objeto de decisão no Tribunal de origem. Então se o Tribunal
de origem se omite em relação a um argumento de direito federal ou constitucional, não haverá pré-
questionamento e vai ser difícil que o recurso extremo seja admitido. No que se refere ao recurso especial
a dificuldade ainda é maior porque há entendimento sumulado do STJ, no sentido de que se embargo e o
Tribunal não sana o vício em sede de embargos, não haverá pré-questionamento e o recurso especial não
será cabível.
No âmbito do recurso extraordinário para o STF há entendimento sumulado no sentido de que se embargo
arguindo omissão, os embargos por si só já pré questionam a matéria, mesmo que não sejam acolhidos
pelo Tribunal de origem (é o chamado pré-questionamento ficto que é aquele que se aperfeiçoa com a
simples oposição de embargos por omissão mesmo que os embargos não sejam acolhidos).
O NCPC de no art. 1025 positiva o posicionamento do supremo, admitindo expressamente o pré-
questionamento ficto dispondo que se configura quando há a simples oposição do embargo por omissão,
caso o Tribunal superior considere existente um erro, uma omissão, obscuridade ou contradição. Inclusive
existe enunciado de súmula do STJ dizendo que os embargos para fins pré-questionatórios não podem ser
considerados atos protelatórios.
O NCPC, no art. 1022, parágrafo único inova ao prever hipóteses típicas de omissão:
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de
assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o.
I - Para Paula essa hipótese deve ser objeto de interpretação extensiva porque há omissão se o juiz não
julga com base em qualquer precedente obrigatório (súmula vinculante do STF, por exemplo);
II - nos casos em que a decisão não se considera fundamentada dentro das hipóteses do art. 489,§1º.
Obscuridade
A decisão obscura é aquela inteligível. Sendo que essa obscuridade pode ser formal ou ideológica. A
obscuridade formal ou material é um vício formal mesmo (sobreposição de linhas na decisão que
impossibilita a leitura, por exemplo). A Obscuridade poderá ser ideológica quando há uma falta de clareza
na transmissão das ideias. A decisão obscura não é clara. Sendo a clareza um requisito de validade de toda
e qualquer decisão. Então a decisão pode ser com isso invalidada.
Contradição
A decisão é contraditória quando ela contém preposições inconciliáveis entre si. O que pode constar dentro
de um mesmo elemento da decisão ou em elementos diferentes. Essas contradições são sanáveis por
embargos. A dúvida não é vício embargável. O CPC de 39, a dúvida não era fundamento de embargos. No
CPC de 73, no seu texto originário, a dúvida era fundamento de embargos. Foi feito uma reforma ao CPC de
73 e a dúvida foi excluída, mas apesar de ser excluída no CPC, ela foi mantida como fundamento em sede
de juizados. O que é muito criticado. A dúvida é muito subjetiva para justificar os vícios por embargos. Além
disso, são dos vícios objetivos (omissão, obscuridade e contradição) que surgem as dúvidas. Exatamente
por isso, o NCPC derrogou os dispositivos a lei dos juizados que preveem embargos com dúvidas.
Erro Material
O NCPC inova ao prever embargos por erro material. No regime do CPC de 73, em que pese não houvesse
expressa determinação em lei, a doutrina já admitia embargos por erro material por que o art. 463 do CPC
de 73 prever que o juiz pode corrigir erro material de ofício. Se ele não o faz, ele estaria sendo omisso.
Então, seria omissão com relação a algo que o magistrado deveria apreciar de ofício. Para não haja dúvidas
com relação a essa possibilidade, no NCPC o legislador resolveu deixar claro: cabe embargos de declaração
por erro material. Se a parte não embargar o erro material não preclui (Enunciado do FPPC expressamente
dizendo que mesmo que não haja embargos ou o vício não seja sanado por embargos o juiz pode corrigir de
ofício mesmo que tenha transitado em julgado)
Erro Manifesto
Erro manifesto justifica o cabimento de embargos de declaração? Não há previsão em lei. Mas desde o CPC
de 73, há quem admita essa possibilidade. Como, por exemplo, um erro manifesto como um erro de fato -
o juiz considera não ocorrido um fato que seja incontroverso pelas partes que ocorreu, por exemplo. Ou
uma decisão ultra petita, o juiz vai além do que foi pedido. Sobre esses erros manifestos, há uma tendência
jurisprudencial de se admitir que se embargue eles.
A conclusão é que cabe embargos de declaração contra qualquer tipo de decisão em caso de omissão,
obscuridade, contradição ou erro material. Sendo que há quem admita a sua possibilidade em caso de erro
manifesto.
Despacho
Despacho é irrecorrível. Então há doutrina que entende que se o despacho guarda alguma contradição ou
obscuridade, a parte poderá pedir a correção por uma petição simples. Outra parte da doutrina entende
que se o despacho contiver obscuridade, contradição, omissão, enfim, algum vício, a parte poderia solicitar
a correção desse vício e poderia ser feita por embargos de declaração, afinal o conteúdo dessa petição
simples seria de embargos.
Há quem questione o efeito devolutivo sob o argumento de que ele não devolve a apreciação das questões
para um órgão superior, mas só pede a sua correção para o próprio órgão que prolatou a decisão.
Entretanto, não é isso que determina o efeito devolutivo. O que determina esse efeito é o fato de se
permitir o reexame daquela decisão, pouco importando se foi pelo mesmo ou por outro órgão, impedindo
que ela preclua - e isso há. Portanto, os embargos de declaração tem efeitos devolutivos já que provocam o
reexame da decisão impedindo que ela preclua, ainda que esse reexame seja feito pelo mesmo órgão que
prolatou.
No regime do CPC de 73, como não havia regra expressa sobre o efeito suspensivo ou não dos embargos, a
doutrina majoritária entende que como a regra geral é o recurso ter efeito suspensivo e não há nada que a
excepcione no contexto dos embargos, entende-se que os embargos de declaração, assim como qualquer
recurso teriam efeitos suspensivos. Portanto, ele seguiria a regra geral. Inclusive por que não seria
adequado que uma decisão viciada produza efeitos de imediato, ela precisaria ser no mínimo corrigida
antes de produzir efeitos. A única concessão que se faz é para o caso de embargos interpostos contra
decisão que tenha uma tutela de urgência. Nesse caso, a mesma urgência que justificou a concessão
daquela decisão, muitas vezes liminar, também justificaria que os embargos fossem despidos de efeito
suspensivo.
Uma doutrina minoritária tinha um posicionamento diferente. Na visão deles, os embargos de declaração
só teriam efeitos suspensivos se o recurso seguinte também tivesse. Afinal, o objetivo deles é preparar a
decisão para interposição do recurso seguinte.
Se por exemplo, no regime do CPC de 73, a apelação tem efeito suspensivo, os embargos contra a
sentença teriam efeitos suspensivos já que a apelação tem.
Essa doutrina também ressalva igualmente os embargos de declaração contra decisão antecipatória, de
urgência sobretudo, liminar.
O NCPC prever no art. 1026 que os embargos de declaração não tem efeito suspensivo. Até por que é a
regra geral para todos os recursos. Entretanto, nesse mesmo dispositivo, no parágrafo primeiro, há uma
resalva no sentido de que se os embargos forem interpostos contra monocrático ou acórdão, decisão dada
em sede de tribunal, a parte pode pedir que seja concedido efeito suspensivo se houver mediante o
preenchimento dos pressupostos desse dispositivo (uma grande probabilidade êxito desse recurso ou
sendo relevante a fundamentação se houver risco de dano - art. 1026, parágrafo primeiro). Há um
enunciado do FPPC ressalvando que se os embargos forem interpostos contra sentença, eles terão efeitos
suspensivos se a apelação tiver (vão preparar a sentença para ser impugnada por apelação).
Interrupção do prazo
Os embargos de declaração uma vez interpostos interrompem o prazo para interposição do recurso
seguinte que voltará a contar do zero na data em que a parte foi intimada da decisão dos embargos. Essa
interrupção é para todas as partes do processo. Se os embargos forem inadmitidos, por que forem
intempestivos, por exemplo, há doutrina que entende que os embargos inadmitidos não produziriam
efeitos e portanto, não interromperia o prazo para o recurso seguinte e com isso a decisão teria transitado
em julgado. Os embargos mesmo protelatórios interrompem o prazo do recurso seguinte. A punição pela
má-fé, prevista em lei, será através de multa.
A lei de juizados especiais prevê que os embargos suspendem o prazo e não interrompem, ou seja, o prazo
uma vez suspenso volta a contar de onde parou. Contudo, o NCPC modifica esse dispositivo da lei de
juizados e adota também nos juizados a regra geral da interrupção dos embargos de declaração.
Natureza da decisão
A decisão que julga os embargos tem necessariamente a mesma natureza que a decisão embargada. Se a
decisão que julga os embargos é uma sentença, é por que a decisão embargada é uma sentença. Se por
exemplo, o tribunal prolata um acórdão, e a parte opõe embargos, esses embargos só podem ser julgados
por acórdão, eles não podem, por exemplo serem julgados por uma decisão monocrática de um relator.
Uma decisão complementa a outra. O acórdão embargado é complementado ou corrigido ou alterado pelo
acórdão que julgou os embargos. Então, eles se somam para praticamente se tornarem uma só decisão.
Isso também interfere na competência dos embargos.
Competência
A competência dos embargos é precisamente do mesmo órgão prolator a decisão embargada. Se foi o
colegiado que prolatou o acórdão, uma vez opostos os embargos, será o colegiado que vai julgar os
embargos de declaração. Não podendo um membro isolado, um relator, julgar por decisão monocrática. E
o inverso a mesma coisa. Se a decisão monocrática é prolatada pelo relator, e a parte opõe embargos,
quem vai julgar esses embargos será o relator por decisão monocrática, não podendo submeter os
embargos a um julgamento colegiado. Inclusive, o §2º do art. 1004 enfatiza isso. Há doutrina que defende a
tese que quem deve corrigir deveria ser o próprio juiz em pessoa.
Prazo
Prazo para oposição de 5 dias. Sendo que o prazo é especial e em dobro para a Fazenda Pública, Ministérios
Público, Litisconsortes com advogados diferente de escritórios diferentes em autos físicos mesmo que só
um tenha sucumbido. Excepcionando a súmula 641 do STF.
Preparo
Complementaridade
Uma vez prolatada a decisão é perfeitamente possível que uma das partes embargue e outra parte
interponha um recurso de lei. Ou seja, é possível que o autor embargue e o réu apele. Surge uma questão:
Se no julgamento dos embargos o juiz completar ou alterar a decisão, é necessário dar um prazo para que
adversária complemente ou altere o seu recurso de apelação tende em vista que a decisão apelada
mudou? É razoável e já se defendia isso no CPC de 73 e o NCPC tem regra expressa nesse sentido. Se com o
julgamento dos embargos for modificada a decisão embargada, a outra parte que interpôs o recurso de
lei, terá um prazo de 15 dias para complementar ou alterar o seu recurso dentro dos limites em que foi
modificada na decisão recorrida. Está expressamente previsto no Art. 1.024 §4º.
Se do julgamento dos embargos não resultar nenhum tipo de modificação na decisão embargada, será que
seria necessário a outra parte ratificar o seu recurso? Não seria necessário. Não haveria nenhuma razão
para se exigir essa ratificação, haveria inclusive preclusão consumativa. Entretanto, existe enunciado da
súmula 418 do STJ no sentido de que se a parte não ratificar o seu recurso ele será inadmitido - no contexto
do recurso especial, porém se dizia que se aplicava a qualquer recurso (jurisprudência defensiva).
Há um julgado no STF em sentido contrário no âmbito do recurso extraordinário nesse sentido.
O legislador do NCPC consagrou regra em sentido contrário. No art. 1024 §5º há dispositivo expresso no
sentido de que nesses casos o recurso será processado e julgado independentemente de ratificação.
Portanto, a súmula do STJ está superada com o advento do NCPC.
Regularidade Formal
Os embargos de declaração devem ser opostos, em regra, por petição escrita com pedido e causa de pedir.
Somente em juizado se pode cogitar a oposição oral. Vai ser dirigida ao próprio órgão prolator da
decisão.Essa oposição se dará no prazo de 5 dias, sendo que uma vez interpostos os embargos de
declaração, se o juiz ou o órgão constatar que em caso de eventual acolhimento dos embargos esses terão
efeitos modificativos (modificar o conteúdo da decisão embargada), ele terá que garantir o contraditório,
portanto o juiz deve intimar a parte adversária para que se manifeste em 5 dias. É o que prever o art. 1023,
§2º de forma inovadora.
Se os embargos de declaração forem interposto no Tribunal contra decisão colegiada, por exemplo, o
relator depois de garantir o contraditório, no prazo de 5 dias vão apresentar esses embargos em mesa de
julgamento, na própria sessão. Se nessa sessão os embargos não forem julgados, eles ficam
automaticamente incluídos em pauta para a próxima sessão. Se não for colegiada, o próprio juiz ou relator
irá julgar logo.
Procedimento. Multa
É possível que os embargos sejam considerados protelatórios e, nesses casos, o Tribunal ou o Juiz, por
decisão fundamentada que justifique o caráter protelatório dos embargos, poderá punir o embargante com
uma multa no valor de até 2% do valor atualizado da causa - art. 1.026 §2º. Se a parte insistir em embargar
de novo e esse segundo embargo for considerado manifestamente protelatório por decisão fundamentada,
a multa terá o seu valor elevado em até 10% do valor atualizado da causa. Nesse caso, o depósito imediato
do valor dessa multa é requisito de admissibilidade de qualquer outro recurso que você pretende interpor,
salvo se o embargante for Fazenda Pública ou beneficiário da gratuidade, já que poderão recolher o valor
da multa no final.
Se a parte já usou 2 embargos protelatórios, o terceiro embargo será inadmitido por falta de cabimento.
Então, se eles são inadmitidos e não produzem efeitos eles não vão interromper o prazo do recurso
seguinte. O Enunciado 361 do FPPC diz isso.
AULA – 08/10/15
RECURSO ORDINÁRIO
1. Notícia histórica
O Recurso ordinário está previsto na constituição. É um recurso muito antigo, previsto desde 1891. Na CF
de 88 é previsto como um recurso dirigido ao STF ou ao STJ, na forma do 102, II, e 105, II da CF. Exatamente
por possuir previsão constitucional, costumava a ser chamado de recurso ordinário constitucional. Mas o
código não chama assim. A terminologia mais adequada mesmo é chamar de recurso ordinário.
2. Previsão legal. Art. 994, 1027 e 1028
Está no art. 994 dentro do rol dos artigos em espécie, e está disciplinado quanto ao cabimento e
procedimento n os art. 1027 e 1028.
3. Terminologia
É chamado de ordinário porque tem características que o distinguem do recurso extraordinário. A primeira
delas é o fato de readmitir reexame de fato e prova, sendo a cognição do tribunal bastante ampla,
portanto. Além disso, esse recurso possui um efeito devolutivo em profundidade tão amplo quanto o da
apelação. O efeito devolutivo é tão profundo que abarca o art. 1.013, §3º, admitindo a supressão da
primeira instância para que o tribunal julgue a causa madura. Fala-se que o RO também não exige pré-
questionamento, o que é exigível nos recursos extraordinários. Esse recurso, em regra, não possui efeito
suspensivo (segue a regra geral do código). Diante de uma grande chance de êxito, ou situação de urgência,
se isso justificar a concessão do efeito suspensivo, é possível pedir a concessão desse efeito e a forma de
pedir isso é a mesma prevista para os recursos extraordinários, na forma do art. 1029, §5º.
4. RO no STF
O RO no STF é cabível contra decisão denegatória de mandado injunção, mandado de segurança ou habeas
data, que sejam de competência originária de tribunal superior. Essa decisão denegatória deve ser
necessariamente um acórdão definitivo, não pode ser uma decisão provisória, podendo ser ele de
admissibilidade ou de mérito. O cabimento desse recurso é secundum eventum littis, já que só é cabível
mediante decisão denegatória. Esse é um recurso privativo de um impetrante do remédio constitucional.
Se a decisão for concessiva, e portanto, prejudicial ao Estado, só cabe recurso extraordinário. Esse regime é
para beneficiar o cidadão, porque só ele terá acesso ao recurso ordinário.
E se o cidadão se passa e ao invés de usar Recurso Extraordinário usa ROC? A súmula 272 do STF estabelece
que isso é um erro grosseiro, e portanto, não se aplica a fungibilidade. Mas apesar da existência dessa
sumula, há precedentes relativizando a sua aplicação e aplicando a fungibilidade.
Se o acórdão tiver um capitulo denegatório e um capítulo concessivo, cabe ROC (para o cidadão) e RESP
(Estado). Nesse caso, não cabe recurso adesivo, porque deve ser da mesma natureza, da mesma espécie do
recurso independente.
Uma vez dado um acórdão denegatório do writ num tribunal superior, haverá a interposição do ROC no
prazo de 15 perante o presidente ou vice-presidente do tribunal de origem. O presidente ou vice
presidente intima a outra parte para as contrarrazões e independentemente de qualquer juízo de
admissibilidade ( que ele não terá poder para fazer), remete o ROC para o STF e lá será processado na
forma do regimento.
5. RO no STJ
5.1 Em MS
É cabível contra decisão denegatória do mandado de segurança que é de competência originária de TRF e
TJ. Aplica a esse recurso as mesmas regras do ROC no STF. A única diferença é o cabimento.
5.2 Em causas internacionais
O juiz federal de primeira instancia possui competência para julgar as causas internacionais – aquelas em
que litigam de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e de outro, um município ou pessoa
residente no Brasil. Todas as decisões dadas nessas causas desafiam recurso dirigido não ao TRF e sim
diretamente ao STJ. Se a decisão é interlocutória, caberá agravo de instrumento perante o STJ dentro das
hipóteses do art. 1015. E se a decisão é uma sentença, caberá o ROC que faz o papel da apelação. Ele
segue as mesmas regras de admissibilidade e procedimento da apelação. Nesse caso cabe ROC adesivo e o
ROC tem efeito suspensivo, tal como a apelação. O que diferencia da apelação é o fato de ser julgado por
um tribunal superior, e o fato de que nesse tribunal superior o quorum de julgamento será diferente e
qualificado, porque no tribunal federal, estadual, normalmente os recursos, inclusive as apelações, são
julgados por três julgadores (sendo necessário o voto de dois para alcançar o resultado). Já o ROC é julgado
numa turma com cinco julgadores, sendo necessário o voto de maioria absoluta para alcançar o resultado
(voto de três).
1. Noção geral
A ordem dos processos no tribunal está disciplinada nos art. 929 a 946 do CPC. Esses dispositivos
disciplinam o procedimento que será adotado no julgamento de medidas – recursos, incidentes e ações de
competência originária que sejam do tribunal. É um procedimento comum utilizado nas cortes de justiça.
2. Registro e distribuição
A medida apresentada ao tribunal está submetida a registro e distribuição, assim como qualquer medida
apresentada ao Judiciário. Na data da entrada dessa ação, ela automaticamente será registrada no
protocolo da secretaria. A importância disso é dar publicidade a pendência dessa causa, preservando
terceiros de boa-fé, e, portanto, evitando manobras fraudulentas e viabilizando a realização de estatísticas
relacionadas a atuação do Judiciário.
É possível que o protocolo seja descentralizado. Uma vez protocolada e registrada essa causa, caberá à
Secretaria ordená-la (formando autos) e providenciar a sua distribuição imediata.
Essa medida será distribuída para um órgão, e dentro desse órgão para um relator. À principio a
distribuição é livre, mas segue certas regras: precisa ser publica, se dar por um sorteio eletrônico,
respeitando a necessidade de alternância ( cada hora vai para um julgador diferente) para a garantia da
aleatoriedade da condução da causa, definindo isso de modo imparcial. É uma garantia do principio do juiz
natural, já que se evita que a parte escolha quem vai conduzir.
O nosso código prevê a distribuição por dependência, e mais especificamente prevê essa possibilidade nos
casos de conexão. O código só prevê essa distribuição por dependência nos casos de recurso- o primeiro
recurso que tenha sido distribuído para aquele relator o torna prevento para apreciar recursos posteriores
que sejam apresentados na mesma causa ou em processos conexos. É uma forma de garantir a segurança
jurídica, e a economia processual.
Para Paula, essa distribuição por conexão não deveria somente se aplicar aos recursos.
Independentemente de como a distribuição ocorra, o relator terá um prazo de 30 dias com os autos em
mãos. Nesse tempo, fará o relatório e o voto. Findo esses 30 dias, o relator devolverá os autos à secretaria
só com o relatório. O voto será apresentado na sessão de julgamento, podendo alterá-lo até lá.
Por meio do relatório, o relator expõe a causa aos demais julgadores.
Não necessariamente o processo vai seguir para o colegiado. Primeiro deve se observar quais os poderes
do relator, se é o caso de ter um julgamento monocrático. Esses poderes do relator de direção, ordenação
e condução do processo e julgamento monocrático estão disciplinados nos arts. 932 e 933.
3. Poderes do relator. Julgamento monocrático. Art. 932 e 933.
O legislador prevê um poder do relator de direção, ordenação e condução do processo. Inclusive, com
relação a produção de provas e eventual homologação de autocomposição. Para Paula, aplica-se todos os
poderes previstos para os juízes em geral, previstos no art. 139. Por exemplo, o poder geral de efetivação.
O relator pode adotar todas as medidas de execução necessária para dar cumprimento a uma ordem sua. O
relator também pode repreender condutas desleais, zelar pela igualdade, pela duração razoável do
processo, etc.
Além disso, o relator também é competente para apreciar pedido de tutela provisória. Aqui está abrangido
não só a tutela antecipada do recurso, mas também a tutela antecipada de uma ação de competência
originária do tribunal, como uma ação rescisória, por exemplo.
Nos incisos III, IV, V do art. 932, o legislador trata do poder do relator de dar uma decisão monocrática para
recursos utilizados no contexto daquele tribunal. Inicialmente, cabe lembrar que toda e qualquer decisão
monocrática desafia agravo interno no prazo de 15 dias.
O relator pode, monocraticamente não conhecer do recurso inadmissível, prejudicado, ou que não
impugne especificamente os fundamentos da decisão recorrida. Para Paula, bastava dizer que o relator
poderia monocraticamente não conhecer do recurso inadmissível, porque no recurso prejudicado não há
mais interesse de agir, e no recurso que não impugna especificamente os termos da decisão não há
regularidade formal.
Art. 923, parágrafo único - Expressamente trata da realização desse juízo de admissibilidade pelo relator. O
relator tem o poder de fazer o juízo de admissibilidade do recurso. Mas se ausência de requisito de
admissibilidade do recurso conduzir a um vicio sanável, não pode inadmitir automaticamente. Se o vicio for
sanável, deve o relator intimar o recorrente para que no prazo de 5 dias venha a sanar o vicio, ou
complementar a documentação, se for um caso de documentação indispensável.
É um direito subjetivo do recorrente essa possibilidade de corrigir o vicio. Portanto, é um dever de
cooperação e prevenção do relator, o que decorre da boa-fé objetiva. Além disso, trata-se de uma
manifestação do principio da instrumentalidade das formas. Essa regra deve ser lida com cautela, porque o
relator deve verificar se o recorrente não está de má-fé. Essa regra se aplica a todos os vícios formais que
possam existir no recurso e isso é objeto do enunciado 197 do FPPC. E com essa regra, é possível considerar
superada a sumula 115 do STJ que previa que o recurso sem procuração é inexistente. Atualmente, o
recurso sem procuração é um recurso que possui vicio sanável. O enunciado 83 do FPPC também aponta
para a superação dessa sumula 115.
O relator também tem o poder de decidir monocraticamente o recurso para negar provimento quando
contratriar os precedentes obrigatórios previstos nesse dispositivo: súmula do STF/STJ, súmula do próprio
tribunal; decisão dada em causas repetitivas, decisão dada nos incidentes de assunção de competência.
Para Paula, deve haver uma interpretação extensiva, para que o relator possa negar provimento por
contrariar a outros precedentes obrigatórios, como por exemplo, sumula vinculante.
O relator também pode dar provimento ao recurso quando a decisão recorrida contrariar esses mesmos
precedentes, sendo que para tanto, é preciso intimar a parte adversária para as contrarrazões.
O relator tem o poder de decidir o incidente de desconsideração de pessoa jurídica que tenha sido
proposto originariamente do Tribunal. Ele é quem determina a intimação do MP nos casos em que é
necessário a sua oitiva, e exercer outras atribuições eventualmente previstas no regimento interno.
Esse rol de poderes não é taxativo. Fora desse rol, há um poder que está no art. 933. De acordo com esse
dispositivo, o relator deve considerar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida, bem como
questões apreciáveis de ofício na hora de julgar o recurso. É claro que esses dados que são
presumidamente dados novos no processo, é necessário que o relator intime as partes para que sobre eles
se manifestem no prazo de 5 dias.
O fato superveniente só pode ser aquele fato que ocorreu depois da prolação da decisão recorrida. Isso não
é totalmente novo, porque o art. 462 do CPC de 73 previa isso para os juízes em geral. Em que pese o NCPC
mantenha o texto do art. 462 do art. 933, especializa essa regra no que se refere a sua aplicabilidade nos
tribunais.
A aplicabilidade dessa regra no âmbito das instâncias ordinárias é inquestionável. O relator deve conhecer
fato superveniente. Nas instâncias extraordinárias, pode haver quem questione, sob o argumento de que
em RESP não se reexamina fato e prova, a exigência do pré- questionamento, etc. Para Paula, uma vez pré-
questionada a matéria, a melhor visão é que se abrem as instâncias extraordinárias com a devolutividade
ampla, podendo sim o STJ e STF conhecer desse fato superveniente.
Quando o próprio relator que percebe que há um fato superveniente ou questão a ser pronunciada de
oficio, o relator intima as partes para que elas venham a se manifestar no prazo de 5 dias. No caso de o
fato superveniente chegar no momento da sessão de julgamento, essa sessão deverá ser suspensa, as
partes terão a possibilidade de se manifestar, e depois o processo retorna à pauta.
Se um revisor, ou outro julgador pede vista dos autos, e constata esse fato superveniente ou questão a ser
pronunciada de ofício, deverá remeter os autos ao relator para que este adote as medidas cabíveis.
4. Julgamento colegiado
Se não é caso de julgamento monocrático, partimos para o julgamento colegiado.
4.1 Devolução dos autos com relatório
De quando o processo é distribuído para o relator, ele tem um prazo de 30 dias para devolver os autos à
Secretaria com o relatório.
4.2 Presidente. Data para julgamento.
Os autos serão encaminhados para o presidente do colegiado para que ele designe uma data de
julgamento. A pauta respectiva será publica no órgão oficial – diário expresso, eletrônico, etc.
4.3 Publicação da pauta. S. 117 do STJ
O legislador exige que haja um intervalo mínimo de 5 dias entre a publicação da pauta e ocorrência da
sessão. Se não for respeitado esse intervalo mínimo, isso é causa de nulidade do julgamento – S. 117 do
STJ. Se a pauta não for publicada, a ausência de publicação é um vicio ainda mais grave. Sendo assim,
mesmo que o processo não exija sustentação oral, será causa de nulidade, salvo a hipótese do art. 1024,
§1º, que não exige a publicação da pauta (embargos de declaração). Isso se extrai do enunciado 84 do
FPPC.
E se a ausência de publicação ou a irregularidade for constatada antes do julgamento? Basta corrigir o vicio.
O enunciado 188 do FPPC diz que basta o relator corrigir o vicio, determinado a publicação de uma nova
pauta. Claro que aqui deve haver o respeito ao prazo de 5 dias entre a publicação da pauta e a sessão.
4.4 Seção eletrônica
O código, na forma do art. 945 admite uma seção eletrônica. Isso só é possível quando se tratar de caso
que não admita sustentação oral, se as partes concordarem com esse meio de julgamento, sendo que, uma
vez iniciada a sessão de julgamento eletrônica, se um dos julgadores diverge, o julgamento eletrônico fica
suspenso e a causa vai ser apreciada por uma sessão presencial. Não são todos os casos que é possível essa
seção eletrônica, então.
4.5 Sessão presidencial. Preferências
O legislador, no art. 936, disciplina a ordem de preferências que deve ser respeitada nas sessão
presidencial. Primeiro o artigo ressalva as preferências legais e regimentais. Em primeiro lugar da fila
sempre estarão essas preferências. Uma das preferências, por exemplo, é dos writs constitucionais. O
segundo lugar na ordem de preferência são os processos em que há pedido de sustentação oral, respeitada
a ordem que foram feitos os requerimentos. Em terceiro lugar, aqueles processos em que simplesmente
houve pedido de preferência do advogado, antes do inicio da sessão de julgamento, fora das hipóteses de
preferência legal. Isso deve ser pedido antes do inicio da sessão de julgamento. Em quarto lugar, nessas
preferências, estão os processos cujo julgamento começou na sessão anterior e ainda não acabou. Esse rol
não é taxativo.
Se há agravo e apelação pendentes no mesmo processo, o agravo deve ser julgado antes da apelação. Se
ambos estão em pauta na mesma sessão, primeiro julga o agravo, depois a sessão;
a) Relatório
Inicialmente, o relator faz uma exposição da causa, vai ler o relatório. Uma vez lido o relatório, o
presidente do órgão vai viabilizar a sustentação oral.
b) Sustentação oral. Formal. Cabimento.
O presidente do tribunal dá a palavra sucessivamente a recorrente, recorrido e MP, se for o caso, pelo
prazo improrrogável de 15 minutos. Nesse momento, o recorrente destaca os pontos que sabidamente
irão tocar o órgão, os pontos que tornam uma causa mais simpática. Ex: Pessoa humilde, com deficiência
física, etc.
A sustentação oral é necessariamente presente? Em regra, sim. No CPC de 2015 há uma exceção a essa
regra. Se o advogado estiver em outra cidade, e um dia antes da sessão requerer isso, pode ter assegurado
o direito de fazer a sustentação oral por videoconferência ou tecnologia equivalente.
Cabe sustentação oral em todos os processos? A sustentação oral não é cabível em todos os julgamentos.
No art. 937 o legislador estabeleceu especificamente quais as hipóteses em que cabe sustentação oral,
sendo elas: apelação, recurso ordinário e recursos extraordinários, no julgamento de embargos de
divergência. A despeito do silencio do legislador, para Paula, também seria cabível para o agravo de
instrumento utilizado contra uma interlocutória de mérito, isto é, que faça vezes de sentença – que resolva
ou não antecipadamente parte do mérito. Assim como, o agravo interno dado contra a decisão
monocrática do agravo de instrumento.Também cabe para ação rescisória, mandado de segurança
reclamação constitucional de competência originária do tribunal, e por consequência, também caberá no
agravo interno contra decisão monocrática extintiva dessas ações. E o legislador também prevê
sustentação oral para o IRDR – mas nesse caso, deverá haver o respeito as formalidades do art. 984.
c) Votação. Preliminares
O relator dá seu voto e os demais membros do colegiado votam também. Primeiro os julgadores julgam e
votam em torno da apreciação de questões preliminares (do recurso ou da própria causa) e só quando são
rejeitadas as preliminares, ou quando a sua análise não é incompatível com o exame do mérito, é que
passam a examinar o mérito.
Se na votação das preliminares se constata que algum vicio é sanável, o relator deve tomar as rédeas para
providenciar a resolução do problema – determinando renovação ou realização do ato, que deverá ocorrer
no próprio tribunal ou no órgão de primeira instancia, devendo as partes serem intimadas para tanto. Isso é
um direito subjetivo das partes. Uma outra questão que o legislador considera é a possibilidade de no meio
da sessão verificar a necessidade de produção da prova. Nesse caso, o relator, ou diante da sua omissão, o
próprio órgão julgador, podem converter o feito em diligência probatória para que a prova seja produzida
no próprio tribunal ou em primeiro grau. Concluindo a instrução, retoma-se ao julgamento.
O código também prevê o cabimento dessa técnica para julgamento não unanime de agravo de
instrumento que julga antecipadamente parte do mérito. Ex: Improcedência liminar parcial; improcedência
liminar de reconvenção, etc. Enfim, essa técnica se aplica a todas as decisões interlocutórias parciais de
mérito. Também se aplica essa técnica, por analogia, ao julgamento não unanime de agravo interno
originário desses recursos.
Essa técnica de aplicação de ampliação do debate não é cabível para o julgamento não unânime de IRDR,
assunção de competência, remessa necessária, e dos processos que já foram julgados pelo plenário (onde o
debate já foi o mais amplo possível). No IRDR e na assunção de competência, o não cabimento dessa
técnica decorre do fato de que nesses incidentes não se julga um caso concreto, apenas se estabelece uma
tese. Essa ideia do julgamento não unânime ser revisto é só no contexto de um caso concreto, para permitir
que a parte, envolvida no caso concreto, possa fazer prevalecer o voto vencido.
QUESTÃO
A empresa A propôs ação de cobrança de valores devidos em razão da prestação de serviços de consultoria,
para o cadastro e liberação de financiamento junto ao banco Nordeste, em face das empresas B e C,
incluindo no polo passivo a empresa D, sob o argumento de que seria integrante do mesmo grupo das
demais e as controlaria, em que pese não fosse parte do contrato.
As rés arguiram em sua defesa o decurso do prazo prescricional para a cobrança desses valores, bem como
a inexistência da obrigação de pagá-los, tendo em vista que o financiamento não foi obtido. A empresa D
arguiu, ainda, sua ilegitimidade passiva, pois não figuraria no contrato e nem controlaria as demais
empresas.
Tramitado o feito, o juiz julgou a ação parcialmente procedente, por sentença que reconheceu serem
devidos os valores cobrados, pois a consultoria foi prestada, ainda que o financiamento não tenha sido
obtido, excluindo a empresa D por ilegitimidade passiva.
Diante do exposto, responda:
a) As empresas B e C podem opor embargos de declaração por não apreciação do argumento da
prescrição?
b) A empresa A pode embargar de declaração sob o argumento de que não houve condenação no ônus
da sucumbência?
AULA- 29/10/15
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
1. Conceito
São também chamados de recursos extremos. Em sentido lato, são um gênero que tem como espécies o
recurso especial para o STJ (onde se discute questão de direito federal) e o extraordinário em sentido
estrito para o STF (onde se discute questão de direito constitucional). Esses são recursos constitucionais,
criados pela CF, com regramento mínimo lá previsto, nos art. 102 e 105, III. O legislador no NCPC nos arts.
1029 a 1035 desenvolveu o seu regramento.
2. Características comuns
Existem características que definem um regime comum para o recurso especial e extraordinário.
Ambos os recursos possuem fundamentação vinculada, ou seja, a causa de pedir é típica, só sendo possível
o seu manejo com fundamento em uma das hipóteses expressamente previstas na CF, sob pena de
descabimento e inadmissibilidade do recurso. Por exemplo, não posso interpor um recurso especial para
discutir uma violação de lei municipal.
A fundamentação, mais do que vinculada, está vinculada ao que é disposto na CF. Só uma emenda
constitucional pode alterar as hipóteses de cabimento e os fundamentos de um recurso extremo.
2.2 Direito estrito. Sem reexame de fatos e provas. S. 07 STJ e 279 do STF
S. 270 do STF- Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.
São definidos como recursos de direito estrito. No bojo deles, só é possível discutir questões de direito,
relativas ao enquadramento fático-normativo e relativo ao direito que ali nasce. A questão de direito
abrange não só a interpretação a lei, mas uma averiguação do enquadramento do fato à norma. Deve se
verificar a subsunção do fato a norma. No recurso especial, a questão de direito é federal, e no recurso
extraordinário a questão de direito é constitucional.
No bojo de um recurso extremo não se admite reeexame de fato ou de prova. Nesse tipo de recurso,
entende-se que o tribunal superior não pode reavaliar se os fatos ocorreram ou não. Inclusive, também não
é possível fazer uma reavaliação/revaloração das provas para se concluir sobre a ocorrência de um fato. O
tribunal superior não pode voltar, por exemplo, para reavaliar se um contrato existiu ou não, ou para dizer
que um testemunho não deve prevalecer em relação a um documento (que conduz a uma conclusão
diversa), etc. Apesar disso ser uma regra geral, é possível encontrar uma mitigação nesse sentido, de que
uma vez admitido o recurso e aberta as instâncias extraordinárias o tribunal poderia acabar reexaminando
uma coisa nesse viés, como uma questão de ordem pública, por exemplo.
A eficácia preclusiva da coisa julgada faz precluir tudo que a parte poderia ter arguido e não arguiu. Em
razão disso, quando chega na fase de execução, o executado só pode se defender trazendo em sua defesa
um fato superveniente (ocorrido depois do trânsito em julgado) – como um pagamento, uma transação,
etc. Tem gente que diz que o “superveniente” não diz respeito somente após ao transito em julgado, e sim
a tudo aquilo que ocorreu depois que a parte entrou nas instâncias extraordinárias , quando o tribunal
superior se recusa a apreciar o fato superveniente. Então, a parte não pôde arguir no processo originário
porque já estava nas instâncias extraordinárias. Existe até um enunciado do FPPC nesse sentido, dizendo
que se a parte tentou arguir aquela questão depois do momento da apelação, inclusive no âmbito das
instâncias extraordinárias, e o tribunal se negou a apreciar, seria possível que o tribunal acabe apreciando a
questão. – ESSA PARTE TA MEIO CONFUSA MESMO, ELA NÃO FOI CLARA.
Em que pese não se admita genericamente o reexame de fato e de prova, nada impede que se discuta em
se de recurso extremo uma questão de direito probatória. É uma questão ligada ao direito probatório,
como por exemplo, uma violação de uma regra relativa a admissibilidade de prova, ou da sua valoração
legal. É o caso, por exemplo de uma decisão que nega a um documento público a força de provar os fatos
que ocorreram na presença do tabelião, violando o art. 405 do NCPC. Trata-se uma violação a uma regra
de valoração da prova. Isso também pode ocorrer quando há violação a uma regra do procedimento
probatório, quando, por exemplo, uma lei permite que as partes escolham consensualmente um perito e o
juiz nega isso a elas. Nesse caso, haveria uma violação a uma questão de direito. É possível que haja uma
violação também a regra de ônus probatório, quando o juiz, por exemplo, faz uma redistribuição dinâmica
do ônus da prova quando não é cabível por lei. A discussão da licitude de uma prova também pode ocorrer
no âmbito do recurso extremo. Se um juiz aceita, por exemplo, uma confissão sob tortura, há uma violação
legal, passível de discussão no recurso extremo. Isso já dá uma abertura muito grande para que o tribunal
se debruce sobre as provas.
É possível discutir no recurso extremo se foi adequadamente preenchido pelo juízo de piso um conceito
indeterminado ou uma cláusula geral? Sim. O preenchimento de um texto normativo aberto nada mais do
que é um enquadramento do fato a norma oriunda de texto aberto. É uma subsunção mais trabalhosa. O
preenchimento dos textos normativos abertos é uma questão de direito, é enquadramento fático-
normativo, em que pese se dê com a técnica da casuística. Nossos tribunais correntemente fazem o
preenchimento desses textos normativos abertos. Por exemplo, a prova escrita do direito de crédito é um
pressuposto indispensável para o cabimento da ação monitória. O procedimento especial monitório é um
procedimento mais rápido, especificamente construído para a cobrança de crédito espelhado em um
documento que não tem força executiva, numa prova escrita. “Prova escrita” é um conceito
indeterminado. O STJ várias vezes enfrenta essa questão – o que é uma prova escrita para o cabimento da
ação monitória. É uma questão de direito frequentemente enfrentada. Daí já decorreu o entendimento do
STJ, inclusive sumulado, de que o cheque prescrito é prova escrita para fins de cabimento da monitória. Por
outro lado, se concluiu que o contrato de abertura de conta corrente não seria prova escrita para fins de
cabimento da monitória.
A cláusula geral executiva, o poder de geral efetivação do magistrado para dar cumprimento às obrigações
(pecuniárias ou não) nada mais é do que um preenchimento de cláusulas gerais, desse poder geral que é
dado ao magistrado. Se por exemplo, um tribunal superior diz que a prisão civil não é uma possibilidade a
ser utilizada para a entrega de coisa, inclusive de depositário infiel, preenche essa clausula geral. Porque
isso é uma questão de direito, é partir dos fatos para verificar se eles se enquadram ou não nas normas.
2.4 Interpretação de cláusula contratual. S. 05 STJ, S. 454 STF. S. 293 STJ
É possível, em sede de recurso extremo, definir qual a correta interpretação de uma cláusula contratual? A
interpretação de uma cláusula contratual, de um negócio jurídico é questão de fato ou de direito?
É uma questão de fato, porque interpretar uma cláusula contratual, uma norma negocial, é algo que
pressupõe a interpretação da vontade dos contraentes. A violação a uma norma negocial não é uma
hipótese de cabimento do recurso extremo, só a violação a lei. Definir se o contrato vai ser interpretado de
um jeito ou de outro, se foi desrespeitado ou não é considerado como uma questão de fato, não é uma
questão de direito para fins de cabimento do recurso extremo.
Há precedente desses tribunais dizendo que não cabe recurso extraordinário para discutir a correta
interpretação de edital do concurso, porque uma norma de concurso não deixa de ser uma norma negocial,
estabelecida pela vontade do poder público. O cabimento de recurso extremo é só quando há a violação a
uma norma jurídica constante em lei.
Uma coisa é não admitir um recurso extremo para discutir uma interpretação a ser dada a um contrato,
outra coisa é admitir um recurso extremo para discutir se com base naquela interpretação já firmada no
contratuais, qual é a qualificação jurídica daquele negócio. Por exemplo, é possível discutir a partir da
interpretação que já foi dada às cláusulas contratos qual o enquadramento jurídico do contrato, se seria de
locação ou comodato. O enquadramento jurídico do contrato já é uma questão de direito, e isso é objeto
do enunciado 293 da sumula do STJ.
3. Admissibilidade
O prazo é de 15 dias, e esses recursos exigem preparo completo- taxa judiciária e poste de remessa e
retorno (porque os autos saem do tribunal de origem para o tribunal superior). Aplica-se o regramento do
preparo.
3.2 Pré- questionamento. Art. 1025 CPC. S. 320, STJ e 941 CPC
Para alguns autores, é um requisito autônomo e específico dos recursos extremos Para outros, o pré-
questionamento nada mais seria do que uma exigência no âmbito do cabimento. Ou seja, para que o
recurso extremo seja cabível é necessário o pré-questionamento. Essa exigência não é explícita, clara na lei.
Em verdade, essa exigência foi extraída da locução “causas decididas” prevista no art. 102 e 105 da CF.
Esses dispositivos constitucionais exigem, para o cabimento do recurso extremo, que a causa tenha sido
decidida. É a exigência de que a questão de direito federal ou constitucional tenha sido abordada no
tribunal a quo, no pronunciamento do acórdão recorrido.
O termo pré- questionamento por si só não é muito claro. Essa terminologia incita muitas discussões.
Discutia-se de quem seria a autoria desse ato de pré-questionar. Quem pré-questiona? O pré-
questionamento é um ato da parte, um ato do tribunal, um ato da parte seguido de um ato do tribunal? A
palavra pré-questionar dá a ideia que seria algo de iniciativa da parte. De fato, há quem entenda que o pré-
questionamento é um ato da parte, bastando que a parte, no tribunal de origem, suscite aquela questão de
direito. Bastaria, portanto, que a própria parte suscitasse a questão de direito para que ela se tornasse pré-
questionada. Esse entendimento pode ser extraído da própria jurisprudência do STF e do art. 1025 do
NPCP. Se a parte, em sede de apelação, pede que o tribunal aborde a violação a um lei X, uma lei Y e a um
dispositivo constitucional, e o tribunal fica omisso, ainda assim a matéria estaria pré-questionada, porque
basta que a parte suscite a questão, independentemente de o tribunal se debruçar sobre ela. Essa seria
uma primeira corrente. Há quem entenda o oposto, que o pré-questionamento é um ato do tribunal. No
caso, há uma exigência de que o tribunal se debruce sobre a questão de direito no bojo do acórdão
recorrido, tratando de violação a lei federal ou norma constitucional. Alguns ministros do STJ dizem que
não haveria como se falar em violação a uma lei federal ou a uma norma constitucional se acórdão
recorrido sequer se manifestou sobre essa lei, sobre essa norma constitucional. É necessário que o acórdão
tenha se manifestado sobre essa lei, sobre essa norma constitucional para que ela tenha sido violada.
Partindo dessa premissa, se uma parte, nos embargos de declaração pede para que o tribunal se manifeste
sobre uma violação a lei federal ou norma constitucional e o tribunal é omisso, não teria havido pré-
questionamento. Porque, para essa visão, o pré-questionamento é um ato do tribunal. Essa é uma visão
próxima do que entende o STJ. S. 211. Por fim, há quem adote uma visão de que o pré-questionamento é
ato da parte e do tribunal. Portanto, a parte deveria suscitar a questão, e o tribunal deveria se manifestar
sobre ela.
Independentemente do modo como se configure a exigência de pré-questionamento, ele é colocado como
um requisito de admissibilidade dos recursos extremos, e muitas vezes, a falta do pré-questionamento é
um dos argumentos para se inadmitir um recurso extremo. Apesar disso, já se encontra, atualmente,
precedentes do STF mitigando a exigência do pré-questionamento, dispensando o pré-questionamento no
caso em que o recurso extraordinário tem por objeto uma questão constitucional que já foi objeto de
decisão pelo plenário do STF. Então, mesmo não tendo sido pré-questionada a matéria, aceita-se que o
recurso extremo suba para que o STF faça valer naquele caso, o entendimento dele, já adotado pelo seu
plenário, preservando, portanto, a sua posição de guardião da constituição. Então, se o objeto do recurso
extremo é uma questão constitucional que o supremo já mitigou, já abordou e já decidiu no seu plenário, é
esse entendimento que deve prevalecer. Independentemente do pré-questionamento, o recurso sobe para
o STF, para que ele faça valer o seu entendimento. É uma aplicação do principio da primazia da
constituição, do papel do Supremo de guardião da constituição. O que importa é fazer prevalecer o
entendimento do STF.
O art. 1029,§3º do NCPC, para Paula, contribui para essa mitigação do pé-questionamento, na medida em
que prevê expressamente que o STF ou STJ pode desconsiderar um vicio formal ou determinar sua correção
se não for grave em nome do julgamento do mérito do recurso. Nesse caso específico, em nome da
prevalência do entendimento que já há no STF sobre aquela questão constitucional que é mérito do
recurso. O dispositivo ratifica isso e é uma manifestação do principio da primazia do exame do mérito
recursal. Esse dispositivo só veda que o supremo desconsidere um vicio formal ou determine a sua
correção quando o recurso é intempestivo, porque a intempestividade não é um vicio sanável. É possível
desconsiderar um vicio formal como o pré-questionamento, por exemplo, desde que o recurso seja
tempestivo. Se for intempestivo, essa não é uma possibilidade, porque aí a decisão recorrida já teria até
transitado em julgado.
Existem algumas modalidades de pré-questionamento que são consideradas na doutrina e na
jurisprudência. Primeiramente, fala-se no pré-questionamento ficto, que seria aquele que se aperfeiçoa
com a simples suscitação da questão pela parte, independentemente do tribunal se debruçar sobre ela.
Portanto, parte-se do pressuposto de que o pré-questionamento é um ato da parte. Esse pré-
questionamento ficto sempre foi admitido pelo STF, em que pese não fosse admitido pelo STJ. Isso sempre
gerou uma dificuldade muito grande no jurisdicionado, porque a situação comum é a seguinte: a parte
interpõe, por exemplo, uma apelação, alegando violação a uma lei federal ou a uma norma constitucional,
o tribunal julga a apelação sem abordar essas questões, a parte interpõe os embargos com intuito pré-
questionatório, em face da omissão quanto a questão federal ou constitucional e o tribunal de origem dá
uma decisão padrão, de que não é obrigado a apreciar todos os argumentos trazidos pela parte, negando
provimento aos embargos, quando não inadmite (dizendo que não são cabíveis). Nessa situação, para o
STF, houve pré-questionamento ficto. Mas para o STJ não, já que não basta que a parte suscite, sendo
necessário o pré-questionamento efetivo, que o tribunal tenha se debruçado sob a questão. E aí, a parte
fica com a via do recurso especial travada? Quase. Sem o pré-questionamento efetivo (exigido pelo STJ) a
parte ficaria, em principio, impedida de usar o recurso especial. Mas a doutrina criou uma estratégia para
que a parte pudesse se valer do recurso especial: faz o recurso especial com uma cumulação imprópria de
pedidos, pedindo, em caráter principal, que o STJ reconheça que houve pré-questionamento ficto e diante
disso, examine o mérito do recurso (e, portanto, a questão de direito federal) , e em caráter subsidiário,
caso o STJ entenda que não houve pré-questionamento, que reconheça que a omissão do tribunal de
origem viola diversos dispositivos do CPC – art. 535 (que prevê o cabimento dos embargos por omissão),
art. 465 ( que trata do dever de fundamentação das decisões) o art. 162, etc. Diante disso, o STJ então
deveria invalidar o acórdão do tribunal de origem, para prolatar outro em seu lugar, se manifestando sobre
a questão de direito que não foi abordada, suprindo a omissão originária. Em caráter principal se pede a
reforma do acórdão recorrido, partindo do pressuposto de que houve pré-questionamento, mas
subsidiariamente, caso se entenda que não houve pré-questionamento, se pede a invalidação do acórdão
recorrido, porque a omissão teria implicado em violação a vários dispositivos de lei federal. É bem
complicado, porque o que vai acontecer, provavelmente, é o STJ entender que de fato houve violação aos
dispositivos de lei federal que justifica a invalidação da decisão e os autos terem que voltar ao tribunal de
origem para que ele aprecie a questão sobre a qual foi omisso e de fato pré-questione a matéria. O
legislador, no CPC de 2015, atento a isso e tentando acabar com essa problemática, expressamente
positivou o pré-questionamento ficto no art. 1025. O que se espera do pré-questionamento é que o
tribunal a quo avalie se aquela lei federal ou norma constitucional se aplica ou não ao caso concreto e se
está sendo de fato violada.
Art. 1025 do NCPC – Ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados há o pré-
questionamento. Às vezes os embargos são inadmitidos sob o argumento de que pedir pré-
questionamento não é arguir omissão, e as vezes são rejeitados sob o argumento de que cabe embargos,
porque a parte estaria arguindo uma omissão, mas que não houve uma omissão de fato, porque não há
uma obrigação de apreciar todos os argumentos trazidos pela parte. O tribunal superior deve entender que
de fato havia algo a ser pré-questionado e não foi.
Outro problema comum era a súmula 320 do STJ, onde se entendia que se a questão de direito só foi
abordada no voto vencido não poderia ser considerada pré-questionada. A parte até teria conseguido uma
manifestação sobre aquela questão, mas no voto vencido. Ficava até difícil dizer que houve omissão, já que
a questão foi abordada. O STJ tinha o entendimento de que se a questão de direito foi abordada somente
no voto-vencido ela não seria considerada pré-questionada. O CPC de 2015, no art. 941, §3º, visando
resolver esse problema, expressamente prevê que o voto vencido será necessariamente declarado (deve
constar o teor do voto vencido) e será considerado parte integrante do acórdão para todos os fins legais,
inclusive de pré-questionamento.
Além disso, também se fala em pré-questionamento explicito e implícito. O pré-questionamento explicito é
aquele em que se menciona expressamente o artigo de lei que se reputa violado. O pré-questionamento
implícito é aquele que não menciona o artigo violado, abordando genericamente o conteúdo da norma. De
um modo geral, o STJ admite pré-questionamento implícito. Mas há precedentes do STF exigindo o pré-
questionamento explicito. Na dúvida, é melhor fazer um pré-questionamento explícito.
S. 207 do STJ - É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra acórdão
proferido no tribunal de origem.
É necessário que tenham sido exauridas todas as medidas recursais possíveis antes do uso do recurso
extremo. Por exemplo, se foi dada uma sentença, e a parte interpôs uma apelação que foi inadmitida por
decisão monocrática do relator, primeiro a parte deve se valer do agravo interno, para só então, dessa
decisão dada pelo colegiado caber o recurso extremo. Há um precedente do STJ de uma situação muito
especifica: foi dada sentença, a parte interpôs apelação que foi julgada por decisão monocrática, e contra
essa decisão a parte usou embargos de declaração. Ao invés de o relator julgar os embargos sozinho,
submeteu ao julgamento do colegiado. Desse acórdão dado pelo colegiado a parte utilizou o recurso
extremo, que foi inadmitido, sob o argumento de que não foram exauridas as instâncias ordinárias, porque
a parte deveria ter interposto o agravo interno. Na verdade, para ter o exaurimento seria necessário que os
embargos de declaração fossem recebidos como agravo interno, em face do principio da fungibilidade.
4. Juízo de admissibilidade
São dispositivos novos, sem precedentes no código anterior. A questão é tentar administrar as situações
em que é interposto um recurso especial perante o STJ, em que ele entende que não há uma questão
federal, e sim uma questão constitucional, ou quando é interposto um recurso extraordinário perante o
STF, em que ele entende que não há uma violação constitucional, há uma questão federal.
Tradicionalmente, quando isso ocorre o recurso é inadmitido por não cabimento. Quem se prejudica é o
jurisdicionado. Por isso, o legislador consagrou expressamente a previsão de fungibilidade entre recursos
extraordinários. O dispositivo prevê que se for interposto um RESP perante o STJ e o relator entende que
ele versa sobre questão constitucional, dará ao recorrente um prazo de 15 dias para se manifestar sobre a
questão constitucional e justificar a existência de repercussão geral (que é requisito do recurso
extraordinário), para com isso converter o recurso especial em extraordinário e remeter ao Supremo. Se
chegar no STF e lá ele entender que se trata de uma questão federal, ele devolverá os autos ao STJ. Se
interpuser um RESP perante o STF, e o tribunal entender que se trata de questão federal, que a ofensa a CF
se dá por via reflexa, poderá converter o recurso extraordinário em recurso especial, oportunizando que a
parte venha a adequar a sua petição, e na sequencia deverá remeter os autos ao STJ, que terá que julgar a
demanda.
Esse dispositivo, ao prever essa fungibilidade do REX que é recebido como RESP, supera o enunciado da
sumula 636 do STF.
S. 636 do STF- Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade,
quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida.
6. Efeitos
6.1 Devolutivo. S. 456 do STF. Art. 1034 do CPC.
S. 456 do STF- O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, CONHECENDO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO, JULGARÁ A
CAUSA, APLICANDO O DIREITO À ESPÉCIE.
Sempre houve uma discussão em torno do efeito devolutivo dos recursos extremos. A súmula 456 do STF
prevê que uma vez admitido o recurso extremo, o tribunal irá julgar a causa aplicando o direito em espécie.
Essa regra foi reproduzida no regimento interno do STF e STJ, e desde sempre a doutrina se perguntou o
que seria isso. Seria o julgamento da causa somente com base nas questões pré-questionadas? Ou o
tribunal também poderia julgar a causa com base em questões de direito que ainda não foram pré-
questionadas? A partir daí, surge uma grande discussão. Existem, hoje, três grandes posicionamentos
acerca disso. Há quem diga que o tribunal superior só pode julgar um recurso extremo com base nas
questões de direito que foram pré-questionadas. Por outro lado, há quem diga que algo além disso (do que
foi pré-questionado) é devolvido ao tribunal superior antes de julgar a causa. A devolutividade seria um
pouco mais profunda do que isso, porque o tribunal poderia julgar com base nas questões pré-
questionadas, mas também com base em questões de ordem pública. A melhor visão, que parece ter sido
positivada no CPC de 2015, é a de que uma vez admitido o recurso extremo o tribunal superior poderá
julgá-lo com base em qualquer questão de direito suscitada e discutida, ainda que não tenha sido decidida.
A devolutividade do recurso extremo seria tão profunda quanto a da apelação. Uma vez admitido o
recurso, com o pré-questionamento de determinadas questões, o tribunal não fica preso às questões que
foram pré-questionadas, podendo examinar toda e qualquer questão pré-questionada ou não, de ordem
publica ou não, que tenha sido suscitada e discutida, ainda que não tenha sido decidida, pré-questionada.
Essa parece ter sido a opção do legislador no art. 1034 do CPC de 2015. Se o recurso foi admitido num
fundamento, devolve-se ao tribunal todos os outros fundamentos. Ou seja, se o recurso foi admitido com
base no pré-questionamento de uma questão, será devolvido ao tribunal todas as outras questões, ainda
que não tenham sido pré-questionadas. Então, o dispositivo parece consagrar essa terceira visão, que
revela uma devolutividade profunda dos recursos extremos. Na parte final desse dispositivo, o legislador
deixa claro que esse efeito devolutivo em profundidade é delimitado pela extensão da devolutivdade. Ou
seja, o tribunal poderá se debruçar sobre todas essas questões relativas ao capitulo que foi impugnado, não
podendo reanalisar capítulos que não tenham sido devolvidos à sua apreciação. Isso é muito importante
para garantir uma interpretação adequada da sumula 528 do STF. A súmula 292 e 528 do STF interpretadas
conjuntamente levam à conclusão de que no recurso extremo o efeito devolutivo em extensão e
profundidade é igual ao dos outros recursos. Em extensão só se devolve o capitulo impugnado e em
profundidade, o tribunal pode examinar questões suscitadas e discutidas, ainda que não tenham sido
efetivamente decididas.
S. 292 do STF - Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos indicados no art. 101,
n. III, da Constituição, a admissão apenas por um dêles não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos
outros.
S. 528 do STF- SE A DECISÃO CONTIVER PARTES AUTÔNOMAS, A ADMISSÃO PARCIAL, PELO PRESIDENTE DO
TRIBUNAL "A QUO", DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE, SOBRE QUALQUER DELAS SE MANIFESTAR, NÃO
LIMITARÁ A APRECIAÇÃO DE TODAS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, INDEPENDENTEMENTE DE
INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
S. 635 do STF- CABE AO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE ORIGEM DECIDIR O PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR
EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO AINDA PENDENTE DO SEU JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.
O recurso extremo segue a regra geral de não ter efeito suspensivo, por isso, não impede a execução ao
cumprimento provisório da decisão recorrida. Entretanto, é possível que o cumprimento provisório da
decisão recorrida seja potencialmente danoso à parte e que por isso ela tenha a necessidade de pedir a
concessão do efeito suspensivo ao recurso.
Como se pode conseguir a atribuição de efeitos suspensivos ao recurso extremo? No regime do CPC de 73,
não há regra expressa no código, e vinha se admitindo o uso de medida cautelar, e a grande discussão era
sobre quem seria competente para apreciar essa cautelar, se seria o a quo ou ad quem. Os enunciados das
sumulas 634 e 635 estabeleceram a competência para essa cautelar- se o recurso extremo ainda não
tivesse sido admitido, a competência seria do tribunal de origem e se o recurso extremo já tiver sido
admitido a competência seria do tribunal superior.
Como o NCPC acaba com o juízo de admissibilidade dobrado, essa regra fica obsoleta, perde a sua razão de
ser. Além disso, o CPC de 2015, no art. 1029, §5º trata da matéria sem falar em cautelar. Fala apenas de um
pedido de concessão de efeito suspensivo, que presumidamente se daria por meio de petição simples. A
competência para apreciar esse pedido de concessão do efeito suspensivo será, em regra, do tribunal
superior. O tribunal superior será competente se o recurso ainda não foi distribuído para o relator, mas se
o recurso já foi distribuído para o relator, o pedido é dirigido diretamente a ele.
É possível que a parte tenha interposto o recurso perante o tribunal de origem (para que seja coletada as
contrarrazões da outra parte) e já precise do efeito suspensivo. Nesse caso, o recurso vai estar no tribunal
de origem, mas a parte deve pedir o efeito suspensivo ao tribunal superior.
O legislador estabeleceu uma situação especifica, aquela em que está pendente um incidente de resolução
de recursos extremos repetitivos e há uma ordem de sobrestamento de todos os recursos extremos que
tratem da mesma matéria. Então, se a parte estiver diante de um recurso extremo sobrestado nessas
circunstâncias, irá dirigir o pedido de efeito suspensivo para o presidente ou vice-presidente do tribunal de
origem. Então, se o recurso extremo está sobrestado na origem em razão desse incidente, o pedido de
efeito suspensivo será de competência do presidente ou vice-presidente do tribunal de origem.
Esse projeto de lei que visa reestabelecer o juízo de admissibilidade dobrado revoga essa previsão e
reestabelece o regime do CPC de 73 para a concessão de efeitos suspensivos, dizendo que a competência
será do a quo, se ainda não foi feito o juízo de admissibilidade do recurso, e do ad quem, se já foi feito o
juízo de admissibilidade do recurso.
Isso é uma exceção à singularidade recursal. A primeira possibilidade de interposição simultânea de REX e
RESP é quando o acórdão tem um capitulo com fundamento federal e outro com fundamento
constitucional. Nesse caso, a parte pode usar RESP para o capitulo com fundamento federal e REX para o
capitulo com fundamento constitucional.
A outra hipótese é mais complexa e ocorre quando o acórdão tem um capitulo que simultaneamente tem
fundamento federal e constitucional. Nesse caso, deve haver muito cuidado, porque se ambos os
fundamentos são suficientes, por si só, para manter a conclusão do capitulo, a parte deve manejar
obrigatoriamente ambos os recursos REX e RESP, sob pena de o recurso ser inadmitido por falta de
interesse utilidade. Se a parte usa somente o recurso especial para questionar o fundamento federal não
adianta nada porque o fundamento constitucional seria suficiente, por si só, para manter a conclusão.
Nesses casos, a parte deve interpor simultaneamente ambos os recursos.
À principio a ideia é a de que os autos com ambos os recursos sejam dirigidos para o STJ, para que ele
julgue o recurso especial. Se o STJ, ao julgar esse recurso especial, dá provimento ao recurso, de forma a já
garantir para a parte o que ela quer, o recurso extraordinário fica prejudicado e os autos sequer vão para o
STF. Se o STJ nega provimento ao RESP, e o fundamento constitucional, por si, só não é suficiente para
manter a conclusão da decisão é possível que o REX seja considerado prejudicado. A regra é que os autos
vão para o STJ, e a depender do julgamento lá, o recurso extraordinário fica prejudicado e os autos sequer
vão para o STF. Mas, se o recurso extraordinário não tiver prejudicado, os autos subirão para o STF que irá
julgar o recurso extraordinário. Isso só poderá ser avaliado a cada caso, não há uma regra absoluta.
Há algum caso que os autos seguem logo para o STF? Sim. É possível que os autos sigam direto para o STF,
se, por exemplo, o recurso extraordinário estiver questionando a constitucionalidade da lei cuja violação foi
alegada no recurso especial. Primeiro vai para o STF, para que ele julgue o REX e avalie a
constitucionalidade da lei, e após isso, os autos vão para o STJ para verificar se a lei federal foi violada ou
não.
8. Recurso especial
8.1 Noção geral
O STJ é conhecido pelo nosso ordenamento como o guardião da lei federal. É responsável pela aplicação da
lei federal, correta interpretação da lei federal. O instrumento dado, por excelência ao STJ para cumprir o
seu papel é o recurso especial.
O recurso especial é cabível contra acórdão ou decisão colegiada dada em única ou última instância em TJ
ou TRF. Sendo que essas decisões colegiadas ensejarão o recurso especial dentro das hipóteses do art. 105
da CF. Não é cabível se a decisão colegiada for de turma recursal, tem que ser decisão colegiada de TJ ou
TRF.
a) Contrariar tratado ou lei federal ou negar-lhe vigência- Essa contrariedade ao ato normativo federal é
considerada num sentido amplo. Pode se considerar que a lei que foi contrariada quando for mal
interpretada, quando não for aplicado quando deveria ter sido, etc. Então, acontrariedade decorre das
mais diversas situações – má interpretação, má aplicação, não aplicação (quando deveria ter sido aplicada).
O termo “lei federal” também é entendido no sentido lato. Não é só lei ordinária, a lei federal pode ser uma
lei complementar, uma lei delegada, um decreto-lei, uma medida provisória. Só não vale para resolução,
porque resolução é ato administrativo.
b) Considerar válido ato do governo local em face de lei federal – O ato de governo local é um ato
administrativo local. Então, diante de um ato administrativo local que foi considerado válido mesmo
atentando uma lei federal, é cabível recurso especial. Se um ato administrativo local que violou lei federal é
considerado como válido, de certa forma, há uma violação a lei federal.
c) Divergir de acórdão de outro tribunal - Cabe recurso especial quando o acórdão recorrido divergir de
um acórdão de um outro tribunal. Deve ser um acórdão de um outro tribunal integrante da justiça comum
(outro TJ, outro TRF). Não se configura divergência jurisprudencial se o acórdão de outro tribunal (que é o
acórdão paradigma) for um acórdão de justiça especializada. Há precedentes do STJ nesse sentido. Essa
divergência jurisprudencial do acórdão recorrido com o acórdão paradigma deve ser devidamente
comprovada. Para tanto, a parte deve provar a existência de um acórdão paradigma, oriundo de outro
tribunal. O art. 1029, §1º trata da prova dessa divergência, dizendo que a parte pode prová-la
demonstrando a existência do acórdão paradigma por diversas formas- seja trazendo uma certidão desse
acórdão paradigma, seja trazendo uma cópia autenticada desse acórdão, seja indicando o acórdão
paradigma que esteja num repositório de jurisprudência oficial (às vezes há uma revista que é credenciado
como um repositório de jurisprudência especial), ou simplesmente trazendo cópia de um acórdão
disponível na internet, citando a fonte na qual ele foi retirado (colocando data e hora de acesso). Não
basta comprovar a existência desse acórdão paradigma, sendo necessário também que a parte faça um
confronto analítico entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma. No bojo da petição, é preciso fazer
esse confronto analítico. O objetivo disso é demonstrar que esses acórdãos tratam de situações fáticas
semelhantes, adotando teses jurídicas opostas. É praticamente exigir que se faça um distinguish,
demonstrando que os casos são semelhantes e que foram adotadas teses jurídicas opostas. Para fazer isso,
é preciso colacionar trechos do relatório de ambos os acórdãos (para demonstrar a similitude fática) e
copiar trechos da fundamentação desses acórdãos (para demonstrar que as teses jurídicas são opostas).
A transcrição da ementa não é suficiente. O máximo que se encontra é uma flexibilização disso no sentido
de que se a ementa for completa, isso basta. A sugestão de Paula é que a parte não se utilize apenas da
ementa.
Há um entendimento do STJ no sentido de que não é preciso comprovar divergência, nem fazer o confronto
analítico nesses termos se a divergência for publica e notória. Mas o que uma parte pode considerar
notório o STJ pode não considerar, salvo se já houver precedente do STJ falando que aquele tipo de
divergência em casos afins é uma divergência notória.
Essa sumula estabelece que a divergência que justifique o recurso especial deve ser atual. Essa divergência
será atual quando ainda não houver um posicionamento sólido do STJ seguido no acórdão recorrido. Se o
acórdão recorrido adota o posicionamento que já é um posicionamento do STJ a divergência está superada
e é o entendimento recorrido que irá perdurar. Então, não cabe RESP por divergência jurisprudencial
quando o entendimento do acórdão recorrido, mesmo sendo diferente do entendimento de um acórdão
do tribunal, coincide com o adotado pelo STJ, porque nesses casos a divergência já estaria superada.
Especificamente, no que se refere ao julgamento desse recurso, o art. 1029, §2º do NCPC se destaca
porque exige que o STJ ao julgar o RESP por dissídio jurisprudencial fundamente especificamente o seu
acórdão. Para o STJ não admitir o recurso especial porque o acórdão paradigma trata de situação diferente
do acórdão recorrido deverá fundamentar muito bem essa decisão, se valendo do distinguish. Essa
exigência está de acordo com o art. 489, §1º, VI do NCPC.
OBS! RESP por divergência jurisprudencial independe de pré-questionamento!
Quando uma decisão é dada contra a Fazenda Pública, mesmo que ela não recorra há um duplo grau
obrigatório, o tribunal deve, obrigatoriamente, reexaminar aquela decisão. Nesse sentido, surge uma
discussão: será que do julgamento do reexame necessário cabe RESP? Há quem diga que não, porque teria
havido uma preclusão lógica, na medida em que, se a Fazenda decidiu não recorrer, não faria sentido
adotar um comportamento oposto e interpor um RESP desse acórdão que só fez um duplo grau
obrigatório. Por outro lado, há quem diga que cabe o RESP, porque a não interposição do recurso é um ato-
fato omissivo, não sendo uma manifestação de vontade, e sim uma omissão em que a vontade da parte é
irrelevante. Então não haveria uma manifestação de vontade relevante para o Direito que venha a ser
contrariada com o manejo posterior de um RESP. Há quem entenda ser possível que a Fazenda use um
RESP contra o acórdão que julgou o reexame necessário, havendo, inclusive, precedente do STJ nesse
sentido.
9. Recurso extraordinário
O STF é o guardião da constituição e possui como papel a preservação e interpretação dela. O Recurso
Extraordinário é um dos mecanismos previstos com essa finalidade.
É cabível contra decisões dadas em única ou ultima instância. Essa decisão não precisa ser necessariamente
de tribunal, como se pode extrair da sumula 640 do STF. Por isso que cabe recurso extraordinário contra
decisão de juizado, por exemplo. Para que caiba recurso extraordinário é preciso que ocorra uma das
hipóteses previstas no art. 102, III da CF.
a) Contrariar norma constitucional – Essa contrariedade deve ser direta, imediata. A ofensa indireta ou
reflexa não enseja o recurso extraordinário. Por exemplo, diante da violação de uma lei federal não se pode
alegar ofensa a constituição por conta da violação do principio da legalidade, para fins de cabimento de
REX. A ofensa nesse caso é reflexa, e por isso não é cabível o REX. É o que se extrai da súmula 636 do STF e
do art. 1033 do NCPC. Esse artigo prevê que nesses casos em que o REX na verdade versa sobre questão
federal, tendo uma ofensa constitucional reflexa, o relator deverá recebê-lo como RESP.
d) Julga válida lei local em detrimento de lei federal – Essa hipótese é relativamente nova, veio com o
advento da emenda nº 45/2004. Quando o acórdão julga válida uma lei estadual em detrimento de uma lei
federal há um problema de competência legislativa. Portanto, trata-se de uma questão constitucional de
competência do STF.
Há quem admita REX contra decisão que viola tratado de direitos humanos, porque há quem entenda que o
tratado de direitos humanos tem status constitucional. A emenda 45/2004 diz que para que o tratado de
direitos humanos tenha status constitucional, deve preencher os requisitos previstos no art. 5, §3º da CF –
aprovado nas duas casas legislativas, com quorum qualificado, etc. Para quem entende que o tratado de
direitos humanos só vai ter status constitucional se for aprovado dessa forma, o REX caberia diante da
violação (se for aprovado assim). Contudo, para aqueles que entendem que os tratados que versam sobre
direitos humanos tem status constitucional independente do atendimento dos requisitos dispostos no art.
5, §3º da CF, por terem conteúdo materialmente constitucional, nesses casos, diante da violação, caberá
REX. Então o cabimento do REX por violação de tratados internacionais que versam sobre direitos humanos
depende do reconhecimento do seu status constitucional (depende da orientação seguida).
a) Conceito
A repercussão geral desde 2004 é um novo requisito de admissibilidade do recurso extraordinário. O REX só
é cabível quando versar sobre questão de direito relevante do ponto de vista social, político econômico ou
jurídico que ultrapasse o interesse subjetivo das partes da causa. Uma questão coletiva, repetitiva, ligada a
segurança publica, saúde publica, moradia, política do sistema financeiro de habitação, etc. “Relevância” é
um conceito jurídico indeterminado. Há vários precedentes do STF com entendimentos do que seria ou
não matérias de relevância para fins de repercussão geral.
b) Ônus
À rigor, é ônus do recorrente, no bojo do REX, demonstrar a repercussão geral. No CPC de 73 dizia-se que
isso deveria vir como preliminar do recurso. A doutrina dizia que tinha que constar como preliminar do REX
sob pena de inadmissão. O NCPC de 2015 tirou esse termo “preliminar”, dizendo apenas que o recorrente,
no bojo do REX deve comprovar a repercussão geral. Se não demonstrar a repercussão geral o recurso será
inadmitido.
c) Presunção
O legislador se preocupou em estabelecer alguns casos de presunção absoluta da repercussão geral, no art.
1035, §3º, do NCPC – quando contraria súmula ou jurisprudência dominante do STF, decisão dada no
julgamento de casos repetitivos ou decreta a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal pelo seu
plenário na forma do art. 97 da CF. Todo recurso com esses fundamentos tem presunção absoluta de
repercussão geral.
Há um projeto de lei que se propõe a revogar a segunda hipótese presunção absoluta, excluindo a
presunção absoluta de repercussão geral quando o acórdão contraria o julgamento oriundo de causas
repetitivas.
Mesmo nos casos em que não há uma presunção absoluta de repercussão geral, há uma presunção relativa
de repercussão geral. Todo recorrente possui uma presunção relativa de repercussão geral a seu favor.
Essa presunção para ser derrubada, necessita do voto de 2/3 do STF em sentido contrário (pelo menos, o
voto de oito ministros) para que seja negada a repercussão geral. Em contrapartida, basta o voto de quatro
para que ela seja reconhecida.
Na análise da existência de repercussão geral sobre a matéria, o relator pode admitir a manifestação de
terceiros, como o amicus curie, por exemplo. A partir de então, a repercussão geral pode ser reconhecida
ou não. Se for reconhecida, o art. 1035, §5º do NCPC diz que o relator do REX determinará a suspensão de
todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a mesma matéria, no território
nacional, para que eles aguardem a deliberação do STF sobre aquela questão. É possível que em alguns
desses recursos que tenham sido sobrestados, a parte interessada peça ao presidente ou vice do tribunal
de origem que se exclua o recurso do sobrestamento se ele tiver sido interposto intempestivamente. Não
há porque sobrestar um recurso intempestivo. Antes de se inadmitir esse recurso intempestivo é
necessário ouvir o recorrente no prazo de 5 dias. A decisão do presidente ou vice- presidente do tribunal de
origem que indeferir esse pedido de exclusão do recurso intempestivo do sobrestamento é impugnável
pelo agravo do art. 1042 do NCPC. Essa é uma das hipóteses especificas do cabimento de agravo no bojo
dos autos do recurso especial ou extraordinário.
d) Julgamento
AULA – 05/11/15
Trata-se de um modelo de processo que abrange, na forma do art. 928, tanto o IRDR (incidente de
resolução de demandas repetitivas), como também a resolução de recursos extremos repetitivos.
Fredie sugere que se considere, dentro dessa categoria, como também integrante desse modelo de solução
de casos repetitivos recursos de revista repetitivos. Afinal, a Lei 13.015/14 também trouxe uma sistemática
de solução desses incidentes. Todo esse arcabouço é chamado de microssistema de resolução de casos
repetitivos. A importância disso é identificar um regramento comum que pode ser aplicado a qualquer um
desses incidentes. As vezes, há uma regra somente prevista para o IRDR, por exemplo, mas por analogia,
deve ser aplicado aos recursos de revista repetitivos ou a resolução de recursos extremos repetitivos.
Há uma técnica híbrida de julgamento, porque de um lado ela estabelece um modelo para o julgamento em
concreto daqueles casos repetitivos. O tribunal cria uma solução modelo que será aplicada a todos os
casos que estão pendentes. Por outro lado, também há uma técnica de construção de um precedente que
será obrigatoriamente observado em todos os processos pendentes e futuros que tenham por objeto
aquela causa repetitiva. Se cria um precedente obrigatório que é uma norma jurídica geral e funciona para
a resolução daqueles processos que estão pendentes e para processos futuros que versem sobre aquela
questão de direito.
O objeto dessa técnica é a solução de uma questão de direito repetitiva em diversos processos ou recursos
pendentes, que versam sobre essas questões de direito que são afins. Ex: Constitucionalidade da cobrança
de um tributo cobrado de uma determinada categoria; existência de legitimação extraordinária de um
determinado ente para determinado tipo de demanda, etc.
É muito importante perceber que essa questão de direito pode ser uma questão de direito material ou
processual. O art. 928, parágrafo único é explicito nesse sentido.
Em segundo lugar, é preciso ter em mente que o legislador optou expressamente a restringir o objeto
desses incidentes para questões de direito. Surgiu na tramitação no novo código a ideia de serem
abrangidas também questões de fato repetitivas e comuns, que estejam sendo igualmente discutidas. Ex:
Se um determinado produto é nocivo à saúde ou não. O legislador deixou claro, portanto, que o incidente
só pode versar sobre questão de direito.
A opção do legislador brasileiro foi adotar a técnica do processo piloto. Isto é, dentro dos processos que
estão pendentes, discutindo uma mesma questão de direito, serão escolhidos um ou alguns que sejam
representativos daquela controvérsia. Esses processos escolhidos são processos amostras, ou “processos
pilotos” porque conduzem à uma solução que será aplicada não só no julgamento deles, como também no
julgamento de todos os outros processos que versem ou venham a versar sobre aquela questão de direito.
Isso significa que não adotamos no Brasil a técnica do processo modelo. Nessa técnica são escolhidos esses
processos modelo que não serão julgados em concreto no bojo desses incidentes. O tribunal apenas
constrói uma tese jurídica geral, uma solução, que servirá de modelo para os demais casos, mas sem haver
o julgamento daquele caso concreto. Esse processo modelo será julgado pelo tribunal competente. Então,
na técnica do processo piloto, julga-se o caso e constrói-se a tese. No processo modelo, só há a construção
da tese.
c) Técnicas satélites:
São técnicas que colaboram para a construção desse modelo de casos repetitivos.
I) Julgamento de casos repetitivos sobre serviços regulados. Art. 985, §2º, 1040, IV – São serviços que se
submetem à atividade regulatória que tem por objeto a concessão, autorização, permissão para a
prestação daquele tipo de serviço. Ex: Telefonia. Há uma regra especifica para isso porque o nosso sistema
regulatório de prestação de serviços funciona mal. Exatamente por conta dessa deficiência é que surge uma
série de demandas repetitivas daqueles que são prejudicados com a má prestação de serviços. Ex: Aumento
abusivo do valor do plano de saúde. Grande parte da origem dessas demandas é por conta da falta de uma
fiscalização adequada na prestação desses serviços. Por isso, o legislador prevê expressamente que toda
vez que for julgada uma causa repetitiva relativa a algum tipo de serviço regulado, o tribunal deve avisar ao
órgão, ente ou agencia reguladora, a solução que foi dada, para que sejam tomadas as providencias
cabíveis do ponto de vista administrativo. Isto é, para que verifique se aquela tese está sendo aplicada
pelos sujeitos objetos da regulação.
Essa regra está repetida no IRDR e no incidente de resolução de recursos repetitivos.
III) Amicus curiae e recurso da decisão que julga IRDR (art. 138, §3º).
O nosso legislador, prevê a legitimidade do amicus curiae para recorrer da decisão do IRDR. Por analogia,
entende-se que essa regra também é aplicável para o incidente de resolução de recursos extremos
repetitivos.
IV) Órgão competente para tutela de urgência nos processos suspensos. Art. 982, §2º.
Com a instauração do incidente de resolução de casos repetitivos, todos os outros processos ficam
suspensos. E se eu precisar de uma tutela de urgência nesse processo que está suspenso, qual órgão será
competente para apreciar? De acordo com a lei, o órgão competente para apreciar o pedido de tutela de
urgência do processo suspenso é o próprio órgão perante o qual tramita aquele processo suspenso, e não o
tribunal que está julgando o incidente. Se o Tribunal recebesse um pedido de tutela de urgência para cada
processo suspenso, nunca conseguiria julgar o IRDR. Por isso, quem julga é o órgão perante o qual tramita o
processo sobrestado.
V) Regime especial da desistência no âmbito dos recursos repetitivos. Art. 1040, §5º.
Está previsto para os recursos repetitivos, mas se aplica também ao IRDR. É um regime que visa estimular a
desistência das causas repetitivas que estão pendentes. Permite-se que a parte desista da causa repetitiva
a qualquer tempo, independentemente da anuência do réu, antes da sentença, se a questão de direito já
tiver sido julgada no bojo do IRDR. Se já foi dada uma solução, em que a parte percebe que não foi dada a
solução esperada, ela já pode desistir. Se a desistência for antes da contestação, o autor ficará isento de
custas e honorários de sucumbência.
No incidente de julgamento de casos repetitivos, à luz dos casos solucionados como amostra, o tribunal cria
uma solução modelo que serve para o julgamento de todos os outros casos. Essa tese jurídica é um
precedente obrigatório que dever ser necessariamente observado no julgamento de outros casos. Deve se
observar todas as técnicas inerentes a um sistema de precedentes obrigatórios. Essa técnica não só deve
ser vista dentro do julgamento de casos repetitivos, como também na construção de um sistema de
precedentes obrigatórios. A solução modelo dada aos casos repetitivos é precedente obrigatório. Por isso,
se aplica a regra do sistema de precedentes obrigatórios do CPC.
A técnica nuclear gira em torno da necessidade da ampliação do debate em torno daquela questão
repetitiva, um reforço do contraditório ( se é uma tese que será aplicada a toda uma coletividade, é preciso
garantir o contraditório) e uma motivação qualificada – fundamentação diferenciada da decisão que vai
resolver o incidente.
É necessário que haja um cuidado grande na seleção das causas amostra. As causas que servem de amostra
devem ser aqueles em que haja uma argumentação e uma discussão mais abrangente possível em torno
daquela questão de direito, para que se amplie o debate em torno dela o máximo possível. Ex: Um
advogado da parte autora que traz vários argumentos sobre a questão de direito e o da parte ré também.
A intervenção do amicus curiae é importante porque de fato permite a pluralização do debate, ao autorizar
que pessoas, órgãos, ou entidades entrem no incidente e possam se manifestar, juntar documentos, tentar
contribuir de alguma forma. Se é, por exemplo, uma questão de direito processual repetitiva, como a
legitimação de determinado ente para uma causa, é possível que o IBPC – Instituto Brasileiro de Processo
Civil se manifeste como entidade.
III) Audiências públicas. Art. 983, §1º, art. 1038, II, §3º.
O relator do incidente pode designar uma data para a realização de uma audiência publica em torno
daquela questão de direito, onde poderá ouvir depoimento das pessoas que tenham experiência e
conhecimento em torno daquela matéria.
IV) Motivação diferenciada. Avaliar todos os fundamentos. Art. 984, §8º, 1038.
Há uma necessidade de motivação diferenciada. Isto é, a decisão do incidente que vai criar a solução
modelo precisa de uma fundamentação muito completa. A ideia é que essa decisão enfrente todas as teses
jurídicas contrárias e favoráveis àquela tese. É preciso que sejam enfrentados todos os argumentos, sejam
os levantados nas audiências públicas, pelo amicus curiae, etc. Todas as teses devem ser levantadas,
porque se trata da construção de um precedente obrigatório. Na hora de o juiz aplicar esse precedente, irá
apenas verificar se o caso que está julgando é passível da aplicação do precedente, sem precisar voltar à
análise de todas as teses contrárias e favoráveis à solução dada.
A publicidade é reconfigurada devendo haver um cadastro no CNJ onde conste a ratio decidendi de cada
decisão e os dispositivos de lei a ela relacionada. Se foi criado um precedente obrigatório num IRDR isso
deve estar acessível a todos. Por isso, deve haver uma ampla divulgação por um registro eletrônico no CNJ.
Todos os tribunais devem manter um banco eletrônico, onde sejam inseridas todas as questões de direito
que forem objeto de incidente, devendo comunicar ao CNJ cada inserção. O CNJ vai alimentando o seu
registro eletrônico. O legislador tem a preocupação de que nesse registro eletrônico do CNJ conste, no
mínimo, a ratio decidendi do precedente obrigatório (fundamentos determinantes da decisão) e o
dispositivo normativo que foi objeto de interpretação.
b) Técnicas satélites
Em grande parte, é uma aplicação das regras que estão previstas do sistema de precedentes obrigatórios.
- Disciplina da superação. art. 927, §§2º, 4º c/c 986, CPC. Mesmo tribunal. Mesmos cuidados
Aplica-se a decisão do incidente enquanto precedente obrigatório toda a disciplina relativa a superação dos
precedentes obrigatórios como um todo (overruling). Há uma regra no art. 986 específica para IRDR que
deve ser considerada dentro desse microssistema. De acordo com essa regra, o overruling só pode ser
realizado pelo mesmo tribunal que criou o precedente que poderá fazê-lo de ofício ou a requerimento.
No mais, deve-se perceber que as regras de superação de um precedente são muito próximas as regras de
construção do precedente. As preocupações são muito parecidas. A preocupação de admitir o amplo
debate, reforço do contraditório, a realização de audiências públicas, intervenção de amicus curiae por
que quando há superação de um precedente, logicamente se constrói um outro precedente.
- Disciplina da distinção. art. 1037, §§9º -13º, CPC. Requerimento. Contraditório (05 dias). Decisão. Recurso.
Quando o tribunal cria a tese jurídica modelo que será aplicada aos casos repetitivos, é necessário que o
juiz ou relator que está conduzindo o caso repetitivo que estava sobrestado sempre deve se valer da
técnica distinguishing para verificar se aquele caso que ele está julgando se assemelha ou não ao caso
que foi afetado e serviu de base para construção do precedente.
Há umas regras específicas em torno da distinção do art. 1.037 §9º e §13º que se aplicam por analogia ao
IRDR, apesar de estarem previstos no âmbito dos recursos extremos repetitivos.
Essas regras do artigo citado disciplinam de forma quase exaustiva o distinguishing no julgamento de casos
repetitivos. Se observa que o sujeito que é parte no processo que foi sobrestado,se ela constata que há
distinção, ou seja que aquela causa é diferente que daquelas que deram origem a decisão do precedente
obrigatório, poderá requerer o prosseguimento do seu processo ao próprio órgão perante o qual o
processo está tramitando. Formulado o requerimento, a outra parte será ouvida no prazo de 05 dias. O
juiz ou o relator (se a causa estiver em segunda instância) vai decidir o requerimento. Se ele reconhece a
distinção, dará prosseguimento ao feito.
Entretanto, existe uma situação específica que está prevista no §12º, II. "Foi prolatado um acórdão perante
o TJ ou TRF. A parte interpôs um recurso especial ou extraordinário contra esse acórdão. Só que recurso
especial ou extraordinário contra esse acórdão foi sobrestado em razão da pendência de um incidente de
recursos extraordinário repetitivos que está pendente no tribunal superior respectivo. Nesse caso, diz a lei,
que o requerimento de reconhecimento de distinção vai ser dirigido ao relator do TJ ou TRF responsável
pelo acórdão recorrido. Se a parte requereu o reconhecimento da distinção e o prosseguimento do
recurso e o relator acolheu, nesse caso, o relator irá comunicar essa decisão de que há distinção ao
Presidente ou Vice do tribunal de origem para que o Presidente ou Vice remeta o recurso extremo para o
Tribunal Superior.
Essa decisão sobre o requerimento de distinção é recorrível. Se a decisão que reconhece a distinção foi
dada por um juiz de primeiro grau cabe agravo de instrumento (hipótese que vai além do art. 1015). Se for
uma decisão monocrática de um relator, caberá agravo interno.
É importante visualizar a hibridez da natureza do julgamento de casos repetitivos. Revela que de um lado é
uma técnica para julgamento concreto daqueles casos que se repetem e por outro lado é uma técnica
para construção de precedentes obrigatórios que vai ser utilizado não só nos casos pendentes como nos
casos futuros. O inciso I do art. 985 deixa claro que a tese jurídica criada no incidente é aplicável a todos os
processos pendentes que tratem de questão idêntica colocando esse incidente como um incidente de
julgamento de casos concretos que se repetem, já o inciso II deixa claro que essa tese jurídica é um
precedente obrigatório que inclusive será utilizado no julgamento de processos futuros que tratem daquela
mesma questão. Essas duas perspectivas enfatizam a natureza híbrida desse incidente (gera uma solução
para os casos concretos pendentes e gera uma solução que é precedente obrigatório para o julgamento
de casos futuros). Obviamente que essa tese só será aplicada aos processos pendentes ou futuros que
surjam dentro dos limites da área de jurisdição daquele tribunal.
Essa importância da hibridez da natureza do incidente também é importante para compreender o regime
da desistência. No regime da desistência,se a parte desiste da causa piloto, ainda assim o processo continua
por que ele vai continuar servindo de base para construção da tese jurídica. A partir desse incidente será
construída uma tese jurídica que vai ser aplicada a todos os processos pendentes em que aquela questão se
repita, que será precedente obrigatório para os processos futuros, entretanto ela não servirá para julgar
aquele caso concreto que foi objeto de desistência. Esse é um caso em que o incidente deixa de ser de
processo piloto e passa a ser de processo modelo por que se cria uma tese que não será utilizada no
julgamento daquele caso em concreto por que houve desistência, mas irá servir para o julgamento de
outros seja os que estão pendentes, seja como precedente obrigatório para os processos futuros.
Para os casos passados que já acabaram por decisão transitada em julgado, essa tese jurídica poderá ser
utilizada para reforçar o cabimento de uma ação rescisória, por exemplo.
Regras de julgamento
c) Prazo para julgamento. 01 ano (art. 90 e 1.037, §4º). Cessa suspensão (art. 980, parágrafo único, art.
1037 § 5º; nova afetação (art. 1037 §6º).
O prazo para o julgamento do incidente é de 1 ano. Se no prazo de um ano o incidente não for julgado,
cessará a suspensão dos processos até então sobrestados. O parágrafo único do art. 980 mitiga essa regra
quando estabelece que o relator por decisão motivada poderá optar por manter os processos
sobrestados - IRDR.
Passando um ano sem o julgamento do incidente, aquele relator do incidente deixa de ser prevento e passa
ser possível que outro relator faça uma nova afetação passando a ser prevento para o julgamento da
questão.
Competência. TJ e TRF.
O incidente de resolução de demandas repetitivas é de competência originária de TJ e TRF. Admite-se,
contudo, que também seja reconhecida a essa competência no âmbito do TRT do processo do Trabalho
existindo demandas repetitivas. Isso se daria a partir de uma interpretação extensiva e sistemática da lei
13.015/14 - prevê que no âmbito dos TRT's é aplicável o rito de uniformização de jurisprudência. Ocorre
que esse rito não existe mais, foi substituído pelo IRDR e pelo incidente de assunção de competência.
Pressupostos
Custas
IRDR não tem custas.
b) Encaminhamento STF/STJ
Feita essa afetação, os recursos serão enviados para o Tribunal Superior, se extraordinário para o STF, se
especial para o STJ.
Selecionadas as amostras, o STF e o STJ através do seu órgão interno com o seu regimento vai prolatar a
decisão do incidente. A tese jurídica fixada no incidente será utilizada não só dos recursos afetados como
também dos outros que estão sobrestados.
c) Recurso sobrestado. Negar seguimento. Reexame do acórdão recorrido na origem; retomado curso dos
processos suspensos.
Os recursos sobrestados também serão conduzidos de acordo com o que foi deliberado nessa tese. Se o
recurso sobrestado defender uma tese diferente daquela adota no incidente, será negado seguimento a
ele. Se o recurso sobrestado defender uma tese consoante aquela tese adotada pelo STJ ou STF no
julgamento do incidente é possível que o relator do acórdão recorrido se retrate e reexame a sua
decisão. É uma oportunidade de retratação. Se não houver essa retratação, os demais processos
suspensos serão retomados o curso natural.
AULA- 19/11/15
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
Os dispositivos centrais que disciplinam este recurso são os Arts. 1.043 e 1.044. É o Art. 1.043 que traz as
hipóteses de cabimento, hipóteses estas que são mais amplas que o disposto no CPC/73.
Em primeiro lugar prevê o legislador o cabimento dos embargos de divergência contra decisão colegiada de
órgão fracionário em REsp ou REx de admissibilidade ou de mérito que tenha divergido da decisão de
qualquer outro órgão que seja de admissibilidade ou de mérito. Primeiramente, é necessário que se
entenda qual é a decisão embargada para depois entendermos qual é a decisão da qual ela diverge, a
chamada decisão paradigma. A análise do dispositivo já nos leva a perceber que a decisão ter que ser
emanada obrigatoriamente de uma decisão colegiada. Tem que ser um acórdão e contra decisão
monocrática não cabe embargo de divergência, pois seria o caso de um agravo interno ou agravo
regimental.
Essa decisão colegiada pode ser uma decisão de qualquer órgão fracionário interno do tribunal. Não precisa
ser uma turma, pode ser uma sessão, um órgão interno. Essa decisão do órgão fracionário tem que ser
dada no âmbito de um REsp ou REx.
Ha discussões doutrinárias no regime CPC de 1973: A doutrina se pergunta se essa decisão teria que ser
dada necessariamente em julgamento de REX ou RESP ou será que caberia embargos de divergência contra
decisão colegiada (acórdão) dada por um órgão fracionário em julgamento de agravo regimental? Ex:
Agravo regimental interposto contra decisão monocrática de RESP ou REX. Esse acórdão do agravo
regimental acabou julgando o próprio REX ou RESP. Logo, seria razoável caber embargos de divergência
contra acórdão que julga agravo regimental contra decisão monocrática que julgou REX ou RESP? Paula
entende que sim, mas no regime do CPC de 1973 há divergência jurisprudencial. Sumula 599 STF diz que
não cabe, mas temos a sumula 316 STJ dizendo que caberia. Paula entende pela visão do STJ. Se for
embargo de divergência no STJ teríamos essa sumula dizendo que cabe mas se for embargo de divergência
no STJ teríamos resistência na sumula de lá.
Também havia uma divergência no âmbito do agravo do de REsp ou REx (no regime do CPC/73, Art. 544:
cabe contra toda decisão de presidente ou vice do tribunal de origem que inadmite REsp ou REx). Será que
caberia um embargo de divergência contra um acórdão que ao julgar esse recurso do 544 acaba julgando o
próprio REsp ou REx? A súmula 315 do STJ diz que não cabe, o que nos conduz a um entendimento de que
não caberia. Temos que esperar para ver se essa dúvida também irá para o CPC/15.
E se for um acórdão que julgou embargo de declaração REsp ou REx cabe embargo de divergência? Paula
acredita, juntamente com Bernardo Pimentel, ser muito razoável se admitir embargo de divergência do
acórdão que julgou ED de acórdão que julgou REsp ou REx, pois no fim das contras esse ED apenas
integra/complementa o acórdão que julgou o REsp ou REx. Essa visão não é a dominante. Há julgados e
entendimentos doutrinários que não entendem caber embargo de divergência nesse caso. Mas também
deve-se aguardar para ver como será com o novo código.
Essa decisão embargada pode ser de admissibilidade ou de mérito. O que é exigido da decisão paradigma é
que seja uma decisão colegiada, que pode ser de qualquer outro órgão do tribunal, não havendo restrições
sobre qual seria esse órgão – como no CPC/73. A decisão paradigma não precisa necessariamente ser dada
em REsp ou REx, ela pode ser dada no julgamento de recurso ou ação de competência originária do
tribunal, qualquer outro órgão de qualquer outra causa do tribunal.
A divergência pode ser em relação a uma decisão paradigma colegiada de qualquer outro órgão em
qualquer tipo de processo do tribunal, seguindo a linha geral do CPC/73. A decisão paradigma também
pode ser de admissibilidade ou de mérito. Se a decisão embargada é de admissibilidade, a paradigma
também deve ser. Se a decisão embargada é de mérito, então a paradigma também deve ser.
A segunda hipótese de cabimento é muito próxima a essa primeira, tanto que quase tudo que falamos para
a primeira também se aplica aqui.
Segundo o legislador cabe embargo de divergência contra a decisão colegiada dada por um órgão
fracionário do tribunal em julgamento de REsp ou REx sendo a decisão embargada de mérito e o acórdão
paradigma que embora não tenha conhecido o recurso originário apreciou a controvérsia, acabou se
manifestando sobre o mérito. Embora a decisão embargada seja de mérito, a decisão paradigma foi de
inadmissibilidade do recurso originário, mas mesmo apreciou a controvérsia, adentrou sobre o mérito. Essa
é uma hipótese de cabimento nova que vem eliminar uma controvérsia antiga do CPC/73: se seria possível
usar embargo de divergência quando a decisão embargada é de mérito, mas a paradigma não. Até pq
embora a paradigma não seja de mérito, ela tratou daquela questão.
Há também a hipótese que prevê o cabimento de embargo de divergência contra decisão colegiada dada
por um órgão fracionário do tribunal em processos que sejam de sua competência originária e que divirjam
da decisão colegiada dada por qualquer outro órgão. O “X” da questão aqui é fato da decisão embargada
não ser dada em REx ou REsp, e sim ser dada em processo de competência originária do tribunal. No mais é
tudo semelhante. É novidade no NCPC. O que importa não é o recurso ou o processo em que a decisão
embargada foi dada, importa é que se ela diverge de outra decisão colegiada do tribunal deve ser eliminada
essa divergência.
O §2º do art. 1.043 também traz uma novidade, deixando claro que a divergência que autoriza os embargos
pode ser uma divergência material ou processual. A preocupação de deixar isso claro é pq existe uma
súmula do STJ que não admite embargos se a divergência for processual. E nós, portanto, poderemos dizer
que essa súmula 315 do STJ será considerada cancelada. Inclusive, esse cancelamento da súmula 315 já foi
anunciado pelo enunciado 231 do FPPC.
O §3º do art. 1.043 traz outra novidade. Existia uma súmula do STF, que é a súmula 353, que prevê que não
cabe embargo de divergência se a divergência for dentro de uma mesma turma. Entretanto, o próprio STF
vinha alterando o seu entendimento no sentido de que caberia os embargos se tivesse tido uma alteração
significativa na composição da turma. Diante disso, este dispositivo resolve positivar este entendimento
estabelecendo que caberá embargos de divergência contra acórdão por divergência entre acórdãos de uma
mesma turma, desde que tenha havido uma alteração de mais da metade de sua composição.
Os embargos de divergência exigem pré-questionamento? Ou seja, é necessário que aquela questão que se
disse objeto de divergência tenha sido expressamente ventilada no acórdão embargado? Não há uma
previsão específica no sentido de que tem que ter pré-questionamento sob pena de ser inadmitido.
Entretanto, há doutrina e julgados do STJ no sentido que tem que haver pré-questionamento, pois este é
um requisito natural dos embargos de divergência. Como se configura uma divergência se na decisão
embargada não foi ventilada a questão. Acaba sendo algo inerente.
A divergência, propriamente dita, é o objeto central do recurso e para que sejam cabíveis os embargos é
indispensável que essa divergência seja atual. Se a divergência já tiver sido superada, em um entendimento
consolidado internamente, não há razão de ser dos embargos. Nesse sentido temos as súmulas 158/STJ e a
247 e 598 do STF. Além disso, para que essa divergência fique configurada é necessário que a decisão
paradigma tenha sido dada por um órgão que ainda tenha competência para deliberar sobre aquela
matéria, é o que diz a súmula 158 do STJ. Além disso, nas causas de pedir dos embargos de divergência,
deve-se demonstrar essa divergência. A demonstração da divergência será através do confronto analítico
entre a decisão embargada e a decisão paradigma. Isso pressupõe que você transcreva no seu recurso
trechos do relatório de ambas para demonstrar a similitude fática das causas, que não há distinguishing
entre elas. Deve-se também descrever trechos dos votos para demonstrar que foram adotadas teses
jurídicas opostas. A documentação deve ser por certidão, por citação que conste em repositório oficial de
jurisprudência, reprodução de julgado de internet e indicação de fonte.
Efeitos dos embargos de divergência: tem, a princípio, os mesmos efeitos que outros recursos. Devolutivo,
translativo, impeditivo. Seguem a regra geral de ausência do efeito suspensivo. É possível conceder efeito
suspensivo a esse recurso com o pedido ao relator, desde que haja o risco grave de dano decorrente da
eficácia daquela decisão, bem como a grande probabilidade de provimento daquele recurso.
No STF, hoje, há previsão de preparo. No STJ não há preparo. Deve-se olhar o regimento. O procedimento
também é definido pelo regimento interno. Em linhas gerais, a rota procedimental em ambos os tribunais
tem mais ou menos a mesma linha: ele será protocolado na secretaria, distribuído para um relator que irá
fazer o juízo de admissibilidade do recurso. Em relação ao juízo de admissibilidade, o CPC estabelece uma
regra de que nesse exame não será possível a inadmissão dos embargos com uma fundamentação
genérica, de que simplesmente os casos são distintos (§5º, art. 1.043).
No julgamento dos embargos de divergência cabe sustentação oral. Há uma pequena peculiaridade no que
se refere a embargos de divergência no STJ. O CPC de 2015 , no Art. 1.044, prevê que se você interpõe
embargos de divergência no STJ, automaticamente interrompe-se o prazo para REx.
Noção Geral
Não é um instituto completamente novo no nosso sistema, pois no CPC/73 ele já estava previsto no art.
555, 1º em que pese a sua previsão fosse mais restrita. É restrita a possibilidade de cabimento em sede de
apelação de agravo e em sede de STJ ou TRF. No CPC de 2015 há uma ampliação de modo que pode ser
possível no julgamento de qualquer causa em sede de tribunal e ele seria possível em qualquer tribunal,
inclusive em tribunais superiores e trabalhistas.
Objetivos
- Formar precedente obrigatório: O IAC é um método de formação concentrada de precedente obrigatório.
O IAC integra um microssistema de formação concentrada de precedente obrigatório. Nesse microssistema
estão o incidente de resolução de causas repetitivas (IRDR) e de julgamentos de recursos especiais e
extraordinários repetitivos. Todos eles são modelos de formação concentrada de precedente obrigatório.
- Prevenir/ Compor divergência interna: Quando imaginamos que pode surgir uma divergência interna ou
quando já exista uma divergência. E isso é uma das grandes diferenças do IAC e o IRDR. O IRDR pressupõe
uma divergência já existente, que já exista essa multiplicidade de processos pendentes discutindo aquela
mesma questão e que pelo menos um desses processos esteja no tribunal. O IAC pode atuar
preventivamente quando ainda não há uma divergência. No IAC é possível que haja apenas 1 processo
discutindo aquela matéria, não sendo necessário vários processos pendentes discutindo aquela questão.
No IAC diz o art. 947, §4º que o objetivo é a prevenção da ocorrência da divergência entre câmaras ou
turmas do tribunal.
- Permitir questões de direito relevante seja julgada por colegiado maior; Alteração de Competência:
Promover a alteração de competência de modo que essa causa relevante seja julgado por um colegiado
maior. Daí o nome de assunção de competência, o colegiado assume a competência para julgar essa causa.
Pressupostos
a) Relevante questão de direito: Essa questão de direito pode ser material ou processual. Além disso, ela
pode envolver qualquer tipo de matéria. Não há restrição de matéria, o que importa é que seja relevante.
Essa questão relevante tem que ser uma questão de direito. Por mais que uma questão de fato seja
relevantíssima ela não comporta IAC. Ex: Discutir se os transgênicos são de fato prejudiciais a saúde
(questão se fato).
b) Grande repercussão “social”: A proposta é ter uma repercussão social tal como a repercussão geral.
Isso, o social abrange a repercussão econômica, política, jurídica, cultural. Será um “social” em sentido lato.
c) Não haver repetição de processo. EM 334 FPPC. Temos um pressuposto negativa, ou seja, não deve
estar presente no IAC. Se houver uma multiplicidade de processos sobre a mesma matéria, seria caso de
IRDR. Logo, o IAC teria uma competência residual.
Julgamento. Art. 947, §2º. Julga caso e fixa precedente. Precedente Vinculante (juízes e órgãos
fracionários)
O órgão terá 2 atribuições: vai usar a tese para julgar o caso mas a tese irá servir como precedente
obrigatório e ele vincula os órgãos fracionários e outros juízes. Vincula os juízes exceto se houver revisão
da tese. O precedente obrigatório pode ser superado. A superação de um precedente oriundo do IAC só
pode decorrer em razão de decisão dada em IAC, por analogia ao IRDR.
AULA - 02/12/15
1. Conceito
2. Objeto
3. Autoridade Pública
4. Capacidade das partes
5. Legitimidade
6. Prazo
7. Cabimento
8. Ministério Público
9. Assistência e Litisconsórcio
10. Procedimento
1. Conceito
O mandado de segurança contra ato judicial é um instituto que integra o sistema de impugnação das
decisões judiciais. O mandado de segurança também é cabível contra atos administrativos.
O mandado de segurança é um procedimento especial que visa proteger direito liquido e certo, não
amparado por habeas corpus e habeas data, violado ou ameaçado de lesão por ato ilegal de autoridade
pública – art. 5, LXXIX da CF.
2. Objeto
O mandado de segurança visa atacar um ato ilegal ou abusivo – ato coator. O ato coator pode ser uma ação
ou uma omissão. Além disso, o mandado de segurança também serve para atacar um ato lesivo que já
tenha ocorrido e serve também para evitar que uma lesão ocorra. O mandado de segurança então, pode
ser preventivo ou repressivo.
O ato judicial pode ser encaixado na definição de ato coator? A Lei 12.016/09 ( Lei do Mandado de
Segurança), no seu artigo quinto, afirma que não cabe mandando de segurança contra decisão judicial da
qual caiba recurso com efeito suspensivo e contra decisão judicial transitada em julgado. À luz desse
dispositivo legal, a doutrina e jurisprudência criaram algumas hipóteses de cabimento do mandado de
segurança contra ato judicial.
No CPC de 39, as decisões interlocutórias eram irrecorríveis. O CPC de 39 só previa recursos contra alguns
tipos de decisão. Naquela época, o mandado de segurança surgiu para atacar as decisões irrecorríveis,
sobretudo as interlocutórias. Com base nessa ideia, é que foi elaborada a sumula 267 do STF, segundo a
qual, cabe mandado de segurança contra ato judicial não passível de recurso idôneo.
Com o passar do tempo, o STF passou a entender que o MS também era cabível contra decisão recorrível,
desde que o recurso não fosse dotado de efeito suspensivo. Nesse sentido, havia doutrina que defendia a
tese de que para evitar a preclusão, antes de impetrar o MS deveria haver a interposição do recurso, ainda
que ele não fosse dotado de efeito suspensivo.
O CPC de 73, por sua vez, previu o agravo como um recurso cabível contra as decisões interlocutórias.
Apesar de o CPC ter trazido o agravo como um recurso cabível contra as interlocutórias e apelação como o
recurso cabível contra a sentença, nem sempre a apelação tinha efeito suspensivo e o agravo nunca tinha
efeito suspensivo. Em razão disso, a casuística do mandado de segurança aumentou. Depois de algumas
reformas feitas no CPC de 73, é que se previu a possibilidade de atribuição de efeito suspensivo a qualquer
recurso. Com essa inovação, a casuística do MS foi reduzida, pois ao invés de impetrar um MS, havia a
interposição de um recurso com o pedido de concessão do efeitos suspensivo no bojo do próprio recurso.
Com o CPC de 2015, as interlocutórias são irrecorríveis de imediato, somente algumas interlocutórias são
passiveis de agravo de instrumento. A questão decidida em uma interlocutória não recorrível por agravo
de instrumento não preclui, porque essa questão poderá ser impugnada em preliminar de apelação ou no
bojo das contrarrazões de apelação.
Diante desse novo cenário legislativo, a tendência é que o mandado de segurança venha a ser utilizado
nessas interlocutórias irrecorríveis de imediato por agravo de instrumento, uma vez que o ordenamento
não vai prever um meio de questionar imediatamente uma lesão/ameaça de lesão a um direito. Portanto, a
casuística do MS aumentou.
A doutrina e jurisprudência dizem que todo ato judicial irrecorrível pode ser objeto de mandado de
segurança. Ex: Decisão interlocutória dada no âmbito dos juizados. Ex: À luz do CPC de 2015, as
interlocutórias que não são passiveis de agravo de instrumento também são decisões atacáveis por MS.
Um segundo objeto do MS seria o ato judicial recorrível por recurso não dotado de efeito suspensivo
também pode ser objeto de mandado de segurança. Mas, parte da doutrina ressalva que ainda que o
recurso não seja dotado de efeito suspensivo, deve haver a interposição do recurso para depois impetrar o
mandado de segurança, para evitar a preclusão. Cássio Scarpnela Bueno diz que é indiferente a
interposição do recurso para impetração do mandado de segurança. Segundo ele, sempre haverá o direito
de impetrar o MS, independentemente de qualquer coisa.
Uma terceira hipótese de cabimento seria contra ato judicial recorrível por recurso dotado de efeito
suspensivo, desde que o ato judicial seja teratológico – que esteja eivado de manifesta ilegalidade,
inconstitucionalidade. Esse entendimento vem sendo adotado pelo STF.
Também cabe mandado de segurança contra uma omissão judicial que implique em abuso de direito.
Quando o julgador deixa, por exemplo, de proferir um ato judicial que lhe cabia, num prazo razoável, sem
justo motivo, há uma omissão que implica em abuso de direito.
A quinta hipótese de cabimento até um tempo atrás era bem controvertida, e diz respeito ao cabimento do
mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado. Parte da doutrina dizia que cabia,
parte dizia que não (porque cabe ação rescisória). A súmula 267 STF diz que não cabe mandando de
segurança contra decisão judicial transitada em julgado. A doutrina que defendia o cabimento do mandado
de segurança o fazia com base no fato de que na ação rescisória não podia haver um pedido de tutela
provisória para sustar os efeitos da decisão transitada em julgada. Contudo, houve uma reforma no CPC de
73, onde passou a ser prever expressamente que pode formular expressamente na ação rescisória o pedido
de tutela antecipada, no sentido de que seja suspensa a execução da decisão judicial transitada em julgado.
Em razão disso, caiu por terra a divergência doutrinária. Atualmente, a maior parte da doutrina defende
que não cabe MS contra decisão judicial transitada em julgado, uma vez que com a ação rescisória é
possível conseguir a suspensão da decisão rescindenda.
E se a decisão judicial transitada em julgado não for passível de rescisão? A doutrina vem entendendo que
cabe mandando de segurança contra decisão judicial transitada em julgado contra a qual não caiba ação
rescisória, à exemplo do que ocorre nos juizados especiais cíveis.
EM RESUMO:
A doutrina e jurisprudência diz que todo ato judicial irrecorrível pode ser objeto de mandado de
segurança. Uma decisão interlocutória proferida em sede de juizado especial é irrecorrível, só podendo ser
recorrida no final do processo, mas pode ser impugnada por mandado de segurança.
Segundo a doutrina e jurisprudência: Contra ato judicial recorrido por recurso não dotado de efeito
suspensivo também caberia mandado de segurança. A doutrina diz que ainda que o recurso cabível não
seja dotado de efeito suspensivo, deve primeiro interpor o recurso para depois usar o mandado de
segurança para se evitar a preclusão. Embora há autores que dizem que seria indiferente a interposição ou
não do recurso dotado de efeito suspensivo para fins de mandado de segurança.
Diz a doutrina que caberia mandado de segurança contra ato judicial recorrível por recurso dotado
de efeito suspensivo, desde que o ato judicial seja teratológico, ou seja, ato que esteja eivado de
manifesta inconstitucionalidade, ilegalidade. Esse é o entendimento que vem sendo utilizado pelo STF.
Caberia mandado de segurança contra uma ação ou omissão judicial. O ato coator pode ser uma
omissão, essa omissão tem que implicar abuso de direito quando o julgador deixa de proferir um ato
judicial que lhe cabia dentro daquele prazo estabelecido, sem justo motivo. Aqui haveria abuso de direito
passível de mandado de segurança.
Caberia mandado de segurança contra decisão transitada em julgado. Uma parte da doutrina
defendeu o cabimento de mandado de segurança contra decisão rescisória transitada em julgado. Tem
sumula do STF dizendo que não cabe mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgada,
mas muitas doutrinas dizia o inverso. Houve uma reforma no CPC/73 e passou a se prever que pode
formular na ação rescisória pedido de tutela antecipada no sentido de que seja suspensa a execução da
decisão, logo não seria possível o mandado de segurança para essa finalidade. A maior aparte da doutrina
defende que não caberia mandado de segurança contra decisão transitada em julgado pois com ação
rescisória poderia pedir a suspensão da decisão.
E se a decisão judicial transitada em julgado não for passível de rescisória? Caberia mandado de segurança?
Sim. Seria admitido. A doutrina diz que caberia mandado de segurança contra decisão transitada em
julgado, na qual não caberia ação rescisória. (igual como ocorre nos juizados).
3. Autoridade Pública
O ato coator, que abarca o ato judicial, deve ter sido praticado por uma autoridade pública. A autoridade
pública é todo agente público detentor de uma esfera de poderes ou de uma esfera de competências. O
juiz pode ser incluído nesse conceito de autoridade pública, uma vez que possui o poder para exercer a
jurisdição diante de um caso concreto.
Pode ser também que o objeto de uma potencial impetração do MS seja um ato judicial colegiado, como
um acórdão, por exemplo. Nesse caso, há quem diga que a autoridade publica praticante do ato coator
seria o próprio colégio. Por outro lado, há quem diga que a autoridade pública seria o presidente do
colegiado. Contudo, isso só faz sentido num contexto de um órgão administrativo. Então, na prática, seria
melhor impetrar contra o colegiado ou contra um dos julgadores individualmente considerado.
Qualquer pessoa natural, jurídica, entes despersonalizados ou as universalidades podem impetrar mandado
de segurança.
5. Legitimidade
A legitimidade ativa no MS pode ser ordinária ou extraordinária. Será ordinária quando o próprio titular do
direito liquido e certo impetra o MS. Será extraordinária quando um substituto atua em nome próprio para
defender direito liquido e certo alheio. A legitimidade extraordinária é mais comum no mandado de
segurança coletivo.
A legitimidade passiva no MS é da pessoa jurídica a qual a autoridade publica se vincula. Se a autoridade
publica for um juiz, deve se acionar a pessoa jurídica ao qual ele se vincula. Se for juiz federal, aciona a
União, se for estadual, aciona o Estado.
A doutrina entende que a autoridade publica não tem legitimidade passiva. A doutrina afirma isso porque é
a pessoa jurídica que arca com os prejuízos decorrentes do ato coator. Não é o agente público que
responde pecuniariamente, por exemplo.
6. Prazo
O prazo para impetrar o mandado de segurança é um prazo decadencial de 120 dias, contados a partir da
ciência do ato coator. A doutrina afirma que o mandado de segurança preventivo não precisa observar o
prazo decadencial de 120 dias. Se o mandado de segurança for impetrado fora desse prazo, deve ser
extinto sem exame de mérito.
7. Cabimento
O MS visa proteger direito liquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data. O direito
líquido e certo é um direito fundado numa situação fática comprovada por prova pré-constituída –
documentada. Além disso, o direito não pode ser amparado por habeas corpus ou habeas data.
8. Ministério Público
A lei do mandado de segurança prevê que nesse procedimento o MP deverá intervir. A doutrina afirma que
o MP só deve intervir se houver algum interesse que justifique a intervenção. Ex: Interesse público,
interesse de incapaz. Há quem diga que em todo MS o MP deve atuar.
9. Assistência e Litisconsórcio
10.Procedimento
O Mandado de Segurança se inicia por meio da distribuição de uma petição inicial, que deve observar os
mesmos requisitos de qualquer petição inicial. A petição inicial do MS deve estar instruída com a prova
pré-constituída – prova documental/documentada que comprova a situação fática narrada no MS. Na
petição inicial do mandado de segurança também pode ser requerido um pedido de liminar, desde que seja
demonstrado o fumus boni iuris e o periculum in mora.
Há quem diga que a liminar no MS tem natureza satisfativa, outros dizem que é uma natureza meramente
cautelar. Pode ser que o MS tem sido impetrado para suspender os efeitos de uma decisão, sendo o
pedido principal o pedido de anulação da decisão. Nesse caso, evidentemente que a liminar teria um
caráter cautelar.
Se o pedido de liminar for deferido, será deferido por meio de uma interlocutória recorrível por agravo de
instrumento. Essa decisão interlocutória também pode ser impugnada por pedido de suspensão.
Se a petição inicial estiver regular, e tendo sido apreciado o pedido liminar (se houver), a autoridade
coatora deve ser notificada para prestar informações em 10 dias.
As informações são subsídios fáticos que a autoridade pública deve fornecer ao juízo do mandado de
segurança. A pessoa jurídica de Direito Público e eventuais litisconsortes devem ser citados para
apresentação da defesa. Há quem diga que o prazo de defesa seria de 10 dias ou o 15 dias (prazo de defesa
geral previsto no CPC).
Depois da parte de informações e da defesa, o MP é chamado para intervir.
Após isso, o juiz pode proferir sentença, porque no MS não há uma fase instrutória. A sentença do MS é
recorrível por apelação não dotada de efeito suspensivo. Também cabe contra a sentença do MS pedido de
suspensão.
A sentença do MS não condena em honorários advocatícios. Além disso, a lei prevê que o descumprimento
da sentença do MS configura crime de desobediência.
Há casos em que o MS é de competência originária do Tribunal. Se for esse o caso, contra o acórdão
denegatório de Mandado de Segurança cabe ROC. Se for um acórdão concessivo, cabe REX/RESP.
11.Competência
A competência para processar e julgar MS contra ato judicial é sempre de um tribunal. A regra geral é que
todo tribunal tem competência para processar e julgar os mandados de segurança de seus próprios
julgados. Quando o MS é impetrado contra ato judicial de juiz de primeiro grau, a competência para julgar
o MS é do tribunal ao qual o juiz de primeiro grau se vincula, ou a turma recursal ao qual o juiz se vincula (
se for no âmbito dos juizados).
Suspensão de Segurança
1. Noções iniciais
2. Fundamentos
3. Legitimidade
4. Prazo
5. Competência
6. Procedimento
7. Recurso
8. Novo pedido de suspensão
9. Manejo simultâneo de agravo de instrumento e pedido de suspensão
1. Noções iniciais
Também chamada de suspensão de eficácia ou suspensão de execução, é um incidente processual que visa
atacar um provimento jurisdicional de efeitos imediatos proferido contra o poder publico capaz de violar
interesse público formado pela ordem, segurança, saúde, ou economia publica. Esse nome decorre do fato
de esse instituto ter sido criado no âmbito do mandado de segurança. Atualmente, esse instituto pode ser
utilizado no bojo de qualquer procedimento.
Uma decisão capaz de produzir efeitos imediatos é uma decisão irrecorrível ou que cabe recurso não
dotado de efeito suspensivo.
2. Fundamentos
Há quem diga que se trata de um meio político de controle das decisões judiciais. Segundo Marcelo Abelha,
a suspensão de segurança deve estar fundada apenas na violação à ordem, segurança, economia ou saúde
pública. Outra parcela da doutrina entende que a suspensão de segurança é um meio técnico de controle
das decisões judiciais. Para essa doutrina, não basta a demonstração de violação a um interesse público,
sendo necessária a demonstração de ilegalidade ou inconstitucionalidade na decisão judicial.
Há várias leis em que há previsão acerca do pedido de suspensão.
A Lei 4348/64 prevê pedido de suspensão de segurança em sede de mandado de segurança. A própria lei
de mandado de segurança fala sobre esse instituto. A Lei 8742/92 trata do pedido de suspensão em
qualquer procedimento. O pedido de suspensão também tem previsão na Lei de Ação Civil Pública e na Lei
de Habeas Data.
3. Legitimidade
Tem legitimidade para se valer do pedido de suspensão uma pessoa jurídica de Direito Público – União,
Estados, DF, municípios, suas autarquias e fundações e o MP. Há doutrina que afirma que o MP só tem
legitimidade para pedido de suspensão em sede de mandado de segurança. Para essa doutrina, o MP não
teria legitimidade para se valer do pedido de suspensão em outros procedimentos. Contudo, outra parcela
da doutrina entende que a CF e o próprio CPC preveem como função institucional do MP a defesa do
interesse público, havendo, portanto, legitimidade para o MP sempre se valer do pedido de suspensão de
segurança (desde que seja em defesa do interesse público).
Além disso, a doutrina também entende que as sociedades de economia mista, empresas publicas e
concessionárias de serviço público também teriam legitimidade no pedido de suspensão, desde que para
proteger um interesse público.
A doutrina afirma que aquele que se vale do pedido de suspensão não precisa ser parte no processo
originário.
4. Prazo
5. Competência
A competência para a suspensão de segurança é do presidente do tribunal competente para julgar recurso
cabível contra decisão objeto de suspensão de segurança. Se a decisão que se quer atacar é uma decisão
monocrática do relator, a suspensão de segurança será de competência do órgão colegiado interno (que
seria competente para julgar o agravo interno). Se a decisão que se quer atacar é uma sentença de um juiz
de primeiro grau, a suspensão de segurança será de competência do tribunal ao qual o juiz se vincula (que
seria competente para julgar a apelação).
6. Procedimento
O pedido de suspensão de segurança não pode ser iniciado de ofício, depende de provocação. A
provocação é feita por meio de uma petição dirigida ao presidente do tribunal competente para julgar a
suspensão de segurança. Essa petição deve narrar as circunstâncias fáticas e jurídicas da causa originária.
Além disso, a petição deve indicar os fundamentos da decisão objeto da suspensão de segurança, indicando
também a causa que viola/ameaça de lesão o interesse público. Por fim, essa petição deve formular o
pedido de suspensão dos efeitos da decisão impugnada por meio da suspensão de segurança.
Recebida essa petição, o presidente do tribunal poderá adotar algumas posturas. Se a petição não contiver
todos os elementos necessários, o presidente do tribunal poderá intimar o requerente para emendá-la. Se
a petição estiver regular, o presidente poderá inadmitir liminarmente o pedido de suspensão de segurança.
Se a petição estiver regular, o presidente também pode acolher liminarmente o pedido de suspensão, onde
depois ouvirá a parte contrária e o MP. Se a petição estiver regular, o presidente também poderá, antes de
acolher ou rejeitar liminarmente o pedido de suspensão, ouvir a parte contrária e o MP. Esses sujeitos
apenas prestam informações, não apresentam uma defesa de fato.
7. Recurso
Contra a decisão que acolhe/rejeita suspensão de segurança cabe agravo interno. A lei que trata sobre
pedido de suspensão de segurança em sede de MS diz que o prazo desse agravo é de 5 dias ( que é o prazo
do CPC de 73). A lei que trata da suspensão de segurança em qualquer procedimento diz que é de 10 dias. E
o CPC de 2015 diz que o prazo é de 15 dias. A partir da entrada do CPC de 2015, deve ser aplicado o prazo
de 15 dias. Hoje, a doutrina tem entendido que o prazo de interposição desse agravo é de 5 dias.
Se o agravo interno for interposto pelo poder publico e for improvido, ou se o agravo interno for interposto
pelo particular, e for provido, caberá formulação de um novo pedido de suspensão a ser julgado pelo
STJ/STF, conforme o caso.
Então, o novo pedido de suspensão é cabível quando o agravo interno do poder publico for improvido, ou
quando o agravo interno do particular for provido.
Havendo uma dupla violação – constituição e lei infraconstitucional devem ser manejados dois pedidos de
suspensão. Primeiro se direciona ao STJ. Se o STJ entender que a violação da CF abarca a violação da lei
infraconstitucional, remeterá para o STF, que se discordar, devolverá ao STJ. Há quem entenda que quando
há uma violação da lei federal e da constituição, a violação constitucional sempre abarca a violação à lei
infraconstitucional. Assim, seguindo esse entendimento, deveria ser apresentado um único pedido de
suspensão dirigido diretamente para o STF.
Se o poder publico for vitorioso no pedido de suspensão não cabe novo pedido de suspensão, e nem cabe
REX/RESP para o particular.
Nada impede que contra uma mesma decisão seja interposto o agravo de instrumento pelo poder publico e
pedido de suspensão de segurança, inclusive pelo mesmo sujeito. Nada impede o manejo simultâneo de
recurso e pedido de suspensão (as vezes o pedido é interposto contra sentença e caberia apelação). A
causa de pedir e pedido de cada um desses institutos são distintas. No recurso, se demonstra um erro de
procedimento ou erro de julgamento, havendo pedido de anulação ou reforma da decisão recorrida. No
pedido de suspensão, a causa de pedir é a violação do interesse público. E o pedido é o de suspensão dos
efeitos da decisão, objeto da suspensão da segurança. Como a causa de pedir e o pedido são diferentes não
há nada que impede o manejo simultâneo desses institutos.
AULA 03/12
Remessa Necessária
2. Cabimento
A remessa necessária é cabível quando for prolatada uma sentença contra a fazenda publica. A fazenda
publica seria a união, estados, DF, municípios e suas autarquias de direito público. A doutrina explica que
na verdade o legislador trata das sentenças dadas em sede de processo de conhecimento, pois para as
sentenças dadas em contexto executivo temos as regra do artigo seguinte. A doutrina diz que teria que ser
uma sentença de mérito. Há quem exclua a decisão interlocutória mas Paula entende isso como
equivocado. Sentença que condena a fazenda em honorários se submeteria a remessa necessária. Esse é o
entendimento da sumula 325 STJ que fala que a remessa necessária abrange os honorários. A outra
hipótese de remessa necessária prevista é dos casos em que é dada uma sentença de procedência aos
embargos oferecidos pelo devedor em sede de execução fiscal, sendo uma sentença contra a fazenda. Não
abrange sentença de improcedência dos embargos da fazenda na execução contra ela pois aqui já houve a
remessa necessária da sentença dada contra a fazenda no processo de conhecimento.
Previsão de remessa necessária da sentença concessiva de mandado de segurança contra a fazenda. Art. 14
da lei do mandado de segurança. A sentença de carência de ação e improcedência do pedido na ação
popular. Determinada a remessa necessária em sede de desapropriação quando for dada uma sentença
contra a fazenda que a condene no dobro do que foi oferecido.
3. Procedimento
Uma vez prolatada a sentença, não havendo apelação, cabe ao juiz de oficio remeter os autos para o
tribunal superior. Se ele for omisso, demorar 1 ano, não há prazo. Se ele for absolutamente omisso, o
próprio tribunal pode os autos. Havendo apelação é preciso que o juiz processe a apelação em primeira
instancia para depois remeter aos autos, coletando as contrarrazoes da outra parte. Mas a remessa
necessária não tem prazo, não exige preparo, não exige contrarrazoes, logo não seria recurso. No tribunal o
processamento da remessa necessária é parecido com o procedimento da apelação, tendo que ser incluída
em pauta, sob pena de nulidade do julgamento. No CPC 73 o relator poderia negar provimento
liminarmente a remessa necessária. No CPC 2015, art. 932 o relator pode negar provimento
monocraticamente a remessa necessária. Sumula 253 do STJ fala desse poder do relator, nos levando a
concluir que o relator terá poderes para decidir monocraticamente a remessa necessária. Justifica-se com o
argumento de que a remessa necessária foi criada para beneficiar a fazenda publica. A qualidade da sumula
é questionada por doutrina.
Cabe recurso no julgamento da remessa necessária? Sim. Um agravo interno, embargo de declaração,
recurso especial, recurso extraordinário. Se discute o cabimento da técnica da aplicação do debate. O
julgamento da remessa necessária mesmo não unanime não é um julgamento de apelação mas há outros
que dizem que da no mesmo.
Há entendimento de que essas exceções a remessa necessária não se aplicam a remessa da sentença
concessiva do mandado de segurança.
Enunciado 164 FPPC dizendo que não cabe remessa necessária se sentença da fazenda publica
Enunciado 311 FPPC prevê uma regra de transição para um novo regramento da remessa necessária. O
entendimento é que o regramento aplicado a remessa necessária deve ser aquele em vigor na data que foi
prolatada a sentença. Para Paula o marco seria a data da publicação da sentença e não a data em que ela
for prolatada. Há precedente do STJ nesse sentido.
Reclamação Constitucional