Teologia Atividades Complementares - Livro Jairo da Mota Bastos
SÃO PAULO 2014 1. Introdução
Este livro apresenta uma seleção de artigos de Gustavo
Gutiérrez, abordando temas já desenvolvidos em seu livro “Teologia da Libertação”. “Os diferentes temas tratados lembram que é na densidade do momento, no hoje de que fala o evangelho de Lucas, que se vivem em profundidade a mensagem de Jesus e a fraternidade entre as pessoas.”, como dito na Apresentação deste livro. O tempo, para os gregos poderia ser definido como “chronos” (χρόνος), se fosse uma referência ao tempo linear e poderia ser “kairós” (καιρος), se fosse o tempo especial, significativo condensado. A segunda acepção de tempo é a que permeia os textos deste livro: o tempo é o momento da graça, em que Deus interfere discretamente e de forma invisível no humano e em sua história. Tendo vivenciado as adversidades, as agruras sofridas por seu povo ao mesmo tempo em que sentia a fé das comunidades inseridas entre os mais pobres faz com que a reflexão teológica constante destes textos seja sensível à densidade humana e salvífica do presente. Este é o vínculo a unir estas páginas.
2. Comentários Gerais
Ao contrário do livro "A fé que ousa falar", este não se dedica a
questionar, direta ou indiretamente, às estruturas medievais da Igreja, fazendo, no entanto, um ataque frontal ao seu posicionamento teológico. Aparentemente, aceita a existência das estruturas arcaicas, medievais presentes na Igreja. O sistema administrativo não é questionado, como se não afetasse ou não dificultasse o posicionamento em defesa dos pobres e oprimidos. O ataque ao estamento teológico não é feito sem antes se fazer uma profissão de fé como:
"Para mim, fazer teologia é escrever uma carta
de amor ao Deus em que creio, ao povo a que pertenço e à Igreja de que faço parte. Um amor que não desconhece as perplexidades, e até os dissabores, mas que é, sobretudo, fonte de profunda alegria." A defesa da Teologia da Libertação é feita sem que se apresente qualquer fonte sobre premissas elencadas como fundamentais para o desenvolvimento de tal teologia. Assim, se afirma com absoluta certeza que os "setores dominantes da humanidade buscam eliminar tudo o que dá unidade e força aos setores explorados e marginalizados." Mas, qual a base científica para tal afirmação genérica? Sem ela, se torna um argumento demagógico, apenas para conquistar os que sofrem, empurrando para o exterior uma possível culpa. Jogando para fatores externos - situação econômica, política, imperialismo - a causa única de uma situação dolorida, sofredora real. Agindo da mesma forma que a teologia criticada. Pior, ataca todo o sistema político, econômico e social sem apresentar qualquer proposta que pudesse ficar em seu lugar. Dessa forma, se transforma num grito demagógico, ideológico, vazio. A Igreja de todos, inclusive dos pobres, deve ser pensada teologicamente, mas, ideologia política não cabe. Interessante é notar que se faz uma boa defesa da natureza, ficando ao lado dos "setores dominantes", que já acabaram com seu meio ambiente e agora exigem que se preserve a natureza nos países satélites, deixando que as fazendas produtoras de alimentos se desenvolvam nos países centrais. Ou seja, atacam o sistema aplicado pelos países centrais, mas concordam com eles quando preferem que sejam criados mais e melhores empregos lá do que aqui. Aqui continuará a ser, apenas o celeiro de mão de obra barata. Dessa forma, seguirá a haver pobres para serem protegidos, defendidos por eles. Lutar para reduzir e eliminar a pobreza é lutar para que os governos criem condições para educar e desenvolver empregos para todos, gerando empregos com remuneração adequada para todos. Por enquanto, não se apresentou qualquer alternativa para o sistema econômico ou político que possa substituir o que hoje temos. E nisso a Igreja vem falhando há muito tempo: ela não tem tido coragem de confrontar os poderosos de plantão para insistir com eles para aplicarem recursos no desenvolvimento da educação para todos; na criação de condições para gerar oportunidades iguais para todos; na criação de empregos decentes com remuneração suficiente para se ter uma vida plena. A igreja tem se mantido ao lado dos poderosos, dos opressores; sua opção tem sido se manter ao lado do poder. As estruturas feudais da Igreja têm permitido que essa opção tenha se mantido sem muitos percalços. Dessa forma é mais fácil manter o status, manter privilégios, manter o aparente respeito e temor das pessoas simples e sem poder, sem condições mínimas de vida, sem visibilidade. Essa é a Igreja que ainda resiste, que ainda se mantém. Infelizmente. Este livro mostra a base em que se desenvolveu a Teologia da Libertação: a realidade dos povos indígenas da América Latina, conquistados pelos europeus opressores e exploradores, que continuavam - e continuam, provavelmente, - a serem invisíveis para a Igreja. Essa realidade não é, necessariamente, a mesma dos pobres do Brasil. Com certeza, muitas questões podem ser postas como equivalentes, mas não iguais. Aqui, os pobres são o resultado de uma mistura racial intensa, sendo difícil se distinguir a qual delas eles pertencem - exceção feita aos negros. Estes são explorados e oprimidos muito mais por serem pobres do que por serem negros, embora não se possa descartar a presença de intenso preconceito.
3. Comentário Final e Conclusão
O livro busca, por caminho ideológico, o que a Igreja deveria
buscar por inspiração do Cristo: a opção pelos pobres. Não para serem massa de manobra, não para servirem a propósitos políticos partidários, mas para serem servidos como Cristo os serviu. Para serem elevados à condição de seres humanos completos. Atualmente, o povo está sob o jugo da falta de oportunidades de se desenvolver como pessoa; da falta de condições – sociais, econômicas - para exercer seu direito à liberdade. Hoje, a situação política de nosso país mostra que está difícil de se conseguir um desenvolvimento econômico suficiente para iniciar um processo de desenvolvimento integral com o objetivo de se “promover todos os homens e o homem todo” 1.
4. Bibliografia
GUTIERREZ, G. A densidade do presente. São Paulo: Loyola, 2008.