Anda di halaman 1dari 46

1

UNIP

CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO

COLET ÂNEA DE TEXTOS DIDÁTICOS

ELABORADOS PELO PROF. DR. WALiHR BETTOI

2013
2

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO


(I

ÁPRESENT AÇÃO DA DISCIPLINA

O objetivo da disciplina Psicologia: Ciência e Profissão é que você obtenha informa-


ções sobre a diversidade da Psicologia, como uma área do conhecimento científico humano, e
sobre a diversidade da atuação profissional do psicólogo. Além de propiciar a você o contato
com essas informações, outro objetivo da disciplina é que você reflita sobre os efeitos que a
atuação do psicólogo produz sobre a sociedade, isto é, sobre a função social do profissional.
A importância desses objetivos se justifica na medida em que se tem observado que
parte significativa dos alunos que entram no curso não costuma imaginar o que vai encontrar
ao entrar em contato com a ciência da Psicologia: uma imensa variedade de fom1as diferentes
de pensar, de idéias, de crenças e convicções, que se denominam todas como Psicologia, co-
existindo no mesmo espaço psicológico. Além disso, muitos dos alunos não conhecem asam-
plas possibilidades de atuação profissional do psicólogo, ou conhece apenas as possibilidades
mais tradicionais.
Para atingir esses objetivos, a disciplina oferecerá a você um conjunto de condições
educacionais, presentes neste material com o qual você está entrando em contato. Essas con-
dições são constituídas de textos, em que serão apresentadas algumas informações sobre a
Psicologia e a atuação do psicólogo e em que se propõem algumas idéias para que pensemos
criticamente sobre alguns pontos envolvidos. Cada um dos textos é acompanhado de ativida-
des de estudo e reflexão sobre ele.

ORGANIZAÇÃO DOS TEXTOS

Os textos a serem lidos e estudados abordam quatro tópicos, diretamente relacionados


aos objetivos da disciplina: 1. A diversidade da ciência psicológica; 2. A diversidade da atua-
ção do psicólogo; 3. A atuação do psicólogo em contextos específicos e 4. A função social da
atuação do psicólogo. Algumas breves informações sobre os textos são apresentadas a seguir:

i*l (\1 P.í e2-eÇ.


\.M- 1 "L
M ~~~. . . A,b~J:õ ?~~e.c ~r'c....::,
Clcuà'vO ~-IGu-e\_~c:Lo .
- ... - \) f<.lv ..J\l.Q"c.S
l
w..w.. o~~ v..o 1'--e/)!Th
3

A DIVERSIDADE DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA

Texto 1: O assunto do primeiro texto já foi mencionado no início desta apresentação:


nele se apresenta uma característica fundamental da Psicologia como Ciência, que é a diversi-
dade de pensamento e conhecimento psicológico. Como dissemos, muitos alunos costumam
se surpreender ao perceber que ao invés de ser uma área de conhecimento única, terminada,
coesa e sobre a qual não há divergências, a Psicologia é uma área em que convivem idéias
muitas vezes opostas, que partem de crenças e pressupostos bastante diferentes sobre o Ho-
mem, sobre o mundo e sobre outras questões fundamentais. O texto vai apresentar algumas
infonnações e esclarecimentos in1portantes sobre isso.

(O) -03·i3J A DIVERSIDADE DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO


Texto 2: Este texto contém informações básicas sobre os contextos de atuação profis-
sional dos psicólogos e as principais atividades desenvolvidas neles. Essas informações bási-
cas são fundamentais para que você possa se preparar para o curso que está agora começando.
É importante que você conheça alguns tennos "técnicos" e algumas informações elementares
sobre a profissão e sobre o que o psicólogo faz profissionalmente, para que seu contato com o
curso seja mais proveitoso.
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS

Texto 3: Neste texto se apresentam informações gerais sobre a atuação do psicólogo


em contextos específicos de atuação, mencionados no texto anterior. Na realidade, ele sedes-
dobra em vários outros textos, em que iremos nos deter em algumas patiicularidades daqueles
contextos citados. Assim, a ampla variedade de contextos específicos agrupados sob a deno-
minação de contexto da Saúde receberá alguma atenção e detalhe (por exemplo, o consultório
particular, o Hospital Geral e as Instituições de Saúde). Também serão abordados o contexto
Educacional, o Organizacional (do Trabalho) e o de Pesquisa. Em todos eles a ênfase estará
na apresentação de algumas atividades neles desempenhadas e no levantamento de alguns
pontos para reflexão.
A FUNÇÃO SOCIAL DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
Texto 4: Este texto contém critérios para a reflexão sobre a atuação profissional do
psicólogo. Você será apresentado, através do texto, a algumas questões que têm sido levanta-
das por vários autores que pesquisam e refletem sobre a profissão do psicólogo brasileiro.
Você irá entrar em contato com um critério que avalia a função social do trabalho do profis-
sional, considerando seus efeitos sobre a sociedade.
. -·.:. 4

Além da leitura e discussão dos textos descritos, a disciplina PCP prevê que seus alu-
nos realizem um trabalho de campo, descrito a seguir.

TRABALHO DE CAMPO: CONTATO DIRETO COM PROFISSIONAIS, ATRA-

VÉS DE ENTREVISTAS

As informações sobre a atuação do psicólogo, veiculadas nos textos que você irá ler,
serão complementadas por outras infonnações resultantes de uma entrevista que você realiza-
rá com um profissional que esteja atuando no mercado de trabalho de sua cidade, nos diversos
contextos de atuação existentes. Durante aulas específicas, você receberá instruções e orienta-
ção para este trabalho, que será realizado em grupo.
5

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO TEXTO 1

A DIVERSIDADE DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA

O primeiro assunto que será apresentado refere-se a uma questão que precisa ser abor-
dada logo de início na sua formação de psicólogo. Essa questão diz respeito à própria área de
conhecimento que você resolveu estudar.
A pergunta que se coloca é a seguinte: Ao falannos em Psicologia estamos falando de
um corpo de conhecimento único, sólido, indivisível e coeso ou estamos nos referindo a uma
forma de pensamento sobre o fenômeno psicológico humano, assim como existiriam outras, e
eventualmente até diferentes, formas de pensar e conceber esse fenômeno? Ao invés de nos
referirmos à "Psicologia" (no singular) seria mais apropriado falar nas "Psicologias"?
Estas e outras interessantes questões são discutidas no texto que você vai ler. Ao final
dele você encontrará um roteiro de atividades de leitura e reflexão sobre os assuntos aborda-
dos que poderá ser bastante útil nesta sua prin1eira atividade de leitura da disciplina.

A DIVERSIDADE CARACTERÍSTICA DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA 1

Podemos começar sua primeira leitura desta disciplina imaginando alguém nos seus
primeiros dias como aluno ou aluna de Psicologia, começando a freqüentar a faculdade eco-
nhecendo todas as matérias, bastante curioso em relação ao que vai encontrar pela frente. Este
aluno curioso quase certamente tem algumas expectativas, imagina determinadas coisas sobre
a Psicologia e sobre a profissão e espera coisas de seu curso. Se fosse possível a gente adivi-
nhar essas expectativas, poderíamos encontrar alguém pensando o seguinte: "Bom, estou
pronto pra começar a aprender a Psicologia e o que o psicólogo faz. Tenho 5 anos pela frente
pra 'devorar' o máximo que eu puder do que ela sabe sobre o ser humano. Não vejo a hora de
conhecer essa 'coisa' chamada Psicologia!"
O pensamento desse estudante imaginário poderia estar revelando algumas expectati-
vas que precisam ser comentadas aqui, nesta sua primeira leitura, porque elas estão diretamen-
te relacionadas ao que vai acontecer neste curso que você está começando. Vamos falar espe-

1
Colaboraram na elaboraçào deste texto os professores Rita H. N. Gabriades e Carlos E. Costa
6

cificamente de expectativas dos alunos relacionadas à própria Psicologia e à profissão do psi-


cólogo. : '-··

Poderíamos dizer que aquele estudante, no fundo, imaginava a Psicologia como algo

único, mencionado no singular, algo como uma ciência que já acumulou conhecimento sobre
o ser humano. Ou seja, ele acredita que para todos os temas há uma resposta certa e acabada e
que, portanto, seu compromi.§SO para com o curso seja o de assimilação das "verdades" sobre
a mente humana, ou sobre a essência humana, ou coisa que o valha, que será transmitida por
um professor detentor absoluto do conhecimento dos "mistérios da alma humana", já que "i-
niciado" nesta "arte" e com alguns anos de prática profissional. À medida que este aluno co-
meçar a se aprofundar no curso começará a perceber que, na realidade, as coisas não são exa-
tamente assim.
Em primeiro lugar, ele verá que o conhecimento psicológico não é alguma coisa que
está terminada, que é só procurar uma faculdade de Psicologia e, com a maior disposição e
empenhos possíveis, se dedicar a absorver tudo o que conseguir desse conhecimento pronto,
que está lá disponível para todos os interessados. A experiência do aluno com o curso mostra-
rá que o conhecimento psicológico está em constante construção e que ele mesmo, o próprio
aluno, poderá vir a participar desta produção de conhecimento.
Em segundo lugar, ele irá descobrindo que aquilo que em geral se chama de Psicologi-
a, ou conhecimento psicológico, não tem uma única "cara", nem "fala" uma única língua.
Quer dizer, à medida que ele for se aprofundando no seu curso, e for entrando em contato com
seus vários professores, começará a perceber que, por exemplo, sobre um mesmo assunto e-
xistem diferentes pontos de vista, diferentes afmnações, diferentes explicações teóricas que o
abordam. Poderá descobrir que existem diferentes definições do que é a Psicologia, assim
como psicólogos diferentes podem pretender atingir com ela diferentes objetivos e usam dife-
rentes métodos de trabalho para atingi-los. Por exemplo, um aluno que perguntasse a diversos
profissionais da área "O que é a Psicologia?", ficaria espantado com o número de respostas
diferentes que obteria - algumas, inclusive, parecendo dizer o oposto da outra. O suposto alu-
no poderia ficar tentado a pensar: "Bom, alguém deve estar certo", o que teria como conse-
qüência a suposição de que os demais profissionais estariam errados. O que poderia pensar
este aluno se disséssemos a ele que, num certo sentido, todos estão "certos"? Lá pelas tantas,
aquele aluno se pergunta: "E afinal de contas, tudo isso é Psicologia?! Eu estudo uma teoria e
aprendo que tal coisa é A. Aí vem outro professor, eu estudo uma outra teoria que diz que
aquela tal coisa é B e não A. E aí? Como é que fica?! Se tudo isso está sendo apresentado pra
mim como Psicologia, não seria melhor falar 'Psicologias'?!" Talvez esse aluno nem imagi-
7

nasse que alguns estudiosos responderiam afirmativamente à sua pergunta. "Sim, diriam eles,
esta é uma característica fundamental da Psicologia, é esta a 'cara' dela atualmente. Seria
mais adequado falar em 'Psicologias', portanto". Esta é, por exemplo, a posição que é defen-
dida por um estudioso do assunto, o professor e psicólogo Luis Claudio Figueiredo (ver ref~­
rência ao final deste t~_xtoJ,_ ~

A Psicologia, diferentemente de outras ciências, não tem um objeto único de estudo e


não tem uma fom1a única de abordá-lo (ou seja, não possui um método de estudo único). Se
pensannos na Psicologia como um todo, ela estuda fenômenos bastante variados, como a
mente, o inconsciente, o comportamento, as relações humanas etc. Às vezes interessa-se pela
Fisiologia, outras por algo menos palpável, às vezes está interessada no indivíduo, outras no
grupo; às vezes dá muita importância ao "interior" dos indivíduos como detetminante de seus
atos, outras concentra-se na influência do ambiente e da educação sobre o comportamento
humano. Portanto, a Psicobgia é marcada pela DIVERSIDADE. Diversidade teórica, diversi-
dade metodológica, diversidade prática, diversidade de crenças etc.
Figueiredo (1992) se refere a essa característica da Psicologia como o "estado frag-
mentar do conhecimento psicológico" e diz que a Psicologia tem sido considerada um "espaço
de dispersão". Isto é, o conhecimento psicológico não é "uno", único, coerente, no geral, e
totalmente integrado. O que se observam são diferentes formas de pensamento em Psicologia,
"linhas" ou "correntes" de pensamento, às vezes também chamadas "abordagens". Se consi-
" derannos a Psicologia como um espaço, poderíamos observar que estas diferentés formas de
;. pensamento ocupam diferentes pontos deste espaço, já que não têm as mesmas origens e obje-
·-'
% tivos.
3
Note que, a partir desse ponto de vista, não há porque considerar, de antemão, essa ca-
1
<$
~ racterística "fragmentar" ou "dispersiva" da Psicologia como algo ruim, nocivo, desorganiza-
::;

c3 do. Independente de como pudéssemos avaliar essa situação, se boa ou ruim, o que se propõe
~ é que essa~ a característica fundamental da Psicologia. Aquilo que no primeiro momento po-
~
~ deria parecer caótico, poderia vir a mostrar algum sentido, principalmente quando começamos
c ;;:
+ "' a estudar a origem de toda essa dispersão, de todas essas convergências e divergências que se
~

i
~
f
"
~ encontr;::::~::o(l;:;:)(::i:: :::s,::,::~~~:::~s;::::~cllnento psicológico" para se
referir às origens dessas diferentes formas de pensamento em Psicologia. Ele define as matri-
zes como "grandes conjuntos de valores, normas, crenças metafisicas, concepções epistemo-
lógicas e metodológicas que subjazem às teorias e às práticas profissionais dos psicólogos" .

I 'I
.. '··.;
8

Provavelmente você não deve estar muito familiarizado com essas expressões que
compõem essa definição, mas o que ela pretende explicar é que, ao)ongo de sua história, a
Psicologia foi sendo construída sob diferentes influências sociais, culturais, políticas e históri-
cas que foram determinando as diferentes trajetórias que as diversas correntes de pensamento
foram assumindo. "Matriz", remete ao sentido de "mãe", aquela que dá origem e, nesse senti-
do, ao falar em "matrizes", o autor se refere às diversas "mães", ou matrizes geradoras, do
conhecin1ento psicológico. Em detenninados momentos da História, aquilo que se pensava
sobre várias coisas relacionadas ao ser humano era diferente e variava em termos de valores e
normas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo: O que é certo e etrado?, Como o homem
deve se comportar? etc.), crenças metafísicas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo:
Quem é o Homem? Que características tem? Como é a existência humana? etc.), concepções
epistemológicas e metodológicas (por exemplo, respostas a perguntas do tipo: Como se obtém
o conhecimento? Qual a confiança que se pode ter em um conhecimento? Quais os procedi-
mentos mais adequados que o homem deve utilizar para conhecer a si e ao mundo? etc.). Co-
mo as respostas para essas e outras perguntas não foram sempre as mesmas ao longo da Histó-
ria, isso acabaria determinando as diferentes trajetórias que a construção do conhecimento
psicológico foi assumindo. O conhecimento dessas diversas "mães" ajudaria os psicólogos,
portanto, a entender aquilo que, apenas aparentemente, seria sinal de caos e desorganização.
Seria curioso retomarmos o exemplo daquele aluno imaginário depois de ele ter enten-
dido que não faria sentido ter como expectativa o encontro com uma "única" Psicologia na
faculdade. Acontece que, agora, tendo constatado que existem várias "Psicologias", ele en-
frenta uma certa angústia, um certo desconforto quando se pergunta: "E eu, nisso tudo?",
"Qual (ou quais) das Psicologias eu vou adotar?" "Quantas abordagens diferentes posso ado-
tar?", "Qual vai ser a 'minha' Psicologia?"
Sobre esse conflito vivido por nosso aluno imaginário, Figueiredo (1992) faz algumas
considerações importantes. Ele acredita que o aluno de Psicologia e o próprio psicólogo mui-
tas vezes não conseguem enfrentar essa constatação de que a Psicologia é um espaço em que a
diversidade predomina e reagem à angústia que isso provoca, de duas formas diferentes. As-
sim, (a) ou ele passa a acreditar que só existe uma ~sicologia "verdadeira", rejeitando, em
princípio, todas as outras, sem se preocupar em conhecê-las ou, mesmo, não admitindo ou
aceitando a própria existência de formas de pensar diferentes da sua (seriam os "dogmáticos",
na terminologia do autor) ou (b) ele ignoraria que as várias "Psicologias" são, em muitos ca-
sos, radicalmente diferentes e incompatíveis (porque originaram-se de matrizes totalmente
diferentes), acreditando, erroneamente, que todas elas pretendem as mesmas coisas, adotando-
.. ·~,~
9

as todas, como se as diferenças não existissem (seriam os "ecléticos", para o autor). Note,
portanto que o fato de um psicólogo ser "dogmático" ou ser "eclético" fundamentalmente está
relacionado à atitude que ele adota frente à diversidade do conhecimento psicológico. Nos
dois casos, a ênfase não está no número de abordagens que o psicólogo adota (como veremos
mais à frente), mas como ele se comporta frente à diferenças que caracterizam as diversas
abordagens da Psicologia.
Voltando ao nosso aluno imaginário, agora ele se tornou mais confuso porque enten-
deu que as duas posições são criticadas pelo autor. O aluno não vê saída e pensa, de novo: "E
eu, nisso tudo? Afinal, o que o psicólogo pode fazer para não ser aquilo que o autor chama de

• dogmático ou eclético? Qual é a saída?"


O autor do texto (Figueiredo, 1992) que estamos tomando aqui como referência para
esta introdução ao nosso curso, faz algumas considerações que podem servir para que a gente
reflita e pense em alternativas para enfrentar a situação.
O autor justifica por quê considera inaceitáveis para o psicólogo as atitudes do dogma-
tismo ou do ecletismo: elas não são consideradas adequadas porque impedem o crescimento e
desenvolvimento da Psicologia e dos psicólogos. Ele (e vários outros autores e filósofos) con-
sidera que só existe o crescimento quando alguma coisa se confronta com seu diferente, com
o "Outro", com aquele ou aquilo que não é você (há uma palavra para designar isso: "alteri-
dade"). Quando o dogmático diz "só a minha fonna de pensar é que vale, as outras não me
interessam", ele está impossibilitado de enfrentar o outro, aquilo que é diferente dele e, sendo
assim, nem ele, nem a Psicologia teriam a possibilidade de se desenvolver, de crescer. A
mesma coisa aconteceria com o eclético: acreditando que possa adotar ao mesmo tempo todas
as formas de pensar e agir, não enfrenta aquilo que elas todas têm de diferente; ele desconsi-
dera o que elas têm de essencial, estrutural e particular e que as tornam diferentes. O resultado
disso é que aqui, também, não há possibilidade de crescimento e desenvolvimento porque o
psicólogo não está experienciando a diversidade, a alteridade das teorias e formas de pensar.
Voltando ao nosso aluno calouro que se encontrava confuso frente a tanta novidade
que o contato com a Psicologia estava lhe trazendo, é importante que ele saiba que alguma
escolha ou escolhas ele fará à medida que for se formando em Psicologia. É claro que ele es-
tabelecerá preferências, concordará pessoalmente com algumas coisas e discordará de outras,
mas certamente ele fará escolhas. O que o autor do texto propõe é que os psicólogos enfren-
tem essa questão da diversidade característica da Psicologia de duas maneiras, com dois "mo-
vimentos": (a) o "movimento construtivo" em que o psicólogo estará produzindo conhecimen-
to, buscando respostas para as perguntas que envolvam seu objeto de estudo e profissão, com
. ·-,_~.
lO

base em recursos e referências oferecidos por uma ou mais teorias, pensando e estabelecendo
relações entre as proposições teóricas e sua prática profissional. Mas
. :·
para ' que isso possa re-
-

sultar em crescimento da Psicologia é importante que, ocoora, ao mesmo tempo, (b) o "mo-
vimento reflexivo", que se caracteriza pela reflexão constante sobre as várias teorias e siste-
mas de pensamento existentes. É essa reflexão que garantirá a possibilidade de contato com o
outro, com o diferente. Refletir sobre as minhas teorias e a dos outros significaria, portanto, a
possibilidade de crescimento. Refletir sobre os pressupostos das minhas e das outras teorias
permitiria que eu conhecesse melhor os meus pressupostos porque os veria em contraste com
os dos outros.
Este trabalho de reflexão, com o objetivo de se encontrar o que existe "por trás", ou
subjacente ("por baixo", "na base") às diversas fonnas de pensar, me levaria à identificação
das várias matrizes diferentes que subjazem às diversas teorias. A questão aqui não é desco-
brir qual "a melhor" teoria, a mais "verdadeira", ou a mais "científica". Todo o conhecimento
obtido até agora pela Psicologia, o foi baseado em alguns pressupostos, algumas crenças a
respeito do quê conhecer e de como fazer para conhecer. Por isso não faria sentido eu me de-
dicar a provar que a teoria do outro é falsa ou verdadeira porque, para isso, eu usaria os meus
próprios pressupostos, aquilo que eu entendo por "verdade", "conhecimento", "realidade" etc.
Isso não seria justo, nem faria sentido, porque a teoria do outro se baseou em outros pressu-
postos, em outros conceitos do que é "verdade", "conhecimento" etc. e estará sendo julgada a
partir de pressupostos diferentes. A ref1exão sobre as teorias, buscando compreender suas
matrizes, estaria portanto, além dessa atividade comparativa para escolher a "melhor". Segun-
do Figueiredo (1992), ela pennitiria uma "ampliação da nossa capacidade de pensar acerca do
que acreditamos, acerca do que fazemos e de quem somos".
O aluno confuso ainda insiste na questão de "quantas teorias ou abordagens posso ado-
tar?" e o que diriamos a ele é que a questão não se resolve com a adoção de um número x de
abordagens, mas de como são essas abordagens. Novamente, a questão volta a ser a das ma-
trizes que originaram as diversas conentes de pensamento em Psicologia: a reflexão sobre as
matrizes é que dirá quais abordagens são conciliáveis, quais não o são; é o conhecimento pro-
fundo dos pressupostos que subjazem à cada teoria que permitirá ao estudioso ou ao profissi-
onal decidir qual ou quais abordagens adotará. Alguns pressupostos dessas teorias coexistem,
outros não podem ocupar a mesma posição em um único pensamento por serem incompatí-
veis. Por exemplo, vamos supor que o aluno escolha a abordagem "X" que se baseia, entre
outras coisas, no pressuposto de que o Homem é um ser livre, que as razões de seu compor-
tamento estão dentro dele mesmo e que é preciso identificar esses determinantes internos para
11

compreender seu comportamento. Neste caso, seria incompatível esse mesmo aluno adotar a
abordagem "Y" que se baseia, por exemplo, no pressuposto de que o Homem não nasce livre,
e que a razão para seu comportamento se encontra no seu ambiente cultural, social, econômi-
co etc., que está, portanto, "fora" e não "dentro" dele. Para essa abordagem "Y", a tarefa da
Psicologia seria conhecer esses determinantes externos para compreender seu comportamento.
Depois disso, o aluno que agora não estava mais tão confuso, ficou um pouco ansioso
porque percebeu que para ser psicólogo terá que estudar constantemente, que seu estudo não
terminará quando ele tenninar a faculdade. A diversidade da Psicologia estará sempre presen-
te, mas isso, como já vimos, é uma das características principais da área de conhecimento que
adotamos como base para a nossa profissão.

Referência Bibliográfica:
Figueiredo, L. C. Convergências e divergências: a questão das correntes de pensamento em
psicologia Transinformação,4 (1-2-3): 15-26,jan/dez, 1992.
12

ATIVIDADES PARA ESTUDO E REFLEXÃO SOBRE O TEXTO 1


1. Explique, com suas próprias palavras, a afirmação: "A Psicolok{a, como área de conheci-
mento e profissão, é marcada pela diversidade e pode ser caracterizada corno um 'espaço de

dispersão'".
2. Qual é a origem da diversidade na Psicologia? Explique, com suas próprias palavras, o que
são as matrizes do conhecimento psicológico, na definição de L. C. Figueiredo.
3. O que são o dogmatismo e o ecletismo e por que surgem? Por que o autor considera-os ina-
ceitáveis?
4. O que Figueiredo propõe como atitude para o psicólogo lidar com a diversidade da Psico-
logia?
5. Por que não faria sentido no contexto da diversidade da Psicologia, procurar descobrir qual
a corrente de pensamento mais "verdadeira" ou mais "científica"?
6. Faça uma reflexão sobre o poema reproduzido abaixo, com base no texto lido:

A VERDADE

A porta da verdade estava aberta,


mas só deixava passar
Carlos Drummond de Andrade

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,


porque a meia pessoa que entrava
só trazia o pe1jll de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios pe1jis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.


Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade e.splendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.


Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

(Do livro "O Corpo", da Editora Record, 1984)


13
. ·-~-

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO TEXT02

A DIVERSIDADE DA ÁTUAÇÃO DO PSICÓLOGO

Inicialmente, é importante que fiquem claros os objetivos deste texto que você está
começando a ler.
Você já sabe que um dos objetivos desta disciplina é que você tenha acesso a informa-
ções importantes sobre a ffi,~eg;~i_9ad€,zd"ª',;_ªtuaçãQ/de psicólogo e que tenha ~~elt:ment-OJ
Qara que possa refletir criticamente sobre el~
Neste texto, você encontrará algumas informações básicas sobre ~ue o psicólogo faz,
con,gr,ç:tamenJ.~~ n.QS,&Qntextoscem~ue.atua...€ sobre algumas características desses contextos. A
diversidade da Psicologia e da atuação prática do psicólogo ficará evidente, quando você
identificar no texto a variedade de formas diferentes que ~s atividades profissionais assumem,
como são variados e múltiplos os seus locais de atuação, os tipos humanos e variedade de
pessoas com as quais os psicólogos têm contato no seu cotidiano profissional,_ dependendo
dos diferentes contextos nos quais eles desem2enham suas atividades.
Em vista disso, e levando em consideração o tempo disponível, o texto não pretende
apresentar uma discussão aprofundada de cada um desses contextos ou da atuação profissio-
nal do psicólogo. O objetivo dele é, portanto, relativamente simples: pretende-se, com a sua
leitura, que você ganhe familiaridade com alguns termos que devem ser novos para você, mas
que são comumente utilizados entre os psicólogos. Além disso, é importante que você aprenda
o significado de alguns desses tennos, que envolvem a atuação dos profissionais nos vários
contextos que serão estudados.

A~f:VERSIDA-DE4lOS CONTEXTOS DE ATUAÇÃO

Um texto que se propõe a apresentar algumas atividades dos psicólogos a alunos inici-
antes na profissão ~rá .E_e~~ssari~mente incluir oSÍ.~ªroil~m que tais atividades se dão.
- ·-·-~ ~ ·- ----- __._ ............. _._
-:__~..: ~ ~± _;:w::: ...... ::lllõ~

Isto é, as a ões 2rofissionais dos QSicólogos se dão den.[2..fi~_m,de_terminado contexto ue as


afeta e é afetad? por ~Quando o profissional realiza uma atividade, ele o faz em um de-
tenninado localt. com determinadas características, relacionando-se com seres hwnano_s_espe-
cíficos, provenientes de determinados segmentos sociais e culturais, dentro das condiçõe~-
14

sócio-econômico-culturais do país, em um dado momento de sua hjstór@. A diversidade de


r:i \ontextos es~os nos quais os psicólogos atuam,slica a diversidade de objetiyos e de
~ ~s.sidades a serem atendidaSJ'Ao mesmo tempo, na medida em que o profissional desem:
~ penha suas atividades, vai transfonnandojg!;!almente, esses contextos de atua;;,ãQ.
1
1 ~ \ Em vista ~ as atividades dos psicólogos e os contex-
<t I
~ ~ tos de atuação, começaremos caracterizando alguns desses contextos mais comuns e depois
~ ~ ~ -~ ~amearemos e descreveremos algumas atividades mais freqüentes dos profissionais. Não per-
.- i ~'0.
\bQ \.)'2_ d . ' . - 1 1 -
'"'i() fl ca e vista, no entanto, que o que sera exposto a segmr sao apenas a guns exemp os que nao

: - ~ -g~ :f~ ~rO~


~p zt I
8, esgotam (nem pretendem esgotar) as inúmeras possibilidades de atuação profissional.
8
-~
0.:: O(
3 ITl~r-~ S't I
'r)
~ c<-{§-~
';": : qONTEXTOS QUE ENVOLVEM A SAÚDE
OJ?~ClC(\) ~-
~
. r"1
23
U
<()
c.L ~;:'>
mL( s --< 'LI k:!.
o

,
• Quando falamos n . ~O'tfu""8ãúd-e;-btamos nos referindo a uma diversidade de si-
'
j;,)_ ,G-~ S..:z: '2.
L· v
, tuações que envolvem uma ampla variedade de locais de atuação, da clientela atendida, de
objetivos a serem atingidBs e de necessidades a serem satisfeitas. Sendo assim, esses contex-
tos envolvem ~<!..o_cjdad~o e~s.,.cm1mni,iliW,s;s, W,çJ.n_illd9..desde-rO-.t-raballie..tj_ue,e..psicó-
.lllgo~cliill~eg!liza..nG*0RSttlt-é-ITieTQartieular, co.m indivíduos"'esp.edfiços, p,e.ssando.,.pelill':ins-
=::::::..:::.:.:..K...::.::::.=...:::..:::...c:.:::=:::.:::::::::=~:::=::~~~p:::;~5~?T-I."-"'.""~·lliá.tricns), até os pos-

~CONTEXTOS QUE ENVOLVEM A@)úCA~


-~ O contexto educacional envolve as jnstituições de ensino, tanto as particulares quanto L
\~ as públicas, incluindo tanto as escolas do sistema fonnal de ensino, quanto outros locais
I
q11~
·5 têm por objetivo a educação e a aprendizaaem. ~UA.e tlõ ~<\: a~ão ~\e
- b ç [$>-' ' '
Cv li: · e~c;.w~~~nck o {..IJ.1JJ'&r·~
h.
g ~T~Al>t\ de. co~sci enc\a '\'e\...as fe ssoa ·"
1

Y-
N
~
Ç)
CONTEXTOS QUE ENVOLVEM
. ~------------------------------
O~BALHO DO HOMEM NAS ORGANIZAç.QgSJ
Nestes contextos, o que está em jogo é o trabalho dos cidadãos em organizações, como
por exemplo, na, em resas de diversas naturezas e nos
~-
rorn~e_administra.Qã~
Aqui, o psicólogo atua par~mecer~reeurs<Js~human<Js..-ad~uado'S~"Gr~Çy--ª..g; ~r..a.-at-in.~
..lli~s"'condições-::de-ztrabalh.o-.p.&[~l..le...se-.fixem.-nda. As atividades dos .esicó lo g_Ç.§..J~retendem


15

CONTEXTOS QUE ENVOLVEM O TRABALHc@STITUCION~CQMUNIT ÁR:v


O espectro e a diversidade desses contextos são bastante amplos e variados. Eles en-
volvem, por exemplo, a atuação dos psicólogos em orfanatos, asilos ou instituições eguivale_n_::
J~. A atuação institucional envolve, também, por exemplo: o trabalho dos profissionais nas
instituições de atendimento psicológico a deficientes; nas organizações não-governamentais
(ONG) de várias naturezas; em sindicatos e associações erofissionais; e_m clube_s~ntidad~s­
~-(através da Psicologia do Esporte); em instituições da Justiça, como_p.r_esídio.s_,_Va:-
- - - -
ras. da Família, Juizado do M.e~c. (através da Psicologia Jurídica); em_~gências de Publi-
_Sdade; nos centros psicotécnicos 2ara exame de motori~1ª-s.;~~m _e_ntidades comunitárias, como
associações de bairro, por exemplo. Note que esses são apenas algumas ilustrações da varie-
dade de contextos institucionais onde o psicólogo pode trabalhar.

CONTEXTOS QUE ENVOLVEM~


~
Quando a atividade do psicólogo yisa especificamente à produção do conhecimento
psicológico, ela se dá em contextos basicamente voltados para este objetivo, como as univer-
~ por exemplo, em que o psicólogo docente é contratado para transmitir e construir
conhecimento ~uisar}. Não é muito freqüente, no_Brasil, a pesquisa psicológica realizada
fq_ra das universidades, como nas empresas privadas, por exemplo. No entanto, se entender-
mos a es uisa como uma"lorma sistemáTícãâelJuscar respostas para perguntas sobre os fe-
]t:ô"iií"enos psicológic"ô) pode-se dizer que ela não se restringe aos contextos de trabalho dos
psicólogos-professores, apenas, mas se estende, também, aos profissionais do~s mais diferentes
_context~. Assim, por exemplo, os psicólogos realizam pesquisas associadas ao seu contexto
~ecífico ----
de trabalho, como nos hospitais, nos·-- ________
consultó_rios,. nas _...::::.
-
agências de Publicidad~ ou
em outras das instituições citadas._

A DIVERSIDADE DE ATUAÇÃO:

ALGUMAS ATIVIDADES DOS PSICÓLOGOS

Serão apresentados, a seguir, alguns exemplos de atividades que são desempenhadas


nos diversos contextos de atuação mencionados acima. Não perca de vista que elas são apenas
alguns exemplos das atividades mais comumente realizad~ Certamente, nas entrevistas que
você fará com os profissionais, outras atividades serão mencionadas, além destas.
••
. ·-,:;. 16 •
••
I. ATIVIDADES DE COLETA E AVALIAÇÃO SISTEMÁTICAS DE INFORMAÇÕES
· J .1 ..Observação:........
. - --
••

~ \ --·

A atividade de observar parece ser uma das mais básicas e essenciais ao trabalho do
psicólogo, já que a Psicologia, como ciência, implica a produção de conhecimento que seja
••
metódica e crítica (diferente da produção de conhecimento feita, na maioria das vezes, pelo
ser humano quando utiliza seu senso comum). Sendo assim, ao invés de "chutar" simplesmen- ••
te uma resposta para uma questão que ele tem, o psicólogo, prefere observar sistematicamente
o fenômeno estudado. Há regras e técnicas para a observação (que você aprenderá em outras ••
~
disciplinas). Por exemplo, a observação pode ser feita em ambiente natural, no qual o fenô-
••

meno estudado normalmente ocorre, ou em situação planejada, na qual o psicólogo cria uma
::

7
! situação específica para o sujeito e o observa nela.
1.2 .,Aplicação ~e testes_e-Outros-instrumentos •
~
Você terá a oportunidade, ao longo do seu curso, de entrar em contato com vários tes-
tes, desenvolvidos e pesquisados pela Psicologia (às vezes chamados de "instrumentos de ••
~ medida") que são utilizados para identificar e conhecer os mais variados tipos de fenômenos.
Há testes de personalidade, testes de desempenho intelectual, testes de desempenho específico

~
'S
~ (por exemplo, de lógica, raciocínio espacial, raciocínio mecânico) etc. Em algumas situações,

Qt o psicólogo desenvolve instrumentos especificamente voltados para a obtenção de informa-

~
ções no seu contexto de trabalho particular.
1.3. Entrevista
t#;!U_- ~ -- _.

J~
Igualmente básica, a atividade de entrevistar aparece desempenhada pelos psicólogos,
nos mais diferentes contextos. Você aprenderá, com o tempo, que uma entrevista não é um •
cO,( simples bate-papo do profissional com uma pessoa, mas uma atividade planejada, com objeti-

"
y.
!5
PJ /"'"'

~
~
vos específicos e realizada segundo detenninadas regras. A entrevista pode ser realizada ao
vivo, em contato face-a-face, bem como o psicólogo pode aplicar questionários, respondidos
por escrito pelo próprio indivíduo.

~ :- Como dissemos, essas três atividades aparecem nos mais variados contextos de atua-
-----, ~ ~ ção, às vezes separadamente (só a entrevista, por exemplo), às vezes em conjunto. Seguem
_, f: Ç alguns exemplos:
-~ ~ ~~
J l;l~ i ~
No caso dos contextos de Saúde, fala-se em psicodiagnóstico (ou estudo de caso), para
co~unto dessas três atividades que o psicólogo realiza, com o objetivo de identi-
••
~ç. "1'
ª -5 f\0 ~
u 03

~ ro '6 . I. __. d eseJOS,


.c:
se referir ao
~ fi1car os 1atores •
que caractenzam um m • d"1v1'd uo, tanto mtemamente
. ( emoçoes,
- necess1"da d es, •
Q v1.
..$. ~r CS
...{ Q)-~
(,J
? .dr
· ' ·
caractensticas ··
cogrutlvas etc. ) quanto externamente (1atores
.c: . I, f:aml-
d e amb.1ente socm .

~H
r u().;,c..J~.
ct
<1 E
(Ú o
~ •
I '
I I
17

liar, educacional etc.). Apesar do sentido que "diagnóstico" sugere, o psicodiagnóstico não é
realizado apenas para se identificar um "problema", mas para se identificar as características
psicológicas do indivíduo, com problema ou não. O psicodiagnóstico pode ser utilizado pelo
profissional antes do início de um processo terapêutico (para tratamento) ou para encaminhá-
lo para outros profissionais.
No contexto educacional, pode-se encontrar, por exemplo, o psicólogo observando
uma criança interagindo com seus colegas no intervalo, ou a interação de uma professora com
a classe; entrevistando uma mãe sobre o comportamento da criança em casa; aplicando um
teste de nível intelectual etc.
No contexto organizacional, quando se fala em seleção de pessoal, pode-se, da mesma
forma, observar a aplicação de algumas ou de todas essas atividades (por exemplo, entrevista,
aplicação de testes, observação do comportamento de um candidato em um grupo, ou em situ-
ação de trabalho etc.).
No contexto institucional, por exemplo, o psicólogo 'Judiciário" pode realizar estas
atividades para fornecer um laudo psicológico que subsidiará a decisão de um juiz, sobre um
detento, ou sobre candidatos à adoção de uma criança.
No contexto da pesquisa, como já foi afirmado acima, a observação, a entrevista e a
aplicação de instrumentos desenvolvidos pelo pesquisador, são atividades essenciais para a
produção de i.nfom1ações sistemáticas sobre os fenômenos investigados. Por exemplo, no
hospital um psicólogo pode pesquisar as relações entre o desenvolvimento psicológico de
bebês e a quantidade de stress da mãe durante a gravidez. Para isso, terá que desenvolver ou
utilizar instrumentos de medida do stress da mãe, entrevistá-la, observar o desenvolvimento
de bebés etc. No contexto educacional, ao pesquisar, por exemplo, as relações entre aprendi-
zagem e tipo de aula (expositiva, seminário, discussão em grupo etc.), o psicólogo deverá
observar a aula dada pelo professor, entrevistar alunos e professores e utilizar testes ou ins-
trumentos de medida de aprendizagem.

2. Psicoterapia
Vamos, nesta disciplina, considerar a psicoterapia como uma atividade em que o psi-
cólogo aplica um conjunto de técnicas e métodos psicológicos, cujas características e objeti-
vos podem variar, dependendo das concepções teóricas e metodológicas que servem de refe-
rência para o profissional. Entre a diversidade de objetivos da psicoterapia, dependendo da
abordagem mencionada, podem ser citados como exemplo: a solução de problemas; modifi-
••
18 ••
cação de comportamentos através de novas aprendizagens; desenvolvimento de novas con- ••
cepções sobre si e o mundo; auto-conhecimento; transformação da personaliciade etc.
Ainda assim, embora a psicoterapia seja uma atividade voltada para múltiplos objeti-
••
vos e se desenvolva de maneiras muito diferentes, dependendo dos pressupostos epistemoló-
••
••
gicos e teóricos do psicólogo que a utilize, consideramos importante a concepção da psicote-
rapia como uma das formas de o psicólogo contribuir para a promoção da saúde dos cidadãos.
As diferentes abordagens teóricas da Psicologia, assim, servem de base para as dife-
rentes abordagens psicoterápicas que você pode encontrar entre os psicólogos. Exemplos des- ••
sas diferentes abordagens orientadoras dos psicoterapeutas: psicanálise, análise existencial,
análise junguiana (de Jung), terapia comportamental, cognitiva etc.
••
Uma modalidade de psicoterapia, a chamada psicoterapia breve, tem sido muitas vezes
••
utilizada em alguns contextos que demandam menor tempo de duração da terapia. Neste tipo
de atividade, o terapeuta tem uma intervenção mais focalizada, buscando atingir objetivos ••
mais imediatos, principalmente decorrentes da especificidade do contexto de vida atual do
cliente, (por ex., uma separação, uma perda, uma interrupção abrupta na carreira profissional, ••
uma internação hospitalar, etc).
••
Nos contextos educacionais e do trabalho nas organizações a psicoterapia não é fre-
••
qüentemente utilizada, sendo uma prática mais comum o psicólogo encaminhar a pessoa para
um psicoterapeuta, quando julga necessário. ••
A atividade psicoterapêutica do psicólogo é desempenhada principalmente nos contex-
tos que envolvem a Saúde, em especial nos consultórios particulares. Em outros contextos de ••
Saúde, que atendem um número grande de pessoas (por exemplo, um hospital público, ou
posto de saúde), a prática psicoterapêutica tradicional, individual, feita um-a-um, se torna
bastante inviável, o que tem levado os psicólogos à utilização ou de técnicas grupais, ou de
•• •
outras atividades mais apropriadas a esses contextos. O mesmo pode ser dito em relação à
atuação dos profissionais em contextos institucionais variados, cujas características não pare-

••
cem compatíveis com a atividade da psicoterapia tradicional.
••
3. Aconselhamento e orientação
Esta atividade de aconselhamento e orientação, como na terapia breve, se dá voltada
••
para uma situação específica que caracteriza o momento de vida de um indivíduo ou de um
••
grupo. Entretanto, diferentemente da terapia breve em que o objetivo é "tratar" de um pro-
blema específico, no aconselhamento e orientação o psicólogo assume uma posição que é, ••
••


19

principalmente, mais educativa. Isto é, com base nos conhecimentos da Psicologia, o psicólo-
go esclarece as pessoas sobre determinados fenômenos da psicologia humana, nos seus aspec-
tos cognitivos, afetivos e comportamentais. Essas informações serão úteis para que a pessoa
reflita sobre si e a situação que está vivendo, de forma a lidar da melhor forma possível com
sua vida.
A orientação e o aconselhamento aparecem em vários contextos diferentes de atuação
do psicólogo. Por exemplo, em hospitais, orientações para grupos de pacientes transplantados
e suas famílias; em um posto de saúde, orientação de gestantes ou de mães; em uma escola,
orientação vocacional ou sexual ou orientação para pais de filhos com problemas de aprendi-
zagem (orientação psico-pedagógica).
A orientação e o aconselhamento também podem ser atividades que o psicólogo de-
sempenha junto a outros profissionais como, por exemplo, no contexto de Saúde, em que mé-
dicos, enfermeiras e atendentes têm contato, através do psicólogo, com o conhecimento da
Psicologia que lhes é necessário, o que resulta em benefício para a clientela atendida e para o
próprio profissional. No contexto educacional, na atividade de orientação de professores, o
conhecimento da Psicologia sobre processos de desenvolvimento e aprendizagem será bastan-
te importante para que todos desempenhem melhor os seus papéis de fonna aumentar a chan-
ce de aprendizagem dos alunos.

4. Atividades junto a equipes multiprofissionais (multidisciplinares)


Especialmente junto aos contextos de Saúde e Institucionais, a concepção de que a
promoção da saúde integral do indivíduo deve ser o objetivo principal de várias instituições,
tem levado à necessidade do psicólogo atuar conjuntamente com outros profissionais. Nessas
equipes, o que se pretende é que a compreensão total do indivíduo seja possível através da
soma e complementação dos conhecimentos específicos dominados por cada profissional.
Por exemplo, nos hospitais e postos de saúde, o psicólogo pode atuar com médicos e
enfenneiras, contribuindo com seu conhecimento sobre as emoções e relações humanas. Em
uma instituição de deficientes fisicos, ele pode atuar junto ao fisioterapeuta e ao neurologista,
visando a re-educação e recuperação psicomotora integral da sua clientela. Nos contextos
educacionais, ele pode se juntar aos outros profissionais para, através de seus conhecimentos
específicos, participar do planejamento curricular. No contexto organizacional, o psicólogo
trabalha com outros profissionais, por exemplo, no planejamento e execução de treinamento
para alguma habilidade específica de trabalho, levando-se em conta o conhecimento da Psico-
logia sobre aprendizagem e processos de desenvolvimento. Em outros momentos, ainda no
••
.. ·-·:;.
20 ••
contexto organizacional, o conhecimento do psicólogo sobre relações humanas e processos ••
grupais pode ficar em evidência quando ele observa funcionários ero:tarefas grupais ou aplica
técnicas de dinâmica de grupo em um determinado setor de uma empresa. ••
••
••
Consideração fmal
São essas as infonnações sobre as principais atividades dos psicólogos que gostaría-
mos de apresentar a você. Como dissemos no início, o objetivo deste texto é basicamente o de
começar a familiarizar você com alguns termos mais comuns relacionados às atividades dos ••
psicólogos e apresentar informações básicas sobre algumas dessas atividades e sobre alguns
dos contextos em que elas são desempenhadas. De forma alguma o texto apresentou um retra-
••
to acabado das possibilidades de atuação dos profissionais, tendo mostrado apenas um breve
••
relato de algumas das suas principais atividades. Com certeza, várias outras atividades que o
psicólogo realiza não foram mencionadas.
••
Referências Bibliográficas:
••
1990.
Ancona-Lopez, M. e Figueiredo, L.C.M. Guia Psi. São Paulo: Editora Marco Zero,
••
Bastos, A.V.B. & Gondim, S.M.G. (orgs.). O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto
Alegre: Alimed, 2010.
Justo, H. Identidade do Psicólogo: reflexões e limitações das técnicas psicoterápi-
••
cas. Canoas: La Sale, 1997.

••
••
••
••
••
••
••
••
••
••

21

ÁTIVIDADES PARA ESTUDO E REFLEXÃO SOBRE O TEXTO 2

Sobre os contextos de atuação do psicólogo


1. Dê exemplos que locais que caracterizem ~s contextos de: Saúde, Educação, Organizacio- .emi'P-es7.ú
.t;J'~~P•Tt:.'51mb._, •.:d-~f/?.\OS/.Eff:-O'i:a'SI (\J.<UJ05 1PRiv~1[}!ls; 1:.
nal, Institucional-Comunitário e de Pesquisa. c RGêQs ~W~ ORb~ A ftos
I I
5 j"UN hJe,%i d~ck> <... t~sr~e"\
~~~ A2'vAt\o c o P.ed~o.
2. Por que não faz sentido discutir as atividades do psicólogo sem fazer referência aos contex- ·
c::J c d ..Q_ _\"" ~/\, J3vY>of.-t'c-(.I:::J
tos em que elas são desempenhadas? ~5-~. . o . . ?~ V\MJ'N'o. VV'J..) Y'l (kA) '() ~CYC
o • o. -·

doR .YcJ.-U>. ~"!\ ~f~, ~% Ob o-_~CÃ.~ OL~ .YOõ% ~W~~ ~~~.


Sobre as atividades do psicólogo
1. (a) Nomeie e explique cada uma das atividades de coleta e avaliação sistemáticas de infor-
mação, mencionadas pelo texto.
(b) Por que se pode dizer que essas atividades do psicólogo contribuem para a caracteriza-
ção da Psicologia como Ciência?
2. (a) Explique o que são as seguintes atividades: psicodiagnóstico; psicoterapia; orienta-
ção/aconselhamento .

• (b) Invente exemplos dessas atividades em variados contextos de atuação.


3. De que fonna as atividades do psicólogo junto a equipes multiprofissionais se relacionam
ao objetivo de contribuir para a compreensão dos fenômenos humanos e para a saúde integral
do cidadão?


••
22
• ••
PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO
1 I ,_.
TEXTO 3
••
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS ESPECÍFICOS ••
••
No texto que se segue você encontrará infom1ações gerais sobre a atuação do psicólo-
go em contextos específicos. As informações e detalhes abordados complementam as infor- ••
•••
mações do texto 2, apresentando algumas particularidades dos diversos contextos menciona-
dos, como o da Saúde, com seus múltiplos sub-contextos, além do Educacional, do Organiza-
cional e o de Pesquisa.

••
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DA SAÚDE
Como dissemos anterionnente, o contexto da Saúde engloba a atuação do psicólogo
••
em vários sub-contextos diferenciados, como os destacados a seguir. ••
PSICOLOGIA CLÍNICA (ATUACÃO EM CONSULTÓRIO PARTICULAR E OUTROS LOCAIS) ••
No contexto da Saúde, é comum as pessoas referirem-se à Psicologia Clínica para
caracterizar uma forma típica de atuação do psicólogo. Nesta forma de atuação, via de regra, o
••

••
contato do profissional com sua clientela é feito pessoal e individualmente com o objetivo de
promover sua saúde, freqüentemente através da resolução de seus problemas. Nesse sentido, a
psicologia clínica é exercida em variados contextos diferentes e se caracteriza pelo fato do
profissional aplicar os métodos e as técnicas que a Psicologia, como Ciência, vem desenvol- ••
vendo ao longo de sua história, para atingir determinados objetivos. Assim, por exemplo, po-
de-se encontrar a aplicação da Psicologia Clínica em um consultório particular, em um hospi- ••
tal, em um Posto de Saúde e, às vezes, em uma escola. Por causa disso, algumas pessoas fa-
••
••
lam em um "modelo" clínico de atuação, assumindo formas particulares, dependendo do con-
texto particular onde ele aparece.
Como você aprenderá mais à frente, neste conjunto de textos, à medida que a Socieda-
de e a profissão foram se modificando até a atualidade, os profissionais começaram a questio- ••
nar a predominância desse modelo na atuação do psicólogo, considerando-o inapropriado para
a aplicação em novos contextos de atuação. Nesses locais, a atuação do profissional envolve o

••
••
trato com grandes grupos de pessoas, com necessidades específicas, em serviços de atendi-

I
••

23

mento de Saúde Pública, o que inviabilizava a aplicação de um modelo individual e particular


de atuação.
Mesmo assim, a "prática clínica", com base no modelo tradicional, teve e tem uma
inegável importância nas vidas das pessoas que tem beneficiado, e continua sendo aplicada,
em vários dos sub-contextos mencionados.
Alguns críticos do modelo clínico tradicional defendem a criação e o desenvolvimento
de novos modelos de atuação, mais apropriados aos novos contextos de atuação, especialmen-
te aqueles que envolvem os serviços públicos de saúde e algumas instituições. Esses novos
modelos deveriam estar voltados para a população em geral, para as comunidades e coletivi-
dades específicas, com objetivos preventivos, considerando-se as necessidades comuns a cada
população, permitindo livre acesso aos profissionais, especialmente o acesso das classes mais
pobres.
As principais atividades desempenhadas pelos psicólogos clínicos já foram menciona-
das e descritas no texto 1. É aconselhável que você retome aquele texto para ganhar maior
facilidade no uso de alguns termos comuns ao vocabulário dos psicólogos .

• A atuação do psicólogo no consultório particular talvez seja a modalidade de atuação


mais divulgada entre as pessoas comuns da sociedade. Em geral, o profissional atende pessoas
em seu consultório particular (como profissional liberal autônomo) e ali, em contato na maio-
ria das vezes individual, outras vezes gmpal, aplica de fonna pessoal os métodos e as técnicas
que a Psicologia lhe fornece.
As atividades mais comuns do psicólogo clínico particular também são o psicodiag-
nóstico, a psicoterapia e o aconselhamento (ver Texto 1). Atividades de orientação profissio-
nal/vocacional também são exercidas. Os psicólogos (menos experientes) muitas vezes recor-
rem à "supervisão" de outros psicólogos (mais experientes) para discutirem e receberem ori-
entação sobre seus casos. A prática multiprofissional, como descrita no texto anterior, não é
muito comum entre os clínicos particulares. O psicólogo pode recorrer a outros profissionais
ou encaminhar seus clientes a outras especialidades, mas a prática conjunta não é freqüente,
pelas próprias características do atendimento particular.
Em termos da população atendida, é importante salientar que a modalidade de atendi-
mento particular, pelos altos custos que implica (por ser um tratamento longo, com um profis-
sional cuja formação é cara e especializada etc.), não permite acesso generalizado a toda po-
pulação, havendo predominância de uma clientela dos extratos economicamente superiores da
sociedade. Algumas vezes, os clínicos particulares especializam-se em faixas etárias específi-
cas (crianças, adolescentes etc.), ou grupos específicos (famílias, casais, pais etc.).
••
24 •
••
PSICOLOGIA HOSPITALAR (ATUAÇÃO EM HOSPITAIS GERAIS) ••
Embora alguns acreditem que o modelo clínico de atuação, como o que caracteriza a
atuação do psicólogo no consultório particular, deveria ser simplesmente adaptado às caracte- ••
rísticas específicas do hospital e ser ali exercido, outros acreditam que o contexto hospitalar
••
••
exige o desenvolvimento de novas formas de atuação.
O trabalho do psicólogo no Hospital Geral (com suas múltiplas especialidades como

•••
por exemplo, a cardiologia, a oncologia, a maternidade etc.) experimentou grande desenvol-
vimento nas últimas décadas, o que levou, na prática, à necessidade do profissional refletir
sobre esse contexto específico e exercer nele várias atividades.
Quando se pensa nos aspectos que tornam esse contexto tão específico, deve-se consi-
derar que, em primeiro lugar estamos falando do hospital como um contexto em que a doença
••
ocupa lugar de destaque. O indivíduo doente, internado ou atendido no ambulatório, é, dessa
••
forma, o foco principal da atenção dos profissionais da saúde.
Algumas reflexões sobre esse indivíduo doente precisam ser feitas: segundo Terezinha ••
C. Campos (1995), em seu livro sobre Psicologia Hospitalar, o papel do psicólogo no hospital
é contribuir para a humanização da instituição hospitalar. O hospital é um contexto específico ••
que busca proporcionar a manutenção do bem-estar tisico, social e mental do homem. Segun-
do a autora, o "psicólogo, atuando no hospital, busca a promoção, a prevenção e recuperação
••
do bem-estar do paciente, no seu todo, o que implica que aspectos fisicos e sociais são consi- ••
derados em interação contínua na composição do psiquismo desse mesmo paciente". O indi-
víduo, portanto, não se resume à sua doença, mas é um ser humano complexo e é esse "todo" ••
humano que precisa ser considerado.
As atividades mais freqüentemente exigidas do psicólogo hospitalar são a orientação e ••
aconselhamento e a psicoterapia breve (dado que a psicoterapia tradicional, longa, não se ade-
••
••
qua às características do contexto hospitalar). O psicodiagnóstico e outras várias formas de
avaliação são aplicadas quando necessário. Nos hospitais é comum a atividade de ensino, já
que os cursos de formação do psicólogo tradicionalmente não preparavam os alunos para atu-
ação em hospitais, o que levou a necessidade da atividade de ensino e treinamento dos profis-
sionais formados para atuação em hospitais. Dessa forma, entre as atividades dos psicólogos •• •
hospitalares encontra-se a de contribuir para a formação de seus futuros colegas. A atividade
de pesquisa também aparece sendo exercida pelos psicólogos hospitalares. Como área recente
••
da Psicologia, há necessidade de produção sistemática de conhecimentos sobre a Psicologia
••
Hospitalar, em seus múltiplos aspectos. Em todas as atividades mencionadas, observa-se que a

••
••

25

atuação em equipes multiprofissionais é característica essencial do trabalho do psicólogo hos-


pitalar.
A atividade de orientação não se restringe ao paciente, estendendo-se aos seus familia-
res e cuidadores e à toda a equipe de profissionais da Saúde que trabalham no hospital. Esse
aspecto é importante e deve ser salientado, uma vez que uma das preocupações atuais da Psi-
cologia como profissão é estender seus serviços à população como um todo. Nesse sentido,
podemos dizer que a abrangência social do trabalho do psicólogo no hospital é bastante gran-
de, não atingindo diretamente apenas o indivíduo doente, mas a toda a coletividade que faz
parte do contexto do hospital. Na medida em que profissionais de Saúde, não apenas o psicó-
logo, estiverem preparados técnica e pessoalmente, para lidarem com os doentes como um ser
humano integral, em que aspectos fisicos e psicológicos fazem parte do mesmo todo, o bene-
ficio da atuação do profissional recai sobre toda a coletividade dos doentes, não apenas sobre
indivíduos específicos. Em termos dos extratos sociais atualmente atingidos com o beneficio
da atuação profissional do psicólogo, deve-se salientar a presença bastante significativa de
psicólogos nos Hospitais Públicos, o que amplia o acesso das camadas mais pobres aos profis-
sionais. Nos hospitais particulares, a presença do psicólogo não parece ser tão significativa.

PSICOLOGIA INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIA (ATUAÇÃO EM INSTITUIÇÕES E COMUNIDA-

DES DE DIVERSAS NATUREZAS)

Como você leu no Texto 1, as instituições nas quais os psicólogos podem atuar são
inúmeras, com os mais variados objetivos, atendendo populações com as mais variadas carac-
terísticas. Entretanto, o que elas têm em comum é que aqui está em foco a Saúde da popula-
ção, em seus múltiplos aspectos. É a Saúde do cidadão que está em jogo, quando o psicólogo
trabalha em creches, orfanatos, asilos ou instituições equivalentes; quando atua em institui-
ções de atendimento psicológico a deficientes; nas organizações não-governamentais (ONG)
de várias naturezas; nos ambulatórios de instituições de Saúde Pública como Postos ou Uni-
dades Básicas de Saúde e ambulatórios (por exemplo, de dependência química, ou distúrbios
de alimentação) e de Saúde Mental como os Hospitais Psiquiátricos e instituições dessa na tu-
reza.
Promover a Saúde também é objetivo do trabalho do psicólogo em Comunidades ou
Instituições que envolvem coletividades específicas, como Associações de Bairro e Comunitá-
rias, Sindicatos e Associações Profissionais.
Observa-se, cada vez mais freqüentemente, a presença de psicólogos em instituições
da Justiça, como presídios, Varas da Família, Juizado do Menor etc., através da Psicologia
••
26 ••
Jurídica. A tarefa dos profissionais aqui, por exemplo, é fornecer laudos e pareceres para ••
Juízes arbitrarem adoções, separações, penas etc.
Através da Psicologia do Esporte, a atuação do profissional está focada em grupos de
••
esportistas, eventualmente em indivíduos específicos, mas a Saúde de grupos e equipes é a
••
referência fundamental para o trabalho do psicólogo.
Nessa ampla variedade de locais em que o psicólogo atua, pode-se observar a presença ••
tanto do modelo clínico tradicional, mencionado em parágrafos anteriores, quanto à presença
de atividades mais apropriadas às características dessas instituições. Uma dessas característi- ••
cas diz respeito ao número de pessoas envolvidas no atendimento do profissional. O psicólogo
aqui entra em contato com muitas pessoas que diariamente freqüentam essas instituições, es-
••
pecialmente as de Saúde Pública. Assim, há necessidade do desenvolvimento de métodos e
técnicas adequados para o trabalho com grupos. Atividades novas precisam ser desenvolvidas

••
para dar conta das demandas sociais que se apresentam ao psicólogo no seu dia-a-dia. A refe-
rência aqui são as coletividades e suas necessidades típicas. Deve-se notar, mais uma vez, que ••
segmentos da população que anterionnente não eram beneficiados com o trabalho do psicólo-
go, agora o são, quando se observa que um número grande dessas instituições tem a população ••
mais pobre como a diretamente atendida.
••
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO EDUCACIONAL ••
A atuação do psicólogo na escola e no contexto educacional é vista basicamente como
a atuação de um educador, que participa do processo educacional como um todo, colaborando ••
com aquilo que especificamente faz parte da área de conhecimento da Psicologia, conheci-
••
mento este necessário para que se compreenda e interfira no processo educacional. Isto é, o
psicólogo é mais um dos profissionais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e, ••
como tal, colabora para que esse processo possa atingir sua plenitude. Nessa medida, os co-
nhecimentos da Psicologia sobre o desenvolvimento humano, sobre os processos de aprendi- ••
••
zagem e sobre as relações humanas, são colocados em prática para garantir, junto com outros
conhecimentos, de outros profissionais, que a aprendizagem ocorra da melhor forma possível.
O psicólogo, em vista disso, trabalha sempre em equipes multiprofissionais. Em resumo, o
••
psicólogo se envolve diretamente com o processo educacional e é figura importante no estabe-
lecimento das condições necessárias para que haja a aprendizagem. ••
Em termos das atividades que esse psicólogo apresenta, deve-se notar que na maior
parte delas a postura descrita acima está evidente e elas representam a aplicação do conheci- ••
••
••
I
27

mento psicológico para aumentar a chance da aprendizagem ocorrer. Se, por alguma razão, o
psicólogo se depara com algum aluno que necessite de atendimento clínico, em grande parte
das vezes ele mesmo não faz esse atendimento, mas encaminha o aluno a um psicólogo clíni-
co especializado. Entre as atividades principais do psicólogo que trabalha no contexto educa-
cional, pode-se citar:
(a) planejamento curricular: trabalho realizado geralmente em equipe com outros edu-
cadores (pedagogos, professores e especialistas nas áreas acadêmicas específicas). Nessa ati-
vidade ele participa do estabelecimento dos objetivos educacionais, das estratégias de ensino e
de avaliação, além da análise e elaboração do material didático.
(b) treinamento de professores: aqui o psicólogo orienta o professor, seja naquilo que
se relaciona a aspectos do desenvolvimento psicológico (intelectual, afetivo, social etc.) dos
alunos, seja naquilo que se relaciona aos processos de aprendizagem conhecidos pela Psicolo-
gia. Por exemplo, em um treinamento de professores o psicólogo pode oferecer informações
básicas sobre aspectos do desenvolvimento envolvidos na educação, ou orientar o professor
para que crie situações mais adequadas de aprendizagem, alterando, por exemplo, o material
didático etc.
Outras atividades merecem ser mencionadas:
(c) Contato com a família: o psicólogo pode servir de elo de ligação entre a escola e a
casa/família do aluno, garantindo assin1 que as condições de ensino planejadas pela escola
possam ter continuidade e apoio no seu ambiente doméstico.
(d) Orientação de alunos: atividade geralmente realizada através de pequenos cursos
ou palestras, visando informar os alunos a respeito de vários assuntos, de modo a favorecer
opções de vida mais adequadas. Os assuntos mais freqüentes são relacionados à escolha pro-
fissionaVvocacional, ao sexo, às drogas, ao desenvolvimento da cidadania etc.
(e) Organização do espaço educacional: distribuição de alunos por salas, planejamento
e racionalização do espaço etc.

Pode-se observar, analisando essas atividades, que atuação do psicólogo educador tem
uma caráter eminentemente preventivo, isto é, todas elas representam uma tentativa do psicó-
logo e dos outros educadores de maximizar a probabilidade de que haja aprendizagem e os
objetivos educacionais sejam atingidos. O caráter preventivo se manifesta exatamente aí: se a
escola atingir seus objetivos educacionais, a aprendizagem ocorrerá sem problemas e a neces-
sidade de remediação será diminuída. Por exemplo, na medida em que um currículo estiver
bem planejado, que o professor estiver bem preparado para o contato com os alunos, plane-
••
28 ••
jando e implementando adequadamente as condições de ensino, maior será a chance do aluno ••
aprender. A atuação é preventiva porque não se espera o problema. ocorre~ para depois tratá-
lo: a atuação dos educadores ocorre antes, evitando assim que os problemas ocorram.
••
Note, também, que o foco de interesse principal do conhecimento que o psicólogo está
••
••
aplicando está na coletividade dos alunos da escola e não neste ou naquele aluno individual.
Tudo o que o educador faz se reflete naquela comunidade de alunos. Além disso, esse reflexo
é facilitado, na medida em que o psicólogo educador trabalha com os determinantes externos
do comportamento dos alunos, detem1inantes estes aos quais toda a coletividade está exposta. ••
Determinantes do tipo ambiente físico, currículo, professor, material etc. estão presentes e
afetando a todo o grupo de alunos e a atuação bem sucedida do psicólogo junto a esses deter-
••
minantes traz como conseqüência um efeito cuja abrangência é bastante ampla, atingindo a
maior parte daquela coletividade de alunos.

••
Apesar da descrição acima enfatizar uma atuação do psicólogo bastante diferente do ••
modelo clínico tradicional, em algumas escolas esse modelo ainda prevalece. Em outras, ain-
da, há a presença dos dois modelos de atuação (o educacional e o clínico). ••
Quando aplicado no contexto da escola, o modelo clínico pode implicar a presença das
••
••
seguintes atividades:
(a) psicodiagnósticos, por ex., entrevistando alunos e suas famílias; testando habilida-
des e desempenhos acadêmicos; aplicando testes de personalidade etc.,
(b) eventualmente (quando tem condições e seu contrato com a escola permite) aplica- ••
ção de técnicas e métodos de tratamento psicoterapêuticos ou,
(c) encaminhamentos a outros profissionais para tratamento. ••
Deve-se observar que, em geral, o psicólogo que adota esta forma de atuação clínica
na escola tem atividades cujo caráter é basicamente remediativo, isto é, ele é chamado a atuar
••
quando os outros educadores, ou ele mesmo, encontram o que se convencionou chamar de ••
aluno-problema, aluno este que é encaminhado ao psicólogo da escola para que seu problema
seja resolvido, de alguma forma. Isto é, o psicólogo aqui é visto como o profissional que vai ••
lidar com os problemas depois que eles surgem, de fonna a minimizá-los. Daí a referência à
sua atuação como tendo caráter remediativo. ••
Em termos da postura frente ao processo educacional que esse profissional apresenta,
••
••
pode-se dizer que seu envolvimento com esse processo raramente é direto, sendo que o foco
de interesse principal do conhecimento que o psicólogo utiliza está basicamente centrado no
indivíduo (no aluno-problema) e nos determinantes internos de seu comportamento (suas ne-
••
••

29

cessidades, angústias etc.) e não nos determinantes externos (que, no caso, seriam todas as
inúmeras condições presentes no ambiente educacional imediato e remo~o). Essa postura é
representada muitas vezes pelo fato do psicólogo ter uma sala na escola e seu trabalho ser
desenvolvido basicamente nesse local, sem que ele necessariamente tome contato com o am-
biente educacional mais amplo, em todos os sentidos, desde o ambiente físico, até o que acon-
tece nas salas de aula. Em resumo, o envolvimento do psicólogo que adota essa postura clíni-
co-remediativa na escola, com o processo educacional como um todo, é bastante pequeno.
Os psicólogos educacionais têm diferentes tipos de vínculos com as instituições: al-
guns são contratados em período integral, outros trabalham em variados períodos parciais,
outros não são assalariados da escola, mas são contratados como autônomos, prestando asses-
soria e serviços às escolas, quando solicitados. Observa-se também que muitos têm, além do
trabalho nas escolas, atuação em consultório particular próprio ou outros contextos, como o
organizacional e institucional.
Muito se pode discutir a respeito da atuação do psicólogo que trabalha nas escolas. Por
exemplo, freqüentemente se discute o fato de que a atuação dos psicólogos se restringe às
escolas particulares, sendo que sua presença no sistema de ensino oficial é incipiente ou ine-
xistente, trazendo com isso sérias in1plicações para a função social do psicólogo. Isto é, no
conjunto das escolas brasileiras observa-se número pequeno de psicólogos contratados, mes-
mo quando estas escolas se restringem às particulares. Nas últimas décadas os psicólogos que
se formam têm, em sua maioria, preferido atuar em outros contextos de atuação. Além disso,
-'
o sistema público de ensino não tem historicamente considerado importante a presença do
profissional de psicologia nas escolas e o resultado disso é uma abrangência pequena da nossa
função social.

A ÁTUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO ÜRGANIZACIONAL E


DO TRABALHO
Pode-se dizer que um dos objetivos do psicólogo, no contexto das Organizações e do
Trabalho (daí a denominação psicólogo organizacional ou do trabalho) é o de fornecer à Or-
ganização os recursos humanos que ela necessita e ali mantê-los. A humanização das relações
de trabalho deve ser um princípio que orienta esse objetivo.
Como exemplos de algumas atividades tradicionais do psicólogo dentro das organiza-
ções, podemos mencionar:
••
30 •
••
Recrutamento: o psicólogo, como o nome da atividade sugere, recruta candidatos a
ocuparem determinadas vagas na empresa. Este recrutamento pode ser feito dentro da própria ••
organização (recrutamento interno) como, também, fora dela (externo, por exemplo, através
de anúncios em jornal). O psicólogo está envolvido nesta atividade, na medida em que conhe-
••
ce o perfil (habilidades, conhecimento e características de personalidade) do funcionário ideal
••
para ocupar uma vaga e, nessa medida, recruta este funcionário, especificando e descrevendo,
neste recrutamento (através, por exemplo, de um cartaz no quadro de aviso da empresa, ou em ••
anúncio de jornal), quais os atributos que ele deve ter para se candidatar ao cargo.
Seleção de pessoal: o objetivo desta atividade é encontrar o candidato a uma vaga que ••
mais se aproxime do perfil necessário para ocupá-la. São várias as atividades e os instrumen-
••
••
tos utilizados para esta seleção, sendo que os mais comuns são a análise de currículos, a en-
trevista, a aplicação de testes (por ex., de personalidade, de habilidades), a observação do de-
sempenho do candidato em grupo (a "dinâmica de grupo"), observação de desempenho do
candidato em uma situação simulada ou real etc.
Treinamento: na medida em que um dos conhecimentos da Psicologia se refere à
••
I
aprendizagem dos indivíduos, o psicólogo é chamado a desenvolver e implementar programas
de treinamento entre os funcionários de forma a melhorar seus desempenhos. Este desempe- ••
nho tanto pode estar relacionado a habilidades específicas ou técnicas necessárias para a fun-
••
ção, quanto pode estar relacionado a habilidades "psicológicas", isto é, aquelas que envolvem
a relação pessoal entre indivíduos. Assim, o funcionário pode ser encaminhado ao treinamen- ••
to com o objetivo de tomá-lo mais hábil para detenninado desempenho ou para garantir as
melhores condições possíveis de relacionamento entre os funcionários (atuação, no caso, pre- ••
ventiva) quanto o psicólogo pode ser chamado a planejar e aplicar um treinamento na tentati-
va de resolver algum problema relacionado ao desempenho de habilidades técnicas ou psico- ••
lógicas (atuação, no caso, remediativa).
••
Tem-se observado, mais recentemente, que o psicólogo organizacional vem desempe-
nhando atividades novas e entre elas podemos citar a ergonomia (estuda e implementa a me-
••
lhor adequação dos equipamentos à estrutura anatômica, fisiológica e psicológica do Homem)
e a assessoria no planejamento de grandes instituições. Nos últimos anos, especialmente, tem- ••
se observado uma tendência entre as empresas em terceirizar os serviços do psicólogo, sendo
que nesse caso ele não é um assalariado da Organização, mas é chamado a assessorá-la, quan-
••
do necessário.
••
Podemos dizer, portanto, que o caráter das atividades do psicólogo organizacional é
basicamente, mas não exclusivamente, preventivo, na medida em que seu objetivo básico é
•• •
••

31

abordar os processos organizacionais, melhorando-os e ampliando-os, visando o desenvolvi-


mento dos indivíduos e das Organizações. Isso não significa que em determinadas situações o
psicólogo não seja chamado a aluar para resolver problemas, tendo, aí, uma atuação remedia-
tiva.
A Psicologia Organizacional, ao tentar compreender o comportamento do indivíduo na
Organização, estuda o contexto social, político e econômico, as relações interpessoais, os ce-
nários em que o funcionário está inserido na Organização e os determinantes internos do indi-
víduo (sua personalidade, expectativas, desejos etc.).
Neste sentido, o psicólogo atua não somente tendo como foco de interesse o indivíduo
ou o grupo/coletividade de pessoas, mas ambos, sintonizando-os num contexto mais abran-
gente de Organização e Sociedade.

A ÁTUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CONTEXTO DA PESQUISA


Como você estudou no Texto 2, fazer pesquisa é produzir conhecimento novo ou con-
firmar, ampliar e aprofundar conhecimento já produzido anteriormente. Esta atividade não se
restringe a um único contexto no qual o psicólogo atua, mas pode, virtualmente, ser realizada
em qualquer dos contextos anteriormente citados (pesquisa em saúde, clínica, educacional,
institucional etc.). Atualmente, as universidades constituem um contexto em que a pesquisa se
desenvolve cotidianamente, seja através de seus professores, seja através dos seus alunos,
especialmente os de pós-graduação. Entretanto, psicólogos que não são professores e não es-
tão vinculados a uma universidade, podem também ser pesquisadores, nos seus respectivos
contextos de atuação.
Produzir conhecimento, isto é, fazer pesquisa, implica um conjunto de atividades es-
pecíficas, voltadas para a busca de respostas para questões que envolvem os mais. variados
aspectos da psicologia humana e animal. Em geral, a pesquisa começa com a especificação de
um problema, de uma pergunta cuja resposta não se conhece, que a pesquisa deverá respon-
der. Especificam-se os sujeitos a serem pesquisados e os métodos a serem utilizados na coleta
de informações (ver atividades de coleta e avaliação sistemáticas de informações descritas no
Texto 2). Os dados, depois de coletados, são analisados, interpretados e discutidos, de forma
que a pergunta original que gerou a pesquisa possa ser respondida. Em seguida, a pesquisa é
relatada e divulgada através de meios como jornais e periódicos de comunicação científica
("revistas" de Psicologia), Congressos, Simpósios e Seminários e esta atividade de divulgação
é essencial, já que garante que o conhecimento possa ser compartilhado com outros profissio-
••
. ·-.::
32 ••
nais e possa ser submetido à crítica e avaliação de outros psicólogos e ser utilizado pelos pro- ••
fissionais.
Não existe uma única fonna de se fazer pesquisa, como o homem comum costuma ••
imaginar, quando vem à sua mente alguém trancado em um laboratório, fazendo experiências,
••
••
utilizando aparelhos sofisticados e utilizando cálculos matemáticos complexos. Esta imagem
se aproxima da forma mais conhecida de pesquisa, que é aquela realizada pelos estudiosos das
Ciências Naturais, como a fisica, a química, a biologia etc. Em Psicologia, esse modelo esteve
presente desde sua fundação, e tem produzido conhecimento bastante significativo, mas ou- ••
tros modelos também foram se desenvolvendo, pm1indo de outras concepções sobre o mundo,
o Homem e o próprio conhecimento. Fala-se em modelo das Ciências Humanas para se referir
••
aos parâmetros que orientam essa outra forma de pesquisar, igualmente importante e que tam-
••
••
bém tem produzido conhecimento psicológico relevante. Nesse modelo, via de regra, não se
busca quantificar os fenômenos psicológicos (o que significa que nem sempre uma pesquisa
se faz com base em números), nem se utilizam experimentos para comprovar seus resultados.
Entretanto, os dois modelos têm em comum a utilização da razão, do pensamento crítico e da
lógica como instrumentos fundamentais na produção do conhecimento. Ao longo do seu cur-
I
I

so, você terá oportunidade de conhecer esses diferentes modelos de pesquisa da Psicologia.
••
••
As condições para a realização de pesquisas nem sempre são as ideais, na medida que
as verbas necessárias nem sempre estão facilmente disponíveis. Há órgãos oficiais que subsi-
diam as pesquisas, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (F A-
PESP), o Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coor- ••
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Não é muito comum, no
Brasil, empresas privadas patrocinarem pesquisas de Psicologia. ••
É importante que se reflita sobre a abrangência social do trabalho do pesquisador. Se
considerannos que o conhecimento produzido pelo pesquisador fica disponível para que todos
••
os outros profissionais o utilizem, potencialmente a abrangência do pesquisador é bastante ••
grande e muitos indivíduos poderão ser beneficiados. Ao mesmo tempo, esse potencial será
reduzido se a divulgação dos resultados das pesquisas se restringir a poucos profissionais, ou ••
apenas a aquele que a desenvolveu. Por outro lado, isto também implica a necessidade dos
profissionais buscarem acesso ao conhecimento e às informações produzidas pela pesquisa, ••
através de estudo, leitura, comparecimento a congressos etc.
Referência Bibliográfica:
••
Campos, T. C.P. (1995). Psicologia Hospitalar. São Paulo: E.P.U. ••
••

••
33

A TIVIDADES PARA ESTUDO E REFLEXÃO SOBRE O TEXTO 3

Sobre o contexto da Saúde


Psicologia Clínica
1. Descreva algumas características da forma típica de atuação do psicólogo clínico ("modelo
clínico de atuação").
2. Reflita sobre a seguinte afinnação: "a atuação do psicólogo clínico não se restringe ao con-
sultório particular".
3. Como você entendeu a afirmação do texto de que o modelo clínico tradicional de atuação
não se mostrou apropriado para ser aplicado nos contextos de atuação mais recentes, especi-
almente na Saúde Pública?
4. Que características deveria ter a atuação do psicólogo nesses novos contextos, de acordo
com os críticos do modelo clínico tradicional?
5. Quais são as principais atividades do psicólogo clínico?
6. Quais são as críticas feitas ao modelo de atuação do psicólogo clínico restrita ao consultó-
rio particular?
Psicologia Hospitalar
1. Como você entende a afirmação de que o papel do psicólogo no hospital é contribuir para a
humanização da instituição hospitalar?
2. Reflita sobre a seguinte afirmação: "O indivíduo, portanto, não se resume à sua doença,
mas é um ser humano complexo e é esse 'todo' humano que precisa ser considerado."
3. Quais são as principais atividades do psicólogo hospitalar?
4. Por que se pode afirmar que é grande a abrangência do trabalho do psicólogo hospitalar, em
termos de quantas pessoas beneficia?
Psicologia Institucional e Comunitária
1. Mencione alguns locais de atuação do psicólogo que mostrem a ampla variedade de insti-
tuições em que ele pode atuar.
2. Reflita sobre a seguinte afinnação: "Nas instituições, os psicólogos atendem diariamente a
um número bastante grande de pessoas, o que inviabiliza a aplicação do modelo individual de
atuação."
••
'-·.:..
34 ••
Sobre o contexto Educacional ••
1. O que caracteriza a atuação do psicólogo educacional como um :"educador" que participa,
com outros, do processo educacional como um todo?
••
2. Quais as principais atividades desempenhadas pelos psicólogos educacionais?
••
3. Por que se pode afirmar que a atuação do psicólogo educacional, na maioria das vezes, tem
caráter preventivo e tem como referência a coletividade de alunos? ••
4. O que caracteriza o trabalho do psicólogo que trabalha na escola seguindo o modelo clínico

de atuação? Quais são suas atividades?


5. Reflita sobre a seguinte afmnação: "Apesar de toda a coletividade de alunos de uma escola •••
poder ser beneficiada pelo trabalho do psicólogo, a abrangência social do psicólogo educacio-
••
••
nal no Brasil ainda é pequena."

Sobre o contexto Organizacional


1. Como você entende a afmnação de que o objetivo da psicologia organizacional é fornecer ••
recursos humanos à Organização e ai fixá-los?
2. Quais são as principais atividades desenvolvidas pelos psicólogos organizacionais?
••
3. A atuação do psicólogo organizacional é preventiva ou remediativa? Justifique sua respos-
••
••
ta.
4. Quais fatores são estudados quando o psicólogo organizacional busca compreender o com-
portamento do indivíduo no trabalho?
••
Sobre o Contexto de Pesquisa
1. Reflita sobre a seguinte afirmação: "Fazer pesquisa é produzir conhecimento novo ou con- ••
firmar, ampliar e aprofundar conhecimento já produzido anteriormente."
2. Por que não está correto afmnar que a pesquisa só pode ser feita por professores vinculados
••
a universidades? ••
3. Descreva resumidamente o conjunto de atividades específicas que constituem a atividade
geral de pesquisar. ••
4. Reflita sobre a seguinte afirmação: "Se os resultados das pesquisas não forem divulgados,
ou se os profissionais não pesquisadores não buscarem entrar em contato com eles, o poten-
••
cial de abrangência social do trabalho do pesquisador fica reduzido."
••
••
••
••

35

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO TEXTO 4

ALGUNS CRITÉRIOS PARA A REFLEXÃO SOBRE A A TUAÇÃO DO PSICÓLOGO

O texto que você vai ler a seguir tem algumas características diferentes dos textos an-
teriores. Você vai notar que aqui o estilo do texto é diferente, já que ele foi extraído e adapta-
do de um relato de uma pesquisa sobre a profissão de psicólogo. Sendo um relato de pesquisa,
o texto segue algumas normas e regras de redação e fonnato, que você aprenderá posterior-
mente, quando estudar metodologia do trabalho científico. Como imaginamos que este tipo de
texto é novo para você, algumas dicas gerais de leitura são importantes. Em primeiro lugar,
tenha um dicionário à mão, já que é possível que você encontre algumas palavras que desco-
nheça. Outra coisa importante: não se preocupe em memorizar datas e nomes de autores, ape-
sar da grande quantidade de citações que o texto apresenta. Em Ciência, o conhecimento se
produz com base no conhecimento obtido anteriormente. Sendo assim, há necessidade do tex-
to referir-se a trabalhos feitos anteriormente, a seus autores, datas e locais de publicação, que
apóiem as idéias apresentadas nele. A longa lista de referências bibliográficas que se encontra
no final do texto cumpre essa função de informar ao leitor a origem das idéias contidas nele.
Não se esqueça de ir lendo o texto utilizando as dicas de leitura e as questões de estu-
do que se encontram ao final do material. Isto poderá facilitar a compreensão dos pontos prin-
cipais discutidos.
Note que, embora este trabalho cubra um período da história da profissão que vai até
apenas até o início dos anos 2000, sua apresentação se justifica pela discussão da questão da
função social contida nele. Para atualização dos dados sobre a profissão até os anos mais re-
centes, aconselha-se fortemente que você recorra à seguinte referência, presente na bibliogra-
fia básica da disciplina:
BASTOS, A. V. B. & GONDIM, S. M. G. (orgs.). O trabalho do psicólogo no BrasiL Porto
Alegre: Artmed, 201 O.


••
36 ••
A FUNÇÃO SOCIAL DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO* ••
••
•.
HISTÓRJA E IDEOLOGIA DA PROFISSÃO DE PSICÓLOGO NO BRASIL
O que se apresenta a seguir não é um relato completo da história da profissão no Bra-
sil. Faremos menção, apenas de fonna esquemática, a alguns eventos que são parte dessa his-
tória, além de comentar alguns pontos que são salientados na literatura produzida pelos estu- ••
diosos da área. A Cultura Profissional do Psicólogo já tem parte de sua história registrada em
alguns trabalhos, como se observa desde Pessotti (1975), passando por Massimi (1990) e An- ••
tunes (1998), que se ocuparam em conhecer a nossa história do período colonial até o início
••
••
do século XX. Outros relatos históricos dos períodos subseqüentes podem ser encontrados em
vários outros autores, como Dimenstein (1998a, 1998b, 2000), em que a autora apresenta des-
crição e análise detalhadas e bem delineadas de eventos históricos e institucionais do fmal da
década de 70 até a de 80 no Brasil e suas relações com a entrada do psicólogo no mercado de ••
trabalho no serviço público. Outro relato bastante detalhado da história da profissão e, princi-
palmente, da formação do psicólogo pode ser encontrado em Batista (2000); Jacó-Vilela ••
( 1999) também nos apresenta alguns aspectos da história da formação profissional no Brasil e
••
••
nossa história mais recente pode ser encontrada discutida por Bock (1999a). A autora nos
apresenta uma descrição de acontecimentos políticos e sociais que estiveram presentes e rela-
cionados à história da profissão no Brasil desde a década de 70 até meados de 90, fazendo
uma minuciosa descrição e avaliação, ano a ano, dos movimentos de vários segmentos da ••
categoria profissional dos psicólogos que, de seu ponto de vista, resultaram numa transforma-
ção positiva da profissão, especialmente no sentido de uma maior participação no atendimento ••
às necessidades da população e no sentido de uma melhoria da imagem social da profissão.
••
••
Batista (2000), ao analisar o desenvolvimento científico e profissional da Psicologia
no Brasil, aponta três marcos que pontuam aspectos importantes da nossa história: (a) um
primeiro marco, constituído pelas origens históricas da Psicologia, no período colonial e seus
primeiros desenvolvimentos, com sua inclusão, como disciplina, nos currículos dos cursos de ••
Medicina no Rio de Janeiro e na Bahia, no final do século XIX, passando pela criação de la-
boratórios experimentais e por sua aplicação, como Psicologia Científica, em instituições psi-
••
quiátricas e educacionais, já no início do século XX; (b) um segundo marco, chamado de fase
••
* Texto extraído e adaptado de: Bettoi, W. Natureza e construção de representações sobre a profissão na Cultura
••
••
Profissional dos psicólogos. São Paulo, 2003, 273p. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade de
São Paulo.

••
6' •
37

profissional, inaugurado pela abertura dos cursos de Psicologia (na PUC-RJ, em 1956 e na
Universidade de São Paulo, em 1957) e pela regulamentação da profissão, em 1962. Em 1964,
a formação e o exercício profissional são regulamentados pelo Conselho Federal de Educação.
Salienta-se, no início da década de 70, a expansão no número das escolas de Psicologia, em
função da política oficial de abertura do Ensino para a iniciativa privada; (c) um terceiro mar-
co, que se inicia com a inserção dos psicólogos nos serviços públicos de saúde. Segundo Di-
menstein (1998a), no fmal da década de 70, começa o movimento de abertura de mercado
para as instituições públicas, com o aumento do número de psicólogos nelas. Esse movimento
se expandiu muito lentamente nos anos seguintes, sendo ainda o número de profissionais pou-
co expressivo, comparado a outras categorias profissionais do setor de saúde e a outras áreas
de atuação dos psicólogos. A autora chama a atenção para o fato desse movimento ocorrer em
estreita relação com o contexto histórico-político-econômico, salientando as políticas públicas
de saúde do final dos anos 70 e década de 80 e a crise econômica e social nos anos 80, levan-
do ao afastamento da clientela dos serviços privados.
Assim como os psicólogos têm estudado a sua história, as ideologias que nela se
constroem têm sido, também, objeto de sua reflexão. Quando falamos em "ideologia" da pro-
fissão estamos interessados em discutir questões como quais os partidos que temos tomado,
como psicólogos, em relação às coisas do mundo, conhecer o que se oculta sob aquilo que
temos feito profissionalmente, aos interesses que servimos, com o quê nos comprometemos e
o quê nossas ações produzem nos outros.
Uma das primeiras questões que se colocam diz respeito à nossa função social, como
psicólogos, e aos nossos compromissos com a sociedade. Quando se pergunta a quantos e a
quem temos atingido com nosso trabalho (isto é, qual a nossa abrangência social) e qual o
significado dos efeitos produzidos pela nossa atuação (se contribuem, e como, para a trans-
formação do Homem e da Sociedade), estamos tratando da ideologia que tem caracterizado a
nossa profissão. Fica, então, caracterizado o conceito principal deste texto, o conceito de
função social da atuação do psicólogo. Assin1, função social deve ser entendida como os
efeitos do trabalho do profissional sobre a sociedade. No âmbito desta disciplina, esse efeito
será avaliado em termos de sua abrangência (isto é de quantos e quem são os atingidos pela
atuação do profissional) e de seu significado (isto é, se o trabalho contribui para a transfor-
mação do indivíduo ou da sociedade). Nessa medida, sempre haverá alguma função social
sendo exercida, ainda que essa função social signifique efeitos apenas sobre poucos ou que
esses poucos pertençam a uma única classe social. Não faz sentido, portanto, dizer que não há
••
38 ••
função social quando o psicólogo atinge poucas pessoas com sua atividade profissional. Não ••
utilizamos o tem10 "social" apenas para nos referirmos à classe soci;;:Lmenos favorecida.
Nossa abrangência social tem sido, historicamente, bastante restrita. Para Dimenstein
••
(1998a), a abrangência da atuação do psicólogo não deveria ser avaliada pela variedade de
••
••
técnicas utilizadas ou pela diversidade das atividades do profissional. Para ela, uma atuação
abrangente se dá pela "possibilidade de alcançar uma parcela relevante da população ou de
situações em que é potencialmente útil." (p.29). É consenso, entre os envolvidos com a profis-
são, que poucos brasileiros têm sido atingidos diretamente pela nossa atuação profissional, ••
constituindo-se eles na parcela mais privilegiada, econômica e socialmente, da nação. Apenas
nos anos recentes a Psicologia tem se aproximado das populações mais pobres, através de sua
••
inserção nos serviços públicos de saúde, apesar desta inserção ocorrer de forma bastante pau-
••
••
latina e cercada de problemas, como se verá adiante.
Desde o final da década de 70 e início de 80, observa-se o interesse de estudiosos por
uma discussão sobre a função social do psicólogo. Mello (1975), já se utilizava do termo ft.m-
ção social, constatava que nossa função social era muito pouco significativa e nos advertia ••
sobre a necessidade de reve1iemos o quadro para o futuro. Botomé (1979) nos perguntava a
quem, "de fato", servíamos. Carvalho (1982), nos apresentava reflexões bastante interessantes
••
sobre as relações entre a sociedade e a profissão e, ao colocar em discussão a questão das ne-
••
••
cessidades sociais às quais deveríamos atender, fazia importantes considerações a respeito do
fato dessas necessidades não estarem sendo as responsáveis pela abertura de espaços de atua-
ção do psicólogo. Para ela, isso não ocorria em função da pressão exercida pela imagem social
da profissão, imagem esta limitada e responsável pela abertura dos espaços limitados a serem ••
ocupados pelos psicólogos.
Discutindo nossa função social, Campos (1983) nos remete à origem de nossa profis-
••
são no contexto das sociedades capitalistas da Europa, no final do século XIX, dominadas
••
••
pela pressupostos da ideologia liberal, como a noção de liberdade individual, da igualdade de
oportunidades, da responsabilidade individual e das aptidões naturais, que serviam à função
de mascarar as desigualdades produzidas pela divisão de classes. É nesse contexto que a práti-
ca do psicólogo passa a ser requerida, principalmente para exercer a função de adaptação e ••
colaboração à reprodução da dominação de classe*. A ideologia liberal pressupõe um modelo
de indivíduo, que é visto como autônomo, senhor de si e independente (isto é, sua vida de-
••
pende apenas de si, principalmente de sua vontade e suas capacidades inatas), desvinculado
••
* A esse respeito, ver também Bock (2003).
••
••
• •
39
··.~-

dos determinantes de sua cultura (isto é, não depende das int1uências que recebe de sua cultu-
ra e da sociedade).
Ao longo das décadas de 80 e 90, a função social do psicólogo continuou a ser discuti-
da e isso se deveu principalmente, confonne Campos (1983), Dimenstein (1998a), Jacó-Vilela
(1999) e Moura (1999), ao fato de o psicólogo se sentir insatisfeito com sua formação eco-
meçar a ter necessidade de aproximar-se de contextos sócio-culturais desconhecidos, em fim-
ção da saturação do mercado para a área clínica privada. Campos (1983) acredita que, em
função dessa saturação do mercado de trabalho, o psicólogo se viu obrigado a prestar seus
serviços à população de menor renda e que é neste ponto que o profissional pode encontrar a
possibilidade de lutar contra a dominação histórica. Isso se daria na medida em que os profis-
sionais tomassem consciência e refletissem sobre a inadequação das práticas aprendidas aos
novos contextos de atuação e fossem capazes de alterá-las.
A necessidade de se pensar sobre a função social ficava, então, mais evidente, princi-
palmente em seus aspectos relacionados à formação do profissional. Nessa medida, encon-
tram-se nas publicações disponíveis ao longo das duas últimas décadas, vários trabalhos abor-
dando aspectos da nossa função social, dos nossos compromissos sociais e das necessidades
sociais para as quais os psicólogos deveriam atentar (Del Prette, 1986; Bastos, 1988; Bonfim,
1990; Ozella & Lurdes, 1993; Weber, Botomé & Rebelatto, 1996; Bettoi, 1998; Bock, 1999b;
Bettoi & Simão, 2000).
Para Dimenstein (1998b), a entrada do psicólogo no mercado da saúde pública, em
função, entre outros fatores, da retração de sua clientela particular em razão da crise econômi-
. ca dos anos 80, levou ao questionamento dos modelos de atuação do psicólogo, ineficientes e
inviáveis no contexto das instituições públicas. Por modelo de atuação deve-se entender sua
forma típica de atuar, quais são as práticas profissionais que tradicionalmente têm sido utili-
zadas pelos psicólogos, como elas são desenvolvidas e quais são as suas características. Essa
discussão contribuiu para que o alcance social da profissão fosse criticado e produziu uma
série de iniciativas, a partir dos anos 80, no sentido de dar à profissão uma função social mais
significativa. Os modelos de atuação do psicólogo são, dessa forma, analisados, a distribuição
dos psicólogos pelas áreas de trabalho é levantada, seus vínculos empregatícios são identifi-
cados e o que se constata é a predominância de um modelo de atuação, que se concretiza na
atuação do psicólogo de forma tal, que apenas uma pequena parcela da população é atingida.
Levantamentos que sistematicamente têm sido feitos pelos órgãos representantes da
categoria, para mapear a situação dos psicólogos brasileiros (Sindicato dos Psicólogos no Es-
tado de São Paulo, 1984; Conselho Federal de Psicologia, 1988; Conselho Regional de Psico-
••
40 ••
logia- 6a, 1995) e outras iniciativas regionais ou institucionais específicas, através de pesqui- ••
sas feitas por psicólogos independentes (por exemplo, Yamamoto, ;~iqueira & Oliveira, 1997,
.. ,·

no Rio Grande do Norte; Magalhães, Straliotto, Keller & Gomes, 2001, no Rio Grande do ••
Sul) têm mostrado a predominância da atuação do psicólogo como clínico autónomo em con-
sultórios particulares, trabalhando tipicamente de fom1a individual, com objetivos remediati-
••
vos (buscando remediar ou resolver problemas), focado nos determinantes internos da vida
••
••
psíquica dos seus clientes (isto é, dando mais atenção às características internas das pessoas
do que a aquilo que ocorre fora dela). Dados obtidos através de um levantamento feito pelo
Conselho Federal de Psicologia (WHO/CFP, 2001) junto a uma amostra de profissionais re-
presentativa dos inscritos nos Conselhos Regionais de todo o país, confirmam basicamente ••
este panorama*. Para Dimenstein (2000), a Cultura Profissional do psicólogo brasileiro é car-
regada de uma ideologia individualista, o que explicaria a manutenção, entre grande parte dos
••
profissionais, daquele modelo, como norteado r de sua atuação.
••
Estabelecem-se relações entre a função social do trabalho do psicólogo e aquela forma
típica de atuação. Considerado no seu todo, o modelo de atuação impede uma abrangência ••
social significativa porque implica serviços de alto custo, oferecidos na fonna de atendimento
privado aos quais a população de baixa renda não tem acesso. Requer um treinamento longo, ••
contínuo e especializado, o que também onera seu custo. O caráter basicamente curativo do
modelo aplicado impede que amplas faixas da população se beneficiem da profissão, pois não
••
opera com base na lógica e no pressuposto da saúde integral do cidadão. Na medida em que
••
está voltado para o conhecimento dos fatores internos que caracterizam o indivíduo psicológi-
co, impõe-se uma tarefa altamente complexa, o que obriga a uma abordagem individual
(igualmente restritiva), contínua, em geral longa. Da mesma fonna, a ênfase na busca de
••
compreensão dessa "natureza" psicológica individual, impede que se apreenda o homem e o
fenômeno psicológico na sua condição de produto e produtor simultâneo do seu contexto só-
••
cio-cultural e histórico.
••
••
Visto dessa forma, o fenômeno que se observa na nossa Cultura Profissional, caracte-
rizado pela predominância da atuação autônoma em clínica particular e pela predominância
do modelo típico de atuação discutido, resulta em uma abrangência social pequena (são pou-
cos os beneficiados, tomando a população como um todo, e apenas os pertencentes aos seg- ••
mentos sociais superiores) e pouco significativa, já que não tem contribuído para a transfor-
••
* Dados regionais diferem desta generalização. Por exemplo, Japur & Osório (1998), a partir de uma pesquisa
com egressos do curso de Psicologia de uma instituição pública do interior de São Paulo, apresentam indicadores ••
de que a atividade clínica em consultório particular pode estar começando a perder sua hegemonia.

••
••

41

mação sociaL Pelo contrário, conscientes ou não disto, os psicólogos têm estado a serviço das
classes dominantes e da manutenção desse domínio, segundo Dimenstein (2000).
Como apontamos acima, o trabalho pioneiro de Mello (1975) já estabelecia, há mais
de trinta anos, estas relações entre a função social do psicólogo e sua fonna típica de atuação
e inserção no mercado. No entanto, o exame das publicações de todo esse período, até os anos
recentes, mostra que a discussão sobre a questão fez alguns avanços, mas ainda há muito a se
fazer e pensar sobre o assunto.
O modelo de atuação com o qual o profissional tem saído das faculdades tem sido cri-
ticado como inadequado, mas, ao mesmo tempo, ele parece ter se alterado muito pouco no
tempo, em desproporção a um outro movimento, que apesar de lento, certamente começou a
se processar na década de 80, na medida em que os psicólogos passaram a trabalhar em outras
situações diferentes dos consultórios e iniciaram sua entrada nos serviços públicos de saúde.
Parece que, com o agravamento da crise económica nos anos 80 e 90, com a saturação do
mercado da clínica e afastamento dos clientes dos consultórios, os profissionais começaram,
mais recentemente, a experimentar concretamente aquilo que se vislumbrava como possibili-
dade ou advertência nos primeiros trabalhos e reflexões produzidas: aquilo que os psicólogos
sabem fazer não se coaduna às novas situações a serem enfrentadas, isto é, seus modelos de
atuação têm se mostrado inadequados para a prática. Isso pode ser observado em trabalhos de
pesquisa recentes (Dimenstein 1998a, 1998b; Batista, 2000), em que os autores estudam espe-
cificamente a inserção e a atuação dos psicólogos nos serviços de saúde pública e concluem
pela inadequação do modelo.
Pode-se dizer, então, que a questão da abrangência da nossa função social tem mostra-
do sinais de mudanças nas últimas décadas, uma vez que aumenta o número de pessoas frente
às quais o psicólogo atua e a natureza da classe social atingida deixa de ser exclusiva. Por
outro lado, o significado de nossa função social continua em discussão, na medida em que,
ocupados os espaços de atuação, o que se faz nele ainda não contribui para a transformação
social, provavehnente em função do modelo de atuação utilizado.
Yamamoto (1996), analisando dados de uma pesquisa que ainda indicavam maior con-
centração de psicólogos exercendo atividades clínicas em consultório particular, afirma:
"A conclusão possível de extrair-se daqui não é a de que a
psicologia não esteja em processo de transformação, ou que
não tenha possibilidades para tanto. (... ) Se, de fato, as pers-
pectivas de atuação na área da saúde são mais amplas e pro-
••
. . '·~
42 ••
missaras, a realidade atual não nos dá muitos motivos para ••
júbilo.'' (p. 22).
Para o autor, a barreira que a Psicologia precisa superar ••
"é aquela do limitado significado social da profissão, na di-
••
••
reção de uma prática que tenha uma substantiva contribuição
a dar no quadro da bmtal iniqüidade social, que é a marca
mais pungente da realidade brasileira hoje." (p. 23).
Na mesma linha, Bock (1999b) afirma que a exigência de que a profissão assuma um ••
compromisso social decorre das péssimas condições de vida da população, que tem gerado
sofrimento psíquico de toda natureza. No seu ponto de vista, as transfonnações na Psicologia, ••
que tem passado a criticar a visão do fenômeno psicológico como algo "natural" do indivíduo,
••
••
permitem ver mais claramente a necessidade do compromisso social do profissional. A autora
vai além e discute também a questão da defmição dos critérios para se considerar uma atuação
como compromissada socialmente. Sugere que se pense sobre os seguintes critérios: (a) a atu-
ação deve contribuir para a transfonnação social, para as mudanças nas condições de vida da ••
população; (b) a atuação deve fugir do modelo médico de doença; (c) atuação deve ser basea-
da em técnicas novas, criadas a partir das características da população a que se destina.
••
De fato, a discussão sobre a necessidade do psicólogo assumir compromissos sociais
••
fica mais em evidência no final da década de 90, o que pode ser notado pelo exame de algu-
mas iniciativas dos órgãos de classe, em especial os Conselhos Federal e Regionais, através ••
de suas publicações, congressos e outros eventos. Como exemplos, pode-se citar as matérias
do Jornal do CRP (CRP, 1999), propondo uma reflexão sobre o compromisso social da Psico- ••
logia e relatando alguns trabalhos de psicólogos em favelas, comunidades pobres e ruas de
São Paulo. O Jornal do CFP (CFP, 1999) publica notícia com a manchete: "Cresce compro-
••
misso social dos psicólogos brasileiros", descrevendo um trabalho realizado por uma psicólo-
••
••
ga (Magda Gebrim), junto a um assentamento do Movimento dos Sem Terra no estado de São
Paulo. Em 2000, CFP e CRPs promovem a Primeira Mostra Nacional de Práticas em Psicolo-
gia, cujo tema era Psicologia e Compromisso Social, em que mais de 1500 trabalhos apresen-
taram exemplos concretos de atuações frente a contextos sociais e institucionais não tradicio- ••
nais. Em 2001, o CRP SP publica uma revista (Múltipla), inteiramente dedicada ao tema
"Transformação Social: a Psicologia construindo uma sociedade mais justa e solidária", apre-
••
sentando relatos de trabalhos de psicólogos em uma grande variedade de contextos sócio-
••
culturais em contato com populações multicaracterizadas, em geral inusitadas aos psicólogos
(CRP SP, 2001). ••
••
••
43

Pode-se dizer, portanto, que apesar de a profissão ter experimentado alguns avanços
nas últimas décadas, no que diz respeito à sua relevância social, est.es avanços serviram para
que a categoria experienciasse o contato concreto com problemas, de alguma fonna já anteci-
pados no trabalho de reflexão de alguns autores sobre a profissão. Isto é, nosso modelo típico
de atuaçâo, aplicado na prática, junto aos novos contextos, com populações mais pobres, mos-
trou-se inviável em muitos aspectos, impedindo que a população se beneficiasse efetivamente
com nossa atuação, como alguns estudiosos previam, no üúcio da década de 80. Nossa atua-
ção ainda necessita, portanto, ser objeto de estudos, pesquisas e reflexões para que possa
cumprir seu papel na transfonnação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, M. A. M. (1998). A Psicologia no Brasil. Leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: Uni-
marco Editora!Educ.
BASTOS, A. V. B. (1988). Áreas de atuação: em questão o nosso modelo profissional. Em: Conselho Federal de
Psicologia, Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon/Educ
BATISTA, M. I. F. C. S. (2000). A formação do psicólogo em questão: hiato entre a formação acadêmica e a
real idade social. Disse1iação de Mestrado Não-Publicada, Curso de Pós-Graduação em Educação Esco-
lar, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, SP.
BETTOI, W. (1998). Interação de condições de ensino presentes em disciplina de curso de Psicologia com con-
cepções e expectativas de seus alunos sobre a profissão. Disse1iação de Mestrado Não-Publicada, Curso
de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
BETTOI, W. & SIMÃO, L. M. (2000). Profissionais para Si ou para Outros? Algumas reflexões sobre a forma-
ção dos psicólogos. Psicologia Ciência e Profissão, 20, 2, 20-31.
BOCK, A. M. B. (1999a). Aventuras do Barão de Münchhausen na Psicologia. São Paulo: EDUC/Cortez.
BOCK, A. M. B. (1999b). A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso soci-
al. Estudos de Psicologia, 4 (2), 315-329.
BOCK, A. M. B. (2003). Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites. Em: Ana M. B.
Bock (org.), Psicologia e o compromisso social. São Paulo: Cortez, pp. 15-28.
BOMFIM, E. M. (1990). O papel social do Psicólogo. Psicologia e Sociedade, 8, 13-16.
BOTOMÉ, S. P. (1979). A quem, nós psicólogos, servimos de fato? Psicologia, 5 (I), 1-16.
CAMPOS, R. H. F. (1983). A função social do psicólogo. Educação e Sociedade, 16, 74-84.
CARVALHO, A. M. A. (1982). A profissão em perspectiva. Psicologia, 8,(2), 5-17.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (1988). Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon/Educ.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (1999). Jornal do Federal, ano XIV, 60, p. 4.
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA-6" Região (1995). Psicologia: Formação, Atuacão Profissional e
Mercado de trabalho. São Paulo: CRP-06.
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA-6•. Região (1996). Jornal do CRP, 16, 100, p. 4.
. ·~',;.
44 ••
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA-SP (1999). Jornal de Psicologia, 17, 117, 10-13. ••
••
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA-SP (2001 ). Múltipla. revista de Psicologia, I (1).
DEL PRETTE, Z. P. D. (1986). O papel social da Psicologia: reflexões sobre cr'ii~~ios e métodos para avaliar a

••
relevância de intervenções na comunidade. Ciência e Cultura, 38(2), 329-333.
DIMENSTEIN, M. (1998a). O psicólogo no contexto do sistema único de saúde (SUS): perfil profissional e
perspectivas de atuacão nas unidades básicas de saúde (UBSs). Tese de Doutorado Não-Publicada, Cur-
so de Pós-Graduação em Saúde Mental, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.
DIMENSTEIN, M. (1998b). O psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde: desafios para a formação e atuação
••
profissionais. Estudos de Psicologiª' 1998, 3(1), 53-81.
DIMENSTEIN, M. (2000) A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a
••
prática no campo da assistência pública a saúde. Estudos de Psicologia, 1(5), 95-121.
JACÓ-VILELA, A. M. (1999). Formação do psicólogo: um pouco de história. Interacões, estudos e pesquisa em
••
Psicologia, 4 (8), 79-91.
JAPUR, M. & OSÓRIO, F. L. (1998). Avaliação de um curso de Psicologia em relação à área de inserção profis- ••
sional. Psico, 29 (1), 7-32.
MAGALHÃES, M., STRALIOTTO, M., KELLER, M. & GOMES, W. B. (2001). Eu quero ajudar as pessoas: a ••
escolha vocacional da Psicologia. Psicologia Ciência e Profissão, 21 (2), 10-27.
MASSIMI, M. (1990). História da Psicologia Brasileira. Da época colonial até 1934. São Paulo: E.P.U. ••
MELLO, S. L (1975). Psicologia e Profissão em São Paulo. São Paulo: Editora Ática.
MOURA, E. P. G. (1999). A Psicologia (e os psicólogos) que temos e a Psicologia que queremos: reflexões a ••
partir das Propostas das Diretrizes Curriculares (MEC/SESU) para os cursos de graduação em Psicolo-
gia. Psicologia Ciência e Profissão, 19 (2), 10-19. ••
OZELLA, S. & LURDES, M. (1993). A des-articulação entre a formação e as necessidades da sociedade. Em:
Conselho Regional de Psicologia- 6a. Região, Jornal do CRP, 83, setembro, p.11. ••
••
PESSOTTI, I. (1975). Dados para uma história da Psicologia no Brasil. Psicologia, 1 (1 ), 1-14.
SINDICATO DOS PSICÓLOGOS NO ESTADO DE SÃO PAULO (1984). O perfil do psicólogo no Estado de

••
São Paulo. São Paulo: Cortez Ed.
WEBER, LN. D., BOTOMÉ, S. P. & REBELA TIO, J. R. (1996). Psicologia: definições, perspectivas e desen-

••
volvimento. Psicologia Argumento, XIX, 9-28.
WHO/CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (2001). Quem é o psicólogo brasileiro?
http://www.pol.org. br/m·gui vos-pcl flrelatorio who.doc
YAMAMOTO, O. H. (1996). Neoliberalismo e políticas sociais: o impacto na psicologia brasileira. Psicologia
Revista, (2), 13-26. ••
YAMAMOTO, O. H., SIQUEIRA, G. DA S. & OLIVEIRA, S. C. DA C. (1997). A Psicologia no Rio Grande
do Norte: caracterização geral da formação acadêmica e do exercício profissional. Estudos de Psicolo- ••
g@, 2(1), 42-67.
••
••
••
••
••
45

ATIVIDADES PARA ESTUDO E REFLEXÃO SOBRE O TEXTO 4

1. Dica de leitura: Os parágrafos iniciais, em que o autor apresenta um breve relato

sobre a história da profissão no Brasil, devem ser lidos com a atenção necessária para que se
tome contato com o desenvolvimento da história da profissão no Brasil e se estabeleçam rela-
ções entre essa história e a questão da função social da profissão.
2. Segundo o autor, a reflexão sobre as ideologias que se construíram na história da
profissão levanta algumas questões importantes para discussão. Quais são essas questões?
3. Dica de leitura: Antes de você continuar a leitura é importante que você entenda
uma expressão que será utilizada bastante no texto: função social do trabalho do psicólogo.
Por função social, entendem-se os efeitos que a atuação do psicólogo produz na sociedade.
Esse efeito é identificado em te1mos da abrangência e do significado social da atuação do pro-
fissional.
4. (a) Qual é o sentido da expressão "abrangência e significado social da profissão"?
(b) Qual é a avaliação que os estudiosos da profissão têm feito da abrangência e da função
social da Psicologia?
5. (a) Historicamente, quais eram os pressupostos da ideologia liberal? (b) Segundo o
autor, quais as funções que essas crenças exerciam no contexto da época? (c) Que papel a
profissão de psicólogo exercia, em relação ao poder vigente na época?
6. (a) Quais foram as condições do mercado de trabalho do psicólogo e da sociedade
que levaram ao questionamento dos modelos tradicionais de atuação do psicólogo? (b) De que
maneira esta questão poderia estar relacionada à fonnação do psicólogo?
7. Segundo o texto, quais são as características do modelo tradicional de atuação?
8. Quais os argumentos que a literatura sobre a profissão apresenta no sentido de afrr-
mar que existe relação bastante estreita entre os modelos de atuação do psicólogo e sua função
social?
9. O que você entende pela afirmação: "Aquilo que o psicólogo sabe fazer não se coa-
duna às novas situações a serem enfrentadas".? Deixe claro que situações são essas.
10. O autor afirma que a questão da abrangência social da profissão tem mostrado si-
nais de mudança nas últimas décadas. Entretanto, ele aflfllla que isso não significa que a ques-
tão da função social do psicólogo tenha sido resolvida. Por quê?
11. A necessidade de compromisso social do psicólogo tem sido apontada por diversos
autores. Segundo Bock (1999b), por que esse compromisso é necessário? O que você enten-
r

46

deu dos critérios apontados pela autora para considerar uma atuação como compromissada
socialmente? ·'I .-

12. Dica de leitura: Atente para os exemplos apresentados pelo texto, apontando al-
gumas mudanças na direção de um compromisso social mais significativo da parte dos psicó-
••
••
logos.
13. Dica de leitura: Examine a lista de referências bibliográficas para se familiarizar
com os assuntos que têm sido objeto de estudo e pesquisa dos estudiosos da profissão de psi-
cólogo. ••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••
••

Anda mungkin juga menyukai