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· Religiões
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Mírcea Eliade
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Publicado pela 1,tio1cira vez
em 1949, o 'Prttlttdo de l1 <t6rla -
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das 1tdigiôes, de liréé:à EUadc, CFCH UFPE,
é hoje 0111 clássico do
pensan1ento conten1por.1nco,
tendo servido de base de
trabalho â 111,1merosas ger.1ções
TRATADO DE HIST ÓRIA
de cs111tliosos e simples lcitor1:s. DAS RELIGIÕES
Esta edição bras;lelra da obra
inclui o im_portanre prcfáôo'cte
Gcorges. pumézil. N:tSCido na
Romênia em 1907, Mircea Eliade
in.Stala se cm Paris após a
Segunda Guerra Mundial.
Jecio11ando 11a Écolc Prar.iquc
dcs n1tes Éludcs. En1 1957 é
11001eado professor do
dep:utamcnto de hlstóri> das
relig.i(x:s da Universidade de
C)\ic:,go,-0odc. rman Sté •
'riiórte, e11119 sua '.!funa
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Outros títulos do nosso 1otólogo
Andrl Con1te-Spo,u:ille
O espírito tlO a(cismo
TRATADO DE HISTÓRIA
DAS RELIGIÕES
MirceaEliade
Trm,h.i ,;-
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FERNANDO TO:-.tAZ
NA'TAUA NUNES
Martins Fontes
Silo J'ouJo 2008
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ix: O,oól z. e,co
Sumário
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l)'HJ:?/rK,J; og- NJ.,y
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Jf>Nt tt,..,..
� 0 l'ft-.t t.i..,l'flM,<mv hff..
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P,t/ádo d Gtórges Dumh)J ................................... IX
l'.re/dci<> d() auJQr ............................... , .. ... .... .. .... ... 1
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Ili. O Sol e os cultos $0larcs ................................ , 103
"�.ll:l<llto-LMJ IV. A Lua e a mísúca lunar.................................. 127
11,,,....J.""- V. As águas e o simbolismo aquático . . .. .. .... ..... .. .. . 1S3
"""'' 0.\1.,AI, (M'..,· ... 1 t - VJ. As pedras S3.$,radas: eplfanjas, sinais t formas..... 175
-· -tCD'I
� l,,,--,,W,(< �
Vf(,te
. """
VU. A Terra, a 1nulher e a fecundidade................... 193
(Jf4'h1,'w, Vlllr A veser..aç o: símbolos e ritos de tenova,ção ........ 2J3
IX. A agricultura e os cultos de fm.iUdade .............. 261
;<. o -ço "l!lrn4o: templo, p,'lla o . . . C{ntro <lo
,.m.
0 - l o d. . . . . .
«.""'"" 11..a,1,. •• i,r; ""'"'O n\Urtdo'' ....•............................................ ...... 29-S
n . liin•ttk,,
llllidt. M...
r.. ..... ') ffi..k ; ftl)�
,1.,. tdli,(-,;, JolA,e
XI. O tempo sagrado e o ndto do ecerno ,ecomeço ... 313
Fiou. . Tm.u.N..U. � • :I' - S:<
!l i 1-....; .1w1n. XD. 1\-fortologia e função dos mitos .... ...... .. ..... .. .. .. . 333
f'(+l,,_,:.'nll.
Xlll. A estrutura d0$ sf,nbolos ................................ 355
, Tl'"-t . , ., . . d<; .. � ..
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1511Nffi<3J)lfl,$ CJ:onclusões ................................................ ........... 373
1,11),(l�t Rd1ji'llol - 1 � 1 . ni.tc,. Dlbllogr{iffa , ...................................... ................... )81
�\U) Notas ...................................... ,........................... 441
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1.k,fv . ., � :»).')
todo lristoriodot especia/iwdo. no ,r1orne11tô ei,1 que nn,o,uan- l'1•1nüicos. e hoJt JXltO os po,•os ind1>-euJ·apeus. °l'e r«011qufs11;,. .
do o curso 1os séculos, chega até a,penu,111J.>ra, depo a1i as1re- tólll u1n ou dpis n1ilellios Sóbre os 1empore incogni1s4 Proveito
M·asso, se o con/ron1or111os às an,bições de um Taylor ou até de
vas, é ti de tmoglnar unta cuna pre-histefrla. que proJongu, ,·ont
o ! enor eeforço possível, os pr;,neir-os do,:11111en1os alé unr hil)(r ,,,,, Durkheiln. mas prO\'tito móis seguro e() qual, se entre-.-ê• .se 4
tettC(> Ç-01'1e( 01}$.()/uro. ex nih.ilo. Os lutinisrQs. lico111 € /or- td slgnf/lCIJlivo paro c:onsfruir tr,jim, uma hlsrória.no1ural does-
111nçlio da rel1gl/ío ronzano a partir de \'OS numina (<:enlros de 11/rito l,umano.
man !), dos q11ais so,11cn1e alguns, que se ben.eficltun de drçuns. . 3! Uni 1erc:eiro gênero dl! pt;SQ1'/sO$ interfere c:-0111 as prec:e4
tã111as isf_óricas, se ltri01n COrtCrtlkt,do e,11 deJISes f)é'S$(J(l/s, MJti- dt•1 1 tts. Assim co,noa(} lodO de uma tin g üfstitú descrith•o, de unia
ros 1nd1a,11.stos ai'!da lênt dlfj<·uldade e,n s e eft1stor (fQs miragens ll11gijisfica })islóriCó (co111 à suo -.•oriedade, o lh1giiislico ct>n1pató.·
de i'lllax MiJlltr e ;u/ga1J1 óuvtr os chanrres w.die<>s exprimir asJ !
(
.(f tiva de cada fa,nfJia), há lugar para u}na lingüística geral, assil11
ções naturai.<; do ho111en1 Ptilnitivo pera,,te o grande Jenôme11o 10111bén1 i.necmdrio con1paror, se111 se voltar a<>StrtôS de outro-
da nalurew; e as outi·os >uio e:rtõ<> 111111!0 longe de Vért,u nos hi• t:U - j d 1WQ ge11tu/ogit<imt11te n,as tip0Jogican1ente - , na s es
nos P!!rasfa u ias <lb itn_oginaçdo e de e s t i l o - outroforntà de /ruturas e ,,as evoluções n1oisdii1ersas, ú( fullo que qfiguraco1u-
crláçao ex n1htlo. Tudo 1$$() t! anijidol; temós de recon)r« er e ,,u,ávef, as,(;,nç:(J(:s rituois Otl conceituais que se e1t<:011frun1 J)OI'
rey.efar$ t
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.( artiflcio. lodo o lodo_; os representaÇ6t.S que se i.mpõe111 ao ho,nenr, seja
. ) A seguir, 1ma (IJ'eja J)()$itil•u, q1re tq1Jirole a pl'o/ongar ele quol /or; aquelas que, quando coexi$.lem, ogen, e reoge111 ge·
ObJelt\'O.lllente u h1st<Jl'10,. J){)r processos co,nparatfvos, a ga11/Jor rahueniJ! ,uno S-()bre (I <Ju1m.
alguns séculóssobre a pré-histdrifl, Comparando o lôtenlis,nod()s É necessdrio estudar, poro u dtttr111Fnor constantes e •·o.riti 4
fJruttta c:on, f rn,:©· a11d/Qgas. t n<>entanto diferentes, pr111iaida s \·elst o me(ártlsn10 do 1:1enso111ento müico. os rela,ç6es d t 1t1lto e
los ()ut'?s 1n,hge11as da Austràti((, fof possf-..el definir un, sen• das outros portes da rtligiho: as comunicacões do n1i10., do con·
J1 pr01'0•·el de e,.•oiução o J)(lftfr de um Sfodo antigo (nllo prl- 10, da h'/stdriq, do filosofia, da ane. d o Sónlu>. É necessóri<>
111111•'<>, cer1pme11te), de um tstado co,nunt: quer por conrunido oofocarn10-11os en, todos os "obser ·ot6riQs de s!ntese" que s t
de de origent. quer por ;nterações seculares, Q S (1USlrolia11os f o t . 11p1esen1a1n - e são en1 n1ín1erô injlrtlto - e, do afio de coda
otn d fato u1t1 "ci'rc:ulo culturol''. e é.pc,.s.s/,.•tl. mutat:is n1utan4 ,un dele$, <XJllstituir uni repertório que. rnuitat ve_zer, 1160 ltd 111
d1s, aplicar llssuos religiões. às suas civl/Jltlfiks. llS t>l'ô#! Wc:o,n4 tJidir num probl n,a p1tJ(JSo e oindo 1ne11os 11u1na solução e111 §t•
parot/ "()S que J}frtnftem ao li11gi1ISt(I, quond<> este dispõe de u)n ,uiprovfscjr;a, e será incotnpletô c<un<> todos osdiclondrios, ,nos
gn,JJ!) de ilnguas geneticorntnte aJJ(trettfadtJS óll aproxltnmJas por q1,e/at.ilit<1ttf, escl11rtetrd, i11spirard os pesquisadores c:ô111pr<>11:t,.
11111tntenS() jogo de contributos, induz.ir dados certos e prec.iS<>s tidos ttos estudos lri:.16ricos, onálltlcos <,u co1npo.t0ti ,os j â defi-
acetca dó seu f)O.SSbdó. A Polinésf(ll di,•ersas-zonas do Áfrü:a Ne- nidos. Tais e,npreenditnentos proporeit>r.or(lm j d o conuuldo de
gra do A11u!tlru pern1ile111 amplan1&1teo emprego desse 1ué1odo. u111o·imp0rtante llleroturo, pois se contit111an1 de há 111uifo e,n se-
D<r mésn,a maneira, ao co1nparar1nos os forurM de religf{Jo gundo plano, enquanto te<Jrias mais ruidosas <>CUf}tUtt sucessiw, 4
,,,ois N!n1010111ente •·erificodas eu1re db,ersos po,,o:; que nflo sesa- 111tnle as ll.te.n(6es. Assün, ten1os as c:oleções de dados "agrários"
biont nen,. se ro11/1ec.io,n ,no a/JOrentod,os, desde. o comero do de lfl. Afonhardl e d t J, O. F>'(Jtcr, as 1t1Q11ogrofios - cito ao
suo hlsldr1a. rnasdos quo1s sabe,uos hoJe, precjsonu:nte pelo CQII• OC(J:$() - sobre. o santuário. ô aliar. <>Sücrl,ffclo, a soleIro da por-
slde.rafão do SUb llng110, que de.riV<un por·dlSJMrsão de um mes4 ia, "dança, sobre o pacto de sa11gue, o c11l/o da árw,re, dos ó.lios
1110 po ·o pré,.hislóric:o, podemos fazer lnd11ções provd -tis acer 4 cu111es ou das águas, $0brt o JtiUU•Oll1üdo. OSCQSl'1Q80nUJs, os ,na.is
co do religião desse J)0110 pré-/Jistórloo e, p o r co11Seqiii1 1cio, ace,-.. Ylltiad<>S onin1ai.s, no ntedida etn qut constituqnr ele,Jfentos de re--
C'! dáS e\•oluç ''<trtad_as que, a partir de:;se pontoji'tO, recons- prek11tai,."6(!S 111/tic-as, $Obre a ,nfstico d0$111ímerru·. sobre as prd-
licas sexuais é Céntenas de outras, r digidas JX)J' a.utQres que não
1111!/do 1110s lla<> arb,trorfo, t-Onduziror,1 o s pól'OS dele derivados
ate seus tRS11t;r.ti\11>s lhnlores hi órf co,_s. atê os 1>rlmefros equi/f. B
se prendian, a ,1e11lrun1a en"i>la. N.fló Msultar dtJI u,n eno1n1e
brios conhecidos dos SUi/$ rellgl/Jes. E asstm que, paro os po ·os omo11toado de est'IJrios, tofl e;. ,nais c:01tsiderdvel d() que o fr,,i.
1
l'H.1'/:.(C/0 l>E ÇEORGES DUJ\f.É-Z.IL XV
XIV TRATADO DE, Hl:STÓR.IA DAS REL/CJÔl!S
,, 01>11'6ncio e.'<lerít>r de unt discurso profi111d<J; esta ,norfologío
.do. reah11en1e \'O/i0$0: e.ssos invesrlga('Ôf!l' tt111an1 tó11STan1en1en- 1/1} ,f(tgnido traduz si111bôlit,11ntnte 111t1a dialétfca dó sogr<tdo, de
.te autores n1al ptepó.rbtlos, ou den,osiodo apressados, ()11 JJ(JUCO ,111t1 u ,1af11re.w nao e ,nais do que ô supq11e. E afinal uma "filo·
,Có11Scienc·iosos., e é a( que o cltor/ator,isnt-0, qualquer QII SQ o NU}i'o, antes de Jodos as filosoftos n a q;,e JIOS s11rge O$Siln que ôb·
u rótulo, "sociológico'' ou ourro. in·stolo> dóg111ati;.a e por Si'l'Va1t1osas ,nais humildes religiões, rest,//(llf/e de 1 t f f l esforço de
\ ponli{tCuéó1n a maior facilidade. /\rãa intpor10: cabe ao pr ri:i:pflc.açiiQ e de unifi<'<lf40, de r,rn esforç,o para a reorlo e1n todo
Jessor de ·'história das religiões", con,o S.:? di{ proprlan1e1ue1 o .l't•111fdo da J)afavra: o prestnre fluro for-11os·áse11tir todo á sua
parar <>trigo do Joio prt. ·tnir os estuda11ies. cotrl!nclo e toda a suo 11obre4a, t 1u111béi11 a sua 11nifor,nid<tde
Tais são os três do111inios, ou QS lrll-s 1,0,ttos de Yista, que (1111e 11bro11gt u Europa) - wna unif<Jrmldade que, certon1e11Je,
divide111 o hiSJóri(t das religlacs. Podem& C()nsen•ar a esperança 111}0 1le\'en1os.exogtror, mas que reduzjelivntnlc a vertigem de
,de qut_st u,rt11n um dia, ainda distante. cn1 u,,,a sfnlese hor,no-- IJttf sofre,n por ,·t-zts os prllu:.ipianles perdidóS 110 loblriJ,to dos
nlosa, /orruondo o quadro ct),nodo de un1 S(ll)cr itu:on1es1odo. falo<.
JVetn seq11er os nossos bisnetos vlrllo " ver m t s te,np(>S felizes. 8e111 e11tendido, A-tir,'t!a Eliadt Stlbe melhor do que 11ingul11t
Por 1nui10 temp ó ainda roda um trabalhar.d nunta das ir€$ t111e toda à síhlese desse gênero co,np()rl" e requer 1·""ª to,nado
isolado, tani<1 t>S historiadores espe,·iolistos cot110 OSCOMJ)(li'atls· ,!e atitude, vários pos11tlodos que a sua efü·ór:làjustlfica, ,nas que
J-OS dl)$ dois géneros (genták>gls1os. 1ip0logistas), ignorando-se ,Jflo /JeSSQ(lis, portonUJ provisórios, pelo 111enos ptr.ftttfvels. Alieis,
,111uruo1ne111e 11r11itos·lteZ)"S. guernu111do-se PQr \'t"Zt'S e 11/Jrapassan- t',\',ft! (1$/JCCto não é o 1ne-11os olrotl\•<J d<> li1•ro: acerca da es1nuura
d o qs direi1os uns dos outros. Mús, 1160 t ()SS/m (Juese dmn ·ól· 1• /lfnclonotnen10 do pe11samt11fo 11tftfr:.o,. acerca das noçôe:s, tiio
<e qualquer cllntia e ,uiose con/ôr,uand o 11n1 ''plano u preten· ,:ralas o<>oulo r, d t arquétipo e d e rcpctiçr.o, enro11tror--se-ii1> idéias
.sam€111e secular? r.lnras e eu·/artttdoros. lls quais desejomru· não uu10 longa •·ido
/lfais llnu, razio, pcrta1110. p<JraJUr.e, d t ttmpóS t111.lén1pos (() que niio ilnpórta), 111().S 111t1a rápida e rica /rt tndldade.
un balanfôda situação. É paro isso q11e, en1 prin:eiro lugar, ser-- Fi110/menJe3 este livr<J presta,nos hoje, -ent Paris, no Fra11Çó,
· ·irá o ,rotado 1,11blicod(J J)Qr Afircea Ellade. O a111or, proJ"mor ,,,,, strYlto especial, pois te111os de co,v'essor oue, .,;e os hisioria-
,(/(!. hlstórla dbS rtliglOéS 110. Unlversidade de Bucareste, cedo sen· dores do trlstlo:nlstuo. do b11dismo e, d unto ,nane.ira geral, das
Jiu a necessidade de wn "curso de inicioçâQ'' nt';:S$0$ ,natérias ent dl ·ersas religiões sho tntre nós numeroscs, pouqulssltnos dislitl·
que e.oda wt1 se julga 1nes1rc, e que silo d(/lr:els. A ó C(Jbt> dé se.Je tos Pf!S{IUisadores (refiro,,ne (IOS autênticos) se dediCátll 0()$ estu·
IJftOS, 11dun;riiD d/J ('U1'$0, nat u ,s/1 liVrô. Entusiasta, e111preen- (IQ$·M111pn,·t1Jivos e gtr1iis. (}UI!-' porque t.fiae,n un1a pNporJJft]o
dedo1 1t1unid<> de üne11Sa feitura e. de urtr.o Jor,no.çbo pre<:IStl de ,nais d(flcil, quer porque óS amad<JMS, alguns n1uito oficiais, óS
indiantsw, 1\flrte(f Elladt/et.Já 111ulto µ i o nosso tstudo: penso ,tesocrédUo.ra,n. l\'e111 por isso essf!S esJudos sbo ttienos ne,ces.'id-
nó seu , oga. nm três. belos •'-Olu1t1es da revis1a ro1nena de histd· ríos e promissores. A Sol'0011ne todos o s anos <ifrlbul un, "certi·
rio dos religiões; Z.í.lmoxis, e, ,nois ·,ece1Jternc111e ainda, no 11,0- Jic:odo de hist6rio dáS religi&s", con, •·árias esp,Y"tolkoçdes, 1nas,
glslrol ft\•ISlio dos problemaJ do xa,11anisln,0, que enfregóu â nossa JJQr di ·ertido parodOXó, nbó p0$$Ui ensino desta mote.ri(t. F.sse
:Rcvue de l'histoirc des religions. tifrt[Jicodo reduz-se pratic:omtnte a pro.-as de filologia, que d t ·
A o -er os tl1ulos dos a,pOulos. oo ver cof()(-(J.dOS tnt prim4i· fi(ja e 1or110 betn restritos; quontô ao n1als, en, relaçdo à "ciP.ncio
ro plano ,,s dg1111s. o d u . () sol, ta/ytz haja os que se le1nbre1n dos rellglhes" proJ)rio111ente dila. tal <'1.-rtif/W(IO é ttiuito 1>0bre
de J.1ux Müller; e esta recordação s.er-flie:s·d JJroveitoso: o<> des,- e nõo tenho (J ctrlt't.O de que J. G. Fro.;;er. qi,e, ,,ltn, do seu ln·
ceretn dos ti1ulos para o 1exro, hâ<J de \'tr como. dtpols de uma fflF.s, do fron<'ês e dô a/e,n4o, openas dis11unha do grég<> e do /a,,
rt(lfÕO e.«mh;<t r:ontrv ôS exa,ssos ele 11at.11ralisn10, a ct'éncia das tiln, tivesse sido apr<Jvado na suo espe-1..·iolidode de "religião dos
7eligiões re,:011J1ece hoje o im1,ortá11cio dessas re1Jresen1ações, que poYOS n11o ci-vi!iz.odos". O que ttri,, sido l1nnentd\•el.
:sÕ() o ,narêria-prhna ittois geral do petisarnento 111/tico,· 111as ,·er•
-se-d ta111bi,r1 que tl lnte,pretüçâo é 1nuUo dlftrt11te: ,S/0$ hiero- Ooorge:s Dtttnt!t.il
Janias cóstnlcas, co1110 diz Alirceo E/iode 11âo são n1ais do que
Prefácio do autor
sa - NferltnO·llos a uma exposição que comece pelas hierofa. cxeul_plo, Loçai· no nUto ou no $ímbolo :no cap1tu,lo das h1erota·
uins aquática ou lu1lares: Lambém não qoerenlos ptontelet q\1e
nias ,:naiS ckmen1ares (o 111011a. o inSQlito, etc ... ), para passar• I' di$cussão das figuras di\·ínas será e <:h.1.siv n1tnte servada ao
mos cm scg·uida. ao ,ottmís1no, ao feillcismó, ao culto da nature- i;at,ítttlo "Deuses•·, etc... Pelo contráno, o lc11or ficara talvez sur·
za ou dos espititos, depois ao.s deus,es e- aos dcll)ônfos, e cJ1egar-
t1lOS (inalmcnte ã noção 1nonotcista de Dzll.s. Tal exposição $<.'fia 111-eciJdido pot encontrar oo capítulo das bie ofa1lias urania s
arbitrária; in1ptiça uma evoll)Ç'ão do fenôru no religioso, do "sim. \i1n numero cottsidcrávcl de documtnto:s relat1v0$ aos de . Cç.
lc:sles e at1\1osfériC<>$, ou de apurar ai ah:tsõc:s, e :ué comcntanos,
pie ;1Q çompo,.to", que não passa de hipóLcsc indemonstrável: re peltantes aos símbolos, aos ritos, aos·mitos e aos Jdeoa,nuuas.
4 TRATADO DE JIJSTólUA DAS Rl?,t,.JOlÔES 1•1nJF' fc10 1)() AUTOR
Foi o prôprio assu,uo que nos impôs esta osmose., obrigando-nos \lCrc.,llos culturais dit"erentes no tempo e no espaço); S?') cada ca•
a interferências permanentes entre.as nJatértas dos di\'ersos-capt-- pl1úlo porá en1 evidência utu:i. modaJidade do saar3do. u111a série
Lulos. Era imJ,ossível falar da saera.lidade-«lestc oonsetva.ndo em de relaçôeç eo1re o howen1 e o saarado e. nessas reJações, tima
silêncio as fiauras djvinas qoe refletem cs1a sacralidade.--ou dela dérle de "n omenlos· históricos".
pnrtie:ipam, ou ainda cel'tOS mitos uranianos, assim cotuo os ri- Ê neMe sentido, t. somente neste .sentido, que o nosso livro
to.s aparntados ao sagrado coles.te. os ,imbolos e QSideogran1as í1ó<IC âdmiHr o título de "Ttafado de história das religiõe.ç", quer
que o hipos1asiam. Cada documento rc.vela-oos, à sua 01aneira, dlfer, na medida em que introdui o Ji;:itor na conlJ>lexidade labi•
unta modalidade da saeralidade celeste e da sua b.is.tót'ia. Mas, rintica dos fatos religiosos. o fan1ilk1riza 091n ns suas estruturas
ainda que cada problema seja discutido no capíc.ulo que lhe- res funJanteotais e COlll a diversidade d()S círculos culturai.s de que
peita, ntio hesitaremos enl nos referirmos ao sentido c."tato do 1ni- cilali' depende1n. P-tocuratnos <lotar cada <:apitulo dt. umà a1quite-
to, do rito ou da "{ígura divina" no c-'.1pitulo reservado ao Céu. 1ura es.poclal. pOr ,,tze.s até- de um ''estilo" prôprio, a fim de con·
Da me;n1a Jnai1tira. nas 1>4.$1.oas reser,,adas ao estudo·das biero- Jurar a monotonia que ameaça qualquer exposição didâtica. A
ín.uias telúricas, ,·esetais e agrárias. o io1ertsse incidirá sobre as distribuição cm parâgrafos teve Sôbreiiudo po-r objetivo simplifi•
rt1anífes1ações-do S.l.grado nestes níveis biocósmicos. enquan.to a t.:Ar :lS remissões. O alcance deste l.iv:ro só [)Ode ser apreendido
análise da estrutura dos deuse$ da vegetação ou da agricohuta b cus.1a de lun3 lelru1·a iJuegral, l_)OÍS líAO se traia, dé- manrira ne.
será transfcrida para o capítulo consaa:rado às ••forn1as diY'inas··•. nhu1na, de ultl manual apenas para consulta. ;\s nossas biblio--
O que de ntodo nenhum l\OS impedirá ,de aludir aó$ de u ses , aos 8f".tíi,L foram delineadas de modo a e corajar pesquisas prclirn.i•
ritos e aos mitos ou aos súrtbolos da vea:e1açãó e da 3&Ticultura 1u1res; nunca são exaustivas; 1xxtc ate acontecer que sej;un insu•
11.a indagação preihninar. O objeto deste.s; prin1eiros capítulos é l'icicn1es. No ent:uuo, esfor mo,nos por mencionar os rtpresen.
o de destacar o ruais possível a estrutui:-a das hierofania$ cõs1nj. 111111es do 1naior n,l,nero possível de ,oon«pções t. de metodoi.
cas, isto é, mostrar o que nos revela o sagrado manifestado atra· Uma boa parte. das análises morfolôgicas e das conclusões
vês do Céu, das águas ou da vegetação, etc ... ntclodólógicas do presente volume oons1ituíram o objeto dos nos•
Se fizermos o balanço das vantage1ls e das desvan1agens que sos cursos de história das religiões na Universidade de .Bucareste
aprtlScnta este- ro.étodo, ,•ercmos que as primeira.\ sobreleva1n sc-n· \l da$ nossas lições na Escola de Altos estudos de Paris (Rechtr•
sivellll,ente as segundas, e i.s&o pOr varias razões: 1 ) Ít c a ·SCdis• t·Jttssur la t11orphologle du Súcri, 1946; Rtt.htn:Ju!s sur lo struc·
pensado de derinir "JtrJorl o fenómeno religioso; mas, ao .per. 11,redes n-,>·lltts, 1948). Somente uma pequena fração do te:t(o
<:orrer os diversos. capítulos des(e trabalho, o leitor poderá rcflc. rol escrita díreta.m('nte cm francês. O restante foi traduzido do
tir sobre a morfologia do sagr:ado; 2?) a análise de- e.ada gl'upo tom('no pela senhora Carciu e por J. (iouillard, A. Juilland, ·J.
de hierofanias {o Céu, as águas, a v 13elaçrio, etc ... ), ao desl:tC<1r, Sora e J. Soucasse, aos quais exprimo aqui a minha iratidào. A
de maneira nat.ural, as mC1dalidades do sayado e ao dar a con)• tradução foi f.!o,nplec.a1nen1e revista e oorri$id3 _pelo meu sá.bio
preender tomo é que se integt"dltl nun1 sise.ema coerente, ))iepara. :trnigo e colega Oeo1'3ts Durnétil, q_ue i.e\'e. a gentíle..-.a de lhe acfcs·
rá ao mesmo te1npo o lc,rreno pai-a as discussões finais- $Obre a ocntat' uni prefácio. Quero deixar-lhe aqui o mcu profundo reco·
C'$:.ncla da rdigião; 3!} o exame simulLâneo das formas rcügio. nhccimento lo interesse que dedjcou a esta <1bra.
sas (•inferiores" e "supeiiorcs" porá em tvidéncia os seus ele- P.1if(ea Eliade
mentt>S comuns e assim evitaremos certos erros iJnputávei .s a uma Oxford, 1940
ôptica "evolucionista" ou ''ocidentalista": 4?) não ficar'ão ex- Paris, 1948
ces:slY'amcnt.c:. divididos os <:onjuntos religiosos, pois cada classe
dê" hjerofanias (aquáticas, celestes, vegetais, etc ... ) COt\Slitui um
todo, tatuo <lo ponto de vista 1norfolôgico (pois se trata de deu·
ses. mitos, .símbolos, etc, •.) co,no dQ P9n10 de vista hi tóriço (a
pesquisa estender-se-á freqücnte1nente â um grande oõ,ne-.ro de
1
Aproximações:
estrutura e morfologia do sagrado
que a etnologia nóS r clou, e 1ambém alguru.'1os seus aspettos mente p,eici-osa quando pretendemos compreender-o fenôn1cno re-
e das 5uas fases. ligioso. Esta intelec,ção realizou-se constantement no quadro d.t
Jris16rla. Só pelo simples fato de .nos encontratm0$ cm prcsen,ç-a
• Ainda que sumária. esta .cscolba ,é sempre umaQr,er ção de- d°.c hierofanias nos achamos cm presença d,e docürneotos histôri-
bc-ad . De fa_r. se. quiscrlUOS delimitar e definir o � r a d o , ser-
nos-a necessarro dispor de. uma quantidade convenienre d oos. É sc1nprc numa certa siruaçâo bislôri.::a que o sagrado se ma•
cmUdades". isco é, de t'atos sagrados. Esta betcrogeneldade dos aif ta. A1é as experiên-ciss mís.ticas mais pessoais e mais lTans-
"(atos Sól3tados" cotueça por ser per.turOOnce e acaba, pouco oenden1cs.sofrcm a Ll'lnuêucia do momento hist6rioo. Os profetas
pouco. por se tornar paralisante, pois se ctata de rir.os, de mitos. judeus os dispensadores dos aootttecio,entos históricos que jus-
de formas dJvJnas, de objecos sag.ro.dos e- venerados. de simbo- tificaram e servlranl de s-uportc à sua n1ensagem: sâo taml)ên1 os
Jos, d.e ologias, de 1eologúu1citos, de homens consagrado$, à$,en1es da história israelita. que lbes-.1>e:rmitiu íormulat oenas ex-
de.an1mà1s, de plautas, de lugares saar.ados. E cada categoria PoS. periências. Com.o fenômeno histórico - e .nl\o como experiência
Sut a sua própria morfologia, de riqueza luxuri.m141: e frond o s a . pessoal - o niiUS1no e o ontologismo de certos místicos tuabãya-
Encontcamo-nos assim na presença de u1u matcriaJ documental nicos. não eram passiveis sem a especulação dos Upanishadt, sem
lmenso e he,e,6cli10, pois u1n niiro êos,uogõnico rneJ:inêsio ou a c,•olução da IInaua slnscrita. O quede maneir.-. uenhuma signi-
um sacrifício bramânico n o têm menos dircico de serem levados fjc:t quequalquer hier0fania, ..ss.im como qualquer C."<J)tfiê:ncia re-
.em oonsidcrnção do que os textos tnisticos de uma Santa Teresa ligiosa. seja ,1tn momento únioo, sem repelição posi;l\•e.1, na éf».
ou de umNichi.ren, do que um tocem australiano, um rllo primi- no mia do espírito. As v,u:idcsc,cperiências nãos.e assenielham so-
t vo d ! hdclaç.ão, o siJnbolis1no do templo Barabudur, o traje cc- t11ent.e pelo seu conteúdo. mas freqOentcmcntc também pela sua
N1non1al e a d (!(' um an1.;I siberiano, á s pedras sa.gridas que cxprtuão. Rudolf Otto destacou semelhan -assurpreendentcs en-
:1e.encontrai.i1 por quase roda a parte., as oerin,lôJÜas (ljrál'ias. os tre o léxico e as fórmulas de tucstrc Eckudt e O! de Çaokara.
mitos e os ntos das a.randes deusas, a instautaç:ão de um rei nas O fato de uma hieroíartia stt sempre histórka (isto é, de se
S?ciedades arcaicas ou as $\lperscições em relação as pedras pre- prodUZlr sempre em SJtuaçõcs determinadas) não destrói ncces·
eJosas. Cada docun1eoc.o pode ser con.s.iderad.o como uma hicr s:uiamentc: a sua ecumenicidade; 1-\1$umas h.icrof:utias têm wn des-
íania, na medida-em que exprime à sua maneira uma mo.dalida- tino locaJ; há outra<; que tfm, ou ad<1,uiran, valores unive,sais.
d·- do 4agrado e. um n1001ento da sua históÍia, isto ê, uma expe- Os indianos, p0r e.,ceroplo. veneram certa â.r,,oreehamada Açvat-
n nçfa <lo sagrado aicte as lnum-crávcis variedades existentes. Af, cJ1a: siluplesn1auc, para ttes a manlfesiaçào do sa,grado ucs1a
qualquer docwnento épara nós preàioso, cm \•irtodc da dupla péci,e vegccal é transparente, pois s6 para (l(t:$ a Açvaulla é uma
revelaçâ<>: que re- Jíza.: J ?) revela uma ,nodnlidode dosugrado, en- hierofania e não apeoas uroa drvore. Por coo.seqüência, esta bie•
quanto h1crofru>Ja.: 2 ) enquanto 111omento b.istórico, revela u1na r.ofanla ttão somcnt e l1is1drica (ali.is. como toda a hierofania),
situação do home,n em re-Jação ao sagrado. r\qui cstâ, por ex·em- mas também /oro/. No entanto, os indianos tarobêtn oonbecem
plo, wn cexto vódico que se dirige ao morto: "Ras1e-Ja para a ter- o slmboJo de uma árvore cósmic.l (A.,is ?,.,tundi), e esta túetoía-
ra, tua milc! E possa ela sah'ar-te do ·oada!"' Este texto revela• oia mítíco-situbólica é uni,·ersal, pois as árvores cósmicas
nos a esmuu.ra da sacralidade telúrit.a; a Terra é considerada co- encontram-se pór toda a parte nas antigas civiljzaçõcs. Queremos
mo 1,1Jna ?,,fãe, Tdlus Ma1er. mas revela-nos ao mesmo t«ul)O oeno aoentuar que a AÇ\'attha é. vtnecada 11a tnedid3 em que lncorpOra
momento da história da:1 religiões jndlanas: o momento ew que a sacralidade do universo em continua teg,eoera o: ou seja, é. ve-
esta Tcllus Jater era va.lorizada - pelo menos por deter1uinado itcrada porque incorpora. participa ou simboliza o universo re-
grupo de indivíduos - ootno protetora conlro o nada valoriza. presentado pelas arvores éÓSllticas das dif,ercatc.s mitoloi,i:u (cf.
ç.lo <1ue vi.rã a tornar-se caduca pela reforma dos Up nisbads e § 99). las ainda que a Açvattha se. justH'ique pelo mesmo sim-
peta pregação de Buda. boUsmo que aparecetanll>ém na árvore: cósmica. a hierofanla que
Para \'Oltarmos ao ponto de partida! da categoria de do- transubstancia uma C$p('cle \'tiet.al nutn;r árvore sagrada !Ó t
cumentos (mitO'l, ritO'l, ooises, su1ieí$1ições, etc.H para nós igu•I· uanspareute aos olhos do< membros da sociedade indiana.
TRATADO DE HlsróRIA f>AS RELJOJÔES
APRôXTMAt_."'ÕES. ESTkUTIJRA E .f.fORFOLOGIA 11
10
terogencidade. Por um Jado (é aliás o caso d e todos os. documC'n·
Para cilar ainda utn eitenll)lo - des.ta vez o de uma hieroía· tos his.tórloos), aquele; de.qt1e dispomOJ fora1n conkrvados mais
nia ultrapassada pela pr6prht história do po . ·o em que se_ rt.al_J- ou rneno.s ao acaso (ntio se trata -apenas de textos mas t:.lnlbém
iou - . os semit:is adorar:un em certo momento da sua htstona de n1onuo.1en1os, de inscriçõ s. de tradiçõeJ; orais. de costumes).
o par divino do deus da temptstade e. d_a_fecu.odid d.e, Baal .• e da Por ou1r<> lado _, tes documentos oonservados ao acaso provem
deusa da ferlilidadc ($0brctudo da fcrtd1dade agrana1. ht. Os de meios muito diferentC's. Se, par,1 reoonstitujr a :história arcai·
pro.f('tãSjúdeus (.;01\sideravmn estes cuhos como sacrd 1os. Do éa d.a relã&iâo grega, LlOr exen1r,lo. fcmõ§ dt. nos tóntcniar com
seu ponto de vista - isto é, do ponto dé vlsl:a dos semi.tas, que, os cex1os poi.tco numt1·osos que nos restatn com algum;ls lllsctí·
p0r in1er1nédio da reronna 111osaica, inham chegado.ª ma coo- çôes, algun$ monumentos muti.lade>s.eâlg.uns objetos votivos, para
cepção mais,clevada. mais puta e mais co,upl.e:t.l da d1v1ndade- reronstitolr as religiões ge1mânica.s ou estavas som.os forçados a
es1a a-iticã era plenamente justificada. No «italltó, O CUllO P.'l.· cba1nar em nosso auxilio os docun1entos rolclóri.::os, aoeitando
looJ.«'mít.00 de Baal e de Belil nem por isso deixava de ser tant· os riscos incvicávcis que comporiam o seu manuseio e. a sua in.
bêrn uma hierofania; rcvcla"à - até a exacetbaçâo e .10 mon.s-
truoso - a sac.calidade da vida orgânica, as forças clC'mentarts
terpceUÇ:.'1.o. Uma inscrição rUnica, um mito registrado vários se.
cu.los depois de vigente, algumas gravuras sin1bôlicas, alguns mo·
do sangue da sexualidade e da fecundidade.. Tal revelação con-- numentO$ prolO·histôric-os, uroa (Juantidsde de- ritos e de lendas
sei·vou o \t valor, se não durante. n1ilêni0:S, lo menos dü llle populares do úhimo sécu.lo - haverá alsuma c:oisa ma.is betetó·
numerosos séculos. Es.la hiecofania continuou a ser \'alorl1.ada cUtà do que. o material documental de ci.ue dispõe o historiador
até o mon1cnto f f l l que foi substitujda Po uma outra <rue - r a· das rdigiôes 3ermânicas ou eslavas? Embora a itável no estudo
liza.da na experiência re.Ugjosa de uma chte - se afinna ·a n)ais de t.uua Só religião, 1al heti:rogeneidnde 1ornà·se grave quando se
perfeita e- mais oonsotador •. A "forma djvi1>a" de Jave 17\'ava itatà de nos aproxirnarmos do estudo comparati,•o das reUgiõcs
a nllelhor sobre a "forma dJvma" dê Baal: revelava a sacralidade e de 1>reiendetmos atingir o conhecimento de um @:ra.nde n,imero
dC' uma maneiro mais inl l. santifica"'ª a. \'Ída san desenca. das modalidades do sagrádo.
dea.r as forças d.ementares concentradas o uJto de Ba.ü, reve- Essa i exalam nte a situação do critico que tiv.esse por obri
lava uma econornia es1>iritual c:m que a .vida do h "! e o seu gação escrt.ver a his<órla da literatu1a francesa sem mais docu-
destino se atribuiam novos valores, asstm como t.3 1hta a uma mentação que os fragmentos de Racine, urna traduç o t$panho·
exp,eriêoçia relisioJ;a mais rica, uma comunbão d1,•1na stolulta· la de La B1'l1)·e. alguns ,extos ci,túdos por um crítico esti;ansel·
nea.mente mais '"pura·• e lna completa ...\té que, finalmente, es1a ro, as rec-ordaçõcs literárias de alguns víajant.es e diplomatas, o
hierofani,1 ja,•eísta triunfou; e, na medida Ml que rcpresenta,·a ca,álc,go de u1na livraria de província. os resumos e os. trmas de
um;a rno<laBdade wtivcrssJ do sagrado, c.ra po a fópria n.:itn• um colegial e mais algumas Jndicações do mesmo gênero. Els, em
rcz.a acessível âs outras t\1lt\tr.t.S; atr.i.vés do cnstJan,smo torno.u- sun1a, a <locumei:uação de que dispõe o historiador da.s tl;!ligiõcs:
se ,,n, valor religioso mundial. De onde se conclui <1ue cenas h1e· alguns fragmeiuos de. um v.1sta lit«atura sacerdotal oral (cria-
rofãnias (ri1os, cultos. fortnas dh•in s. sí bok», etc..) Silo ou çã:o ex.cJusiva de cerra classe social), atgwnas referências eflcOn·
toruam-.se assim multi,•alentes ou un1versali$1as; outras pcnna· das nas notas dos viajantes, os trutteriais rCC'Olhid os pe.l os: mis.
ne("tm locais e t'ltiMôricas": inacessÍ\'cis às outtas cultul'as. cai· ,sionários -esit·an.geiros, as reflexÕ<'s ex.traidas da literatura ))fofa.
raro rm desuso .dutau,e a própria histôria da sociedade em que na, alguns monumentos, al3umas inscrições e as rccordaç&s con·
se tinham produzido. $(f\•Jdas nas l.!lldiçôes populares. També,n as ciências históricas
estão consii:anaidas a uma docuJnentação deste gênero, fragnten·
tária e cootingtnte. i\i1as a empresa do historiador das religiões
l . DlJicuJdades mctodol6g_iw- las voltemos à grande d!· C1nt1ilO mais ousada do que a do historiador que se. propõe re·
ficuldade ,naterial j ã apontada, ou Séja, a_ex1rema .L et rogeoc1· constitujr um acon1ecimento ou uma .série de acottte<:imcntos à
dack dos doc:umtJttOS reliQ.iosos. O domínio quase-. 1hm11ado eu, custa dos escassos d<,>ç\.lmeutos wnscrvados, pois não só tern de
que se recolheram inilhões d t docu.rn.<l't\tõs \1 io agravar 6 s a he.
12 TR..4TA/)() DE /JJ$TC,AJA DAS RllLIOlô &• APRO,YlllfAÇÔES: ESTRU11}RA E J,fORFOLOGl.-t
traçar a hi rória de dctcrmloada hie,ofania rito, 1ni,o. deus ou o da sacralldade pelos fueguinos a sin1ação é (X)rnpletamenle
euElO), como, cm prirueitô lugar. te.m de oon\pree.nder·c tornar diferente. Ora, um dos problemas majs importantes da história
cocn.p etl!i,·el a 111odalidode do sagrtido revel ;t da- :i.tro.vés dtssa das religiões é jus.ran1ente capacidade de conhecer as dife-
hi,e,rofanja, Ora, a h«croaeneidade e o caráter fortuito das do, r ues modalidades do sagrado dos primiti\'OS. De fato, se fosse
cumentos dtque di,.spomóS agravam a difl,culdàde que o his:1oria.- possivcl de-monsrrsr (a1i8$ isso foi·reali.zado nas úl1i1nas dóc:idas)
dor ex men. ta sempre para interpretar toru1arnco1e o sentido <1ue a vida relif.ios.1 dos povos ruais prlJnitivos é _verdadeiramente
de lUllà hierofatúa. lmaaittéi'rios a situação de um budista que para con1pJexa, que não pode ser redu1ida ao ••auimi1mo", ao "t()(c. .
COl>i.prcender o crist.iruiismo dispu se de apeclás alguns fraglUeú- mismo''. nem ao lto dos anwpassaôos,.n1a.s que conhece ian1
tós dos Evaogelt1os, de- um breviário católico, de u1n 1naterial ico- bém os seres supremos providos de todos os prestigios do deus
nográfico beteróclito (fC-Ol'lés bi?.anlinos, estátuas dos sanr.os d;i criador e todo·pod«oso, a hipótese C'\.<olucion.is1a, que priva os
époea bru1oca, vcs,Unentas de un, padre ortodoxo), mas que, em primi1ivos do aceiso às ''hierofanias superiores » , tlcaria assim
troca, th•C$se- a. Possibilid;ide de estudar a vida reliai<>sa, de u1na Uned.la1amente in\•alidada.
aldeia européia. Se1n dthrida o obsetvador budista havia de cst.1
beleoer uma nítid::i disdnç.ão entre a vida rtJigiosa dos cantpone-
Se.i e a, concepções teológicas, morais t mlsti;,:as do s..1.cerdote da 3. \'tricdnde das hk-rofanb1s - As comparações a que re-
aldeia. 1\,Jas, embora PJ'ocedcsse razoavelmente ao estabcloccr esta corremos para demonstrar como Cprecário o material documeu•
distinÇi'io, cairia. em erro se coosiderasse o ci:-istianiSLuo a partir tal de q-ue dispõe o hlstoriador das ce:llg.iõl"S são imaginárías, e
das tradiçõe$ conservadas pelo indivíduo ,.inico Q\le é o sàccrdote somentt. assim devem ser oonsidC'radas. A nos..._. preocupação J>rin
e só 1.-onsidera.',SC oomo ''verdadeira" aexperiblcia rcpr sen1:ida, cipal e a de justificar o tuêtodo a Q\le v i obedecer a obca preseo-
pela C()munidade da aldeia. Em resumo, u modalidade$ dosa- ,e. Enl que n1edida es1amos nós autori2ados- dada a heteroge-
gr.1do rc etado pelo cristianismo são mais r_igorosamente conscr• oeidadc e a precariedade do mat rial docum eo1al-a JaJa.l' das
vad.as na 1radição represen1ada pelo padre (ainda que for1emen. ''modalidades do s"grado''? O qoe oos· a s s q ura a txis1ência real
1e colorida peta Wstória e pela tcoloa:ia) do que as crenç.as da al- dessas modalidades é o fato de uma hierofania ser diferc.ntemc11-
del.1:. Ora. ô que interessa ao obse-rvador·nàc, é o oonhccimen10 tc- vivida e interpretada !)(las "<::litcs" religios:11en1 rel.lç.\o ao rtSlO
de certo momcu10 da história do cristianismo, em ccno setor da da oomunid.-ide. Para o povo <J.lle no princípio do outono vem
c.risrandadê, .ittaS a própria rtligi cristã.. O faro de lun único a1é o templo de Kôlighat, em <,;aJcuJá, Durs;i • um• detJS9 terrf.
lodividuo, t'm toda a alde-ia, eonbeccr o ritual, o d0gma e a 01.is• vel, à qual ê preciso sscrifica.r bodes; mas para. uns 1an1os skah-
tica cristã, cnquan10 o r o da comunidade os ignora e pt'acita cas inicJa.dos Ourga é a. epifania da vida cósmica c-m continua e
um <:ulto elementar inJbufdo de superstições (fsto é, de restos da viole-nta palingenesia. E muito provável que entre. os adoradores
hier,ot'anias dc:caidas), não as.e, pelo tuenos aqui, imponân do linga de Sb.iva grandenó1nero nao v·eja nele mais que o atqué-
eia t1enhun.1a. O importante é ap«ce!,.errnô-nos de q1.1e esteil}di- d_J)() do órgâo ge.rador; 1ntl! há outros que o consideram como
\•lduo cou.ser\•a de maneira mai$ OOtt\plcta, se nllo a ex riêocia um animal, um "icone" da criação e da destruicào 1{tmicas do
origin.aJ do ci:istianisooo, pek> 01enos os seus elemtntos fundamen- universo, q,,e se manifesta nas formas e se rtintegra pcriodica-
tais e as 1.1as vaJorizaçõe$ utísticas, teológicas e ri1uais. 1ne.JUe na \ulidade primordial, pré-formaJ, a fim de se regcoerar.
Esse erro de mCtodoé muito freqüente em etnologia. P. Ra- Qual é a \'erdadcira hierofanis de Our.aa e Sl)jva: .l que os "ini-
dio julga.se, autoriMdo à rcje.i1ar aíl coo.clusôes das pesquisas do ciados" d<::cifratu ou a que é apreendida pela m.lS$i\ dos ''crcn-
i5:Sionârio Gusl.ndc porque os seus inq\1éritos incidira.tu n\1m. só ces"? Te,uaremos mos1rar, nas páginas seguintes, que a.m.bas são
tnd1\liduo. Esta atitude só se justificaria no caso em qu<: o objcti· "álidas, que o sentido estabelecido entre as massas, tal 00:ino a
vo da·p,a.squisa fosse estritamente socioló&ioo: a vida religiosa âc interpretação dos iniciados, representa uma modaHdade rtal, au-
uma comunidade fueguina nnm dndo n1omento hisiórico: ma$ têntica, do saarado mao.ifes1ado por Durga ou Shiva. E podere-
quando 1ra1a de apreender as capa idade1 de experiendttHm- ittó! móslrâr que as duas hierofanias são correntes, isto é, que
14 TRATADO Dt! Hlffi'JJUA J)AS RE.L/Glôf!S 'A.PROXflllAÇ'Ô b.'STRUTURA 5/.IORFOJ.OGIA 15
as modalidades do $11..!ll:ado revcladas atra\·6. dclns Mosâo de.mtt- teúdos re\•elodos por todas as hierofanias. Obteremos assim um
ne-jra nenhuma OOn1tadilórias, mas intcgrávcis e co1npk-meota· conjuuto ooereu1e de 1lo1as comuns que - como veremos mais
rcs. Fica.mos assi.in autorizado a conceder u,na '1validadc'' igual tarde, aliás -permitem organizar um siste,no c.oc:rcnlC das 010
a 11m doeume.nto que rc8i t(a un1.a txperiênci:l pqp 1l:i.r e a um daJidades da sacraJidade vegetal. Podere111os ass1u1 notar que C.l·
do-cu nto que rcllct·c a experie-ucia ck uma cli1e. As dl t.iS cate.- da hierofaniaJJffflup/Je tal sisterna: que um costume pôpuJfi.r, de
gôrias de do.cumentos sao indispcni;ávcis - e nílo apetu'I$ para c;erto 1nodo relacionado com o ''oor1ejo oerimouial da árvore- de
descr vfr n }ll$tórla de uma hici:ofani:i, nlas. e,n prirneiro lugar, inalo", implica a sacralidade vegetaJ formulada pelo idc,ogralua
()OfQUe ajudam a constituir 8$ modalidades ,do 3agraélo revelado da árvore cósmica; que algumas hierofa.rtias são poooo ''abefw' ,
au:avés desta hierofnniti.. são antes quase "crip1icas", no seotldo de só revelarem parcial-
E.U$ obscrvaçõeç - tunpl:uneruc ilustradas nos estudos deste mente e de maneira n1als ou menos cifrada a sà,cral.idade incor-
livro - devem ser aPLic:idas à hetc:roscn.eidade das hierofanias porada ou sin1boli2:ada pet" vegetação, enquanto outras hieroía•
acima referidas. l?ois - co,no acabant0$ de dizer - estes dQCU· nias, verdadeiramente "fãnicas". deixam 1ransparecer as moda·
meotos não s6 são heterogêneos em re.Jação à sua .ocigem (uns tidades do $agrado no seu conjunto. Podereinos -a."SSim conside-
diénanam dos sncc.rdotcs ou dos.Jniciados, outrQS das 1uas:sas; uns rar como bierofania crft,1ica, iosuflcieut,en ue ··-aberta", ou ''lo·
apenas orcrccenJ .llusões., fragmentos ou vag.."5 referênL;as, ou- cal", o COSlUtllC de desfilar é rimoniosamcntc• um ramo verde
tros ce 1os originais, e.to.), !11ªs 1a béo> quanto à sua própt:_ia es- no começo da pri1na,'era••; e como hi«ofsnia "transparente"
i: rutuc.l , Por exemplo, as hiccofanias vegeta.is (isto é-, o sagrado o simbolo da árvore cósnUca. Ia$ tan10 Utna oonto outra reve-
revelado atra,•ê$ da vegetação) encontram-se can10 nos s(Jnb los lam a m<:Sma 1\\odali\iade do s.la.rado lncot'porado na vegetação:
(a árvore cósmica) ou nos mito!i mctafi'sicoJ (a âf\•ore da vida} a rcgel)cração ríttnica, a vida inesgotá.vel que está concentrada
oomo nos ritos ''P.Qpulares 1' (o "cortej() da ác,•ore de maio'' -. as na -..·q,et.aÇão, a re,,ttdad 1ilt1nifestada numa criação periódica,
fngucjms•, os ritos agrArios), nas crenças li das à idéia de uma etc. (4 124) O quedeventos desde já sublinhar e que iodas s bie
origem vegetal da humanidade, nas relações místicas existentes rofanias c·oaduzcm a um sisicma de afirmações ooere-.>1es, a uma
e-ntre cenas árvores e ocrtos indi\''id\1os ou sociedades humanas, "teoria" da :;acra1idade vegetal, teoria. iinplicada tanto nás hie-
nas superstições rclali\o'3S à fecundação pelos frutos 011 _pelas rofani.as iosuficiente-n1-en1e ''aberias" como nas outras.
flo-rcs••, nos contos e-1n que -Oherói, co,·ardc,n.cnte assassinado,
se. uansíorm;3 n,1ma planta. nos mitos e l)OS ritos das divindades
As oonseqOênclas ceórkas dessas ôbSC"TVações serio discuti-
das no final destâ obra, quando âvcrm!Ds examinado u1na quan•
da \'C.&e-tacà'.o e ela agricultuia, etC . .Estesdoclunentos djfcrcin não cidade suf.x-icnie de fatos. Por agora co_n1cn1ar nos,e1nos e1n mos.
só pda sua hjAfória (comparar, por exe,npto, o s.imbolo da.árvo- trar que nrm a heterogeneidade histól'ica dos documt.ntos (un!
re ,côsmita entre indianos e enlre os alta:icos com as crenças c,manados das "elites" reliaiOSí\S, ou1ros das massas incultas, ou-
de álgumas populações priu>Jdvas, a respejto da desccndê1tcia do rros ail)da o prod\ltO de uma civil.i.zaçilo refinada, ouiros final-
gênero humano a parrit de tuna ie vegetal) roas ta,1nbém pe- wente criaçâo das sociedades pri1niti,·as, etc.), oC'tn a sua hclcro-
la própria esi:ru,ura. Quais são os d --umentos que 1lOS vão scrvi.r aeneJdade estrutural (mitos, ritos, formas divinas, su es.
de.niodeJo pa,a oonlprttndermos as·hierofaoias vtgeutis? Os sim· etc.) constituem obstáculo para a co1npree-ns o de wna h1erofa-
bolos, os ritos, os mitl,)s 011 as "Cormas divinas"? nia. Apesar das diítCUldades de ordem i,rátlca, só esta mesma he-
O método mai.$ seguro é e-\•idenlemeiue o que cooside('a e \Ui• terogeneidade ê capaz de- nos revelar 1octas as ,nodalidades do sa·
liz.a todos este$ documentos heterogêneos, sem excluir nenlnun grado, visto que UtU símbolo Ou um mi1o tornam evidentemente
tipo imponante, e atetlta gimultaneamentc IXl11'I a quesuk> dos (:On- transpare,1,es as modalidádC"S que um rito não pode 111:inifestar,
• Po1 atmpk1, a, ''fosudra; de Sâo IOi<>".(N .T.) • lr,IQ é, IIIJff/'1 ttti»JhniQ, por c.·«t11t,l<1, t'm pr()j;fu'OO. (N.T.)
•• e. <ma1ma. ao 6':u pO(li:r ,tifficti1dor, ()()11)0 sej11m a, vtn.rtet 00$ ·.•pw •• O"d<1,nintó d" Ram,m;" pod, ser <OM.'dcrACIQ li come> modltll<tode deste
{lt u1aJo··, tN.T.) rito. (N.T.)
16 TRATADO De H.1$TÓR/A DAS RELIGIÔES APR.OXJ;\IAÇÔES: eSTRUTVRA. EJ.fORFO.LOôlA 17
OH\S tâo-só implicar. A dif«ença entre o nível de. uLn simbolo, Até agora serviram-nos de prhnelra aproximação, não para deli-
por exemplo, e o de- um ri10 é de tal natureza que. jamais o rito mitar a noção do sagrado, mas para nos fan1ilia rii ar- oom os do-
pc,derá revelar tudo o que o símbolo r a. Mas, repitamo-lo, cumentos de que disl)On\C>S, Cbama.n1os hiero/anias a esses do-
a hieroíanü1 ativa nwitrito agtário pressupõe a prC$Coça de todo cumentos porque cada um dc-les revela urna modalidade do sa·
o sistema, isto é, o oonjunto das modalidades da sacralidade ve- grA-do. As modalidades desta revelação, assim como o valor on-
getal que reveltun. d.e maneira mais ou menos global, as ou1.ras tológico que- se lhes atribui são duas q\lestôes que só podefâo ser
bim>funlM A8táiiaJ.. discutidas no fim da nossa pesquisa. Por ora <:onsidere1nos d.i
Essas obstrvações píelimjnares conlp-teender-se-ão no mo- documento - rilo. nti!o. oosnlogonia ou deus - como consti-
r.nen10 t m que o problema for retomado nom ponto de \•ista d.i- tuhtdo uma hicrofania; ou, por Óatras p-ala ras, tentemos
f!ereutc. O fato de a feiticeira queimar uma boneca de cera, pco,. oonsidet(1-los. corno ,una 1uanifesração do sagrado no universo
vida de. uma mad ixa de cabelos da sua "vítima", sem se ap,erçe.. 1nc-n1al daqueles que o receberao1.
bcr, de maneira satisfac.ótla, da teória prc:ssuwsta por um llo Certameote tal exercício nem sempre ê fát'il. Para o ociden•
mágico coolo esse aào tem a mínima imponância para a <:otn- tal, habituado a relacionar espon neamentc- as noções de sagra-
preensâo da tna8ia simpática. o que iinpona par.a co1upreender do, de rdigjão, e atê. de magia, com oettas formas históricas da
essa magia é saber que t.al ato só foi pos.,(vel a pa11ir do momen- "ida religiosa judaJco-c.ris.t.ã, as hierotallias estranhas surgeni·lhe,
1-0 em que-oe-rtos individuas se convenceram. (Pot via expttimc-n-
t:al) ou atinnaram (por via tcôrica) que as. unhas. M e,.abclos ou em grande- parte, como aberrao.tes. Aluda (l\le esteja predi oslo
os objetos usada$ por um ser hu1nano conse..,·ain re-lações inti- a ço1tsiderar corn,$impatia certos aspectos das religiões exóticas
111as con1 este. após a Sua separação. Tal c«nça pressupõe a exis-
- e cm ·primeiro lugar os d religiões -orientais - só dit'icilmen-
loê'ncia de um "cspaço,rede" que liaa tJltl"e si os.objetos mais afas• te pode.rã con1precnder a sacralidade-das pedras. POL' exen1plo,
ou a erótica mistica. E supondo ainda que tais h.ierofanias e.-<oêo-
r.ados, efctuaodo tal lifl!lção à C\1.s1a de uma simpatia dirigida por
lc:is es clficas (3 coexistência orgânk.a, á analogia íormal ou sim . tricas possan1 enéónlrat algumas jus,ificações (considerando-as,
l>Qlica, assimetl'i.as funcionais). ó ftiticciro,(o que awa conto ma• por exe1nplo, co1no ••fetichism«") é q__uase certo ((ue urn hotneiu
go) só pode acreditar na eficácia da sua ação na medida em que moderno permanecerá refratário em «?lação a outras, que hesi-
tal "espaço-rede" existe. Conheça eJe ou não este "espaço.rede'', tará em conceder-lhes o , alor de hierof.ania. is10 é, de niod.llida•
1
tenha ou não oonhe.<:imento da ''sjmpaôa" que liga os cabelos de do-sagrado 'A'aher Ono notava, n o Die Giitter Ori«ltt-
a;o iodi\•(duó. colsã .sém importância.É muico p.rqvável que 111ul- ·lands , oomo é difícil pata os. modenios apreender a sacralidsde
t.is das feiticeiras atuai$ oão possuam urna represenlação do mun- das- "formas perfeitas", uma das categorl.u.do dj,,jno de uso cor-
d o de-acordo com as prática$ mági_cas que exer-cen1. tvfas. consi- renle entre os anti.aos heknos. Esta dificuldade a_gra ..·ar·sc-á quan-
deradas e1n si n1csmas, essas ptátieas p,ode:.in revelar-nos o mun- do chegar a hora de ,:onsiderar um $.imbolo oon10 UJJUI manifes-
d o de onde ,,am ) ainda que 0$ seus executantes nâo lhe-s tenham tação do sagJado, ou de $Cnlir que as estações, os ritmos ou a
acesso por via teórica. O universo mental dos muõdos arc.aicos plenitude das formas (quaisquer que seja,n) são outras tantas mo-
não chegou até- nós dinleticamente nas «enças e:-.plíéitas dos in- dalidades da sacralidade. Teutaren1os mostrar nas pá3inas se;auin•
di\•íduos, mas conservou-se nos mhos. nos símbolos e costumes les como elas eran\ consideradas assim l)C'IQS homc-ns das cultu-
que-, apesar de- todo gênero de dea.ra-daçâo, deixam \•cr ainda cla- ras arcaicas. E n a medida en, que nos dese1nbaraçannos dos pre-
r-.amente o seu sentido ori&ina1 . .Em certo ntido, fcprescntam conceito:;. didático.o;, em que nos esqu «rmos de que essas alitU·
•• fósseis vi,•os" e por vezes basta uru só ' fóssil n para que- possa- des foram por vezes tachadas de panteismo, de ícit..içaría 1 de in·
mos. rcoonstituir o cottjuruo org.ãojco de que ele é o ,•esligjo. tantilismo. ete., é que oonseauiremos cotnpreeoder o .sentido pas-
sado ou atual do sagrado nas l-uhuras arcaicas. esimultMealllente
aUnlenearão 3S nossas prc;,babilidades de compreendermos igual-
4. Muldpllcldildt dM llicroíanias - Os cxen1ptos que aca• 1ne-nte os modos e a hislória da sacrailidade.
l>am de ser ci1a<los serão momados e refor 3do; no presoo1e obro. Precisamos nos habituar a aceitar a e:dstêncla das bie'rofanias
18 TRATADO DE HISTÓRIA DA$ R(l.,JOJ<}ES 1IPROXIMAÇôES: ESTRI./TUM S ,WOkFOLOOIA 19
ond quer <t_U :1eja, en1 qualquer setor da \•ida fisiotógica, eco· to ,oda ,e qualquer coisa pode 1ornar-se wna tderofnnia, não con-
ll.ôm1ca. CSp1ru-ual ou social. Em suma, nós oap sabemos se exb· tradirá esta defin .ão-tipo do íenô1uen,o religioso? Se quolquer
te olgu,no coi$(1- objeto, gesto, funç:âo fisiológica, ser ou jogo, coisa pode incorporar a sac.ralidade. t-1» que medida permanece
ece. - que nunca tivesse sido transfigurada, cm qualquer parle, \'álida a djcotomia.s.agrado•pl'ofano? Esta eoraradição ê só-apa 4
no decurso da hi1>tória da humanidade, tnl hierofani . Questão rente, p0rque, se ê verdade qUêquáf(.J&ler coisa podê tomar se Ullla
1n i o <Jif11ue f a d procurar as rawes que fJZCram çom que hierofania e que, prova\'e.lmente, não e.(iSle nenhum objeto, ou
e3S.a algun1a t·oisa se tornasse uma hieroíania ou deix.'ls... de o ser, ou 't1 Janta Que em certo momento da história e ein « r t o lu-
ser em dado momento. l\fas é ce110 que tudo quanto o lion1em gar do pa90 não lenha assumido o prtstígii) da sacralidade., nem
lllMejou. seritiu_, e-nconttou ou an1ou pode tornar-se uma hiero- r isso deixa de continuar a ser verdade que uão se conhec.e ne-
fania. Sabemos, por exemplo, que no i;eu conjunJo os gestos, as nhuma sellgião ou raça que te11ba acumulado, ao l.011io d:l sua
danças •. a brin;cadeiras d.u cri.'ulças, os bri11quedos têm uma ori- história, todas tscas ttierofanias. ·por outras r,al:l,•ras, ao lado dos
3,em tellg,osa: fotam. no tempo, gestos ou objetos cultuais. Sa- objetos ou dos seres profanos sempre existiram, no quadro de.
bemos, do mesmo modo, que- os ins1ruu1entos de músiC3, a ru-- qualquer relia.ião, objetos ou sereç s.agradO,S. (Não ê possíveJ di 4
quitetura, os n.)eios,d ,ra,lSpot e _(animais, tarros, barcos, etc.) zero mesmo dos a,os fisiológicos, dos ofícios, das técnicas. dos
("ôm arnm por·scr obJctos ou at1v1dadcs sagr3d8.$. Poden1os pco- geslos, e1c., mas. voltart:ruos a esta distinção.) Temos de ir 1nais
s.:tr que não existe- ncnhu1n anitnaJ ou planta importan,e que. não longe: ainda que certa classe de obje,os possa receber o valor de
tenha pardcipado da sal ralidade no dtcur.so da história. Sabe- unia hierofania, h4 serupre objetos, nesta classe, que não são in-
mos da mesma maneira que todos os offc-ios, ar,es, indll trias, vestidos desse priviiég:io.
técnicas têm orlg:ern sagrada O\I se revestjmm, no curso dos tcm- Por exemplo, quando ,se faia no •1cul,o d:-is pedras", isso nao
J>ôS, de valores cultuais. Esta lista poderia continuar com os gcs· quer izer. que tódt1S as pedras stjam consideradas COJnO sagra-
tosootidianos (o lcvantar,sedeJ>0is da nojtc do1·mida, o caminhar, das. Bt1co1nrare-tnos smtpre certas _pedras veneradas em vU·tude
o,corre<), pelos dlfereates trabálhos (caça, pcsca; agricultura), por da sua formo.. do seu iam.anho ou dM suas implicações rituais.
todos os atos íisiológK."(1$ (alimentação, vida sçxual), provavel• Verentos, aliâs. que não se trata de um culto das pedtas. que es·
1neote ,autbétn pelas paJavras essenciais d.a Unaua, e assiro por sas pedrM sa,aradas so,nente são \'eneradas n:l 111cdida en:1 que 1140
diante. E\'idenfemc:.nte, não deve1nos i1nagina.r que toda a espé- são openas simples ped.ras. 1»8.$ hierofanias, isto é, algo que ul-
cie humana lenha 1X1SSado pox lodos essas fases, Q1)e coda SSL'U• lN!P(1SS<) • sua rondição normal de "objetos". A dialética da hio-
JX1mtn10 hun,aoo tenha conhecido sucessi\'a:tnerue fodas as lúe- rofania pressupõe un)a esc.()/ha mai! ou menos manifesta, cm que
rofanias. Essa hipótese evolucionista. talve aceitâvel algums$ gc- incorpora (isto é, re\'ela) olgo paro alétn de si mes1no. Por ora
raições atrás, esW hoje colnpletame1ne exc:Ju!da. l\tas. e.in quaJ. não interessa mui10 que este "algo pat·a além .. se deva-muito sim-
<1uer lugar que fosse, nucn.dado momento históríoo, tada. grupo plcsmentt. à sua fonna singular, à sua éfíciêocia ou à sua "for-
humano transubstanciou, pela pane que lhe tocava, çerto nU ça'' - ou que se deduza a partir d a · 'participação · do objeto
rode ob}eto.s, de anio>ais. de pla,uas. de iestos e1n hierofao;as. en1 qualquer si1ubolismo, que seja atríbofdo por 1,1.mrílo de con
e Cmuito prová\·el que., no fim de contas. nada tenha escapado sagração ou adquirido pela inserção, \•oluntária ou. invotun1âria,
n esta transfiguração, prosseguida durante dC'7.Cnas de milênios do objeto numa rq.ião satuta.d{l sacralidade (uma z.ona sagra-
d.a vida religiosa. da, utn len,po sagrado, um ''acidente · qualquçr - a queda de
um raio, um rittle, un1 sacrilégio, etc.). O que acabanl0$ de pôr
e1n evidênçia ê que uma hierofania J.).rcs$upóe uma t'SC()fha, uma
S. 01ai.:11 d s bleroJanJ s- Relentbrrunos uo pri.ocfpk>des- nítida separação do objeto hierofãnico relativamente ao mundo
t capítulo ue todas as definições do fenômeno religioso dadas restante que o rodeia . .Este 1111111do reslanlt exi&te sempre., até
atC o presente colocavam-cm oposição o :sagrado e o profano. .q\ltindo se trata de uma reaiào in1cl)sa que. se toma hierofàuica
O que acabou de se dizer-acima. isto é, que em qualq\le:r motnen• pót txen,plo, o Cêu, ou o Cõnju.nto do "!llnbiente'' familiar, ou
20, TRATADO DE fflSTtJlUA OAS RELJG!ôES A,PR0}(lf.fAç0E$: E$TRUT(IRJ.J E MORFQl,OOIA 21
a '"pátria". Em qualquer so. a stparação do objeto hietofâni- 6. O i::ibu e a ambirnlência do S:limdo - Veremos mais tar-
cc_, fai.- pelo a1e11os peronfe ele '!1es1110, pois s6 se toma uma de em que medid.a 1.ais fatos podem ser considerados oomo h.ie•
h1ero(arua no 1no1ncnto <1n que deixou dt' SC1' u,n simples objeto rof-anias. De. toda a maneira são cratotanias, manifestações da
profano, cm que adquiriu uroa nova dirnens o: a da. sacralidade. força e. por con.scqü n.::ia, são lCRJ.idas e venel'adas. ;\ ambiva-
lência do saa,ado 11noé clusivanletue d.e ordem pS:ieotógica (na
. EsS:' dialétita ê complct.amenc clara no Plano dementar das n1edidà em que atrai ou causa repulsa) mas tambcm de ordem
hierofan1as: futgurant , too ço1uw:is na literatura emolóaica, Tudo
o que é in tilo, singular ) élOvo, perfei10 ou monstruoso torna-r- axiológica: o sagrado ao mestno ten1po "sagrado" e "tua.cuia•
r láculo para as forças mãgicl)oreUaiosas e segundo as circuns- do''. Ao oomen1ar -as palavras de Virgi1io, uuri sacro ja.,nes,
râocias, um objeto de ven raçi(o ou de Lemo:. eut vinude do sen- &r\'ius7 faz notar, muito justamente, que $(1(:el' pode signifi,car
timento aLubivalente que o sagrado provoca oonstantemente. ao mesmo tenrpo "1naldic.o'' e "s·anto'• . .Busr..1.1hius3 obsetva a
;:Quando um.cão tem sempre exito na caça", escreve A. e. Kruyi,
1nesma.dupl.a significação de bagios, qu,e pode exprimir ao mes-
é porque cx151e af nteasa (nLau-olhado ou ;ia:ouro). Demasiado mo tempo a noção de ''puro" e de "poluldo ..9• Bessa mesn1a.
ê,xito na caça é t.oisa que- inquir.ta o Toradja. A força mágica, tunbivalênda do S..1,$rado apareoe no .m\lrtdo pa1eosse1n.ítico 10 e
ita.ças àquaJ o anin1;ll é cnJXll,de apanhar a ,caça, acabará éleces.- tgípclo 11•
sac1amcn1c por se tornar fatal para o seu dono: ou este 1norrerá Todas as \'aJorizações l)cgaiivas das "iJn-pu.rez::1s º (o conu,.
cm bre\'e, óu a tolhcita de arro7. falhará, ou, o que é o mais fre,. io c01n os mol'IOS, os criru.i.Losos. ecc.) se devem a tsta ambh·a-
<J.üe:Jltc, uma epiiootia se dedara.rá nos búfalos ou nos poroos. lência das hicrofanias -edas cratofan.i8.$ M Tudo quanto é "in,pu·
Es•a a-eoça é3"ttal em iodo o Cffltro d.as Celebes:"2 Seja e,n que ro•• e por-conseqiiêJlci "cousa.arado .. dlslingoe-se, éla esteta. do
domínio ior., a pc:rfr.ição assusla, e.é neste. v:alor sagrado ou má. ontológico, de tudo quanto pertence â c-.sf«a profana. Por is.w,
gico da perícição que será necessário procurar a explicaç-Jo tio tanto os objetos como os seres impuros estão pratican1ente proi•
reeeio que acé a mais civilizada das sociedades manifesta pcran·t e bidos à experiência profana, assim-como as cratofanja.ç as hie-
o santo ou o gênio. A 1:>erfeiçâo élão pertcn,ce a este mundo. É rofanías. B não é sem risoo que rodo aquele- que. pertença à csfe
ums coisa <llferente deste mundo, embora ve.nhu ute ele. rn profana, isto ê, não preparado ritualrnence, se aproxhna de
Est e mesmo rcccio ou esta mesma ttscr\'a timorata cl()ste a um objeto impuro O\l consag.rado. Aquilo a que se dâ o nome
r eito de ·wdo quanto é do estrtJ11geiro, ou estranho, ou novo de tabu - segundo uma palavra polinésia ad«ada pelos tlllÓ•
- l)OiS la.is prtstliCáf !uíprttndentes são os sinais de uma/orço grafos-t prtcisameme essa condiçao dosobJecos. das açõl!S ou
que,sebem que venerável, pode ser perigosa. :Nas Cclcbes. "quan- das pessoas ºisoladas" é ''interditas" em \·irtude do perigo que
do o fruto de uma bananeiro nasce, não no 1opo do caule, mas cômporw o seu contato. De uma maneira geraJ é O\I t:ransfotma•
no meio, t ta-.se de- 1,ieasa.•. Di.z.se geralmt:;nte qued.sso terá co• eo.1 tabu todo objeto. ação o.u pessoa q,ue, tm virtude do seu
ino «>ns üência.a mone do don? de tal ârvore ... Quando uma 1ttóprio modo de ser. ou por uma rupiura de nivt:1 ontológico,
aboboreira dá dois frulM numa so haste (caso idênLioo no de um se torna l)Qrtadora ou adquire um.a força: de na t ureza ml'lís ou
nascitue1uo de g6meos), trata-se de n1C(ISà, o q causará a morte 1nenos inoena. A lllOtfolog,ia do tabu e dos objetos, pes.,;oas ou
de utn membro da fronfUa daquele (lue po.ssu;i o can1po onde essa -nçõe.s tabúticas /: n1uito rica. Basta forhearmos o tomo III do
plan1a cresce. E cotna-se nece,sário arrancar a planta que. dá tais Raureau d'orde Fra2cr, Talx>u e1 fes 1'Jfrlls de l'(ime i z ; ou ovas
frUlOS azaren1os 1que ninguén1 poderá comer :0 •1. Como diz Edwin 10 'repertório de Webscer U , para nos convencennos disso. \:amos
\V_ Smith, "as coisas estraobas.. Insólitas, o, cs1>eláculos inu.sha. co11.1entar-aos oon1 alguns exemplos r o'lhidos na. mon0$fafia de
dos, as práticas iJ,abituais, os alimentos desoonhecidos, os novos Van Gtnneo 1"'. O termo correspondente a tobu, em mateacht, e
processos de fazer as coisas, tudo isso éencarado como manifcsta• Jad>', foly, palavra que de$:ig,éla o Que I: ..·sagrado, proibido, in
ção das (orças ocuhas"4• Eol Tanxa, nas No\•as Hebridas, c.odos terdito. iélcestuoso. de mau augúrto 1s, ou seja, cm óltima análi•
0$dcsastrese1am l. put dos aos missionârios brancos queacaba- ic, o que é perigoso"•. Assim, foram/od.)• "os prirnelros ca'lalos
V:lm de ch.egar 5. A lista desses exc111plos pode msccr facilmente'. in1t,,1:inad<>S: uartt (1 ilhà, óS «ielhó ttâzic:1os por um n1issionàrio,
22-. TR1ITAD0 DE 1-IIS.T('JRJA .0A$ R.EJ..10/ÔE:$
..AJ>ROXl,\fAÇ(JBS: ESTRUTURA E fóRFOLOOIA l3
OS gêneros novos, incluindo os remédios europeus'' (o sal, o io-
deco de JX)tliss:io, o run,. a pi1nenta, ecc.)1 i ', Euco»tramos por• de cenas regiões (as ilhas. os montes), são múltiplas as causas
tanto aqui a etatofanias do lnsólho e do novo, de que já fala- dete,rminan1es: a novidade do metal, ou o f-alo de-ser utilizado
mos 1na1s acima. A sua_modaJidade é fulgu.rnn1e, pois de manei- por grupos secrt:tóS (ful\dldores, feiticeiros)., a majestade ou o ntis·
ra geral todos estes 1abus nâo doran1 muito 1 po; a partir do ttrío decel'tas1nontanhas, o fato de n.'lo serem intcgrá,1e:is ou não
momento tm <iue são conhecidos, manipul.ados, in1egra.dos no estarem integradas uo cosn1os indígena.
No çntanto, o m ·anisn\o .;lo t<!óu Ç n1pre o ine:smo: alsu·
oo mos autóctol)e, petdem a suaca1,acidade de dest1uir o tQliill•
bno das forças. Ouuo termo 1naliacheé foi.à, queo dicionáríos mas ooiw. t,essoas ou regiões participam de w11 sistema ontoló-
de.finem nos tcrm0$ seguintes: "tudo o que c tã fora ou e contra gico muito diterenle e, por conseqi1ênciia, o seu contato j)roduz
um.,
a lei o.-uu.ral•.uro. prodf$fo. 1.1ma· cal:uu.id de pública, desira.ça uma ruptura de nivel antológico que poderia ser íat:àl. O temot
perante. tàl rupcu.ra - ne,cessariamenle irnPosta pelas difere:nç.as
extraotduH'ina. um poc:ad9 001ura ale, nat1.1ral, um inoesto"1&,
Evidentemente os fenômenos das doenças eda mo.rtc sc'agru- de sistcn1a ontológico ts1dsten,e enu:-e a situação profana e. a si·
1)1!:JU taolbénl nas-carei,ori.as do insólito e do t rrivd. Entre os mal. tuaçâo hierofânic:a ou cratofãnica - ,•eriíica-.se até nas retacões
ga.ches, como por toda a parte, aliás, varias "interdições" sepa· do homem com os alime-1nos consagrados ou <:oro ()S alinteÕtos
rom nitidamente os. doentes e os ·mortos do resto da. com\lnida· que se supô'c conte1tm certas ForÇas n1áaico-re-ligiosas. ••Alguns
de-. É proibido tocar num morlO õ olhá-lo, pronunciar o seu no aJiment0$ a tal ponto são santos que. mais vale nunca O$ comer,
fflli?, Outra sêrie de tabus refere-se à mulher, à sexualidade- ao ou comê-los apenas em pequenas quantidades.''21.É por isso q,1:e-1
nasci,nen,o 011 a de1er1njnadas situações (ê ;proibido ao·sotcÍado em Marrocos, os vi$itantes dos santuAr[os ou os participantesde
co,·mer galo morto em combate., ou qualqutr outro animal morto uma festa comem p,ouquíssimo d0$ frutos ou dos pratos que se
por u,na aza.gaia; não se deve matar um animal macho nun1a ca- lhes ofereoem. fazem.se tentativas: par" aumentar a "torça•· (ba·
sa éujo douo anda envolvido em querelas ou na guerra. etc.''). r.oka) do crl,so enquanto ele permaneci! oa eira mas, concentra·
En1 to os esses casos se trata de uma interdição provisôriã que cn1 grande qu.antidadt., esta força pode: tomar.se noci'\•au . Pe-
explica por uola con0::01r ção rulgurante de fo s em deter• la 01esri,a iazão o mel riro em burôka é perisosoM.
mi adóS.ctotros: (à n1uJher, a ,norte, a doença) ou peta situação Esta ambivalência do sagrado- que ao 1nesmo tetupo atrai
pengosa em que se encontram algutnas pessoas (Q soldado, oca- e C:tlJsa repulsa - será discutida ruais proíundame-nte no Un·
,•.dor, o pewador). MaH Lmm lR Y$ p 11DM<nl s. o <lo rei o do volutue des1a obra. Aquilo que- dtsde já podemi.» notar é a
o do santo, o do nome- ou o do ferro, o dt.certas regiões c6smi· tendência cont.radi1órla 1nanifestada pelo hom m peranr ó S1·
cas (a lnont3Jlha de A1nbondro1no, de que ninguõ.n1 ousa grado (consider ndo este. tmno na a-repçâo mais geral). Por um
apro imar...s,el'O _. os lagos, os rios, ilhas in1elras) '. Nestes casos. Indo, 6 sagrado pcocn,-a· urar e aumentar a sua própria rca�
.L1 inte«liçõcs são devidas à maneira de ser específica das pessoas Udade por um contato tão frun1oso q·u.anto possh el oom as hie-
1
e dos objetos tabôüoos. De,·ido à sua própri:a sin1aç:\o real. o rej r-Ofa.o.la.s e as crau,ranias; por outro, arrlsca se a pc.rd« definiti·
ê um reserYat6rio pkno de forças e. eonseqí.'ientemente, só é pos- vamentc-. esta ''realidade" pela soa integração oum plano OLllO•
S>'v uma aproximação do sua pessoa t<,>mando certas precauções; lóaico superior à sua oondiç--ão PL'Ofana; embora a deseje uhra-
o :rei não deve.ser tocado nenl olb:ido dire1..lntet1te, assin1 como paSSar, não pode entretan10 abandoná.ta <:oro.pleu11nente. A am-
1ambêm não se lbede\·e dirigir a palavra. Em cettas regiões o so- bivalência da atitude do ho1netu perante o sagrado não só se ve
berano n.!lo deve tocar a terra, pois poderia assim torná-la estéril rif.ca nos casos das hierofanias e das Cl'o:uofan,ia!i negati\•as (me-
devido à$ fotças ti:n si acumuladas; portanto, torna-se necessà• do os tnonos, dos esph·itos, de tudo (luanto é "impuro"), mas
rio que seja transportado, ou êlllào deverá camjnhar sobre un, também nas formas rdi9iosas maise-voluídas. Até urua teofania,
t3pete. ,\s pro:auçóes tomadas com os santos, com os .saccrdolC'S COLllO ,a que nos é revelada pelas místicas cris1ãs, inspira à grande
ou coo, os curandeiros explicao1-se pelos nu:'smos receios. Quan- 1naíoria dos indivfduos não somente attaçâo 1nns 1an1bêm rc:puJ-
to ã "tabutirnçlio" de certos meials (o ferro. Por exemplo) ou $a (q·ua\quer que seja o no1ue dado a esta repulsa; ód.io, desdém,
1.emor, ignorância \·oluntáiia. sarcõ.lSmo, etc.).
TRATADO DE fflSTÓRIA D,-1S RELIOIÔE'S
,IPROXIJ>IAÇÕES: ES'J'R.VTUR.A E ,\IQRFCUJG/A 23
o ''eleilo"). Os txen11>los nos ajudarão a compreender o oone:ei•
\'imos ac:imi que .lS manifesta{ões do lruóHto e do extraor· to meJané.s:io de n1onu. de onde certos au1orc.s julgaram poder de·
di.Dário provocam geralmente o medo e o afas'3IDento. Alsuns
exemplos de tnlJus e de- ações, de seres ou objetos tabUtioos rlvar todos os fenômenos religiosos. Para os melaoésios, ,na,10
é a forÇll mliterlos e ativt1. que po:;..,ucm alguns Índjvíduos e ge-
reve-Jaram•l\OS através de que toc-canisn1os a s cratOfania\ do in•
sóUto. do funesto, do mistcrio5-0, etc. estão separadas do (ircul. rahnepte as almas dos 1nor1os e tod os esulritos i r . o ato grau·
,uoso da criação oós:mica só foi possh·el pelo ,no110 da divindade:
to das :x.periéncias n n ais. Esta separ ão, tem por \'ézes cfei·
tos postnvos; l1âO se lunrta a isolar, tambén, volorito. Po-r isso wmb!m ó thMt dó d ! disP<l da sua d Me de mana, e"" os ingle-
ses sub1neteram o maoris foi potque o seu nu,nu tt;;i mais fone,
a f-e- ldadc e- a disfonnid de, en1bor.l sin,aula,.r zem aqueles que aS!im como o oficio do missionário cristão possui nu1n<1 superior
lll3..DJfes':1-•»: .lO m 1no tempo também os oon.sagram. •• Assim,
en.rrt os 1nd1anos 0J1b,va>'. muitos são ct.t:u\\ados feiticeiros sem ao dos ritos autóctOL'les. Apesar de 1udo, também as latrinas pus.
suem o ,nona, graças ao caráter de ''rtcepc:áculo de for " que
q.uc elei próprios se considerem peticos na a tte da feiti;;ar&a' n1as abrig.1.rn nâo só os corpos hum.anos como as suas txcteç.õesl3 .
sunples1nente porqüe são ft-ios ou disfonnes. Entre cs1C$ i dia• f\,Jas oo objetos e os homens lêm mana porque Q receberam
nos. t os os '!ue sã.o olhados cotno fei.ticeltos têln ierahnente de dç(erluinados $(:res.supcriorcs. ou seja, pórt.Jué pardcipao> rnis•
aparência exterior m1será,-el t asptcto repug.oaote. Reade afirma
que no Congo todos os anões e Lodos 0 $ albinos. se 1oroa,ru sacer tic:amentê do saa,rado e nu ,nedido en, que de,Je participam. "Se
otc . Não podemos pôr em d\'lvida que o ttspeito gerahnente $e verifica que uma pedra CL'lCel'ra Utna to excepcional e por-
que quaJ.quer esp{rito a ela .se associou. Uni osso de -um t1101'1C>
ws.ptrado por este gênero de homens lenha a sua origc.m na idCia possui n,ana p0rque a alma do mono -a.f se encontra; determina·
de que são dotadOI\ de um poder misterioso. "lS
O fato de os xaml\s, os feltioeiroseoscurandeiros serem prc- do individuo pode manter uma rttaçao tão estrtita co1n-u1u esi>i·
ri1o·(spirlt) 0\1 com a alma de um morto (ghos1), que fica p0$Sui-
fer-entemente recrutados entre os ncuropataS, ou entre os que apre,,
scn m equilibrio nervoso instável. é devido ao mesmo prestigio <lor de1nono em si mesmo é pode utilizá•IO à sua. vontade. u29 E
do 1n.sóU10 e do txltilOt<li.nário. Es.<:es cstigm_as denotam uma es- u1n força diferente das forças fisk.as, d,o pOnto de vista qualit::t•
avo, e por isso se exerce de maneira aJbjt(ária. Um bom guerrci·
collw; aqueles que os possuem não têtn outro cantinho senào o
ro deve e1;w qualjdade não às s11as pi'ôptias forças 0,1 recursos,
e se .submetertnl à divb1<iade ou aos tspirito! que àSSim os dJ mas à força que o nrcna de um guerreiro morto lhe Cl.'u'lcede; este
hntwtam, tornando.se sàccrdo1es, xamã$ ou feiticeiro:;. Eviden- t11ano en<:ontta·Se no pequeno ann1leto de· 1xdra que lhe pende
temente t$SS escolha nem sélnl)l'e 5ç efétua por internlédl6 desse do pcscoÇQ, em algumas folhas presas ao seu cin10 ou ua fórmu•
$!neto de r u a t w exteriores naturais (fealdade enfermidade ner- la que prOJlWlci.l, O (ai.o de- OS J)(lr,:,:os d.e certo homem se muJti.
vosismo excessivo}; a vocação religiosa ;ipar;ce (reqileute >eote
plicarem e o seu jardim prosperar deve-se a deter1ninadas pedras
por OC8$ilo dos exercícios rituais a que, de boa ou má vontade-.. providas do nu1110 especial dos porcos é das átvorts que o seu p(O·
se submete o candidato., ou de uma sdc-ç-ão efetuada p d o prietl\tlo possui. U1n bal'«> só ê: J'âpjdo possuir ntana, assim
fcíticeiro 26. rv1as: trata«. se1upre de uma escol/t(I.
como uma rede que apanha peixe ou un\a Oe:ha que fere-
monaln1en1e'(I. Tudo o que q por cxcclCneia poss,ui ,nana; ou se.
ja, tudo o q,ue parece ao .home1n eficaz, dinân1icQ, criador'
1. O rttana- O insól,ito e o einr.iordlnário s!lo epifanias per. perfeito.
Turbadoras: indtC.l.tn a ptesença de algo difertttte do natural; a
omo reaç.'lo contra as teorias de Tylor e- dil sua escola, que
presença, ou pelo menos o apelo, ou en1 sentido p-redcstinad() <:ons1deram q,ue a pri.tnelra fase da t'eligião só pode ter sidQ o ani·
desse fJlgo. UlU animid hâbil, assim 001no wr, objeto no,·o ou u mi1;mo, o antropólogo inglts R. R. fa.trttl jutiou poder teoo•
fa1.o moostruoso slo.,gularl.zam.se de maneira tão 1)itida coino um 1)heoet nesta crença cm uma força impessoal uma fase pré.animista
indivíduo extremamente l'eio, muito nervos<> ou isolado do rcs10 da rellg;la.o. Evhare1uos precisar desde j á c1n que medida se- pode
da comunidade. po1 qualquer t:iÜ$l113 (natural ou adquirido en.1
falar de.uma •·primeira (ase'' da reUiiâo, a&Shn conlO ntio va,,
conseqtlêucla de uma «rin\ônla rc.l.lh:ada con1 o fl1n de designar
TRATADO DE 1/JSTÓR./A DAS RELIGIÔES
AJ'R.0XllefAÇÔ!1$: t!..'tTRUTUR.A E ,\(ORFOC.OGIA 27
m<t$ loda3-).J' st a idc:nüficaçào de 1al fase prhnor<lial equivale a
descobrir as "origens" da teHg:Ui.o. Mc:.ncionamos alguns e,xeu1• menos. Os homens hábeis distlngue1n-se preclsame1ue pela abun
pl,os do ,nana apenas par.i. csclarocer a dialéiica das cra1ofanias dãucla de t11egbe que acumularam. Os íciticeiros tatnbém são ri 4
das hierofanias no plano 1n:lis.de1nentar. (<:on\•ém precisar que cos em n1egbe. Esta força parece es1ar liga.d,1 à alma sombra e
' ' o mais ete1nen1ac'' de modo nenhum significa " o mais pl'Jiuill· dcsti,nada a desaparecer juntamentecotn ela na mófte. quer por-
vo" do ponto de vista psicológico, nem " o mJlis antigo'• no scn· que emi& par.:1 OllU'O jndi\'{duo, quer ·vorque se metamorfoseie
Hdo «onolôgico: o 1úvel elen.entar representa uma modalidzide Jl() totem. u n
$imples, 1ransparcntc, da hic:rofania.) Os exen\plos citadós Se be1n que alguns estudiosos tenham acrescentado alguns
fo-meccram--no..,; uma boa ilustr.iç o do fato de uma cratoíania outros te.nnos a estã lís1a (11gui dos 1nasatos. ondria,nanitha do..,;
ou umn hierofaulas/ngu/urizarum objeto rclati\'ame;nte a O\ltros, nnl)gaiccs, pelara dos dayaks, ele.) e se h.aja tentado irnerpre1ar
e o inesmo acontece com o insôlito, co,u o exrraotdinário e com no 1uesmo sentido o indiano brolm1on , o iraniano .'(varenah, o
o que é novo. Reparemos no en1anto que.: J ! , a noçiio de nuino, romano in1peri111n, o nótdioo h"mlng}á - .a noção de 1t1at1a não
se be1n que a e11contremos também n8$ rcHgiões exteriores ao cir é universal. O tt1a11a não aparece rn1 todas as rdigiõc-s, t mesmo
naquelas em que aparece não é nelu a única., nem a mais anliga
4
u.lo m af!ésio, ãQ ê uma ooção universal ie, por <:onseqü!ncia, for.ma religiosa. «o 1110110... não é de maneira nenhuma unlver-.
e-nos d1f:ícd cooSJdetá-la como rcpr ntativ.a da primeira fase de
qualquer religião; Z!, ê inexata considerar o .1nanaooroo uma for sal, e, por conseqüência, servir4se dele- como base para conslnlir
uma itoritt geral da reli_giào pdn\itlva ê nllo só errôneo como fa 4
4
Ç4 impessoal.
Co1n efeito, além dos melauCsi0:$1 1, hã outros Pô\'OS que eo4 lacioso. "3 ! ti.ia is ainda: cncrc- as diferentes fórmulas (mana, n-a-
nbeoem u a força desse gênero, C.lpa.z de tornar as eoisas pode kon, ort-ndb, ecc.) exisietu, se não difere11Ças a<;Clltuadas, pe5o mc4
nos mati1.c:s f« " Q ücntetncnte cle\prezados noo prlinelros es1t1d'os.
4
dos desse ,negbe qu!lnto aos llon1ens. uns t,ôSSUffll mais, outrô!
nunca se tornarâ rico. ••JG •·1"000 e qualqutt esforço se realiza
28 TR,,t1"ADO DE Hl TÓRJA .OAS R.ELJ<Jlóe.S
APROXll!IAÇôES: ESTRUTURA E .tJORFOL.OGIA 29
coto o intento de ass,egurar as boas. j.L'aças dos esp(ritos. de. ma· 8. &trutlilrd d11s 1ticrof11ni.M - Rdembreinos qoal era o nosso
iieira que o n1a11a esteja sempre disponível. Os s:ictífklos s:io o dçsígnio quando citâv:unos ss hierofanjs$ fulgurantes, as crato·
método n:iais vulgar para ganhar a sua aprovaç.1o, mas considera. fanias, o 11tt1n(I. e1c. Não s,e tra1ava de dl&cod•las (o que implica·
se: .que al0:wnas outras cerimônias lhes são iguaJmente agra- ria como jã adquiridas a$ noções do sagrado, da polaridade
dávtis. ,•J'f' reliaiâo,1naaia, etc.). mas simpJesmeute de ilustrar as modsJida·
Radin notava par sua \rez que os iudin.oos nào C$Utbek(iam dts mais eclemtntarts do sagrado com ,,ista a wna prhueira apro-
oDQsiç:ão enue pessoal e intpessóal, eorporaJ e.n/io corpot11f. "O xhnação. Essas hictofania.s e ctatoíania..- sempre nos revelaram
que pareoe chamar a :;ua atenção, em primeiro lugar, é a questão u:ma tscolho; o que é est<JlhldlJ é iinpltci1amente/orte, efi(::32., 1e
da existência real; e todo quanto pode $ ! í apreendido pe.los s e i , . mido ou t'«lil, ainda que a e.sicolha se faça pela singularização
tidos. Ludo quanto pode sel' pensado, vivido ou .wnhado, exis- do insólito, do novo. do extraordinário; o que.foi escolhido e re,,
te. " J . $ Portanto, o problema deve pôr..se eu:a term<>s on10'6gico$: vtlado (:orno tal, por intermédio de uma hierofartia ou de utua
o que e>:iste, o que- e real e o que não existe- e J ào e1n te1mos cr.itoínnia, torna-se frcqüeatement.e perigoso, proibido ou poluí-
de pessqa/,ir,1f)e$$0(ll, corporal-incorporal, conceitos que. na oons- do • .Eocotttramo.s (1 qt'len1emente a n<Xâo de/orca ou de eflclinrla
ciiência dos ''primitivos". oão 1ê1n a pr«isão que adquiriram nas junto a essas hierofanias; denominamo-las cratofanias precisa-
culturas históricas. O Q.ue é provido de 1110,1.acxistc no plano on- 1ncnte-porq1.c nos faha dcn1onsITTlr o scci caráter sag.rado. No cn-
tológico e, porr.anto, é eficaz., fecundo, fértil. Por isso nào se po- t{lnlO; vimos oomo era lmprudence-3eneraU2ar apressadamtnle;
de afirmar a ''impessoalidade'' do mana, essa lloçâO Mo tem Q\lal• que, por exemplo, é inexato considerar ,o"'º"º como uma força
quer seruidQ no l1orizonte ,nental arcaico. Aliás, em parte ueo.hu- ln1pessoal, visto ser aoessJvel à experiência reU,g:iosa ou à obse.t·
ma se tcnCOlllL'il o n,oná Jtipostasiado, separado os objetos, tio$ vação profana unicamente por uma pecsonificw;ã-o ou ·incorpo-
acontechnentoo cósmicos, dos seres ou dos homeíl.$. f\lais ainda: ração; que:c;.eria mais Stn$a10 pôi.- o problema nos seus tc,mos on-
atrav(:s de um:. análise cerrada a_perctbe:1no,nos de <11.1eum obje- 1ológitos e dizer que aquilo que e,rísrt dit 11n1a,n<1ntiru co,upltui
to, um fenô,ncno cósmico, um ser qualque r, e1c., poss11en1 11tanq possui sempre 1na11a; enfim, que a distinção «pe.,;soal-impes.wal''
graças à iruer"enÇlâo de 1.un espirito ou a confusão com a epifa. não tem .sentido preciso no universo me.:ntal arcaico e que é mais
nia de um ser divino qu;:tlQ\ler. pru cnte renunciar a tal distinção.
De onde se t'Onciui que de 1l1odo uenb·um se justifica a tco- l\otas dcvc1nos notar <1uc as bicrorania.s e- as cratofanias eJe..
J'{:1 que considera o ,nana ton10 força· m:1.ai,ca inU)eSsoal. Imagi- mer11ares acima rneneionadas eslão longe de esgotar a e,periência
nar, nesui. base, uma fase pré.-rcligio,a {dominada unicamente pela e a teoria religiosa dos primitivos. Não conhecanos religião re-
tnagia) é implicit n1en1eerrôneo. &sa Leoria é, aliás, i.ilfirntada duzida a tais hierofanias t- c,·atofanias elen1entares. ,\S catC$O-
pelo fato de ()ué todos. os povos (e sobretudo os povos mais pri- riasdo ság:rado, as.,inl como a sua morfologia. excedem constan·
miti\·os) não couh(tcein o 11u,na, e a.inda 1xto fatodc:,que a magia 1cmente a$ epifanias do n1ano e do insóli10, da ma maneira
- se bçm que se enconlre urn pOUOOpol' tOOo o lado - aparece ctue e.,,ra\•asam do cul10 dos atue_pa.ssad.os, da ccença. nos espíri-
seru_pre acon11>aohada pela rcli;íão. l\1ais ainda: a iuaa;i não do· tos, dos cultos naturalistas, etc. Por outras palavras, uma reli·
mina em coda a parte a ,•ida espiritual das sociedades pl'iinitiva.s; $i.ão, ainda que se t-rate da reli$,iâo 1nais ''pt'irniliva·• {por exetn·
pelo oontrál'io, é oas sociedades mais cvoluidas que ela se n pio, a religião de u,na ttibo aus1raliana, dos judama s. dos
volve de maneira predontiJlaJUe.. (Exen,1>los: a prlltica da magja pigmeus, e-te.), não se dei.,:a reduzir a um nivel dementar de hic·
é muito fraca entre os kurnai da Aus.trália e entre os ruegu.inos; rofan.ias (o r,1q11a, o totemismo. o an.imis1110). Ao lado de t\iis e,x.
etn cert:is sociedades de esquimós e koriaks. pratica-se meoos do l)<!tiê.ncias e teorias rettgi-Osas monovalc.ntes, ern:ontramos cóns-
que tntte os seus "izinhos ainus e san1oicdo$, que lhes sâo supe. tanicmente- os \ 1csdgios mais ou menos ricos de outras cxl)C'riên-
ri.ores no ponto de vist.i_ cuhural. etc.) tjas ou teorias religiosas; 1>0r exem1>lo, os vesdiios do culto de
n1n ser supremo. O fa10 de esses "tscígios apresentarem p0uta
importància para a "ida religiosa cotidiana da tribo não intcrcs·
APROXIJIAÇ/)ES: ESTRU'TVRA R i\lORFOL<XJIA 31
30 1'RATAD0 DE Hl. RJ.-t D.-tS Rl!LIOIÔES
sa 3qui. Teremos op0rtuoidade de veriflca:r"l' q·ue, e1ure os pri- tiíi_Cá\'ei.s. Pois para aquele. que está na PO$$C de urna nova reve.
m.itivos, a crença oum ser suprtn10, criador ,e todo-poderô':iO. 9.oe lação (o mosaismo no tuundo se1u.ldco. ocris1iat'lismo no mundo
permánece noo Céus e se n\anifesta por epifanJas Ut';t.Oianac;, apa- greoo.romano. por emplo) as antigas hierofanias não so1n,:nte
r e « u1n po\100 por toda a pane; no e.ntanto, este ser supremo perde o seu sentido original. o de sere:i:o maniíes:1aç:ão de Uma
não desempenha Q_t1ase nenhum papél no cWto, onde é substituí- mod:tbdadc do agrado, mas tainbém sno consideradas como obs-
do por outras fo,ç.as reliJiOSM (e;> totemismo, o culto do$ ant.e- táculos à perfetÇ".J.O da experiência rc:ligi:osa. Os jcoooclastas de
p dos. as mitologias solares e lunares, :kS epifanias da fertili ttuctl(Juer po e ua_l4uer. r!litiAo flc hl Justi.fl do tànlo pela
dad ). O dcsttpareci.meuto de tais seres supretnos da atualidade sua própria e'<.perlênet.1. rehg.1osa <:orno pdo momento his1órico
rêligios;,1. representa e,•identen1etlte um problema de história, e 1:1h que s t realtui a experiência. Scfldo conteruporâooos de uma
deve-se a een.1s forças que- podem str !XlfCial,ncnte idcntif'tead s. rev çã? mais "co upleta'', n1ais oonfonne às suas faculdade,
f\'ila•i:. inda que aí .surjam co1n menos imp<>rcância, 0$ seres su- cs.pu1rua1s e cutu:,ta1s ,. não podem.acrediiar, não podem va.lori .
ptttnos peri.enccm ao patrimônio religiQSO dos "prhniti't·os" e, ,...ar, no plano rt'hgioso, as hicrof®ias que fora,:n aceita e,n fa.
l)()r conseqüência., nào podem ser de$J)(et.'ldos quando estudamos ses rctigiOS3.S. já passadas.
n e.-q>eriência global do sas1·ado entre a·humrutidade arcaica. As _ dPot outro lo.do, a atitude oposta. que por 1,:1.'Ules de exPosi-
hierofa11ias elemeJltarcs e as cratofanias f\llguran1es ioc1uein-sc çao no inamos de idof(Jfrlo, ju.stinca.se plenamente, tanto pela
O() cQnjumo déssa experiência religiosa arcaica, dominando-a por
J>c11ênc1a reli.a,iosa como pela história_ Esla ati1ude-, qve çon .
vc!:tes, n,as sem nunca a esgotar.
S1§te - grossa ,n o --: em c osel";ªt' em revalorizar perma·
Por outro lado, essa$ hierofallias e Cl'atora.ni:u eleme,nares cntemen1c as ant($3S híerofatuas. e \•a.bdada peta llfÓpria d)a_lê
o,em sen1pr<; são "fechadas", n1onovalentes. Pode1n au1nc:ntar1 lt'Ca do s.1.9:ra.o. porque o sagrado se manüw:a sempre atravé$
se nfio o seu .:ontc.údo religioso. peto inenos a sua função for· e lguma. ,sa; o rato d esta algumà (:()ÍSa (que denominamos
mal. Seja u,na. pedta cultuai, que em certo 1non1ento histórico luci:ofa ,a ) ser ":tn obJctO do mundo imedia10 ou u.m objeto
manifwa dc,ermi.nada modalidade do sagrado: essa pedra 1110s. d lmenSidão <:ósm1c-a. uma figura divina ou um símbolo uma
troque o sagmdo é qualquer ("Oísa de (11/tri!,ttle do meio cós,nioo lc:1-moral ou até unta idéia, uão ttm importância. O a,o di;fê1ioo
clrc\lndante, que-, à se.nelhança do rochedo, o sagrado está de pen»a:1)e« .ºmesmo: a manifestação do sagrado 3través dealgu·
maneira absoluta, invulnerá\'el e estâtica.subtraído ao devir. Es· ma co1 diferente de: $.i me.sma; aparece nos objetos. nos mitos
, onlofania {valoriwda no planó te!ligloso) da t)(:dra cuhual po. ou ll()S s1n1bo1 1 mas nunca inttgralmen.te-, e de m;ineir UneWí\•
de n,odificar a sua ,..foona" ao sabor da ootrente dn história; Ul, na ia totahdade. Por conseq cia, considerados de um pon-
a.mesma pedra será venerada mais tat'de-, aão por aqui.lo q ,e re· to de: ,1sta absoluto, unia pedra sagrada, um a\'atar de Vishnu
vela i,nediatame:nte (nào já CQmo uma hierc,fania ekmcntar), mas ''.ma est.át.u de ! piter ou 1.1rua epifania javcls,a sào igualmeru
pela $1mp rai. o de que, em todos os e-a·
pOl'QUe está iJltcyada num espaço sagrado {de wn teinplo. de um .\tidos (ou !lusonos)
altar), ou porque é ,considerada oon\o a pifania de um deus, sos 1 ao man1r star-se. o sagrado lutiitou,:se, incorporou-se. O ato
etc. ,o CoD1inua a ser (1/go de diferente do toeío circundante, con- para oxal d.a JnCOfJ)Ottt('ão, que torna possfveis todas ;1s t"$péc.ies
tinuo. ase.r sagrada cm .. trtude da hierofania primotdial que a es· de 1erofan1as. desde as mais.ele1nen1.1r s atê a suprema encar-
CQ/heu, ctnbôta o valor que lhe foi attlbuído mude segundo a teo- naça.o <1 Logos n Jesus Cnsto, cnc.ontr:t·se por tod:. a parte
ria religiosa cm qu-t esta bieroíania vem .se intearar. na h1stó1·13: das rtbgi-Oes: ni.as voltarcn1.os a·este problema. No en-
Bncootmtnos um número oonsiderãvcl de tais ,eva1ofi7.ações io1uo. ª.atitude.a que chamanlOS idóla1ra funde-se (consciente ou
das hicrofanías prhuordiais, pois a h.lstória das r ligiões é. em 1 consc1 ntcmen1e, pouco l,nporta) nesta visão de conjunto da.s
{:laude 1xi.r1e, a história da des\131orizações e das rc\•alorizações h1cro aruas cons:l ei.-ad.u na sua totalidade. Es,:tlv,1 as at1tigas hie·
do proce.M-O de manite\.tllç.ão do s.1grado. Ein relaç."ío a isso_. a rofa.1)11\S ao v lon a·las n1.11n pla.uo relia:iQSO diferente, ao conce,
idolatria e a iC",(>rioclas1ia 5iio atitudes natuxais do C$piri10 pera.o· der:lhes·tunçoes d,1.fcrentes. Citarem.os apenM dois exemplos, ex
te o feuôn1cno da hierofani:>.; as duas p® s o iguahne-nic jus• 1ra1dos de dom/n,os e momentos hisióriços diferemes.
32 'TRATADó ))E /IJSTóRIA DAS RE.I.IOIÔES APRôXJi\fAÇôE-S: ESTRVTURA E !t!OR.FOLOCIA 33
nos; é Íll''isível, habita o Céu, seus filhos são estrelas. Seus olbos
lem Sacerdotes. É o. aütor das leis morais. ê juiz·c, por ó.ltimo, 1ambém são cstrclas: as escrela$ cadentes i;ão se,1s olh que s
o senhor de todo;s os destinos. Sô Lhe são dirigidas preces cm ca- aproximam da Terra para ver melhc)r. 5e$u.11do Ho1hs En.g1U
so de doenças: t'Oh, ,u, que. estás no alco, não me tires o meu (Ngai) sianiíica literaJmente " a chu.v-a•··2s, . ..
filho, ele, ainda é tâo pequenino!'' E faze1n lhe oferendas espe·
4
u1na c c1!ça 1w doo ttltste... ; es1nttu.ra da reUg.iosidack de Fiji vind.ade d.a Terra, cujos segredos: de cullQ .sào co1uur1ica(los ape-
ê .º.ªºlll'llSllU>, apesar d ex1st1rem ainda robrc;;-ivências de urua nas às mulhere.t' . O motivo mítico do par Céu.Terra encontra·
dtvindadt cetc.ite 9.JJ)re.na. Ndengei, reprcscn1ada sob a fonna se na Califórnia tvleridional (irmão-e. irmã; da i;ua união nascem
pa1adoxaJ dc11ma s.:.rpentc que \•ivc escondida numa cav<;rna ou, toda$ 3S ooisas). entre os indianoi; pitna t , llO Novo f\féxi<:o, c.n-
tte inélianos da Plankk (Plains Indians), ,entre os sioux e os pawni 1
então, qut.soo,ente 1em cabei;a de serpente, sendo de pedra o re.>sto nas Antilh n.
do corpo; quando tal divindade se- agi:ta, terra treme. embora
seja· UIMID a ttJâdôra do n1u.ndo, Olliscientc e pu·nido1·a do
lnal 50 . A p0puJaç,ões africanas. como vimos, c1nbora. oort.Sér\<c-m
,na.is ou menos iutac1a a crença num ser Sl1pren,o oelest.e conbe- 16. fusfto e·substitujção - Por tudo quanto acabamos de
cetn todavia outras dominantes reli3losas difercn,es do ru no1eís- dize, se\'! que a dh•indadc ccJeste sup,elll.a cedeu por toda a par·
mo ou da monoiatría. Na t'egiâ<> dos indianos Déné dominam o té o lugar a outras fortnas: religíosas. A morfologia desta substi-
culto dos e phih,s e.o xamanismo, mas tXJs,e lambém um s.:r Sll· tuição é variada; 1nas. em parte, o sentado de ('.,)da sub:stituição
premo de .oaturc:z.t celeste; Yuuoere (que significa; "aquefe que 6 o me$mo: a passagem da t.ransoendên-cia e da passividade: dos
se mantém l l l l $ ah11ras"), seres celeste$. às fotmas rcl.i3,:iosas dinâmicas, c.tkicntes, {aclltueo1e
nçcssfvcis. Podei-se.-ia dizer que assistimos a urna ''progressi\'a
. . Noutras regiõC$, ao ser u,,remo u,aníano sobrepõe-se u1n3 queda" do :sagrado "no concreto": a vida do homc-m e o meio
d1vmdade lunar; e, por exemplo. o caso do$ in;dfgena.s das ilhas
Bank '. assin1 COllló as Novas·Hébridas". E,n raríssimas cir. ôósmico que o rodeia in1ediatrunente cada vc mais se itnpcegnam
cuosiâucias - e. sem dlivida, por iJJJluência do matriarcado - desacl'atldade. As érenças no ,nona, na õrertda e no .-.•oko11 etc.
a (li,,indade celeste suprema é- tCtninína; assim aoon1oce oom Hin· b animismo, o iotentlsmo, a dC\IOÇiiO pura com os es1>irit s do;
tubuhet, da Nova.[rlandta, que con5«v todos os atributos da di· nlQrtQS e as divindades loc.i.is, etc., situ.a,n o bon\e1J) nu1n't'I posi·
vinda e ú!.)rfflla uraniana (passividade, etc.), mss que é elo g-ê-.• c;ào ,reU,8:-losa diferente da que ele tinha perante o ser suprffllo ce-
leste. EXIS!e mud oa próJ)fia estrutura da experiência rellg.{o.sa.
nero fenunino; ou as fortaàS femininas e auim;:iis de Puluga co-
nhecidas sob os no1nes de 13ili,ku e Ohi j'; ou as divindade;; Sll· É de maneira diferente, por exc111J)10, q1,1e se revela um Daramu-
premas fcminjnas entre os bopi, navajos, e,e. Oulras ve s uma hU\ ou Tira•,11a, assim conlo os toteos. as grâma de\•âta, os espfri•
deu feinlnltla substituiu-$<! a o ser supremo oe:leste J)ri tos dos mortos. etc. (\ substituição assinala sempre a vlióda das
de l'o as diníhnícas. dramâticas. ricas de val!oclas ntiticas, sobre
m1u"º•. como su,:edeu çnrrç os iodas. « s ka\·is do ASt.1» 1 etc, No
sul da lndia, a divindade uraojana suprc.ou1 dese1npenha ínfimo O ser .celtstc supremo, nobre tuas p ivo e longinquo.
papei, pois a vida rdigiosa tá oomp.lt(amente ab!,Orvida pelo E assi.11,1 Q Ran3i'. ntre os maoris d:a Nova Zelândia, se
cuho das divindades locajs fen)ínínas, as grtina devãut. 6eol que esteja prC'se.nte nos mitos, nâl> constitui objeto de u1u
O motivo do par prinútivo e.tu únacho).Tel'ta (mulher) é cuJio; o seu lugar foi ocup;:ido por Tanga:roa, o deus sup1·emo (SO·
muito ffeqüente. Assim, na iU1a indonésia de Keisar, o princf()io lar?) do pante."to a1aori. Na lelanCsia encon,ra-se correntemen·
te o n1iio dos dois írmãos, u1n en,preetldedor e o outro c rúpido
masculino, (l.4akaro1n n>anuwe, que habita o Céu e cemporttria·
mcote o Sol. e o principio feminino J\ilakarom mawakhu, presente (as duas fa..es da Lu ), ?riados pelo ser celeste Sl1pre1no, a Quem.
na Terra, constituem o objeto central do culto-14• O par pl'in1iti- com o temi», substtlUtrlUU. Em gera.l, o ser suprcnto dã lugar
vo e o mito cosmosônioo que lhe corrcsponden1 s."'k> cata<:teristi- a um demi'urgo, por si próprio criado, e. que rm seu noo1e e se,.
iundo as suas diretrizes oraaniza o mundo - ou a wna divlnda·
cos da Pofuiésla e da J\t.icron ia, e a. este respeito ;1 versão mais
coohocida é-a n,aori, de Ran$i e Papa. Indícios da crença ou1n de solar. ,,\ssilll, erltte oertas populações ban10 o demiurgo Un·
par divino primitivo eJ.lCOnL,am•sc. também na África: entre os kulunkulu é o eriador da r:tÇ:1, hutuana, porém subordinado ao
b.anr.os 1u.ei:Idlonais, especialmente entre as populações ba,vili e .sér celeste- supremo Uli.kxo, ainda que pos1criorm.eu1e acabasse
por empurrar este para o esquccimen10. Eut.re os indianos tl.ing.it
fJOft. a d1v1ndade suprem leste. Nzambi, pas.1a para segundo (ws1a noroeste do Pac.ifico) a fl8Uí3 di"ína <"entrai e o corvo, be--
plano, dtixando 01 seu lugar, e sob um n1esmo n01ne. uma di.
·TR.-ITADO DE IIJST0RIA DAS R t u a t Õ E S 0 C.IJU: J)EUSBS VR.4;VfA1+,'0S 33
rói e derniui'go pritt10rdiaJ, que!' faz. o mundo (ou, conl mais 1>1 dosamente COI\SCf'v:ldólS (§ 78). Tudo o que vem das regiões supe.
cisão. o org.ltliul., difWldiodo a ei,ilização e: a cultura). que cri.a. 1ioces 1>ru.·ticipa da satrnJidade uraniana; os mieteoritos. abundan-
e li bera o Sol,. (;'t<' •.s: i\'lai, por \•e:zes. o corvo realiza tudo isso por cc:mcnte impregnados do sagrado sid-eral, ctrtrn por isso mesmo
ordem de um wrdi\ino supc.rior {dC quem e filho, por exe:rnplo). u1,ml)ê1n adoradc,s61,
&1.rt os tupi (Guarani), Tamo$Ci (·Taruoi) é o antepassado miti·
co, o demiurgo solarizado que substitui o s.er ceJeste.
Na Ani.erlca do Nane, o $('r supre,no ocfes1e tende tm geral J1. Andg1.1ld11de dos .st'«'s sopremos um1da11os - Nào po-
a f'Undir·se com a versQnificaç.'to mflica do trovão e do vento, demos afirn1ar oom segurança que a devoç:io para com os s«es
n:p,rcseo1.1do ,como utna grande ave (o corvo, etc.); com um só celestes tenha sido a 6ni,ca e a primeira crença do homc1u J)Iitui•
batu das. suas asas faz :'lurgir o vçn,o, e i su::i Utljlla é o li\'() e que todas.as outras formas religiosas h.aj m apar do ui·
relâmpago ! ll . Desde as origens o 1rovâo foi t continuou a ser, 1c1·iormente e representem fenômenos de deg:radaç.ão. Se a cren·
o a1ribu10 esseucl.al das dJ,•indades uranianas. E, rior veus, o cro,. ca num ser celeste supremo se ellcontra comlLmcntc nas socieda-
\'ttO singulariza-se e adquire autooomia par&Jcular. é assim. por dS prhnitivas mais arcaicas (pigmeu.s, ausu·aliaoos. fueguinos),
exe1llplo, que os índios siou."'t pensam qué O! astros e os fenõme· nrlo .se encontra, porem, e1n da wna destas sociedades (falta,
nos meteoroló8,ioos - o- Sol, a Lua, o raio (e sobretudo este) - 1,<,r exemp,lo, entre os 1astttallianos 1 os \\tedda:;,. os k.ubu). Domes-
estão sa.turados de \\fakan. Os kansa dize1u que jamais virwn o nu> modo, tambtm não nos pa.roce que essa c:renç-a excloa nt:ecs-
seu deu$ \Vakan, mas que muilas \'ezes têm ou,•ido a sua voz no •nrlii'Lntente qualquer outra fomta religiosa. O homem pode. wr.
tro,•ão. Entrt o.s dacotas, Wakantanka e, de fato, "uma.palavra Cl.'ln aptcn1c,.desde os 1empos mai5 remotos, a te\'el.açào da ttans-
para designar o trovão'' {Dorsey). Sob o nome de Wakanda, os ccndêoeia e da onipotência do sagrado atra\'és da éxperiência das
omaha bonratn o 1rov!l.o coro um eulto próprio; sobretudo n() co- 11u1h1relações com o meio \U'anlauo. O Cé:u _. e.til si mc;smo e anle
meço da primavera os homen montam foau-eims en, sua honra, rJQ1:incn1.e ;i ioda a efabu.lação mitica ou elaboração COll<'eitual,
sobre as colinas, e levam,J.he oferendas deta.bàco· . Entre os ai· n1>re.se1uou.s,e <:on10 dominio divino por e.xcelênc.ia. Mas em si 4
sonqulnos. fa2em..s,e. promffi:as a Chcbbeniafhan, " o horuetn das l'uultancidade com esta hJerofania uraniana p,ode 1er ha\•ido inú·
altur.ts·•. sempre qae uma tempestade se apl'oxi.ma ou a trovoa- PlC[;l$ O\lttas.
da pareoe intinen1e. Uma coisa se pode a[innar cor.n certeza: e que, de maueira
Vimos(§ IZJ Que no, rituai• d< inici o australilDOS a•])!· K,r11l, 1;1hi<rofania celeste e a trcnça nos iicrn supremos celestes
faoia do trovão se anuocia pelo mnldo daqui.lo a que se chama déu lua,ar -a ou1ra1 concepções reijgios..-i.s. Pat"a nâo nos atast.ar·
" o roLubo". O 1nesmo objeto e o mesmo cet"imonial também se 1110s do mpo das gcoeralidadei, é certo que semclhan1es CICll·
conservaram nos ritos de iniciação órfica. O raio é a ;;irma do deu.s tn, nos seres celestçs supremos representavam 0\11tota o próprio
do Cfu em todas a.s mitologias e u.1n local p()I' ele atingido com <:entro da vida religiosa e não nm i1nples setor periférico, como
UtU raio t0f11a-se sagrodo(-1), os homens por d e fulmjnados fic3.Dl ,\C aprese111am hoje enue os prlmiti\'OS. A pol)reza a1ual do cuJto
C()n!.'lgrados. A rvore mai5 frequenteruenle a(inaid.'t pelo raio dt1$tas dÍ\'ind;1des uranianas significa pura e Simplesrntnte que o
(o carvalho) ê investida dos prestígi0$ da dh•iudade suprema (is· colljuoto cultual foi confiscado por ou1ros fortnas religiosas; o
10 para citar apenas o carvalho de Zeus em Dodone, o de Júpi1er que em caso nenhum sisniúca que semelhantes divindades uca
Ól.pitoliuo cm Roma, o carvalho de Oonru· perio de Geisma,. o 11h1nas scjanl cri3çôes abstratas do horne1n p:rlmiliVo ('· 1ou ape·
c.ar,•a1ho sagrado de .Ron1owe .1\a P1\1ssia, o ear"·alho de 'Pe.run luu1 ,das se1,1s sactrdotes'.>) e qu este nâo te\'e ôu não pode ter re•
enu:e os tslavos). Grande nUmero de crenças relacionadas co1u l1t1,-õd retigiosas con1 ele. Aliás, como já "imos, a pobrez.., do culto
a Sàntidadc- do trovão se cncon1ram espalhadas J)OflOda a terra. atgnifica a1lte:s ausência dt um calendário reLi,a.loso; oca!ional-
Acr.cdirava·sc que ns chatt1adas "pedras de mio•'• - as quais, na mcn.u:. espora<Hcan1ente, c 1da um dos seres celestes supran0$ re•
sua maior pane. são apenas sílícios pré·históricos - eram a pró• 1..-ebe as honras da5 pre<:es, dos sacriricios, etc. Por vezes tra1a-se.
pria Pontà da Oocha do rclilmpago, e como tais veneradas e pie- RI! de um culto no 3Ulêntico 5'ntido da psbv1'a: disso são teste-
S4 TRATAbó DE lltS'fó)(/1 1DAS RWV!ÓES
O CI';.U: DEUSES UR,tl\'/At,.f()S ss
munho, por exemplo, grandes festas rituais da Ank!ôca do Norie
i:. sociais, nunta pala.\•fa, da situaç-do do homeln no cosmos. A
cm honra dest seres suprcn1os (Tirawa, Chebbcniat.han, ·A"'º-
na\viJona}. Na África, os exemplos são a@é n1ui10 numerosos: .as IQiciação ê também um ato de e oão_ apenas um
titual de ,egeneracão. o conhec1menco, .conhecimento
a. preensao glóbal do
danças noturnas cu1 bonr.i de Caan. entre os bosqu(manos. ou o
culto-1egular de Ü\\'Olu,\'U {sacerdotes, tug;ar do culto, s.1crifkios) inundo O decifrau.eiuo da uni.dadc cósm1c.a. a revel.1çã<>;d s eau-
entre os a.kµosos; os sacrifícios humanos periôdicos dos ibibios ias lihl;n s que mantêm a e.xistê-L\cia- 10.rnam-se poss.1\·.e-1.s $l'3•
tm hOJU'à de Abassi Abumo, o Ttovejltd.01, e ainda os sa.Jltuários cns il contemplação do Céu, á ltkrofania cele1te e às d!Ymdades
que Abas si possui no pátio de cada casa en1reos habit.lnte.s dc--Ca• 1.1ra11ianas supremas. .
ta bar, vizinhos do.'> ibíbios; as preces e os sac-riflcio! f f l l honra de No entanto cairiamosffll g,raode erro se V1ssemos ntssesatos
0 reflexões :.in1pies p"feoc.upações racionais (00 10 faz., por exem-
Leia, ece. Os koudes adoram <>seu deus supremo (',,•Jb:unba, -c.-om
-Oaoças, ca,,çõts e. preces: ''Mbamba, faz com que os nossos li• plo, ,v. Schmidt). Poís, pelo contrário. consututm atos de_'?"
lhos cresçam! 'Equeo nosso·gado se rnuJtipliquef Que o nosso ,ni- '"(m integral que. evidentemente, conhece 1ambêm a obsess ô
ilho e as nossas.bala.tas se deseovolvam! Afasta as e.picf.en1ias!''il d'- çausatidadc mas antes de n1ais, conhc-oe o ptoblenta da cx1s-
Os wachagg.1.S dirige1n as suas pr«es e sacrificios a Ruwa: "Oh. 1!ncia. isto é, ele i; encontra dite1an_>ente inserido. 't'od ess.as
FuDd:idor, oh, Homem do Céu, aceita es,a cabeça de g;ad-o. f"<:\'clações de naturt2.1 mctafisic.a (ongem da raça hui.nana, his-
Roaamos.te que desvies e afastes de nôs a doença que se .aproxi tória 'S.'f8f ª da divindade- e dos antepassad s. meta1no1 fo-ses.
ma da Terra. n A.,; pessoas-piedosas dirigem preoes a Ru,\•a, de ma- -writido dos sintbolo.s, nomes se<:rtcos, etc.}, fenas no uadro d.as
nhã à Doite, sem as .aéompanbarem de: sao:rifíclos 6' . Sacri.ficam- c::criinônias de iniclaçâo. 110 têm cxclusivamentc.en1.v1st:a .l sau -
se bodes a ?vluh1gu, eos akiku.>·us oícreoen1 numc1'<>SOs s.acrificios (nção da sede de conhecer do neófito, .IJ.lns cm pr•mearo lugar
a Engai. as prim!eias das colheitas e dos caroeil'osok. propõem-se. o fortalecin1ento da sua tx.iSlê- cla. IOtal, ª. omo-
A anáJisc·das diversas camadas da 'religíão aus1ralk1na mos- e;tlo d:i conlinuidâde da vida. e da abundànc1a, a g.araooa de um
era bem que a crença na di\rindade c.e-Jeste ocups o ceotro da reli- de$tlno ,neJhor após a morte, ele. . ,, .
giosidade mai.s·a1 jca. Outrora, Mungangaua vivia entre os ho- Ponanto, etn resu,no: ê especial cute Stgn.1. 1?3U"' ª a prcse;n-
mens, na Terra; 1nais depois retirou-se para o Céu, e ficou longe \1ª, no 9tu1dro da\ «rin1ônias de lnlc1 0, de d1v1 dades u!'a · -
deles. Na Austrália é r,ossh•el identificar por tO<la. a parte o mito 1nns nas -0amadas mais rcaicas da reltg ilo a l! 1aoa. Essa 1n1-
do af.tslamentQ prog.re1sivo dos seres divinos. D t quakluer mo- <:l çllo, repitamos, asseguL·a a rege.ncraçao o 1n1C1ado ao revetar-
do seria diJfcil derivar a crença nestes seres celestes de uma ou1ra. lhe os sesredos da natureza metaffs.Jca; satJsfa;:. ao mesm<:' te-ml!o
crença anterior. Tem-se dito, por e,,empfo, qoe deriva do cullô 11vida, a forÇa e.o oo in1ent . De f! t .a o laço es1reno ex.is,.
dos mortot. Olas lJ'O sudeste da Austrália tísto i: nun1a das mais 1cnle eu1rt- a 1e<,>fania ("isto no ntual an1c1a 1co se revelar a .verd?-
dcb:a llátureia e o verdadeiro nome da .dlv1nd.ad!)• a en?l 1a
1
só Deus etémo e sobre a Ttna haverá somente um Senhor vcrna tudo, ntas faz somente o bem (is10 ê, não cMtlg;i). Os tuu+
(',enghis-Khan, FUho de Deus!" 6 o selo de Oerighi Kõan tra; guses da religião de Turucha11sk reditam que o deus do Céu
a seguin1e u)S(riç-ão: "Um Deus no Céu e o Khan na Terrn. O lhes envia tanto a boa sorte como o aza.r, embora dccla«'m na.o
selo o Senhor da T«n'l." Esta conce1,ção do mona!'(.) univer- co,uprecnder quaJ o <:ri1écio que o tc"a a proceder assim9-I .
sal, hlho ou representante do soberano cel('Ste na Trrra, rocQntra• Ma$ de maneira geral podemos dizer que o deus celes1e·su-
1.ru tntrc os _çhine.ses (mim como cn1 ctnas _popuJações prm10 <las pop1,1-lac;ões llraJo-altaicas oonser.'a n1elhor do que. os
pohnestas). Nos antigos textos chineses o deus do Céu tinha dois outros os stus carac,eres primordiais. N:ão conhece a hiero mia
no1:11es: T'ien {"CC'u'' e "deus do céu'1) e Chang-Ti ("Senbor AJ. e não se 1ransfonna ein deus da tempestade e do u·ov1lo. (Os uralo•
te.ta'': ·· soberano das Alturas"). O Céu é o re.aulador da ordem altaicos representam o lrO\O sob a forru.t de. uma ave. co1uo nas
rosm1ca, . soberano supremo que habiua o topo, das no,•e regiões 1níiologias da ;\mêrica do Norte, mas nào lhe ofuecem
oeJesces. ··Providência dltlástíca, o Céu é uma potência chl.rivl- saerifícios9S.) Venetalll•LlO, diriget:»·lbe preoes p m obter os
llt:ntee ju:u-iccit'a. É a divindade que preside às juras. Ju.ra-se pe- aJin1cntosl}b e ioza de um cul10 propria1uente dito, se 6e1n que
la luz d<>dia e J?Cla da aurora; 1otna-sep0r Lestemunha a abóba não r escntado por ima.ge.ns". e sacrificam-lhe sobretudo
da azulada, o céu azul, o cé-.u que britha e briUl no aho1••tJ c renas brancas'M . !lif.)$ não se pode dizer que a \•ida religiosa es-
O Imperador é ''Filho do Céu". T'ien tseu, e representante teja integralmente dominada pela crença na divindade <ielesle; hã
do. deus,.celest na, Terra . .Ao mongol .dzajagan correspoodia o umá série comptela de ritos. de ãen.ça.s e de superstições que a
ch1nês t 1cn·m1ng, ·a ordem do <:eu". O Soberano nao só garan· iQO'?ram completamente.
tia a boa ora,atlização da sociedade mas lamb&n a fertilidade da
terra. a uoessão no-:mal dos ritmos cósmico . Quando se produz
uma c-atastrofe s!smJCa ou qualquer ouir.a calamidade o sabera· 19. tesopo1à 1nia - O 1e1·1no 1>umiério designativo da iv:in·
o.o chi ês oonfcssa _?Sseus p dos erttr a-sc a práticas de ·pu. dade-. dingill', tinha por significação pJimiti\·a uma.e1>ifania ce•
r1ficaçao. No Chi J<.l11g, é c.ste o lamcn10 do rei dura1ue úllla seca leste: "ciaro. brilhante" ((lingir era tradu.zidQ cm aeo:dla.oo por
1errivel: "De que crime nos acusam agora. para que o ceu haja ellu, "claro, brilhan1 "). O ideoa,rruna que exprimia a palavra
desenc.adcado a morte e os lOrmc-ntos? Co1no foi possível cair "dívindade" (pronuocíado dingir) era o mesmo que exprimia á
p..,Javra desig.nati"a di: ''cêu'' (neste· último caso pronun ada 0110,
M . .
so.bre mirn (apenas) toda esta dev s.tacão e ru(na do pais?!·• Pois
o imperador é o 11 hom.em linioo 11, o reprekntante da ordem cós- 011u). Originalmtntt, I! signo gr:tficl.) era um hieróglifo que re,,
mica e o guardião das leis. presentava u1ua estrela. Dentro da pronúncia de on (ó), an (u),
O co1 un,o Céu-criador-soberano universaJ, garantia da or· o hieróglifo sig.ttifica a trans!X'ndência espacial 1>ropriamtn1e di
dem cósm1<:a e da contlnu1dade da vida sobre a Terra. con1pleta• ,a: ;,elevado, ser c.le\,ado".
se peta nota especifica das di••indadC$ oeiestes: a JX1$Sividade. Nos O sigl'IO an sCr.,.e iguahuente para exprimir " o céu t.buvoso ° '
sp.odes orga11ismos políticos (China. impérios mongôl$) a eficiên• e, J)Or extensão.• a <:buva. A intuiç.'io da divindade. como tal (dln•
c1 do deus ce.lçsie é .refotç.ada pelo mito da soberani.l e pela pró- çir) fundava-se as.sim nas hierofanias celestes (''cte,.,ado". "ela·
--pr,a presença do impêrio. J,.fas qua.t1do a ''história•· niio inter+ ro", "brllha nte" , "céu". "t.huva"). E$tas hierofan.iaJ; separaram-
vén1. a divindade suprema dos ti.ralo-altâicos tende a transformar, se mu.i10 oedo da lntuição da dlvlndade <.1JffiO tal (dingir) e
se.• na consciêrlçia dos seus. adorado , em l)il$$ivi.dade e. afasta- concentrarat:11-se ao redor de \tma dh·indade 1xrsonificada. (Anu),
men10. Para certas popuJa91)CS siberia e centro..asiátitãs o<leus que exprime o "céu" pelo seu próprio nome e cujo aparec.iinen-
do Céu está tão afastado que uão se interessa pelas ações dos bu· 10 na história se pode fixar antes do quarto milênio. Anu, dc-ori·
manos. Assim, Buaa ("Céu'', 1'Mundo° ' ), doi; iurttuses, s.lbe tudo gci,n sumérla. tornou.se o chefe do panteão babilônico. las. tal
mas não se ilulscui nos assuntos dos bo1neas, t tltm sequer casti· como os outros delises celestes, com o te.mpo deixou de desetn·
aa os ma s. Urün ajyorojon ou Aibrl (A;il ·'Pai") dos ya, penha r um papel de destaque. Pelo 1nenos na época histórica, Anu
kutes habita o sétl.nio céu. num trono <t",lemármore brauoo, go. t um delis um l)OUOO abstrato. ô se1.1 tulto nãó e:U.á muito
62 TRAT.-IDO DE /.11$'lÓft/A DA.S RELIO(Ól!S
( ) C.'ÊU: oe..usss UPANIANOS 63
da pelas ulleriores iofluà')das Clônkâs e lunares sofridas por -$upremos do u, guc vivem nas regiõe!> periorcs, longe do ho-
Varuna•lil, põe em c:,•iô:ncia a essência i:n$gjca de, s.obel1?nia des• ,nein e, de cel'lo modo, indiferentes às suas nocess.idndcs cotidia·
te deus. Dulnéz.il, cornplei.1ndo a EnLcrpl'etaÇ'-30 de Oõnten 139 nas. Enoon,ramos também em v..-.rumi. esta passividade das fis.u•
acerca dos valore5 mág;kos dos ···1aços'' e das •·red ". põe Qll rus supremas celestes._pri1ni1ivas: é.a s.ua tlatureza conteutplartva,
destaque., e mui10 ju$tam nte, a sua (uq,;ào real. "\' rnna é., por :1 sua faculdade de faze,r agir, niio por meios físicos, con'lo lndro.
excelêucia, osenho1 da 1r1éi)·â. do prestígio mágic:o. Os laços de 1nas por forças tn.ãgi<as. espirituais. Encoutran1os a mesma si-
Var una são tão 1:ruígicos como mâgic.a Ca própria $Oberaui:i.; são n1e1ri11 cntN os 1rib11tos das divindade$ cclC!itCS d()S prin1ilívos
o símbolo d:LS fo.rças místicas Q\1e·o (btfe de1ém e se chamam: e do Soberano universal: canto 111n conto 0111ro sar.intem a or·
a justjç3, a adrnirtistração. a segurança rcaJ e pilbliccU, todos ( ) $ dc,n e. a fe...-undidade da naturew pelo shuples respeito das leis;
'poderes'. Na india e em outros locais o « u o e os vínculos. dandü n thuva assegurá a fertilidade., mas as infrações às leis, 1oo.s peea-
e pl}ç{Jt,, µanllbrun o prlvlJé'gio de te-prese-.ntar tudo isto.""º As· dos" põem Cm perigo o íuocionamento norn1al dos ritrnos, amea·
sim, Varuna preside à cerimônia indinna da consagraçlo reaJ; ç:indo assim a próp-ria vida da sociedade e da Naturaa. Iremos
aliás, rãjas1Jya nuti$ nffo fai do que 11.e vroduzir a oonsasra o ar- ver Q\lC o sobel'ano é n gar::tJltjn da orde,n e dn fec 1ndidade ter-
qt,etJpic:a que o pl'i.ineiro soberano, \ 1aru na.. re.alizou em se.u pró- N:stre, uão só no 1nito co1no tao1b 1n na realidade cuhural. las
prió pro ·eitol<I!. l1npo11a <lcsde já. eh amar a atenção, pata o fato de que est.a noçfto
Por i..c:so seria. e11·0 o!o só co1)siderar Val'una exdusi\'amente. de soben,nia utúversal, exctu ivamente e.,ercida por meios espi-
wn deus do óéu. oomo também explicar a sua personalidade, o rituais, mágicos, se pôde precis.sr e descn\·olvc.r, em grande par·
seu mito e oi; seus ritos unicamente por clenlentos tirania.nos. Va- te, graças à intuiçô<> da transcendência do C u. Tal intuição, ao
ru11a e outros deuses. considerados celestes são figuras <:on1ple- erzninar e1n planos m61tiplos, 1orno1.1 posSÍ\'el a elaboração da
as; não podemos reduzi-tos a epifanlas. .. naturi$t:ts" nem lin1it:i• 1uupJa cot1Strução da "soberania t'llá.gica' '. Mas.. por sua vez.. a
los a fu.nQÕcs soçiais. Os 1>restis.ios dti soberaJJia .au1nen1ara1n e 1coria da ''soberania mágica·• infl-ueneiou de ,naneira decisi\'a a
multipfic.acan1 os prestígios ce.lcstes; \ aruna v2 e sobe tudo por- (jgura origjnària do deus ce-teste. Assim, não se pode considerar
que dil sua morada sideral domina o Unh•erso; mas. do mes.ll..\O \ or1,1;na símplesmcnte co1no um deus do Céu, pelo mcnoi; sob a
1
modo, p<>detudo, pois é cosmocra1a. e PlLI>e os que infringe,u as .!ilUl. fonua "histórica" (isto é, 1al co.010 éxtPresentndo oos doeu·
leis, ••enredando-os" (pela dot.nça,pela iucnpac::idade), e porque ,nciuos védi-oos e pós.védicos), co.ll)O 1ambéin rtâo pode ser de.
é o guardião da ordem universal. E claro que em todas as Sll;.'IS iiguado por deus 1unttr ou Oc::tânieo. Pois d e é, ou tende a ser.
atribuiçõc.s e Jlas suas funções persiste un1;i nota oo,nwn: o cará- tc>tlus estas divindades simultaneamenle, e ê ao mesmo tempo o
1er sereno, sa.srado, passivo, digam O$, da .sua •'força''. Niio der 4 dc:u.s .ooberano J'l()r bccclência.
roga um .só dos sct.is direitos, nada tem a conquistar nem precisa
lutar 1,ara adquirir qualqu,er coisa (como J.udra, por exemplo):
1 1
68 TR.'1 TA{)() DE lf/STÓR/.4 DA.S REUOJÓES t rau: DEUSES URAJV/AJI,'()$ 69
22. beu t.tksles iranhtnos -Tam.bê m os lranianos co,lhe- 1111nndo revetou a Zaraibust1·a o n1otivo por que CJ'iou Mirl,ra,
cem um deussupre1no celeste; ·()<)is, segundo Heródoto (1, 131), /\hura t,.,tazda disse que todo ó violador de UJn JXl,Cto (ntithra=
subiam ''até a 1na1s altas monuu1bas para ofer«erem sacrificl0$ con1iato) c.hama a desgraça sobr.c todo o país160. Ponan10, d e
a Ztus_, cujo .o.orne tonlru» extensivo ti toda a amplidão circular l ,i g;tra,11-ia 'd.às boM 1·tlaçôes co,uratuais entre os homens, que
do <.1,1". Nr,o sabemos qual era o nome d es te deus ce.lcste prJ. llll!iCguram o oquilibrio das. forças cóStn.icas e a prosperidade ge-
m9rdial nas Hos:uas ira.nia11as. A divi.odade quc,enc.ontrau1os no il
ral, essa 1aml>ém a r v J o pçla qual Mi1hra ó oniscleme. pela
Av e que Zarathustra tentou 1r fi g u ra r , coiocando•a ao cen, ,1,101 po11sui dez n11l olhos e ,uil. orclhas 161 e, 1al como Ahura
tro da sua reforma rdisiosa, eh.ama-se Ahura ivrazda, ''Senhor Ml\i(,da, t infalivcl, poderoso. insoue, vigílante16:!; e tan1béan é
s . b e do r i ,1" , "oniscien,e". Um dos st\is epi1ecos é )'uru cushô,li, chtuna(l.o "o-que não pode ser Jndfbriado'' (ndoo>·an111ú) e ''oniY
·•o grande vide.nte"l-4-4. o que n-0:$ mostra uma cstru1ur;:i ur-J.nia,. i:lcnle'' {vispÔ,·t•idvQ),
na. (\1as a refonna de Zaralhu.st.ra ·puriítt.ou Aburn tvJa?.d:a dos No corsnto, iodo$ e$les arril,-utos e funções não i1uplicarn SO·
sellS elementos naturisitts e é sobrec.udo nos textos tardios - rc- u1c.u1e wna. epifania uraniana, o,as trunbêm outros _prestígios, por
Oetindo urn rctor:no ao anrigo politei.srno itl'Utiano - que- se en- icc,nplo o da sobcrania t!SJ . Ahur-a ft.1azda vê e sabe tudo, nio só
cootcam os indícios mais concf"etos do vclho deus celeste. po('Q,te é o deus do céu, mas também porque, na sua qualidade--
Desde o inicio dos estudos cornparati"OS .se \!iu em Abur11 ele solx!rano. é o guatdilo das lels e o punidor dos culpados; de·
·Jaula uma figura corre.spondente a \ ' a r u 11a. Ainda que esta bo- vfdo a essa soberania, tem de d,e garantlr a boa Qrga1t.izaçtio e
01ologia 1mha sido cootestada por alguns esn1diosos1.:i.s, não ve- o ptospel'id de da natureza e da socioelade, siooullru1ea1nentc, pois
1nos razões sérias para a abandonar. As cara1..1eristicas comuns ,uno só infràção {)Oderia oomprontetc.r o equilíbrio existente eo1
rc,•eladas hà cinqüenta anos por Oldenberg1 6 u1ostram..se b 1odo-..i: os filveis côsn1icos. O estado dos textos rcljgiosos irania.
C.1.tlte convincentes; tal como Vuu,r.1.. Ahurn Mazda o ... deus 110s - em pr:Ul'leiro lugar. devido à reforma de Zarathu.stra -
sob.:rano"147• Uma fórmula a ·.:-sta rucaica bcLu freqüente é é demasiado insuficiente- para nos pen:nilir a roconstituição da íi
{l,1j/hra-Ahura 1 a. onde tvlithrn cs1á associada a um Ahura que iura oria,inári:1 de Ahul'a Mazela como deus celeste. Temo, ati:
não e ainda. o Ahura ,fazda dos tempos históri c o s ntas t'az lcllJ· o direitó de. pergunlar se Ahura Mazda cbe3ou alguma ,•ez n ser
brar sobretudo o Asura ()Or exoc,Jência dos textos védicos; Varu- ,un deus leste., pura e simplesm,ente. se. visto ser um deus SU·
,ia; o avê-$fic<> ft.1itltrn•Ahura corr ponde n.sslm ao binô,nio vi:- pren10. nâo seria 1runbé1n Já, competitivantente, o dC'us do
dico Miua-varu,,a. Não nos é pos:tivel ir tão tona.e como (oi des-tino lC.1, o arquétipo, no mesmo 1e1npo, do soberano e do
Hertel 14 , como Nyb:rg 1s..>e \ \lideogreóf$1, e ver ern t,ti,hra o céu ,ncctdote"'•S. o deus bissexuado 1M , isto ê, se nào se teria revela·
noturno e em Ahur3 tvJazda o céu djumo. Porém, não há dúvida do, desde o coroeço da sua "história ". como uma teofania coai.
ncllhtuna de que,,.por a estruturo cde.sL.: transpara:c na epifa n ia Ab\l· ptcµ, emque os C'l«nentos uranianos oettamente dcse1npeoha-
ra fazda: ten, veMuário a sólida abóbada do cttl"•,2, raz riom u1n pape] int1>0rtan1e, mas eo1 caso nenhun1 exclush·o.
<:om que a chuva caia por todos os lados a fim de ati.rnenr-ar o 'l'ambém não p0d-emos deixar de destacar a concepção Pl'b
hotuem "piedoso e. os anl.mais liteis•,1$1_. ch:unam.Jhe "aquele zarathustriana de um Ahura Maida deus otiosus167, que não é
que. muito \•é. o que melhor de lodos \'é, o que-. vê ao Jongc, o üfretamertte criador, n1as, 11travé do spenta 1t1uinyu 1Col , is.to é,
que lllelhor de todos vê ao 1-ong:e, o que espia, o que sabe, o que por Ullerm6dio de um ''bom espírito". réplica do demiurgo que
melhor conhece t.•1.s,, "o que não -engana"'"'· " o que sabe ... ; é ucomp:inha o :;er c-c:lestc supremo nas religiões 1>rimilivas. O fe-
Jnfalívet, dotado de tuna in1cli.a,ência infal!vet oniscien1c"1s,. nôn1eno é demasiado ieral para que não corresponda a. uma ten-
"Não é possível e.1gauar Altura, que observa 1udo.••U 7 Coolo os dência fundamental da vida rC'1i8,io.'i3, acerca da quaJ voltaremos
outros deuses do céu, Ahura Maz.da nunca teiu sono e neohum 11.íal.ar. No caso de- Ahura Mnula., esle fenômeno foi contraria-
narcótico oon.seguc prostrá·lo•ss. g por i$SO que nenhu,n secreto do pela (eforma de Z rathu&tra, do mC'smo modo que muitos re-
escapa "ao seu olhar brilhan1e"159• Ahura Mazda é o fiador da formadores religiosos (}.ifois&, os profetas. Maomé) tinham rt·
in,•iolabilidttde dos rontratos e do r pcito vela pala"'ª dada; v{vificado os antigos deuses supr n\os celestes, cnJl)tde.rnidos na
() C!lU: DEUSES U.RANJANOS 7J
7RAT.AOO D& HfrróAIA J>AS RELfGléJF.S
ção de Uranos põe lint às suas criações munstruosa! e. oor iss
sua moda!xl;l.de d-: <ki ótif.m e substJtu.klos, tlil aperi ncia teli- ,nes:mo, à sua sobetania. Conforme: ,nostrou J?u1néz.iJ11l este nu-
gio63 das nlW.As, por figu'ra.$diviri.as.niais e,">ncretast 11W dinà- 10 tem correspondência no n\ito da jJnp01 .nc1a de Varuna e no
toicai (os deuses da fe,,."\lodidade, as gca11de5, deusas. e1c.}. Po,. ritual da investidura do soberano 11a india. Em ouu·o con1exto
rém, a refomta tt.ligio!a ímp6ca unia ex(J('.n:n::iad<>.s s,ado mui- voltaremos aó complexo do.$ "perigos da soberania". mas. o que
co diferente daquela de Que oos ocupam\lS nes1e 1exlo, e o seu convCm ubservar desde já é o sentido C$5Cncial dQ dQi$ niitQ-S e
e.stuoo !crá retomado num futuro trabalho. com mais prO\-ejco. <Jo ritual QUe lbes OOITC'Sponde (a rcgutarizaçâo e a segurança da
fct..-undidádc). É-.tamlxm no1áve) a .si.meLria entre estas duas SO•
l.l. 1Jo10(1s-Na úricia, ·uran,os cot1sen-ou mais oi1idamentc beranias: a de \'aru1 1a e.a de Urano.,;; apesar de toda a evotuç,ão
de Urort S nó senti-do na1uri$1a, ele "foi o primeiro sobcrano do
06 sti.u. Cà(acterc-s naturistas: ele é o Cêu. Hcsiodo apresenta-no- unh•erso '-' *7": a sua fiUla prlinogênita chamava·sc B{t.s.iléia17S, Tal
101<-t aproxirnando,s,: e o:::tpancündo-se etn lodo os sentidos, como V'31'llila é p01 excelência a di•\'indade que ''enreda", tam-
quan.do, "c0tnpleiamcnte ãvido de amor" c trazcodo consigo a biém IJrdllos "enreda" seus fillios. t$Côudendo-os a todos, S\l·
noite \'Cm en110lver a Terra. &ta hierogamia OOsmkà rt:\ CUI. a 1
ccssi,·amcotc, no corpo de Gaia. Varuna "apo(lerou.se do aleo-
voc:aÇão ccle&e. (\1as, .i.lém do n1ito- nada 1nais nos rt:)1 u de Ura- 10" do seu filho Bhrigu c mando1,1,o a.o mundo iubterrãneo. para
·oos, ne1n sequer uma ima,g:e1n. O se::u tultoe,•entUal foJ US.llrpado c31udar 11". Quanto aos Ciclol)(ls. Urt1nc,s cncadei,•os e prec1pita-
por outros deu.$CS, enl primeiro lugar por Zeus. Com Uranos 01 no "Tát·taro" 11'. O seu rucc:/sor nn soberan a uni,,.ersat Cro-
coofirma•se 1ambém esse destino elas dlviadades ce!esres .supre. nos. encadeia os seu..,; adversál'ios, e os órficus investem 1ambén1
roas, que t o de serem gradualmeni-c- repc!Klas van1 foi:il da a u - Zeus da !llcslna 1nag:la.
üdade religiosa, de ,·upôrtarem inlinlffas U$urpações, .subsUIW- O QlJe dislingue Uranos dos OUíl'OS deuses Ciele.stcs e a .sua
ções e fusões, e de acabarem vor s e ( esquecidas. Uraoos. com- fecundidade mon$truosa e o 6<Uo que- mantinha pelos seus pró-
pleu1mente esquecido na rtligif10. oobrevive. no mito transmitido 1)rl9s filhos. Todos os deuses celestes são criadores: fazen1 o mu -
por Hc$1'odo, ;ui10 que, quaisquer que sejam os rituais nele l.m- Jo os deuses, os serc:<i vjvos. A "fecundidade" ê umn especialJ.
plka.dos, corresponde oo entanto ao dc$ejo de conheeer :a ori cm ia;.no da sua vocação essencial de C'.J:.iadorcs. " O Céo sa.iitô vt·c--
das coisss. Coo.1 efeito, à principio havia, se orto o Cêu un1ca• 110 ffllbria.guês de penrtrar o corpo da Terra", relembra"ª Es•
mellte, pelo menos tambêm o par dh•ino Cêu-Terra1'0. foj des.
(1uilo numa das suas tragédias )'.ltl'tUdâs, as Oanaidesl?$, l>or is-
1.1. hier<>"mia in go1-ável que na.sceran1 os 1.>ri1ndl'OS de fo os deuses celestes dM religiões indomeditcrrâojcas se identiíi-
(Okcanos, Hypetio11, Thcia, Thc1ni . Pl1oebé.. Kronos), os CtcJo. c1un, desta ou daquela maneira, oom o touró. O Rig Veda chama
pes é outros seres monstruosos. Utanos era o macho fecundador ''louro'' a Dyaus 170 , e vetemos que a maioria dos deu.stS ,'('fes-
por excelência, as.sim como o eram tQdos os deuses do Ceu, a.s- h:S egeu orientais goza,·a do mesmo pr í.gio. Mas, no caso de
$"lln 4:0UlO o era. pôr cxemplQ, Oy us (chamado suretoh, ••o da tlnu1os. m a fecundidade é perigosa. Coníorme notou lllUhojus-
boa semente••n•): da uniâo co1n suo esposa divina, Ptthivi. nas· lC\111cntc P.. tvtazon no seu comentário à T(!()gonl,, de Hesíodo 180 ,
ceran1 os ho1ueus e os deuscs 11?. l 1uudJa.ção dt. Uranos põe fim à sua o iosa e estCril fec mdJda-
tas, ao contrário dos out,os <ltuse;s celestes, a fecunili nde dc introduzindo no mundo, pelo :apam:1n1c-nto de Afrod i te (n:as-
d lJranos e perigosa.. As maturai. por ele ena,endradas nao se <:tda da cs1>uma ensangüentada do membro getador uraniano),
assçmdha1n às formns que hoje 1:>01Jo:un a (erra, pois sã<> n1ons- ,1 orden1, a fi:x.iclez das C'Spócics e ornando assim impossivel 1oda
tros (de e n bruços de cinqüenta ol:hos, de imensa estat\ua. etc.). " procriação dCSQrden da e noc.,,.aM .
Coino Urano.s os ""'odiava Jcsde o primeil'O dia" (Hcsíodo), , .
,-\inda não foi cornpletamentc explicada esta s1ngulandade
escondia,os-110 <:orp0 da Terrs (Gaia), Que sofria e-gemia. Euco- çl:e U1·an_os-, pelo menos tal como é aptesentada a nós pelo mito
l'ajado 1,or úaia, o mais no,,.o dos seus filhos, Crol1os, espera qu_e Jc.1-l íodo. Porque tele o \\nico, mcre tantos O\lllOS dt:\lses ce-
o pai se aproxime da Terr."1 1 co1no COlituml\,,.§ fue:r semp ao rur 1 tct, a .J)rOCrir iildeíí.nldamcutc: se,res LllOllSlfl.lOSOS, que- ''odeia",
da noite, corta-lhe o órgão gerador e a1ira-0 ao mar. A lUUtLla-
72 n A T A D ó l>E HJ$TÓRl;1 DAS RELJGIÔBS O C$U; DSUSES UR..'f."l!A/1/0S
e daod()·lt ainda ao cuidado de o.s '"encadear" no Tár1aro ou Jâ há muito seObset\'OU (l\le Zeus, embora-divindade do pan-
no ventre da Tema? Havc,á ai qualquer reminiscência. valoriza• tt-ão gr,eso, ten1 rclativamente n1enos tes1ivjdacks e um culto ,nais
da no sentido oeaacivo. de ''esse tcm.po ntftioo", cssc illud tt,11· r.eduzido que os ou1ros deuSC$, e sugeriram-se diferentes .c-xplica-
pus em q_ue a (',riaçao n o fixara ainda as suas próprias normas, Çôes dest:t anomalia184. De fat-0, co1.no toda divindade celeste,
onde-o qu.e quer que rosse podja nascer do que quer que f .• nenl sempre está presente na vida re11 osa: no entanto domina
onde o lobo se deitava juJllO do cordeiro e o leopardo junto do dois setore.; imp<>rHU\les: a as.ricuhura e a expiaçâo. Tudo o que
câbrlto1 Unta das caractcrist1cas des.te tcn1po aurôrãl t 1).1.l'àdi- us ura uma boa colheita (a me1eoro 9ia, a chuva) e tudo quanto
sí:K"O era. de fato. :a absoluta libttdade, "'erificada cm todos os purifica os pecados cai sob ajurisdíç.ào oeles1e. A "purificação''
níveis do rctil e, pOl'l.lnto, também ao nível das esl)CCies. _Nume- e a "jniciação·• pelo raio ou atso que. o represente (o rornbo, a
rosa.s 1rndjções aos falam do corá.ter fluído, monstruoso ? d-os se- pedra de ralo) sào ritos arcaicos(§ 12) que não somente. provam
res que @tio /oram Criados. no oomcço do mundo. A Jingi.dari- a antiguidade das d.ivind dcs celestes mel.$ tambén\ ti dos seus as-
dade 1ero.aeoésica de Uran().$ seria um oomcn1ário 1'acio1ialista des· pectos dramâticos, tempestuosos. Fascinados pcla etimoloaia de
tinado 3 valorizar o regime- introdu.zido por Afrodite e roais tar Diéus, muitos eniditos esquecem facilme1ne a 011idade- de cstru-
de rcgulari?Mlo por Zeus. regime carac,erizado pela fixidez. das 1,Ura d , inLuiç.ão arcaica das divindades uranianas. Nat.uralm(n·
-espécies, pela Ordtát, pelo equilíbrio e pela hierarquia, tal como Le. ZtúS é soberano; mas, ma.is ni1jdamente do que os outros deu.
o a.presentou o cspírih) areto'? Ou será nmssárjo ver antes na ses cclC$tt:$. co11Servo1,,1 o seu caráter de ''pai'', Ele é Zeus paler
luta dos. Utâ.nidas o processo de substituição dos deoses heleni- (cf. DY11ns pilar, Júpiter), arql1é1ipo do chefe- da fa1nilia patri:tr·
cos às divindades do substr.'.llO pt·é>-belênioo? cal. À S concepções sociológicas das etok1s ;:1rianas retletem--se oo
seu perfil de pater/0111/llas. Esta função explica Zeus .Ktêsios, o
14. Zeus - Qualquer q\le seja a explicaç..'to d criações "Hau.,.'-Va,er" que os helenos 1.taosporcaram cm todas a ! suas mi•
aberrantes, o certo é tcr-Uranos desa.parecido do cuflo ainda an- -gra5õe.s é-Que representavam como u.1n vetdadeiro gênio doméS-
lC$ dos tempos his1óricos. Ose.u Juaar íoi ocupado p0r Zeus. cujo liCO, sob fonna de serpente, Sendo " p a i" e ''soberano". Zeus
nom exprime cla.ratnentc a ncia celeste. Como Dyaus, Zeus torná-Se natlu'ahucnte a djvindade da cidade, Zeus Polienos, e
conserva os \lalores onou):is1ico$" de "brilho'' e "'dia";s1 e. eti- era dele que 0 $ reis recebirun a sua s.utoridadt. Mas esta polintorfia
moloS)camtntc, esse ter1uo está 1iio l'elaL'io11ado com dios Cônio pode ser scn1pre reduzida à ,n.esma estrutura: a supremacia per•
com o !;1.titu dits. 1tas. evidenlet1wn1e-, [!iio deventos liJnitar o seu t5nc,; ao Pai. isto é, ao Criador, a.o artífice de iodas as coisas,
domjnio àquilo a que se chamou abusivamente ' ' o céu sereno, Este elemento · '<:rindor H existe evjdcn1emente em Zeus, não no
luminoso, brilhan1e". considerando as suas funções roeteoroló-- plaoo oosn1ogônico (pois não foi d e que fez. o uni.,.erso), mas hO
glc como de.sro\'Oh1inlentos ulteriores ou h,fluências cstraniel- plano biocósmioo: ele dirige as fontes da ftrtilidade, ek:ê o dono
ras. A arlna de Zeus era o raio, e os lugares batidos pelos relànl* da chuva. E, \•isto to "fecundador", Ctambêm •1ctiador" (por
pagOS i Enelysja, eram-lhe cons:.grados. Os tílulos de Zeus são vez é igualtuente um touro. cf. o milO de Europa). Ora, esta
transparenlemente $ignific,ttivos. e demonstram mais ou n1enos ''criação" de Zeus dep(nde en1 primeiro lugat de lodo o drama
dirccamente as suas relações. com a t-empettadc, a chuva, a ferti- 1Uéleorolóaico. brctudo da chuva. A sua supremacia é ao mes-
lldad(. Assim, é chatnado Omcrios .e Hye(tios (chu\·o.so). Urlos mo tempO de ordel\\ paternal e soberana: d e a,-i.rante a boa situa-
(<> que en,·ia os ve.ntos favoráveis), As1rap.ios (o que fulmina), çtl(,'l da famíLia e da Na1urw. por um lado peJ suas Forças cria·
Bronton (o Que tro,•cja). etc. Cha.n,a:m-lhe CeotJOS (o caseiro da do('aS e, por outro, pela sua autorid;)de. de guardião das nonuas.
herda.de) e Chtoruos•c, porque goveroa a chuva e assegura a fcr-
tilidadedos :aml)OS, A1Co seu aspecr-0 ro1intalesoo (ZellS Lycai0$,
com o aspecto <le utu lobo, a quem levavan1 sacrificios bun1a- 15. Ji\plter, ()din, TaranlS. eu:. - T s J como s, o Júpiter
oos)ISJ se explica .únda pe]a nu1.gia agtioola (OS s,.çrifícios faziam• Itálico era ador;:1do nos lugares eleviados. A montanha acurnu1a
·se tril ttrupo de seca,. de flagelos m('(eorológlcos). um $lmbalismo niúltipk> (t Jl); Ç"elevada'', C$tá mais perto do
74 TRATADO DE l'IISTÓRIA DA.S R&IO/OF.S Q (;ÊC/: DEUSES URANIANOS 1S
Céu. é o l_ugar ondt se re tnem aS- nuyens e- onde .se desellcadcia Vit ,,eis, n tUsti.L1ção eorrc Uranos, que ''enreda" os seus adver
a troYOOdi\. O Olin1po foi, se1n dúvida, un1a montanha pti'víle- sã1·1os e eo1111ece o futuro (foi ele quem a,.·isou Cro.nos do perigo
gíada; mas Zeus, t como Júpiter, encontrava-se pL'-escnte em uc o ameaça\'a}, e Zeus. que Jura "heroicamente•' co1n os seus·
qualquer coHr.a. Os sobrenoLues de JUpiler não são menos elo· raio . ou entre o "máaioo" Varuna e o guerreiro Jndra. Tor é
q_Oentcs: L11,;eliúS, Fulgur, f'utgUtator. O carvalho era consagra- p0r xcdênci.a, o campeao 0$ d , o arquétipo dos heróis ger:
do a Jt\piter <a!SSim col'no :i Zeus), _pois era essa a árvore mais fre- mãn1COS; OdlU. se ben1 que 1mphcado 1ambên1 cm inúmeros oon14
<10en1emente_ alingjda pelos raio.s. O carvalho do Capit61ic:. r,et• b,:u s 1vence sem tsfo o $faças à sua ''mag;ia'' (ubiqtíidadc, me-
tiunodose, raculdade de paralisar o ad\·crsário pelo medo
t ncla. a Ja,ipiter Fere11i 1s, qui ferlt. "o que fulmina". também
chamado Júpiter Lapis, representado por u1n sílex. Como 4odos "manietando-o"): Conforme mostrou DlunêziJ 19J, aqui se \'i
os deuses celes1 . Júvi1er punia pelo raio, e é.m pritueiro lugar collservado o aocruco dfp<ico indo-ariano do ''soberano ouigico''
castita"'ª aqueles que fahava,n ã palavra dada, os que violavam e do. ' ' so berano herôi", do p0ssuidor da força espiritual e
um 1ra:ado.Jlipi1ei: Lapis eons.asra va os tra1ados intcrnaeionais: fí$ica•9.1.
um fec1al mata,•a u,n porco com o sílex consagrado. proclaman- Encontramo-nos assim, uo ca.w de Odin (\Vodan) e de Tor
do: "Se. o povo rQmano violar o tratado, qoe JUpiter o f\1Jmine <°?uar). n e.sença de deu uraniaoos completados !)('los ()(e.s-
OOlno eu tul.mioo aeora este pOtO ' O co1n a pedral" Júpiter era a lJS>O$ especialiwOOs destes doJS tipos de soberania. e nocavetmente
di,.·indade su1)rema, o soberano absoluto JUpiteT Omni1,01cns. niodifiçados por influÇncias e J>l'OCessos laterais diferientes. Odin
Jt'ipiter Optirous iaximus. Estes títulos :sobreviviam até nos tex• (\Vodan) é un1 caso l)articularme-ntt. d1Fteil, furtando se a toda
4
tos li1erários: sun1r11e deu,n re:gn.ator'*S: nreus patl!r, deoru111 reg .dcfinjção demaSiado siruplificadc:,ra. Evoluiu em muitos J>lanos,
nator? ar,:il l tcctus Q111nibzJSl86. deunt rtg11otor 11Qc1e dll!.<:O caelu- aproprh.1.n<lo,.se dos auibutos das dlvludadcs agrkotás e das di-
me eotJ.Spedlt iJbstulit11', etc.. Como \'erdadeiro soberano OOsn\i•
vindades da íecu.ndidade, tornan-do-se taLnbém u 1n deus ctõnic.x,.
coque é, Jô1>iter intervénl na história. n."io peta fotÇa fisiea mili- fuoeráfio, o chefe das ahnas dos heróis morto1. Nestes '61timos
u.r. como Matte, rnas·pclo pNstfgio da sua lUagia. Ouroézil 1811 ten1PoS têtu sido destacadas as al'lalogias da religião ,,,oclal'llMa
pôs a c1ar(l esta magia de Jlipít<r. rtleu11.>rando um episódio da oom o xan1anisrno dos nômades do norte e do noroc:ste da
Ás,a• l 9 i. w ·od .an e. o " grande. xaooà'', o que rica sus.peo so na âr•
hjstórin de Ron1a: quando os s binos,já s.senhoreados do C1pi·
lólio, amea,avatn aoiquilar pelo pânico o e.xérci10 romano. Rô- vore do mu11do duran1e no\'e noites' e descobre os caracteres
mulo ilnplora a Jlipiter: " f a z oom.que a(abc o terror <!Oi ron1a- n os, adquiri o assim seu poderes mágicos Otá aqui, sem
nos. detém a sua fuga vecgonhosn!" No 1uesmo instanle, con10 duvida. uma alusaoa um ruo de·udciacão). Até o seu nome reve•
por n1Uagrc, a eorageul volta aos romanos que con1ra-ata<:am e ln SCf ele o senhor de \Vut. o furor relígiosus ( lflcdon, id est Ju-
venccm1U. Júpiter inter"iet·a por ·•,nagia", atuando ·diretamen- rO[; 1dan1 von Brt'men). A embri;;iguês e. ubcrante, a excltaç!o
te nas suas forças espirituais. n1ant1cn, a:educaçâo mágica das-escolas «câldicac; tudo isto tem
Quando fala da re1i8,iâo dos. nõcs, Til.cito 1uenciona•SO a as S\! s a.natogias nas técnicas xn,manista.s; o que, todo caso,
ca'l:?nça da naç.'\o g.ermãnica nwn deus supremo, reg,ut/Of o,11iJ1i1un rtlio sis1nfica que Odin-Wodan seja unta divindade estranha aos
deus, m no C'nÜU)lO no-5 rc\'eli'lr o seu nome 191, Talnbêm segtW• g rmanos (oomo se- tem tentado demo1ts1rar muitas \'eu:s), mas
do Tácito, os genntinos adoravam prlncilmlmente l\,ter úrio e Simplesmente que a S\la "especialização" uhetlor o forçou a
t>.iarte, ou seja, \ \101han (•\Vot/1anaz., o Odin nôrdico) e 1'yr :,.pcopri:!r sc de privilégios mllltiplos e a assc,nelhar sc assiro os
4
(•TI,vaz;, antigo aho..aJemão, Zi,o, em 3nglo-saxâo Tio; de "'f/v.'(JZ., hpOs divlt1os óticos.
correspondente a •OieUS, dei\•os, di1,us. com o tido generioo Qs CC'llas conheciam Tarani..s, que era indubitavelmente um
de "deus"). Tem-se visto em "Tiwaz o regnator 01nniun1 de11$' 1' ! , leus o céu tempestuoso (da ra.iz oêl1ica toran=trovejar; cf. o
o velhfssimo deus iermânico do Céu. Tor (Donar; • n u n r a t ) é, 1rlandes e lQra11u, "trovão"). O balta Perktinas (perkunás• rôo
lllmpago) e o pro10,esla"O Pcrun (cf. o polaco p/orun=rclámpa-
como I11dJa.e Júpiter. wn deus da tempestade cdo oombate. En-
so) são t.ambem deustSc.elestes supremos, que se manifes1a1n so-
ooatromoi lM\ ID n.a mitoloaia gern:tânira. com as variantes inc:·
16 TRATA.DO DE HJSTdRJA DAS REJ./0/ÔES O CSU• DEUSES URANIANOS 77
bretudo na tempestade. Ten1 sido estabclcc.ída apro;"imaçào en- da.;-\ segunda c.l:is:sc - a dos •'foe.unda<lores" - é morfologica-
tre os seus nomes e o da divindade védica Parj.anyas e o germâni- mente mais rica. Mas n()(emos en1 todas :1s t'iguras deste grupO
co Fjõrgyn, mãe de Tor, e recen1e,ne111e o de Phorkys, pai das as.seguintes caracterisdcas oonstMtes: a hieroaamia com a deusa
Plêiades (Krappe. Les Péliiades). Pelo seu nome (pukt4S, qutr Terei: o trovilo, a tc1npestade, a chuva; as rcla-.,ões rituais e rníti
C'us), e pelo seu cu.lto, estas di\'ind:ades uraninoas rc-,•clam c,trt>i- càS com o touro. & o - t o s deuse.i desta segunda classe - ' 1fccun·
tas relações entre o rar\·alho t. éê':l'las a'lts anunciadoras do tero- dadores" mas tambCln "deuscs,da 1empes1ade'' - podemosâ·
PO (nves anunciadoras da tempestade e da primavera")'". l\itas, 1ar Zeus. t-lin e o deus hitita, e ainda Parjan)'ll, lndra, Rudta,
pelo menos sob a soa !orula história.. re,,etrun,nos ums acentua- Adad, Baal, Júpitet. Dollcbeo\.ls., Tor: nu1na -palavra, os chama·
da ··e pa::ializ:ação"; cm prim,c,iro lug.at, são dh•iodades da 1e1u dos (jcu5'C'S da tempcstad -. Ê claro ,' Càdà uma das di\•indades acl•
pes1ade; sove.roam ;1sestações do ano, trazc.m a chu,,a e-. co,no ,na citadas cenl 3 sua "história'" pró1>ria, que a diferencia màÍS
tal, são dí,·indades da rertiUdade. O c.,rvaUlo de .Dodona era con- ou menos nitidamente do seu viil.nho de série; n.iqoik> a que, oom
sagrado s Zeus, mas perto dde ntontravam-se os p,c:Hnbos Ml- uma visão química da mitologia. se chamou a sua •·oomposiçâo",
g:rados. símbolos da. Ot·ande l\•fãe tchirica, o que. indica uma àn· et1tra1n dh·ersos co1uponentes. 1',,1as faremos uma idéia mais ela·
tiga hierogrunia do deusetleste da tempestade co1u a Grande Deu. ra de tudo quando nos ocup.'lfmos 1ambé1n da "fonna .. dos deu·
sa d.a fecundidade, fenômeno Qlte lrffllos cnoontral' em grande ses e não penas ds sua "força". Por agora, nffie parágrafo
escala. interessamo.nos em pritneiro lu,ear pelos seus elementos de uni·
dadc, pelas suas valências comuns. As 1nais. lmporcan1es são: a
fo a g;enés-ica (e. como t.al, a .swt relação com o touro, sendo l"l
26. Jk,uiltS da tt'n11,ts1ade - A '' l)\.'"ciali:zação" das divin· ·rerra freqüentemtrtte repreietltada sob a (onna de vaca). o tro·
dsdcs oclestes em divindades dà tempe$tade e da chuva, tal como vã9 e-a chuva. Ou seja, rm suma, as cpifàni.as da fotça e da vJo.
a acenruaçào das suas potencialidades fecundantes, explica.se ero .encia. n>olas indispensáveis dos,encrg:ias que as. guram a fertili·
grande parte p la estrutura passl..,a das di\llnda uranianas e dade biocósmic.a. As divindades da atm-osfera sâo, indubitavel·
pela sua tendência a dar lugar a outra! hiecofanlas 1:nals. "oon• ruente. as espcciaUiaçôc·s d:1s divindades celestes, mas. por mui-
eretas", mais nilida1nente persooiftcadas, mais diretamente Jrn. to exctssiva que seja es1a "especiali.z.ição", não consegue abolir
plicadas na vida cotidiana dos b.ontenS. E esse un) destino que o seu caráter uraniano. AssiJn, somo.s leva<los a classificar as cba,
derh•:1, em prioocU:o lugar, da transcendência do Céu e da proa n11\das divindades da tempestade:: ao lado das divindades propria·
gressiva "sede de OOl)Cfe10" do hotnetn. O processo de •·e\'Olu· mente dhas; e tnooll1.ramos e,u ambas os mesinos prest(gios e os
çâo" das divindadc.s celeste$ é muito oo,nplexo. Para racilitar a mesmo.s atributos.
nossa expc,sição, distingamos dua linhas de descuvolvimen10: 1?. 'To,nernos. por exeu1.plo. o caso de Parjanya, : i divindade su-
o deus do Céu. senhor do inundo, sobecaoo ab luto (déspota), prema da tcmpcslade. A Slla e.strututa ce-leste é evidente: PMja•
auardião das leis; 2!, o deus do C.éu, ctiador. o rept·odutor·por O)'a ê filho de DyaU$1 e. por ,,ezcs, e confundido com ele. como
ex<:él&tcla, esposo da Grande Deusa tehlrica, distribuidOf'da <:hu· sucede, por exemplo, qo.lndo é considerado como esposo da deusa
va. E claro que cm parte algu,na encol\tr:unos 1,1m destes dois ti· d11 ff'erra, Prith\'il-'9. Parjanyá reina $Obre as águas e sobl't to
pos no est.-ido p1.Jro, que as linhas de ddtn,,olvimento ;am is são dos os-,seres \'tvos?l')(l. envia :1s chuvas:!il1 , assegura a fecundidade
para.Jtlas. ar1tes se en11ecroz.aro s,cm cessar. que o '· obcrano" é dos hotnen.s. dos aninlals: e da ,,egetaçfO'""'Clz , e todo o universo cs--
no mesmo tempo distribuidor da chuva e que o fecundador é tam· trcmece perante as tempestades que eJe desencadeia. P rjanya,
béLn wn déspo1a. Ma\ o que podemós aílfmar sem hesitação C: m"is dinâmico e mais concreLo .que Oyaus, mantém com maior
que o processo de especialização tende a delinútar com bastante !xfto o seu Jua,1.r no _paoteão indiano. f\1as cssç lugar deixou de
precisão os campos de jurisdiçâõ de$tes (]ois tipos di,1inos. ser supre-mo. Parjanya: não ''sabe" tudo. oomo Oyaus. e não é
Co1»0 cx<::mplo lipico da primeira classe - dos soberanos S,Qbefano·como \'aruna. A s.ua ccialização delimitou o seu do·
e dos guardi ílas l i - çj,çp1c,s T'icn, Varu,u1 ) Ahura,. c,.,1az- 1hfnio1 e, 1uais:1 alé Deite 1neSJ.110 domin.io nâo Cinvulnerável. Uma
78 TRATADO OB IJIS1'ó.ft.lt1 DAS Rf!LIG/ÔES
0 CP.U: DEU!iES URANIAJ•lOS 79
OUlra. h.icrofania da temp 1ade e da energ:ia fcrt.iti:r.ante poderá tneráveis invocações215 se refere1n à sua fo1-ça gcnCSica incsgotá•
subs111uJ-lo desde que novos ritos e nOV'aS ct'iaoOes ntíticas o rc- vél. Todos os atributoi elodos o,s presti;_ios de ludra são solidâ·
clamcnt.
Ê precisamente o que. aoo,uece nos 1.elTIPO$ vêdiços. ParJa- rios e 0$ dom(ni0$ por d e dirigidoses&.llo em oorrcspondê('lcla. Quer
n1a apas.i•se perante lndra. o mai popular dos dcusc;:s \'édicos s'e ,rate dos raios que atlagem vr:itra e libertam as águas, da ten-..4
pesta.de que l)(cccde a chuva ou da absorção de. quantidades fa-
(so1nente oo Rig Veda oad3 menos do que 2SQ hinos lhe sâo de. .
1
çliçados 1 cm compa.raçtto com os IOdcdicados a Varunaeos 35 bulosas de soma. da fertilização .:tos can\pos-ou das suas possibi•
lidades erótkas-gigantescas., encontramo-nos.setnpre pcranlc uma
:\. tilr.i, a Varuna e aos Adityas eru conjunto). lodra ê o "he-
r61'' p0r exoclência, guerreiro 1.enH:nirio de t.nera:ia indontãvel ,epifania da força vi1al. O mais fnf'unodo5 seus gestos. n3S':e dessa
plenitude transbordante, 3.$$im e.orno a S\la jactância e a sua fan.
v ccdor do OnSltO Vrilra. (que iinha usurpado as liguas). i11s..,: fatronice. O mito de. lndra e.'l)tim.c adnúra\'CfroetHe. a unidade pr
c1ávcl consunudo.r d soma*. Qu Jquer que scjaa intcrprelaçâo
que se propol1ha, nao podeinos escamotea r as \'aJências cósmi- fundá que existe enue todas as rnanlfestaçõcs plenas d;:i vld:i. A
C'âS:de Indra e a su.a vocação dcn1i.úrg . l11d.ra rtOObre o oé-u : m dinâmica da fe<:undidade ó a mesma em.lodos os níveis cósmicos
é maior do que a Terr3 inteira 'l'M ,, I.NIZ. o céu como diadeni 11>1( e a Hngua,aem revela freqüen1emente tanto a solidaried;1de de to-
e s:lo 8$0Madoras as quatltidades de soma que pode engolir; pois dos os instl'umentos fenilimntts como a sua de:;ocud.Cncia oomum;
não é: capa1. de absorver trê-8 lagos dele, de t.1m trago? Ébrio, eciniolog.içarmnte., vurshb. "chuva", está próxima de vrishan,
assim. d so1na. m:ua Vritra, desencadeia as teiupestades. raz tre- ''macho''. Iodra agita iu<:es.5antementc as força\oóSnticas. fm o d o
mer os ares. Tudo quanto lndra raz transborda de força e de jac- assim circuJar ao univ rso iotciro aeneraia biocspennil.tica. Ore-
tância, pois CuJntt pujante reillizado de cxuberânc.iá da vida vatório da sua vitalidade é ine:s.gotâ\•cl e é sobre este rcser\·ató-
e1 e®a cósmica < biológica; é ele que fa2. coin que circul as rio que se fwtdam s esperanças do bou1cm 1u,. !\·las Jnd.ra não,:
se1vas e o s.1.usue. que anima os germes, dá Liv1·e curso às águas C(ladQr; promo"e por todo o lado a vida t a distribui vitoriosa-
e à dtu\·a oontid.i r.as ouven.$. O raio (vajra) foi a arJna com que mente no universo inteiro. n,as não a aia. A funçâo criadora, de
m tou Vritra, e os l\fat·uts, d.iviJ:i,dadC$ menores da tt.mpes1ade. que toda a divindade uraniana cs.tá provida, "especializou-se'' etn
CUJOchefe é 1ndra, possuem ígttalll')enle e:s-ta arma divina. ''Nas- (ndta numa missão genésica e vitalir.ante.
cldo.s d<>l'lr do relãm1:>ago":::J1, os Maruts são iovcxad e.m vá-
rias oea.siões, paro que não lancem os S.:us ''projéteis,. sobre os
homc.ns e o gado. e oao os matan ?OI . '17. Os fttundadórtS - l o d r a e constantemente comparado
A tempestade é. por excelên-cia, o d encadeamento pode.- a. um tóuro21', A sua rqltka iranlaoa. Vcrethragna, aparece a
coso das forças criadoras; lndra ,,e,te as chuvas e çomanda to- Zarathustra sob a forma de touro, de ga(anhàC>, de carneiro, bo-
das as subs1ãncias hfdrjeas e bidr.antes, st.ndo ao mes:ino tcmp9 de ê javau11•. ou 5eja, "oulrot 1aru.os sim boios do espírito ma·
a di\'indade da ·re,1jJidade-"""09 e o arquétipo das forças senés.i· cho e combadvo. dos poderes elemencares do sang,ue-":n9. Às ve•
cas:110• É urvõvaputi', ho senhor <los campos". e sfrapoli, ''o se- zts 1ndra t tambétn chrunado carneiro (1neslrá) 'll0 . Estas mesnili$
nhor da charrua''; e tambêm · 0 touro dri terra » 211, o fecunda4
1 epifanias animais cncontram.se en1 Rudra, divindade pré,ariaoa
dor dos C3JUJ)OS, dos animais e das mulheres212. "É Indra Qpro- a imilada por Indl'a. Rudra ê o ·pai. dos t,.1aruts e, eu1 certo
criador dos anlmais' •llJ e nas bodas dos cas:a1néntos JnvOC3oo•no binoUI. Je111bra se que ·•o toiu·o .Rudra os ('.fiou nas tetas bran 4
4
1>ara que conceda dez Olhos àc,ueJ:1 que. acaba de secasarlJ4; inu• cas. de Ptl.shn.i". Sob a sua forma taurina, a divindade genêsica.,
uniu-se a uJna deusil•Vaca de tamanho oósmioo. Prishni é un:i dos
seus nomes; Sabardugbâ ven1 a ser outro, mas uata-sc sempre
• llilko !UIu:11J111.ota: ··arn ,1, ui ..... (> mel d11.imlllfl lidàlk(lut Uflul â&\tla de uma vaca qu procria tudo. No Rig Vedax:i fala-se "de ulna
lt"ª"ª ao, R)Oflalt {S11.:.dh11.rra), ;wr.,i,:10, coo\O <>-f«eOl!a ios dt1ue1 e 11b.,cn.,id1:1 vaca vish·an,JJ(I qoe tudo vivifica' ; no Athon ra Veda22l a vaca
pdo$ h<1niens eomunkar ooc:no rnun.dodi.,inó. Oroc11aé Q lilmOOto dAro- une-.se succssi\•atnen1e a todos -0$ deuses e procri;,1 c1n todos os
br{$,gu&$ 111d:i'' {Dia'w,nui,e dt; SJ·111bok:1, Ed,, Rql:cn L11f!cnt}.
pláno.s cósmiooSi º o s deuses \'i,,em da \'aca. assim como os hlr
TRATA.DO DE JlLSTÓRLl DAS RELIGIÓES O GJ1U: DEUSES UR.ANIANOS 81
me1u; a vA-Ca tornou este universo tâo vasto co1no o iuipério do genésico-atmosfêrieo, quer COllO um dos sel,IS atl'ibutos. As !.Ola.
sot ••?l4_ Aditi > mãe das divindades-suprem Adit:yas, é u1.mbém gens taurinas abundam nos templos de Shiva_. que ttm por veicu-
rer,restntOOa 00010 wna "aca ??J_ lo (V:dhana) o touro Nandin4 O caranés:io Kô, !)a.lavra que desig•
llsta "especialização' . aeuésico-taurina da divindade da at- na o boYideo. signi(i<:a tambêro céu, faísca, raio de lui. água, chi-
m()&fua e da fertilidade não vcvifica somente no dolllfnio iu . 'fre, monte229, O compJCxo r(lig.ioso Céu raio-fecundidadc
4
di1u10. tnco111ramo-la tambêm numa árta 3.fro•asiád<:a tn.uilo ex 4 encontra-se conservado aqui da nu.o eira 1nais ("'()ffli,lec.a. poss(•;eJ.
Lenia.. l\1as .nOlemos desde já que emelhante ''especiali1.acão·· O tamuJ K6(nJ tem o swtido de ·'ctiviadade", mas ô plural Kôn•
reveJa lit1al.mente in€1uências cxter.iore$, sejam de ordem éuúca âr sígoifica "vaquciros" 2» . É possívd que C;(ista uma relaç. eu
(os elemcnto.'i .. do Sul". de que falam os e1nólogos) 1 quer de or- tr( cslcs termos dravidiauos e o sânscrito g/Ju (ind.-eur. g'fou) e
dem rcligioia.. l:odra. por exemplo, a))«'5Cn4l vC$tigi,os de influêo• o sumérlo gu(d), (fúe signifiéa ao mesmo tempo "touro" e ••p o -
cias extrt.arillnas (Rudra). m3$ o que nos luteressa tnuJto mais éleroso, corajoso" '. Tambêm ê conYeuienJe menciona.l' a orl-
JX)r oraé.Q faio de a sua personalidade ter-sido alterada e acr(S· QCln oomon1 dos ter1nos sentitas greco-latinos- para touro (cf. o
<:eniada pór eltmtn.tos qut não lhe pertencem como deus da chu- assitio.shún11 o hebr. shôr, o fenici:o tlujr, ctc.,.c o grego Taurus,
va, dos furacões e da fertilidade OOsn1.lca. As suas relações com laL taun1s), o que confirma a u.llid:Jde deste 001nple.xo religíoso.
o touro e com o soma. pôr exemplo, confc,ren1,fbe, prtstfgi-Os No lrã eram freqüelitts os sacriffcios do touro e Zarathus-
Ju.naresm . ..:\ Lua gov'Cma as ãgua.s e as chuvas e distribui a fe- t.rn inf'ati.ga\·eln1ente os comOO.teu2?2. Em Ur. no terceiro nillênio,
eundidade un.iversal (§§ 49 ss.); os chifres do touro (oram m_uito o deus da atmosfera era representa.ao pôr um touro n ; (- ''o deus
cedo -assimilados ao crescente luna:r. Em breve YOltarentos a ua. Pot quem e jura" (isto é, na origem, um deus oelcstc) era 1auro•
tarde todos es complexos <:ulturaJs, Fixemos, no enlanto, que n1órfico, tatuo na antiga Ass(l'Ja, coroo na.Ásia ['.1eno '. A· este
a especio//t<Jç4o genérica obrigo as divindades celestes a abson•er respeito é.muito significativa a supremacia que adquiriram os dcu-
l f ( I sua n·oualidade todas as hierofonias dirt1a111erut re/ac/0110· SC\ da empestade, do tipo de Tesbup, Hadad, Baal, nos cuJtc,s
das co1n Qfe.cun(JidQ<fe universal. Na móelida em que ucentua as leo.01ientais. É con,·eniente demorarmo-nos um pouco rnais
snas funç&s r:neteoro16gicas (tempestade, nio, chuva} e geoésl- cotn essas di"indades. Não conhee(mos o ootne do deus supre-
eas, un, deus celeste necessarian1en,e se torna não só o parceiro m.<>dos hititas, o esposo da deusa Arinna; etradamentt. pensou-
da Oraude-M!ie ctôo.k:o-lunar, oomo lambem assimila os seu$ a(ri, se que-se chamava Za$.hhapunabz". O seu nome era C,crito por
butos; no caso de Jndra é o .soma, o touro e 1:ilvez até certos as- meio de dois ideogramas de origem babilônica, U e l ['.1.• A leitu-
pectos dos 1aruts (na medida em que tles biposta.iam as almas ra d e ideogtama enl Uugua lúvia eca Dattash. e- os hurrita.s
errantes do.s mortos). clia1navam-thê Teshup. Era um deus do Cêu e da tempestade, dos
O touro e o raio foram desde 1uu.i10 eedo (a partir: de 2400 vCfltos e dos raios. (Em acadiano. o ideograma I M tinha os " ª ·
a.Ç.) os s(n1botos conjug,1dos das divindadeiô atmosfêrk3s121. lores de zuunu. "c.hu\'a'', shan,, ''ve.nto", ren,anu. •·tro-
Nas eulturas arcaic-as o.mugir do toouro foi .i ilado ao furacão V-Jo'' ."jlM Os s.:us títulos evidenciam. o seu J)(est(e:io oelesle e a sua
e ao U-o\'ãO (cf. o twl!-roortr entre o.s australianos}: ora. tan10 éategoria de soberano absoluto: "Rei do Céu", ''Senhor da na-
um como Olilto eram oma epifania da força fec:undance. Por is,. ção lia.ui". O epíteto mais freqüente é o de .. todo,poderoso"
so encontramos oonstanttmente 11;1 jcono aíia os ritos e 0 $ mi- e o seu símbolo ê o r.do, o machado ou a maçàll1,
tos de todas-as. divindl!des atmosféricM da âre.a afro-asiática. Na L-embl.'enio•nos de que em todas as culturas palco-orientais
Íodie. pré..arlana, o louro estava presenle oos cubos proto- o podererasobreludo simbolizado pelo touro; em ac:tdiano, " 1:,a r.
hlstót.COs de Mohenjodal.'o e do Belncll.is1âo. 0$ "jogos de tou- tiros chifres" equi,•ale a "perder o J)Oder"·?J3. r \ deusa Arinna
ros", que cxisiem ainda. hoje no Deeão e na Índia de SuJl!S. exis· era tambêm rcpresient.lda de modo (auromórfioo (cnéontnurun-
tia1n na fodía pré védi no terceiro mi! nio a.e. ( Jo de Cbau .
4 :ie ima.aeo.s suas nos temp ) e o couro era o seu animal sagrado.
hudato. é. 2SOO a.C.). Os pró-d_râ'Vidas, os drávidas e os indo- Nos lC.'\'.tos. os dois touros miticos:, Scrish e H\U1'isb, slo•lhe
arianQ8 venç:r;1r;wi lodos Q IQUto, quer como q>ifania do d<:us consasrados 239 9u 1 segundo aJ3uns eMudi , são .at6 seus fi-
-
82 TRATADO DE HISTÓRIA DAS RELJGIÔES 0 CÉU: DEUSES URA.Nl1NOS 83
lhos. O li.nico mito que se conhece é o da sua hua.cotu a serpente mo "a força dé Baal (ou seja, Bad.1d) feriu Mot com seus ehi-
JUuyaukash241, onde el)contramos o mesmo tema da. luta da d.i· rrcs, tal como fazem os touros sclvage,ns ... '·''J 1, E no mito <:O•
\•indade da tén1p,es1a<le e da fertilidade oom uoo :monstro reptilí· nhecido pelo uonte de ''a caça·de Baal", a mort.e de Baal é com-
neo (ludra•Vritra, Zeus·Typhonj prot6típo tvfarduk,Tiainat). É parada à morte de um touro: ·'assin, lOJnbou Baal ... oomo u1n
necessátio ainda assinaJ3rmosa multid o de epifanias locais des-- to\lro"ll1. Não 005 deve .surprce:nder que 13.aal-Adad tenha un,a
1e dcu!i: no tratado de Suppilutiwnash sâo citados 21 U1.4i., o que parceira. A,sberat (Anal, 1\Sb,irt), e que seu filho, Aliyan, seja
C!,)filirrua o seu caráter autóctone nas rcgJ habilada5 pelos hi· un1a divindade da água, do. fecundidade e da ve3etação U 3. 6
lit . U era wn deus popular etn toda a ;\.sia Menor e Ocidental, crificavatn•se· LOuros a Basl·Adad (c.f. a famosa cena entre Elias
fosse qual fosse o no-me por qu. era iJl\lOcado. e os profttas de Baal tvlo carruelo), O assírio Bêl, ron1inuador
Os SlUlté1·io,OObiJOnios conheciam·no sob os nomes de EnUI de Anu e de EnliJ, é qualiftcado de ''touro divino'•; às vezes é
e de Bêl. EmbOra ocupas.se o terceiro lugar na triade dos deu·ses desiati.ado por Ou,"<> bo"fdeo'' ou "o grande carne.iro• ,.
cós1uico.s, era o mal,; importante de todos no _panteão; er:, lilho notável esta .solidaried.'lde dos símbolos "genêsJoos" e "ce,.
de Anu, a di iodade cel e supr,cma. Aqui se \'Crific.a novame.n- lesu:s • c1n tOd(" esses tipos de divindades da t m stade. C-.1ui-
1e o fenômeno bC"moonhocido da passajeni de deus 01io$us « . 1as vezes Adad, representado sob a forma de um touro, usa uma
lesre a um deus ativo<: fccundador. O seu nome. em sumério. insignia do raio2$'. r-.1as por vezes o raio toma o .1spec(o dos cb.i•
significa "Senhor- do ,,euto inlpetuoso" (Jil, ''vento poderoso, fu- fres rituais2 16• O deus Min, protótipo do deus egípcio Ammou,
1·do .. ). Tsmbêm o·dC'signavam por l1Jg1JI a11:oru, "divindade do etá do mesmo ntodo classlficado de "touro da sua f\.iãc" e de
vento e d.'I tenLpe:stade", e por fintu, ••ten1pestade 1•, J:.lf.ug-ug. "Cirande Touro" (Ka wr). Um dos seus atributos era o raio e a
ga, i$t'o é, "senhor dos furacõ,es••1'1$. EnW dirige também as .sua Í\lnção pluvial•geoêsica está evidente no epfte10 de "AqucJe
.tauáS e foj ele que provocou o dilúvio universal. CbatU3.LU•lhe Que desfaz a nuvein de. chuva':. }.tio oao er.1 utna djviod.1de au•
''o poderoso'', a/1111, o deus Que 1cm chifres, o senhor do univer- tóctone; os cgipcios sabiam que. ele viCTá. com 'a sua-parteira, a
so; o rei do ceu e da Tt'rra. o Pai Bêl, o grande guerreiro, etc. u i vaca Hathor, do (s de P\lo•nt-, isto(., do oceano fndico i:s;. Em
A sua mulhtté Nlns:aUa, "a gra.nd Vat.'a", u,num ràbitu.111, •c3 suma, para encerrar esta rápida exposição de wn o(lcSOO de ratos
Orsnde Ntãe", geralme,ue invocada &Obo no.me de: Bêltu ou Bê- de riqueia çxocpcional (cf.' a bibliografia), anotemos que foi SOb
lit, ''a Dona·· . A sua origem oeleste e a sua runçào me.1e<iro- a fonna 1aurina que Zeus rap10,1 Europ3 (epifani;1 da t-.1ãe), se
tó.gicá são con rlnadas 1.nnbém JX:lo nome do seu templo en1 N.ip .. uniu a AntilolX' e t«itou violar a irmã, Demétet, E em Creia
pur, ''a Casa da C\'lontanha 112.J6 . A u loo.tinha" continua a ser POdia se ler um epitáfio curioso: 'Aqui jaz o grande Bovídeo cha-
o símbolo da divindade cekste suprema, a1é nos casos em que nH1.do Zeus.·•
esta úlLima se. "c s peclalJza '' em divindade da fecundidade e da
sobel'ania.
Em Tell.Khaf.tje, no nu1is aotigo .sru1Luário conhecido até ho- '18. O 1.>spô!IO d91 Grãnde f - Como "imos. o co1tjt1J110
je, a imagem do touro t.ncontra•S'e junto cL-,. imagem da usa Cêu chu,·oso-Touro-Grande Deosa constituía um dos elc:mwtos
f\1ãe.Zk 1. O deus f.l, que ocupava urn lug,al' proeminente no pan· de. unidade de tods"ts as ,·eliafôes pl'é•his161·ic.is da área euro-afro-
teão paJcofeaJclo, é designado J)(lr "touro n '5hor) e. Lambénl por a!Ílâtica. Não há dúvida de Que a nota dominante assenta aqui
El "tQuro poderoso••14. Mas este deus \'e:io a ser suplantado, em na função gcnêsjc:o-agrária do deus automórfico da abnosfera.
data tnais reoente, por Baal. ·1Chefé:, Senhor", no qual Dus.,;aud O que se ,•enera em primeiro lugar em f\.1in, Baal, Adad, Tcshup
"ê actrtadamerue o deus Adad ?-1 ". A c.quivalên<:ia BaaJ-,.\dad es• e outros deuses taurino.s do raio, esposos da Gtat\de Densa, na.o
lá também confirmada nas tábuas; de cl-Amama?<o . , A voz. de é o seu c:arãtc.r c:eleste mas as .suas possibilidades fet'undaittcs. A
Hadad é o trovão, e ele tam m quc:tt1 a1lra os reHlmpa2.0 $ edis- s a sacraLidt'lde deriv3 da Júerosaini com a Otande l\alãe grá•
pensa a chuva. Os protofenicio.s compa.ra,-a.rn }ladad a um tou- na. A sua estrutura celeste está valorizada na sua fun o genésl•
ro: os textos re<*!ltem te decifrados relembram a maneira CO· c:a. Antes de tudo, o Céu é a região onde "brama" o trovão, se
11J( - -
84 TkATAD<> ()E HISTdRIA DA.S REJ.IQfÓES 0 Ct1U: DEUSES URAJVIA,\'O'S 8S
juntam a.s nu-vens, e onde s,: decide da fertilidade dos eaiu_pos; írc nas mãos); os í-dolos do cipo bovklco, que se enconlram sem
ou seja, a região que assegura a oon1inuidade da vida na Terra. pro Cln relação com o <.'Ultô <LaGrande. Mãe(=# Lua), são frc-
A c:ransc.endê-ncia do Céu integra.se sobretUd() na $U3 modaLida- qüe,:11es no Neolftico:l61. Hcntte26 aprofundou o estudo deste
de meleorológica e o seu "poder" equivale a uLn .ili.mJ1ado reser• conjunto tunar-genésico numa exur.nsa área cultural. As divinda-
vatório de germes. Por vezes, esta equiYalência re\'ela-st até na des1un3Ics mçditerrãnko-orientais trarn teprtseutadas sob a for-
IJns,i.aaem; o sumCrio ,ne designa " o homem, o macho" e ao me,s. ma de um touro e investidas dos acributos taurinos. Assim. por
lUO uanpo " o ç,ty .. 0$ (Se meteorológicos {raio. te1npesu1- exemplo o dws babilônico da Lua. Sin, e1·a cb:tmt1do " o pode-
de, chuva) e 0$ genésioos (o touro) DC(dem a sua autonomia ce- roso vit-elo de Enlil º , cnciuanto Na:uar. o deus da Lua de Ur, era
le$te, a sua soba'ania absoluta. ca-<1a nru deles-é acompanhado, qualificado de ••poderoso. jovem t-ouro do céu, o filho maii no-
e freqoen1emente do1ninado, por uma Grande Deus.,, da qual de· tável de Enlil" ou " o poderoso, o jov-e,n tOut'<>de fones chiíres",
pende, em última instância, a fecundidade universal. Já nâo silo tlC, No Eaito, a divindade da Lua era " o touro dits estrelas".
criadort"S cosmogõoicos. 000)0 as d5viodadcs celestes primordiais, i:tc. ™!\•lais adiante veremos como, é coerente a relação cntrtc <>!
mas fecundadores e procriadores U.I' orden1 biológica. A hicro- i:uhos ctônico-Junares e os da fecundidade . A chuva - "senu:,..
gainia tol'na,se: a sua função csscntial. g por isso que os cnoon- 1e" do deus da tempes1,11de- intcsn·se na blcrofania das águas,
tramos tão freqüentemente em todos os cultos: da feC\1ndid3de-, setor:que depc:nde antes de tudo dajurisdiçào da.Lua. Tudo quan-
es ialn1mte nos cuJ,os aan\J'ios.; no entanto, jamais desempe,, to se eoCOlltra em relação com a fecundidade pertence, de Ola
nham o papel principal, que cabe, de fato, ou à Grande f\'1ãe ou neira.1nais ou mei1os dlreta, ao vas o circuito Lua-Âguas-Mulher-
a um ''fdho", di\'indade da ,•cgeta,ção que morre e ressuscita pe- Tcrra. As di,,indades ct.Jestes, ao ,.cespecíalizarem-se-" cnl divin-
riodicamente. dades vjris e &tnésicas, fa1almentc: cnuaram em contato 0001 es-
A ''especialização'' das divindades celestes acaba por 1nodl· tes conjuntóS pré-hiMóricos, e a( perolaneceram, quer tenham che-
tiCM o seu perfil de- maneira radical; na 1nedida cm que.abando- gàdo a assimilá-las, quer elas próprias tenham sido il\tegradas.
nam a sua transcendência, tornando-se ·•acessíveisº e como tal
indispeusávcls à vida humana, passando de d us 01Josus a deus
plu iqsus taurinos e genésioos. assimilam in ntcmente fun• 29. Joo\/j - O s únic deuses do cC'u chuvoso e fecundador
i;lie.s, a11ibotos e prestígios que lhes errun escranho$ e estavam lon- que. têrão conseguidooonser\·ar .i s,1a autonoroia, Jpesar das hie-
ge das suas prcocupsções, na sua soberba trans,cendCncia rogamias com as inumeráveis grand deusas, são aqueles que C\'O·
cele te.2'*· Na sua tendência - como qualquer ''fonna" divioa luiram na liuha da soberan_ia; os que conservaram o ce.tro, ao la-
- para agrupar a 1ua voha todas as manifestaçõe$ religiosas e do.do raio feeundador, tornando-se assin1 mantcncdorcs da or-
para comandar em todos os setores cósmicos, as divindades da deol universal, guardiães das uonnas e cncarnaç-ão d.a lei. Zeus
tetrtpestade e as divindsdc.s genésicas absorven\ na sua Jler.sonali- e Jl'1piter são divindades deste tipo. Evidentemente a personati.
dadee no seu culto (sobretudo pelas suas hitro iasoon1 a Deµsa dade destas figura\ imperiais se definl\l meU>or a:raç:ts à ,•ocação
Mãe) os clecnentos que ori$)nalmen1e não pertcociam à sua es, ,nuito especial do espirito grego e romano para as noções de nor•
1rut1Jra celeste. n1a e de lei. Mas esses prc,.cessos de racionalização sã se torna-
Aliás, o dralua mctrorotõgko oem seo1pre e oeocssariamen- ram possh·cis a partir da intuição religiosa e 1nitlca dos ritntos
t:c expresso pot uJna divindade celeste; o conjunto r io cósnticos da sua harmonia e da sua pcrcnidade. T'iãoé também
tcmpes1a.de-c.hu,1a foi po, vezes considerado, como aoooceceu eo,. lnn excelente exen\plo de soberania C(:lesi<: .o:t sua tendência para
tre os esq1,1i01ós, os bosquímano.se .no Peru, como uma hierofa se revelar como hicrofania da lei. do ritn10 cóstn.ico. Co1nproen·
nW.da LuaW . Desde os tempos mais remotos os chifres dotou- dcremos melborC$tC$ aspectos quando estudarmos a funç o reli·
ro (oram comparados ao Cl'esccnte lunar e assimilados à prôpria aios.a do Soberano e da soberani.l.
Lua. l\1eaghtn26I: tslabele(eu uma 1clação en1rc o crescei:ne d i É num plano de cttto modo paralelo que se ooloca a. c•;olu·
Lua e .is figura$ fcminináS do AW'l$Q:)Ctt1$e {que seguram um chi elo da divi.odade supre.ma dos hcb:rcus. A personalidade de Jeo.
86 TRATAD{} D& Jl1ST0RIA JMS RELIOJÔES
O CÉU. DBCISES URANTANOS 87
vá e a sua história religiosa são mullC> complexas pata que J)Ossa- revelaçi'i.o 1.nais efetiva da sua transctndência e da $Ua autonomia
mos resunli-lai; ctn pOllcas linhas. Digamos, no entanto, que as u,bsoluta; p0is, quanto ;:io Sc(lhor, ''nada o obriga'', nada o cons-
sua,; hierofal\la.s celestes e auuosféricss desde n\Uilo cedo consti· irangc, llCm scquC'r as boas aç.ôes e o respeito pC'las suM próprias
tuíram o centro das experiências relltiosas que- tornat.-im possi- leis.
veis as revelações ulteriores. Jeová manifesta o seu l>Oder na 1esn• É nesta intui ..1.0do podér de Deus como únlca realidade a.Ir
pestade; o trov!lo é a sua ,·oz e o r,elãlllJ>ago é ''o oio·: e Jeová sõlúta que enconuam o seu pon10 de partida todas as mfsticas
ou ·• a s suas ncc:ha!' . O Senhor de Israçl ª1l\lnc,a·st ·pelo tro-
vão, pelo relâmpago e p0r uma espes.ffl fumaça·· nomome - e especulações ulteriores à volta'da Liberdade do homem , das
suas possibilidades de .s.ah•açào pelo respeito das lei.s e uma mo•
ro ero que transmile as leis a t\•folsés. "Toda a do ·· r.i..l rigorosa. À face de Deus ninguém é "loocente". Jrová tsta--
nai wa,,a e.ovolta e-m rumo porque o Bteroo a1_monta.oba
descera no meio bclcceu "aliança'' com o seu povo. mas a suá soberauia permite·
do fogo .. :•lM Débora lembra cor» religioso tentor como " a ter· lhe aniguil:i-la a qualqu.:r momtnto. Se oão o íaz, não éet'll vir•
ra 11e1ncu, os céus se agi1;1ram e-as nuvens se fundiram em. águas" 1u e.da ·:aliança" - pois nada póde ''(lbria,.'lr" Deus, nem st·
com os passos do Srnhorl67• Jeová avi$0U Eli.-.s da sua aproxi• quer as suas pr6pri.as ()tOmess.'\S - mas sim cm virlude da sua
mação por uma "grande tempestade, que parecia esracelar os bondade.lllfinita. Jeová mostra-se em toda a hi.stória rdigiosa de
mo,ues e fender as rochas, mas o Senho1· não csta,•a na 1eínpcs-
tade. Depois desta veío um tremor de terra. e o Senhor não esta• l_sracl como um deus celeste e da tempcs.tade, criador e 1od
poderoso, soberano absôlu10 e "Se!lhor dos cxCrcitos''. apoio dos
,•a uestc tremor de lena. E depois do tremor de. terr.:t uro fogo; reis da linhagem de- Davi, autor de todas as oormas e de todas
mas o Senhor igualmente n:'lo estava neste fogo. E depois deste
fogo um doce e teve murmúdo''l6-1, O fogo do Senhor cair.obre os leis que pcnnite-m à vida oon1inu:.r sobre a Terra. A "lei", sob
os holocaustos de Elias quando o profeta lhe. suplica que se qtutl-Quet' tom1a que seja, tem o s.eu fundamcn,o e justifica,ç:ão
most..rt e colúuoda os sae-erdotes de Baal. A Sarça srdentedo epi• numa revelação de Jeová. }\,las, ao contrário dos ou1ros deuses
supremos, que não podent eles· p-róprios sgir contra a.ç leis 21J ,
sódio de r,.{oisés. a coluna de foao e as nu,·c.os que guiaram os Jc:o,•á conser,•a a sua liberdade absoluta.
israelit3S para o desetto sllo epifanias. jeovisw. ,\ssim co1110 a
aJjança de Jeová co1n a dcsoendênc·ia de- Noé, 53lvo do dilúvio,
se m:)nifc:sta por um nrco-iris: ''Coloqoei o meu arco-íris nait nu- 30. Os recundadc>rtS substílu.em os dc-ukS W"AoJio.óS - A
vens e ele s,er\firá de s.iJ)al de aliança en1.re mi1n e a Terrn.»l?o 11ubsti1.ui,ção das dh•indades celestes pelos deuses da lém sta.de
E.Uas hierofanias celestes e atmosíériciti, diftri::ntcmcnte das procri.tdor-es verifica-se, também no culto. Marduk sub$1iu1i Anu
outras divindades da t.empcstade, manifestam sobreLudo o ''po-
der" de Jeová, "Deus 6 g.rao.de pelo s,c.u poder; quem soubesse na festa do Ano Novo(§ 153). Quanto ao importan1e sacrificio
demon$trar oomo ele. ••17l ''Ele tõ,na a luz. n lilàos ... Antu1cia- v dico Açvainedba, :te.aba por stt diri3ido a Prajãpati (e por ,•e-
·1.es uunbétn a l11dra); depois dco ter sido a Varuna, e, como cs.tC'-
se por um ribombm ... Pera.ore um CSpetáculo com est.e, todo o 1\ldmo substituiu l)yaus. é muito provável que originalmente.
1ncu coração eMremc:c.e .e pruece q1,1crcr saltar-me do peito. Escu• 1ttcriJício do ca"alo ÍOS$C realizado em honra do an1jgo deus indo-
tail Escutai o frffltito da sua voz o ribombar qu Sài da sua boca_
e secspalb;:i pela vastidão dos céus, enquanto 0$ seus rclâJnpagos 11riano do Clu, .6i.s _popuJ.1ções ur2lo-attaicas ainda
brilham até as extremidades da i erra. A.s$i.m que a sua voz res c:m cavalos aos deuses suprémos ur.wia.oos (§ 33). O ele1nen10
sóa, ele- já não mai.s detém os rd."lmpagos. Deus lroveja na sua e.utncià1 e arcaico do Açvamodha é C>·seu cará1er
voz de 1nancira maràvilbosa ... ,,i 7? O Senhor Co veTdade1ro e o O cavalo e identi do ao oosmosc o seu sacrirtclo slolboliza
Mpl'O(/ut.) o ato da criação. Osentidodesic rito tornru:-se-á tllais
\1nko dono do oosrnos. Pode fazer tudo, aniquilar tudo. O seu
Poder é absoluto. e por isso a Mta liberdade deixa de ter limites. c::h1r<> num outro capitulo(§§ IS3 ss.), Por htn lado conve,n assi-
Co,no soberano inix>"t.estado, mede a sua mi.scricórdia ou a sua nalar aqui o conjunto oosmogônioo cm que se coloca o Aç,,.amecJ..
cólera a seu bd,prazer: es1a liberdade. absoluta do Senhor ê a ho c. 1>0r outro, o stntido iniciá,i<:o da cerimônia. Que o
1nédha ê a.o 1nsme> tempo um ritual de iniciação C o
38 TRATA.DO CE Rlsróf(JA. DAS RD.IGJÔES O CÉU: DEUSES URANIM'OS 89
J)rovam os seguintes \le1·sos do Rig Veda {VOT. 48, 3): ''Tomamo· t' eado por garonhõe$; '4Prnjà p ati é, de fato, o grande tou-
nos imonais, oon1trnplamos a luz e encontramos os deuses." ro"r'6. Nos leictos \'édic0$ viam-st- os Açvins, cujos nomf'.S re-
Aquele que conhece- o oUs<érlo diesta iniciação triunía da squn, vetam as soas relações com os cavalos,, moo.tar bois de corcova
da morte (pw1011nrlt)'#) e não teme a 1norle. A iniciação equiva- e nao ea\!alos z>1 .
k à cooquista da jinortalidade e à transmutação da condição hu- Os Aç,•ins, corno os Dioscuros (Oios kuroi, cf. let. delN(I de,.
n1:ma uuma condição dlvlna, ê.sta coincidência d3 conquista da li, litu.an, dié"'O su>rRleí). são flJhos do deus do Céu. O ieú mito
imonalidsde oont a repetição do àh) dâ trJn{àO é irttpõrtalltc; o de\•C mujto, tanlo às. hierofanias celestes (Aurora, Vênus, as fa-
.sacrificao1e ultrapassa a ooodlção humana e torna-se il)lOrt.'11 por Se:\ da Lua) como à sacralidade dos Oênleos: de fa10, a crença
um ritual cosmogônico. Br.éontra·rcmos a mesma coincidência en- (v, a bibliografia) segundo a qual o nascimento de gêmeos prcs-
tre in1cjação e cosmogonia nos mistérios de lithra. suix>e a união de um mortal e de--um deus, e sobreiudo de uma
Tal ('Otuo acontece-com Prajâpati - a quem depois é dit'ljl- dJvindade do Céu, está ex.ltffllanten1e difundida. Os Açvi.ns são
do o sa«ificio - o cavalo sacrificado simboliza o costnos. Entre --$e!nprt reprtsentados ao lado de uma divindade feminina, quer
os lranlauos. do corpo do touro primordial morlo por Ahriman seja Uça, deusa da Aurora quer SOryã; os Dioscuros acompa•
nascem os cereais e as plantasi na tradição aerlnâoica., o cosmos nham iguabnenle uma f1.3ura femi.rdna, .sua mâe ou sua innii; Cás-
ck,riva do COL'l)O do gigante YLnirV'". Nâo nos ocuparemos aqui lOr e J?ólu;,: aco1npanham Helena; ..\mphion eZethos sua n1ãe A11·
das implicações deste Ltlilo cos,nogônico, nem de:>$ seus pandefo.s liope; fférodes e Jphikles sua mãe Alctt1enu, J)ardat1os ê /as.lon.
extrcmo-orie.n(ais (pot exemplo Pa.n'Ku) ou 1nesopotàroicóS - Hurn-1onla, etc. Fixemos 4ue:
o COSlllOS criado por r,.1arduk a p.artír do corpo do monstro l i · à) Os Aç\·ins, os Di0$Curos o u quaisquer que sejam QS no•
mat. Apenas nos interessa o cará1cr dro111d1ioo do ato da críação mcs destes gê1ueos núllcos s.'lo filbos de um deus celeste (ma.is frt-
ta.l como se nos apresenta nos. mitos semelhantes:.. o CO'Smos não ttGetnemente em tonsoqüência da união deste Ultimo com uma
é Cl'lado ex nihilo pela dJvi.udade suprema, antes. adquire a sua mortaJ);
existência pelo Sólcrlficlo (ou pclo au1o-sa.criffcio) de um deus (Pra- b) 11ão se separam da m1le Oú da innã;
jâpati), de um monstro primordjal (tiamat, Ymir), de um ma- <:) a sua aüvidadc na Terra C' s.c::mprc benéfica. Aliás, (anto
tranthrop0$ (Purusha), ou de u_m animal primo1·dJal (o touro os ,\çvins co1no os Dioscuros sâo curandeiros, livram os mottais
Bvakdât entre o s iranianos). N(l oriaen, deste mitos tnoontra-se, do perla:o, protegem os na\'egadorcs, etc. Em certo sentido são
real ou ategôricoi o sacrif,ício humano (P11ru$h9.='"h9.mçm") 1 os representantes da çralicJ ç.çç;-:lç IÇ n Ttrtõl., ruo Q\W o ietl
complcx:o que Al. Oah:s eucon1rou uruna vasta área e1nológica pc(íifseja inc:ontesta\'elrnente mais oom_ple:<o e não p0$$íl. reduzir.
e se aprmnta se,npre cn1 relação oom as cc-,rimônias de iniciação Se à sin'tples dispensação desta sacralidade. 1'1as, quaisquer que
e as sociedades secret.asl ?f , O caráter drru.nático do sacriikio OOS· sejam os conjuntos niítiro-rituais rdvindk:ados pela figuta d
mogôl\iôo de utu.ser primordial prova que essas cosinogooiru não Diosc-,ros. ,ia.o há dll\'ída d que: é um fato a sua ati,..idade ser
são "ptimárías'>, ant s .representàm as fases de um longo e.com,. de caráter benéfico.
püc.ado prowsso 1nlcioo-rcligioso que se desenvolveu eo1 boa p..vte Os Dioscuros n o akançar.un um papel de priJneiro plano
jâ na pré.história. 11ôl religiosidade unh•ersat: os ••filhos de deus" sofreram u1n m.a•
O Açvamcdha é um e;,cceiente t'Xemplo para C\Cl:t.rtcff-a oom• lot.i-o, mas jã o seu lilho iria conhecer o êxho. Dioniso é o filho
plexidadc dos ritual.$ dirigídos às divj. odades urnniauas. As subs- de Zeus e o seu· aparecinte1uo na h:ÍSlória rtligiosa da Grécia equi-
r.iwições. as fusões, as simbiOSleS sâo tão ativas na história do culto vale .1 uma revolução t$pirituaJ. OsíriS é cambêm o filho do Çêu
como na história dos deuses. Retomando o Do.5$0 C)( cmplo , po- (µma deusa) e ds Terr (um deus); o fenício Alein ê o filho de
deremos dccif1ar af ainda uma substituição: o sacrlf(cio indiano 0.;iol, etc. No entanto, essas cUvlndades mantêm uma estreita re·
do cavalo substituiu o sacrifldo ina;! antigo do touro (o touro hlç o com a vegetação. o sofrimento, a morte, a ressurreição. a
era sacrificado no lril e o inilo oosmogôn.ico (ala de um touco Iniciação. Todas são dinâmicas, patCticas, soteriotógicas. T.1nlo
primordial.lnllla e!lá também rodeado de touros. anteide estar '" grandes oorremes de reli&Josl<lade popular oomo a...sockda·
90 TRATADO f)t! HISTÓRIA DllS 1'.EUOIÔ.ES Ó ()$li: Dl!U'SES UR.ANIA/'iOS 91
des secreta,; dos mistérlos eo-o.ticntais se cristalizaram em \'al- íêric a s e, como tal. a 1norada dos deuses. Todas as mitologias
ta das chamadas divi.ndades da ve3ttaçâo, que são primordial• t!m uma moota.nha sagrada, val'i:ante Ulais ou menos ilustre do
mente djvindadc:s dramácicas, resl)Onsá,•eis pelo destino do ho Olimpo grego. Todos os deuses possuem lugares res(:rvados ao
mm1, conhecendo, con1oclc, as paixões. o $0fr:imentoe a morte. seu cuJto nos pontos allos. Os \•âlores simbólicos e reUg:iosos das
Jamais. a divindade se aproxi1nou tanto dos: homens. Os Dioscu-
1
ntóntanhas s.1\o jn1\1neros. A montanha é freq:(icntemeotc consi-
ros ajudam e protegem a humanidade; as divindades soterioJósi· derada como o p0nto de reencontro entre o Céu e a Terr.;a, por-
cas par.tilham os softilnen,os desta humanidade, morrem e- r u1.nto um "centro· , o ponto pelo qual passa o eixo do mundo,
.susdtarn para rcsgatá la. E-Sta mesn\3 "sede de.concreto" <1ue.sesn-
4
prrta como: "\•iSÍ\'<:l de n1uiio tongc" s. Para falar com proci- 31:. Mllot <k s«:mi\o - A morte é uma t,anscendência da
sâo, dlremos que zi.qquratu era um ":monte CQ.tmico'', ou seja, cóndi.ção humana. uma ''passagem para o além". Nas religiões
uma imagem simbólica do cosm.os; os s e ( e : andares representa- que 1tu.aro o outro nluodo no Céu ou numa rtj.iào sui;,erior. a
vam sei.e « u s planetários (coo'.lo em Borsippa), onde existiam alma do morto sobe pc-los <:aminhos dé wna montanha, numa át-
as corts do mundo (com<> cm llr). O teo1plo de Barnbudur e1n yore, ou rx>[. uma corda2117• A cx:v.rcssão corrcn1c, eJ» assirio, lXl"
si mesmo 11ma Llnagem do cosmos e está tonslruído à rnaneira ra o verbo ·tuorrer·• é; '' agatra r.se à 1uontanba11• lguaJmel'lte,
de uma montanha anii'ictal. ·'Po, u1ua exteosio da qualidade' S3• em egípcio, myny, ''agarrar.se• , i um eufemismo para "mor·
grada do templo (monte + centro.do mundo) a toda a cidade., rer••:ss. O S i se põe. entre os n\ootes e é sempre por af que de\'e
as cidades orientais toma>1am-se elas mesmas "oe-nttos.'', cimos passar o caminho do morto até o outro mundo. )'ama, o primei·
da :ttaontallha cÓSlnica. pontos da jutlc;âo entre 3,1; regiões cósnli- ro m-orto $CS,Undo a tradição mitica il'.Ldiana, percorfeu ''os altos
cas. Assim, Lusa t-ra cbrun:ida '"'A casa da junção entre o Cru desfiladeiros" para n\ostrar ''o catninho a tnoitos homeos"2*'
O C?Jttinho dos mortos., nas crenças populares uraJo.altaicas:
11
e a Terra". e Babilônia. ''A casa dos alicerces do Céu e da Ter
ra". "a lig.>.ção en,re o Céu e a Terra,,, ••a casa do Monte lumi- rcàhza·sc pela s bida d?5 lUOntes: Bofot, herói kara-kira,biz, tal
noso", etc-. (Dombart, 3S). Na China, a capital do soberano per· como Kesar, rei lendário dos mongóis. peo.etra no mundo do
feito encorura•se exatamente no <:enuo do univc.rsoz."' . isto é, no 1-\lêm, .como prova iniciática, por uma gruta do topo do,s mon·
topo da montanha cósmica. tc.s; -a via.g.cm do xan1ã ao infem.o ere,ua-se pela 1ubfda de aJgu-
Noutro capitulo \'Oltatemos a falar deste .!,,imbolismo cosn10- 1nas 1no11tanlias muito eleva.dás . Os q:;fpcios conservaram nos
lógi<::o do <::elltto - e:in que o monte desempenha um _papel tâo .sros textos funenirios a expressã.o as , pet (asker = "caminha•
im1,'0rtante (§ 143). O que podem observar, desde.Já, é a virtu· dn") par.'.'I n1ostrar que a escada colocada 'à disposição dt Rá. pa-
de oonsas.rndora da "altura". As rqiões superiores estno 111· 1';l que ele possa subir da 'l'crra ao Céu, ê uma esc-.ada rea1w1.
radas de forçassag,adas. Tudo quanto está mais próximo do Cé-u "Disposta <".Stà a escada que me \•ai levar a ver os deuses'' diz
pariicipa, co1n intensidade varhi..,.el, da transcendência. A "attu· o Li'vro dos 1'i1ortosm. 1'0 s deuses fazem.lJ1e uma escada ()afa
ra" 1 o ''superior". são assimilados ao 1ransoeodence) ao sobre que se sirva dda e suba ao céu. "l'l!l Em grn.odc número de l'Ó•
humano. Toda •··ascensâo'' é ,aola ruptura de nfvet. \1Jll3 passa· ,nulos élo ten1plo das dlnasllas arcaicas e rnedteVais foram enéón-
gein para o Alétn. uma uhrapass:1a,tm do apaço JXOfa.110 e da tr«dos amulelOS rc::prncnlando uma pequena escada (11u1qei) ou
condição humana. Não é neccjsâ.rio acrtscen1ar que a $acralida· urna C$Cadal 94.
de da ''altura'' é ,•álida pelá sacnlidadcdas regiões aunosféJicas Esta 1uesma estrada pela quial as rumas dos monos $C enca·
suixriOrt$, portaJUO, em Ultima illstlru:ia, peJa sacraUdade do ntlnh.am -para o outro mundo é lambém ·percorrida por aqueles
- O monte, o tm1pto, a cicbêle-, etc., sãoconsaarodos porque c111C- graças.à sua oondiçâo excepcional ou à eftd!ncla dos ri·
esttlo investidos do prestígi.o d o ' '«n1ro•·. i!ito é, na orl_gem. por· 10$ que xecutam - conseguem enuar no Céu ainda durante a
que assimiladoo ao c,une mais elevado do univmo e ao ponto 1)rópr.ia vida. O motivo da " nsào" ao Céu, realizada quer
de enoontro (nm: o Céu e a Te1Ta. Por oonscq\l!ncia, a consa· l)Or uma oo.rda. quer por meio l:le uma ár"ore ou por uLna esca·
·graç:ão pelos rituais de ascensão ede t$calada dOli montes ou das dn, está n1uito difundi-do nos cinco continentes. Conteu1ar. nos.-
,escadas deve-a sua vaJídade ao fato de inserir o praticante numa n10:; C()m alguns CXCl])J)los1%. A tribo auscraliãna dierl conhe·
rea,ião superior celeste. A rlque:za e a variedade do simbolismo th\ e, 1 10 de u1na árvore que. por virtude de mag.ia, 1..-rcscera até
da asctnsâo só na aparência sãô (.)ódeas; <:oosiderados .no seu n Céü•%, Os nun1gahburran falam de dois pinheiros. nliracuJo
conjunto, todos estes ritos e s(mbolos se-t.x:plicam pela sacraHd · M que, depois da \'iolação de w n tabu, se puseram a <:tesctr tanto
ded-a ·· Jtura". i oé, do celeste. Transcender a co1Jdl huma- q\1c o seu topo la<:ou o Céu1" . Couta-se. entre os mara q u e m
na pt!o fato de penetrar nwna w n a saj:rada (templo, altat), pela 111\tepa'SSados costumavam subir por uma árvore desse g.ê.oero :ué
con$agração do rito, pel.l ,norte, exprinle.se concre tamente por o Ctu t por ela vollavam a descc.c®S. A espos3 do herói maorl
u1.1:1a ''pàSSattm 11, um.a ' 1t ubicl..1" . 1,nns '"ag::en1ll0''. 1;t'i\hllki, Í-'d desçi<fa do Ctu, ]X't,nanCQC. ,om !e somrote atl:.
O CiU: DEUSES. UR.A/vlA1VOS 9S
94 11tATA1'0 DI! IIJSTÓRIA DAS REL/GIÔES
era de cbunlbo e correspondia ao .. céu" do pJal)eta Saturno, o
o oà$clmeoro de seu urimeiro filho. subindo depois para uma ca- s gundo de estanho (VCnus), o <erceiro do bronze {Jópher), o
bana e dcsapar n-do. Ta,vbaki sobe ao CC:u por um cepo de vi- quarto çlc ferro (Mercúrio), o qu.into de "lig,a monetária" (C\•lar-
nha e cQnsegue re<>.,ftSSar à Terral99. Segundo outras variantC"S,
o herói alcança o CC:u subindo p()J um coqueiro. por um.a ç.orda,
lé) o.sexlo de prata (a Lua), o sétbno de ou:ro (o Sol). O oil.lvo
uma 1ela de .:.ra.oha_, ou u,n .. papag,àiô'' .. , No Hava( di,z..se Que degrau, diz-nos Cc1so, representa a esfera das estrelas fixas. Ao
sobe pelo arco,iris; no Taiti, que sobe uma montanha elevada e subil' es1a escala cerim-oniaJ, o in.iciado percorria efetivamente os
e-nconlra a mulhet duraiiie o (;U))inho O l O. Um mito dpalhado 1l.'I uscte téu.s'' f ele,·ando-se assim att o Err1píreo.
Ooeãnia coota que o herói che:ao\l ao Céu 1,or uma "corrente dt. Ainda hoje. os- xamãs .das populações uralo-altaicas praticam
flechas'', hto C, cravando a pdrne-lra flecha na abóbada oclcste, e.,:atatnente esc.e ntes1no J'itual J>. sua vias.etu para o Céu e uo « ·
a seauintc na primeira e asiim por diante até forn,ar uma corren- rimonial de itul.;ação xamâniL>:a. A ''aSL'Cnsão'' realiza-se quer no
te. entte o Céu e a Tena 301• A a.st:en.são p0r unia corda é conbc> 9uadro do s.aerificio ordinário- quando o xamã acompanha a
cida na Octâilia» . na Átrica roi , na América do Su( )OAe na Amé- Oferenda (a allna do <:.lvalo sacrificado) a1é Bai UJien., o deus su-
rica do N'orte»l. Polico Jnais ou menos nos mesmos locais premo-. quer por ocasião da cura mágica dos doentes que re-
encont.na se o mito da ascensão por unta teia de aranha. A ascen- C01'1'ffll à soa cons,1lla. O sacri((cio do cavalo, que.é a-principal
o ao Céu por uma escada é ('Onheclda no ;uui&o Egito ;oo , na cerin1õnia religiosa da\ pOpulaçõei. urn.lo-ahaicas., ttalita-se anuaJ-
Af ricaX17, na <xeãnia 1º ' e na Amérk-:a do Not1e. A ascensão po- mcn.te e dura de duas a trê$ noites. Na primeira noite- crguen1.um
de ainda set feita por u1na ârvorc 3CJ . por wna planla ou por um D0\10 >'ur1e. eJ1 cujo intetior é colocada uma ctiJa despojada
monteltO. de ramos e na quaJ se escavam nove. dcgraus (taplJÍ'J. Ê escolhido
um cava.lo branco-para o sacrilfcio; ateia-se fogo na tenda, o ,c3.
mft,defuma o seu tamborim enquanto vai chantando suctssh·a-
33. Ritos de ascen$lo - Todos estes n1i1os e crenças corres· mcnte os esp.jritos; então sai e, :picando o manequim de um gan.
pondein a ri<os conct'etos de ''subida" e de ''ascensão".,\ fixa· so feiro de trapos e empalhado, a&i1a as >nâos co1no se fosse voar
ç.ã-o e a consagraçúo do Juaar de sacrifício equi\'alem a wnaespé• e. canta:
cie 4c sublimação do espaç.o ptofaµo: "na verdade, o ofiL'iante
constrój para si uma ada e uma pon1e para: alcançar o mundo Pata :i.Mm do ctu elaro. Paro. aJ&n das nuvens brancas,
,oekste'', especifica a Taittirfya Su111hlrâ (VI. 6. 4, 2). Noutro passo P«1a alffll do <.'eu nuJ, Para aten, dM ou·eu$ awis,
do mesmo Uvro (1, 7, 9), o oficiante sobe ao top0 de \\lll:l. escada bê- átl o Céü, 6 av1::!
e, uma .. a.junto do poste do sacrificio, estende as mãos e clama:
''Alcancei o Céu, os deuses: lotnei-me imortal!'' A escalada ri- O obje1h•o deste rito é cap·tar a alma do C'3Valo sacrificado.
t\tal a1ê o Cêu é wna dliroltanu uma "subida dificil". Grande pura, que se presume ter fugido à aproxitnação do xamã. Depois
n\l.u,ero de expressões semelhant6 se er.ooolrrun na lirerat1,1ra311. de ter caprurado essa alma t de a ter t'tconduzldo, o xainti põe
Kosingas, sace1'do1e,.rej de alsumas popuJações da Tráda. (os kc· Q ganso em liberdade e proocde sozinho ao sac:rificio do cavalo.
brcnioi e .sykaiboaí), atneaça O$$CUSsúdilos de partir para Junto "' segunda patte d.a cerh.nônia passa-se na noi<e seguinte. quan-
da devsa Hera, subindo por Ulna es da de madeiral*!, A asoon- do o 1(a1nã Jc\·a a alma do ca\•aJo até Dai UJgen. Depois de defu.
são celeste pela ubida cerimonial de ,una escada. pro\•avdmence 1n.'lr o tamborim, de \'CStir seus trlljes rituais e i.nvO('Qr ·lcrkyut,
fa:z.ia pafte de uma inicíaçJ.o óríica''"· Seja como for, tt ave celeste, par.a que "venha can1a1·" e ''.pouse sobre o seu Ol.'ll·
encontramo-la na injçiação mitr.íaca. NO$ 1nistérios d f\1ithra, tiro direito·• o xamã começa.ª asce-nsão. Subindo com ligeireza
3 escada (tlilna.:1:) cel'i.o>onial tinha sete degraus, e cada de&1,-:.u k>.s.degtaus talhados na âr ·ore. ce.rJmonJal, o xa,nã penetrá su·
era de um metal diferente. Seiundo Cclso 314• o primeiro de:tl,:l':lu ccssi,.·amcnte nos nove OWs e d!escreve ao auditório, com min(I.
cla de J)Ol'Jllenot'es, tudo quanto vê. e tudo quaólô se. passa cm
-ada uin ddes. No sexto u venera a Lua, uo sétimo céu o Sol.
1 Trad. de "ce1f.,.olllrii". (N.'T'.)
96 TRATADO DE H.lsróPJA. l>AS R.EllOIÕES o C'CIJ: JJEVSES URAN/A;,vos 97
FinaJmente, oo nono, prostema,se diante de Bai Ulgen e ofcrcoe· que se eleva aos cêus <m citna de- uma corda e vai afastando as
lhe a alma do ca\·ato sacrificado. Este episódk> assinala o ponto estrelas qne estorvam o se\1 -carninbo 3u. . .No poc1na ui,gur "Ku·
cubninan,e da ascensão cxtãlica do xamã. Ob{ffll de Bai tJlgeu datku Bili)(.'', um herói.sonha que sobe urna escada de clogUeuta
informações sobre a aceitação do sacrUld.o recolhe- 1>rediçôes degraus, em cujo alto uma mulher lhe-dá água a beber; assim Te.a·
sobre o tempo; depois o xamã cai extenuado e, após um momen- ..uimado. couseiue chegar ao Céum.
10 de siJêocio, 'desperta como se saí.s.se: de u1.n SQno profundo''-'.
Os entálhes ou degraus abertos na bétuJa slmboUzam 3s esfe•
ras planeta.ria$. Duraotc o cerimonial o xamã pede.o concurso das 34. Sirobólü,no da asttuSàQ - J a c ó sonha iguabnente co1u
diftrentesdivindadescujascoresespecfficas traem a sua natureza ums ada cujo topo atinge o Céu, "e os anjos do Senhor su-
de divindades planctárias316. f ai como no- ritual da iníciaç.,o rui• bi:un e desclao, por essa escada ".il3. A pedra sobre a qual Jacó
tríaca e também como nos muros da cidade de Ec-bátana. de cores adonneeeu era um bethel e encontrava- - ''no centro do n1un-
variadas't' e simboUtadores dos-cêus. planetários. a Lua Cncontra- do" ,. pojs era "J que se estabelecia a .ligação entre toda$ as regiões
.sc no.scxtoceu e oSol nosctimo. O número 9 su 'tiluiu o númeco tósmi (§ 81),. a ttadição islârni . Mafainede (Mohâm,ued)
ruais an.t.iio de sete degraus; 1>0is, entre os urak:>-allaicos, a ''co- vê un1a escada elevando-se do templo de Jerusalém (o •·oentro"
luna do n1undo'' tem sele degrau.s3Ja e a árvore n1hica dos sete ra por cxcelêncin) até o Céu. oom anjos à direita e à esquerda: era
tuos simbo&za as regiões cclestesll-t, A ascensão da bétu}a eerimO· pOI' essa escada que as alma! <los justo$ subia1n até Deus129,
nial eq_ui,1a.te à asceosâo da árvore mhica ((l)e se cocontra no cen- Dante \tê tambtm, no céu de Saturno, uma escada de quro
Lro do mundo. O buraco do topo da tenda hl-entifica-se co1n o or.,_ Que se eleva de n1a.oeira vertiiloosa até a ilJLIJn.'l esfera celes,e e
ficlo siiundo eo1frente da estrc.la polar e pelo qual se pode efetuar peta qual subiam as almas dos bem-aventurados!W. O simbolis-
a p<'Wagem de um nh·el cósmico até outro Jzn. O oerimonial n10 do "degrau", das "<Seada · e das •·ascensões" Foi uunbé1n
real.iia•se, por1anto, num "oentro" (i 143). con,secvado pela ttadição crisut. São João da Cruz representa as
A mesina ascensão realiva-se por ocasião da iniciação xamã- fases da perfeição mJStica por uma Subido dei Monte Co.r111elo,
nica. Entre os buriatas, nove árv<>tts são colocadas uma .lJ)ÓS a e e&emes1.uo ilustra o seu tratado 001n U)na ntontanha de lon,aas
0011a e o neófito sobe sti o alto da que fica em nono lugar<. pas- e. ftlSl:kl.iosas subidas.
sa !eguidamente para o topo de t-0das as oui.ras. Coloca-se tam-- Tqdas as visões e t0dos os êlaascs misticosçomprccndem uma
b<m uma bétula na tenda e fa,-,. com Que o seu LO passe )lclo subida ao ao. Seaundo o 1es1emunbo de Porfirio, Plollno co-
orlffclo superior: o neófito sobe, de ewada na mão, ate aparecer nheceu estedeslwnbrame-nto cclesl'e por quatro vezes durante to·
no exterior da tenda, realiza.ndo assUn a p..-1eru para o '11timo do o tetl)J)() que viveram juotos'31. s«o Paulo foi tan1bê:n1 eleva•
céu. Uma corda liga a bCtula da tenda às outrá.s no\'e bérutas, do até o te«.eiro d u Jll , A doutrina <la asicensão das almas aos
e sobte es,a corda sào suspensos: pedaços de algodão de- várias sete, céus - quer na iniciação, quer· /)0$1 n1orlet1t - gozou de-
cores, os quais representam as re,gâões celestes.. A corda chama• hneosa popularidade nos \lhhnos sécnJos da Atltiauidade. A sua
se "Ponte" e simboliza a viagem do xamã ef«uada com o lim origem oriental é inegávct'33, mas tanto o orfismo como o pita·
de entrar na mdrada dos deus,es3lt. i;ori.smo contribuíram muito para a sua difusão oo mundo &[eco·
O xamã realiza uma ascensão semdhanle para a cura dos roinano. Essas uadlçt,e,f serâo exaro.i.u da$ n1ais escla,eoedora-
doentes que ,•ê1n pedir assist ncia m . As viagens dos heróis tu.ré 1ncn1e em outros capítulos. C\•ías foi oon\1enieateassinalá-la..,; neste
mongóis ao Céu se, asse.neU>a.in cl:\ramenh aos ritos xamani con1exto, ,•isto a sua justifteaç-i,o última cncontrar se oo caráter
tasm. Segundo as cr<-nças yakutes _. existiam outl'ora xa.1.nãs que ia.grado do Ctu e das rea,:iôes superiores. Tríaroos tnoonlrá-las e1n
subiam efetivaineute aos céus; os c:spcctndorcs podiam \'ê-los pla- l)úa1quer conjunto religioso, qu.alqUC'r que seja a ntancira corno
nar acima das nuvens. em ompanhia do ca,•alo sacritícado324• fossem valorizada$- rito xamanista ou tito de iniciação, êxtase
No tempo de Oenghis-Khan, um reputado xarnâ mooiol 1er se• n,Jsaico ou vls!o oofrica, ntito escatolój.leo oo lenda heróica -
la elevado ao Céu etn ci.ma do seu corcd. i·?S. O xamã o tiak canta ! as a.Kénsões., a tubidâ de montes ou dc.cscàdas, os vôos sig-
TR/ITADO DE HISTÓRIA OAS 11.EUOIÕES o CEU: DfiUSes Uk.Af'I/At,.'(>$ 99
11i{ic:aran1 Sffllpre a transcendettcia da oon<Ução htuJlrul.l e a 1 » r'iência religiosa -da humanidade: é que estas figuras divillas lêm
netrnção nos níveis cósmicos superiores. O simples fàto da ''levl- tertdê1)cia a d(SaJ)aNcer do culto. B1n parte nenhuma descmpe-
taçiio" cquivak. a u1na consagtaç:lo e a uma divinização. Os as- .nham um papel pr ominante, foram afastadas e substirufdas por
celas de Rudra "seguem pelo caminho do ,•enlO. pois os deuses outras forças religiosas: culto dos antepassados, e.spirit1» e deu-
entraram ne\es••3!4, Os l0$ues e os atquimi$1as indianos elev.am- ses da na1oreza. detnõctios da fec:uodida.de, grandes deuses, etc.
se no ar e: percorrem em alguns iJ1sra11les dis âncias oonsidc!"'· é notável que C$1asubstituição se (aça scmpretm provti.10 !1m_a
,·tis'"· Poder vo.ir, possuir asas, torna·se a 16,mula slmbóUca forca religiosa ou de uma divindad mais concreta. mais dmam1·
da uanscendência da condjç{lo hu,Olrola; a capacidade de se de· ea, n1ais fértil (pot e}(emplo. o Sol, a Ot·ande Mãe. o us .M -
var no ar indica o acesso às r-elllidàdti Ultimas. EvidenJtmel)tC cho, $ . ) . O vencedor é sempre o representànte ou o diSlObu1-
até na fenon,enolQ$la das n.5(}es perslste uma disllnçno radi- dot da fecundidade: oo sej;i, em. úllima anâlise, o rellresentante
cal entre. a experiência religiosa e a iécn.lca co:igic - um santo ou o distribuidor da vi(lo. (Até a crença dos n1orcos e dos demô•
é ''arrebau1do" a0$ CC=Us; os iogue:s, os ascetas, os n\ágicos nios se redu2 so desejo temeroso de que a vida não venha a ser
••,·oam'' de"ido à eficiência dos seus próprios esforços. Mas em ameaçada por estas forças hos:is, que devem ser se1npre.eo ju·
ambos os casos é a oscensõ.o que os dl&tinaue da sra.ode massa radas e neutr.t.lizadas.) O sentido profundo desta subsdtu1çâo
dos J)fOfanos e dos não-iniciados, pois· podem ixnetnu t\as re-- stu<, h· nos•á quando tivermos ocasião de e:-:antinar os valore$ re-
giõe.s ur.mianás, .salutadas lje sa&rado, e. tornar-Se' semelhantes ligiosos da "ida e as fun9(,es vitais.
aos deuses. O seu contato cont os espaços oelestes diviniza-os. d) Em cc.rtos casos, sem dú,·ida devidos ao a.pa.recinteo10 da
agrlcuhura e das religiões agrárias, o deus cdeue. reconquista atua-
lidade como deus da atmosfera e da ten,pestade. C\1as esta '•espe.
35. Co11tl•sõ - Rec.apitulcmos: ciali:i.1ção", que. lhe confere múlti.plos prestigios, ao meSmO lempo
a) O Céu ,n sf 1nésn10, considerado com<> abóbada sideral
4
-
10., TRATADO D e HJSTÓRJA DAS REL!GIÔES 0 SOL E OS CULTOS SOLARES 105
curso de périplos e de migraçôe$ selU finl, o culto do St,1 e, oo turas mentais (•'primhiva" e "moderna") cm prc:scnça dás. mft·
mcin10 t.em1>0, os princípios essenciais da éivili:uu;.ão. Dcixare· qifestaÇ<Sc.s dos modos Junart'$ do sagrado se explique pela .sobrc 4
mos dt lado, corno temos feito até aqui, a questão d:i ... história". vivência, até no hori1,0nte ds mentalidade n1ais declaradan1e-111e
Limitemo-no$ a constaur que. ao con1ráclo das ri.goras de eslru- racionalista, daquilo a que. se·ebamol1 o ''regime noturno do CS·
1ura <:eleste cujos veslfgios enconuamos quase por todtt a parte, pirilo". A Lua visaria então uma <:ada da consci.@ncia huma·
as figuráS di\'inas solares· são -pouco freqO-entes. na que o mais corrosivo r.icionali o seria incapaz de atacat.
Voltare1nos a el em breve. Mas é prct;iso; antt:s, evitar um e um (alo qui: () "regime <liuroo do e,spfJito" t dominado
erro de perspectiva, que p0<kria toma:r-se \•icio de mC'todo. Que- pelo simbolismo solal', quer dizer, cm grande parte, por um sim·
remos lembrar, por um lado, (lucas figuras d.ivbl.3.S sola1es (deu- bolisn10 que, se nero StnlpN ê factfcio, é muitas vezes o resulta·
ses, heróis, e .) uào esgotam as hie.ro:fanlas solares nu1is do que do de \lma dedução racional. l w ntio quer: dizet<1ue todo e: quaJ-
as Oulr figuras c::otam as ropectllii'as hierofanias.. E de\-e,.,SC q_utr ele:o.let:llO racional da$ hierofaniiU solares seja. ao meSlno
saber, por outro lado, que, ao co.otrârio das oou-as hietofanias tempo, tardio ou artíf.lcial, Tivemos ocasião de \·cr que a ''ra-
cós1>licas. cais co1no as da Lua ou das á.guas, a :1acralidade e.'t· zão" não estava ausente das hierofanias mais atcaicas., que a ex 4
pressa pelas hierofanias solares não e sempre 1ra11sf){Jrentepara periêncla religiosa uâo é _i.LlCOlnpaivc:1 o priori com a irtteligibili .
u1u «Pirito ocidenral moderno. ·laLs ei.:.arainente ainda. o (luc per· dád-e. O tardio e: o anificial to pritn.,do exclusi,•oda razão, por-
manece transparen1e e. portanto. fácilmente acessível numa hie· que a. vida religiosa. quer dizer, para nos limitarmos a WlUl. defi-
rofania solar e tão·só, na maior parte· dos casos. o Nsk.luo dum nição sutnária. a experlência das cra1ofanias, das hicrofanias e.
lo.ogo processo de erosâo rack>,,alista, resíduo que chega atê n6s. das teofanias, mobiliza a vida 101al do holne1n e seria quim<;:rloo
sem que o saibamos, pelo veículo da linguage1n, do oostutne e querer tstabdecer fronteiras entre as diíCJ"Cntes regiões do espi.ri•
da cultura. O Sot acabo por 1oroar-se uLn dos Ju,art$-oomuns to. As hittofanias arcaicas do Sol ooru.tit.uesn, a este respeito, uco
da ''experlêncja religiosa indjstfnta'' n.a medida em queosimbo· excelente e)Cemplo. Como \•crem,os. elas revelam. UUla certa inte-
lismo solar se. viu reduzido a nãc;> ser mais do que uma utensila• ligência global do rta/, sem deixarc.m de: revelar. ao mtsn)O te1n .
aem b:tnaJ de ,u.no1natl.slnos e estereótipos. po,·µma estrutura coertnte t inrelig(vel do sagrado. r-.1a.s esta in-
Não é nossa intenção explkar as alterações que afetaram, tC\igibilidade u$o pode reduz.ir-se. a uma série de "verdades ra,.
na experiência do homffll moderno, a Pl'Ól)ria estrutura da hie- clonais" e"identes e a uma ex_pel'iência não hic:rotãnica. E: em-
rofanla solar. Por isso nâo ptocutaremos determjnar em que me- pli.fiquemos: por mais radicais que sejam, nwua a.1>rccosão total
dida o importante papel a.uron6mico e biotôgko l'CConhocido ao da yida e da realldade, as rclaçÕC$ entre o Sol t âS trtvas ou os
Sol no decurso dos 611imos séculos nào só modificou a pos!Çúo n,onos, ou aindá o binômio especificamente indiano ;;Sol 4
do homem moderno perante este astro e as relações de: expcri n· serpente". não se segue dai que .scjain trânSt)are,ues nu1na pers•
eia dirc.ta que pode manter com e.te, con,10 tanibém alterou a pró pe,ctiva pura1nellle raciona.Lista.
pria e:mutura do simbolismo solar. ·s.."lstewnos sa.Uentru uni fato:
a orientação da ath·ídade. mental a partir de ;\ristó1ele.s contri-
bui\!, eLn larga medida, para embotar a nossa recepti\•idade para 37. SolarWlção dos stres supre1nos -Salientamos, no capi-
oom a totalidade das hierofaiijas solares. Que. esta no\'a orienta- tulo anterior(§ 11), a tcndê1lcia dM ressupremos de cs1rurura
ção mental não anula necessariamente a possibilidade da expc· <:eleste para desaparecerc1:n do primeiro plano da vida retia;osa,
riência hicrofllnjca e1n si mes1na. tentos a prova dJS$0 no caso da dando lugár a forças má.a)co-reli&iosas ou a figuras divinas mais
Lua. Nioguém sustentará, com efeito. que o homem moderno é, ati\'M, n1ais eficazes e, de maneira getal. mais di.retame.otc- rela·
ip.w focfo, impc:m1câ\'ei às hicrofanias lunares. Pelo con,rârio, clonadas coln a ""ida". Com efeito, aquilo a que se chan100 a
a coerência dos simbolos. dos n\itos e dos)itos hlLla1'CS não apre- ociosidade dos seres supren\Os uraniano-s rcsume4se , cm Uhin1a
seu1a para ele 1nenor transparência do que para um representan- análise, à sua aparente indiferença às vicissitudes, sclnpre mais
te das ci\'Uizaçõcs arcaicas. Tal\'CZ. esta afinidade da.s duas estru- intrincadas, da vida humana. Por mo1ivos. de proteçâo (contra
106 1'MTADO DE H!SrôRl,t DAS REUOIÔES O SOL E OS CULTO$ SOLAJtt:S 107
as fo1ças adversas, con1ra o des1ino. etc.} e de ação (oeoessidade nilo o csqucçaQ)Os, pela mhcti,ca da sober3nia. É assim q11e as ca•
de a.sscgur r a subsistência pela magia da fertilidade. etc.). o ho· madas .arcaicas das cuhutas primitivas denunciam j4 o movimento
me,1 seu,e-.se màiíi atraido pra outras ,;formas" rdigjosas. das de transfcréncia dos atributos do deus uraniano para a divinda·
4. sscdcscobrecada vez:matSdepcttckn«:: aocep dos, heróis, de solar, assi,n co1no a coakscê.n.cia do ser supre1no oom o deus
c1vih2adores.: gl'Mdes deusa">, íor s mág!co-religiOS!ti(rnat:(I) cen• solar . O arco-iris J tido em tantos lugares (i 14) por uma epifania
,ro$ cósmioosde-fccundidade(Lua, águas, \•cg_ctação). Assi . ob- uraniana, acha-!:,e amc.iado ao S,ol torna•se - e,lltfC os f\legja.
servamos o {enôoleno gtrnJ - nR 9tca indo-mediten-inica - da n<>s, por x 1nplo - o "irmão do Sol'''· Omúmente traia-se d•
subs1itui.f-ão da ti.gurasuprcm.:i uraniana por urn deusa1mosférlco relações de filiação entre o deus supremo de estrutura c:clestc e
e roc.:undador, espc>sô ltlUilaS \'CZCSOUsimplesLnente acófi to, subor- o Sol. Paro os pigmeus semall,8:, <>sfuea;ianos e os boschímanes,
o &I é o "olho;' do de.u&iupremo1. A (ndja "6dica e outras re-
dJnado, da Grande Mãe t.chirico•Jun.ar•vt.getal e, por vezes, 1>3ide giões oferecer-nos-ão um processo análogo. Entre o.s witttdjuri•
um "deus da ,•cgctação".
A passageni de "criador" a ''fecundador'', o deslizar daoni- kainilaroi do sudoeste da 1\ustrál.ia, o Sol é vi&lO co,no Crogora.
gally em pessoa, filho do criador e figura dh·lna favorâ,•et ao
't>?ª· da transc-cndêocia, da iJnp.assibiHdade uraoianas para o homem'; mas, i;em duvida por inJluência do m"tl'iar do, .'I Lua
d1nan us:mo, pa in,t11sidadc. para o dran1atis100 dê'.!$ figuras é-lida por seatwdo 11Jho do ser so.premo'. Os s.woiedos ,·ôem no
a1t1?osférkas-(ertil1zanlC.'i·\'egeirus nào deixam d-eser significstivos. Sol e na Lua os olhos de Num {-=c'Cu): o Sol Co olho bom, a
Deuam entrever, por si sós, que.um dos principais fatores da de- Lua o olho mau"'· Os yuraks das tundra, 11;.1re,aiâo d.e Obd,orsk,
S:ª açâo, ma!s óbvia_ n sociedadcsag l'fcolas, das concepções da celebtrun u1na grande fesla no in ..emo. à primeira aparição do
d1v,ndãde é a 1mportanc1a seolpre crescente dos valor Yitais do Sol mas oferecem um sacriffQo a Num, indfcio do carácer orlai•
••\·ida" no bori.z.onle do homem econômico. E. para nos.limi nar.iamente ce e da so.kmidade. Entte o.s yura.ks das rtgiões das
OlQSàárea indó-medit.crrãnica, é interess.'lnte verificar que. 0$ deCI• floreslas (\Vald-Yuraken), o Sol , a tua e ·•o pássaro do raio"
se$tupre.m<,>i; mcsopo1âmicos acumulam frcqücote1uen1eos sorti- são os símbolos de Nu111; a árvore d.a qual se suspenden>. à a:uls3
légios da fecu»clida<lecom ossc:ussortilêaiossoJares. farduk êdisw de ofel'enda. beças de aoin1a:is toem o nome de ''áryorc.do Sol".
o exemplo mais no1ótio2:esta ructeristica mcontra se cn1 outros ainda que originariamcn1c este sacrifiçio fosse privilégio de
deuses do nu!'S1no tipo. quer dizer, cm deuses ent vias de tttem acnso Num 11• .Entre. os tchuktcb<:s, o Sol substituj a <livU)dade supre--
à suprei-nacia . Poder-se-ia mcstno dJzerqu.eesias divindades da ve,. 1na: os princlpajs sacrifícios são oferecidos aos bons cspírito..<1 e
getação denuociam a ooexist nda de.atributos solares na medida
cai que os elemeruos vegetais figura1:n na n1Cstka e no mJto da so· 'i4?breludo à luz do Sol. cgundo -Oah,. a introd o do cuJto do
bel'ania divina'. l ent todo o norte da Asia seria obra destes ntesmos tchuktches
e dos yuk aghiri .
.Est.'1 coojunçâo dos elementos i;olarcs e vesei.ais explica-se cvi·
denl ne te peto papel o:traor ioá.rio do soberano. tanto no via•
no cosrruco como no plano sooal, na acumulação e na distribui. 38. África, lndonési:1 - A wl:;iriiação do ser supremo
ção da "vida''. Assim, pois, a solarização progressl"a das divin- uraniano 11 é um fenôrueno bastaute freqUet11e na África. Toda
dad oelestesoorresponde a.o mesmo prOCC"SSO decrosãoq11econ- u1na série de povos africanos dá. ao "ser supremo" o nome de
duz1u, cm ou1ros contextos. à transfonni.çãn des,asdivindadesce. ..-'So1• 1,. As vezes - e o caso dos munsh - o S<>l pass.'I por ser
lestes eu) deus,es aflnosféricerfecundadores. entre-os hititas, por o filho do Ser Supremo Awondo e a Lu<"tpor sua filha14• Quan-
e.xemplo. o deus celeste apreseuta•se, já t1os tempos históricos, n\lm 10 aos ba·COtse, faum do Sol a ''morada 11 do deus do Céu, Niam-
tstado bastaote avan do de solarização", e, c,n relac.\o coro aso- be, e. dá Lua, sua mulher 1'. En.trc out.rQS povos assistimos: a uma
berania cósu!ioo·biol6gica, provido pois dedemenlos 1·,·egetais"
tm oonform1dade com a fórmuk1: d.etis-rêi-ár\·ore de vida!. imitação do dens celeste ao So,J por coa)es('ência: para os lou-
Yh por exemplo, Nian,be to Sol16 epara os ka,•irondo o Sol
O fenôm.!1)0 ê, de r.esto, muito mais freqüente e mais auU30
o <l\lf deixariam e-ntrt\·tr doc:-umcn,os. orientais. dominados . substitui o culto do ser supremo 17• Os kaffa chanwn Abo ao ser
-
108 7ólt.4111.00 DE HISTÓkl.t PAS kêLIOIÕES () .WL· I! OS CULTOS SOLARES 109
suprellH>, o que quer dizer ao tnesmo tempo ••Pai" e "Sol''. e do culto. Recebe sacrifícios de bodes braocos ou de aalos bran•
inoorP()!'tlll•OO no Sol.. Siegu.ndo um dos 1nais l'éeenlcs eipecia.ljs,. cos e, no mês de agosto, por ocasião da colh('ita do arroz._. lhe
tas deste poYo, F. J . Biebet l*. tsttt solari é :.penas wn e-r sãô oft.récldas prltn(ciasU. Casado c<>nl a Lua, ê con$iderado o
nôooeno latdio e Ato era, 01iQina1jamcn1e., i.am ••Liçluioa .oder autor da criação c6smica, ainda que.o seu mito cosroogô11ioo fa.
Hünmels$0(1 ". ça intervir, na qualidade de demiurgos $Ubordinados, a tart.aru-
Ê iJlltresnnte ve1ifJCúf Que-a solari o do deus supremo -ga, o caranguejo e a .sansuessua,a. sucessivamet1te encarreaado.s:
africano não consegue que ele coosetv uma poderosa atualida- w r Sing-l;>Qng de trazer terra do fundo do oceano'?>.
de ua vidl religiosa. Assim, cnrre dh'el'SOS pô\'Os bantos da Áfri. Os po,•os kllond da província de Orissa adoram como deus
ca oriental e tlll partiéllltlt entre- 0$ dsc:ba (lo l<ilimandjaro, supr('mo e criador Bura Ptnnu ("deus da luz i •) ou Bela Pennu
o ser suJlrcmo t Ruwa (o cermo.signií,ca •·sol"): h.abita. de fato > ("deus do Sol"); o proce$SO de solar.i.zação cncon1ra sólida COn·
o So), mas oonscrva ainda e!«nc1uos lll'ttniaoos e-, sobretudo, a firmação no catácer benevolente e d certo modo 1>assivo dma
passividl!dt caraaerísdi:a doo deuses ura1Uanos; ta1 como eles, Ru 4
di,•indade: Bc-la P('nnu não figura no eulto?.4. Os bi.rbocs de Cho·
u•a não pos1,1i um cul10; é tào.só nas situaçôc.s ex.1re1n.a.s que se ta Nas1>ur imolan1 ao deus do Sol, sua divindade suprema, gali·
lhe ofet'ceem sacrifícios e $C lhe dirigM'l prcces l' . nhas-e bodes branoos, en1 especial en, êasos críticos ou para asse•
O mesrno jogo de rubstiiuição se a,cha a.a. Jndonésra. Puê.m- .surar 3$ colheitas. Como seria de esperar, foi sua inserção no me.
palaburu, o deus solar dos toradja, toma pouco a pouco o lutar qinlsmo da "produção virai'' que rei adquirir cç-onservar a ''atua·
de l•lai. o deus éc le.ste, L'1lja obr cosmoaônica ele continuaw. O tidade'' de culto. Diz.em-no elaramenle as preces que lbe sào di•
deus solar é a3sim promo\'k!O a d('ntiurgo, tal con,o na América; rigidas por ocasiã<,> das libaçõeii; e dos sacrificios. Quando nasct
elltre os tlingit, po; exemJ>lo, ,·ctuos o demiurgo, sob a Conna de uoiacrlança. o pai oferece uma libação de água e., de rosto volta
corvo, Jd.:ntifica1-se. ao Sol e receber do de·us c('le!tc- i.t1prcmo, do para o Oriente, pronuncia as paht,•rrus: ;'Oh! Sing-bonga, eu
de que é subordinado Ol• fillio, a missão de co(ltiouar e de c.onsu. (e faço esta libação de água. (: z. correr o ki1e. dos seios da toãc-
máf' a obra de criação começada Pot e1e1 1• Surpreende-se aqui dtla oomo corre esta á3ua que aqui vês!"lf E para ass tirar u1na
o elen1en10 (/11ui111lco e ôrganizador, que. incorporado pela di\'in_. boa,colheita de arroz.o chefe de. famtUa oompromelé·:sé' a sacfifi.
dade solar. corresponde, t:01. outro plaoo, ao ekmeuco /ttunda· e.ar utua galinha brat1ca: "Te p1'0meto, oh, Sing bon.i;a! fa2.cres-
dor dos deuses atmosfêricos (f "26). Mas; tal como esres, o deus « r os grãos e cu t(' farei o Cflfício desta galinha bronca no ,em.
5-0lar nào, t:rll,dor; como elei, acha•se ubo,·dinado ao criador poda debulha.•· DePQis, deixa a galinha branca e imola uma ga.
e m:ebe dele o mandar o IXlfa 1enni.Jiar a obra da cria,;ào . .Etu COúl· llillla prtla. A <1a1;, do sa<rl!lclo. ilõ dia da lua <hci• do mês d<
peosação, o d ll1iurgo solar apodera-se daqujJo que a m.aior par• baishak (abril·ntaio), não deixa qualquer dúvida aoe,ca da sua
te dos dcusessotarts, quesubstiruiu o se1 supremoeele.1.te. ou com intenção: a aalinba neara ê oferecida ã df\'lodadectónico-agrãria,
ele - fundiu, não conse:guiu obter: a atr.10/idude na vida relí,a:losa qut. tem a jurisdição supmna sobre a fecuncUdade do sotol6. O
e no 1ni10. Bastará lembrar o lugar c.1.i,i.t.at desempenhado .pelo cicemplo Ctipico das ,•icL,;situdes sofr:idas pelo ser supremo sola·
c.orvo na mitologia no1·te-americana e pela águia - substituto ou rizado: I?, substiiuição da íig\lra celeste. ooJpotcntc C·criadora
pe-lo Sol, cotao ser tuprtmo: 2 , presença do deus solar lO cuho
simbolo do Sol - na mitolos,ia árcica e norte·asiã1ica. devido em especial às suas \'irtudes fecundantes; 3!. prcscnça de
eficilcia, uAo inf\'.!Uvel apesar de u.>do, vis(o que o fiel se previne
ao invocar ao mesmo cempo o favor das forças lunat•c1ônicos,.
39. Solarização entre()..' 0111od:1 - O melhor exemplo de so- agrárias que comandam a fecundidade universal,
la1'i'f,'l.çâo do ser ;uprt.mo nos é fornecid,o pelos povos kolarianQ.$ O Sol éis;ualtneoLe o ser suprelnc, de um outro povo munda,
da lnd.ia. Os mund;1 de Bengala colocam à cabeça do seu pan- os oraon, qut lhe dão o nome de Dharmesh. &:m dúvida sua prlo•
Leão Sing-bong . o Sol. Um deus doce que não se intromecc nas cipal preocupação religiosa é. a de apaziguar os espíritos, bhu/J1,
coisas dos homens. sem que por isso esteja inteirarnente ausente mas - conto acontece oom as divindades uranianas - , quando
110 TRATADO D.I! HlS'lóRIA DAS R.ELJOIÔBS OSOL.EOS CULTVS SOl..itfeES lJI
o socorro das outras forças mãgico-rc:Ligio$8$ mostra ilusório, tem. o nome de Upulero. o "Senhor Sol'', lambem aqui o deu.;
os oraon voham-i;c para Oha.rmesh: ''Nós 1eotamos ludo, mas wlat conservou a vitalidade graças à sua trausformação em fe•
temos a ti para nos socorret!'' E sacrificam--lhe um gato branco, cµndador. Com efeito, o seu culto pode· ainda acusai· alguns vcs-
e,,:clat't'1.1.odo: 1 '0 h, Deus!, tu és o nos o criador. Te,u piedade de tigios da sua nobteza e pureza origin.ais:, pois não 1em imasem
nósJ"?a Pcsqui/i.as rcoimtes mostraram. por uro lado, a <:xi:s.tên- e ê adorado sob forma de luna lâmpada feita de folhas de co-
cia nos povos munda de um deus supKmo aulôctone e autên1ico queiro. Isso não impede, no 1an10. que. todo o ritual se con-
e, pOr outro lado, a data relativamente tardia da S\IJ evi,cç o pe- ce.iuµ na conjuração da (ecuod1dadecósru1ca. Uma vez p0 ano,
las divindades.do Sol e da Lua. SeguoJo 'Doddl.ng, a coalcsdocia no começ.<> da estaÇão d.as chuvas, realiza-se a v,mdc solenidade
do deus supremo santa.li, Thakkur, com o Sol (o ser supremo de Upulcro: dura Ul\\ 01ês e tem Pot finaJidadc as ura a chu-
chama-se-. também Chanda, "Sol"} seria iaoa.lmen1e bas1an1e tar- va, a Cettiljdade dos campos e a riqueza da oomun,dade. É en.10
dia. Rahn-..au dedioo.u se. Por sua v n . a seguir a solariT.açâo e a que ..segundo a ci:ença destes po..-os, .o Sol dcs(:e a ll)na figueira
lunarizaçâo dos setes supremos nos povos gand e munda. Enfim. par Jca1ndar a sua esposa, a Terta-Mâe. Pura lhe raciU1ar-a -
\V. Koppers, nun1 notávcl estudo COD>parativo , procurou de- c.idã, pôe•SC na figueira uma escada d e ? ou lO degraus (n:1enc10·
1nonstrar ao n\eS1no 1ernpo a autcl:otk.idade dos se.rcs suprcn1oi oamos attá.s o sfntOOlo ocleste das.esc das de 1 dC3,Caus. cf. § 31).
oos pC>\·C>spté-dra,·idicos e prC-arianos e, uroa poss(veJ inOuêncla Depois junto a esta mesma figueira, rtalizan1·se sacrifícios de
das suas concepções religjosas sobre os i.ovasores indo-<:u- poroos 'e cães e, por fint, no meio de cantos t de da.nças, u,11!ª
ropeus,10, orgia ooteti,•a, característica indubil.áveJ de uma míSUC;,\ -a.grana
(§ ti38). As prccei prootinciadas na asião atestam a funçâo de
fecundador e de depositário dos rec1,1nos alimeQ1ares que o Sol
40. Cultos SO:l1rts - Na Jndon<:sia ,e na peninsul:i de falac: agrçg_ou a si: .. Ob! Senhor, avõ-Sol, desoe! A figueira produ1lu
<:a. o culto·solar ê csporâdico. Já demos aqu.i a.ta.uns exemplos novos .rebentos .. , A carne d-0 porco c::.1tá pronta e partida e.m bo·
de solariz..1ç o dos seres supremos in.donkios (f :38). A ilha de t:ados. As barcas da aldeia estão carrc,sadas de presentes. Senhor.
Timor e 0 $ arquipélagos "izinhos o as ,lojcas excecõe:s. Se bem Sol-avô, ês con,•idado para o banquele. Corta e come! e! ...
que a vida religiosa.seja dominada, co1no de testo em toda a ln- Ve1n. Senhor, S0l-a\1Ôl Nós esperamacs que tu l\OS dês muito ma!-
donésfa, pelo cul10 do! mortos e dos espíritos da nawrc-za, o deus (im i muito ouro. Faz com que as cabras tenham <".ada uma dois
solar ainda conserva ali uma po,sição importante. Em Tin)or. Usi- ou três cabritos. Faz.aumentar o número dos nobres e multiplicar ..
Neno 1 o "Senhor Sol", é oe;;poso da ,;'Senhora TetTa''; Usi-Afu, e ó do po,,o. Substitui os bodes e 05 porcos n1onos oor outros
e o n>und<> inteiro oasceu da sua união. Mas a deusa da terra não vivos. Substitul o arroz e o béiefe. Bncbc, de arroz o.s cestos \'a-
deixa de reccber a pane maior dos .sacrifícios, de,•endo o Sol zios'', etc ... 11
coulentar« com unt \\nico arande $.l.erlffcio anuaJ, por ocasião
da oolheita'1• Na ilha \l.'c-ttar, ao norte de 'li mor, o .ser wpre1no
conserva ainda, apc.sar da sua solarizacâo; os traços de uma ts- 41. Dcs«ndênc:ia solar - llpufero pode ig,oo.lmcnte ter
trutU.L'a celeste primidva: chamam-lhe o ''Or-ande Senhor" ou o l'ilbos,.., Na ilhil de Tintor, alguns tbcfes inti!Ul31n-sc, de. testo,
·'Velho lá-de<ima" {cf. §§ 12 s.). Hsbita a 'llbóbada celeste e '.os Filhos do S0r·1 e pJetêodc1u dcs.cet\00 d1re1ameo1e do deus
tambC:m o Sol e encarna o 1>rincfl-ÍO tnasculino, enquat110 a Ttr- solar. fixe.mos tste tojto do Sol ctiac!">r do ho1uem e das. rel cs
ra ê fenlinina. Os autó<:tones tê.ln acerca dele idéias muito vagas iiuediatas _ . filiais, famili res - catre deus :iº) r un1a ce.rta
e só lhe ofer«em sacrificià;s cm caso de docnça 12 , sitltoma ind.L;,. cnteg.ot'ia de pessoas. Isto, no eat.'Ulto, nao é pnvllegio exclusivo
cuti\·el da retirada do ser su1:>remo uraniano do prúneiro plano do deus $-Olat': como tc«:mos ocasiã() de ,•crificar nos pitulóS
da atuaJidade reliaiosa. seguintes.. qualquer região cósmica - uas. Icrra, \•eg, ração
A. leste de Timor, nos .arqulpélagos Leti, Sermata, Babar e - pode arrogar-$e wna função iu1tropogon!ca; em Cíl a .
Tin1orlaut, o Sol considerado a divindade ntais impor1a;ue e tas cegiõcs cósmicas o homem pod,.;, cm ,,1rn1de· da d1alé.11c.l n,e-
lll 'l:RATADO DE IJISTÓRIA DA.$ Rí!Ll01Óe5 o SOL e o s CULroS SOLARES 113
rofãnu.:a. ideOOfkat a. ttf.lh'dodt al)soluta e- ao mesmo tempo a te ritual seguida da sua rcuurreição como Sol. Oro, estas parti·
m..,tri:: vrjmordial de q_ue lhe vem o, sei· e li \'ida. cularidades nao estabelecem somente que, na reli.alão de povos
Mas li() Cl$0 do SoJ esta gcnealôgia iodíca alio n1ais: traduz tào "primiti\·os'' cotno os \vltadjuri,,kamilaroi, o Sol se ache em
as rnQdificações consecotlvas à soJariJ..ação do. ser suptemo ou à estado de subordioação para com o S « Snpren><> e que se encon-
lrat'ISfcrmação do Sol em ••focundadort · e em "çriador especia. tre vinculado, p0r orden1 deste, à "$ah·aç.ão'' do homero por via
lizado'1, mooopalltado poc ccctas.sociedades humanas e até me$- de iniciação. Elas revetam, altm djsso, que o Sol pode ainda
mo-certa.1: familias, as dói éhefes ou dos soberanos, por exen1- sumir uma função import;mte no domloio das crenças fuuerârias,
plo. DeSia i:M.Oelra, na uibo australiana atUt\la, o Sol, que é do em tudo o que diz rt.speho à condição do homem ap6s'a morte.
sexo fcrn.illino. deiempenh..'1. um l)al)E31 mais imponante do que a Groaorafally aprcsmta à parte, ao set-sUprtmo, a !\ltna de cada
lua. qu.e é-do sexo ma5CUJino, no seotl<lo em que ê "olhado CO· defunto4 ; pôde apreseutá la C9JnO ji;i; iniclada, quer dizer, COlTIO
.mo tcndt> tda oes bem defini com cada um dos 1ne1ubros das tendo já conhecido a mort.e e a cessumiçâo e sendo ela mcmin
dilereotcs .subdjvisões rociais1•J6. E.c;tas eelações são igualmente um "Sol". O Sol toroa se assim o protótipo do •tmorto queres·
4
conhecidas doslori1ja37 e. dss tribos do sudesce . O que os au su!)cita a cada manha'.''· Todo um conjunto de- crenÇtlS em liga
tralianos consid.eram<:0010 "relaQÕes bem definidas com.eada um ção oom a iniciação e a so rattia - e às quais \'Oharemos den-
dos. \Uttnbros da sociedade'' (porque o homem enquanto,espé,:ie tro em pouco -deriva de$sa. valorização do Sol em deu.s (herói}
é uma criatu1a do pról)rio ser $Upremo ctles1e; wr § 12 $S.) que, sem coohettr a morte (como a coubet:ia, por. exetnp1o, a
tr-adoz•se, algures, cm relação direi@ de pai ou de avô da tribo: L.ua). au,1vessa cada noite o império da morte e rea_pareoe oo dia
p0rex. 1nplo, eo1:re os índios pês..prttos 1 ruapahos, etc.J9 Os kor· s.c:guinte, ele próprio eterno, eterna.mente.igual a si mesmo.
tu da l diaju.lgam.se frucos da união do Sol e da Ll1a<t0 . Volla• O "pôr do·Sol" não é pcrcebtdo como uma "mort.e'' (ao
roos a euoonu:ar o mesmo tipo de rtlaçôes nas soc.icdadcs evoluí- conlrário do caso da Lua durante" o s três dias de obSCul'ldade},
das, m.à$ restringidas oe&e ( 3 S ( ) ao soberano e às fanúlias nobres. i:oas como uma descida do astro às regiões inferiores, ao reino
No encruuo, na Austrália, as retaçôes entre homem e Sol stio sus,. dos n>ortos. Ao conuãrio da Lua, o Sol 3oza. do pri\'ílêgjode atra4
oepü'vd$, n,un oor.ro plapo, de uma segunda validação, a saber, \'essar o Interno sem sofrer a ruOJte. O seu itinerário ptedes.tlna--
:i identificaç.ão do homem 001n o Sol atra,1ês do ctrisnouiaJ da êlo pelas regiões inferiores tlào deixa, por isso. de lbe oonfcrir pres-
iniciação. O <:andidato, que pinta a cabeça de vermelho, amuica tigios e valências íunerãrias delas. Assim, pois. desde que. deixa
os t-al.x:los. e a. t,arba. sofrt \!111ª "morte" simbólica e rel)asce no dodesempcohar uma (unção de desct aque- no panteão ou na expe-
dia seguiritc ao mesmo teropo que -0 Sol; este dr.i.ma imciá1ioo riêoc a religiosa de uma civilizãcão, à IÍlUlõ dê'str sut)rfmõ sola-
assimila-ó ao herói solar Grogoragàlly, o filho do criador º. rizado ou íectindador, o Sol cevris uma ct-rta ambh·alência que
abre oovns perspectivas a modificações religiosas ulteriores.
Esl an,bivalência pode-ria ser formulada dn qufnle n1and·
42. O Sol hlero(ante e psicobomb11 - Este «clmonial aw.- ra: se bem que inlOttal, o Sol desçe todas as noites ao reino dos:
tniliano revda um nO\-'O ele1nento )mJ)Ortanle que nos- dá a solu• mortos: ele pode levar consigo homens e, ao pôr.se. dar·lhes a
ção do papel deseruocnhado pelo Só) nas diversas ãreas culturais 1norle; mas. ao 1nesn10 Jempo, ele pode por outro lado. aulaL'
e cm outr04 oonc.eN.tos hlstóricos. Certas lril>os .iuitralienas almas atravh das regi6es lo.fernais e oo dia seguinte trazê-las
niostrsram-nos o Sol en\ teL,çâo com cada membro da comuni• 1>ar.i a luz. Função ambivalente de cobotub<1 '"matador" e hie-
dade e.sn )XlnicuJru:. Nas tribos "'iradjuri•kantllsroi, que se encon. r-0fan,e iniciático. DaJ vem s crença, espalhada na No1,•a Zelân-
tram num tstádio ainda mais : uasado dô que os at'Unta e 0:1 lo· dia e na Novas Hébddas. de que. un\ siLUl)les olhar .$Obre o p6r·
ritja, estas: relações são de ou11a or<lcm: têm em .,.;saa assimilar do..SOl 1>0de provocar a n1orte 4, . O Sol attasta.oonsi.go, "aspi·
o lnlclado a.o hcról solar, filho do s,er SUl)(COOQ ccl-:stc. Pela ini· ra'--1 as mas. <J.os i\'OS com. s mc&rna facilidade com que gula,
ciação. o bometn 1orua•se assim, d certa maneir-a, filho do ser na quabdade de ps1copompos (psicobomba), a">almas dos mor.
supremo, mai1 cxauunente traosfor,na·sc nele graç.as à s,u3 mor· ,os peJa "Porta do Sol", a ocidente. Os habitantes do tstccito
114 1RA·TA.DO D1J HJ$TÓ.rU."i DAS R2lJGIÔES OSOL eos CULTOS SQL.-tRI:'S IIS
de TOJte$ cr(,cm na e.'C.stêntia de uma. ilha mitica e1113Jgum lu_ear Re,enhamos e a idéia de "escolha". de "'set,e.çllo", que os
a ocidetlt<' <liruu:1.da Kibu: a ''Porta do SoJ'•. O ..-en,oitn1>ek pa- rituais iniciáticos fuoerários pratk:ados sob<> signo do Sol impli-
ta ela as almaiõ dos m.ortos 4' . N3 ilha Hervey, os iodigienM pen- m. Lembremo-nos trunbên1 de que em diferentes panc$·do n1pn.
sam que os 11ortos .se rtC.ncm cm grupos e que, duas vezes por do.os chefes passava.1n por descender dirmuu:ntedo Sol: os che..
ano. por oc.asi!c:, dos sol íe:los, tcnlaim se3uir o Sol, no momen- fe:s polinési.ossi, os chefes dos povos Natchez e inc l. da mes-
to em Que se põe, para desc« M reaiões inftriores4s . Em outras ma forma que os rt:=is hi1i1as (qualificados "meu sol") ou babilô-
ilhas da Polínêiia, o pcln10 mais ocid lal do tcrri1ório chama--se nios (cf. placa'> de pedra de- NabO-apla-iddio), ou o rei indiano'!·
" o lugu onde salta.m as almas"-«>. têrn ó no1ne e a qualidade de "Sóis" , "Filhos do Sol", "Netos
l\.{\llto difundidas acham tàll)bérn na Oceânia as crenças do Sol". ou eo1ão encarnam o Sol oo s,eu corpO 1nfstico, oon,o
segundo as cruais os mortos acompanham o Sol no occ.1no, e são e o caso do rei indiano. Entre os pastores africanos masa.i s.c . 3.\.-
te.vad.os em 'b1.rC<'IS .solares''. ou as que itutun oo poente o reino slLn como n,.. Polinêsia» . os chefes sâo os Unicos que podero ser
dos m0ttos'*f. O dOOno das almas que mergulhá.ln no poente n!l.o identificados, após a sua morte, com o So). Em suma, "C$Colha'',
é, evi,dentcrnente, 1,tnjfonne; nero todos conbeccm o que pode- ''seleção" operada, quer pelo ri1t1aJ dt:= inicla ão da sociedade se-
rfamoscharoarde n1odo aproximado a ''salvaç!io''. E.então, CO(tl creta, quer peta iniciaÇllo automática <1uc a sobeta.roa como ial
efeito, que inter,·ém a v-irtude soteríoló$iCa da iniciação e o pa- coiwitui. A rclig.iâo solar t:=gipcla constitui a este respeito um exem-
pel das sociedades secrcw, paro es,::ol.h('r os eleitos e separã·los plo ideal e nt cce qoe nos drteohruuos nda por a.lgum ,e1npo.
da mas.sa amor-fa do colnum dos ooorw.is (separação manifesta
oa n1ística dnsolletania e dos "Filho!dO Sol''). ASsi1n, nas ilhas
Hc,vt)'. só os que caíram em oomba1.c são ltvados para o céu pe-- 43. Cul1os snlart. tgfpclos - lais do que.qualquer O\Uta,
lo Sol; o ootr<>s moct .s!o devorados pelas dlvindades iníet• a.reliaião egipcia íoi dominada pelo culto solar. Desde a Cpoea
nais .õ,karauga e Kiri.r3. antciga o deus solar tinha a,bsortl.do divc.rs.as divindade$, tais co·
A dico101nia htról ou iniciado ,e rnortó J)()r via nal11ral tem mo 1\tum, J.ló11.1s e o escaravelho KhipciS6 A partir da quinta· d.i
um lugar oonsiderâvc.J na história das reli&,iões: e ttre1nos de vol- nastia o fenômeno ien.eraliz<t-se: numerosas divindades fuodem-
tar a ela num capítulo ccial. Por ora, de roos mencionar que se com o Sol e dão asslol origem às fi9, ras solatizadas Ch.nunt•
hã muito se <>bSC1'1ou na mesma área oceflnica o p:i.ralclismo en• Rá. 1in-Rá, Amon-Rá, ctc.:n Não temos de óe<:idir, aqui, entre
tre QJ çirac1cres do culLo sol::tr e o culto dos antepassados. doís as hipófeses rivais de Kecs e Sethe a res()(!ito d-'S orig-ens históri-
complexos 1eligi0$0S q_ue enconttanll expres$.\O .;o1num na ereção CM d doutrina solar. Admite.se, cm todo o caw, que o ap<>geu
de 'monu1net\(OS 1T1cgalítioos4?. Por outro lado, Ri,•ers d taca u:i. desta dou ui na se situa na quinta.dinastia e que o seu sooesso pr<>-
Polinésia e na MicronCsia cortespolldências dttenninadas entre vém ao mes1no tcmpO do reforço da noção de-soberania e dos
il distribuição dos monumentos tuegalitiCô$ e as sociedades esforços dos sacerdot de H.erópolis. }l.1as, como parece pro"ar
secretasw. Nlas os monume.nos n1egalícioos acham- sempre ei» um certo n'Õ:mcro de pesquisas recentes, a supremacia solar foi
rdação com o culto solar. Assin,, nai ilhas Sociedade, os1ncg31i- preocdida pela de outras fls:uras di,•inas, mais anliaM e mais Po"
tos (marae) sào <>rieutados para o Uva.LUC, tal é01ilO o nanga fid• pulares c.ambctn, no seritido de que não pertenciam exclusivamente.
jia110. enquanto nas ilhas Baoks existe o costun1e de un1ar um a grupOS pcivilc!,,'làdos-.
mcgalito com argila vermelha, para que o Sol blilhe de novo. Cut- Sabia-.se, desde há Oluito, que: Sbu. deu.$ da atmosfera e p0r-
to dos anlepassados ( • nlortos), s,ociedacks secretas e, p0na tan10 originariaroe111e- figura uraniana. tinha sido, posteriormente.,
to. iuiciações de:,,'tinadas a gar::i.nt:ir a nielltor sorte após a morte. jdentific."ldo com o Sol. l\'Jas \\'ainiwright rct-onbec.eu, por seu Ja-
culto sol;lr, por- fim: esics t s de1ncntos, dependendo de sistc., d-o, cm Amon uma velha divindade do Céu, e H. Junker, por' OU•
mas à primelm vista incon•1tni\•eis. s!\o na realidade solid:irios: tro lado, julgou ter dcscobuto um antiqüí.ssimo "Allgott" oeles·
eJes coexistem já vjrtualmente nas bit.rofani2s solares arcàieas, te.em Ur ("''), cujo nome significa. " o Grande''; e:m certos casos,
corno, IX)r
· t"mplo .i na Austr{i)ffl, Vê•sc Ur tomar oomo esposa a deusa N\n, .,a Grande" (wrl). de
·
··- j
116 TRA T,.ll)() .Dll lllSTÓRIA DAS ft}U./GJÔES O SOL E OS CULTOS $0l..4Rl!S 117
acordo (OL'I (1 mito do pat cósmk<> Céu-1'trta (cf. § 84) . .6.. ao- inici.itico e1n privilégio polítko e social. Não e a titulo de ''he,.
sência total de Ur UO$monumentos póblicos (rcai.s) explicar-se- rói." que o faraó lem direito à $0berania. a adquire a imortalida-
ia pelo $CUcaráter papcbr. Junter tentou 1nesmo r«on&.tituir a de solar; mas, chefe supreruo, eJe apodera-se por lsoo mesmo,
história de Ur. É, tm duas palavras. a história da sua tmvaç-ão da imortalidade sem qualquer csp6cie de "prova heróica". Ale-
do nível --uprcmo pelá sua integração nas teologias locais: torna- a.alização desta condiç:.'l.o privilegi;11.da do faraó após a sua morte-
se un1 auxiliar de R (mo·k> curar os olhos do Sol, atingidos enoon1ra tuna contrapanida oa a.scens.\o vitoriosa de Osíris co•
tàri(>ó(arlMleõle de .:,sucira), é e,n seguida assimilado a Atum mo dtus funerário u o Ó$1Qçrático. Não há que abordar aquj
e por fim a Rà.. Nã<l nos aebamos suficlente111entc competentes o oon.flito entre Rã e Os(ris, ,nas ele jâ c;stá patente nos te tos
pru:a iluervlr na.dis«u:são levantada pelos estudos de Junl::Cf. l\,{as da s pirâmides. "Tu abres o teu lugar no oéu eotre as estrC:la.t. pois
a ooncordância quepaNO,?m dar às grandes li.nhas do sisiema egip- que és uma estrela ... Tu olhas por cima de OsCris, tu comandas
tólogos da ela$$ de Capart e de Kees decidlratU•DO$ a mencloo.á . os.deltuuos. tu manténs-teafasta( Lo deles, pois que não és da clas-
los. Na pe )'eC(h· da história das religjões a aventur.-i de Amon se deles·•.• esc.re"e, como se conjectura, U.Olapologista dos privJ.
ou a de \Vr são tudo o que bâ de ma.is oomprecnsívd: tnostramos Jéàjos imperiais e-da tradição SQ.la.-60.
já que os sere3 suprc-!JloS dt estrutura uràniana tendem, quando O novo deus, por ser de esttuiura po1>ular, quer diztr, aces•
não cao!'m no total esquecimento. a transformar-se etn deuses sh•el tambán às outras cla5SC$ sociais; não é por isw menos po-
atmosfCrico-fccundadores 0\1 a solarizar-se. deroso e o fara6 julga convenientç pedir ao Sol que o ajude a
:Ools fator jã se disse, contribuíram de maneira capital para não cair sob o jugo de Osíris: '"Rá·Aturu não te entregue a os,.
consolidar a suptein.-icia de Rã: a t olog.ia hieropolitanil e a mfs ris, que não julg.1. o leu coração e não tem poder algum sobre
tiC3. da soberania, sendo o próprio soberano identificado com o o 1et1 ooraçJ.o ... O.siris, tu não teapodenlrás dele, o ttu filho (Hó·
Sol. Uma preciosa contraprova disso está na concorrência que, 11JS) não se apodecarâ dele... "61 O Ocidente. o caminho dos mor-
durante um certo tempo, Râ, deus; solar e funerário (hnperial), tos. torna-se wna rcgitio osfrica, pc.rmanocendo o Oriente privi-
sofreu da parte d.! Os.iris. O Sol punha-se no Carnpo das Oferen- lWo do Sol. Por isso, nos textos das pirlq1ides, os· adeplOS de
das ou Camp0 do Repouso para s.e tev-ru1tar no dia St$Wnte no O.siris fa1.em o elosío do Ocidçnte e denigrem o Orien1c: "Osiris
ponto o,poo da abóbada cdestechamado Caropo das Canas. Es· (N) nâo caminha nas rcgiõe$ do ·Oriente, mas nas do Ocidente,
tas re3iões solares que., desde. a ép<>ca pr dinastica, dependiam pelo caminho dos sectários de Rá'.t62 é o ex to oposr.o das rtco-
ç Rã receberam além disso, no docurso das te:rcàra e quacta.di, 0\C-Jldaçõcs da dou1riua funerária solar. Com efeito. o lexto cita-
nastias, uma. atribuição funtrál'la. E do Campo das Canas que do é apenas uma bruta.! ó iriàii.luição, uor invfrsão dos termos.
a alma do faraó parte ao encontr<> do Sol na abóbada cekstc, de.un1a fórmula a ca .r<:digida as:sini: ''Não caminhes pelos ca-
pat'a chegar, guiada p0r ele, ao Campo das Olerendas. A ptincf, 1ninhos do Ocidente, oode nào avançam os que ne!es se lotrodu•
pio, a ascensão nao $C faz sen, incidentes. Não obst:.1a1e a sua qua- zetn; 1nas q-ue (N) caminht-pelos cacu.lnhos do Oriente, pelos,c,,-
lidade di\'ina, o fal'aó deve, contra grandes dificuldades, arran- minhos dos stttárlos de Rá ... ,, ·
car do guardião do CamPo, o Touro das Oferendas.. o direito de Co1n o tempo estes Le.,tos CQl.lltiplkam-se. A rtsistêocla do
se instalar no Céu. Os textos das pirãmidcs s a fazern alusão a e:.- Sol sai vitoriosa, Osiris, que se v.ira OOJ\SU'.UlS.ido a aproj,riar-st
ta Pfº"ª heróica, de essência inki:ática, pela qual o faraó devia do$-dois ca.mpOs celes1es, que $Cmpre haviam coustitufdo z.onas
passitr. füo,erárias por exoetencia. pelas q-.iais as slmas dos faraós 1inbrun
Corno ltmPo, porém. os textos ticabam -po, jâ n:1o mencio- ocesso à 1roortalidade, acaba pO:r rentn1ciar a este duplo dom'-
nar o duelo com o Touro das Ofercnda.t ( o mono sob-e ao Cêu91 nio. Esta retirada nâo e, sliãs-, uma derrOfa. Ostris 1cntara
por uma escada ou então voa,a atra...·és do oreano s)de:ral para ad.1,.. npoderar-se do Céu apenas porq1;1e a teologia solar colOC"..1.va nele
gir Pot fim, 3uiado por unia. deusa e sob a fotm.l de um touro o meio necessário â imortalidade faraônjca. A sua mensagem cs-
,esplandoccnte, u Cam.J>O das Oferendas. A,ssis,.imos.. poder•sc- catolõgica, fundrunentalmcnte difercntt da conquista heróica da
ia dizer, à dogrncr..c!ncia de um mito, ae um ri\01) heroico- lmortalidade - da próptia degradada mais tarde em aquisição
lis TRATADO DE 11/STÓKJA D.-1.S RJ!LIG/ÔE.S OS0f, 20SCUL10S SOLARES 119
esp-OJltã.n.ea da U'J10,ta.lldtide pe1a vioeulação à 1ealtza - . tinha co, abaixo de Sin, deus da Lua. de que éoons.ide.rado filho, e nun-
rc:-du:ll<lo ÔJí1is a.concàtrir as Ullasquec!t' queria salvar do ani- ca desemptnbou 1,apel importante oa mitologia . As hietofalliris
quib111entoporum l(ineririo ctlt9te. solai:. i1is, aliás, so1»cn- solares bàbilónkas pet1nitetn, no encanto, que se rcoonheça ne-
te CODSu!XÊ'ftl a re,,o)u áo de tipo • 1bamanís t:.a" que tinha modl- J;is ·vesdsios de reJaçõe.s muito antigas t.om o além. Sbamash é
ÍKado, antes de)e. ao:;incc:pção c catolôgica egípcia. Co1n efeito, chaniado o "Sol de et/t'1111t", quer dizer, dos iaoes; diz-se dele
v:in1os como do cct1cepç!lo Aer-dht, ioiclá.tic3. d.a UnorcaUd de, que "faz viver wn morto· cS,. Ele é o de\ls da justiça e o "Senhor
ofem:idn à COl}(fMista de um punhado de privilegiados, !Sétinhà do•Julzo" (/Ji!/,dtlu). Desde os tempo, maisrecuados. o seu tem,
cbesa:.to à oon0;pçào de uma ànortalld.ade coocedida a 10(/QS os plo ostenta o nome de "C.lsa do J\li.Z. do Pai$"66• Por outro la-
pl'i,.,ilégios. Ositis deS<11vo!via·ainda numa direção '"'de1nOCl'áli-- d.o, Slt:11ua.sh t o deus dos orátulos. o pat1·000 dos profews e dos
ca•• C$ta alteração pro(und3 da coru:cp;io da imortalidade: cada adivinhos-67, função que. es1e,1e n11>rc ( 1 l l relação com o mundo
Wll pode obter" ilnort dide sob coodlc;âo de s•dr vitorioso da dos mortos e as regiões ctônioo-funerárias.
prova. A teologia os(rica retoma, para a euc:nder, a noç.10 de pro- Na Grécia e na ltâlia, o Sol ocupou no cuho apenas un1 l·u·
va, condição si11< qtta ncn da sobre,•ivência; JlJas a; -provas de: gar de gun<lo ()lano. Enl Roma, o culto solar foi introduzido
tipo heróico, i.1ticiiLioo (luta com o Louro) .são substituidas Pot csn tempos do Império por \•ia das t!,OOStS ' orietuais e deseovolv(;u-
pro,·asde Lipo édco e religioso (boai obfas, etc.). A teoria arcai- se ali de maneira por assint di.7r exterior e artificial. graças ao
ca da imor1alid.1de heróica dá lua.ar a \ima conct?PÇào hun)ana culto dos impera.dotes. A miloloaia e ;1 religião gregas conserva-
e humanitária. r(IUl, no entaoto, ••cstigios das hie:rofaoias hfnfunais" arcaicas
do Sol. O mito de HéUos l'evefa não só valores ctônjcos .:omo
os infernais. Todo um jogo epítetos. ent que U. Pes.ialo a'"
44, Oalros sabre.!il no Oriente cltimco e 110 l\f"editrrrãneo - vê o resíduo de uma herança religiosa mediterrânica. evidencia
Ter'3.Jnos pon:uenorizado menos e5'e conflito entre Rã e Osfris as suas Jigaçôe$ orgânicas com o rtn1ndo vege1a1. Hétios é'p)íthios
se tle não nos ajudasse a desvendar a morfotoria das $OC:iedade$ ef)(lllnt-dois atributos que eJc partilbaoom Leto. wua das ira.n·
s « r e w de esnutura sol3r•.fi.1nerâci.1: à$ quais jâ íi.zc,:oos a.lusão. des deusas medherrâneas-. ch1Qnios epfoutõn; HfJios éigual-
No Egito;. o Sct permanecerá at6 o fim o J).fiCOl)Ofnpos c1e,una mcnte·tilàn, epifania das energias geradoras. lnteressa,nos pou-
classe privilegiada (a familia do soberano), sem que o culto solar co, de moLnento. saber cm que medida a articulação do Sol co,n
deixe, por USO, de desempenhar um p.a.pel predonünantc em (O· o mundo ttôniooMmá$,lco..sexual pertence ao substrato mediter-
da a religião egípcia, pek, nu:nos naquda que se exprlme nos mo- rânico (em Creia, por exemplo, 1-lélios t taurino e torna-se espo.
n11111en1os e dc)c.uroent<ls cscrl1os. Na Indonésia e na tvfelanC'Sia., so de Grande 'lâe, o que é co1num àmaioria dos deuses atmo,s.
a shuaç.ão não é a mt n: o Sol foi outrora. af, o pslcopo,npos féricos) ou representa um compromisso uherior, iU)J)OSfO pela hi.s·
de todos os iniciados saidos das soc.iedadti socretas, mas ô seu (ória, entl'e o regime ma triarcai dos medittrrânitos e o parrlarca,.
papel, por muico importante que r,,ermaneça. já não ê eii:ausCivo. do dos indo..e:uropeus vindos do Norte. O que nos importa é que
Nestas SOéicdades SC'éft'tas. os ;•antepassados'' - aqueles que o o Sol, que pode-ria ter sido considierac:to, no quadro de unta pers•
sol tinha guiado pelo catn.iQho do Ocidente - desempenham uma pectiva tacl-OoaJjMa superficial, oomo uma hie-rot'ania por ex.ct·
funçâo de iguaJ in1ponâocia, OJriamos. faiendo uma transcrição lência mcste. diurna e '''i.nteUafvel". tenha podido ser val(lriza.
cgípeia do fenómeno, que as stimos aqu.i a uma coales ncia Rá· do em fonte de energias "obscuras''. Hélios ntto é unh.:ameDte
Osiris. E$ta coaks:cência não dcsserve, aliâs, o prestigio do Sol, p)fthlos. chtónlos, tit'btl, etc.; etc mantem_. além disso, rtlaçõ
porque. 111io o esq\\eçatnos., a relação deste com o alén\, co1n as com o mundo de eleição das t.revas: a feitiça.ria e- o inferno. E
regiões da! trevas t. da morte, ,6 ttanspatente nas hierofania.s so o pai da feiticeira Circe e o a\'Ô de ·Medéia, duas ilostres especia•
lares mais arcaicas e-é muito raro que isso se perca de vista. listas 'do filtro ttOf.Ul'llO•vtget.al; é dele que f\1edéia ft'oebe o u
Encontramos:, no deus Sl1M1a:sb, um bom t.xemplo deste de- famoso carro puxado p0r serJ)en.tes aladas " ' . Imola,n-se-lhe- ca-
suso. Sbmnash ocupa wn lugar inft.rior J'IO pa.nteâo Jllesopotâmi• YalOJ OO'mont Taigeto'IO ; em Rodes• no óecucso da fes1a que tlte
120 TMT.ADO DE H!STÓRIA D.AS .RELI.GIÔES O SOL E. 0 $ CULTOS SOLARES 121
ê consagrada - H;iJiefa (de hàlios. fonno dórica de Hél.ios) - tenebrosos. O·Rig VedrP qualifica de ''rcsplandeceute'.' um dos
é-lhe oferecido um carro atrela.do a quatro caval0$, que é, de- seus aspec,os e o outro de ''negro ' (quer diur, in,·isivel). Savitri
pois, preclpit.ldo no JOBrn. ôra, M cavalos e as serpentes Lig<lm- 1raz tanto a ooite como o dlat.S ,. e ele próprio ê um deus da
se, cm primeiro lúl}tr. oo si1nbotismo ctõnioo-funerárlo. Enfhn. noile36; certo hino des.::reve mesroo o seu jtinerário noturno. l\Jas
a entrada do Hades chamava..s.e a "Porta do Sol" e "Hades" a alternâti.cia das suas modalidades re,•este•se igualmente de sig·
na pronúncJa da é:poc;1 homêr!ca - ·· A-ides•· - evocava ainda, nificado ontol6'1co. Savitri é prasfivilâ nil't'Çrlllá 7• "aquele que
adequadamente, a lmtgti'n da<tuiJo que e 11 invi!:iveP1 e daquiJo fãt sair t tnr.rar º ("1fazendo totrar e sair todas as criaturas"J',
que 1orna "invisfve1"72. A p0laridade luwbscuridade, solar- Bergaigne subLinhou com taz!lo' .3. o valor cósmico dessa "reio-
ctônioo, pôde, pois, 9e1' apreendida. como M duas fa.ses alternan- tean>,ção'', pois que Savitri éjagtxto nhieçant, ''fazeudo tnuar o
tes de uma ú-nica e mesma realidade. AJ hierofanias solares reve- mundo1tW, fórmula que equivale:; a um programa cosmológico.
lam assim di.ú1ensõuquc o ''Sol" como Lalperde numa perspoc- A noiteeodla (naktoshasâ, dual feminino) sâo itn1 . da mesma
1iva racionalista, profana.•Mas essas dimensões podeoi )lUlnter- fonn.«t que os deuses e os "demónios" (atura) são i.rn)àos: dva;•â
se no quadro de um l.'ist,cma Lníci<:o e 111etafJsico dC' estrutura ho P.râjâpaty8h, de,·af eb.suróçca, "de duas espécies são os fiJ.hos
arcaica. de P.rajil.pati, deuses t- asura"91, O sol ,•cm intea;rar•se nesta bi-
unidade divina e re:vela igualmente. en, m w s mitos, um 3Sl)ecto
ofídio (quer dizer, "tenebroso", indistinto), ou, por outraS pa•
45. A Índia: ambh, lêncl:i. do Sol - Enconttamos esse sist.c lavl'as, o cxtrettto oposto do seu aspecto manifcs10. Vestfgios do
ma na fndia. S0rya figura entre os deuses védicos de segunda ca, mito ofidio do Sol enoontram•se ainda 1\0 Ria J?edu:orígi ria·
rcgoria. O Rig Vedo consagra.Jhc u.ns dez hinos. lUas Sürya nun- 1ucn1.e ''desprovido de pés", ele recebe de \'atwrapés 1,ara mar-
ca chega a uma condição proeminettrc. É o filho de 0yaus1,' , n1.as l':bar (a-pode padâ pr11/l' d)1otâ•·e)9'J.. Ele f sacerdote. asuro de to-
chamam-lhe também o olho do a . u ou olbo de i\titra e de dos os df!.\•d3•
Vai:una ?.l. Bte ,,e ao lo , é " o e$pião'1 do mundo inleiro. Se- ,\ ambi\'nlêt1cia do Sol vetifica-se, além dJsso, na sua COR·
gundo o Purusha sükta ' , o Sol nas o do olho do gigante cõs,. duta par• com os ho.meus. Por um lado. é o verdaddro gerador
mico Purusha, demo4o que na morte, quaodo o 0011>0 e a alma do hou1. "Quando o pai lança uma semerue l)a matriz.. é de
do .homem entram no maerawooo .cósmico 1 o·seu olho volta p ra fato o Sol que a Jauça como semttlle na n1atrlz" (Joi1nlnf)'a Up.
o Sol, Até aq"i, ;1s _hierqfanias nada JMis re,•elam do que o as• B{iihnl(111ú"\ Coon,aras,vruny, TileSun-klss, p. SO, eita a propó-
peoto luminoso de S0rya, exctusi\'amente. ,tas já oo Rig Veda sito Aristóleles'J: "o homem <>Sol geram o homem º , e
o cano do Sol e puxado pOI' uro esvaio, Etaça,c., ou por sete .Dante o Sol, ''qoei]i cb'i padce d'o3 mortal \'ita 1'). Por ou-
c.avalos''. e ele próprio é esvaio de: cobriçâo 13 , ou pássaro 19, ou trotado. o Sol é por vezes identificado com a mor1e, porque de-
ainda abutre e touro&O; quer dizer na medida em qoe e)e acusa voro os seus filllos tal como os aera". Coomaras"'ªD\)' oonsa·
uma essência e.atributos rei-ativos ao cavalo. o Sol denuncia tam• grou ala,um3$ brilhantes: memôri.as (ef. bibliografia) âs articula-
bêm ,, 1.dorcs ctônko l\lnerârios: Esi.cs valores sãotvidtntes na ou- ções tniti.cas e o>ew.físicas da bi•,ltlidade divina, tal como a for-
tra ,•arianoovCdica do deus solar, Savjtri, que ê f lltrttetnente mulrun os: textos védicos e pós-,,.6dioos. Quanto a nós, investiga·
identificado com S01)•a: ele-é psico,pompos e condm as almas ao mos em Le mythe de lo rélnt ration a polaridade que. mani•
lugar dos justos. Em oetlOS textos, confere a imortalidade.aos deu- festa nos ritos, nos ,:nitos e nas ro.:tafisicas arctiic:as. Tertmos oca.
ses e aos bomen$'º; C-de que torna Tvashtri imort.'.ll n . Psicopom• si!lo d-e· voltar a es.tes problema! em ou1ros capítulos desla obra.
posou hierofruue ( =aquele que c.onfere a imonalidade), a sua Llmite1nO•LlOS, por ora. a re.gistr·ar que a ambivalencia primitiva
Llli$São traz alC nós ucn eco indubítáveJ dos prest. os que eram das hierofaoias solares p6de ftutif)C3f no quadro de sistemas sim-
ap.'\(láaiO do deus solar nas sociedades primiti·,as bólico . teolôg.icos e metafisicos ex.1retna1ncnte etaboradQs.
li.tas já lO Rig- Veda, e e,m parckular na es:poculação dos bc'â- Seria. no ,entanto, um -erro encarar es1as valorizações coroo
mantl, o Sol t ao mn10 tentpa percebido sob os seus a.spcçLo5 aplicaçõ estereot.jpadas e artirKiID 4c um simples mecanisn10
-
122 TRA TAbO DR HISTÓRIA DAS REUOIOES O SOL E OS CULT(),'; SOLA.RES 123
verbal. A<;laborio inlerpretaç: cs e bcrmcnêu1icas esçolásticas transfol'tnação final dó hômem em "sementes''. no <1uadro das
não faziam 1nais. do que formular em termos próprios os valores outras seilas que interpretam, c<>m o 1nesn10 simplísmo excessi.
de que--eram suscetíveis as bic.rot'anias solares. Qlle estes vatorti vo, os mCritos do re3irne noturno, lunar ou 1elórico (c.f. §§ 134
não fossem redutivcis a uma fórmula suroária (quer dtter. em ,er· s.). Um ia(alismo quase me<:-ânico oouarra à .. cegueira" e à "dcs-
mos radonalistas, 11âo co»tradit6ria) temos a prova disso em que sccação" os que valorlz..tm apenas um aspecto das hierofanias SO•
o sol pode. nos limites de un1.1 mesma religião, ser valoriµdo cm lares. da 01esma forma que conduz â orgia permanente, à dis.so-
pianos diíereiues, -para não dizer ''oon(raditórios". Stjâ ó eu1 luçiió e à ff$NSS!o • um «tadó lar•a.r (cf. POt e.empio. oos D ·
pio de Buda. Buda foi mujto forte, na sua qualidade Clu,kra + sos dias, a sàta tefúrlc.1 de» lnoceo;list.aS) os que se condenam t.x-
vartin, de soberano uni,•crsal, ide1ltifica.do com o sol. A este res- cluslvamencc ·•regime noturno do espírito".
peito. E. Scnatt, own livro que levântou celeuma ao apare«r.
tentou mesmo reduzir a bioa1·afia de Sakyamuni a uma seqüên-
cia de alegorias solares. A tCSC'.eta, evidentemente, demasiado ab• 46. Os li e.róis solw:s, ()S JMJ10S, os d.ritos -Numer.osas hie-
soh ata.n expressão, tl'.las :não deixa de. ser ,•et'd.ad.e que.o eh:ntc".n- rofanias ar<:aicas do sol têm-se conser,oado nas 1radiçôe$ p0))4Jla•
to sotat predomina na 1C'nda e na aJ)OtOQse mítie3 de Buda9". res. 1na.is.ou menos. in1egJad.1s ttn outros siittinas religiosos. Ro-
No entanto, no quadro do budismo, oon10 de resto no de das de foa:o Que faxcm desctr das ahuras, nos solsticios. en1
todas as misticas indianas, o Sol não assume invaria,•cl.mentc o especial no do verão: procissões medievais de rodas transporta.
papd suprtmo. A fisiologia mistica.lndiana,sobretudo a Jog.a t das ent carros <,>ucm barcos e cujo protótipo se perde na pré-
o Tantra, atribui ao Sol \lDl:t região ''fisiológica" e có$mica de- bistória; o eostumede- amarr.tr homeos a rodas 100 ; proibição t'i•
terminada. oposta â da Lua. E o objetivo oomum de todas as tê<:· 1ual de se faz« uso da roda em certas noites do ano (por ocas.ião
nicas misücas indianas não é obter a suprernQcio de um dõs dois do solstício do in,•erno), outros coswxnes ainda vivos 11.3.Ssocic·
centros côs1ujco-fisiológ,icos mas, pelo contrArie>. 11nificd·l()S, ou dltçles camponesas. europêias (Fortuna, a "roda da fortuna''. a
melhor, realizar a rein1e:groçãô dos dots princípios potures. Esta. ••rocta do ano". de. ), ou1tos tantos usos que traem utua cs1rutu-
1nos aq1.1j em presença de uma das máltiplas variantes do mito ra solar. Nilo pode1nos pensar' em abordar aqui o prob1en:ta das
e da metaHsica da reintegração, na qual a polaridade tecebt uma suas origens históricas. Lembremos, contudo. que. desde- a Ida-
formulação cosmolóaica Sol-Lua. s:etn dúvida todas csta.ç t6cnj.. de do Bronze. existia, no norte d;i Europa, um mito do cavalo
t.as m\sticas .são apenas aoessiveis a uma inf1111a minoriª cm rela- (,10-So-J•ó1 é que, oomo mosuou R. Forrer no seu estudo wbre os
ção à imensa massa iL1diana, mas isso nào implica necessariamente c rros cultuais pré-históricos. estes, criados para reproduzirem
que elas traduza.to uma "evolução"' em relação à religião desta o movimenlo do astro, podem ser tidos-por protôtip0s de, cru:ro
massa, pois que os próprios •·ptimil ivos" nos o(trec.e,u a mesma profano•oo..
íórmula Sol-Lua da reintegração . Rtsnha., pois, simplesmente Mas estudos coto os de Oskar Almgren sobre os desenhos
daqui que 35 hierofanias solares. à .semelhança de qua.lquer ou- rupestrd pto1o•Lris<ôricos do norte da Euro1Xl ou de O. HoeOer
tra, eranl suscetíveis de valorização e1n planos muito diferentes, sol)re as sot."iedades secretas gerlnârucas da Anú8\lldade e da .ldade
sem que a s.ua estrutura rivesse de acusar 01n::i aparente ''c."ôn- h(édja tomarn1n manifesto o caráter con11>1exo do ''cullo solar"
tradiçl\o >'. nas regiões ieh l'ltrion:;ais. Esta comple.,.idade não Çexpliclvel pot
A supremacia ttbs.oluta - ooocebida de mai1cirn unllateral coo.lescências ou sínteses hJbl'idas. pois que a eocootl'atuos nomes-
e slmpLista - das hie,ofanias wlarcs conduz aos Q:OC$SOSdtffl.S mo 3rau nas s«icdades primitivas. Ela deouncia, pelo 0001.rário,
seita.\ ascé1icas i.ndianas cujos 1netubros não dei:<aru de fixar o o caráte,r arcaico deste culto. Ahn.grtn e HoeOer demonstraram
Sol atê a oe.guelra total. É caso pata se: fa)a,r aqui da ••secura" a simbi.osc dos elC'mt:ntos solares com ekmeutos de culto funerá-
e da "esterilidade'' de u1n regin1e exclusivainente solar, quer di· rio (pot exemplo. a Caça Fantástica) e ct6nico-agrário (fertiliza.
zcr, de um racionalismo (no sentido profano) limitado e excessi- ção dos campos pela roda solar, etc.). E há já bastante tempo
vo. o "" siméttloo é • "d«omPosição" 1x:la "umidade" e a Mannbardt, Gaidor e ftaz<I' mos1r3ram a in1ogaçâo l1o wmplcxo
l T(U rADO DE HISTÓRU l>.AS l!BltOtôes O SOL E OS CULTOS SOLARES 125
.rolar do ''M<l'' i!c:la roda da fol'.tUoo 1:,1.a.1nagiae namissica aar;i, a uma epifania d.o astro; a sua estrutura e o $eU mito não se con-
ria das cre11ç11s européias antigas e do folclore mode.rno. finam à manifcstaç-ãa pura e simples dos fenômenos solares (au-
O mesmoOOJtlpJe,w cultural soJ.fccundidade-herói {ou repre rota. raios solares, luz.. crepúsculo, etc.). Um herói solar apre.
11Ulnte dos mortos) reapar&:::e mrusoo tn(nos in1ae10 .?tn onua.s senta sempre, além disso, uma ''zona obscura'', a das suas rela--
civilitaç:êcs. No Ja o. por exemplo, no quadro do u."Jlârio ri- ções cotu o mundo dos mortos, .a iniciaçãó, a fecundidade, ecc.
tual do ''.\IUit.uue•, (cen que Cll$10ba.eftmentosdc cµl Q ÇlÔ• O mito dos heróis solares apresenta taO'lbem elementos que- de·
rt1rio), realiza se. lodos os ânos.. a vi!Sita de g1upos de ;o.. p'endem da mistica do sobefartO ou do <lemluJlO, O he.rói "sal•
, 1u de: cara sarapintada, chamados Oi "Diabo$ do Sot 11; estes va." o mundo, renova-o, inaugura uma no,•a etapa que tqui.,.ale
jovens, que vão de hcrd.ack et1.1 herdade para assegur,rcm a ferti· por 'tc:7.cs a uma"º"ª organizaçâo do universo, quer dizer. con·
lidtde da te1.ra durante o MO (lue cht",ga, rcpres:aram os an1e- s.crva ainda a herança d-cmiúrgic.a do ser iupremo. Um.l carreira
pà "ad0$ (isto é, os ''mócto.s u ) solas:c.s tQ3 . Nos cetimoniais curo• coroo a de l\1lthra, originariamente deus oelesle, depois -solar e
v.e,is, o lançamento de rQdas de fogo por ocasião dos solstícios. mais tarde sr,ter na quaHdade de Sol lnYiCIUS, e,cplica,se cn1 par·
assim como outios usos análOgos, desempenha provavelmente te por esca função de1niúrgica (do touro abatido por Mithra saem
t11mbê1n utna função mágica de restauração das forças sof31es. sementes e plaot.aS) de oraan.izador do o.1undo.
Co111 efeito, nas regi do nor1t.. :a tedução CfC5cente dos dias Outros motivos ainda se opõem. à re<lnçâo dos heróis sola-
à medida que$? apro:ilina o S-o ti'ei:o do iO\'erno inspira o temor res às epifanias do astro, tal como a mitologia "naturalista'' a
de qve o Sol J)OSsa extinguir«. 610 outt.i.s regiões aconteoe que _pratioou. B que qualquet "fornl.l :, , reliaios.l é essenciW1.1cnte ''im·
1.e estado de alarme se tradw:a em ..,iscks apocatir>tka'l; a q_uéda r.w:riaUsta" e assimjJa continuamente. á substância, os atributos
ou o obscureán1tnto do SoJ são tidos como si.aai:li do fim do muo• CO$ prodía;ios de out ''fol'mas•• religiosas, mesmo muito dife.
· qiJer diier, da cpnc:lusão do ciclo oósmioo (seguida, na n1 rentes. Qualquer "forma,• reU3i.osa vltoriOS.1, tende a qoer SIC'f
ria dos casos, de uma nova oosmog'Onia e de uma nova raça hu- tudo. a esteuder a sua jurisdição à experiência religiosa inteira.
mana). Os mexi(anos nseguravain a perenidade do Sol sacrifi• De maneira que - não 1enhrunos d vidas - as "JOrmas" ,eli·
candô-lhe con.stant<!mecle prisioneiros cujo sangue se destinava giosas (deuses, heróis, cerimônias., mitos, etc.) <le origem sol.lt
a renovar as enera,ias fraquoc,idas do astro. frus a sua religião q·oe tiveram utna c.,rreira vitOri0$!1 englobam ns. sua estrutura ele-
está toda ela jmpregnada de um son'lbrlo terror da catástrofe OOs• mento! cxtrinseicos. asshnilados e iruegrados pelo próprio jogo
mica ptrlódiea. Pode-se4he ofer,eer todo o satijue que ·1,·4u da sua t.)(l)lns§o imperialista.
ser, virá o dia em que o Sol cairá. O ;ip lipse faz parte do pró Não ê uossa ltueução concluir es1a morfoJogia suc:in.ta das
prio ritmo do unh·.erso. hicrofanias solares com uma \'ÍSão de ooajun10. isso equivaleria
Outro conjunto nt.ítioo importante-é-o dos ''heróis solares" a rtto1nar os princi 1,ai,.s tcn1as sobre os quais te-mos insistido no
fam.iJjares sobretudo aos pa r.ores uô1nades, quer dizç-r, a raça; decurso da exposição: solariz.ação dos seres supremos, relaçôe$
nas quais se ro:rutar!o, ao longo d:a. história, as nações i::hama· çlo Sol com a erania, a iniciação, as elites. a sua amblvalên·
das a "fazer hiscórla''. Bnoontramos estes heróis rotares enrre os eia. as suas cel.açties co1n os mortos, a fecundidade, etc. N-o e:n·
f)GStores a(ricanos (os hotentores. O! herrcro, os ma.sais. por taulo, \•ale a pena sublinhar a afinidade da teoloa,ia solar oom
exemplo 104), entte os ,u:rco-moogóis (por cxen1plo, o herói úes- as cljtcs, quer $C'trate de soberanos, de iniciados, de heróis ou
scr Kh.an), entre os judeus (Sansão) e sobretodo em todas as na• de filósofos. Ao oootrário do <nse acontece com as outras hiero-
ções iodo-européias. O que se tem e.setito sobre os lTiitos e ;)S len- t'anias cósmicas, as hiecofanlas oolar,e:s têm tendência para setor•
das dos heróis solares4!1,che bibliotecas e tem-se ido lon.ge na busca oarenl pri\•ilégios de circulas fechados, de uma minoria de ''eki-
de seus vest(iios. Não se deve condenar totalmente esta mania tos' ', o que tem por efeito encorajar e precipitar o seu processo
solarizaoce. Não há dthtida de que, <:m dado momento, todas as de racionalização. Assinülado aQ "foao intelia.ente". o Sol aca•
etnia\ de que faJ.am..» conhe«ram a voga do "hetói solar-''. De·ve- ba, com o passar do teu1po, por se tomar, no mundo 31'tco-,.
se, no entanto, evitar querer reduzir, a todo cusco, o herói. solar romano, wu prlncfpio cds,,u'co; de hierorania transrorma-se cm
126 TRATA.DO D E IIJSTÓRJA DAS R.E.LJC!ÓES
a.sricuhura. Da 1oesmi fonte de fertitid:adt tinivers.il dtri\'a tam· multanea1\\en1.e, in:ona/ 1 é conhecer a morte conlo un1 repouso
bém () mundo das.plantas. subn>etido à mes1na periodicidade e uma ret;,eneraçâo, nu.llca como um fim. Ê c:om este destino que
orientada pd.()$ ritr.nos lunares. É pelo calor dela que cre!'AXftl as o·homcm procura solidarizar.se po:r n\ocio de todos os ritos, sím-
1>ln1. di1 um lf!.\(t"O iraniaDo?'. Certas tt'Íb«>S brasileiras bolo.se mitos. Ritos, símbolos e mitos nos quais, êo1no vi1nos.
chatuam-lhe ;'Mãe d.'U Ervas 1•U e em rnuit0$ lugares (Polinésia, coexistem as sacralklades da Lua. d:is águas e da \·egetação, quer
f\1olucas Melan sia, O)ina, Sué;-ia, ttÇ,) ac:re4i 0 ç que as er- estas ,íltimas derivem a sua sacralidade da da Lua. quer consti-
vas cr(Seem ua lua'M. Ainda nos no$sos dias os cao\pol)escs Luam hierofanias autônomas. Coroo quer que. seja, enCófitlâMOS
franceses seineiam pela lua nova, mas podam e colhem o legu, sempre.uma realidade 1Utlma, fonte de fotça devida, donde saí-
mes quando !l Luti eau em quarto nLinguanlel?, se:tn d,lvida pa· ram, dire1a1nente ou por especial graça, todas as. formas vivas.
ra na.o contrariarem o ritme>oósmico con1 a destruição de \Utl or• As correspondências e: as jdeotificaçôes descobertas entre os
ga.ninno Vi\'O qu::indo as forças estão ,em cresci1.11cnto. diferentes 1>fanos oósmicos submetidos aos dtmos lunares - c h u ·
O vinculo orgíu ico en1te a Lua e a vegetação é tâo fone-que \'a, vegetaçlio, fecundidade an.imal e lunar, espíritos dôS morcos
grande nún)efo de.deuses da fectWdade são, ao mesrnõ tempo, - e s t ã o presentes até numa reUg.itio.tâo rcaica quanto a d pig·
di\•indades lunares: por exe1nplo, Hath.or, lshtar, divindades egíp- meus. A festa d:i. lua nova entre os pigmeus da África 1eni luaar
cias, e Antii1i.s:, divindMe iraniana, etc . E.m quase todos os deu- um pouco antc:s da estação das chuvas. , \ Lua, a que chamam
ses da vegetaçto e da fecu.rididade e>:istetn rcsquicios de atrlbu• Pe, é consider.ida como uprint.'.lpio de gtraçâo e mãe de fecuodi·
tos. e poderes lunares - ntesrno quando a sua ·•ronna·• divina dade 1·28. A festa da lua nova é exclusivamente resef"•ada às mu.
se.tornou efelivamen•e autônoma. Sin é, ao mesmo tempo. o aia• lheres, tal como a do Sol i e.xctuslvan1en1e celebrada por ho
dor das plantas. Dic>Jliso é deus- lunar e deus da \'eg(tação. Os(ris meos.211. Dado que a Lua t, ao mesmo tempo. umãe e asilo dos
acumula todos os at:ributos: os da Lua, das águas, da vegetação fantasmas" 1 as mulbe(ts, parâ-a a:Jorificarcm, besuntam-se.de ar-
e da agricúl!Ufa. Bill especial é PoSsiv.::l descortinar o conjunto alia e de sucos vegeta . tornando-se bran(a$ oomo os espeçiros
Lua-â.gua+vcgctaçào no carâ1cr $8grado de certas l>E'bera.gens de e a luz lunar. O titualconsis1e oa preparação de- un1a beberage.n
origem divina. QO.l,lo o soma indiano o·u o hsoma iraniano; estes alcoólica, à base de bananas fennet11tadas. q,1e as mulheres cxaus--
últimos foram, atil\s, personificados trrt dlviudadcs aut6nomas. tas pela dança bebem, e cm danças e ptt'Ces dirigidas à Lua. Os
alnd q,u: infinjtame-nte menos importantes do que os _principajs homen!I não dançam nem aco1up..lnha1n o ritual no tam-tam.
deusd <lo pa1uelo indo-iraniano • .No entruito, no liéót' diVillo,que Rede•se à L-ua, "mãe das <:oísas viv,as·•., que af1J3eo{e os e$,Ptri{9$
conferes imortalidade àqueles que o bebem, podemos discernir dos n1ottos e lraga a fect1ndidade. dando à tribo muilas crian-
o 5.'lgrado concenlrado na Lua, nas águas e na \'Cgi!tação. É, por ças, peixe, caça e. frutos' ° .
CJtcdéncia, a "substância divina' 1, porq1.1é transmuta a ''vldá"
em "realidade abSOluta••, quer dizer. iem imortalidade.·O amri·
ta, a an1b1osia, o soma, o haoma, etc. têm o seu protócipo «leso St. A l ..ua a fertilidade - També:1n a fer1illdade dos ani
te reservado aos deuses e aos heróis, mas acbam..sc igualmente mais. oomo a das plaotas. está s,1brnctida à Lua. A relação entre
implicados em beberagens terreslres, no soma que os indianos dos a fC(uncUdadc e a Lua torna-se por veies um pouco complicada,
tempos vécUoos beb)am, no vinho das orgias dionisi'acas. ecc. ,.\Jém dado o aparecimento de novas "formas religiosas·• - oomo a
, ü m , as bebcrugens "concretas" devem a sua eficácia ao pro- da Te(l'a-Mãe., as dJvludades agrárias, etc. No entanto, unt atri-
lótipo celeste corrcspondenle. ,\ enlbriaguez sagrada perô.1üc par· buw lunar conserva-se !tmpré lr-ansparente, qt1alquer que $Cja
ticipar, ainda que de nlancira fulgurante e impetfeita, da moda o nti)nel'o de s(n1eses rcljgio$3.S que tenham colaborado na coos.-
lidade. divina; ela (eali.ú o paradoxo ,de s,,. \'i!rdodeira111ente -e., lit.uição destas "fotmas" novas: é o prestigio da fertilidade, da
ao inesmo tempo, de l'i\•er. o paradoxo de possuir uma exisfé"t1· criação periódica, da vidà ines.gotá,•el. Os chifres de bov1dcos,
cio J1lena e1 ao u1esn,o tempo, <lese 1omar, de ser fo,ça e equiff. por e, e1nplo, que C'.aractcrizam as ·grandes divindades da (ecun•
brio. O destino metafísico da Lua 6 de ,,/,•tr pecmaoocendo, SÍ· didaM, 1,,0 wn emblema da Mas»• Mator divina. Ondcqucr,quc
--
136 :JYUTADODE-1/IST'ôRIA DAS RELIG/Oes A..lUA EA >tfsr/CA LUNAR 131
apafeçam, oas cuJt\)ras nealfticas, quer na iconografia, que.r nos crêem que a Lua, dcsc-end.o ã Terra s,ob o aspe...1ode um Don Juan,
ídolos de forma bo,,ina, eles mar<Y,Lm :t presença da Grande [)(u. abandona as mulheres de))()is de as tornar g.ra,.•idas>1, EMe mito
..s.1.da rÇr1iJidade-l1• Ora, o chifre não é mais do que a Unage.m da é áinda popular na. fndia s .
Jua nova: "11cei·to que o chif.te bovino sç tornou súnbolo lunar A serpente. d.ado que é unla epifania da Lua, desempenha
porque lembra um crescente; ê e"iclen1e, pois, que doi$ chifres a mesma funç o. Nos Abruxos cont.a-se ai:nda nos nossos-dias que
devcnl reprrscotar dois crescentes-, qu,e, dizer, a C\'OJução astral a $«J)Cote acasala oom todas as munieresl9. Os gregos e os ro,
101aJ.'''°' Por outro lado, a coexistência dos símbolos lunares nlrutos parttlhavan1 a mesn1a crença. Olímpia, mãe de Alexandre
com os da fertilidade é freqiientc na icono3tafia das culturas ch.1- f\.iagno,_ brioca\'a com as serpe-ntcs40 • O famoso Anuo de Sicio--
oesas pré-históric s de Kansu e de Yang-chao, em que chJfrts oc era fiU10 de Esculápio -' 1• t,..."'Ddo,o a mãe Concebido de \lma set-
tilizado.,; são enquadrados llUnt conjuntQ de ''rdâmpagos" (chuva-- penLe. Suetõnio 42 e Dion CMsio 4i contam que a ru e dé Augus·
Lua) e d Josansos (SUnbolo feminloo)'.lS. to concebeu do ample.xo de un1a serpente no templo de Apolo.
Certos <1nimats tornan1 . se símbolos ou "presenças" da 'Lua Uma lenda análoga circuh:.\'.'I atribuída a Cipião, o Anl.iao. Na
pol'que a sua forma ou o seu modo de u r e,•OC'am o dC'Stioo da Alemanha ,. na França, em Portuga.J e em ouiras regiões as mu·
Lua. É o c:;1$0 do camcol, que aparece e des;aparece na s1.1a oon- IOOcs temem que uma serpente lhes entre na boca durante o so,
ch.;1· do um>, que deixa de ser visto no iovemo e reaparct'c na no e as fecunde:, c1n cspeci.'ll no período me.nstrua.144 • .Na !ndia,
priÓ1avera; da rã, DOrque incha, n1eraulha e reaparece à supet•fí. as muJheres que desejam uma cria.n,ça a.doram uma cobra. Em
cie da á,ua; do câo. porque se Pode vê-lo na Lua ou porque e todo o Oriente se crê que a muJberei têm o seu primeiro co11tato
0 antepassado mítico da tribo; da serpente, parque aparece e de,. se ual com uma $etpence, na puberdade ou no período mens--
.sspareoe, porque· tein tantos anéis quantos dias ten1 a Lua (lenda trua1'1. A tribo ín<Jjana dos komatl (província de tvlyliore) con-
conser,·ada.igu;.1.ltnemc pela tradição grega)) 4 ou po-rque e " e s- jura a fecundidade das tlltllheres por meio de se-rpe.01es de
poso de to,da,; as mulheres'', porque so,fre muda de.pele (quer di- pedra . Eliano47 asse.3111-n-nos que. gundo a crença dos he»
zer, rege11era-se Pé<iodicamente. é ''imortal"), etc. O simbolis- breus. as serpentes acasalavam <:001 as jovensi e nós encontra•
mo da .sttpcnte é de um-1 polivalfnci.a penurbado-ro. 1 mas todos ·mos esta Crença no Japão43. Uma tradição pers reg:lstra que 1 lo-
os súnbolOS conversem para un1a 1nesmo. idé-ia central: ê hnortal go que .a· priJneita muJher foi seduzjda pela serpente, ficou in1e•
parque- regenera, portanto é uma •'torça" da Lua e, oomo tal, diauunente menstruada49• Nos m.eios rabínicos diz..se que a
distribui f 1.1ndidadc, citncia (profe.cia) e mesmo imorralidade. menstruação t devida às relações de Bva com a serpeole no
t\•Juíros Jnit0$ evocam o funeslo episód:io cm que a serpel'lte arre- Paraíso1º . Crê-se, na Abi5$inia, que wna jovem, anics do .seu ca-
batou a imortalidade concedida ao hon1ero pela di"indadês. satn.e.nto, co1Te o ri soo de sier arrebatada pelas se,:pen1es, Uma his-
Trata-se de variao1es lardias de um ntito arcaico no qual a ser- tória argelina conta e.o-mo uma sicrpen.1e, tendo conscs.uido iludir
pente (0\1 um LUOI\SIJO marinho) guarda a fonte -S.IQnlda e a da a vigilância, deflorou todas as jovens de uma casa . .Encontram-
imortalidade(árvore-da vida, fonte dajuvoorude, pomosdeouoo). .se: oadições se-mclban,es entre os hotentotes mandi da África
Não podemos mencionar aqui senão alguns milOs e s{mbo- Oriental, n;1 Serra Leoa, etc. s,
los relativos à serpente, e tão..só os que ru.ani!estatn o seu caráter O d.e.lo mensllual contribuiu, sem dlivida, p.ira 1omar po-
de anitnal lunar. E1n priJneiro lugar, as. su.as lígaç&s com as-,nu• pular a orcnç:a segundo a quál a Lua e o priJnelro esposo das mu-
Jb res e ;1.fecundida.de: a Lua ê.foote de toda a fenilid3de, e diri- lh«e . Os papus consideram a menstruação como uma prova das
ge ao rnesmo teoJpo o cicto rt1etu1rual. Per.w.lUficada, toma-se l ações que as tnulhercs e as moças tê-.m co,n a Loa, n1as repre-
''o am,'lntedas mulheres''· 1'.·luitospovosacredita\'atn - e alg 1os Sénttun. ao mesmo 1e111i:x:,, oa sua kC:1nos,afia - escultura em ma•
acrcdittun ainda - que a Lua, sob a aparência de um ho1uem dei -. répteis saindo das pa.r1.es .a,e-nital, d.as n1ulhcrcsn, o que
ou sob a forma de uma serpente. acasala corn as nnllheres. É por confir.01a a consubstandru.idade Lua-serpente. Entre os chirigua-
isso qt.1e, entre os esquimós. por exemplo, as jo..-e.ns não olham nos, ap6s as fumig:içôl!$. e purificaçQCS que se seauem à primeira
pa.râ a Lua por temor de ·ficaren1 grávidru. J6. Os austr:t.Hàdos menstruação. as mulhcrts JlttSC.!lUffl' pc:,r Lódà a parit as serpen-
138 ATADO D B HISróRJA DAS RF.LIGIÔES A LUA E A ,,.f!STJCA LUl\'AR 139
tcs, que elas toosidtrarn responsáveis pelo mal . Em grande DÓ· mültiplas. e eo1te as mais Importantes convC1n conside-rar a sua
mtro de povos, .a serpeiite é olbads como causa do ciclo men •'•regeneração". A serpente é um anhnal que se "tronsfor1na".
trunl. O seu J.itcl" fálico - q u e CrawleyS4 foi dos primeiros ev Oressman pt'd:endeu rcconhcca em Bva uma deusa fenícia-ar.
uóarafos a pôr érn tvJdência - não exclui a con3ubslanciatidade caica do mWldO subtertâoeo. personificada pela serpcnteM.
Lua-stepente:: pelo contrárk>, confirma-a. Grande- número de do- CQnheoem« divindade:; mediterrànicas. representadas oom um..'I
c\1111entos iconográfioos pcrtent."Cntes tanto às c.i\•ilizaÇÕC$ neoU- serpente óa mtto (Anêtuls arcádic:a, Hécate, Perséfone. etc.) ou
ücas asiât.icss (por êxentplo, õ ídolo da cuhuta nchsn, no com uma tabclcira feita dt sçrptntts (Górgona, Erúúas, eiç,), .
Kansu15; ou ainda ·o ouro esculpido de Ngan-yangfl co1no às ci.• guudo cet'l3S. superstições da Eroropa central, se se enterram
vilizações amctindias (por exemplo, os discos de bronze de Cal- cabelos arran<:ados a uma mulhtt que .se encon1ra sob a influên·
chaqui)'7 :.lJ)l'E'Sel.ltam o duplo siJnbol:ismo da serpt.nte. decorado cia da Lua (isto ê, cm pcriodo m.:nstrua!), eles transformam-se
de "losangos" (embJeiua da \'Ul\•a)Sl:I, Este ronjunto tem. sem ein ser 111e#.
dúvida, wn sçntido er6tioo: no entanto, a OO(Xis!ência da serpente Uma lenda bretã diz.nos Que a cabclell'a das feiticeiras se
{falo) e dos los.:i.nsos rom1uJa, ao ntsn10 tempo, uma Idéia de uansrom1a en1 serpentes''. Este pôdcr, no entanto, não é dado
dualismo e de reintegração que é, po:r celência, lunar, pOrque a qualquer mulhtt. mas somente à que está sob a influência da
cneontra01os te mesmo motivo n3 iconografia lunar da "chu- Lua: uc,partiei1,a t mbêm da magia da ''transformação·•. Que
va", da ' 1lui. t da obscuridade''s,, a fe.uçar,a seja, 1nu11a, vezes. uma invcs1idura lunar (direta ou
transmitida por intcnmdio das serpentes), confir1n.-un-no ttan
de nWllero de docun1entos CLnogrãficos. Para os chinc<ses. por
5:Z. t,. Lua, a mulhet:'e a serpente - A L.u3 pede ter- também e;(cmplo, a serpen1e. es1á na origem de todo poder 1n.1$ico, en-
uma perso1tif o mascuUna e offdia, mas estas personificações uan10 os termos he;breus e árabes que designam a magia São de-
(que cm muitos ( a S O S . - 5 e destacaram <lo conjunto inkial para se• t1vados dos que de51.&urun M serpentes". Dado que ê lunar, quer
guirem utua carreira autônoma no mito e na leoda) são devidas di-zcr, ··'eterna" e que '",•ive'' debaixo da 1etca, eoc:arnando (eu•
em dltin análise à conccpç.ão da Lua ooroo fonte de realidades tre tantos ou,ros!) os e,pfritos dos mortos, a serpente conhec;c.
vivas e como fundarue,no da fcrtili'clâde e da rq.encração perló- todos os Ség.redos 1 é fonte de sabedoria, entrevê o futuro . Da
dka, A secpellcc e CQnsklcrada procriadora de c..'rianças; por cxem· me$ma forma, quem quer que coma carne de secpeote adquire
pio: na Quat malí\oo, 113 rril}o uraburu,a da Austrália central (os o oouheci1nento da lio.s:uasem dos animais e, c1n particular, dos
antepassados são duas ser_perues que percorrt,n :i. Terra e, scnr .pllssaros.(simbolo que pode te. também uru sentido metaflsioo
pr<: que.param. abandonam mai.ourli, ••cspfritoo de c,-lunço$''), de .acesso ás realidades 1,Tansccndentcs). Esta crença encontra-se
entre os togo da África (u1na serpente g:igante que se encontra em muitos l)Ovos ?O e oonservou-se na tradição erudita71•
num lago perto da cidade de Kle\\'C toma as ('tiauças das mãos O mcs1!1o simbolismo central de fecundidade e de regweta-
do deus supremo N3n1u e levc·as à cidade antes do seu nasc:i'men• ção submetidas à Lua e dis1ribuidas pelo próprio astro ou por
to)Cil. Na india, as scrpetlles fol'am olhadas desde a (poca do bu- fonnas rons.ubst:iociai.s ( tagna rvlillet, Terra Mater) explica 3 pre
dismo (cf. os Jãtakas) oomo distribuidoras da tcrtilidade univer- sença da rpcntc na iconografia ou nos ritos das grandes deu
sal (águas, tcsouro.s: (f. § 71 ). Algumas piu1,1ras de Naç:pur 61 re• da fertilld.'1.de universal. Como atribulo da Grande Deusa, a ser·
prdeotal:n o acasalamento de mulheres e deoobras. Na Indla mo- pente conser\·a <>seu car41et lunar - de regeneração c:íc:lica -
derna, uma multidão de oças torna claro o caráter benéfico juntamente com o caráter telúrico. Em dado mon1ento a Lua é
e (ettUizante das se.rpeLttes: elas imptdem a. esterilidade das tllU identificada 001u a Terra. ela própria con derada s n1a1riz de to·
lhercs e a.ssesurnm-lhes nun1e1·osa dcsoenilênci363. da! aS-formas vivas(§ 86). Certas raças crêem mesooo que a Lu3
As relações enuc a mulher e a secpcntc são multifo11nes, mas e a Terra $iC) constituidas da mt:$ma substâncfa 12 . As grandes
nào podem, em caso ;:dgun1, ser globaln\entc explicadas Pot meio deusas parlicipatll tanto do caráter 53..1;rado da Lua como do Sol.
de um simbolismo crótioo slmpli;ta. A xr 1e 1em signif«,1Çiles B1 dado que estas ruesmas deusas st\o, ao n\esmo tent , divin•
140 TRATAIJO DE HJST()RJA 0.,tS REU(j}ÓES JI LUA E A J,/{STJCA LUNAR 141
dades funetárias (os mortos vao para debaixo da ttr1u Oll -para mio serpente-água (ou c.hu,•a), a sub)nissâo destas duas rcaJida,
a lua a fim dê se regenerarem e de reaparecerem sôb 110\_-aíor4 des à lua nem sellll)re é e\'identc. lenda.s e mitos sen, número
,na). a se.r:pente torn.wc o auiJnal fúnerário por e,c l\csa, tn· reprcsencani•OOS serpentes ou dragões que con1a.ndam as nuVCtls
c.atnando as almas dos mortos, o ant.epássado, etc. ES1:mpt'e por habilrun lagos e:-alimentam o mundo de água. A ligação entre a;
es1c mesmo simbolis.rno de regene,ação que se c:cpltta a prdt11ça serpen s e. as nascentes. e os <:ursos de águ.a conservou-se mesmo
da serpente nas ctrhnônias de ink.iaç..1.o. nas en s po_putas curopêias 1>. Na iconografia das culturas
ammndLas o t;, 11mJo supe.n1e-Agua é txtr<:manu:nte üeqOente;
por cxcn1plo, o emblema de Tlal ., o deus n1exicano da chuva
S3. SiJoOOll$mo lu r - O q\le ressalta clatamc:nte e po- é cons1ituído por duas serpentes enroladas '-' · no mesmo Code;
lis simbolis mo da serpente t o St:\J destino lunar, guec dir.tl', os &rgia, uma serpente ferida por uma flocha' indica a queda de
seus podttes de-fccundidadt-, de rc:geo.er çio, de lmtxtaUdadc: p r huva 7S; o Codex Dresden representa a á3ua num vaso em for•
metamorfose. Bem enlendido. se1cvísseruos algUN dos seus atrl- Jna de. serpente"; o Ccdex Tr<>-Côrtesianus, à pátPna 63,
butos ou das suas funções, poderían1os rater crer que estas- cor• r_eprnta•a ran1bé-m t$<:Orrendo de un) vaso oom a mesma
tespondências e e$tes valores s.e !ealizar:im dei,<an.do dosou· torma·'·
tros poi: :uui.üse. Qatudo metódlCO de um OORJU:,to relig,:>SO qual- Que este s.imboUsmo tenha a sua justifi(tlçâo no fnto de a
quer deoompos.to nos seus detncntos morfoló2,1.oos corre, Jm, ua ser a stribuidOrd das. chuvas ê o que provan1 as pesquisas
0 !'Isco de invalidá-lo. Na realkl e. todos os 9aJorcs oowste:m de Hentze . Por v s. mes,:no o conjunto Lua-serpent bu,,a
nwn sin,bok>, rnesmo st;, ap.arentement nas ns deles run tuante\·c.-se até JlO ritual: na lndia, por ex plo, o rito anuaJ da
ciooam. Apreendido através das cxpeti-ênc1as·rebgiosas. o m.un• v Deraçâo da serpente (Sarpabali) cal oom é:-expo:uo nos Grlh>·a--
do revela-se coroo uma totalidade. A intuição da Lua, conside- sufras, dura quatro n1eses: começa na lua cheia Sbadlvana (pri-
rada oorno norma dos riunos e: fonte de: energia, de vida e de re- ciro m da. estaç o d chuvas) e rerm!na na tua cheia "'làrga.
generação, teceu uma verdadclr! rcdt eu r: tôd_?S os planos cÓS· sha (pr1me1ro m de 1uvernoJ':'t. No Sa.rpsbali coexistem .u-
micos., criando simetrias, analotias e paroapaço s ntre feoôn1e- sim, os Uês elementos do conjunto ori,e.lr.iárlo ''Coex.istén ia"
nos de wna jnfinita variedade. Nern sernpre é faal encontrar o é,. aU . m moto de dizer: de fato. eMmtos p ranrc uma 1rlpl"
ce.ntro de. tal "rede'': ele destaca-se, p,or ,,e7.es, dos nú4.i.eos se- repelrçao, unu1. ooncemraç..1o" da Lua, porque as áa:uas, tal.co-
cundi'.Lrio que pOdcm razer. crer qoe são Ol mais importante:s $C· mo as serpentes. não só participam dos ritmos lunares como t.run•
n!lo os mais a_ntigos. Ê assitu, por exemplá, que o sl.'?lboh! ô bém são tônsubstaoCiais à Lua. Co1no qualquer objeto sagtado
erótico da serpe,ntc ''teceu'' à sua voltai nulne:rosas equ1valênc,as e como qualquer símbolo. as águas e as serpentes rcalir.am e:$1
e oorrcspondênclas que:. impelem paro a so b.ca, pelo me o ein paradoxo de serem, ao mesmo cenlpo, la-s próprias e outra «Ji-
eertos casos. os seus atri.butos lunares. Ef ,·a nte-, ass,!;u1n°:'S $ b-;neste caso, a Lua.
a uma série de Interseções e. de corrcspoodcne1as que st intcrb-
aam, referindo-se J)()f ve:s ao 'oe111ro" d que: deriVl,lm todas,
mas articulando-se, em outro.1 casos, em s1sten,as a 1acentes. 54. A Lua e n.mone - A Lua é o primeiro morto (há muito
Asslm enoontramos o conjunto Lua,chuva-fert1hdacJe..mu- tempo o an)etl_camsta. B. Sc:ler escreveu: "der Mond ·ist der erste
lher-SCT'J)ell'tç:·ntôtle-regeneração periódico. ,nas, por vezes, Gesiorbene"). Durante 1rês noites o ofu fica escuro; mas. tal oo-
defrootamo--nos son1ente COOlos eonjuntos rçiais se nte• tno a Lua renasoe na quac1a noite, t:unbêm os 1nortos adqu.ircm
mulhtt a(ecundidade, ou serpcnte-chuv<>:,-fee.u Jdad , ou a.oda u a nova JUOdalidade. de cxis1ência. A mont, como \'Cremos
l(l.\\lher-su:pento-tnagja, de. Toda uma ·mttoloaia se coou cm vo a adiante, não u a ex11nç:'to, mas uma modificação - freqoen-
dtsW$ "cel.'ltros" se<;uudários. ocuhan.do, para quem não est.eJa 1emente. prov1sórta - do nível da existência. O morto pariicipa
advtrtldo, o conjunto original, que se encontra, no entaoto,.uu- de um ou110 gênero de "vida". E. dado que esta "vida na mor-
plicado até no maJs pc,que.uo fragmento., Por cxtmplo. no b1nô 'te'' évalldada t valorizada pela "hl$1ória" da Lua t - e:in virtu--
-
142 7RAtA!X> DE MISTÓF.IA DASRELfGIÔES A L.UA B A ,\t{STTCA LUNAR 143
de da oorres,pondCneia Terra.Lua popularizada pela dcsooberll à formulação dos or3anisn1os, mas tam m à sua decou1oosição;
da agricu.lt\lfa.- pela da 'ferra, os defuntos tra.nsi1an1 para a Lua omnlo unl1nantiun1 corpora t.t conce.pta .procreat et gtnCf(llQ
ou \•oham p ra debaixo da Terra, a firo de .se. rcgcnera.rt1n e de di.uolvilf,(,. O seu destino é ''reabsotve-t'' .-is formas e recriá-las.
assimilaren, as forças necessárias a uma nova existêocia·. É por É unicamente o que há. além da Lua que ''transcende" o devir:
isso que 1nui1as divindad solares s!lo, ao mesmo tempo, ctôni· supra luno,n sunt aeter11u omnJoS7. Por este fato, para
case runcrãrias (]\,iêu, Pe fonc . piovi;ivehnettte Hermes}80. Do Plutarco8t , que sabe Q e o homem é tr.iJ)artldo, sendo composto
mt-SMõ n1odõ, numerosos .cren(;l.S designam a Lo:a como o pais de oorpo (Wnza), alma (ps)·thC) e razão (1101ü·). as ahnas dos jus-
dos- mortos. Por ,·ezcl', o direito ao repouso post mc,ten, na Lua tos purificam•se na Lua, niQúanto o corDO rcstituido à Terra
é·reservadQ aos chefes polftioos ou religiosos: é. pe>r exemplo. o e a ra1..âo ao Sol.
que cr os guaycuru, os polinésios de Toketau, ec(.81 Encon- ,,\ doatid.ade alma-razão corresponde a dualidade de itioêrá·
tramo-nOó aqui per.une uma concepção aristocrática, heróié;\, que rio pos( morttm Lua-Sol, o que lembm decerto. modo a tradição
só aos privikgiados (soberanos) ou aos irticiados {'"mágicos.") eoo- os Upanishads acerca do "caminho d.as alrnas" e do •'caminho
ccde a hoortaJidack, e que voltarem1» a encontra( e1n outros ci- dos deu.ses". Pitriy6na c.Junar porque a ''alma" não foi Huuli•
clos cultural$. 11ada i,tla '"tazâo", quer diu:r, pOrqu,e o homem não conheceu
Esta viagem à - ua após.1 morte manteve-se,iauaJmente, nas a realidade metafísica \lltlma: Brahm:u1. O hômem conhece duas
culturas e.votu!dru (lndia, úr&-ia. lrà). mas adquirindo uelas um mot1es. escreve Plutaroo: a pcU.ueira te1n lugar oa Tcría. junto
novo "alor. Para os in<lian.os, é- o ...<'a.l'ninbo dos manc:s' (plrr/. a Demeter, quao.do o corpo se separa do 3J'llj)O psychê-nous e..se
yâna) e as almas repuusa;n na Lu3 C8pcrando uina uova encarna- toma poeira (por iMO os atenienses chamavam aos mot·tos délné-
ção, ao contrário do que sucede com a rota'do Sol ou ''can1illho 1reioí), a se.gunda tCJJl lugaJ na Lua, Jwno de Perstfonc, quando
dos deU-S(s" (del'Q)'Ônú), q·ue é o dos iniciados, isto é, os que se a psyd1ê se. separa do uoOs e sc: rc-abs.orve na substância lunar.
libertaram das lluWes da ig:norânciaª 1• Na tradjçtto iraniana, as A abu.a {psycJ1ê) t'ica na Lua. conservando durante a13um te1npo
almas dos mortos., depois de terem i,as.sado a ponte Cin\•at, os .sonhos e as lembrança.oi da vidaff. Os j\lst.os "definham'' ,a-
dirigi3Jll•Se para as estrelas e, se eram virtuosas, alc.inçavam a 1>idamc-ntei as almas dos ambjciosos,.dos ObStit1ados e dagueles
.Lua e- dep0is o Sol, enquanto as u,ais viriuosas pcnetra\•am a ê que têu,1 demasiado amor ao próprio corpo são incessantemerue
o garot,nan, luz infinlla de, Ahura r,,1azdat l . Esta mesma renç:a atraídas para a Temi e a sua re.absor,çâo supô:e um praw mais
mante.\le-se na gnose maniqueia*" e era. conhe<:ida no Oriente. O lonso. O noüs é atraido e l'e<:ebido pelo Sol, a ruja substância
pitagorismo deo novo impulso à ttolc,aia as1ral tornando J)OPll• corresponde a razão. O processo de nascitucn10 rcaJiza•lCde ,na,
lac a noção de- cmpiroo utaJtiano: ê na tua que se. encontram os neira inversa ·a Lua recd)e do Sol o noas. que, iermiriando ne-
Campos E.Hseos, onde repousa\'M\ os 'heróis e os cés:are;6S. ''As la, dá origem a u m a ª º " ª alin:;i (ps)•cl!f!). A Terra fornece o cor•
ilhas dos bem.aventurados" e. toda a seoara.fia mitica da morte po. É de 11.0l3t o $imbolis.mo da fee\1nd.açào da Lua pelo Sol, em
foram projetada$ em planos celestes: Lua t SQJ, Via•Lá-ctca. E\•i- vj$-ta da rcgc.netação do par tu;,üs·psychê. primeira iniegração da
dcntemcntt, achamo-n0$ perante íónnulas e- cultos $.l.turados. de personalidade hurnana.
especulações a.o:lronôrnicas e ck gnose escato\óslca. Mas não édi- F. Cumon ?• crê que o par espiri1\1aJ psychê--noüs ê de ori·
!ícil. esn íórnn1I tardias como .aquelas, identificar os moti\'os sem oriental, semítica, e lembra que os htbreus reconhecialn uma
tradicionais: a Lua região dos mOrlOS, a Lua receptáculo rqeoe-- ahna vegetativa" (ncphesh), que continuava a habitac a. Terra
rador da, almas. durante \1Jn certo lCmpo, e uma "alma.eSJ)iJitual" (rouah), que
O paço lunar não era n1ais do que. uma etap., ao dtcurso se separa\'ª do oorpo logo aoós a morte. F. Curnoatencontra uma
de uma Meensão que pressupunha outr""s ew.pas (So1, Via-L.-1.ctea, oonfim1ação desta origem exótica na teologia orielltal, populari•
''ç(rculo supremo''). A alma repousa,,a na L\l.'1, mas. como na zada durante o lmpério ro1nano . .que revela a iníluência exercida
tradição dos Upaoi&hads, ela esixrava ali uma novaencamaçãô, pelos plat1os atJuosféricos e segundo a qual o Sol e a Lua descem
um rd:OrnO ao circuito bioçÓ$11\ÍOO, °6 por iw> qu a Lua preside do empirco para a Terrall.l, Poder-se-ia objetar a esta hipó1ese
1-1+ T"RATADO DE. Jlf$r()P.JA DAS P.EU0lÓR$ A LUA E A ,\1($1'/wl LUJ\'AR 145
que a. du.tlid;1de das ai.mas é o $ ( 0 dllplo destino após a morte cual seguida de um "renascimento" e :pelas quais o iniciado rein-
se encontram em 3er1oe n:ii ma.is antiias tradições, dos helenos. t egra a sua "erdadtoira personalidade de "hoooeu1 novo".
Platih) sus1tnu1va não só a dt1alidadc da alraa.'3 como a sua se- Nas iniciàçõC$ australianas, o "m,orto" (o neófito) sai do ,o .
paração ukerioc e1n três . No qu diz resptito a eseãtol as- ,nu.lo como a Lua sai da ob5'::uridadel00. Entre os kori.aks do nor-
ilai. Dão é possi.,cl iden ificar no 1T11,e.u a pusitem $t1ces.siVa do deste da Sibéria, entre 0$ gjliaks, tlingits, longas e h.a'idat. 0 ur$0
comp'lexo ao.ílnic<> a l.J..,a ao Sol t. ,,Ic,e--versa, e ! ptovavel1ncntc- - "animal lunar'', pois que desaparece e reaparecc- - cStá pre.
di:Yidí1. a 11011 influ ncia K:mitica5• Nlas o que ncs interessa. de sente nas oerimôuias de iniciaçâo 1 da mtsma íQnn,t que dtsan·
motnt.1110. é a.conoepç.ã.:> rui. Lua. como abrigo das alma.idos mor- pcnbava um papel esse11cfrd nas «rimõnias do Paloolítícol°'. Por
1os, que eócoun,uoos icooograiicameote formulada na ilfptj outro lado, entre os Cndios pomo da Califórnia do Norte-, Por
assfri'o,babílõllka, fe11.íci.J, hiiila, analoliana- e que se tram.1n1- exemplo, os candidatos são iniciados pelo urso Orí22ly que os
tc, em se,uida, aos monume1HO.J. fun.erárKlS de todo o lmpC-rio "1naia" e àbrecom as garrns um bura.co oas costas deles'. Despi
romanotc.. O símbolo funerário da meia lua é freqüente na Eu· dos. e depois vestidos com novos trajes; os candidatos petmane-
t<>pa. i.utcifa9"T. ls» não <tuet ditcr que tenha. si.do i1nrodw:ido ao cem quatro dias na floresia, cemPo durante o <1ual lhe:$ são re-vc•
mem10 ,empo que 8$ rcligi ,omano-<'lricruais em moda durante lados os segredos do riluat•M. l\.tcsmo quando não há "animais
o hn()C:fio; porqut., oa Gálitl, por e.xernploS", a Lua era um sím- l s" presen1es nos ritos e não enrontramos qualquer referên-
bolo autó-clOl'lC utilizad<i mu.!10 ies do cont 'l.to con1 os roma-- c,a d1ret à desaparição e à reaparição da Lua, somos levados
00$. A i.moda'• oonttntotHC em atu.alizar conocpçõts arcaicas aJJ.iar as dh'ersas cet·imônias de inicia o ao mito lunar em róda
fot'lnuJando uma tradlçâo prt-históri<"a ,em termos novos. a are.a sul-asiátJca e à volta do Pacíftco, como deinonstrou A.
Gahs uuma monografia ainda ini:dita• .
. Em cenas cerimônias iniciâtie.1s amanista$, o candidato é
ss. A Lua e a iaiciação - A morte, no entanto, não é defi. "despedaca,do'' tal como a Lua é fragmentada (biúmeros 1nitos
niti,..a, p0is que a Lua não a conbtce. ''Ta1 como a Lua m<>rrc r.cpres.entam o dran1a da Lua retalhada ou pulverizada por Deus.
e ressuscita, im nós vol1arcmos a viver após a morlc", procla- pt:1 Sol, etc) O?. Encontramos o mesmo modelo--arqutti p o na$
mam os índios San Juan c.aplstrano da Cá.ljfórni:l nas cerimô- tnJc1ações ostr1cas. Scg_undo a tradiçã,o tJ.1nsmítlda por Plutar-
nias que se. rcalium peta lua nova'» . Grande número de mitos oo•(lj. Os.íris reinou 28 anos e foi morc-0 ein d.ia 17j n1olnl':nlo nu
falam da "m<nsagem'' uanstnitida pela Lua aos. homens por ln- que a Lua está em minguaote. O xiio em que siso tinha es.
ícnncdio de um animal {lébre, t.\o, l•iarto, etc.) e na qu9l ela coodido foi descoberto por Seth, que 11nda.va üã caça, em noite
asseãura que: "tal como eu morro e ressuscito, as.sim lu morrerás de luar; Se.th cor1ou o cadáver de Osltis em 14 pcdacos. que espa-
e: voltarás à ,•ida''. Ou por estupidez ,. ou p()t maldade·, o "men- lhou por todo o territól'io eaípcio•oo. No ritual, o emblema do
sageiro'' oomunk:a exatamente o cou.lrário e, asgcgura que o ho· deus morto tem a fonn.l de uma lua nova. Há similiwde eviden-
mero difcrcnlemertte da Lua, não voltará a viver-uma ,·ez mor• te entre a morte e a iniciação. "É por isso" - diz Plutarco -
to. Ês t e mito ê freqüen t e- na Áfriça no o mas existe t.arobCm nas " e há uma tiio st.rcita aualogia entre os termos gregos que sia-
ilhas Fidjí na Alistrália, tntrc os ain'us. etc.101 Ek- justifica tan- n1f1can1 morrer e 1n1clar." Se a iniciaçâo mística se adquire por
to o faco nc:reto da roone do bom.cm como as cerimônias de uma morte ritllal, uunbém a morfe pode ser asshnUada a uma
iniciação. ,-\s fases da Lua coastituen:i um bom exemplo da cren- Iniciação. As almas que- conseguem c.hcgar à parte superior da
ça numa rcMutreiçào, mesmo no qu:adro da apotogé1k:a cristã. L.ua são chamadas ",•iloriosas" por Plutarco e uamm utt'la co-
"Luna per omnes meoses oascitur, crmit, perficitur, minultur. roa na.cabcça;como os iniciados e os vitoriososuo.
cõnsumhur, innovatur - e:saeve Santo Agostinho, - Quod in
hina per mens s. hoc iu rcssure<:tione se1ncl in toto ttmpore. "1º2
É. pois. f:ícil compreende o papel dâ Lua as cerimônias de. b · 56. Sin11:>otlsn10 do ''devir-" lun!lir - O ''devir" é a norma
ciac;io, que0011sistcm prtc,same:ote cm expenroencar uma mone ri- lunar. Oepeitde das capacidades mítica$ e de raciocínio dos di-
l4ó n t T A D 0 DE HI.S1'ÕRf.•l DAS RP!.!O!ÕES
A LUA E A f.fÍSTICA l.,UNAk.
l47
vetsos povecs, m corno d.e.) sen niyd cul1ur
ser,..ado nos setts 111ome111os drtln1áucos;.- .oascm _que e k seja b- 64 ufJ(lc6ra, etc. O nlimcro quatro prevaleoe- nas
literaturas 'o'é(]j.
i .o, plen1 u· <:as e bramânicas. Vúc (o "logos'')
de e dcsap::icecimeuto do a s t r o - , \'alol· do com.n frac10· con11)Õe-se de quatro
partC\: ; puruslt'1 (o ''home.m", o "macrantrop
11
narnentQ", urna ••nnmer:ição'', ou percebido ultU1çao como As fases da Lua dão oria;em, nas opeculaçõeso") tambén1.
0 ••cánhanio'' de Q\IC s o urdidoS os fios do<lt 1no: a,s a hete. <:o.rres.pondências mais oompljcadas. SlllChe ulteriores. às
ro ocidade da.">{6nnulas 4,u: exprimem este @'t;,r· n dedicou u'ma
,tlf)el'las obra às relações entre as letras do alfabe
117
aparente. A Lua •• r epâ Jte:11 , 11 fi a t•, "mede"; ou c t o. alunen_lil, Lua tal como os árabes as conbtciam. HomrueJII&
to e as posições do
fecundil, abençoa; ou recebe as almas d.;,s mo-rt?s:, 1nlC:i.a e pun - dez ou onze e.lr.tcteres hebraic:os design.un as n,osuou qut
ca _ poiS que 1em \•ld:i. e p0r co. uinte esia etn eterno de\'1r exemplo, a/ef, que significa ''touro• 1, , . o fases da Lua (por
rfuníco, Este rilAlOCSIÓ sempre p(esent:C- nos rituais Jun3res. Por súnbolo da Lua na sua
prhneira semana e ao mesmo tempo o
\'tZ 0 cecirooni:.\I repele, por inteiro. as fases da. Lua, como. ttn quccon1cça aSii:tledascasas lunares., nome do sl_gno zodiacal
etc.),
por e;cmplô. i pfljâ i.ndiana ínu u:ôda pelo üwtr1si,:,10. A deu· ma oorrespoodência calre os sinais gráficos e Encontra-se ames-
sa Tripurasu11durf deve ser med11.:1.d&, .st$®do um texto. do as íR$tS d.a Lua
tatnti$mó111, oomo estando na própria Lua. Um autor tâo1r1co,
tt.e _os babilõni u 9
, os g.regos•W, os escandinavos (as 24 en-
d1\•1de,m-.w em t s gêneros ou oeitir, cada um runas
Bãskara Râja. detcrmi.M que ap{JjO da deusa devt co eçar no 8 runas. e,c. )1:? • Uma das )nais daras e mais
1 compr eenden do
primeiro d.ia da 11.13, nova, e durar toda a quina.ena lturunosa; é lações do all'abe10 (considerado eomo .::ooju.o completas assimi-
tC>
preciso prunJs-so 16 brâJnanes. cada um represc.ntando um aspecto mo grafia) co1n as fases lunares encon1ta-$t. num de .sons, não <.:O•
da divindade (qoer d i u , uma fase da Lun, uma ritllí). :r «l 1:2 da Trácla 1r . , em que as vo,aals correspondem e.scólio de DUli!
observa, coro. justeza. que a ·presença ,dos Arnai,ies não e m 1s à lun cheia, as con-
soantes sonoras à tneia lua (quartos) e as
dó q\1e wna iJ10\•ação re-..--e.ntt, e que napOJô arcaica out.ros l),.;r· nQ:va12l. consoantes surdas à lua
sona.,eos representavam o "devi('' da deu.so. Lunar. Efet1vamt.n·
te ;um tratado de incontescável autoridade., Budro(t11ala,
e conlf a« a descrição do cerimonial t.radio;i-OnaJ, /all1'ldrt·Jt(lj0,
quer dizer, "adoração da 01enina". E cs1a paj6 começa sempre . osmobiologia e tlsloloti.111 1nístk:a - Estas cotrespon·
na lua nova dura JS noites. Mns. em lugar de 6 brfl.manes, são dê:tlc1as nao dCSCrupeuha.m s6 uma função·classificadora. Elas ío•
l)rtCi60S 16 kllnlbrf, qu: tepIOOll mm obtidas por um esforço de jnlq.ra,çào total do homein e do
s 16Jltht da Lua. A ado- cosmos no próprio ritn>o dlvtllo. O seu.significado é, em primei·
ração tem lugar vrddhiiJhédtna, ou seJa, por ordem d.e idade,
.e to lugar. mágico t SO(e:Jiológico; .npropl'laodo-se das vinude.s que
são necessãriM 16 n1t.nlnas de J a 16 anos.. Em .ada.noite, aptlja
representa n tithf corresp01ldente daL1.1a ('l'ucci, A2S). O ccr1mc,.. estão laren1es oas ''letra$" e nos "sons.", o homem insere.se em
nial tãntrioo oonccde em geral uma imponãncia capital à )nulher cetlOS centros de- enera;ia cósrrtic:a e rca.liza a.sslm uma harmonia
e às divindades ferninio.1s 113 ; _no çaso, presenle a oorrcspondên· perfeita entre eJeeo codo. /\s "letras" eos••sons" desêmpenba.m
ca entre as estruturas lunar e ícmio.ina é perfeita. o papel de imagens que., por 1neditaçf10 ou ma.gia, toroam poss:1.
Que a L11a "mede" e "p.. ilha' . prova -no n o só as ctl· vel .a p em para os diversos planos cósmJcos. Para da( um
niologí s. mas tan1bcm as daSSJ.ficaçõcs atca)Cas. P .ra fi_carn\?S ünk.'Q e emplo, ª."!«lí aç o que precede a criação iconogcáf.ca
no dominlo indiar.10, a Brhadarãny,1ka 11• sa!>t (IUe f!aJàpab é de UD)..'l agem divina Jndiana comporta, entre outros. o Seguin·
0 ano. Tem dezesstis p.1rLes, quinze são ncntes, a dec1n1a , o . no qual a Loa, a fisiologia. nústica, o símbolo gráfi·
1e excrc ...
-é fixa. É pelas ooites que tle (fcsc,t. e dS\.--e, ele. . xta
, A c o e o valor sonoro constituem um colljunto de refinada sullJe.
Chandog)'tt"s diz-nos que o homem se C'Olnp,0,z de 16 rtes e 7.a: ''oonoebeodo no seu próprio coração a rornla da Lua talco·
cresce-ao mesmo tempo que , aJimentaçào, etc. Os vcst1a,os do 0)0 s,aiu d som pdmordial (pratht1111a-svar1rJ)(lrlnatom, quer di-
sistemaoctaval 3bundan\ na índk1: rnâto, .111urtl, etc.; J6k lâ: zer, surgindo da letra A t), ele deve aJ vislumbrar un1 belíssi.mo
\6shokfj, 16 mâtrkó, ctc,i 32 Clipéçie$ {Se diksli4, etc.; 64 yog,nJ, lótu1 awt que teto entre 0 $ seus ffiamentos o disco lunar imacu-
lado, e no centro deste a sílaba-germinru ruJHU'ela Tâin'•, ctc. •u
14$ 7AA1tU>0 DE Hl$TÓ1.UA D.45 REL10J0ES A LUA 6 A i\f(SnCA L-UNAk
149
A incea.raçãQ do hOlllen, 110 cosmos só pode ser rtall.iada, evi- juntos rell.ai0$0S diferentes, e que nent se1npte saíram diretamen-
dcntcmentt, QtWUlo ele conseiue hnrmotuzar..se com os dois rit- te da intuição da Lua conto norma dos riunos có.snlicos e supor-
111o.sastrais "unificllldo" 3 Lua e o Sol oo seu ptópl'io oorpo pneu- te d.a \lida e da ntorte. En1 compensação, acham-se presentes as
mático. A 'Unificação" .:los <lois « n u w de energia .sacroc,ó:mü- sfnuses Lua-Terra- iãe.cont tudo o que elas significam (antbiva.
ca, que são a Lua t o Sol. tem por fmalidad - a t1ca ,de Jêncià bem-mal; morte-fer1ilidade.; destioo). Da n1eM1lt1 fo(nt.'t, não
fisiologia rtústica- a sua rcintegmy"âo na unidade l)r1nord1a_l. u -·
dilue11cllda e :únda Dão fl3.!)1le!ltada pelo "º da cnaçllo oo,rn,-
.:a o que se tradui por umti transocndên.cia do cosmos. Num tc,c.-
hâ que reduzir sempre à Lua toda o q\lalquer intuição mitica da
"rede" cósmica. Na cspccul o lodiana, por .xernplo, o ar "le-
oeu n o uni,.·crso 1" tal como o sopro (prDna) "<eceu•· a vida
10'tãntrioo•lj, um o.erckio de fisio)ogia misti..::a pre1cnde obter a hu1nana•JA, Aos cinco ,·entos que separam o cosrnos, e não Obs·
t,ansfonnação "das "'ºiªi esconsoantes en.l braceletes, do Sol e. can1e. mantém a sua unidade.. oottesp0ndem cinco sopros (prâ-
da Lua e1u .méis"'!i. A!. escolas tãntrit:as e "bathayogicas·· le\'a- nos) que "t«ci.n" num cod<> a \Ilda humana (a identidade sopro-
ram muito longe estas as;jmilaçôes compkxas ec.ure o Sol, a Lua ,·cnto eocomra-se já nos tcx-1os védicos)tss, Trata-se, nestas: tra.
e diversos oenuos ou téria.s "místÍC$ » divindades.sangue e dições, da com:epção Mcaica do conju:nto de tudo o que 1em vi·
n1en ,,JrJle ecc. 1n o sentido de$58$ assi.milações·C, primelro, soli- da - cósntioo ou mlaooósmico - , $C8Unclo a qual as diícrcntc."$
dari z ar o homeol oom :u cucrti.as e os ribnos CÓSl\lioos; em sea:ui panes sâo integradas por meio.de uma força pDCUmât:ica (vento.
da rea.liznr a unifi<aç!o dc;e riurios, a fusão dos oeatros e, por sopro) que "tece" unias às outras.
co s e q O:ência o sano p.-ira o tran.scendeote, possibilitado pelo de-
saparccimeut das ••formas'' e pela rcsaauraç!lo da unidade pri·
1nordial. Esta técnica é oaturnlmeo.,e o produto refinado de wna S8. A Lüa e o destino - Toda,•ia ., pelo simples fato de ser
longa tradição mística, mas encontram-se prec entes cnhora de todas-as coisas vivas e guia cerca dos mortos, a tua
_rudio1enta
rcs tánto t\OS povos arcaiL-cs1J3 como na:s fases sincrcüstas . das r - '-'teceu'' todos os destinos. Não é à tott que ela é concebida nos
li&iõcs meditcnârucM 19. 1
mitos como u1na enorme áJ'anha - imagcln que encontramos cm
\ Lu "liga" oonjuntanlCnte, pelo seu modo de.ser. ma rr.1ul- muitos Tecer não significa somente predestinar (no pla
tidão i.meusa de realidades e. de cJ.cstinM. Harmoruas, simetnas, .povos'gico)
oo antropoló .
01SSimil a ç ões, panlcipaçôcs, coordena.da$ pelos ritmos lu : COtl$-- e reunir simultaneamente realidades dif ren-
thuem um " tecido' ' sem _fim, uma ''redç:" de fios lov1sroas, qu.e tcs(no plano cosmológko). ma.e. também críor, faz« sair da sua
"liga·•. a-0 n1estno temPo J homens, <:havas, vcgela9Õe$, fecundi- oróprla sulmãnc.'ia, como ;o faz a aranha, que urde, ela própria,
â sua tda Não e a crladoro inesgotável de forauas viv.u? ·Mas,
dades, saúde, aJlio.13..is, morte, r neração, vida post n1orlt1n, etc. como tudo o qu foi ''tecído", as vidas são colocadas num con·
É por-.isw que cm m11íras t(IKliçõcs, a Lua, personiftaida por wna J n,o: elas têm um destino. i-\S.Moirai .• que fiam os destinos, são
divindade ou Órcsente por intcnn6dio de u.m. anin1al tw,ar, "te:=e"
o véu cósmico 0,1 os d«tinos dos homaas. Foram d w sdê: cas. di,·indadc.c. lunares. Homero'' 7 chama-lhes "as fian iras", e
que in,·eruaram a profiMão de t eJâo (como a divtndade eg1pcl3 unut del.1s tem inesmo o nome de Klothó. ou seja, ••fiaodeira".
Neilh), 0\1 que !JC tomarant &lebres na rute. a 1tasen1 (Atroa Foram, PfOvavctmen1e, o origem, divindades do nascimen10. ma
castiga Atacoéia, que tc.\'e a avdácia de r1vahr coro el;1, e à csp;culação IX)S(etior eJevou--as â personificaçlk> do destino. No
traJ)sforma-a éin ar.lnba)IXI• ou que 1.eceram trajes de propor cnt uo, nunca se pecdcu completa1uence a sua csuutu luoar,
oósoü (como Proserplna e Harmonla)U1• Nas crença européiM Porfirio diz que as ri.toirai dependen1 das forças lunares. e um
medte:Vais H.oJda e a padroeli:a dQS teodôes e, por detrás desta li- 1exto órfico cousidera-as parte (ta 111ére) da Lua'"· Nas velhas
lfngu:\S aeonânieas, um dos ceemos que designa o ''dest.ino'' (ru1-
iura, de obrimos a e,strutura sclên.ica-ctônka das divindades da t1so .al10-alen1ão ,.,urt, veU10 norueguês urdhr, anglo s."t.Xão ,vyrd)
fertilidade e da mor1e 1n . dt:riva de um vecbo iudo<tJropeu uert, "rodar'', de onde os ter-
Bvidentemeate, enconuam,o,-nos di:ante de formas complexas,
Ql.!Çcristalizararu mi1QS, cerimoniais e símbolos penenca1tes a con- mo$ aho•alemão a11tigo ivirt, wirtel, "fuso", .. roca"; hok1ndês
H'Crl,lít/en. ••rodar" J ) i , .
)50 TRATADO DE HISTôRlll J)A$ REl/OJôES A LUJ I B JI ,\dS11CA l U1VAR J.51
Belll entendido, nas cuhotas em quE: as grandes de1.1sas acu- senlentes e larvas). Em todos esses te-ma! a idé:ia do1ninante é a
n11.1lsram as vll'Wdes da Lua, da Terra e da vegetação, o fuso e do ritn,o reati.z.ado pela sucess.\o dos cc,nm'irios, do ''devir 1• pela
a roca, com os qual$ fiam os dcstioos dos horocns, tornam-se. soe<:ssão das modalidades ()()lares (ser. n o-ser; formas-estados
a par de tantos outros, seus atributos. É o que aoont.c«: com a laten1es; vida 1non e). Devir que não .se. processa. bem etllendi•
0
deusa do fuso enoontrada ern Tróia, que pertence à época com· do, scn:1 drama nem patético; o 1nund.o sublunar não é .somente
pr«ndida e,ntrc.2000 e 15-00 a.C.1.-) Estie tipo icol1ográflco acha- o das transformações, mas o dos sofri,neatos. da ''lústória''. Na-
ap:alhado no Orien1e: enconUW!'ºs a roca D:" n1ão de Is t:ir, da de "etento · pode suceder nesta zooa sublunarcuja lei é o <le·
da Grande Deusa hitita, da deusa síria AU\tpt1s, de u1na dJv1n• vir, onde nenhuma mudaoça é detinit.iva, onde toda a transror-
'i.
d.ade cipriota primiliva, da deusa de Éfeso 1 O destino, fio da m.açâo é apenas paJing.cnc:;ia.
Todos os dualis 1nos tê1n, se não a sua o-rigem histórica. ixto
vida, é um período, mais ou mmos longo, de tempo. 1\s .grandes
deu tornam-se, 1>0r isso. senhoras do Tempo, dos desnnos que ooeno& a sua ilustração mitic-a e simbóUc.a nas fases da Lua. " O
das forjam à sua vo11t.1<1e. En1 sànscrit<>, o tempo desigll.3•SC kâ- muode> luferior. mundo das trevas, é figurado peta Lua moribunda
fo, tenno qlle se assemelha muito ao nome da úrande Oeusa, (chifres=crescentes, sinal da dupla v,ol\lta=dois crescentes em
Kt\lfl.U, K31ã signiílca também "negro-•, "sombrio", "'l.nancha .sentido oposto, sobrepostos e ligadO\- liludatlÇa lunar, veU10 de·
do". O 1empo é "negro" porq,ue é irracional, d1.1ro • .scm pied - tTépito e. ossudo). O Mtutdo superior, mundo da ,,ida t. da luz
<le. Quem vi\'C sob o domínio do tempo está subnteddo a sofn· nasccnlc, Cfigurado por um ti_gte (monsu·o da obscuridade e da
mcntos de toda a t$pécie, e a U!xrtação consiste t)cimeiro ns abô· l\la nova), de cuja goela sai o S c t humanó, represeotado como
lição do tempo, na C\'a o â mudança llniversa.1 1•>. Scg1.1nd,o uma criança (atltepassado do eh\, que é 3.$. imilado à lua que
tradição indi a na, a humanidade eucootrs-se- atuatme.nte no.K.all• renascc=lu1. quc·\'olta)."144 Mas nesta nlesma ál't:i cvhoral da
yuga, quer dizer, na "idade so,nbria'' ., época de todas as oo fu. êhlna arcaica os súnbolos lu:t.-obscurid.ade são comple1neutares:
soes e de total decadência espiriwal, úlli!na etapa de um ()Clo o moc.ho, simbolo da obscuridade, enoontra-sc- aQ lado do fai-
cóstn.ico. são, sf1nbolo da luz 1u . A cigarra, da mt$.ttla forro.a. encontra-se
ao mesmo tertt()O e1u relação com o demônio da obscuridàde e
com Q da luz 146• Uma época "sombria" é seauid3, etu todos os
59. Metafish.":11 hn.,ar -TentcmóS agora uma \•ista de cotl- planC>S éós.nüoos, de uma ét)OCa ''luminosa''. pura, regetlerada.
junto sobre toda.\ essas hierofanias lunares. Que revelam elas? O Simbolismo da saída das "tre..,as" enconira·sc nos rituais de
Ein q\le medida sào coerentes e oon\r,Jmmtares, em que. m l a ioioiação oomo nas miiologí,u da morte, do drama \'cge"1l (se-
constituem ,,ma ·'teoria". quer dizer" forrouta.m vma seqüência n)ente ente:rract.,, "ttevas" de onde sairâ wna "planta nova'', ned-
de "vcrdadts'' cujo conjunto poderia.constituir un1 sistema'? ,1s jitQ) ou na concepção dos ciclos f'hístót'loos". A "içl;idesombria".
bierofaoiM lunares a que dedicamos n nossa atenção podem ser Kalfyuaa, será seguida, após uma dissolução tósmica (mahllpra,
agrupadas em torno dos segui.ntes ternas: a) fertilidad: (ãgu , loya), de uJna era 110\':.l, .reieoera . .En.oontra-sc a mesma idéia
vegetação11nú1her; ' ' antep., ssado mftiw''); b) rcgcn raçao peno- cm todas as tradições dos eiclos cosmo-h.istól'icos, e se ela não
dica (sUnbolis.mo da serpente e de todos os aninlais íunates; ''ho- tetn. de rllodO verossímil. o $ C U DQnto de. partida npctul'ativo na
lncm no\'o'' sobrevi\'ente de wna caui.strofe aquática causada pela re,vclação das fases da Lua, nà 1-est.a dúvida de que é ilustrada,
Lua; lnorte e ressurrri o iniciáticas; etc. ): e) "ten1po" e "des1i de modo exemplar, pelo seu ntmó,
00 1• (a Lua "mede", "tctt·• os destlo.os. ''Ilia'' cnlte si. os pla· 6 nesse seruido Que $C pode- falar de uma ••valorização'' das
nos cósmicos distintc>s e as realidades hecerogeoeas); d) Jl.\udan· eras sombrias, das époc."tS-de arande d adêJ1c-ia e de dccomposi-
ç.1, man::ada pe\3 opos:içâo Ju -ooo:curida e (lua ?h a-lu no,•a; o elas adquirem uma signilicaçiio supta.bistórica, ainda que
"mllll.do s.uperior'' e "mundo wfenoc-''; "1rm muni$ , bem 1
seja precisainente em tais 1nomentos que a ''história'' se te.alii.1
e mal) ou \XJa polrui.zação ser-não :ier, \'irtual•atua1 (sUJlõoliS· mais plenamente, pols que os equiJfbrios $ão então precários. as
mo dQ •·estados latentes": noite sombria, obsicuridade, mone. condiç.õcs humanas de uma infinita val'iedade, as "liberdades"
TRATA.DO D.E FIJSTÓPIII !l-t.S R.trUGfÔIJS
IS2
e de -t os os
·adas pela deLcrioraçâo de todas as "lcis••à .obscttn <le,
época sotnbri.a é i lada
W : :1 s arcaicos. A
tqào
. - mica. coino tal • pode ser vsloru: . preclsamcn.te na
. 1.d
no11e.c,.,., ,. •ai or " --.n ..;..,., 'eo -,,,...,
- o...
d'dacm que-a n1ortereprcSellta um ,
ltiber âo. das lent
!bolisln<> das larvas nas ue,•as. da V
pQss1,•el o 3-pa.«LmethO
ué se deo<>nipõet\l no solo para tornar
no'{a.
de wna fornt.:i . su , pr ó !1a •
As águas e o simbolismo aquático
Poder-se..l;i dizer que a Lua revd ao homem a e oiha :
humana; q\le ;;m oeno s nttdo o hof»em
ndiç:.\o
que o SilObobsm.o e a m!·
: encootra Jla ,•ida da Lua. É po.r i s M ) ceinpo oons:o.ladores, po1s
kl ·a l1,1nat"Cs são patécloos e ao inc:smo
toue a. fccundld e.
Lua comanda simultaneruneotc :a morteé.,e por es:elencta,
d.rama e a luiciaçào. se a 01odalida.de lunar 60. As águas e os g e n n e s - Num.a fór1nula sumária, poder•
do retorno cJclteo; .c.1es:
., da mudança dos riunos, não f menos a p0,quc, -kl asd1nan1f se-ia dizer que as águas simbQtizam a: totalidade das vJnuaüda•
ti lO q\ie fere- e consola ao mes:o)o tempo, des; ela$ são jQns et origa, a matriz dt todas as- possibilidades
fr is para se dh.1oh•ercm e ruane1--
ta õcS da vlda sll.o bastante restaurada$ pelo "ctc:mo rctor·
de existt'ncitt. ''Água. tu 6 a fonte de todas as coisas e de toda
en1an10,
:., çfui anie são no a exist ncla!", diz wn ce,uo úidlano1, sintetizando a longa tra-
g : : a L\ a di; i ge. Tal é a lei de todo o universo sublun r.
COD$o1adora. de se abolida dição \'édica. As águas são os fundnmcntos do 1nw1do inteiro 2.,
M :sta tei dwa. e não obs:1 nte
"iranscettde ·· o de\'lr clcllco e ad• das são a essência da ,,egctação >, o elixir da in1ortalidade'; .se·
e m cctios casos. pode·se abs,otuLa. VLmOS{ 57) qu cm ctr· melhaote$ à a1nri10 S , elas asse;iuram longa vida, força criadora
• . · um Jnodo de existência
Lua e d? Sol, e $!!.o ouli.oc{pio e ioda cura, e1.c.6 "Que as guas 110s traaanl
:' nicas tãntriças se procura .. unificitf-áo'• da na urud dc o bmrcstar!", suplicava o sacerdote v6dico'. "As águas, etn ver•
da _potru1dade. a reintegra;âo
quer dite:r a ,super.ação qlle:, no fundo, cxprunc dacle, curato, elas 1:!xpulsam e euram 'iodas as docnç:8$!"•
·m o r diaÍ. Este milo da reintegração- et no tctor!'o e d u e.xis- Princípio do lndifetenciado e do virtual, fu.ndamtnto de to-
: d e de abolição dos duaU$mos. do
fragmeotárias - cnoon,ra·se n1urto difunchd,o. com uma d{I a man.iícslação cósmica. re<:<:plilculo de todos os a,ermes, as
ê ·ai reJig.iõeS, EntOlll.Ji·$e nos éguas sin1boliz:acn a 11Ubstância primofdial de que: nascem LOdas
d.a de de vâl'ianttS, U9.
bis1ória das
desde " totnO\l oons·
QU: as formas e para a qual voltam, por re.gressão ou por caiaélis1uô.
estádios mais ar<:aicos, o que pcova que.
ciência da Sll:l. situ.lção n<>
esforçoll« por realiuar
cosmos,
de1naneif.l
o ho1nem
con«eta
dl'.WJ u,
(qu5"r utzer, ?! d:"
.,.... a
e EJ;i.s foran1 no 1>rinc(1>io, eJ:tS \'Oltarão no· filll de todo ciclo histó-
rico ou cósmic.o; elas existirão sempre - se bc,n que nunca SÓ$.,
a superaçoo da su c_on t•
· ·• e ela n13gia ao mesmo tempo) prcciW.o peta cond,ça h.1• p0rque as águas s5o sempre ger,nloadvas, guardando na sua uni·
11f u! a u a (''refletida" com tanta dade n!lo fragmen1ad.a as virtualid des de iodas as fot1nas. Na
gêne de.mitos,
r . Ocupa_r,nos-<:mOO, oportunamCAte, d te a 1mmelra 1·
c,ol;mogonia, no mito, no ritual, na iconografi as ã.auas descm•
deViamos lenibrá-los aqui, porque cons!:wtn\ pcnham a mesma funç.ão, quatqu«- Qoe seja a estrutura·dos con·
o Sçu modo de ser lunar .
tativa feita pelo hOt\\em para s.uperar juntos cu.hurais .nos quais se enoonu 1n:: elas. prectdein qualquer
forma e suportam quatqu« c:riação. A imcrs.. o na ájua simboli•
z.a o regresso ao pré.fonnai, a rcneg.:-ração total, um novo nasci·
,neruo. porque uma imersno equivale a uma dissolução das íor-
nla,s, a uo1a reintegração no modo indiferenciado da pre,.
existência; e a emersão das águas repete o g:c.sto ços:mogônie-o da
manlfestaçao formal. O contato oom a água implica stmpre are--
JS4 TRATADO DE HISTôRIA DAS 11.EUGIÔES A S ÁGUAS E O SI.WBOLJSJ,10 A.QUÃTtC-0 ,ss
aeoeração: por um lado, porque à dissolução se S(gue um ''ra<WO to conta como luna jO\'Cm _perdeu a virgindade por ter deixado
nascicnento".; por outro, porque a ime:rs!o fertili1.a e aumenta o que a c.hu\•a lhe tQcassc o ooroo; e o mito tnals lmp0r1ante da
potencial de vida e de criação. A água cot'lfere um "l'IOVO nasci· ilha Trobriaud 1·evela que Bolu(ukwã, a mãe d o herói l'udava,
inento" por um ritual ioJcládco, ela cora por um ritual mAaico. 1>etdeu a virgind a de cm conscqü!ncia de alguntas ao1as de áQ\ta
ela assc3ura o renascimento posl-môrt m Por rituais funerários. <:a.idas d e uma cst Jactiie 11. Os índios pi.i.na do Novo J\féxioo têm
Jocorporando nela todas as viJ't\lalidades1 a água torna-se um &ln,- um mito se01elb..'UUe; ullla bela muJhcr (quer d izer a Tcrrs,n1.ãc)
bóló de vida (a 11 1igua viva"). Rica etn gefn1cs. el.a fecunda a ter• íoi J ndada por uma gota d t águs caida de u1n.'l UU\1em'' ·
ra, os ani als, a mulher. Recep,ukuk> de toda a ,•ir1uali dadc, fluí-
da por extXICncia, supOtte do devir universal, a água é compara•
da ou dire1 mente assi milada à Lua. Os rhos lunares e aquáticos 61. (',0smogont.:tS aqitádcas- Se ben\ que separados no tem-
são orquestrados pelo mwno destino-: dirigcni o aparecimento po e no espaço, estes falos consdtueni, no entanto, um conjunto
e desaparecimento periódico de iodas as formas, d ão ao devi.J lllli• de es1ru1uta oosmoJógica. A água é g,crminativa, fonte de vida,
versai u.ma esUlltura ç.içlica. cm todos os planos da existência. A mitologia tr'ldiana populari-
Por isso, desde a pré•história, o conjunto A,gua-Lua-Mulher iou cmJn6hiplas variaotes o tema das águas primordia . sobi:c
tem sido percebido como o circuito ai•tropocósmi co da rccul.\di• .as Quais flutua\•a Nãtãyana, cujo umbigo fazia brocar a árvote
d a de. Nos vasos ntolfticos d a cultura dita de Wa.llernienburg- cósmica. Na trad ição puràoica, a áivore é subMituída pelo lódõo,
Bernburg, a água era rtpresentad::l pelos.inal ' v / ' v V , q1,1e no meio do qual nasce Brohma (objaja, "nascido do lódão")' 4•
.f.1arobém o mais velho hieróglifo egípcio para a ág.ua oorrcnte9 . ApareC'('m, sucessivamente, os outros deuses - Vat'una, Prajâ-
Jâ no PaJeolítioo, a espira] si1nboti zava . a ft<:undidad e aquática pati Pul:'us.ha oo Brabma {Svaya,nbhu), Nârâyana ou Vishnu-,
e lunar; tl)ar<ada em ido los feminioos, repres.cntava todos cen- fórn1ulas que exprimem o mesmo mito oosmogônjco - nlas as
tros de vida e de fenilidad e u'. Nas mitoloa,las ainerindia s, o si- guas permanecem. Mais ta.rde, esia oosu,ogooia aquática torna-se-
n3\ gliptico da âgua, repr ntado l)(lr um ,..aso cheio d e á.$ua no un1 m()fivo corrente ua iconografia e ua arte d ecorativa: a planta
qual cai unia gota vinda d e uma nuvem, enconua+sc sempre as- ou ártortt-1eva-se da boca ou do un1bjgo de \l.tU Yaksa (personl-
sociad o a rntbltnH'IS lunares' 1• ;\ irai, o <:araool (emblema lu- l1caç_ão da vida fecunda), da a,.1.rganta de um monstro marinho
nar), a :mulher, a água. o peixe penc:nccm constitucionalmeote (111akaru), de W\t earaool ou de um '•vaso cheio" - mas nunca
ao mesmo simbolismo da foc:uudidade, verificá\1el em 1odos os dire1ámente de um símbolo que rcpreseo1asse a Terra 1.s, potque,
planos cósmicos. Ot.lmo vimos, as águas precedem e SVpOrtam qualquer criação,
Toda a análise se arriscá a fragmentar e pu!Yerizar t.n ek-- caunlquer "cottstruç,.ão firme", qualquer manifestação cósmica.
men1os sc-patados o que, para a const.-:i!ncia que os rep.reséntou, A s águas nas quais Ndrâyana flutuava numa devota iodife+
compunha uma li.nica urddade, um cc»mos. O mesmo slmbolo troça $imbotizaal o estado de repouso ,e de índ ifcrcnciação : a noite
indicava ou evocava uma série inteira de re.1.Jidades que só numa 00$fnjca, O próprio Nãràyana d ormi a . E do seu wnbiao. quer.di+
e1CpCriência profana sào separáveis e autônomas. , \ muhi\'alên- :t.Cf.., de um "crotro" {cf. § J4S), aanltou vJda a primeira forma
e:la simbólica de um emblema ou de uma palavra pcrtenctnte às !mi : o Jódtio, a ár\'Orc. simbolo da ondulação unl't·ersal, da
linguas artalcas le\'a-no!> a observar q-ue. para a consciência q IICÍYú gerutinativa.m as sonolcnts, da ._.inda deonde,a consci!ncia
os-forjou, o mundo se revelava como um todo orsânk:o. Na lin- idndo se não dc;sprcn d eo . A criação irue:ira nasct de um receptá+
sua sumê.ril,I, o signific.ava "á.eua••. mas.$ignificava também ''es· 1.'uln e póia-se nele. Bm outras varian1cs, \'ishnu, na sua tercei
perma, co11cepc!o, geração". Na glípdC,.l mesopotámka, por r1, teenwnação (uin gigantesco javali), desce ao fundo das águas
exemplo, a água e o peixe sin1bólico são emblemas da fecund.i d a - 1,rlmord iais e ti ra a Terra do abis1no 16, & t e mito, de origem e
de. Nos nossos dias, ainda, entre os "primitiv0$', a á.gua 110 t11trutura oceluica, também Sé manteve no folck>rc europe ,t•.
oonfunde,se - nem sempre na txperiência corren1c, mas reau• A oosn1ogonia bàbilônica tambCm conhece o caos aquático,
larmtntc no mil o - çom o K:mcn \'iril, Nallha \VL"'l.!11, um mi- 11 ç.ano prim9rdji.t, AJAA? TIR!Tl«fi O _primcil'.O pmonüitava
LSt\ TR,1 T..f D ó OB HISTORIA [),1S RELIOIOES AS ÂOlJAS E O S{MIJOUSJIO AQUÁTICO 157
o oceano de água doce 1,0 qual, m...,is tardt-, flu1uará a Terra; 7'ia· lude·, iniocta iJ1suJ)C1" crate. mergunt •lJ, , \ água é genninati\•a,
n>rlf é o mar Wtado e amargo povoodo de mons1ros. O poema a chuva é fecundaote, scn1elbante ao $êmt'n vtrU. No simbolismo
da eriaçâo, Enu1na Elish, principia ass-im: efótico-cosn1ogõnico, o Céu abraça e fecunda a Terr-a tlOr meio
da chu\'a. O rnesLUO simboliso>o se e11cónlro em todas as hiJoge-
Qµundo ld no a/t() os cius (1iltdtt ,11,0 tinho,1t nom11 nias. A Alemanha e.s.tá cheia de "Kindertàchen". "Bubenquel•
Q,uando (;(} tmhoixo -tt Terra aü1do nüo linho n()n1e l "u. em Oxford., Cltild's \Vcll é uma fonte oonhecid3 por tor-
E q,.,ç () prI,notdial Apsi1. quE' ().f, gerou, 1\M f nda, ns mulheres estetelffe. Muiros crenças deste Lipo ,:,;-
E 4'11t Afun1rn11.• e 1lan1or, m d.e tod<>S tão contaminadas pela coocepção d:a "Terra- fàe .. e pelo sim
Confundiqm todos as úgu.as.1' bolismo erótico da fonte. Mas. por deuás destas crenças como
pôr detrás de todos os mitos da desc.endência da Terra, da vq.e-,
A trad;ção da.1 águas primordiais, onde os u1undo.s tiveram taç-ão, da pedra, éncontramos a mesn1a jdCia fundroneotal: a vi-
a sua origem, enoônlia-sc etn grande nümtto de variantes .nas cos.- dti, qu«diz tt, a realidade, acha-se concentrada nwna substân-
n onias ate icas e ''primiti,·as·•lt, cia cóstn.ica de .que derivam, por descendência direta ou parlic-·
paçio sirobólka, tôdas as formas vivas. 05 animAls aquáticos,
sobl'teudo os peixes (que acumulam, também os $imbolos eró1.i·
6l. lUlogr1das Sendo as aguas a 1u.urii. universal, na qI cos) e os 1nonstros tnarinhos tornam-se os e1nbleroas do sagrado
subsisien1 todas as vinualidsdes e prospeTam todos os gérn,cnes, porque. se substituem à rMlfdode obsolutó, oooccnuada nas guas.
é fácil comproeoder os mitos e as lendas que, faztnl dcrio.·ar delas
o gênero h\lmano ou uiua raça panjcu:lar. Na costa sul de Java
enoonua...se utnsegara unakk11n, uto "mar das crianças''. Os in- 63. A '1Ág \l .a da ''ida'' - Simboto co.s1nogõnit.o, tecepiâ-
dios Karaja do Brasil lembt nn-sc- ai.oda dos tempos mít;oos culo de 1odos os gfflnen . a á.gua oorna-se a substância 1nt\gica
"quando se encontravasn ainda na á.a,li.a". )o.ão de Toqueu\ada, e-medicinal por e:toel ncla.; ela cura, rejuvenesoe. assea,ura a vida
dcsie rC't'Cfldo as lustrações batismais dos recê1n-nascldos no ?i.ié- eterna. O protótipo da água é a .,água vh•a", que a especulação
.lCico. lcausm.iciu . nos al3unu1..c: das fórroul.a.s pelas quais se con$8.- posterior 1>tojetOll por vezes nas .reaiõe:5 cekstes - oomo existe
grava a criança à deusa da á.$:ua Cha!ch.ihuitlycue Cbalchiublla- un1a sónta celeste, uma haonu1 branc.1. no c.*u, ele-. A .ág,aa Yi\•a.
tonae. considerada sua crdadeira 111ik, àS fontes de j1tven1.ude_, a água da vida são as fórmulas rnfticas
Antes de-a imergir na taua, djzia,se: .,Toma es.ta água. por- de uma n1esma rea1id3de n1etatisica e religiosa; na água reside a
que. a deusa Chalchihuitlycue Chalchiubtlatonac ê tua lUãe. Que vkfa, o vigore aetcrnidack. Esta âgua não é, naturalmente, aces-
este banho te lave dos pec:ados dO\$ te\tS pais ..• ' ' Bm seguida, h>- sh·el .i toda a gent.e. OCOl de- qual9.uer maneira. Está guardada
cando a boca, o peito e a é.abeça com a água, atttscent.ava-se: por mo1W1Js. Acha-se enl territ6rios de difkil penec:ração, na J>O$r
"Rectbe, ,nenino, a fua. mãe Chalc;hihuitlycue, a deusa da se de demônios ou de. divindades. O cámlnho 1:mra a sua origem
ág u a . "20 O.. ru1tijos.Ç.aréli0$. os Mordve.s, os Estónio&-. os Tdte• e. a sua obtenção lulpticam uma séri.e de eonsasrações e de "pro-
remisses e outros povos iioo-õ.grioos conhc 1n UJ\\!l. •1Mâe-Água" . vas", exatantente como ll.3 busca da ''ár.,.ore da vida" (§ JOS,
à qual se dirigem as mulhCl'tS que pretendem ter filho '- As Tá- 14S). O "rio .semjdadc" (vljâr.l uaài) encon1ra,se perto da árvo·
taras estéreis ajoelham e imploram perto de um tago,U. A ...,asa, rc rulrac;ulosa de que fala o Kq,.u.sitokt Upanislu,cf!I>. E, no
llmus, é. o lugar por exc:ielência das hilog,cnias. Os filhoS bastar- 1\pocalipseP, os dois stmbolos en(:Ontra.m-sc lado ;:i la.do: "Ele
dos eram ass.imilados à \•egetaç.l\o do lago e lançados Ll3 vasa das 1llostrou-me. em seguida, o rio e a água M Yida, límpida coroo
margens, mauiz inesgotável: nun, sei,tido ritual. eram assin, rein- cristal. que bro1a do ,rono de Deus e do 1:ordelro ... E nas duas
legrad0$ na \•kla impura de qoe·tjnham S."1.fdo. semelbant às et'• margens do rio crt$« a árvore da vida. "?a
,·as arossas, às canas de junco dos p.."lntanos. Tácito di.i dos ger- A ,,·água viva·• rejuvenesce e dá a vida eterna; toda a água,
manOS: ·•lgnavos el- imbelles'ei cotpóre infames·cacno ac P · pOf Uill proCffi-0 ç p,1rticipaçâo e de degradação. que nos aJXI
Jl8 JR.-1.TJIDO D e HiST6RJ DA.S REl.lOlÔES A$ ÂOUAS E O St,HJJOL/$..,10 AQUÁTt.C:O Jl9
recerâ mais claramente no d<curso de.113. obra, i efJdcrue fecun- As águas purificam e rtgene1'a.Ul l)Orque anuk1m a "histó-
da ou nu:dici:rutl. Ainda uos no soi dit:tS, oa Cornualha, .as crian- ria'', restauram - ainda que seja pôr\lm 1non1enlo - a ilttegri-
ças doentes s..'to mergulhadas t r õ ,'C2e5 no poço de- Saint• dade autoral. A diVindnde i.raninoa das águas, Ardví Sü.râ Allã•
Maodron19• Na França, o ním>et'Ode fontes.I'O t: de rii:>5 com vir- hitA, Cchamada ••a s.'\nta que multiplica OSr<banhos ... os bcn .. .
1udes.cutati\'$ é cousiderâvel. Há tambem foates qlle têm uma a riqooza ... a u:rra ... , Qtle purifica a semente de todos os honw:ns .. .
inOuência benfazeja 110 amor l 1, Além. destas font<S, O\ltras águas a matriz de todas as mulheres ... que lhes dâ o leite de que neec!-
possuç:m u,u v.alor ein ntedicina poputar l2• Na Í.ndià. :.u dOE'DC9' silanl". etc:. 11 As ablu purifi,,am do çriu1ç- SJJ , da ptesen ne-
são projc:tadas nas águas >3• Oi. Fino-útrlcos e:<pli..un uin ce-i:to fasta dos nlortos:w, da loucura" °. abolindo ian1os pocados. quanto
número de: doenças pela i,rofauaçlo ou pe,J;:i lnlpurcui das águas os processos de desintegração íLSi<:a ot1 mental. l!las pr dcm os
corraite$34• ê . para encerrar esta revisão suulária. d.at virtudes princip..'Us atos rcligic,sos, preparando áM!m á ill.5(:rção do honlen1
maravilhosas da!) águas, lembremos o papel da "á$ua 1*> co1ne-- na eeonoml:.1 do sagrado. As abh1ç-.õc.s Unham tuaar antes de Sé
ç,ada" na maioria dos sortilégios e d3s n,edicaçõe5 populares. A en1rar nos templos4• e antes dos sacrl(fcios'l.
"áa,ua não começada". uer dizer. a de· uro vaso novo, não pro· O tuesroo mccantuno ri,ual da regeneraç.1o pelas águas e,:.
fanada peto uso cotidiano. conceutr<l é.til si as valf-ncias germina· l)lica a imerso.o das estátuas das dlviodades, no mundo antigo.
tivas t criadoras da água pritnordiaJ. l:.l.a cura. J>Orque, em certo O rir.uai do banho sagtado 'era praticado habitualmente no lto
sentido, refa z a c1iação. \'ere1oos maL<;:tardt que os atos mágicos das grandes deusas da fecundidade e- da agttCuhura . .,\s forças
"rcpeteot" a cosn1ogonla, .rque são p-rojetooos.1101empo roíti 4 exaustas da diVIJ)dade eram deste modo reintegradas, asseguran·
oo da criaç.'lo dos mundos, e nãó s:io majs do que a repetição dos do unta boa colheita (1' ntagia da imersão provoca\'ª a chu"a) e
gestos que se rcati.7..run então, ab origine. No caso da 1t.rapia po 4 a fo.:: unda ,nultiplicação dos bens. A 27 de março (hifol'ia) tinha
pulatcom a á$lJ.s ''não co1neçada", procw.·a;.se a regcneraçâ"o 1uá· Jug.ar o ''banho' . da t>.tãe frigja, Cibele. A imersão da est.it.ua
gica do doente pele> contaco com a substância prin1ordial; a água fa zia-se or.-. num rio (em PtsSinontc, Cibete era banhada no úal-
absorve o mal graç.tS ao seu poder de- .assimil.'lção e de desinte- los), ora num lago {como rn1 Ancita, tagnêsia, etc.)+-1. O "ba 4
gração d t toda! as formas. nho" de Afrodite era oonhecido ccrn Pafos4" e lut.róforos d;1
deusa en-.. Si<:;ionc nos são dtscrito:s por Pausànias 4$ . No século
64. Simbolismo de imtrsilo - A p·urificacão pela água pos• IJJ d.C., Ca1imaco canla o banhe) <la deusa Atena. Estêritual
sui as tnesmas t'II'OPri«Iades na água, Ludo se ''di:isolvc'' J t0l1a e.ra freqüente no culto das di\'indades fentinin8S cretenses e
a "fonna" se desbncg:ra, toda a "história•· é abolida; nada do (c:nicias-1?, conto o era também ein diversas bibóS g rm§nicas 4S.
q11e anterionnente exluiu subsiste após un1a imersão na á.g:ua, ne 4 , \ imersão do crucifixo ou da image:m da Virgem Maria e dos san-
nhun1 perfil, nenhum ·'sinal'', nenhum' 'acontecimento", A islJcr 4
tos, para conjurar a seta e obter a chuva. e ptallcada no c.atoli 4
são equi\'ale. llO plano humano, à mot·te, e.. no plano cósntico, e.ismo desdeo século XIII. oonti.ilu;.mdo, não obstante a resil!t«l 4
à catástrofe (o dilUvio} que dissolve periodicamente o mundo oo eia eclcsiãstiea, até os sécol0$ XIX e.XX .
oceano primordial . .Desintegrando toda a forma e boiindo toda
a b.is1ória, as águas possuem esta vinudc de puriftCaÇ'.110, de rege-
neração e de-renascimento, porque o Q\1e-é 1nerguthado nela "mor 4 65. O b:ui11mo - Este simbolismo in1emorial e ccum!nico
tt'' e, erguendo-se das águas, é semellmntc- a uma criança sem da in>ctsào na água como instrumento de pudflcaç o e de rege-
pecados e $tm ''história·'·. capaz de-receber uroa no\'a re,•el o neração foi aceito pclo cristianis1no e enriquecido par no•,os va--
e de. oorooçat uru3 nova vida "Kmpa". Como escreve Ezequlel):S: tores religiosos. O batismo de São João procurava, não a curo
''Fa«'i sobre vós uma aspe.rSão de água pura t ,•ós sereis puros.·• das enfermidades corp6ceas, >nas a redenção da alnla, o perdão
Bo profeta Zacarla vêem espiri1ooom,o " O C M e lê.tnpo u1na fonte dos·pet.'tldos. Joã'o Batista pre.gava·•'o batis1no de arrependimen 4
b,otarâ para a casa de Da\'i e para os babit.autcs de Jen1salCm, to 1,arn a rffllissâ<> dos pecados"!ó diteudo: ".Eu ,·os batito com
a flru d t f32çr desaparecer o s.-cu põ:ado e a sua mácu.Ja·•u., 4$0.a, luas aquele (tue t 1nais forte do que eu vos batizará oom
160 l'tAíAlX> DE ltfST6Jlf,I D.-SS RE.lJalÓES AS .4GUAS E O Sf.lef80USM0 AQUÂ17CO 161
0 Esphico Santo e o t'l'ty,.''11 No cristianismo,.? _tatLstno _lornoa, eabeça na água como num sepulcro, o ,•eU10 bom em fica imerse:>,
se O principal initrWlle.»to d! rege11cr '"'ão esp1Jitual, 1s - a intcirruncnte sepultado; quando saímos da água, o homem novo
inltf'são oa água t,atiunal cqu1 ile ô en errarnento de Cruto. 1 · aparecesi.muhan mente. '' Toda a ''prC·história do batisn10·· li•
nõrais" - escreve S. J»au)o - 'q e lOcb5 0 $ qut!' !?,lll bat!· oba em ,•ista o mesmo objetl\•o. a 1uorte e a ressurrei i,ii o - se
St
ados ern J d\lS Cri, to o famos 1atnbE;1TI na s.u A.tllO(tc.. S1 bo !1· bent qu.e e1n niveis re1igioso.s difert-ntes daquele que foi instaura,.
c mente, o homem-'llOtte atra'lês d imersão e:1"C!n.ts<;e. put' fica- do }X'IO cri 1ianismo. Não se trata aqlli de- "influências" ou de
do, reno\'ado, e>:í1t:uütDteCOJllO C11sto res5USC1C0tl d? Kt! lllm!I· r<J)tlição d< iimbolos obtidos aliures, porque ta1s símbolos são
IQ. "Nós fomos, p0i;:, enterrados oom ele pelo batts.roo, fun arquedpicos e univtrsais; eles revelam a situação do homem no
doe que, tal O()(nO Crl!IO r uscltou do moo:tos paro a. glôt do cosmos, valorizando ao mesm.o tempo a sua posição perante a
Pai, nós cantlnhe!'IK) para uma nova .v dt., porque, Q paruc:ipa-
: divindade (a re-olid11de absoluta) t a história. O simbolismo da$
motte, pa.1t1c1parem<>S tainbétn na S\l:l uas é o ()roduto da intuiç.ão do cosmos con10 unidade e dobo•
l))O!i pOt iJnitação ru1 liUll.
r&urreição. " " .- . . mem como um modo «pcdJico de exis:tê.oclft que se realiz.a atra-
Do grande núme,o de textos potr1stiCOS q_11e 1n1crprctan'I_ o vés da "lfiltória".
simbolisolo do ootistt10, linlitar·ll e•.n?5 a reter pelo meooscloJs:
nm que se Nferc ,tos va.lotes sotene)l_ogaoos (13 água, o o o que
diz. tes ito ao simbolismo oo_o.smaJ lll'IO':tt-•rc11aK1mcn o. 66. A..sedt do ,norio - O uso funcrârio da água pode ser
Tertu1iarto'4 faz uma Jo03,,"l apologia das prQpriedadeSó e-)(Ctp(:10-- e.,pliéado pck> mesmo conjunto que I-OfD3 válida a soa funç.i.o
naisda Agua. e:lemento s"!O_&ô tificado de,sde.9:mpr peta. comiogônica, mã.gica e ierapêu1ica: as águas ''saciam a sede do
presença divina . .Prbne1ro to1 a agua. centro doe-.spalt?dlvm?, mor10''. dissolvem-no, solidarizamfino .::om a sementes; as áa:uas
que a preferia et\tão a todo.\ os C)utróS derocnt s ... F i à átu , Hmatam o morto'\ abolindo defio.itivan1e.1te a sua condiç-J.o
cr1aturus vi-
em ptimeiro lugar, que foi otdcntldo que, produ?Jss humana s ' , que o inferno Jhe ddxa a um ni\•el reduzido, larvar,
vas ... fol a igua que prin1eiro produziu? que tcrn v1d . para <pie oonservando deste modo inUtcta a p0$.SibHidade de sofrimento.
concebes$(' a vida
0 nosso espauto cess.11sc- quand u!ll dia ela Nas diversa$ conoepções da 1nor1e, o def\11110 não n1orre definiü-
no batismo. Na (ot n o do propno hom m Deus ernJ)rcgou 3, ,·amente, Jll::lS ::adquire apen:11 um modo ele1nent.ar de exjslênc.ia;
água paro wnsun1at a sua obra ..E \:c.,d,de,que a tt-1ra lhe fC>r1e- é uma regressão. não uma extinção fiJ.,13.1. Na expec1ruiva de re·
substânCJa, mas a tena. tcna. sido 1ncapat de fazê-lo nao torno ao circui10 OOsmico (t1·anstnJ3:ração) ou de libcrtaç-ão defi.
ccu a
fosse úntida e di_ssôlúvd ... Pot· q e a.qucla que produt a vida d!I nitiva, a lma do morio Sâ/re e este sofrimento e.xprlme•se habl-
T u r a não produzirá 1ambém a vtcia d Céu? Toda águ natu- tualn1ente pela sede.
f:.ll adqo)re, pois, pela ,nliga pre.'!og.ahva q;ue lhe foi coll$gnada O lioo, n1eraulhado nas chamas do :inferno, suplica a Abraão:
:na sua ori.gffll. -a vinude de sant11t à? no satrrune1no. contM• "Tero piedade de mim e toanda-me Lãzaro, para que ele molhe
que se pr.onun·
to que neu.s S(ja invoe o parlt este fim. Logo os dedos na água(· nu: refresque Unam. pois que estas chamas
d a m a s µafavtas. o E,spínto Santo, desccntl dos céU5, p1ura SO· me tonura1u. "J? Numa 1abuleta órftca (Elcutheme) acha-se a se,.
bre as âguas que etc santifica pela sua fecun.d1dadt-; a.s águ:\S s . iuhueinserição: "Ardo e consu1no-me oom sede.'·' Por ocasião
·ncadas deste modo U)lpl' :tm·Se por su:t vci da Ylttude-Santt- da cerimÇ)nia da lii.droforla, da,•a.s,e água aos mortos,
} c t e ... Aquilo que outrora cur va o corpO cura agora a alm, dcrra1naodo·a.en1 feodas ou aberturas no chão (c1Jas1na10), t pe,.
eternld e . . . .
0 que dav a sallde.oo 1e:mp0 d.ã a s.-i}vação na e las Atues1érias, nas "éspc:ras das chu\'a:S da prin\avera, os gregos
o h nem velho morre por imcrsáO na água, dá or1g.em a acrcdita,•am que os mortos tinham sedes.:, . A convicção de que
uin stt n . tegenerado. Estesiotboli$moé adu1iravclm.cn1e ro.r- as almas dos mortos sofrem sede aterrou em particular as pop,u·
nulado por· Joio Cri omo'5• que. falando da nuduvatê3lc:1a lac&s·a1ueaçadas pelo calor e pela seca (Mesopotâmia. Anató·
i mbólic a do balisino, escreve: "Ele representa a Jnorte e a se- lia, Síria, Palestina, Egito) e era sobrer-udo nestas rt,giõe.s que se-
f)Ul t ufS, 8 vida e a feiJSUrrdç,,9 ... Quando ll)e1iulbamos a nossa ut iliT.a va m as Libações para os defuntos e que se reprcseo1a1,-'a i
162 TnATADó DS HISTÓRIA DAS REL/0168$ A S ÁGU.-1S 2 O $11\f80LIS.WO AQUÁTICO 16!
felicidade no alem 001no utn 1·efrigêrioS "". Os sofrimentos p o s l despeitô deoutrasc.pifanias te de outros rt\'Oluçõcs religiosas:. Eles
111ortern exprlroiram se cm termos ooneretos, da mesma maneiro rc,•elam co1JS4.an1eu1eo,e a força sagrada que: lhes é própria,.e.par.
que :5c formulá qúalquer experi ncia hutn.alla e qOalquer teoria ticipant a-o mesmo tempo do pr-esd&io de elemento netuuiano.
arcaica: a. " sede do morto ... ,e. as "<:bamas" dos infernos asiáti- O culto das águas - e, ein particular, o das fontes oonside,.
cos são substhuk1as n;;is concepções nórdicas por termos que ex- radas c-urativas, dos poços termais, da.t salinas, etc. - aprmnta
primem " a temper.uura reduzida" (frio, :geada. pântanos gcla 4 u_ma co1ui.tluldade.imprcs.sionante. Nenhuma revolução re1Jgio$a
dos. etc.)00. pÕ(lt aboli-lo. Atiment.1do pela devoção popular, o cubo das
J\ias tàtUO a de-oon10 o frk> e,"(,prirne.n o sofrimento, o dra águas acabou por ser tolerado ate me mo pelo «istianiSJno, de·
rua. a agitação. O morLO 01(0 pode ficar continuamente no mes- pois das perseguições infrutffer.ls da Idade 16dia6l. A oontioui•
nto estado, que f u.,na trágica degrad.lçâo da l)ua condição bu• dade·cultural esteode--se, por vezes. desde o Neolítico até os nos-
mana. t\s liba\.'Ões ifrn por obj«ivo o S:Cl a_patigua,rnento, quer sos dias. Asslnl. na fonte termal de Orisy (cOnn.tna de Sain1-
dizer. n .:abolição doS-sofrLlneutos, a regeneração do 1uor10 por Syn1phoriCn·de-"·larmagnc) ío1'au\ el)(':()ntrados objetos votivos
uma ' dissolução" lotal na água. No B$l1o, o morto é, Pot ve-, ncolítkos e ror.ru:inos63. Idênticos vc:stígi do çuho neolfdoo (sí-
zcs; assimilado n Osúis e, nesta qualidade, ·pode esµer.u um ''des- lioes 1:,aJtidos intencionalmente em sinal de ex•VOlO) foram cncon-
tino aS(tcOJ:1' •, pois que o seu corpo sern1.inará como as semeo· ltados na chamada fonte de Saint-Sau.\•eur (bosque de Compie&·
tcs. Numa esteta f,1ncc:ária do British Musew.u, o defunto d.iri ne) M. Tendo as suas origens na pr hi.stória, o culto transmitiu-
3 Rá esta prccc: ''que o seu corpo possa g,ermlnar"il. f\<las as li-- se aos aauleses, depois aos galo--romaaos, dos quais o recebeu e
ba_çôes ntio devem ser sempre interpre1ad:1i; num sentido "aarf• .'lSS:Írttitou o ari.,;Lianisruo. En1 Saint-Moritz.• con.,;ervarant•Se:, até
cola", a sua rmalldade ne1n sempre é ••atttmitu1.ção do morto'', .há poucos anos, autigas instalações do c1.1lto da É p 0ea. do
:i sua transformação em •·se,nen1e" e 11êophu1ós (neófito, "erva Bronz#. Na oomuua de Bertinoro (proY(llcia de forlJ), peno de
no\•a''), mas. em primeiro lugllf. o seu "apaiiguamento", quer um poço moderno de áaua cloro.salina, encontram-se vestfaios
dizer, a extinç-d.o do resto de condição huthana que .'l)nda conser- cultuais da Idade do Dronze-66. Na tnglatemi, perto de tún1ulos
va a sua in1ersâo LOtal nas ''águai" para l)Oder adquiri!' wn uo,. i:,1·-ê-hlstóricos ou de monomeotos meg-.alftioos, encontramos fon·
vC: nasc.iméntO, O "d ti.oo agrícola'' que: as libações funerárias tes consideradas pela popnJação coino miraculosas ou benfaze-
irnplicam não é mais do qu.e ,nua coOSt'Qfuêncla dest.'I desintegra- jas: Convénl, por fina, lembrar Q ritual que se pradcava no lago
ção fina.l da çol)dição hwnanai uni DQVQmodo de ma1\Lfes1a- Salnt-Andéol (nos monlÇ$ AY\>laç) e que São Gregório de 'fours
ção, que. íie tornou poss(vCJ pelas \•irtudes <lissolve(ltes mas tam- descreve- (544,595). Os ho,nens dirigiam-se par.l lá em carroças
béln ge11ninativas das Aguas. e durao1e tr dia:s havia festa cm voha do lago; Je,•avam, cm ,;i.
naltk- ofc-rc:nda, roo1xis brancas. peças de ves1.uário, lãs, quei-
jos,, bolos, etc. No quatto dia levant.ou se gi:ande tempestade se-
67. Fontl".S miraculosas e oraculares - A O"tll multlvalência guida de ehu\•a (llaUl\'a-sc. evideutenlente, de um rito bárbaro
l'eligiosa da á3ua correspondem, na história, numc:r cultos para conjurar a chuva). Unl padre., Part.henius, depois de wr 1en-
,e ritos cQncmt.rados à \•oha de fontes, rios é riachos. C1Jltos que tado, em vào, co11ve.nocr os camponeses 3.rea\ulciarem a este oe--
se deve1n, em primeiro lugar, ao valor sagrado que a ;lau.1. incor• rin>ouial pagão, construiu um;l .i.grtja, para a qual os homcnl) aca-
:pora em si, como elen1ento cosmogônico ,. U\&$ uunbém à ep1r.-.. bantm por le\·ar as ofere1)das destinadas ao lago. No entaruo, o
·oja local, inanifesta o da presença sagr:ada en1 certo e.urso de hábitQ de jogar ,ia á$:\Ja do 1ago objetos usados e boi conservou-
.água ou en1 certa fonte. Estas epifattias locais são iudependen1es- se até o Sét."1110 Xl.X: os peregrinos lançavam ao lago camisas e
..
·da estrutura religiosa .sobreposta. A ásua corre, é viva'-', asj1a. talças.• sem comprcenderein o sentido desses atQ<'i67.
se; inspira, cura. ptofetiUl. E1u si m m0$, a íooQe ou o rio ma- Encoo.tramos uro excdeute exemplo de cootinuidade, a dcs-
nifestam o poder, a \•ida, a perenidade; clessãoes$o ,•l'IIQs. Dcs- r,cito d:\S modJficações do conjunto reliaioso.no qual foi sucessi·
tt 111odo adQuiren1 uma autonomia e o seu cullo pcrmaneçe, a 1·amoorc integrado o cullo das águas, na monografia j á citada de
164 TMTAIX> DE HISTôRIA DAS RELtOtOes AS ÁóUAS E ó S//lfBOLJS/.(0 AQUÁTICO l6S
l>en zwni robre a rctiS)â<> primitiva da Sai:denha, Os prot(),$lrdos caioo conservaram.se atê· o declínio do helenismo. Pausinias''" te.
\'encravam as fontes, oferecendo-lhes saerlficios e erigindo perto -.e ainda oe.isido de cxa1ninar e descrever a oerim6nia que se dc-
delas santuários dedicados a Sarder Pa1.er68. Ao lado dos tem senrota,•a na fonte Hagno, na encosta do monle licaios, na Ar•
plos e da. ág\ta.S tinhatn lugar os ordâlios., ícnôn\.eno religioso ca- cádia: <1oando grWava a !)((:a, o sac.erdote do deus Llcaios fazia
rac.1eós1i.co do ooojunto adântico-1ncdltc.rrâoico,.. Vestígios des- ali sacriffci e joga"ª para a fonte um ramo de carvalho. O rito
ce ordâlio pela água sobreviveram a1é hoje ll.lS crcnÇaS o fo.t é 1nuito antigo e enquadra-se no oonjunto ··m ia da chuva•·.
clore sardo. o çuito das águas enconh'à•S tambén1 na pre•b1stóna Com e(eiio, conta Pausânias, apó.$ cerimônia unl .\Opto ligeiro
da Sicllia". Em LUibeo (t\1o.rsala) o cu1to gres<> da Sibila como uma nu\•ero lc,•antava-se da água e oon)eÇava logo a cbo•
sobrepôs-se a wn (Ulto p(imitivo Jocal, qu 1i ha o S::º ntro \'er. NãQ cncontratnos aqui uenh\lJ03 personifi çâo religiosa: a
nuo1a caverna inundada de 4ua; os proto-skibanos dirigiam-se for à r«lde ou fonte. e eçta força, desertcadeada por um rito t.$+
ali pa,·a os ordâli e para as i11cubações prof k:as; a Sibi!a ali pecífico, oomtui.da a chuva •
dominou e profetwu no iempo da coloniz.açao grega e. J no ..Ho1nero conhecia o culto dos rios: os troianos sacrificavam
crl$tianismo, l)Cfpetwu-se ali u.ma devo,ção a São João Bat1s1a. animais ao Esca1nandro e lat\çavam cavalos vivos nas suas á$uas.
a queLn .se eri&iu no século XVI um santu.ãrio na lha C?vcrna, Pe«e-u sacrificou cinqüenta ovelhas .às nascentes do Espcrqueios.
que oou1inuou ato! os nossos dias a SC1" desUno de pcregruL.'\Cões O Escmnandro tinha os seussacerdot ; do Esperqucioseran1 con·
por $UM ág miraculosas'º· ssg;radoi uLn recinto e um aJ1ar. Sacrificavain•se-cavalos e bois a
Os oráculos est!lo, multas vezes. situados ua.>
' imediações das Pos(don e âs divindades marinbas6 ' . Outros povos lndo,curopeus
águas, Perto do templo de Antiaraos, eLn Oropos, os que cr 9fer«:iam taLubém sacrifícios aos rios: por eJ,:empto, os cilnbros.
curados pelo- or.;lçulo jogavam na água u1na moeda'1. A P1ua que sacrifitava1\\ ao Ródano, os francos, os gern,anos, os esla•
prepátava,$C bebendo áj:ua da too1e. Cassotis. Ern Colofônia, o vos. etc.'7 Hcsiodo 1neuciona os Siltlülcios que se celebravam
profela bebia a água de uma fonte sagr:tda que se encontra"ª na quando se passava utn tio13. Rito que len1 numerosos paralelos
gruta'1. Em CJa.ros, o saccrdou de.Scia.:à gruta, bebia a. ág:Ja de etnogrâfiecs: os n\assai do leste da Africa laoçaoi orna mão cheia
uma fonte misieóosa (hõusta fonti$ aréa'!tl nqua) e respondia em decr\'a sempre que at:ravessa111 um rio; o baganda, da Áfrk;l Cen-
verso às qUCMões que lhe propurlham em peosam l\to (super re-- tral, trazem 001uo oferenda gràos óe café, etc:'19 Os deuses Ouvi ais.
b quas quis numte- coneeplt) 1>. O poder proíétteo t:?1ana das helenos são, por "ezes, antropomorfos: por cxcn1plo. o Escaman-
águas LntuiQ maica que se encontra numa área muito vasta. dro lula rom.Aquileso l
i>, tas, .na sua maioria. cr:un reptesentados
O no por e>.:enlplo, ê designado pelos ttabH6nios "a casa dã sob a forma de touros''. E..nut todõ.$, o deus fluvial mais conhe-
sabedoria '. Oanues, o persona3.eru 1nítico babilônico . cido era Aqueloos. Homero consídtra•o mc:smo um grand deus,
tado metade homeLn, metade peixe, sai do mar de Edtre1a ep,resen·
e re\·e· dh•indade de todos os rios. dos ,narcs e das fon1e5. São oonheci·
ta aos homens a <:ultura, a escrita. a :1strotoaia • 74
das as lutas de Aql>eloos com Hét ks; o seu <:uho era praticado
em Atenas. em Oropos. enl lvtégara e em muitas oulras cidades.
O nome. tem sido (,lifcrente1l1eute inlcrpretado. tuas par re q,ue a
68. Eplfani.íli aq1aáticns e. divtndade$ tias á uas - O culto etl.rooJogia mais provável é siniplestuentc ••a água·•3l.
das á..as - dos rios, das fonics, dos lagos - e isthi na úr ia Ê in\\úl citar toda a mitologia ll4úádca 006 grcg_O&. Ela é "asta
antes das invasões indo,curopéi11s e aotes de qualque.r \';,.loriz.."l· e de contornos imprecisos. Em pe:rl)Ctuo esooa1ncnto, inúruetas
ção mitológica da exp l'iência religiosa. Ve.stigiC>S deste C\llfo ar- fiauras míticas ;:iparecem, repe1indo o mesmo 1notivo fundamtn·
tal: as divindades das águas naS(.°tm das águas. Algu1oos destas
figuras alcançaram lugares importantes na miiologia ou na Jen•
da, como I o caso de TCi.is, ninfa marinha, de Proteu, Glauco.
Nereu e-Tritão, divindades netunianas cuja figura den\lncia wna
imJ)<'rfeita origem nas águas. com os seus coroos de mon ros ma·
-
·pientes desta for,;a mágica, froqüen1eruente simbolizada por u.m nast.aa Hta a reuiar se õ."\chava ll declínio ou ein curso de
licor dJviJio, ambrosia ou "11$ua viva"; e)cs cocúe.rem a lmortali- re çao 1oi . Quando morria, ou por ,·ezes nt<'Smo durante a vi-
da.de ou a ju\<eotude e(erna, (rao.sforman, a.goele que os pOS$\.li da, o imperador !oitava ao CCu: ê o caso de Huang-ti, o Soberano
cm herói, em deus, etc. Amarelo, que foi le\'ado ao c r u por un1 dtag.,o barbado oom a
suas mulll S e .os stus oonselhdros, num total de íO pes'soas iro .
Na n:i1tolog chin , de es,tTut1..1ra continental, o clra$ã<>,sfm.
11. ,\nbnats e simbl>los aq:a.lidto5 - Os dra.gões, j ' serpen bolod8$aguas, e Ulvesndo, de modo cada \'e.tinais forte das virtu4
tes, as ooochas. os dclfl.n . os pdxts silo Ymbolos da ;1aua es- des celestes, A fettilidadt. aquática conccntra sc nas nuv ns. numa
4
de r fundir nelas, de "pwificá.-la'', eoriqueceodo-a ,1.0 mesmo ponto de \1ista da estl'utura, o •'dilúvio'' é coooparilvel ao 1'balis-
tempo oom no,•o.s éSlados latente., e re3eL1eranda. A hun\ani· 1no" c a libação (Ullel'ária ou o entusiat1no ninfolCptico à:s lus-
dade desaparece pcriodicrunellte no dilúvio 0\1 ua inundação por trações dos recém-nascidos ou ao.s banhos rituaJs primaveris que
causa dos seus. ·( dos" (na.maioria dos mitos d<>circuito do procunu:u alcançar a saUde e a fertilidade.
Pacifico o n)otivo da e.atástrofe e wna faka l'itual). Nuoca pert· Qualquer que seja o conjunco religi.oso de que façam parte-
cc deíinitivam-ente, mas rc-.ap.vece sob no,•tl fortna, retomando as águas, sua Cuução é sempre a mesma.: elas desintegram. extiD•
o ntesmo destino. esperaod.o o rttomo da mesma a1ástrQfç que suem ss formas, ''lavaLu os pecados'', purlficando e regeneran•
a reabscuverá nas águas. do .to n1esmo temp,0. O seu destino b prec«i r a cri .ão e
Não .se tta1a t lvu de u1na concepção peuimist3 da ,·ida. reabsor,;,ê-la. não podendo ntutc.l superar a sua própria modali-
mais a VJsão res.ig.nada, itnpost.a pe.la.intuição do própi:iocon· dade, isco t. llào podendo manifestar-se cm forn, . As áiuas não
junto Agua-Lua-Devir. O mito do diJú,•io; 00111todas as suas .bn• pode.m superar a condição do \'irtual, dos germes e dos es1..1dos
plicaçõcs, reveta como a vida pode ser \'alori.zada por unia outra JaLCntcs. Tudo o que ê for,na se manifesta acima dDS águas,
••consciência'' diferente da consciêociab .wana; ''vista'' do .nl· destacando-se das águ:\S. E1n compeosaçno, logo que qualquer
,·el netuniailo,·a vida humana aparece como aJS,Ofrágil qué é pre- formo dC$tac.a das águas, dei)1ando por i m de ser 'oirtual, cai
,clso reii;b$otver petiodicame.nte. ])Ois (IUC o destino de ,odas as sob a alçada da lei do tempo e da vida; adquire Umites, passa a
formas é se dissolver-a funde poder rea_pal'eçer. Se as "Connas" conhcctr a .história, partic.ipa do devi.l' universal, corrompe,-se e
não fossem re,s.eneradas pela sua reabsorção periódica nas águas, acaba por se esvaziar de substância, sie n3o se rcge-nera pOr inter•
desfazer.se-iam, esgO(ariam as &uas possibilidades adoras e sões periódicas nas .\$tias, se não repete o "dihivio" seguido da
extinguir-se-.iw detiniti\'atnente. Os ''atos maus '. ', os "pecados" "c o s m o gonia". As lus.irações e a$ purit'icàÇÕts rituais oom a água
acabariam p0r desfigurar a huu,anidade; es\'atlada dos sermes êm por finalidade a utilitaçâo fulgurante "daquele 1e1npo", in
e das Corças criadoras, a bu1nanidade estiolaria, decrépita e c:stê- 11/0 u,npore, e1)) que te\'e lug.tr a ctla o: elas são a repecicâo sWl·
ril. Em ve2. da regressão lema às fornlaS subn13.1:inas, o dih\vio b61ica do nascimento dos mundos ou do ''homem no\'o••. Todo
cooduz â reabsorção inslantânea 11as águ:as, nas quais os "peca- contato com a á.3ua, Quando é praticado cont uma intenção reli•
dos·• s.1o _purifKados e das quais nascttà a humanidade nova, re-· aiosa resume os dois n,01ue11tos fundamtn1ai.s do riuno cósmi-
icnerada. co; a reintegração nas águas· e a criação.
as pedras ou fizeram uso delas como instrwnentos de ação cspi- de dos c-amp0$ pelas forças que. a sua natur , esptrhuaJ lhe coo•
cituaJ, como oenrros de energia deslin.,dos â sua própria defesa fere, a imPoSSiblUte de se toroar errantt. e perigosa. &1a inter-
ou à d s n1-0rtos. B convém esclarece!' OOde jâ que isto foi pretação é confirmada pelas. re«;nles pesquisas de W. Koppcrs
assim p<>cque a m ioria das pedras que 1tinbam i.ncldaoci.3$ cul+ sobl'e as tribos mais arcaicas da tndia Central, os, bhiJs, os kor•
t'uais eram utilizadas corno insir1unentos: serviam para se obter ku, os mundas e os aoods. Fazendo abstração d0$ resultados ob-
alguma coisa ou para i,\ltat' a $\la posse. Dcsempenb;i"am wna tidos por Koppcrs sobre a história dos 1non1.1rne:ucos .lhicos fu,
funç-ão mais propriatner.te m:ig.ica do que re-ligiosa.. J\.iu.nidas de- ne:rários da Índi:.J. Central, há que reter: a) que todos estes monu-
certas virtudes sagradas·devida.s à sua origem ou à sua rorma. mentos se relacionam e-0m -0 eul10 dos n1ortos e l)l'OCUram o 9Pll·
elas nâo era1u odoradas, mas 111illtodas. ziauantenco da atroa do defunto; b) quc 1 do ponto de vísfa mor•
Dffie mC>do, o americanista J, }Jnbelloni, ao tudar a área fológieó, Podem ser co1nparad.os aos 1u gâli1os e aos menires prC·
de difusão da palavra O\."e:IJJO•americana tokl (árett que se esten- bistôriCO$ europeus; e) que eles não se enconttarn por chua dos
de d sde o linütc oriental da l\•lclantisia atê o inledor das duas Hlmulos. uem mesmo ao lado_. mas a grande distância dtles; ti)
Américas), destacou as seguintes sig:oíficaçõe:s: a) arma de com• que, no entanto. quando se trata de Ulllil morte violenta (raio,
bace. de pedra; machado; p,or xtensão, qualquer ins1rumento de serpeu1e, tigre) o monumento é erigido no próprio local do
r,edra.: li) lnsíani.1 da dignidade. sitnbolo de poder; e) pessoo que addent .
de1ém ou exerce o poder, por heroditar.edade ou por investidU• E.ue último e-aso revela o sentido originário dos mouumen•
ra; <1) objeto riLua!1• Os ''auardiãc.s de sepulturas" eocolíticas tos IItioos funerários, porque a moMc violenta projeta u1na alma
eram postos ao lado dos depósitoo 01on1.1ãrios, a fim de llles as- agitada e hostil, cheia de.r'essentimen,os. Se n vida é io1errom1>i-
segua·ar a invio1.:tb1lidade1• Os 1nenires parece,u ter desempenha- 9;1 brose3men1e, supôc'-SC: que a alma do morto tem tend!ncia para
do um pa.pel semclhante: o do 11as d'Au1s erigia...se w:.rti.catmentc oontinuar o Q).ie lhe resta.Ya de vida nor1nal junto da coletividade
por cima de u.m depósito mortuário'. A pedra protegia comra os de que foi separada. Entre os gonds, per exemplo, amontoam-se
animais, os ladrõe$, mas sobretudo conl.râ a "morte": tal como pedras uo local onde 3Jguên1 foi m.ono por um raio, por um tig r e
a incorrup(Jb1Udade. da pedra, devia a alma do defunto subsis1ir ou por -tuna serpe.nte.1: cada pessoa qoo passa jonca uma pedra
lodefi l1idantcnte sesn se dispersar (o e.\1e n1ual simbolismó fá.Uoo ao n1oote para repouso do defunto (oostume que. sobrevive ainda
das pedras cumulares pré-hiscóricas confirma este sentido: o falo em algumas regiões da Europa. por e,i:empk>, na França; cí. §
C(ll um sítn.bolo da existência, da força, da duração). 76). Enfim, cm aJgumas regiões (entre ôS goods dl'á,·ldos) a con•
sagração dos monumentos funerários ê acompanhada de r i t o s ®
ticos, como se enoo,uranl sempre quaodo se 1·ealizan1 as com
1S. Ptlc&álitos funtrárloi; - Bntre. os a:onds-, uma das <l'ibos morações dos n\orios nas sociedades agrárias. 'entre os bhils, os
<lrávld.as que penetraraw nla.ls profundamente na Índia Central. monumentos são erigidos so,ne:ote para aqueles que pcreoctam
existe o seguinte costume: o filho O\I herdeiro do mono de,•c de- de morte violenta, ou para os chefes, para os rnás;icos e para os
positar ao Lado do n\ruulo, quatro <lias depois do enttno. un1 3uerl'eiros, p;ua a t1·anqüilidade de alma dos ''fortes'', numa pa---
orme rocM<fo que atinge, por veies, três mecros de altura.. O tnvra, daqueles que representavam a urorça'' durante a sua vida
trs.nsporte desta pedra, vinda muitas vezes de distândM apreciâR ou que a obtiveram por contágio da sua ··•morte ..ioleota".
vels, exige mWtóS esfor,;os e dcsJ)C$aS. e é por isso que. na maio•
, .A pedro funetál'la tonla-se assin:i u1n in.stru1ncnto protetor
riadOS(1IS0S, a construção do monumento ê-adiada e, por tteS. da vida oontra a morte. A alU1a ''habita'' a pedra, co1no habi1a,
nem se faz.'. O antropólogo inglês Hu11on pensa que es1es mo· cn1 outras culturas, o tllmulo, considerado. por razões semelhan-
nulncntos m tiliticos f\lnerârios - freq'O.e11tes entre as tribo$ nào tes-, uma •;casa do1uorco'', O meg.:ilito fur:ienirio protege os \•i-
civilizadas da Jndia - têm por finalidade • rixat'' a alma dQ morto vos das eventuais ações nocivas do m0tio: a n1ort.e, reprmntan-
e. prep.arar.Jb.e um alojamento 1>rovisóri o que a mao,enba na vi- dQ um -estado de disponibilidade-, pe.rmite o exercício de oer,as
zinhança dos vivos e que, pcrmiünd.O·lhe influenciar a fertWda• lnRuências boas ou m s. "Fi.xad.-" nu.ma pedra, a alma é oous-
11MTA00 J)/!, HlStóRJA DAS !leL.JOIÕES 179
178
a
trat1alda a agir unica1neitt.e no sentido p,0sltivo: t'crülização. por dra de1 is d rem feito as oferendas (flores, sãndato e- arroz.
co.2.ido)1 . As lt1bos-da Austrália Cen1tal têtll ooncepções setue•
isso qut. em muitas 9.reas (Uhurais as podras. que se S\tl)Õe habl-
tad.lS pelos '' art le pass ados'·', são instrwnentos de fecundação dos lhantes. SpenOC1' e úílkn citam o caso de um grande rochedo de-
nominado Erathipa<1ue a1>reseu1a 11.1ma abertura lateral pela qual
camPoS e elas mulhtt'e!, As tribOs -..1coliticas do Sudão ;issimUain as almas das crinnças q\Je aU estao en1enadas espreharo a passa-
as " pedras de chuva" aos antc,,assados que sabiam traze.r a
ehu"all. Nas ilhas do Pacifico (Nova C3kdôuia, t,.iale.kula, At- gem de uma muJher para poderem renascu ncla. Quando as mu-
lheres que não q·uerem ftlhos se acbam perto do l'OChedo .finge1n•
chin. etc.) certos roéhédos -pr .en,am ou eL1camam os dtuses,
os 1!ntcp dos e os heróis "civiliz..i.dorl"S" . A peça central de se v lhase caminham àPoiadasnun.i.a ngàlà, e,cdnmando: ··Nao
cada altar destas re&iôes do Pac[íico é. segundo J. Layard, um venhas ter comigo, cu sou urna ,..dha. "15 As mulheres estcrris da
tuonólit.:> aoolnp.1nbado de um dóhuen de p!'oporçõts 1nais redu. tribo .t.ilaidl1 (Califórnia Sete.otrioj)aJ) toca1n num rochedo sen\e,.
au,epassados 10• lhante a uma mulher grá,·idal'. Na ilha de Kni (sudoeste da No-
zidas, que representam va OuinC) a mulher que quer ter fi_lhos l:>c$unta de gordura uma
Leenhardt cscreve-11 que ''as l)cdráS são o esphito pet.rlfJca-
do dos antepass.1dos". A expressão é muito bonita, n,as não de- pedra. O mesmo IJS() se enoonLra e,n r,.,fadagáscar". E ínteressal\-
ve ser interpretada literalmente. Não se ,rata de. um "espírito pc· te notar que as mesma, ''pedras fertilizantes" são tantbcm unta-
trificado''. ma de- uma rcprc t\lação concreUt, (le um hábltat das de az.eile pelos 1nercadores que quere1n ter prosperidade nos
provisório ou simbólico deste cspíri10. O próprio L«:nhardt col\ 4
seus negócl.os. Na fndla há u,na crença que pre1ende que ctt1as
( d $ 3 . . en\ outra pa.ss.-isem da mes.n1a obra: "quer M:trate de espí-
pedras teriam nascido e se reproduririam por si mesmas
riLO, de deus, de totem, de clã, lOd3$ estas co.nc:el)Çbes -divt.rS."lS WW,ya,,1bhO=autogenia), por Lsso stio pro,:uradase vener.idas pe-
têin, efcc:ivamenle, uma reptesentação concreta, que é a pedra". las mulb«es c.stén:is que lhes levam ot'crcndaslS. Em certas re-
Os khasis do Assam cr m que a Grande Mãe. do clã está repre- gjô<:$ da Europa e dos outros cont ineotcs os jovens casais camj-
sentada nos dolntcns (ma'W-akynthel, "as pedras fêmeas") e que nham sobre uma pedr:l para torl\ilr fértil a sua união.,, Os sa-
rnoiedos or.un diante de uma pcdi:-a de forma estranha deno,ni-
o Grande Pai ts1á presente nos mcnl.res (rnaw-shynrang, ''as nada pyl-pqjo ("a mulher-pedra"') e faze1n•U)e oferendas de
pcdraYmacl\os")I?. E:m outras áteas culturais, os menires encar-
n.im mesmo a divindade supr.en1a (uraniaoa). Vimos n o § J6 que ouro .
em numec0$as tribos ;1.frkMas o c..ulto do deus supre-mo do u A idéia impJicads por todos c- 1tci; ritos Ca de que. certas pc·
çompr«nde 1n nires {p am-se-lhes sacrifícios) e O\ltra:; pedras dras podem fecundar as .mullieres ,estéreis. q,1er a:raças ao espfri.
to do antepassado que aí se encontra, quer cm 1-·irtude da sua for-
sagradas.
n1a ("mulher.grávida", "mulhcr dra") ou da sua origem (SYO·
)'01nbhú ., ''aulogenia''). rvJas a "teoria º <ru deu lugar a tais. prá+
76. :Pedras ftrtWz-antl.'$ - Por COtlSCguinte, o culto não e tices rcligiosas ou as justiflcou, não se conservou sempre na cons-
dirige à pedl'a, considerada como substância material. mas ao es- ci@nc;a daqu Jes que COl\tinua1n ainda a observar es1as prátk:as.
pírito que a anitt\a, a-o sfrnbolo que a.consagra. A pedra, o r o - Por s a "teoria'' inicial foi substituída ou tuodiftc:.-ada por unia
chedo. o ntoJlólito. o dólmen. o 01cni.r. etc., tornat1J-se saa,ra.dos 1cona dJfcrentc; outras vezes a "teoria" originária foi ('Ompleta·
graças à força e$piritul'.IJ cuja ma(ca. 1.razen1 com etes. \lislO que tneuteesquecida depois de urna revolução religiosa vitoriosa. u m .
rtos achamos nesta área cultural do ·'antepassado". do 1norto '•Jj . bremos alguns (a.tos que. <.'àbem. n,e$te último caso. Nas értnças
xado' · na pedra a fún de ser utilizado como instrumc-nto de defe- populares européias subsistem ainda, cm. 00$50$ dias, fracos vcs-
sa e de au,neoto de vida, acresrent cti:nda alguns exemplos. 11$1.0S de utna devoção pelos mea,álitos, rochedos ou dolmens, so-
brt:vivCncias das práticas de "ftrti.lização" por tontatoo oom as
'Na Índia, é aos ,uegitlitos que se diriae1n as j0\1eni easad para pedras. Esta devoÇão ê, CQmO di$SC'mos, muito vaga: no cantão
tertsn filhos•i. As 1nulh«ts es1êrcis de Salein ((ndin do Sul)
de Mouriel's (Sabóia) a J>Ot>Ulação, acusa "un1 ,emor reli$ioso e
crêern q\\eé nos dolmens que. residem os antepassados q_ue têm r to piedoso'' pela 1'Píerra Cbevetta" (Pedra da Coruja), sem
o poder de fecundã·lltli, e t oor isso (11,l.Ç das se esfreJain na pe,.
-
180 17MTAD0 D e HJ$TóRJA DAS R.EL/0/ÔES ASPEORASSAORADAS 181
saber outra coisa a seu respeito sená.o que ela pr<i1eie s aldeia É prcçiso intcgra.r nesie. 1nesmo conjwuo ri1l1al o costume
e. que na medida em que da subsisu: nc.m o fog.o nem a Aaua os relatado por Sébillot: ·•.Por volta de 1880, não muito longe de
atingiiioll, No can1tio de Sum ne (d.epartamerno do Gard). os C'amac, pessoas casadas havia \ il rios anos senJ que tivessem fi•
1
cao)ponms te1nem os dolnten,s e cvitam-oos 12. As mulheres do lhos iam, pela lua cheia.. até lUn m.euit; despiam-st., e a mulher
cantão de AnneCy'·Sl.ld rezam o "Patel'" e o '"AYC" ao pllssatem corria em volta da pedra, tentando e;sicapar do marido; os fami-
perto de um 1nontão de pedras denominado "o Morto". Mas IS· liares ,•iglavam a distância para afastar os intrusos.''" É prová-
so pode ser explicado pela crença de. Que alguém ter-la sido ali vel que tes procedi1nentos tenham sido mais frociüentes no pas-
e.nten;:idoll. Na mesma região as mulhcreS ajoelham e benzem• Sàdó. Otárü-st fiumêrO!ãi interdiçi,es da parte do <:lero e dos reis
se, colocando uma pe:quena 1>edra t1um monte que se julga co- cm rdação ao culto«LS pedras e sobrec.udo à anlssâo seininal dian-
btlr o corpo de um peregrino a inado ou enterrado após um te das pedras, na Idade t.>l&Ua't. rvJas tste. último rito I muito
desabameato de tmas14• Encontra-se um oosturoe se1nclhante 113 mais complexo e não pode ser reduzido- como os das "escor-
África. Os hottcntotC$ lança.m pedrl'lS sobre o túmulo do demiur- Tcgadelas" ou das "fricções'' - a luna crença na possibilidade
go Heitsi Eibid e.os .povos bautos roeridkmais pra1.ican1 o Jne5mO de "fet"tllJzaçâo" diteta do dólmen ou do menir. Faz-se ai men-
rituaJ em relação ao demiurgo Un.ku.luntuJu 25, Resulta destes ção, em primeiro lusar, do tempo da có1>ula ("durante a lua
exeinplos que a devoção ou o temor rdi3;loso dos me3álitos é es- cheia"), o que indica vesi:faios do culto l\lt\ar; depois o coito dos
porádico na França e detcnninado, oa ior parie dMcasos., por casados ou a emissão seminal dia11te da pedra explicam-se peta
razões que não têm relação com a t'llaiia da pedia (por CJt<'mplo, concepção, mais evoluida, da scxu afiz.ação do reino mineral, dos
"01ortc violenta"). A concepção arcaica de (ertilidadeda.i pedras nasci1n.entos que tê1n por oriae1n a pedra e que correspondem a
consagradas - dolineus, menires - é totalmeute diferrot . las certos ritos de fecundação pela pedra l' 4•
as práticas conservaram-se, um pou<:o por toda a parte, ate os A maioria desses costumes. dizfamos nós, coosetva ainda a
nossos dias. crença de que o sintples contato oom o rochedo ou com a pedra
consagrada basta para fertilizar uma mulher estêril. Nesta nie_s..
ma aldeia {Caroac) as mulheres se11tavam-se no dólroen Cre-uz-
n. A ·•eseortt&adcla" - O co tume denominado ·"escor· tvtoquem, arregaçando os vt:st:idos; sobre o roehtdo foi erigida
rcgad :Cl-o. '>é "ootn conhecido: para terein Glhos, as jovens deixam- uma cruz para e,•itar cs.t.a J)fáticau . Existem tUuitas outras pedras
se escorregar ao longo de unta pedro con grada . Un1 outro cha. adas de "amor·· 0,1 de "casameoto'' cujas ,•irtudcs: são
costume 1•itual a.ioda ntais espalhado e a ,.'frl ç.1o": a frieçlo t erótkas'6. Em Atena$, as mulheres grávim dirisiMl« â çoli•
prattcàda por razões de sa,\de, mas sl\o sobretudo as mulh«es na das ninfas e-deixavam-se <kslizar sobre o rochedo ao 1nesmo
téreis que fazein uso dela. Etu Dec.incs (Rôdan<>), há não mui- tentpo que iuvocavaJn APolO. par.a ttrtm um parto fclizl7. Bis
10 tempo as 1nulheres se sentavarn n\1m monólito <1uese encontra aq um bom exentplo de mudança de sjgnificaç!lo de UUl rito,
nos campOS num Jocal chattlado Picn:e-frite. Em Saint•Reoan (Fi- pois que a pedra da fecu1tdaçã,o se transforma em pedra de par.
nisterra) a mulher que desejasse ter um ftlho dcitava-se durante to. As mesmas crenças nas pedras que, só por se tocar nelas de·
trê.., noites couseeutivas sobre um grande rochedo. La Jumcnt de terminam um pano bem-sucedido , são encontndas tam em
Plerren. 1'ambéro as jovoos recCm-.:asactas vinham aJi nas pri- J.?ortugal".
meir s. noites após o e-asa.meato e esfrcgavant o \'entre naquela Muicos. Jnea.tlitos favor«:em o a1:1dar da-s crianças ou
pedra2'. Esta prática é muito diMe1uinada l°t . Por exemplo, na :JI. proporclonam-thes bo3 .saúde3t. No can1ão de Amence, existe
deia Moedan, do cantão de Pont-Aven, a5 mulheres que roça. uma "Pedra furada": mulheres ajoelham diante dela e oram
varo o ventre na pedra ficavam co10 a ct:l'leza de-que teriam fi- pela sat\de dos fdhos. jogando un,a motda 110 buraca->. No mo,.
lhos do sexo ou&uJioolO. Ainda em 19Zl as camponrsas que Iam mento do oasàmento, os pais levam a criança à ''pedra fiu•ada.,
a Londres abraça,•am as ootunas da catedral de S o Paulo para de Foú-,cnt.fe-Haut e íaum-na 1>assa1· pelo buraco. "Era, de oerto
tt1e1u tilhosl 1• 1nodo, o b3tismo da pedra destinado a preservar a criança de-ma-
-
182 7 M T A f ) 0 DE- HISTÓRIA DAS Rl:L/GIÔES ASPEDRASSAORADAS 18)
1-effcios e a dar-lh( felickJade. u.1 1No nosso ,eo.\f)() ainda, as mu- 18. Pedras fu-ridas, ;,. pedra s de raio" - OiS$tm0$ que, no
lh rts tê.tds de J>afos p.usam pelo buraco dê um.- pedra l. Es· caso das pedras ·fcrtilizanl<:S" e da devoção pelas pedras, a 'tco-+
te oostwne existe em etnas rOO da 1n$1aterr:a0 . Em OUttaS re ria'' tJadicional que jl1.&tificava a µrácica tinha sido substirufda
g.iões. as nl\llllcreli passatn siluplesmente a mão direita pela aber- - ou pelo menos contaminada - por uma teoria nova. Excm·
tura, porque, divm elas, é esta a 1nã.:O que supOrta o peso da pio notável di$SO nos C fornecido p,cto oostu1ne (conservado até
criança:". No Natal t pelo SJQ João (quer dizer. n9s dois solstf- os nossos dias na Europa) de frizer pusar o recém-nascido pelo
<:ios) punham-se v<.Ll.s ao lado de ccr s pedras buracadas .e buraco de uma pedra-"' . Este rito refere-se, sem quaJquc-r dlivi
espalhava-se uibrc el ar.cite, que deJ)()IS se recolhia pa,a servir da, a UOl "rena.scimen.10•· concebido quer coolb naschnen10 por
de rem.édio"s. intermédio de. um Sin1bolo ent pedra da matriz di\·iua, quer.co-
. \ Igreja.combateu durante nluito 1cmpo s.es .oostllme$". A n10 um re.nascimi;nto por um símbolo soJ r. Os povos proto•
sua sobrevi,'t'ncia, a despeito das pr C:$tcl-es1a t1cas erobretu- hlstóri,oos da fndia oonsiclerovam as pedras furadas wn símbolo
do a despeito de um século de racionaliJ1.tt10 anü•L'eligjoso e anti- do yó11i,e- a ação de- passar pclo buraco implicaria a regeneração
supcrsticioso, ;Jtesta uma,nmaisaS\1a força. Quaset<XlasMO\I· por intennédio do prindpio cósmico feminino4. As"mós de pe-
tras ce.rimóuiu.squese relacion:un com as pedras oonsagradas:{dt- dra'' cultuais (ãl•··k ttmar) da pré,.1:úst6ria scandinava teriam de-
voção, 1en1or, a4i,•inh.ação, etc.) desaparc ram, elas nada ma sempenhado uma função similar: Oscar Almgrcn atribui a elas
ficou do que a(J_uilo que tinham de ess.:oc1al: a te na 1ua vittude um senddo simbólico próximo daquele do yon i,. J\.1as n:i Índia
fert liz.antc . Hoje, essa mu.ça já não é..s.ustentada por nenhuma esta! ring-slónes t m atém disso um simbolismo :iolar. Elas o
considetaçao teórica, mas justifi da por lendas recen1es ou DOr assimiladas à po,tta do "mundo", loku·d•·dro, através da qual
in1crprc-tações ele,icai.s (no roc.bedo repousou u1n santo; so re o ,a,nbé,n a ahna pode "passar ali.m · (salvar-se-a1ím"eyatt:). O
menir encon1ra-sc uma cruz., etc.). Pode-se, no e1uao10, eviden- buraco da pedra chama-se " a porta da Libertação" (n;ukli-dvlira)
ciar, por veus, unta fórmula teórica lntermcdiâria: a pedras. 0$ . de qualquer form:t, esta fórmula. nlo pode ser aplic.-.da a wn
rochedos, os menires são freqüentados Pot fadu e e a e!a:s que renascimento pe.Jo )'Oni (a matrii), mas somente a uma liberta-
se Levattt ofereridas (óleos, Oores, etc.). Não t (fue se preste culto ção .do c;os1nos e do ;cio clnnico, libertação imoti d:t no sim•
a esses seres 1nas há s roprc alguma <:O.is.1' a pcd.ir-lhC'S. bolistno solarso. Encontracno-nos perante úin simbolismo que re-
No en,;n,o a revoluçâo religjosa realizada pela convcr ão ,•ela wn sentido difc-rcnte do rito ar,caico da passagem pela ring-
da europa ao crÍstianismo bou or· anular o conJunto , ó rico stone. Tan1bên1 na Índia se encon1ra unt outro exemplo da. subs
primitivo no qual se enquadra ocmmonlal_dasl)Cdras f<rt,Uzan· tituição de uma antiga teoria por uma nova: <linda hoje• pedro
tes. A devoÇio manifCMada pe]:is l)(lpulaçócS .rurrus ate a Idade sólqgrân,a é $agrada porque diz-se ser o sin1bolo de Vishnu, e po1
MCdia para co1n tudo o qU<: se rdacl<>nava oom M civiliz..'lções que se casa co,n a planta tu/as/, sll11bolo da deusa Utk.shrni. Na
pcé•históricas (a que se chamam as "idad S de pedra n), para com realidade., o conjunto cultual pedra-planta Cum símbolo arcaico
os seus moDumentos funerários. mágicos ou cultuais, J)i\f3 c-om do ···1ugar consagrado" do aliar prim.irivo e cobre toda área
as s1,1as armM de pedL'a (a "pedra de.raio''), e>eplica-se.n:io 5<l por indo-.mtdi1errânlca (cf. § 97),
uma sobrevivência direta das idéi;LS rcHigiosas que tinham anima. Em numerosa$ regiões as pedras metcc)ri<as são cons:ider:t·
do os seus antepassados pré-históricos.. n1as tambêm pelo temor, das símbolos ou sinais d fenilida.de. Os bouriates es&lo conven
pela devoção ou pela adn1iraçâo supetsticiosa q c as popu)açôes cidos de que cenas pedras ·'caídas <lo céu 1• sr,o favorá,,eis à chu-
rurais rua.njfestavan1 a respeito desses hof!ltn.s: ;ulgavam·l)()$ se- va e é por isso que em tempo de seca lhes oferecem sacriík-ios.
gundo os restos da sua civilizaçâo Ui-ica. E vcrda q as popu- ,Em muitas outras aldeias encontr.im-se pedras análoa,.1.S, de di·
lações rurais consideravam - <:orno se .-erá . mws adianre - :lS meiisões reduzidas: pela primavera faum-se-1hes of endas par.i.
armas primiti,.·a:s como "pedras de raio'·' caída.s do cCu; também. se ob(cr- uma boa colheita:n. Resulta dai que, se a pedra e p-ro,'i-
os meriires. as estetas, os dollnens eram tomados como ,•cstigjos éls de un1_valor rcligio.w, isso é devido à sua orige1u: el:t viria de
dos gigante.\, das fadas, dos heróis. uma iona sasrada e férti'I por exctl cia. Ela cai do éé.u ao n,es-
184 TRATADO D B HIS'll.)/1../A f>AS RE/..IO!ôe!. AS PEDR1iS SitGR'.rlD.AS ,as
n10 tempo. Qllt- o caio que ,raz.. a chuva. Tod.as as crenças relativa$ cair do ofu. a·Ka'aba encontrou o firmamento e foi por esse bU·
à íertiUdact das "pedras d.e chuva" 1êrn como fundamento .-i sua raco que pódc eferuar•se a co1uunicaçao da Tt.rra eom o Cfu. é.
origem tneteórica ou as analogias que se pensa que existem enttc por aí que pa.s:s:a o Axk ;ti,fundi.
elas e cu1a.s forças. forntas e seres qu,e comandam a chuva. Ent Assim, os metCQritos são $agrados ou porque.cairam do céu.
t<ota Oa.dàttg (Sumatra), por exemplo, ac.ha-se uma pedra que ou porque revelam a presença da Grande Deusa, ou a1nda por-
apre$etlta uma 'l"aga semelhança com um gato. Aproxintando - que rep<eset11an1 o '(centro do mundo". Em t0d0$ esses casos,
te raio 4o l'IP<I <lesempeúha<lo por ,11n amo nearo em çen0$ n· são sl111bolos ou e1nl)Jen1os. O seu earárer saara.do supõe. uma t 0-
tos destinados a obter a chuva., pode-se supor que esta pedra pOS-- ria coswotó&i<a e. ao mesmo tempo, uma concepção precisa da
sui cap.lc.idades se1nellt:u:i1es'i. A allálise cerrada das inõ.r:ncras dialélica hkroianka. "Os ârat,es adorant as pedras'', revia CJe.
·· p e dras de chuva" faz ressaltar a e:tisLência de u..rna "teoda'' qt1e mente de AlcxandriaJ4• Tal COD)O os seos predecessores mono-
explica a e.apacidadc que das i.êm de comandar as nuvt.ns; u-ata- ielstas do Andgo Testam nto, o apologeta cristão era conduzido
se. q_u.er da $Utt roona. ci.ue 1em uma cel1.l "sint tia" com as nu- peta purcu e pela intensidade da sua experiência religiosa - fun-
vens ou com o ;aio, quer da sua origem cel e (teriam caído do dada na revelação cristológica - a n ar qualquer \'3.lor e$piri·
céu), qt1er porqi.,e peitenceni aos •·an1cp ado$". porque foram cual às a11li3as fonnas do culto. Considerando a tendência estru•
encontra.das na água, ou p0rque a Sú a fotma Jembra a das ser· turaJ do espírito scru.ftico J>ara oonfluldir a dívindad.e coru o .su·
pentes, das rãs, dos peixes ou de qualquer outro sirnbolo aq_uáti- porte material que a representa ou que manjfesta a sua íorças s ,
co. A eficiência dessas pedras nunca reside nelas ma$; elas pode supõr-se que, no tempo de Cleroen.te,, a maioria dos árabes
panicipam de um principio ou encarn.am um símbolo, exprhnetn ''adorava" as pedras. Pesquisas recentes demonstraram, no cn·
unia "simpatia'' cósntica ou i.raduzcm uma origem celeste. Es- tanto, que os átabes pré-islâmko:s \'encravam ccr1as pedc.ls de-.
sas ped.r.ti são os.sinaís<le 1.una realidade espiritual diferente, ou nominadas p e los- greco-la1inos baytili, termo de origem semítica
os ill.Slru.mc.ntos de uma (orça sagrada de- que são apenas ore- que significa "e.asa. de Oeus tt S6 , Esta! pedras sagradas não fo·
cep,1âculo. raln, aUás, ve.neradas apenas no mundo scmi1ico, rnas .tarubéru
pelas populações da Ãfrica do Nor1e antes ntesmo dos seus oon-
tatos com os cariaginesesJ ' . Os ba·>1ili, no entanto, nunca forant
79. l\(t.'troritos e. h,o.,tili- Um exemplo sut tivo Nlativo à adorados oomo pedras, mas apenas nn tnedida em que ntanifes.
multivalência simbólica dm podras n o s fornecido pelos 1neteo• lavam umaJ)le$fl1Çr1 dívlna . .Eles represertU'l\'tlm a "Casa" de Deus,
rlios. A Ka,.aba de teca e :i pedra nes1'1 de Pessinonte, imagem ec:uu sinal dela. o seu emblema e o receptáculo da sua força ou
anicõnjca da úrande fi..fãe do$ frígios, Cibele. levada para .Ronu1. o 1 1emunho inabalável de um ato reli$ioso realizado em seu no-
durante a llltinu• gl1ecr:1 pUnica, s.ão os meteoritos mais me. Alg\aos entplos colhiaos no mundo semítico farão com-
notáveisSJ , O seu. e.,rátet Sa$ta.do eta devido, en1 l)(irneico lugar, preender melhor o stu sentido e a sua função.
à sua origem celeste. l\.1as elas eram, ao m ntO ten,po, as JJna• A caminho da tvlcsopot.'\mia ... Jacó atravessou Caràn. ''Ele
tenS da Grande C\1.;le, (l\k?r dir.er, 3$ d:i divindade telúrica por ex- chegou :i u1u Juaar onde passou a noite, porque o Sol 5f' tinha
celência. B difícil crer que a sua origem utaniana tenha sido C $ • posto. Pegou numa pedra que ali se encontrava e, fatt.nd() dela
quecida. l)Ois as crençaj popularc; conferem esta descendêocia travesseiro, deitou-se naquele Jua,ar. Te,·e um sonho: viu uma e..,.
a todos os instrumentos de pedra PN•bistóricos, que se designam cada apoiada na tetro e cujo topo tocava no oêu; e ei.s q1,1e os an•
por '' p e dra s de raio''. Os 1neteotitóS l<>rnacam•s,e pro,11wlmen1c Jos de Deus subiam e desciam pela escada. O Eterno, no tOPo
iOHlgens da Grande Deusa porque se acreditou quc er.un l)etse- da escada, drzia: 'Eu sou o Eterno, o Deus de Abraão, teu pai,
g·uidos pelo raio. sfn1bolo do deus uraniano. l\.fas, por outro la- o Deus de lsaac. Esta terra sobre a qual tu C'$tâs deitado. eu
do. a Ka'aba era c-0nsi.d1tAda o '"cenlJO d.o u1undo''. Ou seja, a dai:el a ii à tua posteridade-... • Jacó acordou e disse: 'Certa·
ela não era son1c-n1e o centro da Terra, mas a.cima dela. JIO oen• mente o.Eterno CSlâ presente neste Jua:ir. e.eu não o sabia!' De-
tro d-O céu. se eooontrava •·a POfla do, Cêu". Evidc:n1emente 1 ao P!fil, tom-Mo <le 1e:mor, oontinuou; ·Como a t e lugar ê- teLnfvell
186 TRATAT)O DE. JIIS1'ÓRIA DAS REl.10/ÔliS AS l'BlJRAS S.-IOl<ADAS 181
.É bem aqui a casa de Deus; e aqui a porta dos ctus!' Jacó rà de tcstcmunba contra vós, pata que nào ;:ibandooeis o vosso
tevantou·:te cedo, pe.gou na pedra que lhe servira de travesseiro, Deus1 1 ·•61, Deus é também ''testemunha" nas pedras erguidas
eris.h1•a cn1 monumento e dcrramou•lhe óleo no tOpô. EJe cba• por Labio por oca.çião do seu pacr.o de amizade COOl JaC()9J. Tais
mou a este lugar Belllel ... "s.3 pedras-cesteouw.has forain, provavelmente, adoradas pela\c popu.
laçõe$ cauanéias como manifestações da divindade.
A luta das ttiLcs mono1ers1as mosaicas era <:.onduzida çontra
80. !::pifaaillil e-simbolis.inos l í t i c o s - Zinu:ncrn mi>Scrou que a conf\lSâo freqClt1ue entre o sin(I/ da presençt1. djvina e a incor-
Betb,eJ, "casa de Deus", é, ao mesmo tempo. um notne divino porarão da divindade num rcceJ)t:âeulo qualquer. "V'ós não fa.
e um doo apelati\•Os da pedra sagrada, do betil<Y9 • Jacó adôrrtl · reis idolos. Vós não e reisimaiens talhadas. 11eo.1 pedtas sa.
ceu sol;lre uma pedra, no lugar onde o, Céu e a Terra se comuna· 813(1as (tuüSSebu), e não oolocareis na ,,os.sa terra nenhuma pc·
cavain: m om ''centro•• que corresponde à ''Porta dos Céus''. dra figurada (maskil) para YOS pr();'itrardcs diante dela. •lf.6 E. nos
1as o deus que aparece. em sonho a Jacó é o Deus de Abraão, Número/>1• Deus OJ'dena a fl.toisés qne destrua as pedras cultuais
cotno sut>Jinha o tclto bíblico, ou uma divindade loc.-il, o deus que ia eneontrar em Canaã: «·v6s destruireis todas as pedras fi.
de Béthel, como peos.1.va, em 1921, D1.issaud1 0 0 C:,S iexde t.º!
Ras g.uradas (n1askitin1), todas as imagens de metal fundido e ::irrua--
Shamra, que são preciosos documenlOS sobre a vida rchgiosa os reis as colinas onde celebram. cuho. 11 Assistimos aqu.i oão a um
se,nicas pré,mosaicos, mostram que E! e Bethel s."io os n.omes n: conOito entre a fé e a idolatria, mas a um combate entre du;'ls
Lermutávcis de uma mesma divlndade61• Por outras palavras., to1 tcofanias, en,re dois monten.tos d:a experiência religiosa: de um
o Deus dos $CUS antepassados que Jacó viu ao seu sonJ,o e não lado. a conctpçâo arcaica. que idientifica,·a .:a divindade- à matC·
uma divindade local. A fim de consagrar o lugar ele erigi·u um ria e a adorava, qualquer que fosse a fom\3 ou o loc;.d da apari•
bétilo, que depois. foi ve11erado pel?S atitóc:,tones .:orno uma rt.a ção divina.; l)Ot ou1ro lado. umtl concepçâo, saída da experi ncla
divin<lade, Belbel. As ctit monotosUtS, fiéis à mensagein de f\•lor de,uma tlite, que só reconhecia a ça diVina nos lugares oorr
s d sustentaram 10030s eo1nbates coo1ra este "deus'' e são tsté:$ sagrados (a Arca, o templo, etc.) e- em rtos ritos Olosaicos, e
os ;ombatcs que Jeremias le.mbra. ''l>OOe..se jutaar den1onstrado se esforçava por oonfltmar es.ta presença na própria consciéncia
que, na raotosa nar1at.iva da visão dt: Jac ... o deus de Bé1hel do crente. Como habitualmente-, as antigas forma$ e objetos cul-
não era ainda o deu.s Bélhel. Mas esta 1denoficaçio e esta confu. tuais.. após u1odificaçâo do seu sentido e do seu valor religioso.
s!io fi2era1n rapidamente nos meios p0pulares. '162 Onde Jacó forant adoiados pela rorma religiosa. Na Arca da Aliança onde
viu - segundo a 1radlçào - a esCóda dos anjos e a casa de r»us, se conserva,•am, segundo a tr3dição, as Tábuas da Lei, tiJlban,
os catllJ)One$CS palestinianos viam o deus .béth . se 1aJvez guardado, oi:ia,luariaroe,..te. certas pedras cultuais con-
t,..fas convéJll Jen1brar que, qualquer quc foue. o deus reco- sagradas péla presença djvina. Os rcformadorcs aoc:itavam tais
nhecido em Bf.tht.J pelas _popul3Ç6es autóctones:, a pedro reprt- objetos valod2ando-o.1 nutn sistcmu religioso diferente, dando-
senciva a.penas um si11al, uma "casa"., utna teofania. A divinda· lhes uni conteUdo muJto díferentê6B , Qualquer reforma se faz,
de ,nanifestfl '(l.se por )nternwdio da pc::dra ou - outros rh s em sum ooutra uma deyadação da experiência originá.ria; a con
- devia 1esiein11nhur e santif?C"ar u1n pacto c:ouclutdo na sua,,.,. fusão entre sinal e dt'viud(lde. tl.nb 1-se a,sravado oos meios p0pu-
ih1hanç;i. Este "lestcmunho" con.si tia, para a oonsdência lares, e era Jus1amente para evitat o perigo de tais confusões que
pula r, no. enca rnaçâo da divindade CJ)'Duma pedra; e,. M eh- as elites mosaicas aniqujJavam os .sinais (as pedras figurt1das, as
1es. em uma transfiguração da pedro pela presença d,v,na. Após imagen:; esculpidas-, etc.) ou lhes iransfonnavar:n o sentido (''a
ler'couc:luJdo o·pa.cto entre Jeová e o·scu p0vo, Josué "ag.,rrou Nca da Alial\ç;:i"'). A <::oufusão qu,enão tardaria a reapar<ec:r sob
ein stguida uma gtande pedra e pô,,la debaixo .car,•a!ho que óutras fonnas determinava novas r;c:formas, isto é, um.a nova pro-
estava no lugar consagrado ao Eterno. E Josuc disse ao povo: clamação do sentido originário.
•Af está esta pcdw., que. servirâ de testanuliha oo cra nós; J)O·
que clã ou\·iu todM (1$ pAlavrãs que o Ettmo nos d1s.«". ela U't\'1·
188 1RATADO D E ffJSTÓRJA DAS R&/OIÔES A S PEDRAS SAGRADAS 189
81. PedTll s:.lgTíHlú, ()mphalós, Ôtnlro do lundo - A pe- n\ortos e o dos deuses subterràrle<>s se podia fazer era consagra-
dra sobre a qual Jac:ó adormeceu nil-o era somente a '\.-asa de do como um traço ck. união entre o:;. diversos ))lanos cósn1icos
Deus•·, tnas 1301bêm o lu3 r onde. pela CSCútla dos a1,jos, e:s-- e ê unicamente nu1n ••centto n que tal lugar se podia e.-nco1nrar
tabeleaa a comunicação entre o Céu e a Terra. O "bêthel" era, (.1 muhi"a .ncla simbólica do on,pha/ós será estudada no seu con-
por con.s.c:guinte, um "centro do mundo'', d meso>a. fonna que junto próprio quando analisarmos a teoria e a função ritual da
a Ka".1ba de Jvlec3 ou o monte Sinai, assim como todos os tem+ -c;onsagração dos "ceuu-os". (§§ J4S).
pios, pafâclos e ''ccnuos" riiualmeot-e consagrados (§4 t.t3 s.). Ao sobrepor;.sc ao antlgo cnho ctõnlco de Jk,Jfos, ,\polo
A qualidade.de "escada" unindo o Céu e a Terra derivava de tuna agregou e $i o onlf}hn/OS C· os se1.1s privilégios. Perse.auJdo pelas
ceofa.11ia verificada ntSle lugar. Ao mostrar-S< a Jacô sobre o ''bê- Erú1ias. Oresles é purificado por Apolo junto ao 011,phalós, lu-
thel u a divindade re\'ela,1a ao mc$1no tcn1po o lugar onde podia gar sagrado por cxc.eléncia, "cmuo" onde a\ três 1.onas có.$1\li•
dcsoer à Terra, o ponto em que o ir.uiscen<leuie l)Odla manífeuar- ca$ se co,nunicam, "untbigo", que, pelo seu SUnbollsmo. gara11
se no ima te. Veremo, mais adiante que tais escadas unindo te tun. novo nascimento e wna collsciência reintegrada. A multi-
o Cêu e a Terra não sâo necessariamente loca.lizáveis numa aeo- valência da ''pedra central,. COl1$CtVa•se meU1or ainda nas u di•
gra.fi:t coocreta. profana. e que o •·ceiuro do mundo" pode SC"r ções célticas: Lia Fài.l. ''í' pedra d.e Fâil'' (o nome é. obscuro -
oonsagrado ritualm('nte numa infinidade- de pontes ficos Fàil • Itlanda1).. ton1cça a cantar 110 momento em que aquele que
sem qµe a autcr.ticidadc de cada um prejudique a dos outros. é digno de ser rei se: ,SCTlta nela; oos otdálios., o acusado que sobe
Con1en1emo-nos. de mo1nento, em lembrar algumas crenças a ela torna. se branco se esllvec lnoceote; na presença de uma mu-
que dizem respeito ao 0111pha/6s (u1nbigo) de. qve Pausâwas e;s.. lh r condenada a Ítcar estéril, a pedra rC$$uda $8.ngue: mas se à
crev : "O que os babit.<tntes de Delfos d,amam <m1phaldsl fei 4
mulher cs.iiver destinado ser ollle é leite que a pedra rmuda1l.
10 de pedra branca e ocha-se, segundo pcnsam 1 no cc-ntru da 1'cr 4
Lia .Fâil ê luna 1eofanla da di\•indade do solo, a Unica que reco-
ra. opinião confirmada por Piod:u:o l\wt\a d.\$ suas odes ... lnúme, nhece o seu senhor. (o rei da Iria.oda), a l.lnica a diriair a ec:ono..
1·os trabalhos fo1·an1 publicados sobre este assunto. Rohde e J. mia da fecundidade e , a.vantir os ordállos, Há, bem cnte.ndido,
H. Harrison pensam que omphalós rept'csenwva. originariamente, varlilnles fáJiw, tardias, destes on,phaJQi cC:ltioos: a fcrtiUdade
a podre funerária de um 1t'unulo"° . Roscher. que dedicou Lrês representa por cxcclêocia um a,ributo do "centro" e os seus em-
fJlonoarafias a e t e problema. afinna (l_ue o 011tphalós toi conce 4
blemas-são freq(ienteme,ne sexuais. A valorização religiosa (e im-
bido desde o <:omcço como "centro da Terra ... Nilsson nfto pa- plicitamentt política) do ·'centro pelos celtas t atestada 1>0r 110•
reoe satisfeito co,n estas interpretações e oonsldero recelltes a duas roes co1no 1nedh,er11tt1u1n. -medio/onutn 14, consetvados até. hoje
c.:o es da podra twnular e- do ' centro do mundo'', conccir na topouJmia francesa1.S, Considernndo o que atsinam Lia Fãil
çõcs que subs1ituiriam u1ua «ençt1 mais "pri1niciva''''· e al!,rumas tradiÇ)Ões conservadas _na França. é leshitno identifi-
As duaslnterpretações sâo, na realidade. "pri1ni1tvas·• e não car c,Stes "«n1ros'' às pedras 01•fálícas. Na aldeia de Amilnc.y
se ('Xclu('m uma à outre. Considerado ponto de interferência do (cantão de la RocheJ, por exemplo, existe (t emun.bo certo de
mundo d<>s Dlortos. do mundo dos viv<1s e do D\Uododos deuses, um .. ccnll'o") uma Pcdnt do Meio do rvtundo7.S. A Plerra Cbe-
uin lúmuJo pode set.oo ;oesmo ten1po, um "centro", um ..om- veU:a (cantâo de Môuliers) uurtc.- foi submergida pelas inunda-
phalós da Terra". Entre os rom:tn06. por exemplo, o n1J11tduste- çõ.es. o que.representa uma vaga sobre\'ivência do "centro" que
preseo1.a.vao luaar deoomunicaçào wt1e os. trb.domínios; "quan- o dilúvio não pôde sub1nergi.r 77 {§ J43).
do o n1undusts1á aberto, aberta está íambêm a porta dos triste-s
deuses do lnt«no", escreve Varrão 72 • Evidcnrcmen1c, o mundus
n:'lo é um tónu..110. mas o seu shnbolismo permüe-nw compreen- 82. Sinais e rorm.as - Em qualcp;1er tradjção. o o,uphalós
de! meJbot a fut,;ão i\náloga ciesempênhacla pelo omp/111/ós: as e uma pedra oonsa.,ada por: uma preseoça sobre-hulnana ou por
suo.s C"Vcntuais ori -ns fune:rárW não conttarialn a su:a qualida- um simbolismo qualquer. Da me.sma forma que os bC1ilos e os
de de "cemro". O lugar onde a oomu.nic:,ç.'ío com o mwido dos nutS.�eboou os megâlilos pfC.bist.óriros, o omplu,t& dá te&te1nu-
-
nhode.algwn coisa e. ê de:$1e cestemuaho que ele tira o seu \lalor apenas uina teofania de pedra 19. Bssies her11u1f s.ianiíica,•am om:;1
ptesença. e:ocarnav:un uma força, p1'0(t3iam e fecundavatu ao
ou a sua função noniho. Quer prótejam os mono.s (COlUO os m.c- mesmo tempo. A antrop0morfltação de Hetrnes é o resultado da
ajJjtos neolíticos, por c.xen1plo), quer :.se tornem as moradas pro- ação corrosiva da imaginação hIC'nica e- da tendência que cedo
visórias das almas dos mortos (como eol ntuiti:>s po ·os "primiti- tiveram as pessoas para personalizar cada \'C7. mais as divindades
vos''), quc.r atestem um pacto feito entte homem e Deus ou entre e as (orças sagradas. Assistimos assim a uma evolução, mas a ums
booleu1 e homem (se1ui1as), quer recebam o carãtc,- sagrado da evoluç o que não implic;a de forma alguma uma "purificaÇ,10"
S.uã fórmâ é dà sua Ofltt.M urani:.ma Oneteoritos. te.), quer en- e un1 "enriquecimentQ" da divindade, que Lnodifica siinplesmen1e
fim representem tcoianias ou pontos de interseção das zonas cós- a.f6r1nula através da qual o bomenl exprimia prhneiro a sua ex•
U\icas ou im.aaens do ''«ntro", as pedras tiram sempre o seu \'a- peri-êncla rellgiosa e a soa coocep,Çãô da divil\dade. O grego figu-
Jor cultuai da presen.;a divina que as ,,ausfi.$,urou. das forças rou de formas difereutcs, no decurso do tempo. a! suas expcriên-
extra-humanas (as almas dos mortos) que nela ão encan,ad..'lS, cías e os seus. oonotitos. Os horizontes do seu espirilo ousado,
ou do simbolLs.tuo - erótico, cosmológico, rdigioso, político - plástico e (Crtil alargavam.se e, nestes novos cenários, cm que pu·
que as enquadrou. As ped cultuais stto sinais e exprin1em se1u- diam a sua ci,ciência, a antigas tcofanias Derdia.m tambC.1n o seu
pre unla realidade transcendente-. Desde a simples blerofani.a ele- sg:itido. Os henti(li n>anifes1ava:m unta presença divina apeoas
mentar rq:,resentnda por certas pedias e por cenos rochedos - àquet, conseiênc,ia que recebia a revelacào do sasrado de ,una
que ifnpressio1u11n o espirito humano peta sua soJidez, peJ;t sua 1naneira imedi ai.a. em qualQ·uer s:esto criador, em qualquer ''for•
dureza e pela sua 1najestade- até- o simbolismo onfálico ou me- ma" ou "sinal". O próprio Hem)C:S. se separou da ntacé,ia: a sua
teórico, as pedras cultuais não delxrun de signjflcor Jguma coisa íiglti'a ton1ou« huJnaua. a sua ,eofaJ1ia tornou-se milo.
Q·ue supera o homem. A ceofanla de Ate.na aptesenca a ,nesma evotuÇão do sin<1I
Evide11temente, estas "sisnif,caç()cs'' transformam•sc. wbs- à pessoa: .quatq·uu .que seja a su origem, o polladi11n1 manifes-
titU('fn·SC, por \'ezes degradam-se ou reforçao)-se. Nào é i>osslvd tava nos tempos pré:·hist6ricos a Jor -a imedi.ata da deusa° ' . Apo-
analisá-latem algun1.1..s: páginas. Basta <l.izct que há fonna$ de> cu}. lo Agíeus não era mais, a princípio, que uma có)una de pedralit,
to das pedras que e.se1uaol os cara.::tece3-de uma regressão ao No úinásio de. Mégara encontrava-se uma pequena pedra pira·
infantilismo, outras que_, na seqüência de. novas expetiê:nc:ias N• midâl chamada Apolo Karinós; em 1\o1aka, Apolo ü1h6.i0$ erguia·
ligiosas ou pelo f.uo de intcgrar tn outros sfstemas cosmológicos, se ao lado de uma pedra, e recentemente interpretou-se cs1e epl·
sofrem transformações tão radicais que se tornaiu quase irreco- teto do deus por lilhos'Sl 1 etimologia que ) segundo Nilssoo, não
nhecíveis. A história modiíics, transforma, degrada ou, por-1n.eio é nem menos nem mais satisfatória do que as que- a precede--
de qualquer fone pel'$0nalidade religiosa. transfigura quatq·uec -ramli. Em todo caso, o que e certo ê que nenhum outro deus
teofania. Veremos, mais. adiante, ô seatido das modifil!3ções u- rego, nem mesmo Hermes, era rodeado de tantas ''pedras•• OO·
sada.s peJ:;1 história no do mini o da morfologja religiosa. Len\bre- mo ·Apolo. Mas, tal como Hermes 11.âo·('é" a pedra, tampouco
mos. por ng.ortl, um exemplo da "transfiguração" da pedra: o Apolo surge da pedra: os her111al sublinhant son1etlce a soJidào
caso d(. alguns deuses gregos. dos cantinhos. a noite medonha. a proteçâo do viajante.. da casa,
''Se recuannos ai.oda ut:U.S no ten1po". escreve Paud.nias. dos campos. E é porque a.$l'egou a si os anli3os lugares de culto
"veremos iodos os. gregos. prestarein bon1tnasens divinas não a que ApoJo to1nou unnbêro posse dos seus sinais distintivos, pe-
tstátuas mas a pedras não trabalhátla.s (nrgoJ ll1ho,). '' 1* A figu,. dras, ()111plu1lol.altares, de qnea maiot parte. era, primeiro, de-
ra de Hennes é pr da de uma pré-história longa e confusa: dic.\d:a à Orande Deusa. Isto n i o quer de modo nenhum dizcr
as pedras oo-1oeadas à beira dos caruiJ.\hos p;ua ·•procegê·los" e que w.na. teofania apolÚlea oom bme na pC"dro.não tenha tido curso
no momento em que.o deus não tinha ainda recebido a sua figu-
conscrYã-tos chamam-se llermai; só mais tarde é que uma coluna
itifáJica oom utna c:abeça de homem. um hem.e5, p:.SSôú a sei m dllssi : para a ro,iscimcia religiosa arc3ica, a pedra bruta evo-
cava a prerenç.a divina de uma maneira maís segura do que Q fa.
a imagem do deus. As,lm, antes de :se tornar. na rcligião e na
tian1 para c s seus contcmporfinr.os as estátuas de Praxfttles.
nlitologja.)lÓHlomériía; a "figura" que e oonhedda. l:lennestra
-
\'li
A Ternt,
a muJher e a fecundidade
mos. a 1'tm é dotada de trt\1Ujv:Uê-ncia religios.'I. Ela foi adora ("a n gra") entre os iorubá12, o par di\•tno dos t\Ye, dos
da porque ela "era''. po,;que :Se mostrtt"'3. e mo.s1rava, porque da- ak,vap•m º . etc.. Num povo agJ'ÍCOl.'1 da África austral, kumama,
va, -produzia frulOS, rt"ct.bia. Se est\tdãsseroos a história de uma o casa1ncnlo do CCu e da Terra tonli• o mt$mO s.enLido de fecun
Utiica rcligiâo, conseauiriamos calvezci.Jcunscrever com bastante didade cósmica que apresenta nC,S. cantos das Plêiades de Dodo-
pr«isã'o a função e o desenrolar das creuç.'lS que dizem respeito 1)a: "A Terra e nossa mãe, o Céu é nosso pai. O C u fettJJiza
às epifanias religiosas. Mas se nos ocuparmos eiduslv mente de a Terra pela. chuva, a Terra _produz os oereniS e as plan1as.••t 4 f?.$.
morfologia religiosa, ialjá não sçrâ p0ssivel: enconLr.i.mo,nos- ta íQnnula, como \'Cremos, padecia rcsuinir uma boa patte das
aqui COllO em ou1ros çap{tu\oS- perante je$10.S, crenças e teo- crenças a.grfcolas. O par divino figura iguat111cnte, nas mitologias
rias que penencem a ciclos de civi1iia9Ões diferentes. eujas ida• das duas AmCricas. Na Califórnia meridional o Ctu chania-se
des e estruturas são diferentes. Tentemos, no eru.1.1.uo, ver quais Tukínit e a Terra TatllaiovitU; entre os navaj enconua-se Ya4
são as Unhas mest1·as deste conjuoto de fatos que- os índices das
4 dilqil hastqin ("Céu homem") e- sua esposa Nihosdtall esdza
grandes monografias di.stribuefll pckls tftulo:J.; "Terra 1' , "Terra
4 ("Terra mulher"); nos P-awnis, na Amélica setentrional nos
Mãe'•, "divi l\dades da Terra••, ·•espLritos telúriços'', etc. si.ou . no$_ urons (u'?a das princi.pais tribos iroquesas), nC:S ho-
p1, nos 1..Un1, nas Anoll1 s. etç., eooontramos o mesmo binômio
ç6smiw 16• Nas mitologias do Oriente <1lássico, de desempenha
84. O par 1>rhnordi1I C-iu-Tt -mt-0 par divino ceu Terra.
4
uunbé:m um papel cosnioaônieo i1nport.a.nte: a "rainl,a da$ ter
que Hesiodo tinha evocado, é um dos 11>01ivos de fundo da mito- r. " (a deusa de Arlnna) e o seu esposo U óu lm, o deus da tem•
logia univerSal. Em muitas mitologias en.1 quê ó C u desempe- J)C$tadt, entre os hitii.:,s•'1; a deusa da terra e o deus do ccu do.s
nha ou desempenl1ou o papei de di\JU\dade sui,mna, Terra e cl · t1.3;oagi e lzanami dos japoneses•*, e-te. Nos p,ovosger4
rcpr ntada como sua companheira e, como Já vimos, na vida n\an,cos. Ft183, a espos..1. de Tyr. e mais tarde de- Othin, é uma
rdig:tOSa primitiva encon1ra se o Céu por toda n pMtcs . LeJnbr dcus;1 de eslrutura telúric.a. SO um -ac-aso de ordem gramatical (a
nios al_gu1u·casos: os maod.s chanlMl o Céu Rangi e à Terra Pa- palavra "céu·• sendo do 3ênere> feminino) fez com que o Cu íos!>e
pá: no principio. tal colllo Urano e- Cata. csta,•am unidos num represcnt do cn1reos egipcios por uma deusa, Nut. e à Terra por
estreito abraÇ(I, Os filhos oasc.idos deste acasalamento senl fi1n um deus, Gebb.
- Turnata,nenga, Ta.ne mahuts e outros - e que:) sedentos de
4
hn, tatc-avan\ nas trevas, decidiram sieparar os seus pais. Foi as-
sim ciue. um belo dia, cortaram os t..endões que ligavam o Céu 85, t'.strutura das hiemfanias 1elúricas-.Podcr-se4iam mul-
à Terra e empurtaracn o pai cada \'eZ mais paca cin1a, até que tlpliCar os e,-:emplos,. mas se1n qualquer pro"eito. As listas dos
e.te foi projet.'ldO no ar e a l u i fez a sua aparição no niundo6. pare-;sc oosmológicos não poderiam :rc\1elar4nos nem a estrutura das
O motivo çosmogôn.ioo do par primordial Céu-Terra cscá pre4 divi !ldades tchirii:as nem o seu \•ator religioso. No lnito cosmo·
sente en\ iodas .tS c.ivilizaçõcs çâni<:as, da Indonésia à tôn1C? a Te,13 d,emp,c:nha um papel passi,•o, mesmo sendo priv
ri.ficron a'. SJ)con1nuno-lo no Bom u. çm lioahassa, nas ilhas rnord1al. Antes de qualquer efab\Llaçào 1nftica a respeito da Ter
Çclcbes s«enuionais - onde Luminuut., de,isa. da 'terra. 6 a prin 4
r1,, houve a própria pcescnça do l-olo, valorizada no plano rcli4
196 TRATADO DE HISTÔ.llJ,A DAS RE./,IG/ÔES A TERRA, A IULHER E A FF.C(FN ll)AIJE 197
gioso. A T . parau,naoonsclência rdi osa • prh.nitiva". é\1m do seu desen,·olvimento, tomam lugar no ventre 1nat.etno depois
dado inlediato: a sua extensão, a sua sohdt , a 't'ar•edade do seu de um contato entre a mulher e om objeto ou um animal do meio
rekvo e da vegetação que nela(fescc constituem 1.1n1a unidadeOOi;· cósmico envol..,eote.
mica, viva e ativa. A primeira valorização religiosa da Terra foi Se bem que este problema pertcença mais _propciame-nte à et·
• indis1lnta". ou seja ela n:\o localiiava o sagrado na <:a1nada te- nologia do que à história das religiões, colocattlo-to aqui pr.l,os
lúrica propriMRCnte<Íi1a, máSoonfundia numa úniC.'I unid de to· esclareciluentos .que p0de forncC<":r ao nosso assunto. O homem
das as bicrófanias que se tinham realizado no meio cósnuc.o e · â3ó intervém na eria,;ào. O l)ai nlo é pai dos s,e·us falho:s senão
1
volvente - terra. pedras, árvores, á,g.11a.s, sombras, etc. A totu1- no sentido jut'fdico e ounca no ;\Cntido bíolôgico do termo. Os.
ç.ão _primliria da Terra cotno "forma"' reli.a,iosa pode ser rcdutida b_oniens na.o tstão ligados entre .si senão pelas 1nâes, e Jnes1no as.
à fórtnuJa: •·cosmos-receptáculo das forças sas.radas dif\Jsa.i". Se s,m esta ligação ê pr«:ária. las os homens estão ligados ao meio
nas vatorl23ções religiosas, n1ág_icas ou n\fticas das águas se en- cósmico ffl\'Oive111e de 1nanrira infinitamente mais es1reita do que
0011t1am hnp1icadas as idéias de a,eoitcs, de estados latentes e de o supor uma mentalidade moderna, profana. Eles s.ão, no
rc ner:iç.io a jntuição prllnordial da Terra n,ostra·nO·J como scnt1do concrcco e n!o no sentido alegórico da palavra, "gence.
seudo ofunda,nenfo de todas as manifestações, Tudo o que esrd da 1.err "- f?rai:n lrazidos pelos anima,is quáticos (peixes. ru,
sobre :1 Terra está e,11con}wlto e coll$1.ilui wn.'I grande u1tidnde. crocodllos, c1snes, etc.), desenvolveram.se nas rochas nos a.bis.·
A estruu1ra oósmica deSsas intuições primárias quase iLupos. mos e nas grutas, antes de serem projetados. por um ntato LUá-
sibWla·n<>s de distin3uir nelas o lemento propriruneote t IUri o. a,lco, no ven re aaterno; começaram a sua vida pré.natal nas
Dado que o meio envol\'ellte ê vivido oomo uitt.a unidade, so muito águas, nos crtSUU$, nas pedras, aa.s ár\'Otes; eles viveram - sob
dificilmente se poderia distina:uir nessas intuições primárias o que forma Pré•luunana, obscura, como "ahuas" de "crianças.
pertence à Terra propriru:nente dita e o que é someote nuu1iftsta· a.nu:passados" - numa das zon3s cósmicas .1uais próximas. As-
do através ddà: montanhas, florestas.. águas, vea,etaÇãO. Uma úni· sim, pa só me:acional' ala;uns casos., os arménio$ crêe:Ln que a
ca oofsa se pode afirmar com eerteza aoerca dessas inLu)90es Pri· Terra é o \•e111ce 1natemo, donde sairam os horuens 1· 1 . ós pe-
mátias (cuja tsl:rotura reUs,iosa Cinl'lciJ demollStrar mal.suma v ): ruanos cr«'m que descendem das montanhas e das pedraszo. Ou·
é que elas se manifestam ooru font1a , revelrun rcahd · 1m- lros PO"OS locaJJzam a ori3em d.as crianças na.s gruia.s oas feo.
puseram·st oorn nocc:&idade ''unpresst01i:.indo" a consc1encla do d:.l.S, nas n.uicentes, e1;;. Ainda hoj,e con.set\'3 oa Europ a crença
homem. A Tt:rrn, com llldO o que ela susttm e englobo, f o i , ® $ - de que as crianç ''v ·· mares, <las n1KmtC$, dos riacbos 1
de o começo, uma fonte:. inesgotável ,de existências, que se revela· das árvo, ll, O que é s1gn1f1cativo OC$$liS supers1içôes é a estru·
\•am ao homem imediatamente. t.uta cósm.ita da Terra, podendo- es(3 ser encontrada em todo o
O que nos prova que a estrutur:\ cósmic::i da hit-rofania da meio envol,·e:nte, DOtuJcrooosmo e não apenas na regiào iefúrica
Terra prtctdcu a sua cstrut-ura propriamente telúxica - que s6 propriamente di,a. " A Terra" significa aqui tudo o que rodeia
com o aparoc.ãmento da as,icullura se iLnpôs. det'initivamence - o homem, codo o "lugar'' - co1» as suas montanhas, as suas
é a história das cteu,;as sobre a origetn das cr1 u1ças. Antes de se· águas C· a sua ve$Ctaçâo.
rent conhecidas as eausas fisiológicas da coocepção, os hornens ? pai humano nada mais faz do que t gJ,lmar tais filhos por
pens.lvam que a Qlllternidade cr.t devida à inserção direta d3 crian• um ntual que possui todas as carooerístiC".as da adoção. Bles l)C:l'•
ça. no vw.ueda mulher. Quanto a.rober se o 9-oe penetra no v n -- tcncem, cm pnn1eiro lugar, ao ,il.ugar", quer dizer. ao microcos--
tre da mu1her j â é um feto - que até a( tena vivido a sua vtda o d:t regiâo. A mãe não fea mais do que reét-bê·los· ela
pré.natal nas gt•ucas, nas fendas. nos, poços. as árvores., etc. - ''ret.olhcu-os!• e qu.ando muito, ape,-feiçóou a sua forooa h;1_ooa,.
ou se é simplesmente um geJme, ou ainda a •·ahua do anle,>aSSa· na. Compreende-se, etuão, sem difi.culdadc que o sentiJneóco de
do" etc são q,uestões que nno ,am qualqu« intel'es.1C· para este solid.:uied de para com o microcO;Smo.e:nvolveoce, com o •11ugar"
. \o: ' o lr:n ortante é a idéia de
capf u âS anÇáS llllo ão COO• ,enha sido um sentimento dominan1e para o hontem que se en:
.q mais ou menos avançado
ccbida.s peto pai, n1as que., o\lll'I C)iádió contra,·a nes1.e est dio do sunevolução mental - ou,n>a1s exau,.
A TERRA. A 111(1(,H.EI< E, A FECUNDIDA!>e 199
198 TRATADO DE HISTÓRIA DAS Rl!UGIÔES
86. l\taternldade ctônica - Uma d:is pr'imC"iras tcofa11ias da
Lnente quee11.c:ar2v11 dessa maneita a vida humana. B certo sen• Terra, enquanto taJ, enquanto sobretudo camada ltlúti ( a e pro•
tido, Po se dirxr que·o hon1ern 11õotiniu, oinda ttasc,do, que k fundidade cté'inica, foi a sua ··maternidade", a sua inesgotável
não tit1ha ainda a c.onsciência da su:i p cn a total espécie bJO• C3pacidadc- de d.1r írulos. Anles d'.e ser considerada Deusa-Mãe,
lóaic.a que ele r presenta,·a. Poder- -1a m'."s Pl'<>Pname-nte con- divindade da Cettilidadc:, a Tet'ra impôs-se diretamente como-[\1;'(e,
side.rar, 3 e te nÍTel 1 a sua vi(la ,una fase pre-natal: o o con- Tellus ?vlat«. A c·•oluçâo J)OStcrior dos cultos agrlcolas, esclare-
tinuava aind. 3 pirl--icipar, imediatamente, de ,uma v1a dif ce cendo com t)l'ecisão e-ada VtZ .n1;1;ls ât!énluada a figura de uma
da s.ua, de uma Tid., "cósmioo·m r a'.'. Ele llnlta, d1ríamos ?ºs, Grande DetlSá da vegcta o e da colheita, a-ca ou por apaa.'\t os
uma e:<perifncia "ontofilogeoéoca . obscura e fragmentada, te ,raç.os da Ter:rn,,l\1âe. Na úrb::i:1, JDeroé«er substituiu G!. No en-
sentia quedtroeodladeduas ou trê$ •·matiius:: a .mesmo tempo. tanto, r,estos do culto antiqOissltn() da Tcrra-1\ilãe transpareoem
Nào t- diffc-il cotnptetndc.r que tal e."tu.a'ICU.l l'un amental nos doconlC'ntos arcaicos e etnogrâificos. U1n profeta Wdio, Smo
tenha implicado para o hómem wn cer1.o numero de atitudes es• balia. da tribo lunatiUa, proibia os seus discípulos de ca11arcm a
pecfftcaS para 00111 o «ismos e- para com os seus semelhantes. \ terra, porque - di.zia - ''é um pecado feril' ou cortar. fender
procatied.:i.de da paternidade lnunana era con1pensada l)WI $Oh· ou esgaravatar a nossa mãe comum coin os trabalhos agtkolas".
daricdade que havia c-ntrc- o homem e cenas forças ou .sub tàn• .B justifteava a bu a sua atit.ude antíagricola: ''Pedis-me que tra-
cias cósmicas procecoras, f\ as, por outro lado. esta sohdaricda-4 balM: o solo? Acaso peaaria eu numa faca para a mcrguJhar no
de com o «·lugar" não pc,dia de fo na alguma prúm ver o hQ Seio de minha Dl.'ie1 Pedis-me que cave e Je\·ante pedras'? Iria eu
n>en1 0 sentimento ds que é ,un c-riâdót no ord ,n b10/1ca. O
mutilar a car1le para chegar aos ossos? Pedis-,nequc corte a erva
pai ao legitimar os seus filhos saidos ck- um 111e10 c?SD11co qu l-
e o reno e que o venda e. me enriqueça oomo os braocos? l\.1as
qu:r, ou áitKl3 dss "almas dos ancepassados". não t1n ptOJ){la• como ousa.l'ia eu cortar a cabeleira de minha mãe?"2) Esta de-
,ne11te filhos, 1nas apenM no,1os membros na sua famll a, novos voção 1nística pcla f\,J!e tehlrita nã.o é um fato isolado. Os. mem-
utc-nsíUos ))3.J'a o seu trabalho e para a sua defesa. O _hau1e que bros de uma cribo dtávida p.rimi1iva dâ lndia crot.ra.l, os ba)'ga,
0 unia à sua p1oae,.ii1ura t-ra, em todo o per _pro.1.1ml.J:,- sua pralicam a agricultura ntialacória. contentando-Soe com Wlnear ex-
.'
vida biotógica ac!lbava oom etc, sem poss,bilJ ade de clusivamente n cini.'lS (Jue fic m depois de certas áreas da Oo,.
_continuar
atrnvCS de ouo'Qs seres, ('ôn10 será o ccaso n tnterpietaçâo ue, tt3ta t«cmsido queilnadas. E iêm todoc-ste·trabalho porqut-con.
mais tarde os iodo-europeus darão d.:, s:eoumcnto deoon11nui- sideram um pecado "cassar ô seio d su mãt-Lc-rra 'COUl a <:bar·
dade falnitiar, intâptet:içlo cujo fundame.nto .as ta num du- rua" . Os povos .ahaicos cr«n1 iaualtuentc que é u1n grande pe .
plo fato: a descendência bio1ógic.a dlret,t1, os Jlals ena oory_o, <:ado arra11car as plantas, porque a Terra sofre exatamente con10
•·substância,. da alauça) e a desccndoêooa ance.51r3J 1ndrreta (as
so)'reria um hon>em a q1.1em arr:uicas:sem os cabelos ou a barba.
:1mas dos antepassados encatna l n·S rednl· - dos>22; Os. votiaks, que 1êm o costume de levar as suas oferendas para
A ··rtrra" f f l , pois, nas prune11as CXJ>encoc1as. rehgios."'\S uma cova, am1êm-sc de repetir esta operação no ou1ono, pois que
ou i.n,ujções míticas., "o lusar todo" que achav . a vol,t:1 do nest.a époc-a do ano .a Terra donne. Os tchcrcolisses cc'"t<em fre,.
hornem. Grande nll.mero de palavras Qlle design Te.ra tê;!"
qüc:ntc1nente Que a Terra tá dOC'nte, e e\•itam então sentar-se
etimologias que se e.,plicam por impr ts espaaa1s - : - luga ·• nela. E as prova$ da persistência destas crmç-as respeitantes ã
"la.r..• o'' "província'' (cf; pri1/lí1J1, "a larga'') - o.u tmprc:ssoes Terra-f\1ãe nos ))()\'OS não agrârios. ou agrârios de uma maneiro
sensoriais' ptill)á.rias - '' f1rmt
i · , "o que resta "'lY'," , etc •
· n ! '"º"""'""'' esporádica, J.)Oderiam $C'r muhlpHcadas:$. 1:\ relígiãQ da Terra,
A valorização fdigiosa da Terra de um pon de Vlsta tntamente mesmo que não seja a tnals ,·clha rdi$iâo humana, OOAlOo crêem
telúrico só n1ais tarde pôde ter Jugru:: ao oclo pastoriJ e brctu: Qertos sábios, é daquelas que difi<ilrnente mon-en1. Uma yez con-
do no ciclo aarícola, para falar a li11sui1:ci_n. da ct11oloa:1a. A solidada O:lS estruturas a.grfcolas, os milêo)os passam por ela sem
tntâo, tudo ô que poderia chamar as divindade da Terrll: 11modificarem. Por vezes, ela não sJ)tese1ua qualquer solução de
eram mais propriai:nente divindade; do lugar. ao sen11do de meao wn1inuidadç, desde a pré.-h.iilória até os nossos dias. Por exein-
cósmico c.nvolveatc.
711AtA.l>O D E Jlt!l7dRJA DAS RE.LJ<JIÔES
A TRRkA. A J.fUl.ffF.R 8 A Fll.CUi\ 'DI.DAIJE 201
pio, o ''bolo doo monoi '"' (em romeno c:olivfl)et'S oonhccido, com tradiZC'Ol: . ª da Tt.rra considerada fonte de força, de ·•alma" e
o n1esmo nome, na Antiguidade srega, que: o tlnba recebido das de feçUnd1dade. a a Terrn•t\1ãe_. O pano no .solo (!1un1i /X>;Silio)
civiliuÇ.00 prC-históri<.as e pré-hel.ênicu. OlJtros c:<em.plos de oon- é u1n costume frequtnte em muitos povos: 00$ gurions do Cáu•
tlnuidade no quadro do mtsu10 cottjunto ton iluklo pelas .reli· caso. tal con10 cm várias regiões d:a Cbiaa. as ,nulhert$ d('iuun-
giões lelúric35 ag:rári serão menclooidos mais adian,e. se DOchão Jogo 9.ue seotei:n as dor s do parto, -para d.arem à Jui
A. Dtetericb publl..:ou. em 1905, um livro que sctor,\ou rapi- em contato direto com a terra34; as mulheN5 1nao1•i, na Nova z.e..
damente um trabal.b.o clàs5lcolfi. Bmil Go)dmann11 e outros de-
lªn(li@, Q luz nis n1olla.s, l'!e:ira <le \lm riactlo; m1 muitas
pois dele e. mais· pel'to de nós, Nilsson·u fizeram todi a cspécie. ulbos afncanas é cootume as muJheres darem à lui o.a floresta
de objcçõe$ à 1eori:1 de Dieterieh, mas oâO conseguiram invalid:i- sentadas no ehão"; mcont13•st o ruesnto ri.u.1al na Austrália 11
no11e da fodia. entre os aborígenes oo norte da Amêrica no ·Pa-
1a na rua totalidade. Dietfflch começa o seu estudo lembrando u
costumese,n uso na Antiauidadc.-depoJiçio da crlao.;a rec-ém- raguai. no Brasil3'. Entre os gregos e o.c; romanos, bserva
nascida sobre a 1erra, inumaçâo das cr.iaoças (em c.ont..raste com Samter 37, c;ste costume tioha desaparecido nos lemp,os históricos
a incineração tlm adultos). co)o(açào n.odtão tarobênl dos doen- ntas não há dôvJda de que txistiu: certas estátuas de deusas d
tes edooagoo.izantc.s - pa.ra reconstituira figura da areo.ica.D c u sa- nascimento (Eitcithyia, Damia, Auxcia) apresentam-nas de joe-
Tetra, da ''Tt'rra-M}e-de-Tt1do" (pq,n,nitôrGé) de que Esqullo lhos exatamente na posiçâo da tnulhe( Que dli à Juz diretamente
ra-z m ol'l', da úttia que l;iesiodo linha cantado. En1 \1olta dts sobre a terraj3, Na Idade. Média alemã, entre- 0$ japoneses. e.1n
las trh práticas orcaicas. os documentos acu.mularam-se em 0U- certas comunidade$ judaicas, no Cáucaso, na Hun&na, éntrc os
n1«0 ímprcssioo:uue e surgiram contt-ové-rsias de que não po r.01nenos, os escandi.oavos, na Islãndi.'1 1 etc., t'1lC0nr.ra·sc o me,s..
mos aqui ocupar•oos. Trotem.O$ de ,,er o que nosensioani O § pró- m? .ritual. Em língua egípcia a expressão ".wntM« no eh.a.o" era
prios fatos e ero q,1e conjunto religioso t.Jes se enquadrt"lm. utilizada, nos textos dentócicos, para sitn.ificar ºparto. parir"l9.
Setu dllvida o sentido inicial deste ritual univcrsaÍmente di·
fuo_dÍdo era o d:1 mate,rnidade da Terr . \'ituos que em muitas
87. Descendrntl!l 1dórica - SaL1ito Agostinho faz menç:ào. regiões se acredJtava que as crlaoças eram trazidas de l)OÇ().$, da
na esteira de Varria. do nome de uma divindade latina, Lcvaoa, á;ua. dM rochás, das ár ·orcs. etc. E em ocrt.as giôes considera.se.
que kvânLava as crianças de) cbâo: lewir d rerrtiY'. Diett.tich km- que as crianças"\' da terra" º. O ba.s1ardo t:ra chamado Jer·
bra. em li ção tOl'll $ e fato, o çostumc., ainda pratk;êl.do nos rae flllus. Quando os mo dve.s desc..jam adotar uma criança,
Abruzos, de colocar a cl'iauça oo chão, depois de lavada e orotc- eókK-âm-na num fosso do Jardim onde. se julga habitar a de.usa
gída co1n c.uciros'1. O mesmo ci,ual é praticado entre os escan- protetora, a Terra-t.1ãe:-t1• Isto significa que., para ser adotada,
dinavos, os alernãc.s, os Par.ses. os japoneses, etc. A crWnça é le- a cri deve na!OC:r de no\ 0; e isto faz·$C·, não $Ü.uulando o pareó
1
\laDlada pelo pai. (de terra Jollere), o que. sianifica que a reconhe- nos Joelhos da mãe adotiva - coroo en11e os ro1naiWS, por cxcm·
ce como seu lilho1l, .&te rito foi interpretado por DieLeri<:h co• p i o - , 1nas colocando a criança no stio da sua verdadeira ntãe,
010 uma rnaoeica de votar a criança à Tena, a Telh1s 1.a1«, que
a Tetta.
é. a sua verdadeira mãe. úol<linann objeta que o fato de pôr a , · natu(al ue. posteriormence .., es1e sentido dcdescmdência
criança - o doente ou o agonizante - no chlio não implicava tduric:'I tenha sklo substituído por uma i<ICia mais generosa, a sá•
tl«cssariameute uma descatdfncia tehltica desta, ue1n u01a con· ber, que. a T«ra C a protetora das ,crianças. que ela é a fonte de
s.agraç.'lo à Ttrra.r,.tãe, miu tinha murto .shnplesmeoté p0r finali- toda força e que ê a ela (q'l1er dizer, ao esphito matemo que
dade o contato com a força mágica do solo. Outros são de opi· a hab1 n) que são CO!Ua8l'adô$ os :r«êm-o.ascidos. é assim que
lliáo de que este rito tinha em vista oonseauir para a cl'i.aoça uma se expltca a freqüência do berço ctõoico: os bebês sâo adotmoci-
alm3 que lhe vi.Ilha da TeUus f\1atcr 33 • d ou repousam oas covas, en1 oo,uato direto <:om a terra ou
8 e\'idc:nte que estamos perante i.oterpretações difecentes de- s:om a-e:a1nada de cinzas. de palhas e de folhas que a mãe prepa,
tou 110 fundo da oova. O berço ctónico Cconhecido tanto nas so-
\Ul\U mesma cooccpção primordial e que só apartnt\'-1ntotç e con-
.í'I TERRA .4 AfUJ..JIEI? I! A PECUNDIDAl>E 203
202 TRATADO DS HtsrôRIA DAS REL!GJÓES
crianças de menos de dois anos e- proibcm 3 sua incineração. Os
ciedadesprintiti\'ai (australianos e algúJ)S povos t.uroo-ellalcos) hurons da Ao1érica do None enterram nos caminhos as crianças
córno uas ci'li.Uzaçõcs superiores (ln1.J)Crio dos Incas, por cxetn• mol'tas. a íitn de que Possam renascer introduzindo·sc no ventre
plotl, As crianças abandonadas não sào mortas. mas, ent!c o das luulhercs que por elas passam#. Entre os andamaneses, as
g.rea.os, por exemplo, del.'\'.ada r te1<.i. 1-\ T rra-Mãe cuidara crianças sào enterradas sob a late.ira, na cabana4 1• Há que.lein
delas: ela decidirá se deve,u morrer ou sobrev1,•crl, btar também o enterro "sob a fc,rms de co1brião", ptátiea frc-
Uma criança ''exposta''. abandonada ao aC."\00 dos. clffl)e_,?· qüc:111e cm mu.i1os povos e à quaJ vol1aren1os quat1do examinar.
losOOsmicos-água, veuto. terra-. t-rnnpl'e como um dc:i110 mos :i n1l1ológla da rt'i.ófte48. D á « ilo cadã,•er ums forma em-
lançado à face.do destino. Confiada !erra ou às âguas. a.c ao- brionária para que a Terra-Mãe vossa Q':\.Jo à luz urna segunda
çn. cendo para o futuro o estatuto soc1al de órfão. corre o t1 vc1. l:lá regiões onde se oferecem à deusa telúrica críança5 CJlter.
de: morrer, mas teln ao mesmo Le1npo possibilidad de :1,dquu1r rodas vivas; é o easo da Groc:nlãndis, ondc,se enterra a erianç.a
utua condiçào diferente da condiçilo hun1aoa. Pr04e.zida pelos ele- se o pai está graveLncnu: doente; na Suêcui, duas crian foram
mentos c.ósmícos, actítinça abandonada torua:se.t ql'lent men• enterradas vi,,as duran1e uma epi-den1ia de- peste; c:11ue os nlaias
te herói. 1-ei ou santo. A sua biografia kndána u:ruta. a · o fatian1.se $3crlficios deste tipo quando grassava a seca .
mito d0$ deuses abandonados i.1nedi:'"1ai.nente pó? nasc o1en- Da •na fonna que se põe a criança no chão togo que nas•
to. Lentbremos que Zeus. Posídon, D on1so. Áus t: u1umero. deu- oe, p.'lta que a sua "erdadcira mãe a legitime e lhe assegure uma
ses partilharam a Wne de- Puseu, de loo, de Atalantt.. de An- proteção divina, também se colocam no chào - a .menos que se
tion ede Zcto, de .Édipo, de Rómulo e de Ret o. ro.lsés tai.n,bém -c-nterrci:n - as crianças e os adultos em eaSõ de doença. Este rito
foi abandonado nas -águas. tal coi:no o ht?"ó, lUaon lasSi ,Qe equivale a uni novô nascimento. O entc:trQ siLubólico, parcial ou
foi lançado ao oceano. oomo o foi o hesó1 do Kale\'ala, \', ina- total, tem o mesmo valor máe,jco,,retig;ioso da imersão na água,
n<rnen que ,.4flutuava nas vagas ttoebr ''. O drama d:i cnança o batisn10 (§ 64). O doente regenc,a-sc.: nasce de novo. Para ele
b;ndn ada Ecompensado pela p_ran. mítica do ''õs:fà_o'', da não é um simples contato com a$ forças da Terrn, n1as sim uma
criança primotdial, na sua absoluta e 1nvu.lnc v solt ãO _có- r.egeneraçâo total. Est.3 operação tein a metma cfieác.ia quando
miça, na sua unicidade. O aparccimenlo de tal cria ça- contei· se tl'ala de sanar uma falta grave ou de tratar uma doença de es-
de com un1 ,non\ento auroral: crl.?ção do cosmos., c.naça de um pírito (que a1>resenta para a colecivid{lde. o 1nes.mo perigo que o
mundo novo, de un1a "°''ª {pQCa bisr rica (lá»1 ,, ';{ v,rgo: •.). crime ou a doença fisiolóstca). O ptcador t colocado num tonel
,de uma ''vida no,,a'' en1 qualquer n,,•el da rea!,1dade : A roan- ou, numa fossa feita na tcrra 1 e qllanc,1Q $ i ®li "n.i.sçeu uma se
ça abandonada à Terra--tvlãc, por ela. :salva e cnada. d,;:1ica de PO· gunda vez., dQ $CÍOde sua màe U $<1, 8 por isso que, entre Q S es,.
der parlilbar o dC$.l.lno comum dos h,omens., po uc re_pe1e o mo• candiuavos-. se a ê que un1à feHic<':ira pode ser salva da danação
mento oosmológico das ocig ns e cr,c:sée no ma.o os elementos eterna se t'or enterrada viva, e se se fizer sen1eadura e colheita
e não no rnc:.io da ramnia. E por isso que. os heróis os ntos no local onde foj enterradas•, O mesmo se pensa acerca das
stto recrutados entre as crianças abandonadas; pelo sll'llple.5 faro crianças g,avemente. doentes: se se pudcs1;e enturã,las e semear
de as ter protegido e preservado da. mort . a ,:-erra--.?vae (O\l :tS de modo que honvessc tempo de haver gennl11t1Çâ<>, estas crian-
Á&uas-Ml\es) votOú·:M a um destino gr3.odioso, tnocCSSivel ao co- ças curar..se-iam. Compreende-se ctarumc-.ntc o sentido dc.ua cren-
,num do:i mot1ais. ça.: o hoooe1n (o f ticeiro, o doente) 1cm, deste Olodo, J)OM.ibili
dades de nascer de novo ao mesJllO 1eo1po que a vegetacão.
Um rito aparenu1do com es•es consiste nn fazer J)SS53t a
88. Rc:cneração - Um ritu:al que$t e,.i,1.Ca pela a crm· C(iança doet1te atravts de uma feoda da terra, ou através de um
ça na Terra-l\{ãe é a inutnaç.ão dos cadá\.'tíC$ dikS coanças. Os rochedo furado, ou atravC$ do buraco de uma .ár,•oresi.
adultos s.a.o incineradoii, mas. asc.riai.'lcai são eruerra.das.1>ar que Encontramo-nos aqui diante de uma crença unt pouco 1nai3 co•»·
,·ollen1 ao selo da mãe lel(ui.ca e p,o$SWU reni&tt ma.is tarde. Terró plexa: por um lado, a flllalidade-é t:ransfc:rir a •'dQença' • da criança
clmtdilu1 infantil. As leis de Man prd«eyçm • ,nomaçno das
1111
-
TR,l'TA.00 DE Jf.lSTÓ.Rlft bAS RBLJGIÔES A TER.R.A, A />IULH&R E A FECUA'Df.DADE 205
para u1n objeto qualquer (ât,1ore. roch.edo, lcrra)i pOl' outro .la- cavam ao I ? de fenda o de grutas. Sabemos que houve tais
do, in1ita-se..o próprio ato do parto (a passagtm atrav do or1ti- oráculos Cton1cos em Ollmp1a e cn.1 Delfos, e Pausânia,; mel)Cio•
cio). 8 1nesmo pcova,,el que elementos do culto solar (a roda = na um oráculo em Aigai, na Aque:la, onde as s.,ç rdotisas de Cê
o Sol) ten.hatn dado a soa contribuição para este rito - pelo me-- pr iz.lan:t o íuturo à béira de. uma fenda60. Enfim, não hã n-e-
nos eLUcertáS reaiõcs: Índia, por exoo1plo (§ 78). as a idéia fllf!· de lembrar o grande nômero de 1' incubações ' ' que se
damental é a de Cli.r.l por melo de- um no,...o nascimelltO - e v1.. dade
vcnficavam se se: dormJa no cllão '.
mos q_u<:, na JUMQr parte das suas crenças, os povos agtic las es-
tabelecem uma telação ml.l..ito estreita entre este novo nasCiinento
e o conta10 com a Terra Ntãe. Só assim se padc-cxplicar toda uma 89. Hou10-Jnu"us - De todas as c-rcoças de que falamos até
série de crtnças e de oost.\unes respeitf.'ntes às purificações e. ao aqu,.. ressalta que a Terra Cmãe, querd.1zer, que gera formas vi•
cmpr(.$0 da terra conto meio terapêutioo. A Terra está bem im- vas arranc3Jldo-as da sua própria substância. Em pritueito lugar
pregnadtl de força. como crê 00Jd1nan.n, roas e. à sua capacidade a Ten;i é "v(,•a•» porque é f6rtíl. T·udo o que sai da Terra é doe.a:
de dar fruto e à- sua materntdadie que ela deve es,a fotça. do e vida : tud<? o que \'Olta para a Tma t de. novo provklo
Vimos que se enterram as çrian,;as, mesmo e.ntre os povos de ,•ida. O b1nô1n10 hom<>-hun111s não deve ser con1preendido no
que têm o 00$t\lme de incinerar os seus monos. e isto na espcran· sentido de que o homem seria terra porque é mortal, mas neste
ça de q1.1c as eniranhas da Terra lhes (.,çam dom de uma ,,jda no- out o: se o homem pode ser wn ente vivo é porque vem da Ter-
va. A pàlavra n•henna significa. cnue os maori, "terra" e 'pia• ra, e porque nasceu da Terra-f\fáte;r e volta 1>ara ela. Solmsen ex·
centa"u. Aliás, mesmo o cnterto dos que morrffll e:m idade pUcou "!âltries por mâter; ainda gue esta etimologia não seja a
adulta - ou das soa5 cinzas nos povo-s que prallçam a iricinera- ,·.erdade1rn (o 5-eotido Pl'.'mordial da.pala,·ra "matéria" _partce ter
,çào - e feito conto o objeti\'o. "Arra:;w.-te para a Tetta, .s1<10, ef ilo, o de "ooração da madeira.''), ela pôde ser encs·
tua mãe!", diz. o Rig Vedtr4. ;, A ti, que. és ternt, p01iho-te na r ª.?° tntenor ?c uma \\'dcansc:baut1ng mítico-religiosa: a "'ma-
Terra!'', es(â es.erito no Alhánia YeduSS. " A Terr e uma !le, téria. t.em o destmode uina m.ãt. _.porque ela gera inoessantemcnte.
eu sou filho da Terra, Lueu pai é Parjanya, .. Nascidos de u, os-
mortais voltam para ti ... "jfi No cnome,tto do ent rro das. inzas
ª.
1\qu1lo que nós cham mos vida o morte são apenas dois ,no-
.mentos diíercnt.cs do deMJ.Oo torai da Terra-t,.tie: a vida nada 1naL1
e dos ossos incinerados. juntam•se grãos a estes e espalha-se tu• é que um separar se das e-ntranha.s. da Terra. a morte reduz.-se u
do·sobrc. utn campo lavrado rtcentemcnte, dizendo: "Savitrii es• um re,aresso à "própria Tcmt". O desejo tão freqüente de ser
palha a tua câffle' no seio de nossa mãe, a Terra. · n ?-t1as estas enterrad9 !lQ sok> 43 Pª1da ti'i.O·sô uma forma profana' do au-
aeoças hindus não sâ'.o scmPfe illo sim p1es como pare(cm nos tex• tocton 1no 1k.o, da essidade de reentrar na sua própria ca.-
tos citados . .,.\ ldéia de retorno à Terca-t-.iãe foi completada por .sa. As.1nscnçoes sepulcrais do 1e1npo do lmpé.rio rontano põem
uma idéia ulte.riot: a de reintegração ,do homem no todo do cos- ef!l Tdcvo a alea;ria de · enterrado no solo da p.11tia: hic ,ratus
1uos, uma r<:Slifutiü ab lnlegro das faculdades psfqoi(a$ e dos ór• l11cslt11s est.(ClL, \1• S595); hic situ$ e$t pa1ri,1t (\?JJJ, USS); hic
g.ãos no antropooosmos original sa , quo natus Ju.eral op1ans erot lllo r v rli (V• 1703), etc. De mes-
A «ença segundo a qual os mortos habitam debaixo da 1er- ,na fonna· que ou,ras não tSCondem a tristeza por não ter havido
m ,ué o moo,ento em que voham de no .·o à hn do di.a, a uóla es1a alfero contexit rellus dtdit alfero nasci (Xlll,
nova existência, expUca a idcntificaçio do reblo dos nlOílO$ com 6429).nsolaÇ{
. Bnl10: 1, recu53 va.se o enterro aos traidores porque, se-
o luga.r de onde vêm as erianças. Os mexicanos. por t.x.en,plo, 11
!
gun o a expbcação de Fík>strato, eles eram ind.Ja.nos ''de .se,rcm
crêem que a sua origem está n,un lugar cbaotado Cbicomoztoc, sanofrcados pela Tcrra"ro.
o lugar das sele g.nitas''. Quer porque se. 0011.Sidera,•ain os môr· A água é portadora de gerruts também a Tc,rra é poriadorn
tos conbecedorts do futuro. q u « p0tqoe seconsidet'ava a 'Terra.. dcle.s, mas na Terra tudo dá fruto rapidn.1neute. Os estados la-
graças à teabsorção periódica de todas as criatura$ vivas, possui- tentes e os auroes ficam P.ºr 'C?'.CS durante vá.rios ciclos nas Águas
dora de- poder oracular - ulguns otâc.ulos arcaicos da Orecia fl- antes de thegarmi a man1fes.tar«: da Terra podc,..se quase dizer
17t"1TA1>0 DE HlSTÓR/.4 bAS RELtOlôES 11 TERRA. A ,ltULJIER E A FECIJN!)f(>Al)B 2íl7
206
que cla não tem repouso: o seu dest-ll'lo ê gerar in cssantemcnt_e. é de ordem biológica. E sempre que qualquei· dos nlodos des.ia
e dar forma e vida a t-udo o que- vo1til para ela lUertc e esr.érd. vida é mancbado ou esterilizado por um crime contra a ,•ida to-
As á3uas cnconlram·se no oomC9(1 e no fim de todo acoote_cim:"to dos os outtos modo,s são atingidos, cm virtude da sua 50lidarie,.
cós1nico; a Terra.encontra-se no começo e no flm de toda Vlda. dadc orgânica.
l'od.'1 manifestação :se rea1iza acin,a da& á uas se. r,:i teg.ta oo Um crinte i u1n sacl'iJégio que pocle ter conseqüências muito
caos prbnordial auavts de um c-atacpsrno ,stó.nco (o dil(lv10) ot1 31·aves a todos os niveis da vida, pdo $implcs faro de que o sao.
COOmico (tnf!hâpra/(lya). Toda tnarufes, o v1tal t.em ugar gra- guc 11crtido "envenc:,na" a Terra. E a c:alanddade manifesta-se na
ças;\ fecundidade da TerJa; toda a forma nascc<lela, V1va, e vol· esterilidade dos campos, dos ani.maii e dos homens. No prólogo
ta ra ela no mo1ncnto el'.l1 que a plll'te de vida que lhe tinha sido de :Gdipo.Rei, o sacerdote lamenta-se· i,or causa das desgraças que
oonccdida se esgotou; volta a ekt para renascc-r; ,nas. antes de re- cairam sobre Tebas: "A cidade n,orre nas sementes frutiferas da
nascer, para reoousar, para se purificar, para se ·rea,e1terM, t\S terrn. oos rebanhos de bois, nas crianças nos ventrts d:i.s
-águas precede,n toda criação e toda (ior.ma; a Terra ptoduifor- mães... ,.•64 Um rei sábio, um reino.Jundado na justiça g.aranLem,
mMvil•a:t. BoquanlO o destino IJlítit"'O das águas abrir t. fechar pelo contrário. a fertiUdade da terra. d0$ animais e das mulh c:
cic.Jos cõsmicos ou cônicos que se estend«n por mdhões de anos. res. Ulisses confessa a Penélope q:ue e porque cle. tent f-ruu."l de
o destino da Tcrro é estar no principio e no fin de qualqoe.r for- bom rei que a terra dá frutos. que as ovelhas dâo à luz que o
ma biot6gtea ou pertencente à .bistôri:a local (''os homens do lu- mar pulula de peixe . He.sfodô fonnula nesles termos a oon·
gar' '). o tempo-que tem, por assim dizer, sono qoaodo se tra• cepçâo tllstica dé harmonia e de fertilidade antropocóstnJcas:
ta das á g u a s - é ,·ivo c.infaligãvcl quando a T gera. A! íor- '' Aq cs que, tanto IXlnl o estrall$ciro como para o cidadão, pro·
01a.s vivas aparecem e desapare<:em com wua rapidez. fuJm1nan- nunc1an1 sen1eoças retas e nundl. se .afastam d.a justiça Vêc1n pros•
. Mas llcnhun'I desapatocinten10 é decisivo: a «?Wre das form_.u perar a sua cidade e, dentro doS, se1.1s lUUros, a população tornar.
vjvas não passa de um modo - la;ente e provJsóno - . d e c.xJs- se felix. Nas suas terras ts))alb;:i-se. ;:i paz que alimenta os jovens
têt'lcla, l)OiS que a t'oJma vivs. como tipo ou oomo espécJe nunca e Zeus onividente não lhes re;.s.erva a guerra dolorosa. Nuoca des:
des.ap.>.t'tce. durá1ile o p1a2.o que as águas conoedcin à Terra. tes atos de-justiça -se segui rã rome nem dess:raça... a terra ofereoe-
lhes- um:i vida de abundância: nos montes cresce o carvalho, nos
ramos deste nasce a bolota e no u-onco vivem as abelhas; o p lo
.90. Solidariedade eoimoblológi..-a - A pM!ir do mo1ne to a&undantc. das suas ovelhas torna-as Dlais pesadasi terão filhm
ern que uiriâ forma se desteca da.s :iguas. toda ligação orgântç{I que se fXll'eCeL'ão co1n eles; terno prosperidades sem fim, e nunca
imediata cou-e esias e aquela se quet,ra: entre o pré-formal e a tetâo de partir para o nLar, pois que o solo fértil Ules oferece os
forma hé um. hiato. Esta ruptura não se verifica <1uando se trai.a i.eu!i frutos. "66
de (or1nas geradas peta Terra e da Terra: estas pennanece s h·
dãrias com a sua n1atriz, de que aliás só se des1acam ovisorla·
mente, e- à qual regressam pa(a rC'l)ousar, para :i.e fon1fiL-a.c e, fi- 91. GJeba e mull'1er - A soUdatiodade reoonhecida entre a
naln1eut.e, para reaparecer em p)eoo dia. E por isso que ha n.t1't fecu11didade da itlc:ba e a da mulher constitui um dos tr:iços mar-
a Terra e as forma$ orgâ11lcas por ela geradas um laç.o n1glCO c.-..ntes das sociedades agrícolas. Duran1e muJto tempo os gregos
de simptui . .Em. conjunto das. constituem um siste,na. Os fio.s e os romanos a...ssimilaram &leba e a1riz. . ato g«ador e trabalho
invís{vci.,; que ligam a veg,etação, o reino .aromai e os l!omr.os de Q.&ficola. Enconltamos eita assimilaç_ão, por ou1ro lado, eminul•
uma «ria região ao wlo que os produz,u, no qual ,•1vem e do las ?viUz çõcs e ela deu origen1 a gr.inde n\1.mero de erenças e
qu I se alhne-ntam, (oram teci d pelá vida que _palpita taru:o na de ntos. Esquilo, por exemplo, di2rnos que&lipo •·ousou lançar
mãe como nas suas criaturas. A soli darie:dade que -existe cntte o semente-no solo 533rado ónde se tinha gerado e plantar nela um
tehirieo de um Jac;io. o ..reaetaJ, o aJlimal e o humano do tto, 1rollco sangrtnto""7 • .Em Sóíocl abundam .\S alusões aos
é devida à vida, que é a mes.ioa_por toda a parte. A --sua t1rudade. ''campos paterno$ "11• ao "lavrador. senhor de um campo lon-
TnA TA.DO OI! HISTÓRIA DAS RUIOU)ES A TBRRA. A t,fULJIER E.A FE.CU,,'DIDADR 209
208
afnquo, que. cle , 6 visita unl:'.I vez no ·1e1upo dás semem.:ir.1$"69. M»do este moti ·o de <>den1 econômica'"'. Encontr3·9e: a mesma
Oieterich, qu.e junta a estes textos dãssicos inumeras ouuâ.S refe,. c:rcnça no que d respeito ao perigo que a esterilidade feminina
rblcias. es.1uda tambêm a treQOén.:.io do moti,;o arat-anl(lfl1os põe· pode .çepresent r para a agrjcuJtra oa tribo ghantu, na índia'$.
tas Jarinos!-0. Mas. como seria <ie operar, a assimilação da mu- Eln N!cob":", drz,.se quea_ colheita seTii ma.is abundante se as se-
ente,ras U\'o/em sido f'ettas por uma JJlUlher grávida . N:i ltá•
16
lher e do campo lavrado, do ato serador e do trabalho 1'gricola,
é um.a intuição arc=t.ica e ro\Üto difuOOida. é preciso distillguir, ha do ui, cre-.se que urrá bom resultado qualquer trabaJho t.m·
nt\la sínt e 1nitico-ritual, di\l'e.tSOS demen1os; ioen iíiea.ç;llo da preend1do por unia OJUlher grávida e que fudo o que seja semea•
mulher e da i:crta arável; identificaç c, do-falo e da chatn.1a idtn• do P ela ttesc:er, como cresce o leso no seu ventre''· No .BOI·
tific:aç-âo do 1rabalho agrícola e do ato gerador. u u. mulheres dese1upenham o papel 1,rincipaJ nas cerimô·
B preciso dizer, no entanto, que, se bem que .a Terra-:tviàe n1a,; e nos u.-ibalhos rt.lati\'OS à culturo do arroz. Os homens co•
e a sua reprcsc111ante, a mulher, dmn1.pcnlteru utn papel prcpo1;:· l\'lb ram penas no corre de silvas e.urzes e em aJguns 1-rabalhos
decante oeste oonjuo10 ritual. já não te1u netc. um papel exdus,- finrus ... São as n1ulberes que escolhem e cooservam as sementes ...
\'Q. Não há lu8tlI aqui só para a mulber ou a terra; mas tambétn Parocc que se.sente netas. uma afinidade natural com as se.o1entes
para o ho1nem e o dens. A fertiJidadeé precodida de-u.".1 hieroga· de que etas dizem esc.ar srá,•idas. Por "ezes, vão passar a noite
mia. Ull\ velho &<>rtilée.io a.n.slo-sa.\oâo contra a esteJJltclade dos nos.campos de airoz. na época cm que d e cresce. A idC:ia delaç
camp0$ reflete adrnira,•elme:nte a11esperanças que a! s.«-icdades é, l)fO\•avelroente, aumen1ar a sua própria fertilidade. ou a do ar.
agrícolas põ«in na hierogamia: "SaJ,·e, Terra, mãe dos ho1nen.s, roz-; m a .este. respeito mostram.se muito.retJceutes'''*·
sê féftll no abraço d-o deus ecn(he-t.:a de frutos pará servir o ho• Os IRd\OS do Ore.nooo deixavam às mulherts o cuidado de
mem." ' En1. Eacusis) o·misto pronunciava a.fóttnu.la agrioola ar· seJ)le.1.t o 1,1uJho e de plantar rafzes., porque ··assim oomo as mu-
c.aica: ''Faz chover! - d á fíutos!'', olhando primeiro parao<:éu lheres sabiam conceber e parir, assim também os g:rãos e raíz e s
e depois para a tetra. E píO\'â\•el que-esta hittopmiaentre ? Ctu que elas scmea\·am e plaotavso1 da...-am frutos muito ,nais abuo-
e a Terra teuba.s.ido o ntodelo pcimor<li.al 1.anto da fecu.Odidade dances i:lo que se tivcssein sJdo semeados ou 1>lant.a.dos peloi ho-
dos campos cómodo casamento hurnano. Um texto do Atltar\.'(t mens" . Em Nias, uma palmeira-<le-vjnho p'lautada por uma
vooon oontp2ra os uoi\•os ao CCu ,e à Terra. mU1het dá ,na.is scJva do que outra plantada por um bo1nem&0.
,-\s smas crenças sâo encontradas na África, entre os ('\\·c. Na
1\mer1ca do SuJ, entre os jibaros, 1>0r exemplo. crC-sc "que as
91. A mulher a :igrkuttvrt - Admite-se, non1.talrncii.tt, que Lnulhttes e-xcrccm uma influência espccial, misteriosa. no cresd-
a agricultura tenha sido uu1a descoberta fentinina. Oc\lpado 1net.Lto l>lan th.lvadas"'1. Esta solidatiedade entre a mu-
perseguir a <;;,:1ça ou em apasceni...ar o gado, o ho1nern estava lhc1 e o camp0 fm:11 conservou-se rnesmô deyois de a a_gricullura
p«: ausente, Pelo conlrá.rio, a mulha- 1 ajudada pelo seu espfn10 se ter tornado ums técnlto n1asculina e de. o arado 1er tomado
de- ob r,•ação, Hnlitado mas penetrilnte, tinha ocas.ião de obser· o lugar da enxada primitiva. TaJ S!)lidariedaJet.xplica grande nú .
var os fenôúlCllOS nat\irais de semcutelra e de get'Lninação e de mero de ritos e de crenças, que examinaremos ao mesmo 1emp0
tentar reprodw.i•los artificialmente. Por outro lado, pelo fato de que as ''representações rituais agrárias"(§ 1.26).
ser $0Udátia com outros cc.niros de f«uL\didade cósmica-• 'Ter·
ra, a Lua - a mulhet· adquiria o prtst(gi(l de. poder. inOuir na
fertilidadc e de poder distribui•la. B assim q,1c se explica o papel 93. !\.lu1her e.solo fitado - A assim.ilação eoue a mulher e
preponduantc desempenhado pela .mulher uos começos da ag.ri a !erra J:ivt"ada é encontrada cm muitas civilizações e oonscr\'OU•
c-ultura - sobretudo 110 tentp<> -em que -esta tócnka era apanágio se 110s folclores europeus. "Eu sou a terra", confessa a be1n-
das L'l)Ulhcres - , papel qoe continua a desemJ)t'llhar em ctttas 111nada numa canção de amor egípcia_ O v;dé\'fl/Jt oomprua a terra
civili .zaçOes' i. Assin,. ,em Ua.a,nda ,una mulher estéril é conside,.. lncul.ta.a uma mulli_er Sdn filhos, tal conto, rlM contos a rainha
rada prrigo.sa l)ara a hor e o t\larido pode pcdlr o divórcio ai titérd se tamenta: "Sou como um mpo onde oada r escet•,n
110
tR.4 TADO DE. Hl!iróRIA DA.f RELJ;()IÔES A TERRA. A .WULlll!.R E A FF.CUNOIDADÊ 211
Peloconltârio, nun1 hino do sé(.ulo XII, a Virgeru l\tlll'.iaéslorifi· cre,ita 1ig.aç ex:i c-otc entre mulher e erocisnlo. de um lado e
cada OOt'OOterra 11(11t<1rabilisqu<tefr,,c1u1u pa.rtwiit. Baal era cha· la,ra e tertdidadc da terr:i de 0111,0 lado . , sim,
' • • e. conhecido
• •" I , ..-
mado ''o matido dos camp0s••&J. Quanto à ldcntific., o da mu· o costume q 1e anda que. stjan1 moças nuas que abram eont o
lhel' e da gl.eba. era froqüentc entre todos os po"os St:mitás:14• Nó! arado suJcos')ft , cos-tume que nos lernbra a união
1exto.s islât.nicos.. a mulher échatnada ·•cruupo", "vinha''. etc. ª As exemp1os ar :ra ctros
cusa Deinêter com Ja!r,o. no comoço da primave,.
vossas n1ulheres são. para vós, como campo&. ••!iD Os lúndus assi- recém. me.ada . ! C$53.$ ceri1nônias e lendas
milavãm eamJ)o cuJü,:adO e vulva (yoni), semçn1es e sêmea ,,iriJt4l . i!L.::n a ª D ? c 1 a sua s1gnü:1cacão quando tudannos a cs
''Esta mulbcr é oomo ucn terreno vivo: homens, lançai oda a se- trulura da reUwos.idade a,grâtia.
-mcntel''t? As leis de t,.,tanu tâlUbém sus\ ntan1 que ·'a mulher 1:>0·
de se.e considerada t1m cai:npo e o homem a semente'' (TX, "33).
Nârada faz o seg\lin e coLuentárlo: •• A mulher é o can1po e o ho· 94. ShiW - Nos conjuntos mitioos e rituais que revimos
cderr? éfiv lor1zada em primeiro lugar J)Orqne · tetn uma• C'an-'lc·
..,... 1•
1nem é<> que dft a sen1ente.'1ss U m 1,>tovérbio finlànd s diz que d•a e m 1n1ta de .,
"as mocas têm o seu camPo no prcjprio 0011>0>1&><, nl'odu··tr f rutos. É por isso que com O tempo
<,
em que fotruu r«olhido&, s:'lo e:xtrtman1ente diferenles. Ê evidente oonj'unto dos 'ialores religiosos e elas cerimônias agrárias - que
que o contexto ele Yggdrd.Si), por exemplo, ou da ..·Árvorecda Vi· cstudare,mos cm outro capitulo - distinguiremos, naquilo a que
da'' da Escritura é cnui10 difcre1ne d,o contMto do "casamento poderíai.uos chamar "os cultos da \·ese1oç.\O'' - tmpreg.aodo um.a
das :ir\·ores'' que ainda hoje $C·pratica na india, ou do "rvtaio'' expressão ap o:cimada mas cõmoda - . os seguintes grupOS:
que se traz rituaJmentc na prhuavcra nas aldeias européias. ,-\o Q) o con.1unto pedra,,árvore•alta.r, que consiitui un1 n1icr<r
nÍ\-d da religiosidade popular, a árvor,e ritual desempenha unl P,'l- co�ru f!fi)'O nas c ma as mais an1jgas da vida religiosa (Aus-
l que o simbolismo da ár\1ore, t.al conlo se pode reooruiti1ui-lo craha, Çh1na·lndoch1na-lndia; Fenkia-Egeu);
a partir de documentos paleorlentais tan1bém por seu turno irn- . . b) a árvore-Imagem do oosnt(M dndia, 1"1.esopotântia, Escan•
plica, mas este pspd tsi,á, loog:c de esa,otar toda a rklucza, toda d1na\•1a, etc.).;
a 1nu1tivalê:ncia deste sin1bolisnto. Podem-se identificar concep- e) a árvore,1eof"nlt1 cósmica (li.tcsopot.âmia, índia, Egeu);
ções·f\u1datnc:nutis (cotuo, por e:<emplo, a da árvore cõsmi(a., ou •d) a árvore-sln,bôló da vida, da fecu.ndida-de Wesgotável, di\
a dos ritos de regeneração vegetal). ts10 facilita, de certo modo. realidade-absoluta; cm relação com a Grande Deusa ou o simbo·
a classificação dos documenlOS, t,.1as o problerna da ''bis,ória" Jis10 aquáltoo por exeruplo Yaksa); identifJcad3 à fonte da i1nor•
dos mo1i,•os só subSjdiari;ime:ntt pode ter inittesse para a nossa talidade ("A Arvore da Vida » );
pesquisa. (') a árvore•centro do mundo e supor1e do unjverso (a1tai
Antes de prOC\lNlf s s b e r - supondo que tal seja pOMível - cos, escruidina\·OS);
cm qut- milênio, a partir de que ch•iliução <' por meio de quera. f ) ligações n,islicas entre árvores e: homens (ârvorcs antro·
1ores um certo shnbolismo vq,etal se difundiu-, antes mesmo de põget\é.sicas: a árvore COJUOreceptácuJo das almas dos antepas .
cktennit,a1· certos coujuo10$ de: ritos que impliquem este simbo- sadoi;; o casamento das áf\•orcs; :a presença da árvore nas ceri-
lismo, o que ll interessa. de. momento, é $3ber qúal foi a fun- mônias de iuiciaçà:o):
çtio religj0$a da átvorc: da 'lt;geiaç:Eo ou dos sí.mbolos veaetais g) a árlore.sfmbolo da ressurreição da \'egetaçâo. da prima,
na oconoin\a do sagrado e na vida. telisi.osa, &ibero que ela teve. vera e- da "regeneração" do ano (por exemplo o "Maio").
la e o que ela siio.iUca, \'é'r enfim em que medida seôa tegitimo Es1a -c-Jassificação sumária ese:1n dúvida íncoD>plet.'l 1e1n, pek)
procurat· uma estrututa coerente sob a apan:nte polimorfia do siu,- menos, a vantag-e de chamar a nossa atenção, logo de início,
bolis.mo da ár,·ore. O q.ue nós queronos, pois, saber é o seguin- para as caractei'Csucas comuos a t.odos. os documentos. Sem nos
te: bav rá uma afinidade ínlima entre.os sent.idos apartnten1ente anteciparmos às conclusõet: que se pc,ss.am tirat da at\áUse desses
diferentes que a ""esetação" toma. confonne '- valorizada eiu documen1os, l)()(lemos desdo já chamar a atenção para o fato de
qualquer dos WSQintes oontextOI':: cnsmoJógico, mítico, teológi- que a árvote reptesenta - q u e r de ,naneira rlntal e.concreta, quer
co, rin1t'll, iconográfico, Jolcl6rtC01 Evklcoten\en1e, trata se aqui dç n1odo mitico e cosmológico, ou ainda puramente simbólico
de uma coerência que se t.eris impOsto à cou.s<:ib)<:ia pela própti.1 - o cos,11os vloJO, reieneraodo-se- incessantetuente. Sendo a vida
estrotura do objeto; coer<".nc[a que s,e. nos revelaria - parcial ou incsgotâ 'el um equivalente da UnortaUdade, a árvote-oosmos pô-
totalmenie - qualquer que fosse o ni,·cl em q·ue nos colocâs.se de, r,or isso, tornar«. c1n outro nivel, a árvore da "vida-sem
0.10$ para cootemplar o objetO e quer este fosse o do rito popular morté''. Sendo a mesma vida ines.gocá"el na ontologia arcaica a
(cotno o co11ejo de ''Maio'' no começo da primavero). ou o do uaduçiio da idCla de realidade absotuJa, a ár\'ore torna-se nela
ideog(ama da ••á r 10<e çósmica" na.plástica mesopotâmica ou IJO$ o sítnbolo dessa realidade ( " o centro do mundo"). "'tais t:µde,
1e-)ttos "6dicos. quando uma 01.1,ra maneira de encarar os problemas tneu1.ffslcos
Só obt e-remos a resp0s1a a csui ques1ão depois de revermos vier ligar-se à ontologia tradicional (na india por exemplo), 0
um l'u1n-.ero suficiente de fatos. olbidos det\tre 0$ mais sl&nili· esforço do es)>Crito para se desliga.r do processd cósmico e se cóo-
cati\ os. ·r,.1:is, para não 110s pcrderft'l.05 neste labirinto, C ptociso
1 centrur na sua própria autonomiâ strá designado como um es--
que antecipe1nos uma classificação, mesnto provisóti:,., do imen- forç_o para ''c.ortar pela raiz a M"'•ore cósmica", ou, pOr outras
so malaia! qui; se.aç-b;;i {l uossa disposição. Oei.x.ando de lado o palavras, como uma superação total ®.S "apaiências-". das rc·
216 TRATADO DE HíSTó/1.IA DAS REUOlô-es A VE:ObTAÇÃO. s/ tBOLOS 6 RITOS DE Re,,.'OVAÇÃO 217
pr ntaçôes em cuja orig,em se encontra a Coute i.nesaotàvel dá um objeto Nligi-O-SO. J\ifas esse poder 61 por sua vez. validado por
vida univ rsal. uma ou10Jogia: se a árYore está carregada de forças sagradas, é
p rque é vertical, é p0rque cresce, é porque perde as folhas e as
rocuptra, porque, porcollSC'guinte, se regenera ("mol're-" e "res•
% . Árvori: s:lgrildfl - Por meio de que síntese mental da hu· suscita") inúmeras vacs, porque tem seiva, etc. Todas estas va•
manídade arcaica, e a partir de que particularidades da cstrutura lidações têm a sua origem na simples coute1nplaç.'l.o n\ísLica da
dn ''lir\1ore" como tal, se estabck:ceu wn SUJlboli.1mo t'1o Yas10 árvore, como "íonna" e modalidade biológicas. Mas é só na se-
e tão coerente? Não se tr ua aqui de determin.lr a gênese de um qüência da sua subordinaç.'lo a uru protótipo - cuja forma não
valor rt.Ua,ioso, OUl$ de desicobrír a s mais antigas e, por couse- ó forços8n1ente de ordem ve3e4al - q u e a árvore !agrada adqui·
auinte, as mais p u m iocuições desse valor. É cc.rto que, par:a a re a $Ua ,•erdadelra \'aJidade. cm virtude do seu poder, ou me.
experiência religiosa arcaica, -a áryore (ou, mais propriamente. lbor, é porQlle ela nu1nifes1u uma realidade extra-humana - que
certasát\•ores) representa um poder. Há queacrtScent.'\r que este se apresenta ao homem numa certa íonna, que dá úulo e se N·
poder é de,.•ido uuuo à "árvore" cnt si como às suas implicações _gé11era periodicamente - que u11)a árvore se torna S.1$l'ada. Pela
cósmolósicas. Para a mentalidade aarcaica., a natureza e o simbo• sua simples pre.sroça ( " o 1>0dcr'') e pela Jel da sua própria evolu·
lo coexistem. Uol át·vore imJlôe-sc à oonsciêllci-a religiosa pch1. .sua ç-ão (''a regeneração"). a .irvore repete- o que, para a experiência
própria substância e pela sua for1na, mas esra substincia e esca arcaica, e o cosmos inteiro. A árvoJ'e pode., sem dúvida. tornill"·
forn1a devem o seu \•ator ao fato de que se imp.useram â cons. se. um si111bolodo universo. foro:ia sob a qual 00$ a encontramos
ciêoc.ia rdigiosa. de que for:am "escolhidas", quer dit!!I'. -se "rc· oas civiJiuções evolu(das; 1nas para uma oonsc.iência religiosa ar 4
vela.tau>". Nem a feuomeoologia da religião n a história das caiea a árvore éo wtiverso, e-se ela é o universo é porque o rcpe·
religiões poderiam superar a constataçllo dcua coexis.rênci da 1c e o resume ao mesmo ternp,o Q.ue o ''simboliza". Es1a conccp·
nature7.3 e do símbolo que a iOl'1,içã.o do 5a&l'ado vem YalOl'Ltar. çâo Priluelra do "síJnbolo''. em virtude da qual o s.imbolo deve
N.ão se pode. pois, (alar propriamente de um "1cult0 da árvore•,•. a sua validade ao fato de que a .. eatidade que ek- simboliza nele
Nunca utna átvo,e foi adorada por. si tnes01a. tnas senlJ>rc- por est.1 incorpotada. será mais aprofundada quando abordarmos o
o.quilo que, arr.i.vé:s. dela. se •·ceveiava", por 3qu:ilo q.ue ela im· p(obleína do mecanismo e da função do simbolo (§§ 166 s.).
plicava e sianifita\'a. As.plantas mágic.u ou (armacêuncas, oomo A li nica coiS:à que queremos aqui tornar claro é que, se o 10-
do exi e no interior de cada fragniento significa1i110, não f por•
veNrnos adiante(§ l 11), deven1 tambéin a sua eficácia a uro pr<r
t6típo mCtico. Ao estudar MteJ)(esesJtaçõcs da H3fvore sagrada º que a lei da "participaçio" (sobrc1uclo corno a compreendia Uvy,
n t\1esopOtãro.la e- no Elam. NelJ Partot ese:re.,•e: '"Não bá culto Btuhl) seja verdadeira, mas porque qualquer fr::i.a,inetHO signifl 4
obser.·ado Pryzluski . um microcosmoo: pals3$em de pedras. de O ••tug-a,r saarado'' é um miet,O(;osmos porque repete a pai-
áauas e de irvorcs. O centro totémico au.stralku10 .lcba•se ,coto, agem cósmica e porque é um re-1'1e;,co do todo. O aliar e o cemr>lo
(ado, freqlieruen1ent.e, num conjunto sagrado de ât"ort1 e de pe, (ou o monumento fuoerário, ou o palácio), que são 1tansforrna·
dras. O tríptico árvore-:;l\t.ari)tdra no.s "lugares sagrados'' pri- çôes pos1erlores do 11 tug ar :sagrado" primitivo, são também mi-
mitivos da Ásia oriemal e da lndiafoi revelado por P. ius > l . ain- crocosmos, porque são cenirQS dQ 111"nd<>, potque se ;1chaol oo
da que c calonasse esses elem.eutos o õ 1111,0 (na origem do lu- pró1>rio coração do universo e <:ottstilue.tn wna inu1g(J mundi (§
gar sagrado ler-se-ia tichado a Oorestã. e s6 depois o conjunto 143). A idéia de ·'centro". do roalidoo• o b s o l u t • - absolulll por.
árvore-altar-pedra) cm lugar de \ ' e f n e l e s - c no o fazia Pryzlus- que receptáculo do sagrado-. csul implíci1-a nas co11oepç0es mais
ki. com raião - uma coexls.tênc:ia simultânea. De fâto, o binô- elementares do "lugar sagrado''. oon<:epÇão à qual, como vimos,
mio euhual pedra•àrvore está tambCm presente em Oútras áJvo- a árvor sagrada nunca falta. A pedra representava a realidade-
res mrucas. Na civiliz.;içào J)(ê-indian.a de. Nlohcnjô--Oato o lu- por excdência: a indes1ruc-ibilidad e a duração: a árvore. co1n
gár sagrado era fornlad.o de un1 re-cint<> erigido em \•oh.a de uma sua regeneração periódica. manifestava o poder sag.rado na or-
árvore. Tais lugares sag1,ados ertcontrnm« por toda a parte na dtm da vida. No lugar onde as águas vioham con1pletar esta pai·
india nos ten1pos da ptedicnção de Buda.. Os textos pàli mencio- i.agcm, das .significava.tu os estados l.i.teotes, os 3el'n1es, a purifi-
nam freqüentc:mc:ntc: a pedra ou o altar (veyóddl, ,nanco) situa·· cação(§ 60). A ''paisagem'' nlicrocósmica reduziu·seco,n o teml)O
do ao Jado de uma árvore sagrada e qwe<:ons1i1ufa-a ossan1ra dos a um só dos seus e.lementos COl1$litutivos, o Jnais importante: à
cultos populares das di\·indades da t'ertilidade (os Vatsha). Essa árvore ou ao pilar s..i.arado. A árvç:,re acabou por exprimir, por
antiqüissirna associaçào entJe a pedra e a árvore foi aceita e as. Si·só, o oosmos. inoorpordlldo, sob·uma forma aparentctnente es..
.sunüda pelo budismo. .A c a i f ) ' D budista era, ils \1Ctts, árvore só çjtic.a, a :•ror.;a" desle, a .s"a vido e a sua capacidade de reno\•a-
sem altar; ln.M, outsas vezes, ela era a consttução rudimentar que o periódica.
se erigia perto da Ú\'ôre1• O valor reJJ;ioso dos lugares sagrados
arcaicos não foi abalado nem pelo budlsruo nem pelo binduis-
tno. As grandes sin1.eses rcUgiosas da lndia pós-budista 1iveram 98. Árvort,habitação da divindade - O momc1,1to da J).1S-o
e1n con1;1 1ugarC$ sag,rados e acabaram mesmo pot absorvê-- sagem do "lugar sagrado"·imagem do microcosmos prua uma
los nas ·Suas pró1,ris.s e$1.ntturas e, deste modo, validaram-o.os. ár,•ore cósi.uica. CQ11c;ebJda ao mtsmo tempo como ''habitação"
A mesma continuidade pode ser ob$crvada na Grécia e no da-cUvi.ndade, COllSC'r\•ou-se nwna encantação babilônica que os
mundo se:m,1iro. Desde os te,npos minóicos até. o t.7epÚ$.CUI<> do orientalisus 1ê1n tcaduzido coo1 freqOência ll :
helenis1no, encoott;t•Se sen1prc a ár..•ore ritual a par de um
rocheddl. O santuário ico se1nitjco era, com freqü·ência, "E,n Eridu cresceu uni Kis.k.anu otaco. o\lm tua.ir i,:,into foi «iado;
con tituído por urna árVOl'e e por um bCtilo9. A ãrvore ou ashe- O seu brilho e o do lãpis-la.J:úli bfilbantc, e es1endMe até: o Uf)$U
ra (tronco stn1 casca que subMitui a árvore verde) ficou mais tAr· o dea,ntu.11:nório de .Ea n:i c>ptikota Eridu,
de s6 junto ao al ar. Os IUgares. de ofe:rendas dos cananeus e dos A sua mor.ida e u·m lugar de repouso P3r.l Bau ... •·
hebreus situa\•am-st ·'em qualquer colina elevada e debajxo de.
qualquer árvore verdejaóte'"º· O rues,no profeta kmbra "o pe- A âr\•ore Kiskanu aprC$Ctua todas as ca.1·ac1erfslkas da ár-
cado dos homens de Judá'', os aliares e as "iluagens de A.starté: vore cósnUca; acha-se em. Eridu, po,rtanto, num "centro do muo.
que eles erigiram perto das árvores verde}anteS e n:is altas coli- do"; num lugar sagrado, quer d i w , no n1.ro do real (f§ 140
oas''11. O pilar reforçava, graÇàS à Sua. verticalidade e à.sua $U - ,.); assemelha.se, pelo seu esplendor, ao Jãpi.$·1:UUH, s.!mbolo cós,.
1ância, a sacralidade da árvore. A i n s c r i ç ã o - s ó em p r1e deci• mico por excelência (a noile estrelada)''; estende-se em direção
frada - que se encontra no monumento artai<:o surnérk> desig. . no oceano que rodeia e mMcnta o mundo (será preciso dizer que
oado " o personagem das plumas·• diz: ''Ennamaz. asseocou os
tijolos oom firmeza: term.inada a morada principescat ooJ()(;O\I csu1. árvore se estende en1 direção ao oceano cou,. a ponta dos !ieus
to dela un irande á.rvort: ptno da ffl•orc colocou wn p0s1e.1•1: ra111os, quer dii.çr, qyç ç J{l tirvcxo? ''uma ârvort invertida··, í."<>·
TRATADO DE IIISTÓRIA DAS .R/!l,l(JIÔF.S ,1 VEGETAÇÃO: � t 8 0 ( . Q S E RITOS oe RENO V.AÇÃO 221
mo o são habitualmeote as árvores o6:sm.icôls1): Ca morada do 99. Ár"\·ore•có$,nia. - A tradlçtto indiana. desde os ,extos
deus da fertilidade e das ciências ci\•ilizadoras {artes, aa.ricullu• nli).i.s antigos, reptese»t.a o cosmos sob a fOl'LUa de uma ilrvore
i:a, escrita, etc.): é o lugár de repouso da m!kde E.a, a deusa Bau, gigan1e21, Nos Upanishads esta concepção - dece.rnl.i.nada diale-
divindade da abundância, dos rcbanh0$ e da a_arieultura. Kiska· iicamentc: o unl:verSOé uma ''iirvor,e.luvenidn'' que mergulha as
nu pode ser considerada u_mdos protótipos da ''ârvore sa&Tàda" suas rafzc:; no e.tu e es-1eode os seus. ramos por sobre toda a Ter-
ba.bilônica 1 cuja f«'qüt'ncla na iOOllOJtafia do an1igo Oriente. ê ra. (Não se exclui a possibilidade de ( a imagena ter sido sugeri-
significativa. Que :i "ârvore sagrada" que' s t encontra nestas re• da pela expansão dos rai_o$ solares. «uuo·se pode \'tr no Ríg Jre.
giõcs significa mais- do que um simples "culLo da ârvore", que da; "É J)3fll baixo que se diria.cm os ramos, é em cima que se
ela te1n um sentido cosmológico bem definido. é o que se prova acha a raiz que o.s s.eus raios desçam ate n6sl"ll) A Kor/Ja·
peta pOSição que ela ocupa no ($paço iconográficó. A áf'!ore é (fpa11ishad (VI, l) descreve-,a assim: ''Este AçvaUba eterno, cujas
quase scmp«' acompanhada de súnbolos. de emblemas ou de fi- raíz v!l.o para cima e os ramos para baixo, é o puro (çukra),
guras bel'átdjcas que lhe delimham e completam o valor oosm<>'" é o Brahman. é o que se chama a Nllo·f\1one. Todos os muodos
lógico. Por exémplo, o 1nais anügo doçtJmen10 de que dispomos, tepoosam nele!'' A árVore Açvattharepresenta ltQUi, cm Loda a
o frasme(IIO de um vaso des,cobe-rto pela 1nlss!lo Oautier a Mou.-s- sua clru-tza. a 1n.onifesta1·ii<> do Bralunan no cosmos, ou seja, a
sian, representa uma árvore esquematb:.ada, rodeada de losan- criação eomo movimento descendente. Outtos textos do Upa•
gos•s. Na iconografia mesopo1â.ruic::t, a ,vore está habitualme.,. nisl1ads.confirmam e tornrun mais precisa essa inwicão do cos-
te rodeada de cap1:fdeos, de astros, de páss::ttos ou de serpentes. 1nos como Arvore. ;(Os sc:u.s ramos si\o o éter, o ar,,o fogo, a 1.1a,
Cada um dt:SSes e1nblemas teln um sentido cosmotógioo bem de• a tena't. etc.1 São os elementos oosmológicos que manif 1am
terminado. A presença dos astros ao lado d::ts árvores indica-nos, csLC · Brabm.1n c.ujo notoe é Açva.ctba":N.
stttt dúvida, o seu valo..- cosmolôgico•6. Um esboç,o ar.:aico de Na Bhagu,•(l().QlrO (X\', 1-3), a át\10re cósmica acabou por
Susa representa uma serpen1e era,uendo« na vertkal para coruer cxprhuir não somente o universo mas a condição do ho1nem no
C>fruto de utua árvore (esta cena foi ciassificada: por Toscane no mundo: ''Conta.•SC que cle é um Açvauha impertcívcl, COlll as
motivo sttpen1e.árvore e in1erpre1ada tpor ele conto wn prolóli• ra(ies em cima e os rainos c1nbaixo, e de que os hinos do Veda
po babilônico do episódio bíblico bem conhecido). são os Colhas aquele que o conhece, conhe,ce o Veda. Os seus ra·
A iconoarafia apresenta outras cenas prôxbnas: um páSS<lfO mos desenvolvean,se em altura c e m profundidade:, cresceodo so-
pousado· numa more, no nieio de cspridcos n ; a átvore- o diS• bre osgu11as; 01 seu$ re\'1 1uos iiQ objeto dos seutidosi por baixo
co solar - , home0$, com m as rlcuais de peixcs•t, ou a ár
4 as suas talzes ra.mit.cam-sc, ligadas aos atos 1 oo n1undo dos bo·
v o r e - espuilos alados-. o disco solar''· limitamo-nos a U)el)· ffi(flS. Não se lhe percebe, neste mundo. a fonna... nem o fim, nem
clonar alguns dos grupos mais sianüjcativos e mais freqüentes, o 00tneço, ocm a envergndura. É-preciso, com a arma sólida da
stm le1mos a J> lensão de esgotar a riqueza da documentaç.ão renúnci.a, cortar primeiro esta AÇ931.tba, de t'orteS raíus, e de
meoopotâmica. Mas ée'Jide1ne o valor cosmológico que tem a ár• pois procurar ô lu,gar de onde: não se volta .. ,":.S Todo o univet-
vore sag,:ada neste conjunto». Neül)UIU dos emblemas que acom- .so, 1aJ como a experiência do homem que- ne.Je vh•e e que dcle
panham a árvore pode S(:r interpretad.o em sen1ido na,uris.ta, e não se.d p.rt11deu, esui aqui simbolizado pela árvore cósmica.
isto porque-., na concepção mesopo1âmica, a ''Natureza1• e(3 ll\Uilo Por tudo o que dele coincidi} com o CO$JttOS 0\1 dele 1wtrticipá,
diferente do que é oa e.x riê.ncia e lla oooc:epção modernas. 13.u- o home,n perde-se na mesma rna.Wfesiação, úoka e vasta, de .Brah--
ta lembrar, pOL'exemplo, que nenhum w ne1n oenbo1\la ação sig- man. ueortar a árvore pela sua raLt." equivale a retirar o hoine1n
nificativa ad<::iuíre a Sua eficácia- para os tne.sopOtâmicos co1no do oosmos, a isolà·IO dos "objetos dos sentidos" e dos urrutos
para o homem arcaico em geral - setlão oa medida em que a das suas aoõcs". O mesmo cnotiViO de desprendimento da vida
coisa 1ein um protótipo ceiote e ent que a aç,\o repele u.m gesto cósm.ica, do retirar-se em si no, do recolhimeoto> tonsidera•
cosmológico prhnordia). do CQmo a única possibilidade que o homein tent de .se transceu-
der e se Ji rur, ,e cncoo1ra num 1cx,o do Mahâbhllrai.. "Ttn·
222 TRATADO DE HISTóRl/1 DAS ft.Bl,.IOIÔES A VEGETAÇÃO: Sf).f8QLOS E RITOS DE RENOVAÇÃO 223
do a sua fonte no nã.c>-marufesca.do (avyakta), emergindo deit conto dn vegetação, e põem, então, uma árvore junto ao altar, coLn as-
de um suporte d:td(O. o stu tronco é l)uddhi (inteUiência), as uas rafzes para o ar e a oopa no chão". Nas tribos australianas wi-
cavidadesii1tcrioressão canais para os sentidos, os elern:ntoscós• ra<lyuri e kamilaroI, os fci1jcciros tinham unta áNoie mftg.ic.a que
micos: os. scoo .roonos, os objetos dos sentidos; a, suas folhas. as colocavam invertida e queitnavam dicpois de untarem as rakescoúl
suas belas fkxei.: o bem e o 1n;al (dharmdd/,(U1nav) 1 o pC"azer e o $a1ia,ue humanoJ-1. A propósito deste cos1u1ne, SchmJd1 mencio-
sofrimento: o< setJs frutos. ESHt eterna Ârvore-Brah1nruJ (brohmã• na oerimõnias de- iniciaç!o eru uso nu,na outra tribo australiana,
,rkça) t footé de ,·idl! (8jivyal!) paro rodos os sete$ ... Se corta e yuin! ._, joveni. (&1le tti nha o papd de: um morto, é eoierra-
parte a ái,·orc com. a s,rnta dooonhecimento mctafisko (iniinena) do. p0ndo-se-Jhe depois um arbusto etn Cilna. Quando os neóft.
e, se soza assi111 no Espírito, e k nãc, voltar mais .. / tos, candidatos -à iniciação, se aproximam dele, c.ssc joven1 fai
tremei· o arbusto, le\'anta-se e sai do tlimuJo. O arbusto repre-
sentaria, segundo Schmidt, a árvc,re oele.ste das cstrdas3s.
100. A "6rvore inT1.,'rtkht" - Não, vanlOS i a z « aqui a exe-
gese. filosófica dos 1e.x1os já nNmcionados. 8.asta-noi \>.Crificar- a
iden1if,cação do CO&nOS com a "'árvore invcr1ida". Este ideogra- 101. Yggd.ras.1.1 - A árvore eôsmica, acompanhada de .s-
ma tufcJco e metafisico não seacba isolado. J\.lasúdi menciona uma saros, de cavalos ou d(' tigrcs34, ..-:nco.otra•se na China ártica:
tradição sllbéia sesundo a <ltlal Pla1ão ttria afirmado que o bo• confunde-5C'. por ve.zC$, ta) como em OUltaS regiõe;s-, com a "Ár-
1nen1 é uma pJan1a inYertida, cujas raiz se esteudeo1 para o Céu vore de Vida". O seoddo desta fusão tornar-se-á 1nais preciso 11as
e (Ujos ramos mergulham oa TerraV. A ,nesma tradição se en• .aloas<rue se seguem. Enoontra,se o conjunto "âtvore oósmica-
corura na doutrina esotérica hebraka: " A Árvore de Vjda estende- animal mítico lunar" nunt docu1nêlltó iconográlico maia q1.1e re-
se de cbna para baixo e o Sol ilumina.a toda. •·u Passa-se o mes- presenta um ja_a1.1ar prtto à âr,•ore da vi dai;. Nos J)OVOS árticos
mo na tradição islã mica da "árvore da felicldade'', cujas rat:us e.em todo o circuito do Pac(fioo, a árvore.cósmica- cujQS ra•
mergulb:un no ólcimo Cfu e rujm ram.os se estendem sobre a mos se estel)deoo até o 1ereeiro ou .até o séti1110 céu - desempe-
Terra19 , DMte irnugina 8$ esferas «test.es no stu conjunto como nha um paptJ central, tanto na 1nitologia como nos rilos.
a coroa de: uma ár,·ore cujas raízes se a.chc:m viradas para citna: 'Rc-lacionam-n.a freqüentemente com o ant('pauado mítico, d.ado
que os bontens se oonst<leram descendentes de um antepassado
ln qucua qulnui I<>e.!ia nascido de unia .irvorc:311• Em Q\!lf'9, pruágrafo voluucmos a t5·
Dcll'albero c-he ,•h,e de!Ja cima, sascrenç-<1.$, que dizen\ respeito à descendência mjrica de um sím-
,e fruta sem-. e m:ti uoo petde (Ogli . .:i.'° bolo coSJuológioo-veg('tal.
Yggdrasil ê. s ár,1ore-cósmica por excelência. A$ suas raízes
O "quinto ran\O" é: a esfera do planeia JUpiter. ''A árvore m«gulhan1 no coração da Terra, :atê o lugar onde se encontra
que recebe a vida de cima" C \!m;.l árv,ore ÍJ)\'ertida. Um outro o reino dos gigantes e o Infern . Perto dela t-ncontra-!SC a fon
poeta t1orcntino quesofteij a Influência de Oante, Fcderigo Fcezzi.,
4
de Odin deixou um olho como penhor e vara onde ele volta in-
se.rva a vida e a renova" e- "cuja raiz 1-ava tm cima no Céu, cessance,uente, a fim de· rcstaul.'31' e aumerttar a sua sabedoria40.
e cujos ramos se diri.a,iam para a Tn-ra": É semp«' nos mc50Jos Ju.aare.s, _pert.o de Yggdrasil, que se encon-
tra a foote Urd; os deuses IU reúnem diariantente o seu conselho
Stt dmuo aJ ido 41 1ll $00 radicc e n1Juis1ram a jUSLiça. Com a água desta fonte, os nornes rcgant
e gii:I in,·erso tl:n'3 1 f3Jni SJ)llo.de.Jt a íirvorc. gigante para que recobre ju\·tntude (' vigor. A cab1·a Hcl-
drün, u,na á,guJ;i., um veado e um esquilo cmpotelrõl.úl-.st nos ra·
Holmbet8 encontra a mesma tr:idição oo folclore islandês mos de YggdruiJ e nas suas rai-zcs acha-se a ,•fbora Nidhõgg, qu·c
e ftntandes>l. Os !apões sacrificarn todos os anos um boi ao deus procura abatê-la. A âguia lma 10001 os dias com a vfbora (motl,
1
TRATA.DO DE HISTÓRIA J.>/<S RELJGIÔES A YEO!:T.Aç.,{0: SfMBOlOS BIU1óS DE RE.r.'OVAÇÃO 22S
vo cosmol6gioo f1-eqtien1e em outras clv1Jiza s)' 1• Quando o bétn i póSslveJ .mina14-Ja no domíruo lndo-mcsopotãmic()-cgípào,
uru,,erso tremer até os alicerc:es, no cataclismo anunciado no Vo- c:gc:u ,u . A maior parte das veze:s a ocna reprCf.ienl.l a te.ofania de
Jwpâ e que :porá fin1 ao mundo. a fim de i11.$taurar um 110,•o pe, uma divindade da fecundidade. O oosn1os revela...se-nos como ma-
rfoclo, parndisíaoc:,, Y3adrasiJ será sacudida natito foncmente n1as niftstw,·ão das forças iadoras dlvirtáS. Assim, em lobeJ)jo•Daro
não ton100Já4. Esta conOa&l'aÇ'ào apocalipllca. anunciada pela (terociro milênio a.C.) encontra-$(' a epifania divina numa F'icus
profetisa, não causará a desintegração do cosmos. rtllgloS<r'; a ârvore está esqne1nati.z..1da de uma forma que faz
K33rlc Krohn ientou explicar o mito de Ygadrnsil pela Arvo- pcílsar na árvore sasrada m sopotãrnica. A1é nos 1ex1os védicos
reda Vida do Aotigo Testamen10. e Sopbus Bugge pela lenda da .e encontram "estígios de teofania vea,etal. Além do Aç..,attha,
Crui. de Jesus Cristo. As du3$ hipóteses sâo in citâveis. Odin !ímbólo c6smioo, e Bratunan, rt\lelado numa ârvore (§ 99), é po:;.
amarra o seu e.aval o a Yggdrasil, e é dificil crer que este motivo si\'d jdentifical', nos.documentos vedioos que denunciam uma ••ex-
- central na mJioJogia escandinava- seja tâo tardio. Holmberg perl ncia religiosa popular", ou seja, que conser..,am as fónnu•
observa com razão que a presença da águia sobre Yggdrasil - de- lás arcaicss coueretas, outras exprt'.SSÕCS ainda da teofania vege-
taJhe ause1ue na t.radição bíblica - aproxima mais ptopria1uent.e 1aJ. "Oh, plantas!, oh, vós, mães!, é a v6$ que cu saUdo coLDO
e$1e $1mbolo cosnológico dos típm l'IOtle.asuitiCQS. A luta entre deusas1•t, proclama o Y(l}ur r.-'tda (f\r. 2, 6). Um looa.o hino do
a águia e a scq)Ctltc:, como a luta de Varuda com o réptil - moti- Rig Veda (X, ·r,) é.oonsagrado às plantas, referindo-se em parti•
vo muito oonhecido na mitolog.i'a e no iconografia indianas-. t ç,.,lar. às suas virtudes terapêuticas e resencra.doras (expressão 01(0
um símbolo cosmol<>3:ico da.hua entre a luz e as mvas, da oposi- nima da "Planta dà Vlda" é da imonalidade). O Athart.·<1 Veda
ção dos do.is principios. o solar e o subterrâneo. É difícil di1..c:r se (lV, 136, 1) kn1va wna planta cha1nando-lhe "Divindade nasci•
elementos judaico•cristãos intc:r\'i ra.ru ou oão na concepção de da da Deusa Terra". A 1nesma lC'Ofania ao nível vea,etal. explic-.a
Yaa,drasil, porque, das a{loidad que Hotmbeti descobre entre o ''Senhor dos Vegetaisn , YonOSJ)flti, cujo culto é. mencionado
õ t a Atvore cósmjca da n1itologia escandinava e os 1.ii,os norte-- pelo Rlg Vttla46. Graças ao ptotódpo cósn,jco donde lhe$ vêm
asiáticos, não se pode deduzir. com rigor. que a J>-rimeira dependa as suas virtudl."$, as plat\hli facilitam os parios. aumentam o po·
dos ôlt.iJnos. Em todo caso, Alfre.d Dcteringmostrou., num lraba· t genédco e asseguram a ícniLid de e a riqueza. É por isso que
lho bem docu.ment.'ldo, que. se p0de se,auir ê a pré-história, en,. se chega a recomendar que se saçri.fiquem animais 4s plant ,11.
trt os i.ndo-europeus, a personificação da Atvore Cósmica e da O circuito da e.oerain gcncsiaca do cosmos é fonnulado da n1a.
Árvore da Vida num carvalho. e que. de qualquer 1nodo, foi nos neira seauinte no Çatopatha 8rfih,nana (IX, 3, l , IS): raio, cltU·
terôtórios do norte d.l Europa que as powlaçOO protogeri:nfuJJ. va. plantas. O S.'l&rado manifesta-se: aqui no ato essencial da re-
cas eJ;iboraram este mito4l. A fusão da Árvore Cósmica com a novação da \'ida vtgc:tati,•a.
Ãr .·ore da Vida enco1nra--sc tatilbém utre os germanos. A ldenti• Um exemplo admirável de. teofanja nun1a árvore.é o c kbre
fi ção de uma ár,·oresagrada e snítieacom uma espécie. botânica baixo-rclcvo de Assur 4 , que rep:rescu1a o deus con1 a parte su•
bem detertuinada e um fenômeno qu:c já observamos (Açvau.ha, perio! dooorpo a emergir de untai árvore. Ao lado dele t'l.::bam-se
entre- os indianos:" 1a1ru,31eira entre os tnesopo1ãmicos). No caso "as águas que ITimSbordan f· do vaso inesgotável. símbolo da t « -
de Yssdr íl. a presença do earva.Lho nos monumentos prê- tilidade. Um eaprídco, atributo d:l dJvjJldade, come: folhas da ár-
histórioos, assim oomo a continuidade dos motiVôS quereptescn· yore. Na iconografia egípcia enc:ôntra-se o motivo da "Át,·ore
tam a árvoré$as,'ad3 sob farma de utn Cru"'3lbo e as Colhas de Ca?· d.a Vi-da u . de onde saem os braços divjnos: carregados de doos
vaU10 na ane deéofaüva t.anto religiosa conK.> popular. demons- e despejando de llm \'USO a água da vida49. E,•idcntemcnle, en-
tram wficlenten1ente a autoctonia de-ssa concepção. 1re a teofania, que ressalta destes exemplo$, e o nioüvo da•· Ãr-
\'Or da Vida" houve oontaminaç..ão, e o Pl'OCesso é fácil de cont•
prcender: a dJvindade que se te\-\cla no éOsmos sob s fomta de
102. Epifanias ,·e -t!ds- A f<pifania de urna di,•indade nu- uma árvore 6 ao mesmo tempo fonte de reg -oeração e de '·,·ida
ma áf'\•oreé u1nmoliVQ corrc:nté na atte p1;;s1ica paleorienta1; latn $CJll morte", uma fonte para a qual <>hoJnem se \·olta PQf<PJ.e
11vtTAD0 DE·HISTófelA DAS P..W0/Ô2S ,4 VEOEr.AÇÀO: $/Af80LOS E RITO$ l>S-RE/\'OVAÇÃ0 Z27
226
ela justiflca, a seus olhos, as cq,eranÇ;as que ele aliment."I a rc lal c 1Jfinna. o sentido que ltm a. árvore na iconografia e na mi-
peito da $Ua próptia imortalidade. Entre as articulações dé con· 10109;1 rcaicas: o de/ónte illesJIOIÚYtl da fertilidade cdst,rico.
junco árvore-cosmos-divindade há sl.ine:tria, asroclaçâ,o, fusão. Os Na CJvibz..'l"çllo pr -a.riana do vale do Indo, que as escavaoões de
deuses dtsiarutdos como deuses da veg,etaçào são frcqüenten1cn· f:{arrappa é de ?,..fohcnjo-Daro trouxera,n à luz, a consubstancia
te repr*ntados em forma de árvore: ÂtiS. e o pinheiro, Osíris hd3cl da Crande Detisa e da veg.atação é representada quer pd(I
e o cedro, etc-. Entre os gr.::gos, Ártemi.s está, por vete$, presente .a&s 1açâo deusas nua (tipo Yaks.hini) perto de uiua Fi<'lS
rel,g10:,�1 q er por uma plant qu sai da rçgiào genítaJ da
numa árvore: em Boiai, na Lacônis, adon1\·a-se. um mirto çom
o non1e de ÂrtenliS Soteira, e jút\lO J Orromeélos, na Arcádia, deusa , As 1maaens que represeotam a Flcus religiQSQ são
havia nwl\ cedro um oanon de Artecnis Kedrc-ittb•'t>. Às veics, .numerQS.:l.5 51: e o mesmo se passa com as que represcrnam a Gr ao-
as imagens de Á11eoois cratn enfeha.das com ramos. Ê conhecida de !ª nuw' - : tjJ?O iconográfico comum a ioda a civiJização
a epifania ,·cgctal de Dioníso, chamado por vezes Dioniso <:akót1 ca afro-.asub1ca. incJuJJ)dó mesmo o Egilo. A árvore sa-
dendritess1, Lembremos igu.llmenlc o -carvalho oracular saarado grada e rodeada .de uoo recinto, e às- vezes oma deusa nua ergue-
de Zeus em Dodone, o loureiro de AVolo em Delfos. a oli\•elnt se n e. entre- dolS ram s de Ficus religioso que cresce a meio de
sch•age1u d4? HCracks e1n Olimpia, etc. No entanto, no que diz. wn urcuJo. O espaço tc0noaráfico indica com precisão o valor
respeito à Crétia, não há pro,•as que ale.stern a existência de um sagrado do lug{lr .santo t d '.'cco110•· (§§ 142 ss.),
culto da ât'Vore., a nào $Ci' em dois lugares: a ár\'ote de Citeron, Em toda a Afrlc na lndia . as árvores de látex são sfmbo-
onde se pensava que Peo1eu teria subido para obscr,•at as f\-1.êna- los de maternidade d1v111a, seodo _, por isso, veneradas pe.las mu-
des e que o oráculo ordcnáfà que se \'cuerasse coLno um deus, lheres ao mt,mo tempo que são proc:uradas pelos espiritos dos
e o plátano de H"clena em Esparta n . R\OftOS que- Pretendem \'Ohar â vi.daeil . O DJOtlvo deusa-árvore,
Um exetUJ)lo claro de teofania vegetal observa-se no culto oomplccado ou. não - .prescnç.a de animais betáldi c os,
da deusa indiMa (pré,,riana) Duraâ, Os te.xtos que citamos são c n.servo - na 1oonog,aha 1ndiit1L.'I, de onde-, n!o sem se con1a
tardios, tnas o seu caráter popular co1:1fere-lhcs uma aniliuidack ntuWJ" de 1de1as cos ogônicas aqaáticas., se crao.smitiu à arte po-
9t1e não deixa lua,ru- a dú,•idas. Na De •i-Afohlitn,ytr i, a deusa P.Ular t n qual o podemos observai: ainda hoje. O vfnculo que une
proclania.: ''Em segukla.. oh, deuses!, 3Jimentarei (literalmen- os doiS stmbolos - as: águas e as plantas - cotnpremde·se facil-
te =eu susten,arci) o universo ioteiro com estes vegetais {J,úe COtt- mcn_te As áauas são portadoras de gcrn)es, de todos eles. A planta
ser,•am a vida e que crescem do to.eu próprio corpo durante a es- - nio1na. atbW"to, nor do lótus - exprime a monifestoçõo do
tação das chuvas. l'ornar-mc-ei, eotã.o. iloriosa na Terra como ?>Sm05, o a reclttt!nto dasfô,.iifas: é interessante notar que as
S!lka-mhari ('·portadora de plantas" ou ''que n,u..re as plan1as·") 1ma ens cósin1 sao representadas na /ndia a emergir de uma
e, nesta mesma otaç.âo, estriparei o 3r;1nde asura chamado Dur- tlor fó!us. O nz.oma com flores si&oific:t a atualização d3 cria-
gama (person.ificaç-ão da seca)." No ri1o Na\•(lpotriká (''as uo,•e ção •. o la.to de &e est bct-ecer firmentcnte acima das águas''. A
folhas''). Durgâ chama-se "aqoela qllt habita as nove folhas·•?'!. .ocxis!ên:?a. d moHC>. flores,tais,aquátiros e dos molivos
As oonflrmações indianas pode1n ser 1uuh:iplicadas". Voltal'C'!UOO \eaetaiS-ter,n,nmos explica-se pelai idé.ia central da criação ines-
a este assunto Q\Lando estudannos as -0utrM valfflcias da sacrali· gotável, cu;o sfmbolQ ê a árvore côsmica e Que se idenlifica com
dade da ár\•ort. a Cirande Deusa.
EsJa a5 clação está solid3mente esrabeJecida tanto na cos-
1•
228 TRATAIXJ DE HIS.TóRIA DAS JWLIGIÔISS A VEGETAÇÃO: s:/f.fBOLOS 2 RITOS D& REl\'OVAÇ;lo 229
textos e, em especial, os textos vedicos 1ardios e. pós•v.Cdicos oo,.. de foJb .e de narcs (lara-ko11u110, nu1/líka1nn10), ora servindo de
locam num vaso (símbolo aqu.itico- ,§·61). Este J>?hrnorf1$1.UO sus1eataculo, º!·a enquadrando Oor-es e animai$ (cf. sôk"na-
jus.ti fica-se se se consider;)f tudo o que o, so1na il"?phca: ele asse )'atthi), e quesa, da boca ou do um_bigo de um ·vaksha ou de ou·
3ur a vida, a fertilidade,. a reaencração- <1ucr dizer, !udo que tro símbolo aquálioo. Quer dizer, de11m vaso cheio (p11n110-gh1111J).
o simbolisn10 das águas jmplica (ambêm e que, no s1mbobsmo ou das fauces abertas de un\ 11u1karo ou de um -elefan1e coro cau-
da$ plantas, está expl.icilatneote formulado. O roubo do soma no da de 1>eixe6'. O "vaso cheio'' ê um símbolo que enoontramos
A{tJ/i(lbhárata valorlz a sua dupla estn.:itura, ao mes,no cm ou1.r omfnios e que cs1á se,npre relacionado com a ''plan-
.tem
aquática e vegetal: se bem que seja aprescnt o corno b1da mi- 1a de vida ou oom um enlbJema qual.quer da fcniJidade ....usim
raculosa é dito por outro lado que Garllda o arrat1ca (son,u · depois. da é ca de O éa, a ''árvore sagrada'' de.ta.pan-cc do re:
pâtya) c n10 se fosse u,na plan1a6l . No simbolismo dos t}paru- petl r1oacád1o•S\lJlléno, sendo substituída pela ... planta de vida''
shads mcon,ra--sc a mtsnta associação: gua..ár,·orc; " o no sem a sair de um vasa68. O "vaso cheio'' é- sempre seguro por um
idade" ('1ij6ra nüdt.: aquele que reneraa) enoontra-se ao lado da deus ou por um $emldeus. nunça por llm homtm. Às vcU"S o ••va-
••ârvore suporte••ól. As duas nascentes m.ís.t-i<:as encontram«. no so" é omitido e a água corre diretam-fflte do corpo da dlvind;-
Céu, da tne$Jn3 forma que é no Céu que se encootra se não a
sua própr:ia subSlância concreta l>C:'º
de 69 , Não formular maisc.laramcntc a crença segun
,se.poderia
enos ( l rotóc.t de to- do a qual e d1rct:unentc da substàocia: di\•ina, ou n,ai s: exstan1en-
das a bebidas regenecadoras e d1st:rtbu1doras de imortahdade - teda sua re ela,;ão plcname,ue manifesl.lda, da teofania, que di--
ho1u branco, solna, o mél divino dos fiuescs, etc. . . mananl a vida e a r e.neraç-ão.
A lUesn1a. assocl:ação água.;irvorc cncontt3· na tradição JU· Ao 01ivo d.eeoratiYo do rizoma que em-erge de um e1nble-
d.i.ica e cristã. Euquid de5crevc a nascw.tc mar_avUbos,,.a quebro- iu.a quáuc.o oorresponde na mitologia a ooncepção pucânica do
tava debaixo do le.illJ)lo e qne tava g;uamcc1da de -1rvorcs de t1MÇime-nto de Brahrna. O deus é chan1àdo abj(ljà, ''nascido do
fruLo (o v1tlor si.mbólioo-1uetst'ísíoo d água ruja nascente se acha ló1u _º que sai do utnbigo de Vislmu ' °. Coomatas\\'a1nyn1ostrou
sob o templo assim como o das árvores,. uào dá lugar a qualquer lt ongem e.o fundtu -.e-,no védicos: desta eonccpçll'o?•. O que 0
dúvida: o ce plo acba,se no "oenlro d.o inundo''f'. O At>oca- lmbO-lo .. lotus (ou n.zoma) saiJldo da âgua (ou de um e1nblema
liJ>SC·ss rc.toma. tornando-a ainda rnais yrocisa, a exprcssúo .cos- nquático)" exprime é a própria procis,sao cósmica. As uas re-
moló ca e wteriológica do conjunt? ág-uas-ãrvort: "J?el>°<S, o pr n1 un ali o n!io,manifcstado. os g:trmes, os estados 1.a lentes :
anjo mostrou.me o rio da água da \'Jda, claro como ruitíd., que o sunbolo noraJ iepn-,cma a inanifes1ação, a eriação c.5smico.
saía do uono de .Deus .e do Cordeiro. No meio da pni.ça a cld-1. VClruna. como deus das águas, das cbU\'.U e da ferti.Udadc c.ra
de t. nas duas macgeM do rio encontra-se a árvore de ,•ida. que QriaI artamcn1e a raiz. da árvore de vida, a fonte de ,oda a
dá doze- oolbeitas produzindo seus·frutos todos os meses; e. crlaçao1•.
a rolhas desta á10.rc- servem para curar as nações." O P!otóti·
po bíblico acha-se. naturalmente. no Êd n: " a .1.r,.-orc- da vida no
1neio do jardin,. com a átvore doconbecJ O o.b ':1 e do mal. 105. Grflndc OeQsa - Árvott d.a Vid:1 - A associação
um rio sa(a do en ra.banhar o jardim e :u diVJdia« e f<?r- 11 Cirnode Deusa - Árvore da Vida" tambt,n era conhecida no
mava quatro braços""'- O templo, lugar sagi do por excelênc:.,a. lt•ho. Um rcl,e\lo ct.prcscnta Halhor- colocada numa á(\'Ol'e ct.--
é semelhante ao protôcip0 cde$1-e - o Para1so. l ilc (sem dt\vida a árvore da in1ortalid;ade) dando de oomer e bc
hor it !lima do mor10, .isto é, -assegurando-lhe a COJUinuidadc- da
vldo, n brcvjvência". Dcvenlos esta :representação com a série
104 SimbOIJsmo icoaogrifico - A aswdação dos símbo- h'QIU)g{afica que rcpr*nta as u1ãos d.i deusa carregadas de dons
los aquá cos e \'C ai.s a M-se explicita de mancira to coe- 1111o &:eu busto, saindo de uma ârvore e dando de beber à alnt
NQtc na COSJnogonta 1od1ana subJacen1e a e dceorat!\: . Co?- 1lt1 dcl'unlo. Uma série paralela é a da deusa do destino sentada
1naraswamy dá dela n sc.guint11 fórmul9 um nzoma de lótus Cl\i!lO lhl# rcunos bab{os de un\a arattde árvore que si.mboli z., 'o Céu, e
230 TRA1'A00 DB JUSTÓIUA DAS RE.LIOIÓES
A VEGETAÇÃO: SIA(80LOS E RITOS oe RE.\'óYAÇÃO 231
nos quais estão inScl'itc,s os nornes dos faroós e- o seu d uno . " ·
formada de ,,.cspiritos da luz" c os seus nós são grãos de luz.
o mesmo Lnotivo se encontra nas eren_ças popula s alta1cas. CO• E deJa que n8$Ce1u as <:orrentes de {igua santa destinadas a matar
ruo nos iaku1es, por exemplo: junto da :árvore de vida que tem a dos homens; o de\ de !uzedesabedoria, o Redcn1or {)fàn·
sete ramc;,s e.ocontta-se a •• Deusa das ldades"1 $· d d ,.ollêJ é,. tarn rn. 1 ent1fic.1.do com 3 vinha de ,'ida (guf,18
A mesma 3.$$0Cia\'âO 1nh.ica e Cüll1.1;1.I .se _acha na 1csopotâ· d ltalti) e a vinha e considerada uma árvore cósutica, vi:sto que.
mia. Qilgamesh enoontra nuo1 jardim uwa arvore mtraculosa e tn\'olve <>Scéus e que os bagos de U\•a são esttelasu,
junio dda a divindàdeSiduri - is,o ê. 9 ''menlua" - , qualifi• O motivo 1nulha- nua-vinha conservou-se trunbém fen.
-cad:i. sahitr, quer dizer, ·•a mulher do vinho" 16 • De f uo. segun- das apócrifas cristã.,;. Por t.xemp!o, nas Perguntús e Resposfa/,1
dô a lnten>;ctação de .Autran, Oitsam_esh ri eooontsa ao l o de compilaç..lo tardi 1taduz.ida do eslavo para o romeno antC$ d;
uma -pa de vinha· a \'inba era 1denufic;ada pelos pakor,entais século XV li, conta.se como PilaUJs e.i1controu a sua mulher nua
à •ph1n1a de "'ida"', e o sinal sumério para "vida'·' ef:' origina- óuma vi·nJla, junto de uma cepa que s.urgira dos seus traj man•
riamente un1a folha d.e videira?? , Esta plan1a maravllhosa eca chado.s11 do sangue de Cristo e que P«)duzira frutos míracuJosav
oonsagrada às Grandes US \. A Deusa:Mãc era chamada, n mentcl'
Principio, ''a r,..fãe tronco de videira" ou "a Deusa ttonco de VI· Nos domínios egeu e grego, o conJunto deusa-árvore•
dcira"!8, Albrig_hl pr0\'0\1 que, nas versQ arcalc.:as da .lenda de .tUOntanha•animais heráldicos taml>é1n ê frcqOe:rue: Lc1nbreruos
Oilgamesh, Sld\lfi tinha u1u papel mullC> u11portanl . 011,gamesh o grande anel de ·licena. , que. representa uma cena cultuai ffll
pediu diretamente a ela a imonalidade-19. Jenscn td t'll1{tc?U·a que a deusa, C?UI a mão oa garganta nua. tstá sentada debaixo
oom a ninfa Calipso da Odissêiatll. Conto Calipso, S1dun linha da ár,,ore da vida, ju.nto de. uma sérl,e de emblemas cosn1ológi v
a aparêltcia de utna jovem nóbil, usa\'a ,véu, csta\•a carregada de 00$: o _machado, o Sol t a Lua, as águas (as quatro nasceotes).
cachos de lJ\'S. e mota\'3. num lugar de onde safam quatró nasoen-- A cena melha·sc muito ao reJc,•o semítico reproduzido JXlr
lei' a sua ilha eocontra\'a·se no "umbigo do mar'' (o,nph lós th(J, Holmberg (fig. JO) e que represen,a I I deusa sentada nun1 trono
l s) e a ninfa podia oonoeder.a imortalidade· aos heróis. a am·
brosia cclesie com a qual tentou U1iSSe$. perto da árvore sagrada com o mcnioo dJv-ino nos braços. Uma
m a de b1ita (Licia) mostra a teofonia da deusa no mcio da
C.ilipso era un)a das inU1ueras twfanias da Crandc Deus,a, âr\'Of . No repertório egcu bá que. nalar ainda o anel de 00·
que se revelava no ''centro do 0\\1ndo'', ao lado do on:pllalos, ro deMochlos.. que represe•>ta a deusa numa lxtrca com um altar
da "Ãr,•ore dl' Vida., e das quatro nascentes. Ora: a vinha era
e uma árvoré-, 1, ç 3 «lebre cena da dru1ça dianre da árvore
a e.xpressào vegetal 'da imortalidade - tal corno o \'tt\bo torn?u·
se, nas trodiçõcs arcaicas, o súnbolo da ju\•et tud e da vida sagrada92,
elerna'•. A M"ishnac afirn\ que a Al'\''Ol'e da c1!nc.1a d bcrn e Ne,m todas CS$1L$associações nlltieas e ieooogrâficas são pro,
d.uto do aeaso, nâo sendo, tam()Ouco, despro\·idas de valor relJ.-
do maJ&J.era wna \•lnha. O livro de Enoch (24, 2) locahat csht g1oso e mc1afisico. Que querc-m dizer éstes conjuntos: deusa·
v.iuba·árvore da ciência do bem e do Ltlal .eotre. ser.e mon,anha.s
árvore, deusa.vinha, con1 o seu ;.'lparoto de e1nbkmasoosmológ.i.
como, de rtsto, O' faz a epol)Cia de Gtlgame$hM , A deusa. eos e de animais henUcUco-s? Que este lu.aar é um "centro do n1u.n·
serpente. Hannat podia J>rovar os frutos da árvore, o que !ªm+
bé lU çra péfm.itido às deusas Siduri e C:alipso. As U\'35 e o v1_nho do'.', que aJ s éncontra a. fonte da \•ida, da juveutude·e da imor•
conlinuarant a simbolizar a sabedorl _ até 1,1ma éCie.l tat 1a 85 . talidade. As ar\'Ore$ representam o universo em J)ennauen1e re
·las a oooçepção primili\•a da vinha·arvore cósmica- rvo1e do gcnel'ai;.àoi ma.s no cc:nLtO do universo encontra-se sempre uma
l\tvore - a da vida eterna ou da clén,cja. A Grande Deusa e a
conbocimento e, da n-dençào conservou«· 1 u ) roandc1,mo com personificação da fonte inesgotável da criação, desie úJtimo fun.
uma ooeretlcia surpreendente. O vinho {gufnõ) t, ·par3 e:s.ta o-
da1nento da reaUdade. N!o passa da exprc$São trútka dessa in·
s,c-, a incoq>oração da luz.. da sabedoria e da ptire O·arquet1po tu.ição primotdial de <tUe a sacraUd.'\tle, a vida e a i!Uortalidade
do vinho (qaô,n.ii.i) cncourra·sc-, no 1\\1.lndo uper1or. cdesle. A se encoutr;.'lm num "centro".
,•inha arquái()(l cou11)Õc·SC de água uo lu1er1or, a sua. íolhttJ.; e m
1,
232 TR..t·J:.tDO DE llf$TÓRIA DAS RELTOIÔF;S A YEóETAÇÃO: SÍJ..IBOLOS
C RITOS 1)$ R&VOJÇÂO
233
106 , A àrvort do conbtthttento - A meio Paraí.so ests- o obstácuk> cpm que esbarra
,.,nm a Árvote d!b.\lid e a árvore do conhecuncn . do to do bem é do in1ortaijdade, da Árvore da Vida. o homem na sua busca da ro-ntc
d.a
mal, e Deus pro1 iu A - a0 de provar os (rut de sta Ultima, " - confir111:,çáo e1n outras rrâdições Esta !nterprrtação tem a soa
que, no dia e1n que tu ° t . tu inorrer certamente' ciol).ar. ri.1as 3 teotaçào da serpen (lue teremo.s ocasião de men-
coi :·a Árvore daásVida'? Seria . ção: e.la vrecmdia adquirir 3 te pode. ter ainda uma t-xpJic:
Por que razão n!o mcnc OD3 .• ·a ou est..1 imot1.alidade (como e;f tivamente i-
adquire nos m.itos de 0\1tros povos)
um duplicado d árvore d3 tie COlno crêttu certos
brir a Árvore da Vjda, issimu 'e p.ira js s o era pr«iso dtsco•a
s.1bios9 4 - estana a árvore d '6SOOndida'', só se tornan• lada oa mufcJdão de áJ'vort.
do identificável e .aoessiv n i :01uen to tm que Adão se apro- P;}raíso, para ser a primeira a s do
iqcita Adão a "conhecer o bc1n pro,•ªr OS$CUS frutos - e- isso
_pri8.$S('.dO conhe-c,mff!to Obe e do tual, quer dizer-, da s a b : J:>ara
dor1a? lnclinai.1! 0 -nos l? ª r esta u
,. h'póccse A árvore da..,,. eia, ier•lhc,ja re,·ela.do o local e. o 01a l " . Ad!io, pel:i. sua ciên·
ond.e se ençontrava a Ár\•or-e
da pOde dar a unortahda e•. ma ºr ; : ê 'tácli a i ngi-la. Ela está Vida. da
"e.scoudkl.1" - Oôlno. port>:einp a lanta da imortalidade que
Oilgamesh ptocura no fun:0 Pº _ ou então está guar<la•
da pôr ru.onsrros - co o
:,: :' mos de ouro do jardim 107. Os ilf11ttlÜij.-s da Ân·ot
das Hcs étides. A oo::e.nCl3: o• dcsras
po
du-1.s ár,,Ore$ ,n iraculosas prin1ord.iaJ (ou herói) ern busca t d:1 Vida - O conjun1.o bontem
da-serpente ou monscro qvc .guard3 da in1ortalid.,Klé.' ·Arvore da
_ a d a ,•ida e a d a • na não é t i o paradoxal <;OlTIO p0de• Vi-
ria re c e â ri m e .i.ra mo-la também ent outras astucios.a,oente qU<: o homem prove esta árvore (ou que Jwpede-
n n seu fruto) enco1ura•se tanJ•
tradições arcaicas - à ,•1s en :; -c1 ,: : o Céu. os babilônios fixa, bém eJn outras tradições O s
e ntido, dessa coexistê.n.cia
á(V!'.>re, se rpente) é bastante (home1n,
Sbamh.raoonta que . .\! tl
vam duas árvores: a da v"ed ad e e a de ,·ida· e um texto de Ras
conecde a Lton'asabedoria e .1 eter· de - ela está ooncxntrada d.aro: é dificil adqui/ir a irnoJ'la,líd11·
.n1,1ma
de \'j,;ta). qu-e seencon1r11 num W°'iJOtt da vi.da (ou numa fonte
nidade ao mtstno tcmPo ·
A serpen te t'oduz Adão e r .,_.c. m O fruto da árvore
,.,va a 00...,,... no fundo do oce a no, no país lugar inacessJ,,el (no .fim dar.erra,
muito el ,·ado ou num "<:entro''); das 1rew$. n.o topo de um
da ciência, asscg a n d : · ;;sc : ! . . não JlJcs causará a morse, monte
tnas Lhes dará a d1v1nda : ! te não m'orrereis. tvlas Oe 1s da a árvore: e o hou1,em q . não um ruons1ro (serpente) guar.
sabc qut-, uodia tmquc com e.. e rdcscste frmo 0$ VOSSO$olhos abnr- a:uir cbeaar a1é d a tem de lutar sem mtiJdptos Ç$ÍOtços, eo,ise-
Sé apoderar dos -f'rucos da COm o monstro e ,•encê•IO
se !lo e vós serei$ como deuses, ·s. as.s e i s 8 coilbeccr o bem imortalidade. pars
e o ma1."?6 •Scr á o homem scmeu1 PTan.te
P a Deus só por co,ihec.e, A IU(a com o 1:nonsrro tem, 1
c;iátioo: é. preciso que o homem preste e\ idm tcme ntc, wn :sc:n1jdo lui·
o betn e o m.aJ, ou p0cque, to an do-s.e (H\isciente poder á " ve:r'' " 1:,ro\•as" , que se (Otne ''h,e,,.
onde se encontttl a A.rv?re a éOTllO$: quirea un<M·, rJ)j'\ para teto djreilo de
talidade'? O texto b1bhco e s ; f : o = n i e - claro: ·•E o Scnhô t nâ.o pode \'Clle<:r o dragAo .adquirir imortalidade. Aquele Qi.lt"
da vida , que-t dlzt:r, oâ() pode ou a SCl'J)(.nte nâo Lcm ::icesso à
Deus disse: 'Eis que Adão se
torn éseu1el h.ante' nós pelo co·
reciso C\•ita( que ele es• herói com o mons1ro nem adquirir a imortalidade. A árvore
nhcciJue1110 do ben1 e do in:ll. se1npre é de natureza fisica.. Adào lu1a do
lénda a mn . que tr.o:ique O da frvore da v:ida, qut o oo- v-encldo pela serpe:iuc-$C01. tt'r
[como é óca$o de Hér.lcles, lutado ..:om ela, 110 sentido berÇico
foi
ma e que v1"ª• s.ss.im • ! e ! f nte , ,,91 Oe$$e tnodo, o ho o,em
s6 p0deria alcançar.ª 1"J
= .., ando os fruios da segunda
(;ia da serpente, que ,o induzi1>0rexc m.i;>10); foi vtncido pela
u a tôf1llar-sc. se mclh1u11e a ast(l-
· pr nialo tentou eotio a serpente Jocitou.a infringir a ordem
árvore, a da irrn'!nahdade. Por qu
No ,e ,o biblioo, OOn entend divina e o condenou, ossim, àDeus, o
a Adão, cncora1ando-o 8 pro "ar frutos da árvore da ciê1\Cia, ido, a ,morte.
por nteio da qual só podef! obter 3 : bedoria7 Se e vecdadeque JXll:,cl d.e "PfO!ttor" da ár.,.ore da vjda$tipentc aâo dcse1npçnha o
eq-üêt1\ias da 1e,1t.a,;·ão., poderi.a _, mas, oonsiderando as
a serpént e tire-figur a o esp1nto d : e como tal, deve o.,a,.s e
,; attibuir•se-Jhc e st a miss.'l.oCOU·
.
à 1n1ortatidadc do h_o,nem,A e.in ! i c e ário q ue-elA '' e vite " ':lu OiJ$ill)le$b, o herói babilônioo niio
º honttm se a.t)roxune da rvore da Vida° ' • ;.. fitr nlç con uuu
bélJl e )e qucri;). obtec a i,non _, cem melhor sorte.
idàde. Coin efeito. coostemacJoTen1.
pe:la
- ---- -,,
234 TP.ATAOO DE HIS'TÕRIA D... s REJ.lGJÓES
,1 YEGET'AC.,ÍO: Si.V.BOLO$ E RITOS DE kl!NOVAÇÃO 23;
morte do seu ami o Enkidu, t.!e lamcnta..se: · «n u te:
um dia, de 1ne deitar COOlQ ele, para 3,ão mtus me 1c:-.•anta!1 108. tousttó.!l e a,iJos - Tainbmt·a t.rndição iraniana (:0•
Ele sabe que no mundo há .-.peoss um 'ho1oem que ó pode aJudar nhece o5o só uma ârvore da vida e de reserimçã o que cresoe ru1
terra, mas també1n o $eu protótipo cefclte. O hoorno terreiltrc
- o sábio Ui-Napishti1n, q_ue eit.apou s o dilúvio e a quem os deu-
es conce.der.utt on,a vidà ímor1al - e por isso Oil.z:;imc:sh enca o hon1 "a1n.:velo" - que, cal como o soma dos 1extos vêdioos'
iuhou-se para a sua morada, algures na ''fOl dos rios". O cà- é co,icebído quc.r como unta planta, quer oomo uma oa.scence
tninllo é lon§Q, pçnoso t S('1neado de obst:.ácukl.s. co1no todo o. ca- ttcsc.c nas: won1an.h.ú - ,\bura t\·fazda plantou-o, originaria-
1ncntc, no 1non1e H.ara.itilOO, O seu pr91Qiipo eneonlra-sc no c t u :
minho para o ,.,ce1ur-0 » , para o ºParaiso '' <?u para utna fonte
é o hao111a cdcs1e ou Gaókcrcna (o hon, branco} que dá a imor-
de imortalidade. Ut-Napj$htim habit.:. uma ilha rodeada pelas talidade aos que o provam, e que se encontra na nase("ntc- das
"""uas
6 da morte - que- o he1ói consegue :3t(a,•essa.r, apesar de to-- águas do Ardvisurâ, JJu1na iJha do lago Vourakasha e:iu:re rrd-
das as <üficuldades. e. -t'- razoável qu . :perante certas " JJtO ,. as " a
. lh.\rê$ de plantas 1erapêu1icas Hn . &tt. • ho111 branoo 'foi criado
1
que é submetido por Ut.Napi.shtim, Oilgamcsti Dfl'.ICtc sua.1p- para abolir a decrepitude. Éele Que operai:-â a regeneração do uni
capacida.de: não oon.wiue, pôr ernplo, .., r sas d w e n0tt ve e a imonatidade que dela se seaulrá. Ele e o rei das plán-
seguidas. O seu destino estâ, ass1n,. an(C(':lpadatuerue a:moalado. 1as 1' !lll . ",\quele gue o come tot'na. .se imortal. ·•11» Ahrirnan rcs•
ele nllo adquirirá a vida eterna, o.l!o põderá to na,.se semelhante pondeu a esta eriaç-ão de Ahuru Mazela criando um lagru·to nas
aos deuises porque nno tein nenhuma das qualidades dos d s s. águ s do Vourak;.1sha pàra. dan.ificat a árvore nllrac-ulosa
No enlàllto, «<lendo às súplicas c:k sua mulher, Ut·Nap1shum Oaoi:erena• . Yima, o primeiro hôntem da tJadição mitica if.l ,.
dcsvtnda ti. Qitgrunesh a exlst!:ncia, no fundo do octaúo, de uma niann, el'a imortal, mas, oomo Adão ., pel'deu a imortalidade por
planta "cheia de espinhos'' çqucr dizer, de di.ficil !" sso) (llle, e!!1· 1er pec-.ado: con1efeito, ··'ele men1iu ecorneçou a pensar na pala
hora nàoconferindo imortalidade, prolOn$3 lnck.t1rudan1cnleaJU• vra falsa e contrária à verdade''' º'. Ê por causa do pecado de Vi-
ventudé e a. ,•ida daq\1eie que a prov,. Gilgaotesh amatra pedras ma que os homens o ,oortais e infeUzestO(
aos pêse dc:soeao fundo do maretf_l btlScada p!a.n:ca. Tendo.ae n
contrado, arranca um ramo dela, hbcrta s pés das pedra$ e volta Também se encontra a serpe,in:e junto da ár\•ore da vida c1n
ourras tradiçOes provavelmente inRu.ençiadas pelas concepções ira.
à superfície. A caminho de -Uruk, pár;l JUntO a ,nna fonl para nlana.s. Os kalmu.ks contam que- nc, oceano se: encontra um dm·
bcbér; atraida pelo ctv.:iro da planta" uma, serpente aprox1ma.:Se gão, peno da àrvOfC' Za1nbu, à espera que caia qualquer folha
e dcvora-."t., lornanck>-se, assim. iu1ortal. Odaa e h., como Adao, -que IXISS."\ engolir. Os bouríates falam da serpente Abyrg.1. junto
não a nçou a imortalidade em virt de da ast cta da st.rp;!lte e da ârvort num "lago de leitt". En:\ çt.flàii tradições da Á.Sia'Ccn-
da sua própria estupidez. Tal como nao onsegu1u vencer as pro-
vas" -a que Ut-Napi$húm o tinha sub tido, latnpo11co be con-
servar o que linha ttdquirido e.Olll a a uda e. a b e ·ol@ncsa de -
.
lral, a scrpen1e Abyrga está en.ro1ada direta1nente no tronco da
á.rvore 1° '
Os grifos ou os monstro$ vigiam sempre as vias d.a
auns (lcmb1en1os que na sua V1agem tinha S1do.aJu ado por Sab1· •
JSto t, mon1am guarda à volta da árvore-da vida ou de outro dos
tu, por Urnashabi - o barQuciro de Ut.•Nap1shnm - : • pôr Ut-
Napishlitn e.sua mulher). O naoosuo, a strpeute era p01$, por e · teus_sfn1bolols. Héracles. para se. apoderar dos por:uos<leouro do
Jardim das Hesp rides, teve de adorn1cocc ou n1a1ar o dragão Qtie
celêo.çia, o adversário da itnortalic.1ade d<;>hc-me!»: Qu <IO, ll.lUJ- os guardava. Que isto seja obra do própl'io-herôi ou de A d a s -
to antes de úílgamesh, Etall.3, Jei lend o de KlSl:i,. p 1ra l'ló Sol no 010,uento cm que Héracles o subscirui a suportar o globo ce
e ao dâ!s Anu que lhe fizesse dom da planta da ,•ida para que Jes:1 - é qucsrâ? secundária. O q u e importante é que HCracles
aso a muJher lhe-pudesse dar um hercleiro, :1 foi levado 1é o éu rcahzou 001» :iato a.s "provas• t hei:-óicas e se apodc--rou dos pf).
p0t unta âituia Q\le a scrpentetinh11;, P ? ' astucaa. an ado num tos- n1os de ouro. O vclo ck ouro da Cólqulda era, tambéo), g\1arda·
so. O con.tlitoentrt a serpentee aágluaé, couJoJá vimos. um- do p,Or um draaao, e Jasão 1cve de n\atá-lo ))aro se apoderar de-
liYO de fundo ds nútologia euroasi.ãtica (§ 101). lt:_. As scrpe1u ''guardan1 ' ' todas as vi3$ da boortalidade, quet
d12:et, q_ualqucr ·•centro'', qualquer receptáculo onde seencon-
. - 1
236 TR.A7:"IDO DE8/STóRIA rus IWJ.)'QTúes i l VEGETAÇÃO: Shtf.80LOS E RJTóS D 6 RE.'<OVAÇÂO 2J7
tre con(e11trado o $agrado, qualquer substância real. etc. Estão sucts,o: Adão, -após ter vivido 932 MOS no vale do Hebron, foi
sempre representadas à volla da crateca de Dioniso l 08, .ieta.m oa atacado de doelW,l mo,u11 e at.áodou .seu filho Scth pedir ao ar•
lonafuqua Cftia pelo ouro de Apolo 1c9 , guardam os. te$0tlros CS· canjo que tuarda a porta do Paraiso o óleo da mlserieórdia. Scth
condidos no fundo da terra ou úS<liamantcs e as pérolãS do fun- seguiu a trilha dos passos de Adtto e B\•á, onde a er\'a o.ão tresce.-
do do ooeano - em suma, todo simbolo <)\le incorpore o snaca• a, e beaou diante do Paraiso, onde fez saber ao arcanjo o dese-
do, que co.nfi.ra poder, vida e onisciê,,r:ia. No Balistêiio de Pnr- JOde f\dãó. O arcanjo aconse:lhou•o a olhar lfis vezes para o Pa-
ma, perto <la ár\10Jf da. \.'ida, dragões est!lo dt tocaia. O mesmo raíso. A primeira ,1ez. Selh viu Qttgua que dava origem a quritro
moliYO se c:ncoutta num baixo-n:leYô do tO\lSeu da Catedral de rjos e; por cima, uma .ir,1ore ressequida; à ses;lu1da vez., viu uma
Pcrraro. 11°. serpente-enrolar-se. ao tronco da árvore; e à tcn:dra vez viu a ár•
vore subir itê o Céu, tt,1do no topo uma criaJ>ça r nt•nascida
erahe.çqueseprolongaram 1uCo lo.Cerno (a átvoceda vida acba,•a-
10!>. A trv-ore e a Cruz - A ãrvorc:. da vi.da é o protótipC> Sêno cenl.To do universo e o seu eixo atravessava as três regiões
de todas as plantas. 1niracuk>sà.S, as que rcssu5'.itan1 os morros, cÓSlillcas). O anjo exptioou a Sc:th o que vira e .-inunclou.the a
eutam os doentes. dão juventude, ct-c.A.ssim, no monte Osh.adi, vinda de um redentor. Deu-lbe três :semeu1es dos frutos da árvo·
encontram.se quatro planlas maravilhosas: "uma dela.,, planta re fatal que seus pais ú.nham provado e disse-lhe que os pusesse
muito apreciada, .rtssuscita os mOrlOS, uma outra ( a i S..'ÜI as f1c:- na boca de Adào, que morreu pa$Sados. três dias. Quando Adão
ch-as das feridas, uma terceir.l ci.catrlza as <:brigas ... ' ' 111. A plan• ouviu à narrati.,•a de Sclh, riu pela prllneira vc:,; desde que fora
ta n1ritasanl}fi.anf, que rc:ssuscila os mortos, é, semd\lvida, a mais expulso do Paraíso, porque oomprc::cndcu que a espécie huinana
prect0$3. tvlas h.1 ai1lda uros " grande plruna". samdbâni, que tei.n seria. salva. Ao morrer-, das $C-men1es ool das na sua língua por
a vírt.ude-dc reunir as pnrtes de um <0rpO mor10 11: . As len<bs Seth surgiram no vale do Hebrot'I 1rik árvores que cresceram u1n
chinesas falam de uma ilha maravilb0-$a de onde os COf\'OS tra- palmo atê o ttnipo de t>.foisés. Este ) sabendo da s.ua ori,gtm djvi-
ten\ u1ua planta cap32.de ressuscitar os .8,uerri::iros mortos há três na. 1ransplaotou-as parn o tnonie Tabor ou Horcb (''ccnrro do
dias. As 1nesn1as crenças se eni::ontram no lrà" . A planta 4ue mundo") . .\.s . ârYores ficaram Já um nliJhar de anos atê o dia em
ressuscita trunbétn é conhecida no muado romano e as. su s vir· queDavi recebeu ordem divina piara .as levar para Jerusalful (tam-
.
tudes ltio ctlebrt$ em ioda-. as lendas uropéias 11°' Quando S:l· bém um ''«ntro"). Após muitos outros episódios (a rainha de
Jc.,mão pede a imortalidade 1·.aU1ba de Sabá. ela f la·lhede uma Sabã recusou-se 3 pôr os pés. na mad-eira deJas, etc.) estas ti' ár-
pltlnta que se· ettcontra no meio das t·«has. Sa!omào encon1ra vores fundira1n-se numa só, da qual foi feita a Cruz do Reden•
wn "home·Jn branco'', wn velho que p.,sseia, com a planta na tor. O sangue de Jesus. cn 1ci f ieado no centro Terra, precisa-
n1ão e que lha dá com alegria, porque cnquanco a guardasse: núo mente no local ortde fora criado e enterrado Adão, caiu sobre
pod:ria morrer. Esta planta, aliás, só dava a imot1ali<lade e não o "crânio de Adão'' e barizou assim - redimindo-o dos seus pe.
a juvtil.tUde 111• cados - o pai da buman.idade 118.
A ,•erdadelra 1nadcira da Cl'uz rrssuscita os n1ortos, e. Rele.- Nuina "adivinha'' germânica medieval fa]a.sede uma ãr.,·o
na. mà'e do imperador C-On.5t-antino, n1:u1dou procurei-la. Essa ·ma· re cujas raízes estilo ao Inferno ecuj.a copac:stâ no trono de Deus
dcira deve a $Ua eíicácia ao fato de a Crnz. ter s.ido .feita d.1 árvo- e que e-nvotve o mundo nos seus ramos, e e:s1a :i.1-..·ore é precisa·
re da vida QUe estava plai1tada no ParaiS0 11f , Na iconografia mente a Cruz. Para ó S cristiíos, cíctiva.menle, a Cruz é o susten,-
cristã a Crw. é multas \'ezes rtpreseru..sda e<nno unta ár\'ore da láC\Llodo mundo: quapropterffgnYrn crucU·c:oeli suninet 1nochJ.
vida11,, Um numero considc.rá,..c:1 de l,endas: sobre a madeira da nam. terroe fundo,netuu torrólxJrat� adfir.:os slbJ ho,nlnn tlucit
Cruz e a viaiern, de Seth a<>Paraiso circularam o.m toda a Idade od viton,, escreve Firtnkus Matcr(lUS(27,I). Nas lendas orientais
Média e em 1odos os países crist os. t,. sua origen1 estâ no AJX) -a.Ctw.ta ponteou a C9Cada l)el qual os homms sobem até Deus:
tYJllpsede .A1oisé:.·, no Evan.a.efJ;o de JVIC'Oden1_os e na Yi(/o de Ad_ão wuado no ''centro do mw)do ·•, ! o lugar de. 1)3.SSageru tnlte o
e E,·o, R(iL5Cltmos., d .modo \l. cve, a var 1aotc que- teve m.uor Ccu 1 a Terra e o Inferno. Em alg4m $ Y'4.fian1es, a ma<lcira da
·TRAT.i.DO DE HJS'fôJII.A D.1S ReL.IOJÔES
À VEOETACÃO: S{AJBOWS 6 RITOS D:6 REi'f'OVAÇÀO 239
238
e .que aquele que dela bebe por três ve:zes fica, até o fim da sua
Cru1.1cm sete des,ntus, da ou:sma forma <11.1cas :U,•ores cós.1nicas vida, semelhante a um hómem de 30 anos•n. Dei Rio e Pcter
que represcni.am os sete céus 1u> . Nlaf eius afirmam que()$ indianos de BengaJa e do vale d(> O.m•
aes \li.Vem 300 on 330 anos•-". Gervasius oonttt eomo Alexandre
l,.,fagno, ao procurar a ''Água de Vida" na fndia, encontrou J>O·
110. Rejuveoesd.n1eoto e l1uor12lidadc - Como no mito da mos qu prol0Jlg van1 até 400 anos a vida dos sawdotes•1A. Na
'"fonte da Vida", cncon,ramos divers."LS concepÇões reí«entcsàs nlltOIO$,ta esea,l)d1na,·a, <?Pomo dese-tt1penha o papel de fruto r<"-
p1a ,as t os frutos mirncu.losos: uns rejuvenescem; outros con· geoerador e reJuvenescedor. Os deus.,cs con1cm pomos e ficam,jo•
ferem lona.a vida e outr0$ mesmo itécedcm a imonalidade. C,da \'ens até o 'ª!I'-'« rlJk, quer dizer. até ( 1 rim do atual cic!o cósmico.
wt\a dessas COllcepçõcs te:1» uma ''história" que opera oelas mO· . exemplos esc.lare<.'ént as di..fcrcnças entre a cstnuura do
dií.cações em conformidade com certos cânones que se pc-endem ideal 1nd1ano e dQ ideal semíi-ico, o)as, por seu turno. cada un1
ao espírito da raça, à interferência das culturas e às diver5,aS co11 desses l lnas Jnitioo? co1nJnuou a rood.iítear-.se no interior. dos gru·
eepçõcs das '-'!lasses sociais. "A planta da imortalidade e ds moci- pos éuuoos que o ttnham formulado. O nívcl CSJ>iriwaJ do m·i(O
dade'', por exemplo. era ooncebida de modo muit.o diferen1e na de um lado, ( o n(vel d.t lenda, da S\lperstlçl\o, do costume po
fndia e no inundo semítico. Os seinittl.$ tinham sed de imórlali· ou1ro J,ado, silo absol tamente d.iftl'entes. Um grupo popu'lar e
dade, de \'ida imottal; os indianos procuravam sob udo a plan- uma elue c?nhec c.1nterprctan1 Q ntifo da ritanta da resenera•
ta que regenera e rejuVcnesct. É por isso((tte as dietas alquilnistas ç_!o o.u dn imorta!1dade de lllodo muilo difetelltt.-. No entanlo,
e médicas dos indianos prolongam a e:iduência por várias <:ente· nas dtfe.rentes anantes desse mesmo tema central - po( ntuito
nas de anos e tornam aqueles que a elas se submetem •·potentes grnnde.$ que sc1am as dif enças dev:idas ao espírilo tnico ou ao
(nas suas relações) para con1 as 1nulhe:res" (ba/aván strilmu). O upo social! ou ai.oda às vk:iMitudcs da difusão-, pode-se fa-
mito de Cyavana mostra claramente o idcsl indiano: o rejuve,1ts- c1lm ute verificar a unidade. de e.strutura. No caso 1>resente, por
('in1énto e não a hnortaUdade. Cyavana combina com 0:1 Aç1,1ins
de.Jras d \•ers!o da plan1 1nir;:icu.lo a. descobrimos o protótipo
que-estes o rejuvcnesça1n dando-lhes ele:, cm compensação, o so- on.ginár10: a árvore da vida; a realidade, a sacra/idade e a \•iáo
ni.\, 3 ambrosia divina. Os Açvins éônduicm-no à '''fonte de ju- concentradas numa âr\•orc n\aravilhos.'l gue se ad,a num "CW·
ventude" de Sarasvatt e, quaodo Cyavána s..'U dela, as.semelb{l•Se iro", ou tlUnt inundo inactssivel, e cujos frutos s6 os eleitos po-
aos deuses pela sua juveotude e. pelo seu esplettdor Jui . dtm provar.
O indiano. Que aceitava a uistêoc a e amava a \1Ídil, não d-e·
sejava coosei:\·â-la tudcfinidamentc, prc(crin<lo gozar uma longa
juventude. Por out.ro lado, a imortalidade não teutava o sábio má&Jco e farma•
nem o t\tlstico. que aspira,•a à Ubc.rtajj:ão e n!lo a um prolonga- .111. O arquétipo dos $1_mpk$ - O valor
cêu11co de cert;,1s plantas é devido, ituatn,ente., a u1n protótipo
mento co11tll1uo da existencia. a um de.,;prendi Jnento definitivo ct.leSle da planta, ou ao fato de da ter sido colhida pela primeira
do cosmos e à aquisição da autonomi.1 e.s:pirilual absoluta e niio v z por deus. enhuroa planta é precios.'l en, si mesma, mas
a uma dorsção no tempo, ntesmo infinita. As 1nesmas conecp- sun _pela sua p(1nlc1pação nwn at(tuétipo ou pela repetição de o t ' t " -
ÇÔe$ se enoonuam eatre os gregos, que não aspiravam à imorta - tos gc!'$.I.OS e palavras que, isolando a planta do espaço profano
lidade mas à juveotudc e à vida longa. Na roa.ioria das Jendas re- a co m. A$$im, duns fórmulas de eucatuaçào anglo-saxôoi
lati\'as a Akxandre !'oiagno, e.\le admira-se Q\lC se possa pedir a do se7uloX\'I. que era COSl\Ulle p.ronw1ciar quando se fazia a
imortalidadellt. O inito da rtgener-ação e do rejuv-cnesc:imento, colheita de plantas ricas cm propriedades curativas di.z.ent•nos
no o concebiam os iJ\dianos. foi cooJJecido do!I. europeus. não m pre<.isão q.ual origco1 da su efic.icia 1e1·ap,!u1: das.c,es-
só <le tnaneira indireta. por hue11n<:dio do inundo semítico, pelo c«aJ», pela ()l'1e1m \'e2. (quer duer. ob origine), no montesa-
Is.lã, n1a.s t-aJ)lbém pelos escritos dos \'iajautes do ara,do do Ca1váno (no ''<:C'ntto'' da Terra). ''SaJ,,e, ob erva san-
Oi:iente. Na carta do .ditetamente,
Preste João (l l6o-65) dii-se q\le o Indo TO· ta que cresces na terra; tu cstaYas, pcim.ei.t.'O, 110 lnonce do Gal\'á·
dcia o Paraíso, Q\lt ;i três. dias do Paraíso se eocontra uma fonte
J
7MTAOO OE HJSróRIA QAS RJll.fGJÔES
A VEOETAÇ,,iQ: SÍMBOLOS 11 RITOS DE RE1'10VA('.ÃO
241
rio· 1'1 <.s boo J)Gt'a q11.a.lqu:t ferida! em n01ue cio doce Jes.us, eo
tean.ho.-'"' {I SS:l) ''Til ês :1anta,. verbena. como cresces ( H t ter· rc cósmica. A sua aQu.is:ição equivale à apropriaefu) da s vinudes
ra Pois (ll)e ,=rlm.eiro fosie erteOtltra.da nQ monte Clllvárlo. Tu que residem em tal rocep1á"cuJo de força, de vida e de saci-aljda.
cu 0 n o Re'"-1C01 Jesus Cristo e fechaste .a.s S\13.$ chagas de. Evidentemen,c, esst. ençant.aruento é ptôduto da magia eclé-
sanscentas; ern nome {00 P;ti, do Piího e do Espírito s:m,o) cu tica arecó-egipcia- o seu aotor era. iocontcsravelmente, wn tru·
te apa.nhó. •,w Atribui-se a dicáeia destas J>la.ntas ao .tato d dito, mas isso não e r:u.'io para duvidar da sua autenticidade: snbe,
s.eu pioiólipo ter sido <lesoobert<> num dec1S1· 11e, en1 oompcnsaç.'(o, que a maíori11 dos enc·antam.entos popu1a-
.n.1ome11to cósn 1co rçs slio obra de letrados degradada por um longo pr<Xt!!õ de in-
vo ('' ooq_uele t(:mpo") nó rnont C\lJvano. Elas rcoebertu:o a a
con graç.io r,ot terem cu111do as eh do Redentor. A efft'acta fanâlizaçâo. A planca medicinal que se dilata.i ponto de atingir
das placi.tas colhidaS só ,·.\lot fia nled1da ell! que qude que asco· as PJOporções cósmicas de uma árvore teofànica t perfcitamtnte
lhe rqita esce Se$tO primordial da-cur . E por isso que uma ve,. Justificada pelas concepçõC"S mais actaicas. Só f reconhecido va.
Jlt;t fórmula de <.ntaota;;lo <U:i: ''N.' . vawt'!s lher plantas p a Jor ao nlundo terreno na mc<lida em que se lbe pode atribuir um
as apUcru n ch:ip.1s-do Salva,lor. 1u; Au1bu1-se também a v,r. . pr-otót.í p o no 1nundo celeste.
1udc da plan.ttl ao fato de um ser di,•jno a ter J)lant:ido. ºQuem "Fara OScristãos. as plantas mtdicinajs <le\•iam a sua eitclcia
te plan101.1'?", pergunta o herborista à pari.seta-... Foi_ Nossa Se- ao fato de t«en1 sido encontradas pela primeira ve1. no LUOnte
nhora ... para a mi.nha cum.''Jl' ÚUll';l.S vezes e prec.1:so que ela calvário. Para os antiaos, as platl tas deviam a , .suas ,•irtudes
ttnl13 sido co1hida eo1 nome de Jesus 11i . • curati,;as ae> fato de tettm sido descobertas pela prin1eira vez p,e.
Essas fóro ulas de rnagí.a pepulac cristã c?"t nuarh ,u1u1-aot los deuses. "Setônica, tu que foste descoberta pela primeira vez.
gci. tradição. Na 1oJll3, por c.x.emplo, a erva Kap1Uhak.a (Feron1à l>Or E.scu.lâpio. ou pelo centauro Chi:ron ... '', as.sim se ree.olll(n,da
1teph<Jn11u11) cura a imp()(ên ia sexual p orque, rlg11te, o Oan· uma i.ovoc.ação nutn tratado herborCstico 1n . Ou então a eficácia
dhar,·a a utUlzou 1>ara restituir a Varu.n:a I sua vrr1hdade. Porco · dcvla-s.e .ª i.cr s:ldo plancad.1 pela divindade: "Basilisoo, poço-te
sesuintc a colheita ritual da plr..nta ê, efttivamente, repeti· pela atiVJdade supi:eina que te fez nascer ...·'': ' 1Ríeino, m1·nome
ção <10 ao de Oandhaí\'a. " A ti, a pl ut que. ú:t:'dharva _uma l"Ileteu do deus todo-poderoso que re. fez nascer ... " ; "Vós, plantas po--
na terra para Varuna. qoe perdera a vU'1lld e 3 t• planta queer- derosas, ,•ós.qtie a ·rerra.}\.fãe criou e: deu a todas as nações ... »1JJ
_guto ca\lle, nõi; 1e plautanios1••Ji? A,ar.temis1a {doJntmQ) deve ser Na tradiçiô popuJar cristâ a p .anta devia também as S\J.a.s
oolhidaoortt asegujn1c.pr«e: ''Sê bertd.110, l(amedeva., tu que nos virtud medicinais ao rato de Deus a 1er doiado de propriedade:$
excepcionais. Na França, pronuncia-se a. se3uintc fórmula: "Er·
d6luinbra<. Eu tê al)ftol10 c001 a boa vontade de Vislui_u", etc.',.
Uma longa iovocação que í.t.SUra oo Papiro de. Par.s demoJ'I$· lia santa, Que. n§o foste. semeada, nem plantada, re\·eia a vJnude
tl'a a excepcional condk!lo da planta .colhida: ''Tu foste.Sffllt'ad.a que Deus r.c deu1••u-1 A planta é, por vezes, divina: o ttxto hef.
pot Crooos, colhida pôr Hera, con da pOr Anton, concebi· boristico Les cyrotil<lts, por exemplo, oomcia a brlônia divina.
da por fsis, alimentada -por Ztus plu,'Joso; tu crcsoeste. g,aças ao n1inha dos deuses, nuk das plantas, senhora da Terra, do Céu
Sol e ao orvalho. Tu és o orvalho de todos o.s deUSC$, o coração da água ll 5. Por isso a colheita é um ritual que se efetua cm con-
de l-rermes, a semente dos primeiros deu.ses, o o bo do Sol, a lu.z. dições de pureut cerimoniat, com pr«es e sacrifícios que .su ôem
d3 Lua, a dignidade de O.siris, a beleza e a glória-do CCu ... Ta) rtos perigos. Não se trata. pura e simpleso.tente, de. rolher uma.
11Ja.nta, unia <:trta espécie botânica, mas de rt.petir u111a ação p1i-
001no levantaslC Osíti.s, Jevanta·le Lu ! Leva11t.l•lt çomo o Sol! A
tua grartdew iguala o zênite; as ru:is raizcs são tão p o!'undas co- 1nordial (fol a divindade que tolheu pela primeira vez) 1:,a1·a ot,.
mo o abismo... Os le\lS ramos são os ossos de í\'lnevta; as.tuas ter uma subs1.ância saturada de sa8Jado, variante menor da ár-
flores, o olho de Rórus; as 1uas sementes. a senlente de Pa; eu vore de vida, fonte de Ioda cura.
sou Hermes. Eu a1>anho.te. oo«n a D<?ª Porlun . o Bon\ Dc?.'a;
nio, e na hora pt-Opria, no dia próprio-e fa\'Qravcl a todos.
A planta evocada e colhida deste modo te111 o valor de uma árvó· ll2, Ârvote-Ax/s Mu11di-E:ncontramos treqüeótemen,
,e 110s ntilos e nas leudas relativas à á:rvQre (la vida a idé.ia implí-
TRA TJ'llXJ OE IilS'TÓJl!,1 DAS-AELJO{Ôf.S
A Y6G6TAÇ;i0: SAfBOLOS E RtFOS DE R,!;'j\lQYAÇÁO 243
242
113. Dcscendêncía :rufllea i. partir de uma cie ,·q::ctal _
cita de q,ue ela se encon.11.1. 110 centco do uliv.:rt.o e liga o C·Cu,
AS n1esmas concepçôe$ da , 1ida e da realidade íiimbolizadas pela
a Terra e o Inferno. Este i:ormenor de1opot;,afia 1niriea 1cm ,uu vegetação e:x_pUcam aquilo a que poderíamos chan1ar tnl exprt:1-
vatot' n\uito espe.:ial nas aenças dos povos nó1Jjoos e «:ntral-
são roxima a. " a s l'eJações misticas entre as ár,•o cs e ho
Miàticos, iOI\' é provável q_ue a oria,em seja. oriental (mesopoli· mens . A ?1ª's categórica d(S5;11$ rela:çôes místicas parece ser a
mica). Os Jtaioos c,êet.11 pôt cn1plo. que· ·no umõia,o da Ter,
ra cresce irvort n1ais alta, pirulejro si&3Dt< cujos ramos SC·n-- descendência as ra as a partir <le uma es))Ccic vea,etal. A lirvorc
ou o arb to e C"ons1derado o antepassado 1nitico da tribo. Eiu
gueo1 et a rooradi ôr, &li·Utgin'", quer dilcr, Mk o u 1)6• gI essa ãf\1ore gtrte.a!ó-gica t Cntlma. relação c0Jt1 o cuho lu·
Muitas ve1.c.s. 3 i.rvôl'e e11Contra,sc- nó topo de-1..1ma montanha,
tio centro da 'ferra. Os tá1taros abakan filam de um monte- de r, o antepassado m1.uco, ass1m1lado â Lua, ê: reptestntado sob
a Jorma de uma es Cie vegetal. É assint que certos grupos mia o
ferro no qual cresce u1na bétula com sete nunos, provável sún·
bolo dos·.sete andares do Céu. (ldeogr!Hua de oda.cm babilônica, prC$t3Jll C"ullo ao bambu (Oroo a.11tepassado. Encon11a.n1os a.s mcs.
mas crenças nos aborígenes de orn1osa, nos tágal0g tias filipi
segundo partcc:). Noi cantos dos xa1nãs osôaks, \'asjugan. a ár- nas, n?s )' ·h1ng (Yunnan) e no J a o. Entre os ainuli, os gbiliaks
vore cósmica, tem, OOD)Qo Céu, sete degrau.s: straYessa lodas as
e na, oréia. a ár.vore figura uo culto lunar dos antepassados'º.
regiões cclc-'<..tes e mu.Ula as s u u .rafb!i nas profundidades J-\S tribos austrahanasde tl. elboumc ac1·«litavan1 que o pri1neiro
subtcrrâneas 11l . homem nascera de. uma m1mosa t< 1J, Sé3undo um mito 1uuJto es-
Quando sobe- 1u'l Cê'I.I, no decurso dn sua. ,•iagem tnistica, o
xamã uti.liza u01.a árvore.que: tem nove ou sete (leacaus (§ 33). A Indochina, coda 3 ht1mt1nidadc foi {aniquilada por um
W.J!13.do
J_uv10, a exceção de dOi$ jo}·cns, ic111ào e ir1nã, que cscai>araol
maior pwte. das veies. no eutan10. 1(aliza esta ascensão por um
poste saB1ado guc tarobêm tem sete detl't,u$ t que-. na1ur-almel\• 1racul?smnet1te nuu1a abóbora. Nilo obstante.a sua· re_pugnãn-
c1. os JOvens fasa.rant,se e a moça deu à luz·uma abóbora de
te $C-ad 1uitc encontrar-se no oem:ro do 1nunt10 1.33. O poste- sa· C'uJas scmc-ntes )3Jlçadas na montanha e na p!1tnície surglr,m; as
g/aóo e a ú.l'\·ore são sjmbolos que equjva1e.ro ao poste cósmico raças hllntanasi-41,
que sustenta o ,uundo e se acha no cenlro do unive-rso. Entre os
àl1aK.'Qs, os deuSC'S aiam os c3valos a este poote cósn\ico, e1n "º'·
!!ocontramos o mesmo mito, com a_s suas iác:vitâ,..ei$ defor-
se c-noo- maçoes (d f?1'1nação do_ "antepassado .. ), na Índia. Siuna1i,
ta do q\lal gir.am-as colUtclaçõe;c. /.\ -mesma (On o
lf3 entre esçandinavos; Odin prende o seu cavalo a Ya.adrasd posa do te1. Sa.gara de AYodhyâ, a quem tinham sido prometidos
nta. m1 f11h45deu à luz uma abóbora de onde sairrun ses-
(literalmente ·ca,•alo de Odi.Jl''). 0S.$3Xóes denominam lnnin·
ta md C"n:)nças · Um çpisódio do ,Wohá/Jhdrara conta como
suJ este pilar cósmico - unl -er:saliJ Mfun,no qu SJ' sustin.ens ,; Oautruna, ti lho de Saradvat, nascecan1 dois gên1c:os r<rpt e
orr,niaut, Os indianos .t(.1u s. mes:tna idé:ia de um elx<> có cn1co.
Kde rpa, d un1. naviaJ'' 14 . Outros documtntos q:,nfirin a <lés-
representado por uma ãr,•o.-e da °'•ida ou pilar, s.ituado no 1neio
do universoW>, Na mitologia cluriesa, a árvore roiraculosa cres ccodênC"1a m1t!ca, a l?ª tr de uma cs.pêcie vegeta], de certas po,
ulações abongen s u1d1anas. lJduntbarn., tlOJne :sânscrit0 da F/.,
oe. no cenlro do ulUverso. no local onde deveria enoontrar'iC a
Capital p«felts. Ela reune as_ No"e Na.scenr aos Nove Cé';'S·
,us g/0111ero111, designa ao mesmo tempo a provinc.ia. do Ptndja
be e.os S('S habitantes f-17, Uina tribo de Madagáscar chama•s;
Chama-se-lhe. •·Pau ergllido'' (Klcou-Mou) e diz.-.se que, ao meio-- anJ · ndnka, o q e.querdizer titCJ,'31me.iue "os da (ârvore) van.
dia, tudo o que se encontra pc.rto dela e se 1uo.nté.m ereto t1,P dnka , e- os seus v1z1nhos, os an101fttsy, são os desoendentcs de
de fazer socnbrat 4l, Esta árJore oósmica assemelha•SC ao Pi· uma bananeita; ''desta bananeiro saiu um dia um belo r.a.paz que
lar", suucntáculo do nn1ndo, "eixo do universo" (Axls A1un<lf),
das cosmologias altai(as t nortc-t:uronéias. A ár"ore, scgúodo es- en1 pouco tempo, se totnou grau.de. e fone ... e teve mui1os filb
e netos que foram os ante.passados desta t r i b o - são aitlda cha-
ses 1nitos, exprime a realidade absoluta no se1,1 aspecto de no_r· mados; às vezes, os Júbos da bananc:ira"u3
ma, de ponto fixo, sustent culo do cosn1os._ 8 o pont de .aPotO
p0r excelência. Porconseau1ntc., a.comun caçao oi,n o oeu so pode • . Po o.s faeib) ente mufti.plicw os ex pk,$ . Assinalemos.
a111da, a tradição lraruana da origem do primeiro p:\r humano:
ser (Ht em t.orno dela ou mcsnto por 1n1e1·med10 dela.
244 TRATADO DB HISTÓ !{ .IA DAS RELIOIÔES A VEGETAÇÃO: SÍMBOLOS 6 RITOS DE RM-'0VAÇÃ0 245
ctua.udo <>botnw1 prfrn.otdial, Gayomard.. SUÇ\UDbiu.aos aotpe:s: Neste caso acban10-nos di.ante de ura processo de raclonati1,.açrio
do espírito do mal, a sua S<'llK'l'lte penetrou na terra e, quarenta da concep,ç-ão .ar(";)Jca da desctndência da es cie a partir de uma
anos majs tarde, deo <Jrigcm a unl3 planta rf•'6s, que-, DOT su• vci, árvore: n.-\o s o o aotepss,sado mitico nasceu de un1a ár\·ore., mas
se 1ransfor111ou e,n Ma$hyagh t t>.1ash1â1lagh1•t. Mas-a lenda ira- c a. recém-nascido descende, de môdo dirtto e concreto, da sub$-
niana comporta um demento suplem<mt:ar: a morte \'Íol«ita de 111ncia dessa árvore. fonte (la rt'".alid ade t da vida id entificada
Oayotuard. Em c.!c,is dos nossos trabalhos anteriores e.sn1dan1os: º'-!-ma ár\'orc nno se lllUlou a projetar de uma só vez a sua forç;i
este motivo tn.ítico da oristm d -\ l!taç.ãô pelo sacrifício (a 1norte rnadora, p a dar on,em a um an,çp ssado n1Ilioo - - ela conti-.
,•jolen1a) de um gigan1c primordial, e tambêm o 1cma lcnd.ário _!lua a c:nar _lncessan1erucntc cada hoo>tm. em particular. ·Ê unia
do pareciniento das plantai *'11-ÇIS ao sangue ou ao corpo de 1n1e:rprctsç.'looonqeta e racionaJista do mi10 da descendência do
um deus ou de urn herói vilmcnte abatidos 110. "'rencionarcmos gênero muaoo a partir da P!ó -., fonte- da vida, maoifes1ada
e re1om;icemos en1 outto oontexto as conclusões a que d1egan1os nas ts veg erol&. rvlas as 1mpücações teóricas dessas varlan4
nos citados trabalhos. Podemos., no entaino, observar. desde jâ, ces racionahstas continuan> a ser a:s me.sinas: a rea.Bdadc \\hitna
e as suas forças criadoras estão concentradas - ou manifestadas
a soUdariedadc entre. o homem e uma certa esJ)Ccic vegetal, soli- - numa árvore.
druiedade concebida como um circuito contfnuo entre o nível bu• Encontramos ouuns variantes racionalistas no grupo com-
mano e o veg('t.11. Uma vida humana.que termina de forma viO· pacto das crenças stg:Undo as quais as a.lma.1 d os antepassados
lenta \•ai continuar numa planta e.<;La, por seu turno, se lhe acon· .se fixam. cerlas ârvorcs, de ondt se introduzem, sob forma
teces« coUlkla ou queimada, dá orlgen1. a unl aointal ou a ourra d e enlbnao, no ventre: das niuJhercsl"-1, Na China, crê-se que a
plaota que ac.aba por encontrar forma humana. Podemos res.u· cada muJhcr corresponde uma árvore: (anto.s fílhos terá uma QU..'\ll·
mir assim as implicações. 1eóricas destas Jen s: ê preciso que .a ias fiorcs dera ouqa As muJhercs estéreis adotam uma criança
vida humana se eousu1na complttatnente para esgOfar as suas J>OS-- ps.ra provoca,: o erescunento·de fio ,es na arvore correspondente,
sibilidades de criação ou de manifestação; se acaso for interrom· que, por seu turno, ru; tornará fC"rtetsU 4• o que é iml)Ortante De$-
pida brusca1neote, por wna mo11e violenta. e-Ja procurará ses costumes a concepção do circuito L"Ontfnuo entre o nh•el ve-
prolongar-se sob outra fonna - planta, fruto. flor. Umitemo- getal - cons1 d rado fonte de vid:i inesgotável - e o hum.:uto·
nos a registrar aJguru oxtrnplos c,n apoio dessa interpretação: nos os homens são s1n1,plL'S projeções elle-tgêtiais da mesma matriz \'C:
cau)pos de batalha ottde suctunbiram n1uhos heróis cresctm &etaJ, silo forma efmi('r cuja 3P31rição é constan1emente pro-
rosciraslit; d o sangue de.Atis uesccrám \'ioletas, e as ro as t- as vo:;ida pela plen1tu<l-e do l)fvd \'ea,e1al. l\ · r<-aJidadt'·' e a '"for•
anêmonas brotaram do sangue de Adônis quando estes deuses ça nào têth nem a sua base nem a sua oriaem no homem - mas
a3oni.tavam: do oorpo de Osiris cresceu o trigo e a plan1a maa1., nas pl ntas. O homem Capenas a ::tp.ariçào fêmera de u1na nova
assim como todas as ($J)ÕCics de plantas, etc. A morte desses deu· o:fahdade vegetal. Ao 1norr-er, QUCJ"d izer, ao abandonar a c.on,
ses ê, de certo modo, a repetição do ato cos1uogônico da criação d,t ? hu.mana, resress.a - em estado de ''.semcnce'• ou de " -es pi-
dos mundos, que, como se sabe, resuJ1tou do sacrifício de um g.i- n10 - à árvore. Efe,th•am-e n1e, essas fórmulas concretas expri.
gan1e (tii:,o Ymir) ou do auto S1K-riílcio de um deus. mem. do- 6 uma mudança d e nível. Os homens reintegram-se 03
/l.1as o que nos huetessa. antes de 1nais, oeste cap(tulo t o matrtz. uni\'ecsal, adquirem outra vc:i o estado de. semente voJ.
circuito de vid a entre estes dois níveis: vegetal e humano. O t'ato t a (Omar-se germes. A moue. t uol retorno à fo1>1e d ; ,•ida
de uma.rsçn dc.scen<ler de uma espócie vcs.eu1J pressupõe que a un1versaJ . .Encontramos esta mesma concepção fundant-ental em
fonte da vida se acha oonceotr.1da nes1e vee,e1 d e, portanto, que ' ? das as cren s quç, se prendem à Ter·r.a-Mãe e às místk.as agrá-
a modali d ade humana se enoontra nele em estado virtual, sob a nas, A mone é apenas uma mu anç.a de modaJidade, uma pa.s.
forma de germes ou de sc1nentcs. A tribo \\'arramunga, do nort.c sa.ge m p ra outro nívtl., uma reintesração na matriz. un..iversaJ
da AusttáUa. crê que " o esp{rho das. crianças". pequeno como $e a realidade e a vida se ronnula111 W'! tern1os ,·cgeiais a reinte
um grão de areia, se acha oo interior -de certas árvo1es, de oode gr ç!lo efetua.se: por tuna sinlples r:uodíttc .açâo de fo a: de an-
sai, por vezes, p0ra penetrar pelo umbigo no ventre matcrno 1 . tropomorfo, o morto torna-se dend.to 1norfo .
246 TkATADO D E HISTÓRIA /)AS RELIO/ôES
A PEG8TAÇÃ0: Sf!ltltOLOS E RITOS DE RE.\'OVAÇÃO 247
J 14 Tro•sfonnaçlo em planw - O cite-oito entre es1eS dois
níveis c nsetvou-sc em gtandc número de lendas e de contos que váriac.'mcta1norfoses. Nrun oonto toscano, a heroína uansforn1a,
podemos cl flear eo, dois grupos: a) uansformaç o etn flor ou se Olln\a ''tnorme enguia", que., por seu turno. é 1norta e lança.
em ãrvore de um sct humano barbaramente a!SaS$1nado; b) f - dn num canteiro de roseiras. Tr.msfor,na-se. então, numa rosei·
cundação mirac:ülosa por wn fruto ou uma 1e. Esses mou: 111. "maravilhosamente grande", que ê apre5en1ada ao prfnci
vos forarn objeto de pesquisas bastante m,uuc osas nos nossos como uma curio!iidade rara. Da roseira sai uina voz: "Devagar.
trabalhos anletiorcs epat isso nos limití\í a <it31 ais.u n s exeor não me toqueis!" O pr(ncipe abre então a ·roseira com uma faca
pios. N1.11na tenda santali, ptibticada por odding 155 • sete irnl.à e a bela rapariga apare<.-c ,ã e ,aJl'll. Numa ,arianre veaa.
ajo.
u1.atam wna irmã para devorá-la. Só o mais no,·o. e todos o malS vetn transforma-se num pequeno pcl.xe de oúro, e depois num Li-
OO)npassi\'O. oâo (oi capaz.de comer do COrtJ? da trtui e e-otmou moeiro. No n1oooenlo em que um \•elho pega no machado para
a parte Qt•c Lhe ooubera. Algwn tcinpo dep0u. no local OJ.lde en- obatê-lo, Ou\·e uma voz dizendo: •'Corta em cima! Cot1a embai-
terrara aquela parte. cresceu um twJo bambu. Ulll homem que xo! Não 0011cs no meio PQraue fe.res u,:na moça!" - o que- nos
passava por ali viu o arbusto e dispôs-se a oortâ-lo [)o'\J'a fa7.er UR\ faz Jen1brar o conto santali'$1. No conto romeno "As três ron1&
violino. Jvlas, quando ele cspe1av;.1 o mac do, ouVJu lJ!1ªvo.z de ouro'' a heroína e transfonnad.:i por wna cigana nu,n p!ssaro
que grita,•a: ''Pára, páral não cortes tão acima! Corta ais a l· que esta »>anda m.atar; do sao,goe do pássaro cresceu um i,inhti•
xotº Deu então um gofpe na árvore mais 1:i;crto da ra1i e .ouvi ro 1nuito belo e n1ui10 alto 1,, .
outra veia voz.: "Pára! não cô(les Jão ablllXOl C.orta n1a1s sc1-l
ma!" Por fim, depois de a voi se fãter ouvir nela por d as ve,,
2es, o barubu caiu. O homem fez-dele um vlobno, e o viol,, o tO· 115. Relações honwm-pf:loJa-Em codOSes5C$OOntos. o cir-
ca,•a maravUhossmcnte "porque a jO\'em estava e tro dele , m cuito homem•J)lan.ra é dratnático:<lír-se-ia que a heroina se dissi-
dia, a rapariga saiu do violíno casou cotn o musico - e os seus Olula tomando a forma de uma árvore sempre que ala:uéro põe
irmãos foram engolidos pela terra. termo à sua vida. Trata-se de lUn .rq,resso ptO\•isório ao n{vcl ve-
. , getal. Ela continua a sua vida 1 ·escondcndo-sc" debaixo de uma
Esse tema foklórk"(I acha-se m..ull? d1fund1do tcm dos trê
timões-dos folclor,stas)u6• Pode rcsunur-se .no scguuue e:sq . nova forma. Todavia. 0 $ oon10$ pc:1pularesoonservaram também
\lDlS jo,•ero maravilhosa - uma fada - sa1 111nfruto rn.t.racu- o ouuo motivo arcaico do <:if(:Cl.ito homem-planta, aquele que con·
loso ou obtido por um herói â custa de muito ".abalt o (romã, $IS.te em ngolir unia semente ou em cheirar uma flor pa.1·3 obter
li ão, laraoja); uma escrava ou uma mu1hr multo feia tn ta-a a fecundidade. Nas variantes ro1ne:nas do coruo '· As três rornãs'',
e faz..$ passar por ela, tornando-se assim muJJier do he(ó1; do um dos parentes recebe de wtt sru,to wna maçã e dcpoiS de tê-Ja
cadá\•er da jo,·ein surge uma Oor ou uma árvore (Oll d a trans['?t· comido dá origem a uma criança •oro. U1u dos txen1plos clássicos
roa-se etl\ pássaro. ou em peixe, que, morlOS pcJa n1uJher teta, da litcraLura roJcJórica é 0Pe,r1(11tr..eró11-t-(fl, 8), onde uma jo\'cm
dão origem a uma árvore): do t'ruto (ou da casca, -ou .da lasca vii:gem ftca. ará.vida após ter -comido unta folha de roseira. Ovi•
da madeira) da átvore, acaba por surgi( a beroina. J;\SStm, num dio registra a tradiç.ão segundo a qual Marie u.a,sceu de Juno sem
cooto indiano rccolhklo l\O Pcn-djabe-, a espOS..'\ assass1nadf ,ttans- a intervenção de- Jtípiter. tendo sido Juno tocada com uma flor
ío<ina•sc cm lírio; .ei falsa prlnccs:a des.pedaçou-ó nlas do llno sur . pek1 deusa Flora 161. Peuttr recolheu também in'1meros exemplos
giu um pé de bortelà e depois uLua bela pfant uepadeira. No. Oe- de concepção por fruto celestes1"l,
10 e: wna rainha ciu1nen1a que afoga uma JOVem num lago. de· O circuito hon\etn•planta. QUt: o foklore cot1SC1Vou cm for·
le u urr:a nor de girassol que, depO\s de queimada, tez ttescer ma drn1nál1ca, existe t-m numerosas- crenças. No Meklentbura,o
da !ua cioza um n>ango 11: 1• · enterra-se a placenta do 1'.'CCéOO•Oa.scido Junto de uma árvore- de
. fruto nova. Na Indonésia plauta-s..e urua árvore no local onde SC·
Este. oont.o e wnbén1 muito popular na Buropa, Por m1u10
coota111inado que esteja pelo &Ubtema da •·noiva ,r a a'' e do cnlerrou a plaoenta 1 . Nestes dois costumes mani.fes.ta•se a soll-
"alfinete encantado". A httoina, como na forma asiática, sofre darjedade mistiéa entre o crcscimen10 da árvore e o crescimento
do homem. Por \'CZÇS, ê ent re um povo e umà árvore. quç eyia
n,l'TADO DE IJISTóRf,,.i DAS RRllOlô eS
,t YEOETAÇÃO: Sí,1fB0LO$ E R.ITOS DE R&.:01",IÇ'ÂO 249
luz Buda junto a uma ârvore sólu e agarrada a um dos seus ra-
solidariedade ctis1e. As$illl, por exemplo, º-" papuas crêem que- mos. Engeln1ann e Nybera teuniram um rico n1aterlat «nográfj 4
se se cortasse uma. certa irvore tarnbén1 eles morreriaiu•6'1, Os )a. 00 que m ta .a freq(1ência. d? CO<Stume segundo o qu.al as mu-
mãs dotaaus }!b.1uam lUl'la JJvore llO momento em que SCnt e m lheres dão a h1z nas prox.unrdad es ou mtsmo junto de ,11ua
o apelo dà sua Toca;io mágica; apóia sua morte., s árvore é ar. :ir,·ore•'1t. O s.imples ato de nas<:er perto de u.nia fonte de v-id
rancada. Em ()Utr s uibos. altaicss (os soldes, os 0 10 1cht. os- oro- e de cura as.stgura à criança unia boa sorte: estará isenta de doen,
k.i) crê se que a \'ida. do :xamã depende. de taJ ár\·ore. Os xam.ãs
4
- 1
250 TRATA.DO .DE }{fSTÓRfA ()AS I.EL(GlôES
A V.€GETA('..Ã0: SiMBOLOS E RITOS D E R&VOVAÇÃO 2.SJ
J l7. Ca'13.nu.•nto dSIS dr ortS-Um outro o:rimo11ial q_ue de- wnde, na onl.Oloa,ia arcaica. à realidade absoluta, ao " s a grado' '
nuncia o sentimento de solidarldade ent:J a vegeta ão e os ho- por excelêócia. O cosmos ê simbolimdo por uma árvore: a di\'in-
tncns C chamado " o casamento d.às árvores". O cos:1,111,e é fre- dade manitcsta·se c1n fornla vegetal; a fecundidade, a opulência,
qOente na indis e eocontra·sc, esporadicamente-.. em cenos gru- a ronuna, a salide ou, a ni,•el mais <levado, a iJnorratida.de e a
pos de ciianos, como ê o caso da Transilvânia. pôr extu1plo 11' . Ju\•entude ttcma estão concenuadas nas plantas ou nas árvores;
O casame,uo das ár\·ores raz.-se, em geral, quando, algutlS'atlos
após se ta.sarem, as mulheres .oào têm ainda filhos. Ncste casot a humanidade ou a1·aça derivam de uma espêcie vegçtal: a vida
huntaoa rtfugia st- nas formas \'eg«ais quando o seu curso é in-
no dja e na hora apropriados. os CSJ)()SOS dirigem-- para junto
de um la go e plantam um arbuscocada u m - a mulher, uma fi- lélTómpido aidilosamente e antes do, <empo; t m resumo, rudo o
gueira dos pagodes, o marido, uma ruangueira. O pl otio é feito que.e, tudo o que é vivo e crí<Jdor. em estado de .regeueraçãooon-
com um verdadeiro ritual, precedido de banhos. A n.n.1Jber liga L(o\1a, se exprime por sim bolos vege1 ais. O COSàlOS é representa-
o ,ronco da ârvorc Vepu ao tro1100 da ár,.•9re IU3Cho Arasu. de- do sob a fonna de uma árvore p0rque, da mesma forma que es•
pois- re;ia•as tom âgua do lago e faz oon1 o marido a prudokshl· ca, eteregener«--sépériôdi<·ame11fe. A prima\·era ê uma ressutre.i-
na, a 1narcba ritual 1>ara a dirC'it 3, 27 ou 108 vezes. Se uma ção da vida universal C·, por conseauio1e, da vida humana. Por
das Arvores morre, é mau s.inal. E por isso que se tomam todas este ato cós-mioo, todas as forçãS de criação rccncootranl o seu
as medidas para que elas sçan\ normaJmentC': rodeiam-nas de vJg;or inicial. A vida é integralmente reconstinúda; tudo co,neça
uma battk.a<la. ele. ConsiC,era•sc que o seu casameflto desc,mpe.. d e n o v o ; cm rc.çumo, repe1e,se o ato, primordiaJ da criação oõs,.
nha um grande )XI.piei na fecundidade da mulher. Ao íim de certo mica, porque toda a regeneração é um no,;o nascimenco. u,n re-
tempo, estas ár\'ores tornam-se objeto de um culto, sobretudo gtesso a esse tempo mitico e:m que al)areceu, pela primeira vez,
quando se põe junto dos troucos enu·ec::ruwd0$ um ,u1gakkuf que a forma que se reienera.
rei>rsC'.nta duas cobras tntretaça s. esculpidas n;;a_pcdra"ª· 1\ idéia de regeneração do coletivo b\lntano Pot utna partk -
Este costume, praticado em g.raode escala na lndia, $Upõe paÇ".Jo ativa deste na rcssurt o da vegetaÇão, e portanto na r
un)a iníluência possi\•el da união nupcial de du:is esP.é(ies vegc- gcncração do cos1nos. está lmplicita cm numerosos rit\11'.is d.ave-
lais na (ccundidade-da mulher. ·em ouuas regiões da Judia, oca- getação. Na! tradições populares européias coll.Ser,•aram-sc ves-
samento das plant;;as cfelua-se juntamenteoom o das pessoas.No ligios ou fragmentos dos cenários arcaicos por meio dos quais
Pendjabe, qu"ndo um homem se casa pela tercdra vez, celebra. se apressa\'ª a ehegada da primavera ornamentando uma ál'\•Ore
se o ca.santento de um t>ambu (Acucia arabiCà) ou de unla A.sele,, e Jevando-a depois f f l l cortejo co111 aparato cerimonial. Na Eu-
pia glgonrtsa1. No Nepal, faa-,c o casamento da jo, m newari ropa, ainda há o costume de trazer u1na án1orc da Rot'esta na _pri.
com um bel. quando aquela ainda ê menina: o csp0so é depois ,navera, no oomtÇo do verão, ou -pelo São João. e colocá-la no
lançado à água' . Estabelecem-se ainda relações nupclaiieatre centro,da aldeia; ou o de se ir ao bosqu -co,tar ramos verdes e
as árvores por outros moti\•os: a boa sorte e a opulência co)eti\•a. pcodurâ•los à poeta de <:asa para ,garantir a prosperidade do seu
p0r exemplo. UIJJ çostume paralelo ao casamento das árvores é dono. Tal tostume lcm o oonte de '"árvore de Maio n ou May-
o.seguinte: e:otre recénl-<aS.."ldos, nas pri:mciras noites do casanttn- pofe151. Na lnglacerr.l, grupos de rapai.es e moças andan\ de ça.
to, ooloc.a-st um pau (daitd(I) da ár\•ore Udumt>ara, que repre- $3 ein casa. no dia primeiro d e n1ajo. com ooroas de ramos e de
senta os úandha,,•as, que, coo,o $e sa!,e, gozavam do jus prünae llor . cantando e pedindo presentes. Nos Vosges., a cerin1ônia
noc1is'W'.>. Supõe-se que a força S(13.N1da er&jc., e Jecundadorn dos realiza-se no prime.iro domingo de maio. Na Suécia, pôeln,se
Oandharvas, i.neorp0rada oo pau, c.owuma, antes do cspo.ço, a ''n\as1ros de faio'' (1'.faj stãngqr) nas casas, sobretu<lo no so1stí-
união com a noiva. cio de vtrão; são pinheiros desprovidos de ramos e.decorados com
11ores artificiajs, etc. Onde quer que se. encontre c;s1e cerituonial
(da Escócia e da Suécia até os Pircneus e entre os eslavos) o ''mas-
113, O ''!\talo" ou "l\taias'' - Vimos cot»o a.s hvor-es ou tro de l\•laio" é uma ocasião paro d.ive.rtit.nentosoo)ctivos que. aca-
a vese1ação encarnam sempre. a viéla inesgot.i\'el: o que con·es,. bam c<>m uma dança em volta do m.astro. Os principais !Xl(>é:is
2S2 TRATADO DE HI.STÓRIA DAS REL!G!ÔSS A VRGE.'TAÇÃO: SíMBOLOS E RITOS DE REt\'OVAÇ-.,iO 253
cabem., aer.llm.ente., às crian e aos jovetLS. a uma ftsta da pô- \"O do ano, no nt de maio, pelo S!io João, etc.). Ora, a ánrorc
ma,,era mas que ) como quakjuer manifestação dc,ste ti p o , parti- ou o 1nastro quclmado cerimonialmen1e adquirenl a_sua efi cia
cipa 01ais 01,1 menos da orgia (§ 137). pela simples regressão em vo1ência, pelo reto1'DO ao es1ado dt "se-
Um autor puritáno ing.Jês, Philjpp Stubbcs 1'2 , <"oodena com mente" que a queima realiia.; a ·':forç.a•· que eles repre.scnuim ou
indignação essas sobrc,•ivên<:ia$ pagãs-, porque, dii de, os jovens -i,ersoolílcam. niio podendo já rnanifcscar•se de 01odo formàl.
dos dois sexos passam a noite na noresta, com Satã por Deus: concenlla-se na -cinza ou no airvào.
e quando lt\iam para a aldeia o "mastro do 1aio 11 (11this stintyng Muitas vezes a chegada d ·n,aio é figurado não só POr uma
ydol r.ulter") daoçam todos en1 volta deJe u1na dança p3$â. Ape• árvore ou por um mastro mas tan1bétu por figuras antropamór·
nM um terço da.ç Jovens entram em casa "undefiled"'*'· Não ficas, decoradas con> foll,::13,em e florts, e até por urna pe.ssoa de-
obstante a resisténcJa da Igreja, " a fes1a de r,.1aio" ou "'?vlaias" terminada que encarna a força da ,·egetaÇào ou ,1ma das suas tna-
continuou a ser ceJebr.ada. As profundas trwsfonnacõts sociaJs 11ifesta,ções míticas. É assim que na Baviera do Norte se leva cm
tan1pou.:o conseguiram abolHa: mudaram-lhe apenas o no 1ne. procis.'iâo a1é o Cffltl'O da akleia ·uma árvore \VaJber e, sob unl
"'º Périgord, e em outras regiões, o "árvore de Maio'· 1.or00\.1-se disfarce de palha, um jovem, também <:banuido '"Ylatber''.
u1n s1mbo1o da Revolução Ftancesa: chatnam-lhe " a itvore da Coloca.se a ár,.·ore dian1e de u.1n !botequim e. toda a aldeia dança
Liberdade", mas cm volta dela o..c: camponeseJ; dançam as mes- em volla dela; ojove.m \Vti.lber não ê mais do aue-unt "duplo''
mas rondas arcaicas que lhes íorrun· transmjtid.as pelos antepas- antropotnórfico das forças da vegccaçâo, O mesmo se dá entre
sados•&.1. O dia printeiro de- maio é celebrado hoje como dia do os esla,;os da Carintia. que, poI ocasil\o de São Jorge, decocao)
trabalho e da Ubcrdadc: para a mentalidade moderna, <Sta festa u1na :it\'Ore. ao mesmo tempo que. cn"otvcm oom rao1os verdts
cotlSefVa eru. patt o mi10 da regtueração e da melhoria do btm- um JOvem. tambCm chamado "Jorae \'erde''. Depoi!i dos cantos
estar coletivo, mito comum a todas as sociodadc:s tradicionalistas. e das danças inevilá.,-eks ein qu.alqll('r fe.sta da pri.mavera, unla Una•
Eni muitas ceaiôes., por ocas)âo da deslocação .s-0Jene do aeu1 do "Jorge \'erde'', ou mesmo o prôprio jovecn. é lan(ada
" 1n astro de ti.iaio v , a árvore do ano anterior é queimada'u. A à água. Na RUSiia, a árvore desapareceu, e ;{Jorge. Verde" só se
consumação da madeira pelo fogo ê provavctn1eaie U1Jnbéin um apUca ao jovem eofeitado. Na fng.Jaterra, para a fest..1 de maio.
rito. de re3enecaçâo da ,;,ege1acâo e da teoovação do ano. potque, "Jack.in-the.greeo", limpa-chatnjnês enfeilado de folhagem e de
na India e na Antiguidade c t m c a , queimava·sc uma árvore no bera, dança diaott" de $J1.lpos de IUl'lpà-cbamittb . ..-\pó$ a dança,
con1e90 do aoqlU, A. celebração do novo ano e :.I' e9usumaçào os limt>a·cba.iuinés fazem o pedidório entre os assisientes•SI().
da árVore pek> fogo são, freqüentemente. oa Índia, <x.""Mião de Aliás, iodas as ccriroôn,jas de maio <enninan, com uma dsn·
orgias: é o C 3 S Q dOS'biyar das Provincias Unidss (AS:ra e ()udh), ça de presentes. Os jrl.lJ)OS que pncorrcm a aldeia com taLU.ljeüS
que coloca,n fo30 ua át\10re çabnali e terminam com uma org:la e flores. quer levem cm cortejo fig:uras de flotes, quer sejam per·
coltti,;a 1&1. A clnzá de1ta árvore fica càrrcgáda dC' propriedade:$ sonificações da vcgecsção_. recoU1e1n as prendas cm cada casa (atÇ
apotro(Xticas e fertiliiantes. Protege das doenças, do man olhado, me$JT\O essas prendas têlll um caráter tradicional: º"os, frutos se.
dos espíritos maus•'3. Na Europa. as cinz."IS do ''ma.saco de cos, certos bolos, etc.). Os que- recusanl sâo ameaçados em verso
Majo'' ou os tições no Carna,·al e no Natal são espalhados pelos ou cm prosa, segundo o cerimonial em uso: que não tcohron boas
campo$ para favorecer e au1))entar a..s colheitas. oolh.ei as. que o pomar não dê- frutos, que a vinha nâo produz.'\,
ludo isso set.'Cp!ica se oonsiderat"los q_u.e$e trata de um mes-. etc ... 1O grupo arroga·se o direito de injuriar os avarentos na sua
mo complexo ritual: regeneração da ,...egdação e regeneração do qualidade de mensageiro da vegecaç.ão: por um lado, porque a
ano (len1bremo:s que o novo ano. para muitos po,.·os do Oriente ava za é pre;udJclal a toda a coleti,;idade e porque, num mo.
an1lgo, começ.ava a primeiro de março). Atribuem.se os \!atores tuento dramático como e o da ch.eg:ida. da prima,,era, é preciso
mágicos e fc-rtili.zantes do mastro do sacrifício às <;inzas e aos que a substância vital, a ;"1Jimem.'\Ç:ii.o, circ.ule com generosidade
carvõcs 139 • A sua "for " C devida à sua scrriethança conl um no interior da oofetividade 1 para promover de fonna Dlág.ica o
pro1ó1lpo (dnza de uma árvore queimada rimalmenw no com circuito das r f'·as cósmiÇ!\$ Qç snl;>sltncia ,·hal (rcrdura, rct?a·
1 2l4 TRA7AD() DE FIJSTóRIA DAS RBLJGl0f1S
lutas cont.>:ursos). Este cerimonial tem o seu fundamento numa do Badojak, no Natal, no Ano Novo e-na Epifania. O l3adnjak
inruiÇão global do sagrado biooós:mico que se manifts1a etn to- rude váriQS dias a fio cm casa e a sua dnza é dispersa pelos cam-
dos os n.íveis da vida, se dcscnvolve. s esg?lª e er't ta . P para os fertilizar; também traz riqueza e faz aun:ientár os re...
riodicamentc. As personificações desta c aUdade bt<>?Osnuca sao banhos. En1re os búlgaros, o Dac3njak é mesmo objeto de oeri-
poli1noí'tas e -marían1os tentados a d1·zc-to- pro.vi tl.l.s: n, 1hônias com inccnso, ulll ra e azeite; este costume, muito antigo
"gfnio" da vegetação aparec t as ve-Les, por uma cr1açao m1t ea, nos .Bálcris, e.,;tá espaJhado por ioda a Europa. o que confirma
vive dif undc-sc para t m squ1da dcssparCCC't. O que se n1a.o1em, o seu arcaisn1o214.
1
0 qu e é prhná.lio e permanente. é o "poder" da \<c-getàçãô, post_o 6videntcmen1c, há regiões onde a IU"ore é queimada anda•
à i>rova e controlado ooni igual eficácia nllnt ranto: numa cfíg c u,s difercn1cs. No 1irol. é na J)(imc.ira qulnta-fcira da Quaresma
ou nuo1a (X'rsonil'icação roitica, .l\1as en nar-nos-, s atr1- que se leva uma acha em prociMão,solene; na Suíça, e na véspera
buisscmos um vtilor rçl,igioso mais aut nuoo a um cenmo al que de Natal, no Ano No,·o e no C"anlavaJ. Mé:1n diS.$0, o oerimonh'd
se pr0<:cssa cm torno de um persQntll(e,n 1l1Jco (cotno suu- do transporte e d."l queima da "'acha de Cri.sr.o'', do coiendeau
bonko. por exemplo) do que a \un cetlt1lon1al cm ue nti.o f aura ou da âf\•ore de Carnaval (no Ocidente) Cexecutado pelos n1es•
senão um shrai (ramaien,, "!,..laio''. ecc.). S preciso .atrtbutr es,. n1os petsonagcos da introdução d.o ·•ri.taio' ; encofltramos aJ o
,as dlftrenças a diferenças na pacidade m!ti os dJVe.t'S?S gru "rti" e .a "tainha'', o "mouro",<> "selvage1n' 1, o ''bobo'', etc.,
pos huinanos, ou. muito sin1plesmente- ,. à histona. EMM d1f«en• como enoontramos ,ambém o$ mesmos personagens dtamáricos.
ças não são, cm todo caso, muito imp<>rtantes. Por toda a parte. cotn à mesma árvo·recerimonial, no momento das núpcias. Lill.ng-
cnoont.raolos a mesma intuição tw1darnental e à mesma tendên· n1an pensa que todos os costumes gue consistem cm Je..,ar solene•
eia para celebrar o acontecimento oósnüco ttum microoosmo, p.l.fa mente lima árvore e Queimá-la del'iva.m do costume antigo de qooi-
oelebrá•k> si111/Jo/ü:amt11te. 1nar às árvores <lo primeiro de maio, quer dizer, no coo1eço do
O que in,porc.a, insistamos, n o é son1entc a ma,níftSf«JÕO Novo Ano. Em cenas regiões (BáleliS). o costume "erlfica-se pe.
da fo(ça \•egetativa, tll:J.S o ternpo em que ela se realiza. Nao é las festas do Natal e do A.oo No\'o; e01 outras (Ocidente), oco
s6 um aco1n«;io1ent.o que tem lu,aar no espaço m. t_am . o lume fixou-se ·na 'T rça.fclra Gord:a (Carnaval) e de is no Pri•
tempo. Orna nova e1apa começa: rtpece--se-o ato 1n1c1.al, m_1t11.;0. nieiro de maio. no Pttitccos1es e n,o São !oão2•s. O que interes-
da regenccação. é p0r isso q\le TI. encontra1nos o cer11non1al da sa sublinhar aqui é a signifi,cação cósmico-icmpotal que d.nhti (e
ycgetã(ão - em difcr<nte, regi s e em diferentes épocas- ce, que-consel",la, ainda que·de forma atenuada) este C'Qt11me.dc quei•
lebrado entre o Carnaval e o São João. Não foJ o apare-cunento mar ª! ár"orct. A Queima era e contiJJua a ser um ritual de rege-
real da prin1a..,cra q criou i? rit:UI da \'cget!çã ; uào se trata 11-eraçao, de recomeço e, ao 1ncsmo tempo. de comeo)oração de
do que já foi des. oad por •(rcli.g1ão narurahsta m s de 113 um gesto p1imordial. realiz&do "M q uclc te1npo". O \'alor mágico.
representação ccrunon1al que se ad!ptou se.a,undo as: c1rcunstao- ve;eetal passa para segundo plano ;ne.ste cerimonial: o seu \'alor
cias às diferentes datas do Càlendáno. (\·las .rcpreset'l ac,'l.o co/1- ,nànifcsto é o de comemorar o ··Ano Novo''. Pockrlruno.s, pois,
se:1:..,0u, por toda a parte, a otrutura lnc1-1l: _cta e uma .e. con.cluir que-, neste conjunto ritual, a concepção teórica., metafi-
a11u,tf o do ato primordial da regcneraçao. VullOS.. além d1s· sica, precede a experiência ooncrcta da vinda da prin1avera.
so, que se queima o ·· taio'' do ru.o preccd;nte quando cbesa
a no,;a árvore, que 1oonbCn1 se queu'l,arn as imagens o Carna-
val. do tn,·erno, da t-,ione, da Vcgetitção, e qoe, mu1a.s ezcs, 12". Síntese - Não devemos <leiitar-nos perturbar pela ri
a cinza daí resultante é procurada pelas ·\•irtudc$ germ111auvas e quc:za q,,.ase ilimitada das hierof.a.ttias vegetais. Sua abundância
apotropaie-as. Que ela encerra. Liungruao observou. no cntM1?, e ,,ariedade morfológica são r.. cifmc:nte redutíveis a u1na estrutu-
que se Queimam Lambém certos troncos de t\•ore. em outras c1r- ra oocrane. Para meociou.-ir apenas alguns dos fatos que ac:.aba·
cunstà11cias: 1>0rexemplo, os tslavos que \•1vcm nas t't$:iôes a su1 mos de 1X1ssar cm reviMa, lembremos que se torna evidente que
do ()a.núbio t.-Ostu1nain queimar uma i1rvore ou um ramo ebani.A- a principal diferença cntrç. por e c:mplo, a árvore có$mica e a
TRA 7i1D0 J'J/'l lfJSTóR.íA D.AS P.ELJQIÔE
S ,e JlliGliTAÇÂO: sl.lf8óLOS E R/1()$ DE RE!lOYAÇÃO 26;
264
procissão da .árvore- de "t\·faio" é d ida, en,idtograma cosmo-
primeiro haaar, à r,11 s ai ·;; OlO vcmal, . casameatr, das árvores, etc.),
: á ? sagra as 'etc.) ..ri..1;:is nunca houve uma
difetença de modalidade- que cxisle entre um
lógico t- UtU rilua/. Um rit.0 ••raliza-soe:" por
de um idoogrwn.-i, um mito ou 1.uua ler.da.
fórmulas. dife(CnleS
Mas lodas-essas fór·
é a manifes-
"r4:JJgião da e.seta
11t1s-s>lan1as ou nas f r .., r
ur:.i: e!:vame _nte
tI:
e•• nlaojpulação t'ltuàl da \; i da ve o::,ativa , uvesempre, mesmo
concentrado
que a homenagem
mulas exprimem a n1es.ma "verdade '": a vegetàç{lo
vida que- se- (egenera peri()o(lic amente. 111111r"(ligíões mais ''es 'ali.W.d as.;, (por ,exen11>lo. nas celiafckt
1ação da rea/J<lode vi\'il, da oósm! a hopccl
ihl fc: c-0 11didade) e a n1an1pu.l o rhual das ou-
os cerimoni ai$ primaver is
Os ·1n itos das árvores antrop0g!neas ,. sobrt. a ltll·• for-ças que,e1n
icas. Omen Sé c:hama "cuhí>$ da ve$«ação" sâ0
dos simplts, ou
da vegelaçJo, as lendas sobre a oti tm
a exprimir, sil.n· •1t11ull propriamente r!luai s sazonais. que n.\o se explica m em ne-
u·ansformaçtio dos herô-is em pi.antas, limilam-s e 11ium caso pôr uma snnplcs hierof.-.n.ia. vege1.ai , mas se enquadram
bólic:i ou draroalicament.c, uma mesn1a aúnnaçâo rtalldode teórica: ave,
que-, n1 re.prcsenta õe-$ infin.it net Ém rus complexas que envolveol
gc-tação el)carna (ou significa, ou patcJcipa cm) a o conjunto da vida bioCÓ:,m_ec, . el.mesmo, por vez , diffctt di:S·
st tegenera manifest ando·
se í n vida, q_ue cria $Cm se.exaurir, qw: lfn,auir os e-lenlentos veaet:; os ementos cultuais eo) rtlação
se em formas .scm-n\\roero, sem ll\UJ se-ttcém·na C$gOH\r. Tocar num.a con, a Te,rra-1'-l e • ou · com Eros, o c:uho dos antepassados o Sol
séido, implica
árvore para 1er filhos, ou para protcgier o inoorporada
o A ir, N ete, Nesw. nossa exposição, e.scolhem los ;
da ,wlidade e da Yido opr ntn: º· :•os Js_olados 1-,ata me-lllor e\•idenciar a ('struiura das
unla oerta concepção global te implícita no ideO·
na \'egetação. conce-pçâ o que está i.au:ilincn hicro(ao.Ías 1,cge!aiS. ·las, oroo sucede sempre com a c peti n
grama da árvore C(lsmica ou nos mitOIS da .tr ·Qrc de vid.-i; num 4:ia reli ios ª arcaica. CMaS diversas hierofauias (veiteação 1'erm
caso colno no c:nuro, a vida matl.ifest: a 4
se através de um sim bolo
ofa
rvnr j 1
:;;:;
! U. ' o e já .organi.zad s nu;,;
vegetal: o Jl)esn10 é dizer que- a vcgecaçâ o toma \lnl.:rhier rt s;t';!;,;' "Jti 1 = os_ vegcta1.s.e prestando ho.
4
gá'mano s tlsimbor
', ismo e o ntuaJ que . tomam cransparcn1es a r
lho poder . aos olhos dQs antigos 1
"repetisse" YSQ(lrnsil. dli;i natuieza e o coroeç:o de utna •',,ida nova" ' quer d'egcne1a lZC'r, ª -re:pe-
ç-âo
se participasse desse estado atQ\létipo se de t bétula se torna, pela l 'ão perj dica de uma nova criação.
Da mesma fonna para os altaioos, qualque
; aomalâ..fa, ritual- Não fu:cmos menção nesta rápida expos:iç ; · ão. dos pretensos
força da COLuag:ração, a "á.rvore d<>mundo'' realidade. aos di- ''deuses da ec ..,. ·• pc1' a s1mp
• v-eta..,.o • 1es razão de- que""'ª ........, tal dcno-
Lnen1c, cerimonlal'ro ente. o xrunã ekva-se. na .
nlJnação se presta a de.pi · · f s es â cpifatliil;S v ege.
,·ersos céus. portanlo, mais Uti de «'rtas divinda de-s ::t;ii: t: ! · z; estas
O que se designa p0r " c u hos da -.·e:ieração" e, 1
complexo do que.a denomin ação deixa 1rans1:>ar ecer.
rese.nera
v g.etação. ê a ,·ida jnteira, ê a natureza que se solicitada . As for-
Atrav($ da
por mlil•
11111,mas a uma bierofanla veg.c(aJ. Est es ! u s ; : : : :
CStino, auerevela
llli-!doq
u ahierofaniavegeral: :lSua · "fonua' '
.sua modahdade de sei.- superam a.sunp ks reveJaç,10
!':
•_ da
tiplos riunos, que é ''honrad a", pto1novi da, rCnJídade viva, da vida que li re ª se
Na rnedida em t
ça.s vegetativas são uma epifania da vida cósmica. e crê poder utilizar
co.olp!oendcr r, que pode ser um : : d' : : ; ; . Pa-eciso ,
que o bon1e1n eslá .lutcgrado nessa natureza pnn,euamcnte, saber o que é, na realidade, uJ',,d:u s' ;
seus próprios fins. ele n1anipula os "sinais" ve,
essa vida. PQ;ra os
--
IX
A agricultura
e os cultos de fertilidade
em seguida pela sua pr6prin magia - f()f in rpxetado mais tru-de acreditam que a mulher que a amarrar fi<:ará grávida. Nas mes--
como urna oferenda às perronific:açOes mllicas dai forças da ve,, mas: rea,.lffl, assim co1no nos pai ses jerruânkos, é freqüente o oos•
getação e aos diferentes t$píiitos oonccbidos Cl"ll re "âo direta tume de fazer ·um feixe enorme com as ül6mas éspigas para ga 4
01,1 indire1a com da. rantir b?a oolhci no ano ;'!Cguinteei por isso que no tempo das
Mas muito mais freq(l(nte e malsdra.mádco é o ritual da. oeifa -senttnlelras se misturam com as semcnkS grâos dessas cspig.isll.
da primeira ou da úlüma gavcla de- om csmpo. A ''força" d to-
d3 a VtS« ãô «"side nc a gavela, d:a mesrua forma que está con,
centrada cm algun1as e.spigas que se evita oeiíar. tâs esta pri- 119. PersonJtet:açõe.1 odd s - Bm todas essas crenças e oos 4
mcif;l ou \'Íhima g.avcla, saturada de foi sairada, é valoriz.ada tum nos eocontraruos perante o "poder" da colhella rtprC$CO•
de maneira conuaditóri.i.. Em <:tnas regiões. os homens apJe..'-Sa.ill· tada como tal. conto ''força S."\St'ada". e não Ltansfigurad.a nu 4
se a ccifâ,Ja em priJneiro lugar, m1 outras 1odos os lavradores ,na pe-rwnüjcação mitica. Mas existem huímeras C(rintônias que
evitam ceifá-la; num caso, é kvada e1n cortejo até a proprieda- ·Supõem, de mancjr.i ooais ou menos manifcsU'I, um ''poder" per-
de. noutro, ê lsnçadi para o campo do ,•i:tinho. Não há dl1Yida sonificado. As figuras, os nomes e a iotensldàde d s personi-
de que o óhimo feixe concentra cm si tnCSJno uma fO(Ça sagrada, fic.açõcs variam: "t.ilàe do trigo• nos países ansJo.gennãnicos,
propicia ou nociva: os homens disputam entr si quer a sU2 apro- ou "Grande mà'e''; ·· tãc da espiga", "Velha <Lissoluta", "?,.1u 4
priação quer a sua expulsão. Esta ambh•afêncis não ooniradh: a lher velha", "Ancião". entre os csla,,os; ''Mãe da oolheila", "O
estrutura do sagrado, mas ê. n)ais provâvel que as valorizações Velho''. entre os árabes; ''O Ancião" ou "A Barba" (a barba
controditôria$ da última gaveJa seja:m devidas a ceo.ãrios parafe. do Sa vador, de Santo Eli.-is, ou de São Nicolau, enu-e os bútga·
los cm relação com a manipulação e a <lisiribuiçào do ''poder-'' ros, servios e russos), e 1antos outros nomes afflda qi.té se dão ao
encartiado oa ,•egetação. Os ale1nles fazem um ftixe com as pri- ser nútico que se supõe cs1ar oo último feixe de trigou.
meiras e a$ lilti1nas espigas e põem·no sobre a mCS!, porque isso Obscrva se uma tennitlologia e concepi;õcs sintila.res nos po-
4
trai fdicldade t:. Para os fincses e os estonianos, o primtiro fe-i 4 vos não europeus. Assim, os perua.nos pensam que as plantas úteis
:<e - que ê levado com s:rande. pompa à propriedade - tr.lz. a csUi.o animadas de uma força di\'in que lliés assegura o c.resci•
bênção p..'lra toda o casa, protege-a das doenças, do raio. etc 4, mento e a fertilidade: a fig_ura. da '}.fãe do milho'' (µro-nu1nt(I),
como também protege a colheita contra os rotos. Também está por exemplo, é feila de pés de rniJho de Luantira a parecer uma
muito dís ª4o Qçostunw <te guar<lar o priJnc.iro feixe de tri· mulhc-r, eos indígenas crêem que "co1no mãe, ela ten1 o POder
go n3 principal casa da propriedack durante- as refdçôes de u,na de produzir muiio fojJho"lJ. &1a figura ê conservada até a co-
noite il'lteira, como .sucede na Alemanha, na Estônia e na lheita seguilne, mas, por voha do meio do ano, os "feiticeiros"
Suécia 111•Em outros lugares. dá .se a primeira gavda 30 aado pa
4 4 pergu1uam lhe se ela. ses.ente com forças para chegar ató o (iru;
4
em el'las rc.g.iõC$ ds Ak'man.ha por meio do J)duteiri> feixel 1• Na (Ot(luese a faseou dela e que, se. não se conseguir 3 sua reintegra.
Finlândia e na Estônia, osceifeil'OSâpreSSãm ecm che g ar à Ulli• '.".àO, a colheita se: perderá. t por isso que se pronu,lciam oerw
ma fiada,de trigo. Os fíneses ébamsm-lhc .. berço de cri3.nça" e fórmulas dirigidas à 11a.Jma 11, à força que parece já não estar- ati·
274 TRATADO De Jf!Sf'ól/.JA DAS REI.JGIÔES AAORICUt.TURA EOSC-ULTOS DE FE.R.TllJJ>A))E 275
va na planta: ''Oh. \ e1n, Ke!ah do art'OZ.. vem!, vetn piara o ct11n•
1 dos o ceifeiro que cortava a Ultima gavcla ou o es1rao3eiro que
po. \'em para o arroz. c·om sementes dos dois sc:xo.s, Vfflt! Vem P,.'I.SSilva pór acaso ao longo do campo. ou o próprio fazendeiro.
do tio Kho, vem do rio Kaw; do h1B3r onde el.as SI! enoon1raUl, Na uócia, por cxe1nP10. a jovem que ccifa,·a as últi1nas espi$as
vem; vem do Ocidente, ve1n do Orience. Oa .g,argt'tt'lta do pá.ss-O.· devia .anlai'1'á.Jas ao pescoço, lc\13·1.as p;,:ira casa e, na fesla que:
ro, das mandíbulas do mac.a<:o, da ga.rganla do clefanté. Vem da se fazia no fi.m da ceifa, danca1· ootn es1a efigieJ2. Na Dinamar
nascente dos rios e da sua cmbocad'ura. Vcll\ do pais do Chail ca, . ª ceifeira danç:,l con) o manequim formado com ;1S óhirols
e do Binnan. Dos reinos longtnquos.. de wdos o:s oeleiros, oli, esptJ,as. e chora Porque se con$idt·ra·"vi\1V'1 11• tstaodó tóm efei-
vem! Ob, Kelo/1 do arrQ'Z. vem p:3ra o arroz. " n to c ada com um ser 1ni1ico destinado à morte".
Os mittangkabauers de Sun1atra pensam que o arro e pro- As vezes, testemunha.se grande respeito para -com os repr
tegido por um esp{rito fcn1i.níno chamado Sanins S.:irl. uunbêm sentantes humanos do .,pode(" personificado na- colheita. Ou-
designado por indOl!a podi (Littrabneote, 'ºMãe do arroz."). Cer- tta.'l vezes, pelo oont(ário. zonlba-.sedeles. Esta ambivalência pa•
lOS pCS de anoz, cuJtivados tom e;speckll cuidado e cransplanta 8 roce ser devid3 à dupl_a fuoç-.ão Que o que ceifa as últ.iJnas espigas
dos para o meio do ca.mpo, representam ts1 iltdoeo padi cuja e desero enh ru:: identific,ado ao "espírito" ou ao ' ' p o der"
íorça exe1npJar .se cxer-ce de rnat\e:lra coativa e benfazeja na agtt !a.. ele e fc.stcJado; oous1derado, pelo contrário, (ORlO o que
oolheita . 0 $ lomoris das Celebc5 também conbcc.:1» um:i "n1ie dcs,ro1 ou tua1a esse poder-, ele é.olhado co1n hostilidade e amea·
do arroi•• (ineno f)(Jef". Na península mélaia, , v , \V. Ske31 as- çado de mo t . Assim, no$ dilere les p.1Jses germânicos, d.aquele
sistiu a c.-erinlôWas relacionadas cóm a "}vlãc do arroz. criança". que deu Q ultimo cone conl a fo1<:e di1.-se q "feriu o velho''
que pl-ovam que se assimila. d\1rante tm di3S, a mu1her do fa. ou "apanhou o velho º ; de. tem d e levar o mru)equjm de paJba
-zcndeiro a \ltna mu.lhel' parida, a p.artir do moo1e.nto em que a a é a a1dcia. no meio de risos e a:racejos de todos, ou então de\•e-
·"ahua do artoz criança'' eru.rou ern e.asa. Nas ilbM de Java, Bali ra lançá-lo, sem ser visto, no can1po de um vi2.inbo que ainda não
e Sombok, rc-alizam-seos noi\'<'ldos e as nôpcia!<: de .dois lUolhos 1 acabado de debulhar ! . Na Alemanha, o último ceifeiro ou
de arro J escolhidos er111e .is plantas Ul;tduras at'lles de seco â JO\·em que ata o último feixe são atados ao molho e conduzi-
çar a ooJbeita. O par nupcial t'. le\'ado pata ( . u a e posto na granJa dos à aldei oom aro,nde pómpa, sendo·lbes servidos os mélhorcs
" p a ra que o arroz. pos a mulliplicar•se:".,'· íta1a-sc, nesles U.ltt- ptacos do ftstim 3s .
mos casos. de uma mistuta de duas representações: a força que Na Escôcia, o óltitno feixe é eh.amado a ''f\.1ulher velha" (C(l/1.
faz ,nultiplic--ar a planut e a maiia fc;nili.WOJe do ,a&1un,:1u9. le.ach) todos se esforçam por evilar eeifá•lo •.com medo. da fo-
Dir-se.-la que está personificaçâo d • "ío a'' ativa na "ea:e. n\,e., Po1S que se crê- que gueln o ceifar lerá de sust-entar uma ve,.
tação se rcali:dl completamente quando os oetfeir0$ faun1, com lha imaginária a,é a _próxhna colheita*. Os noruea11eses cr m
as últirnas espigas, uma figura que- se assc:tnelhe o mais possível que skur k(l/1 (o ceifeiro) \•iv.e durante todo o ªf.K> nos campos
à fiiura humaoa, habituabueDtc: uma fia ora de m\dher, ou d eco . e, ser Mo e se nutre do ing.o d<, fazendeiro. E capturado no
ram mesi»o uma pessoa com palha, dando-1he o nome do ser mí- ultimo fc,xe, de que se faz. uma bo;nccs chalU;tda sk11rtk<1iP'. Se-
tico que seadmite-queela.reprcsmle: 3. pessoa desernpenha sem- gundo ouc!as fontes, a bonccs é lança.da no campo de um vizi.
pre u.m certo peJ ..:erimonial. Assim, na Dinamarca, a figura nho que ainda não tenha a(3bado de ceifar e este ê obrl.aado a
chamada " o Velho" (aa111melm,u1den) é etl.reh.ada oom Rore.ç e sustcntâ--Ja durante codo o ano. Entre os eslavos, pelo contrário
conduz.ida à casa co1n a,raodc dt.rerência. {\'las. segundo outl'as aqueJe que ata a ''Baba" (a mulher \'elha) éoonsiderndo uma J)eS:
fontes, dava-se \1ma forma hun1:tna ao llltimo feixe de trigo, re- soa f li , pois terá um fiJbo o .decurso do ano-1 1• Na região da
cortando nek uma eJbeça, dóis bra.;os e duas pernas, lançando-o Craoov1a, a ))essoa que ata o ultimo feixe ê chamada "Baba" ou
( D ) seguida no campô ainda não c ifado do vi.zínbo31• E.nu-e 0,1 "Avô"; é enfeixada com palha de 1n..ineira a lhe ficar livre apc,.
alemàes a •'f\11ulhet vcltul'' ou o "Ancião" eram lançado$ ao cnm- nas a cabeç e conduzida no '111hn,o t'"arro atea propried e on- 1
po do vÍz il1ho ou.enl!o le,•ados para casa e-conserv-c1.dos 3iC a co- de toda a família a asperge oorn água. Duraote um ano esta p'-S-
1.heita segui11te. Com est.e Str mítít.'O era.m, oo entanto, identifica- 'i9ª wnserva o 11001 -dc "Baba"l9• Na Coríntia o que amarra
- 1
276 TR.-tTAD0 DE HfS1ÓX.fA l>AS P.llJ.JGJÔE'S A AORICULTUl<A 6 OS CULTOS DE FlYtTIL1DAD€ 277
oi últimos fdxesi ,eo\lC)J\<ido com palha e J3nç-.tdo à iw.,a. Os b\11- E no diso:üo de Sleu.io; "Bateremos no visitante- oosn as
ga.ros chan,am ã úllima 8(1.Vela a ''Rainha do lritl().": vesiem-na ooss:is espadas nuru - com que tosquia.o>os campos t- pra-
com uma <:(ln'.llsa de 1uulhcr, desfilam oom tia pela aldeia e de,. dos. :.43 O mesmo costume se verJfica oonlra o estranho que se
pois JMçam-oa oo rio para gar:tnlircm a chuva para a colheita aproxima da eira da debulha: e agarrado, amafrado e :imeaçado.
seguinte; ou eal!io ql!cimam-n!l e espaUl:tJO a:s: cinzas no canrpo É provávtl que tcnhamos l;lq\Lf reminiscências de u,n cenário
para aumentar sua fertl.tidade'l>. rltual que implicava u1n sacrlffcio huLnaoo real. Essas rcmiois,.
cências não sopOem, no rntanto, que ,odas as sociedades agrá-
rias. que prHique1u .hoje a amarra.cão e a aroeaça de morte para
130. Sacclfidoi; lluml\nos-0 ç0$rwne de .uperair e lançar com o est.tanho apanhado nas imediações do can1PO ceifado te,.
à água o represeotantc da vegeta.ç-J.o lá w11i10 dissernínado, CO• nham praticado outrora o sacrificio hulnano por ocasttio da co-
mo o de queima, o booeco de palha e es!Xllll:l'J' as cinzas los lheita. ' é provávd que todas essas c e rlmôr das agricolas se: tenham
erunpos. Todos esses atos têm mu sentido ritual preciso e fazem di uudido, a panir de 3launs tentros - Egito, Síria, lesopotâ·
pane.de um c:.c.nirlo dr mático que foi oonservado iotato em cer.. nua - . por 3n<1nde parte do mundo·e que muhos po,•os só te-
13.S regiões e que, por si só, nos fará comp,ee11der o cerimonial nha,n incorporado fragmentos dos cenários originais. Já na An·
agrário. Na Snh;ia., por exemplo, se u111a mulher estranha pene.- tiguidadedâssica o "sacrifício humano" por oc.isiào da 00.fa não
tra na eira. ela ê envolvi.da em palha e clt31ll'-da a ''Mulher do 1nais <!O qltt: uma v ga recordação de te1npos antigos. supc·
ttigo", Na Vcndcia, é a fazendeira que dtSi!01penha te papel: rados havia mu,10. Assun, u1na lc!nda gr<"ga menciona Ulll bas•
envolta em palha ê k"\IOOa para 8 debulb dora e empurrada pani tardo do rei friaio Midas, Lityersés, conh ido pelo seu fabul0;$ô
debaixo dela; dep0is é relirada do meio das es1>iga; e estas são 3Pftile pt:lo gosto apaixonado em ctífar o trigo. Todo es.tran,-
de.bulhadas. mss a mulher é Jru1çada ao ar numa cobertura, co- gctro que passasse por acaso pertó dos seus campos era po,· ele
mo se ela próprl'a foss,e. de trigo qu,e houvesse de 5e .noer41, A obsequjado e depois conduzido oo·campo e obri.aado a far com
ideo.tidadc (nu-e o ''pc>der'' dos cereais e o seu repre.scn1an1e hu- ele. Se fosse venc.ido nest concurso, Lityértés amarrava·o a um
mano é, neste caso, compkta: à lavradeira sofre, sirnbolicaOlen- feixe, cortava-lhe :i cabeça com a. foice- e lançava o corpo para
.te. o drama do trigo, cujo "poder" t$l.\ ooooeoirado no Ultimo o campo. Finalmente, Héracles <lesafiou Lit>•l!lffl, ,·cnceu-o,
feixe e que passa pôr uma série de ritos destipado-s a l.'Cgeocr.i.-1<> conou·lhea cabeça co1na soa foice e lançou o corpo no rio fl.1e3.ll•
• a apla a-10, dro, o que nos kva a supor que. LitycrsCS faz.ia o mesJno oom as
Ei:n muitas outras l'tgiõcs da Euro[X). a.01eaç:HC de morte, suas v(tlmas-l'l. t pro\1ável que. muitos sécuJos antes, os frig_ios
gra<:ejru1do. o estranho que se aproxima do ca.mpO que se ceiía pr ücassem oom efeito um sactifieio humano por ocasião da c:ó-
,
ou da eira onde se debulha o tl'i.go4ª Etn algun1as regiões, lhena; seaundo alguns indícios, c.ste sacrilkio era igualmente (re-
qO.ente em outras regiões do Orienle meditcrr.·mioo.
mordem-lhe as pontas dos dedos, ciu:gam-lbe a foice ao pesco-
ço, etc. E.ln certas regi&$ da A1entamba, o desconhecido é-amar-
rado pelos ceifeiros e terá de pagar uma Jnulta se qui.scf alcao.çar
a liberdade. O jogo é aco,npanhado de canções que falam uma 1.31. Sacrificios hu.manos entrt. os a:a,:c:as e. os khoods - Te•
linguagem élat.-i • .Na PotnC'lânia, por exemplo, o chefe dos cei- mos provas de sacrifícios humanos para propiciar coll1eitas entre.
feiros diz a.Wm: certas popuJaçôes da América Cel)tral e do Norte, em algumas
rt$iões d:i Africa, c-,n certas ilhas do Pacífico e entre nun1erosas
Os homc:ns o prontos. po ulaçôe$ drávidas da fndla"' . Limi1.ar-oos-e1nos, para uma
AS foices s:Ao curv.is. ma1s cf ra 001npretnsà9 da estrutu.ra destes sactific."ios humanos,
O uie,o e: lf<'Odé e _pequeno. a Jeo:ibrar alguns exemplos, ,nas eo,n detalhes suficientes.
Tr,;11a-3e de ceifar o estrangêrol Sahagun dtixou•nos uma deseri1;ão rigorosa dos ritos do mi-
lho entre os astecas do f'i.•Jé.x.ico. Logo que a planta germinava,
278 rRA r:AOO DE HlS1CIUtJ DAS .REL!CJÕE& ;J AOl?ICULTUl<A e o s CULTOS DE FZRnLTDADE 279
ia-se ao earn:pa ''.pf()Curlll' ( l deu$ do milho' , quer <liu:r 11t'l'l re,. tcjado e 0$ pedaços enten-ados nos cainpOS'". Encontra-se o mes-
bento que se k:.vava pera tas..'\ e ao qual se 3presen1a-\1am oferen- mo costume de tsquartejar e <"Spalhar o corpo na terra .u:ada em
das em alimenios. coO'lo se se tra de uma divindade. A ooi- c:enas tribos da Âírica"3,
te, a planta éra 1t'·ad ao templo da deu.sa das subs11\n<:ías, Mas o caso de sacrifício humano agrícola mais conhecido é
Cb.ico1nêocoad, onde se reuniam moças que levavaru, (ada uma, o que era praticado, até. meados do século XlX, por uma lribo
um feixe de .se1e espjgai de i:nilho de uma c:olheíta aJltt::l'!or,_num drâvida de Beng:iJa, os khouds. Os sacrifícios crant oferecidos à
invólucro vermelho e borriladas cooo cuch1.1. O nome que sé dà- deus da Terra, Ta.ri Pennu ou Bera Pcnu, e- a vitinla. chamada
va a tste feixe-, çliiroluolotf (a sétupla espiga), desJsnava 1ambém f\•leriah, ora era compi:ada, ora era filha d.e indjviduos que tam-
a deusa do milho. As jovens era.o) de- três idades diferentes: pe• ·béfn tinham servido de vitinlas. Os sacrifícios tinham h.1g.ar em
<1ue11as, adolescentes e gràndes, e personificavam, sem dlJ ,ida, fesias periódicas ou cm circunstãnc:ins excepcionais, 1nas as víti·
de uma maneir:-i simbólica, aç etapas <lo erescinten.10 cio milho; mas eram scoo1>re volun1át'ias. Os t,..teriahs \'i"iam aliás bastante
tinham os bni.ços e as pernas OObcrt0$ de plumas vermelbas, cor felizes durante Jongos anos e C'ram considerados conlo seres con-
das dl\'indadc.<:, do mi.lho. Srtn «:timôn!.3, Qllt se,Jim.ilsva a ho· sagrados; dC"Sposavam outras "v(li11,a.s'' e recebiam "!-má porção
menagem à deusa t il bênçiQ mãgica da colhri!a alndl 1nal gcr· de terreno em dote. Dei ou cto:.:e dires antes do sac:rificio, cc:,Nava-
minada, não co1npOl'lava sacrifício. Era somente lrêsf!ieScS mais se o cabelo da ,•itima, cC'rimõnia a que o povo a.. lstia, J)()ÍS que.
tarde, q11andQ a oolhcita já to.v.i ,nadura, que uma J''c:m que o sacriíício ei:a oferecido, seawido criam os khonds_. no interesse
rep, ntava a deu..<:;.'! do 1nilli.o novo, Xtloncn, tra decapttada; este de todos. Seguia-se wna orgia indescritível - sintoma: que va.
sacrific.io abria o uso filirnentac. profano, do rnílho novo, o que mos ncontrar cm muitas fcsla.$ qu,e prendem à agl'icultura e
fazsupôr que a su, função t ' T i l mais riam te a de um sacri- à fecundidade da n tureza - e conduzia-se o C\•lcriah, cm 1>rocis,,
ficio das prithiclas, Qoando, sessenta dias mais tarde. acabava são. d W e a aldeia até o lugar do sacrificio, en1 geral un,a flores-
a ceifa, tiJlha Jugar um nôvo sacrifício,. Uma ooulher, que rc:pre- ta onde nunca entrara o tnachado. Agui, era cOn$ágrado: ungi·
:sentaYa a deusa Toei, "Nossa Mãe'' (a deusa do ,:njlho oolhido do com .n,auteig,a de.rre.tida e açaJ'rão-das·indias. oroado de Oo-
e utili2ado), era dec.'l.J)i1ada e esfolada i,ncdiatamcnte. Um sacer r s, o 'f,.feriah parc<:ia idcotifi(a.f•Se à dh·indade. Porque o P<>"º
dole envotvia...se com a pele, um pedaço da ooxa era levado o se comprimia etn volta deJe pata lht. tocar e as homenagens que
T ,mplo de Cln1eoil, deus do n1ilho, onde outto figurante fa?.Ja lhe eram dirigidas dHicihnente-.sedistingui;un da ador çâo. A rnul·
com de uma mást-âra. Duran1e ª1$ 1m;i sç1n@llas, este era lr'3ta- tidão dançava cm volla da vftiola ao SOin dt música e dirigindo-
do cotuo wna mulher parida., porque, J)fovavelntent.c·, <>sentido se à terra, exclamava: ''Oh. Deus, nós te oferccco1os este sacrifí-
deste rito t:rà que Toci, um3 vez morta, renascia no stU filho, o cio; dá-nos boas colheitas, boas escações, boa saúdeF' Depois,
1nilbo seco, nos grãos que iam servir de aJimento dura?te todo diria, dirigindo-se à vftim.a: "Nós oon1pramos-te, não te tOJ»a•
o inverno. Seguia-se un1a série- de cerimônias: os 9,uerre:1ros des- n1os à força; agora, sacrificamo..<.-te de acordo com o costume e
filavam (Toei era_. ao tlle$JUO tempo, como diversa$ dh•indades ntnhum pecado caii::i sobre nós!" As otgías, suspensas durante
orientais ds fecundidade. diYindade da auerra e da mortt), a noite, reQOmeçavam de manhã e dura,•am até o mcio-<lia, quan-
executavam-se d.1.uças e, por .ficn, o rei, seguido de todo<> povo, do todos se reuniam cm volta do 1eriab pata as:s:istil' ao !iã!.Tifi-
Jan,;ava â cabeça do que ref)teseutava Toei tudo o que tú)h.l à do. A morte podia.ser consw:o.ada de diferentes lnodos: drogava-
mâo recirando-se imcdiatamcnlt. Parece que Toei se transfor· se a vitima cc:,m ópio e em seguida 1rituravan1·sc•lhe os ossos, ou
mavÂ, pOt firn, em bode.e,cpiatório e que to_mava sobre si, quai r era estrangulada, ou cortada cm pedaços, ou ainda queimada len-
do era e:.:putsa, todos oo pecados da oomun1dade, porque o fiau- tamente na fogucira. Todos os que assistiám à festa, assim como
ranle levava:. pele. até um t-&.1elo da fronteira onde de a pendu· t.od as aldeias qoe tinham m,iado repre.scntantcs, rece:bian\ wu
ra\·a, de btaços al>enos. Era cambém para lá 9ue levavam a más· l)edaço do oorpo sacrificado. O saocrdote JXl,rlilhava cuJdadosa-
cara de Cinteott"S. En1 outros povo:.s ameru:anos, oon\o, por mente os pcdaQOs., que rapidamente ttam viados a toda,; as ai·
exe1nplo, os Pawoccs, o corpo ela jo\•etu saaificada ra uar- dtias t entt-rrados not Cdffipõ! éom um certQ ritual. Os restos·,
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280 A AG81CUL1lJRA E OS C(JLTQS DG PERT1LIDADE 281
cm particular a cabeça e os ossos. era incin::racios e 1\s cima5 es• cas do ''Poder", eolUO a vegetação, cujo ritmo conheoe momeo.
paJhadas pela gleba, a fim de gata.nlir uma OOa..<:c:1lltcitit. Quan- tos deextinç."10 aparen1e. E a ansiedade é aioda mais aguda quando
do .as aucorid des britâllil!:tS proibiram os socrlfícios bi.unaoos, a desagregação da .. força'• parc<:e ser de.\1ida à ltnervençào do
os kbonds substituíram o Meriah.s l)Or c,eno.,ç animtus (bode. homem: a colhei1.a das prlln.fcias a ceifa, etc. Neste e.aso,·
búfalo> '. oferecem-se sacrifícios des.ig,11ados 'ªprindcias'': o ritual rcoonci-
Ua o home1u eon1 as forças que. atuam nos frutos e Ouloraa-lhe
permi o para os çonsumir se1u perjgQ, T is rit<» mare:am, ao
131. 8:}:Crifícto e. regcocraç:lc>- O «'-ntlclo dcss.es crillcios mesmo tempo, o começo do rtovo ano. quer dizer. de OJll oovo
humanos de"'c ser procurado na teotii r(ak:a da rc.icnera o J)e· perfodo de 1en1po, "regenerado". Entre os cafrcs do Natal t o s
ô6dica das forças sagradas. Evidenttmea.ite. codo 1ito ou cenário zuhts, apM as fes.as do novo ano. tetn lugar JlO Kraal do rei a
dramático que prttende obter a regeneração de uma ''força" e. grande dança, durante a qual são ooz.idas divea.1.sespéc de fcu•
ele pl'óprio, a repetição de um-ato prhJ\ordiaJ, d.o tipo counogô- cos, t1un1 foso novo a ç ( S ( l por mágicos, em potes novos que só
nico, que teve lugar ab lnitio. O sacrif:icio de rt.go:.l\eraç:1o e u1n:i servem para m a eerí.mônia. É só depois de o rei ter feito co1uun-
repetição ritual da Criação. O n1iio cos1nogônico implica a mor- gar cada um do$ participantes nesta papa das ptimícittS que pod.e
te ritual (quer di1.er, violenta) de um gigante prltuordial, de cujo começar o consumo 3Jin1entar d()S frutos-so . Entre os índios
corpo se constituirnm os mundos, cresccratn a.s plan1as, etc. É Creek, o ritual da ofere«)da das prirn(cias coincide com o da pu-
sobretudo a origem da.5 p1antast-dos oer js que $C acha em liga. rific.tçâo e d3 expulsão de todos os males e pecados. Bxtingutm-
ção com ta1 sacríficio: vitnos queª" plani.as, o tri&o, a vinha, g.cr se todos os rogos e os sacerdO(es acendem, por frjeção, 1i1m fogo
tn.inar m do sangue: e: da <."ãnte de uma aiat\lra 1ní.tica sa.crlfica novo; todos se purificam com um jejum de oi10 dias. com vorni•
iórios. etc. Só é J)efmitido eons.umic Q S grã0$ colhidos depois de
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Yntntos cm que a t(nslo vital das C<>lnntl.idades a1lnge o seu 1ná• delas para defellder as suas se,nenteiras e proteger as coJhcitas.
ximo, qv r dizer, nas <:hamad.ás (e!tàs da fertilidade, quándo as Bnquanto os grãos se acham en1err..1ck>s. a.cham sc, por isso. sob
forças jtnésii:âs da natureza e do grupo humano são evocadas, jurlsdiçào dos mortQS. A •1T<"rra-Mãe' ' ou a Grande Deusa da
desencad<ada.;, cxa. ixuJas por ritos, peJa opulência e pela or- í«tiljdade ít.SCaliia da mesma man-tira o destino das s<"mcntes e.
gia. Al :.ilnt.u dos Ulôr'tOs estão sedt'ntas de plenitude biológica, o dos t1\ort0$. f\.fas estes estão. às-..·eus. 1nais peno do bometu
dett<:t$ o OrgãnX:o, porque es1c 1ran, bordamento vital co1npen e o la\'J'adot diJlse-,se..,Uics para que- eles abençoem e amparem o
sa a pc;brt2.."1 d$ su::i subsl!\ncin e proje1:t1.-os numa. corrente impe.- s,u trabalho (o negro é a ror da 1err> o do, morto,). Hipócf11tcs
tuo.sil de virtualidades e de germes. dlz..oos Que os espiritos dos defuntos fazei), crescer e getmiaar
O icstim coJetivo representa justa,neute essa concepçâo de as se.mentes, e o autor dos Oeopo11ica sabe que os ventos (isto
enecgi:i. vital: uu1 festim. com todos os excessos que implica, f-, é. as almas dos mortos) dâo vida às plantas e a todas as coisas.6$ ,
pois, íodls.pensável, tanto pa.ra fcst.s. agricolas como para a Na Arábi;t, o óltin10 feix<', chan1ado ''o Vdho''. é ceifado pelo
comemora;ão d mortos. Outrora. banquetes tinhanl lugar próprio dono do ca.1.ni,o. colocado numa cova e scpultado com
p:no doo próprios tU.mulos, para que- o defunto pudesse partici- preçes pelas quais se pode ·a ele que " o uiio renasca para a vi-
par d.o t'..tecdente vital dcsenaideado 1>er10 deJe. Na Índia, o fei• da 1•66, Entre os barubaras, quando se verte a água sóbre a cabe·
jão era Qfcrenda le\'ada aos 1norlo:s, mas eril considerado. ao 1nes- ça do cadá\•cr deitado na cova prestes a ser cobe.rta, imploro-se:
mo tetnpo. wn. afrotlisiaro 6 0. Na China, o leito conjugal "Que o.s ventos nos scjam benfazejos, q_ue soprem do Norte ou
enoontra\'a-s,:. no c:1nto 1nais -sombrio da casa, k>caJ onde se con• do Sul, do Oe$Ce ou do l(ste! Dá.·oos c.bu\'a! Dá-nos uma co--
servavar:u as sementes e p0r eima de onde se t.nterravam os lheita abundant.eP•6'1 Duran1e as semente.jras, os _finlandeses en·
mortos6-1 . A ligação entre os antepassados. a..s oolhcitas e a scxua· 1erran1. ossos de 111ortos (do cemit6rio, só os l'es(huindô dep0is
lidadc é tão estreita que oscule os funerários., a3{á.rlos t $e'Jlési<:os da colheita) ou objetos que 1enhan1 pertencido a algum morto.
se in penetra,n às vezes atê a fusão compfet.11. Nos povos nór· Se un$ ou outros lhes faltam. oontentam--se oom 1crra do ce1nité•
díeos, o Natal era a f ta dos monos e, ao 1nesnlo rcmpo, uma rio ou de um caminho por onde tenham passádo os mortosrA . Os
ex31tação da fertilidade e da vida. l l no Natal que se r izam ban- alemães têm o eostume de espalhar no campo, com as sementes,
quetes copiO.s-óS e que, muitas vezes, se celebram O$,casamentos terra de um 1úmulo reee-nte ou palha que tenha servido de leito
t lle cuida dos tún1ul . a wn defutu#. A serpcnt<'-, animal ftnter-ário por excelência,
Os n101tos resressam t1:1 dias para tomar parte nos ritos protege as colheitas. Na prhuavera., ao começo das S<"menteiras,
de fertilidade dos vivos. Na Suócja, a ,nulbcr guarda no bali do ofereclan1-sc sacriffci-os aos mortos, para defenderem a oolhrita
dotC"um t,edaço do bolo de sarnento. para le\1á-lo oonslgo para e tomarem.na sob seus cuidadosm .
3. oova. Da mesma forma, tanto nos paí:se.c; nórdicos como na Chi·
na, as mulheres são :imortalbadas nos seus vestidos de noi"a? >.
" O arco de honra" que se ergue no camjnho do pa.r oonjugal ! 135. Oi\'indades :.1g.r.irl.as e f1111erãria - Podt'.mo.s observar
idêolk:o ao quê .se ergue no cemitério para acolher o morto. A n1ais claramente a solidariedade. <los mortos «nu a fertiltdade e
árvore de Natal (orisiJlaJiai.nenre, no :None. un\a árvore a que a agrlcullura quando esu1dan10$ as festas ou as divindades que
$0sedeL1avMl as f da copa, niaJ) é usada tanto nas núpeias $C-rdacionam com wn desses dois cenários cultuais.. Geratineo1e.
COLUOnos enterrosM. E inútil mencio.nar ainda 0$ c.a:sammios uma divindade da fertilidade ctônie.o-vea,e1al torna-se também
pOsl n1orfe1n., reais ou simbóUcos - e ;a.os quais nos reíerireiuos uma dívindade funerária. Holika, originaria1rtente. rtpresentada
mais adiante-. e cujo stntido deve ser procurildo no desejo de .com a aparência de urna árvore. 1orna,sc n1ais tarde divindade
;is.segurar ao defunto uma condição vital ótima<'· uma plenitude. dos n1orto e gênio da fecundidad,e veset.al 1 1• Uma 1nullidào de
gené.sica. gênios d Yesctacà:o e do c,escimento, de estrulur.i e de o,igem
Se os mo1·tos procutam as modali-dades espumádc·as e ger- ctõnic:as, são assilnilados. até se tornarem irreconho.:civci$, ao gru.
mioativas, não Ó',ncnos vcrdad,c. que o!; vivos tambêm p suu po1u119rf9 dos morlo('l. Na Grécia arcaica os mor1os 1 cotno os
286 .-1 AGRICUI,.'TURA E OS CULTOS DE.FER71l/DADE 287
TRATAOO DE .HisrdRJ.4 lM.$' U:UG!ÔES
cereaisJ eram pos10 em vasos de- lCt'ra cozida. Ã.s di•1i"ndades do ric:o--\•ese1al. Est:. simbiose deu origem a muitas confusões e as
mundo subterrâneo ofereciam.se círios, tal como à$ div:indadcs controvérsias dos especialistas não terminaram aioda no <1ue diz
da ferti.Udaden. Ferollia é chamada dea agrorum si're ifl/ero• ·tespeito, por ex.rn1plo, ao cani1er asrário ou fwierário de Odin,
rum 14• Durgâ, grande deu da fecundidade que ag(UJ)a wn tuj. à origem das 0;-ri1nônias do Jul. Traia-se, n.a realidade, de coo•
mero considetávd de cultos locais, e sobretudo de culto.s da 'C- juncos 1·1tuais e míticos nos quais a L1lorte,e o renascio1e1,to se in
getaçâo. toma-se ta1ubéltl a divindade nhora dos cspiritos dos terpcnetram., se convcnein en\ mo1neutos distintos da mesma rea-
,nortos. lidade trans•humaàa. ,-\s zonas de interfer{nçiR tnue QS çuJtos
No que diz respeito i i !es1ai, registremos somenreque a an- da fertilidade e os cultos. funcrârios sã"o 1antas tia.o imp0rtan1cs
lla:a oon1emoraç§o indiat1t1 dos mortoo çaía ju.stamentc cro plena que não e de admirar que chegue, após a sjmbio:;,c e a fusâ.o,
ce1f-a e era, ao tnesmo tempo, a festa principal da CQJJ1eita1J. Vi- a uma nova síntese religiosa baseada numa 1najs ampla valoriza.
Çf10 da existência do ho•» nl no cos,nos.
m.os que o m mo aoo-n1ecia nos paises nórdicos. Na Antiguida·
de, o <ulto dos n1tn,es etl\ c('kbrado como o cerimonial d:i ve Bncontra...se-essa síntese sob à sua forma definiti.va no seiun.
tação. As tuais importantc.5 festas agrái:ias ou da fettUidade ;:.he- do )nilênio a.e, no mundo cgeu asiático. e foi ela que tomou pos-
gararn a coincidir com as Íe$l.:ts que comemorayam os manos.. sívd a eflorcs,.::ência dos 1\1.istérios. A fusão dos dois cultos CO•
Outrora, o Sâo MJgutl (29 de scten1bto) era, ao m(smO te:mPo, mcço11 no norte dá Buropa e ua China nos tempos pré.históri-
a ÍC$ta dos 1nortos e da ceifa em iodo o norte e cen1ro da Euro- cos"' , m.u é provã,·.eJ que uma síntese de{lnitiva e formulada de.
pa, E o culto funerário Jnfluencia ainda Ola.is os euhos d.a fcrtili• 1naneira cocf'tllce só tenha tido lugar mais tarde. O falo é que o
dade-, apropriando--.se dos rit.Q:S, que con·verte.ffll oferendas ou sa- solstício de lnverno tem muito maior im1>0r1ância no norte da eu.
crifícios oferecidos à$ ahnas dos antepa5.iados. Os defuntos são ropa do que no sul J»ediierrânioo. Jul é a festa patttica desse mo-
"os (lue moram debaixo da terra" e a su.a benevolência deve .se, mcl)tO cósmico decisivo, e os de.funto!t reún.em« eruào e,n voha
c.a ada. A!, serntrttes lsn,çadas por cim.1 do ombro esquerdo, ofe- dos ,•ivos, porque é então q1.1ese 1>Ndiia ''ressurrtição do ano",
recidas tm homenagem "ao rato'', são destinadas a elc.s. Recon• portanto da prirnavera. ;\s almas dos mortos são atraídas pelo
ciliado . n1.1tridos e solicitados, el _protegnn e- muhiplicam as q1,1e "oomeça", pelo que- "se cria_": um novo ano (e, oomo todo
colheitas. O .. velho" ou a '"l•elba'', que os c:uupooeses . etn co- o oomeço., uma repcticlo sicubólica <la criação), uma n9va xpJo.
mo personifici.ção dos "poderes" e da ferüUdade do campo,.com são vital no torpor do inverno (banquetes sc1n fi1n, libaQOes e or-
o tempo têm .-icencuado o seu perfil mhico sob a inOuência das si3S, festas matrimoniais), uma »ova primaveta. Os vi"os reúnem-
c1eni;as funerárias: eles :iproprlatfi.§e da es(rut-ura e dos atribu· se para mimulâr oom o:s seus txt s bioJ6g:Íc0$ a energia do
tos dos ••ant.cpassados", dos espíritos dos defuntos. Sol inn pleoo declinio; as suas inquietações e .1.S suas esperanças
Este fenômeno é de fácil ide1uiíteação nas crenças dos po· concentram-se na ,•egctsção, no de:s(u)o da próxlln.a colheita. Os
vos 3ennânicos. Odin, divindade funcn\ria, chefe da ''caça fu- d is deslino.s, a21ário e funerário, cruzam-se e fundein«. ror-
f!osa" das aln1as que não tem repo\lso. aproprin-se-de uma quan. manào por firo uma ·únjca modalidade da exi.Mblcia. a existência
lárvar, pr6-germinativa.
udade de ritos do conjunto dos cultos agrários. "'Na.festa ptopria·
menté funerária dos aermanos, o Jul_, que <aJ no sols1icio de in•
\'emo, do U1titno fe.ixé da colheita do ano faz.-se uma .ti.aura de
ho m Ol_l de mulher, de um gato ou de um bode ou outro 136. Sexualidade t fe<:undk1ade :.:, ria - Os germes têm oe•
arumaJ U , B significativo o fa10 de as forn1asaniJnais sob as quais cessidadede ser ajudados, ou pelo menos ":.cotupauhad0$'' no
se manifesta o ''poder" da vegetação sertm as mesmas que re. seu processo de crc-scimcnto. Esra so,lidariedade das formas e dos
presentam as almas dos def1.111tos. Em certo momento dahíst6fia atos da. vida foi uma das i;tescobenas essenciais do homem arcai-
dos dois cult0$ não possível determinar se u,u ''espirita", ao co, e e-le:. fez frutificar de maneira mágica pelo $CSUinte méto-
manifestar-se de maneira teriomorfa, representa as almas dos que do: o que é /til<> e,n t·o,num dd 111/l,ores resultados. A fecundi-
já não existem ou se é- uma P«SOnificaç.rto animal d.-i força telú-- dade da mulher mnuc"cia a fecundktatledos campos, n,as a opu.
iss 1TUTAD0 r,e Hf$T'OAIA ll.AS /1.ELJGJôES A AORICUI. Tf.l/M E OS CULTOS DE FERTll..ll)ADB 289
lência da. vegetação_, por su.a •;c-z, ajuda a mulher a cooo:ber. Os lcsia. os Jovens noivos eratn oon.dW!.ldos por toda a popul a ção,
mortos colaboraru nos dols casos. esperu1do cless.:as dua$ ron1e.s num carro nupciaJ orname-nt.ado, do catnpo para a aldcia3$.
de fertilidade a energia e-a substância que os retllte.grodio no flu. Lembremos que os costumes obser\'ados na Europa por oca--
,:o vital. Por isso, logo que se aproxi1n:i o nu,.nleftto critico da siâo da colheita são aná.log.os aos que têiu lugar na primavera.
c-0lhc--ita e a <"e\•ada começa a germinru, os nea.ros .,.e da África. quando se anuncia o apar«imento da 'legetação. Nos dois con-
()c denlal (Costa dos ravos) tomam me<Udas de ptttaução OOO· juntos til\lais, o "poder" ou o •lespirito" e representado, direta-
ira os desasms, por 1neio d( orgias ritu:is, Um níamcro consi<k- mente, por u1na rvore ou por urn molho de espiga& e: por uni
rã,,cJ de moças e oferecido. à guisa de. nOtvas, ao deus pito». A par humano, e as du cerimônia.s têm uma influência fertilizan-
b.ierogmnia cous.un1a-.se no templo com os repres,c:ntantcs do cbu, te na vegetação, nos. rebanhos e nas mulhel't$*4; é sen1pre- a mes.
oom os sa«tdotes, e as jovens ou -esposas consa.aradas desse mo,. ma ncccs1,id senlida pelo homem arcaico de fazer as coisas "e tn
do continuam a prostituição sagrada ,durante álgu:m tempo no re- comun1'', "de estar cm COlllUD\''. O próprio par que personifica
assegurar a fertilidade da tecra e dos aniri,aJ.s1*.
ciluo do santuário. Reconhece-se q·ue-il h,ie(ogamia e t'cita para
sen1enteiras, longe das esp0$3S, a fim de se exceder na noite que ·repe$iaoo ti hi«ogamia nos sukos arados devia produzir o aú-
as antecode. Em C*rtos casos a uolãc, sexual de marido e mulher rue.nto má. i,no de todas as forças d;:i coletividade. Quando o po-
de,·e mesmo ser ativa no n101ne-nto das scmenlei.ras. Em certas \'o oraoncelebra. no mês de maio, o ca.s:uneoto do deus Sol co1u
,egiôe:s, ea, Java, qua.11do o anoz Oores«·, os cônjuges tén1 suas a eusa Terra, o sacerdote pratica o ooi(o com a esposa. en1 pú-
relações no próprio campoii>. As núpeias coosun\ad.'U riiualmen- blico, .:110 a que se segue uma orgia indescrit(veJ85, Em algumas
ce nos qiJ))J>O$, a ligação estreita da 'lcgetação e do crotis,no mar- ilha$ situadas a oeste da Nova úutnê e ao norte da Austrália (Le-
cada pt.la ptesen da árvore saarada 1a.i) na celeb(ação dos ca· ti. Sarmata, e1c.) S Olesmas orgia,:s 1êtn lugar no começo da esta-
sarnentos, são ainda frcqúentes nos nossos dias. no norte e no ção das cbuvas&6. Os homens nâo pode,n fazer melhor do que
centro da Europa". Na Ucrânia, cxi:stia o seguinte costume: pr:· intitar exemplo divino. sobretud.Q se desta itnitação depende a
lo São Jorge, dep0ís de o padre ter benzido a oolbeita, os jovcru prOSpcridltdc do Dl\lndo inteiro e, e!n particular, o desdno da \'Í·
1>ares rola,·am-sc pdo campo. Na kússia, era o próprio padt·eque da \'cgemt e animal. Os excessos dtsempenha111 um papcl pr«iso
e,a rolado na cerra pelas mulheres, sem dúvida não só para con- e salutru· na economja do sagrado_ Eles q\1ebtan1 as barreiras en-
sagrar a tolheita, mas també,n en\ ren)ülis ucia confusa da hic tre o ho tem, a sociedade, o.atu.reza e'os deuses; eles ajudam
roga,nia primordialc. Em outras zona. . a bieroiamJa fíoou l't• a fazer c1rcuJar a forç.a, a YJda, os germes de un1 nh·e-1 para ou•
dutida à dança cel'inlonial de um (a.$31 ornado com Q:pÍgâs de. tr9, de uma zona da realidade- para tod.i.s as outras. o que estava
trigo, ou ao cas.ameiito ale;aórico d.i "noi"a do 1rigo" com o "noi- v:aio de substância ressarcia-se; o que estava fraSll'Jentado
vo". Taii; casamentos são celebrados oom muito apatalOi na Si· rtiutcgra,se na unidade; o qoe es<a"a isol:tdo fwide.-se na m11de
290 A AOR/CUL'TURA e o s CUL'ro:s DSFERTIUJMDe 291
R\3.triz uni,·cn:al. A ofgia raz clrCt1l;1r a energia -vital e sagrM . do e era apreciado me.s:010 nos cultos evoluídos (casos das 1'es-
Os. moulttítos dt: cri <:ósmi<a ou de opulência &tJ'\'E:ln, em partt- 1noforias atelbetUt:s). Os hindus pe.nnítem-sc tubém uma gran
cular, de: pra:extó para o desencadeamento de uma. orgia. E.m mui• de liberdade sexual durante a! fes.tas de BaU, em que, co1n exce-
tos l\Jtates .$ mulheres correm n\13$ pelos campos durante a se- ção do incesto, toda a união é· lf.:it ?O. Os hoses do norotste da
ca a fim <le desperf3.1·e1u a virilidade d o CC'u e prc.vocarem a chu- fndia praticam formidáveis orgias durante a ce.lfa, justificando
va: :En1 oucras repõe! f,es1,ejam.•se os casamentos e o nascllnr..tuo C$tCS desregramentos pelas teudertciais viciosas exacerbadas dô!
de g!,neos oom orias.: auim, pót' tXtmpló, entN.?! baga.nda a homens e: das muJheré$, tendtnci..'\S que de,•cm r s;.1cladàs para
África ou entre os ba.bilan1es do arqu1pttago F,;l 11, As orgias se estabelecer o équilibrio dfl comunidade. O deboche habitu l
praticadas cm ligação com o drama da wgcWÇàQ e espeéia cll· nas festas das-colheitas, na Europa oenlral e setentrional, foi es-
lC' coin as cedru.ônias agrárias, e)(püczim-se ainda melhor. E. pre- Ligmat.izado 1,or muitos ooncfljos.- como o d t AU.'Cetre m1 590
ciso reanimar a Terra, e,.;citzir o Cêu, !l)ara que-a hierogarnia CÓS• - e por n1uitos autores da fdade Média, mas sobre.,•iveu, apesar
mica - a ctu1va - se ÍaÇá nas melbC1res c<indiç&s, para que os disso. em cena!> res,lôes até os nossos dias'i.
oer-eais cresçam é frulifiquc1n, para que as mulhet'es gerem 6Jhos,
para que os animaii se multipliq·uen1 e para que os mortos pos,
sam S."IClar a S\la vacuidade com a for,ça \•it.al. 138. O i:a e rti:nt ração -As.orgias não se inserem txclu-
Os ka11a do Brasil estUllulam as forçu dt rtjX'odl O da ter- Sivamentc nas cerimônias agrári;.1.s, se bem que das tenham Sêm•
ra. dos aajmais e-dos homens pot uma dança. f:il!ca imita o pfc coincidências precisas oom o s ritos da tegencraç.ão (o "nô\'O
alo gerador; a dao,ça é seguida de urnil. of8ia co ttva 1quc6. Podemos
-;i.oo") e da fecundidade. o $Cntido metafísico e a fuoção psico-.
entrever \'estigios de shnbolUmo [áli,co nas cenmõnias agrár!-3s 16gica da orgia ficarão lUais claros em outros capítulos desta obra.
européias: assim, represeutu-se, às ,,ez,es, o 'velho" de maneira Podemos, no entanto, st1fl)ftendcr. desde já, uma perfei,a ana·
falomorfa e cha,na se à \il1i1na gavcla ''a prostituta''• oo, então, logia entre. o ftoômtno agrkola e a mística agrária, de um is.do.
faz. se-Jhc uma cabo;a ntgra co,n 13bi<>s \'ennelhos, Cl!'i nah:ne11; e, de: outro. a orgia co1no modalidade: da vida coletiva. Coo.lo
te as COl"e$ mágico.simbólicas do órgão genital femuu.oom-. Ha as sem ntcs que pe.rdt1n o seu coo.torno na grande fusao subter-
que- mencionar· ainda os exoessos que tinham lu m oertas fes- rânea, desas.regando-se: e tornando-se outro coisa (germinação),
tas arcaicas da vegetação, p0r exemplo, nas Ftorabas dO:$ roma- oS homeos perdem a sua individualidade 11a orgia, fundindo-se
nos - a 2? de.al>ril -QY:'!nçlo cortejos de ta pazes e moças desfi- n,una única unidade viva. B assinl que U' realiza lUna confusão
Javam nus nas ruas, ou nas Lupercálias, cm que rapazes Locava1n patéüca e definitiva cm que já nál>i possivel dJsti.nguir nem "for-
nas 1nulheres·para Wrná-las fecundas., ou na Holi, s 1,rincipal fota ma" ne,n ;iki". Experimenta-se <>\Hta vez o es1ndo priroordiat,
indiana da .,e,getaçâo. em que tudo e pc-nnitido. r,ré-tonnal, "c.16lico" - esi.ado que oorresponde, na ordem cos.
A Holi conservou, até épc,ct'I reçeote, todos os atributos e mológica, à "tndifcrenciaçâo'' -ta.ótica snterior à criação-. pa-
uma otgia coletiva. desencadeada para e. ace-i bar e· levar ao ma- ra pron:iovcr, pela \'irtude da magia Unitativa, .a fus o dos gcr-
)(i1no as forç.3$ d-e reptodução e de criação de loda a 11atu eu. lites na mcsana matriz tclUrica. O homem rcinte.a,ra-se numa uni•
Tod:J decência ée!)quecida, pórque se traia de sigo bem mrus sé* dade biocósmica, ntesmo se essa unidade sig,iiifica uma rea:ressão
rio do que o respeilA) da$ normas e dos. co.stumes: tr.ua•se de- as- da .modalidade de J>CSS,()a à de sem.ente, Em ocno .s;eniido, a orgia
segurar à vida a sua 00111.lnuidade. Grupos co.mpaaos de ho?""e.os tt.tnsmuta o hoinem ouma condlÇtie> agricola. A aboUÇão das nor•
e de criao,ças circulam pelas ruas cantaindo, gritando_e asp«g111do· mas, dos Jimites e das indi\•idualidndes, a experiência de ,odas
se com o pó de holi e com água avennelhad:i. pois o \•crmelho as ssibíüd:idçs teh1rlcas e noturnas equjvalem à aquisiç,ã-o da
é cor vital e- genésica por excelén-cia* Sempre q u e enoont.ra1:1 condição das se1nentes que se deCômpõem na terra, abandonan-
mnlheres ou que se- as vislumbram por ftá!i das cortLnas, a tradi-- do·a $Ua fonna para darem origem a uma nova planta.
ção impõe que se dirijam a elas as 1nais violenl.tS obsccnidad A orgia, entre ou1ros funçõ que <lesempenha na economia
e injúria,. O valor má&lco das injúri . . ob,(:ellas t bem <onbm- espiritual e ])Sicológie-a de uma colêlividade, tem também a de. tOJ•
-
292 TRATADO D E HISTÓRIA DAS .R.iL/0/ÓES A AGRICULTURA E OS l'ULTOS DE FERTIUDADE 293
nar possível e de preparar a renovaç;1<>, a 1eaeuer ção da vida. quetfpico. Nada se obtém sem c:sfor90, só tt<'tbalhando se pode
O dcs1>crtar de uma orgia pode ser assimilado ao apatcclmeu10 ganh a vida, isto é, agindo em çon(ormidade com as normas:
do reben.10 verde na lerra arada: é uma vida nova que. com('Ç<l repetindo o.s geslos primordiais. Ponanto, as csperaoças que o
e, para esta vida a orgia saciou o ho.oient de substância e de to• h_otnt'm da civ1Jj2ação a ricoJ põt. no e-xemplo da vegetação es•
u1siasmo. ti.tais ainda: orgia, reatualizando o e.aos mítico arth!· tao, desde o começo, onentacfas para o ge$IO, para o 010. Proce-
rior à criação, torna possível a repetição d criação. O homem dendo de certa n1aneira, aa;l.ndo segundo cercos modcJos, o ho-
regrt$S.ll provisoriamente ao eslàdo amorfo, no1urno. do C30S, me1n pode ter esperança na regmera o. O ato, o ritõ, é lndi s -
para poder renascer com n1ais vigor na sua forma diurna. A or- pensávd. Teremos de Ler presente esle p0m1<nor qua,1do t'stu
gia. da mesma forma qúe a imersão Jtá água(§ 64), anula a aia- da!'m s 0$ antigo$, qu,,e não ronserYaram $6 vestigios
. ti.slérl
çào mas regcnern-a ao mesmo tempo; ideutiítcando-s.eoom a to- de cenmôn1a..s a3ninas, mas que riâo teria sido possh•cl organizar
talidade nâo diferenciô'lda, pre 0 cósmi ca, o h,omcm espera voltàr em reJig.iões h'liciáticas se uào livC$Siem 1>0r trás um longo perío-
a si restaurado e-regenerado, numa palavra, "um homem oo,•o". do pré•hlstóriéo de misiica agrária: quel' díter, se o espetáculo
Na estruu.1ra e n11 função da orgia, encontramos o mesmo desejo da rq:entrnção periódica da vegetação não tivesse revelado mui +
de re()étil' um gesto primordial: a cria,çlo organi1.ando o caos. Na (OS milênios antes, a solidariedade do homem e da sement'e e a
alternância vida cotidiana-orgia (Satu.rnai&, o CatnavaJ, etc.) en• e.sper nça e tl01 regeneração obtida ap6s a m0tcee pela m ne.
contramos a mesma visão rítmica da \•ida, formada da ação do E hab1n1al d17.er-se que a descoberta da agricultura mudou
sono, do nascimtnlO e da morte, e a 01es1ua intuição clclica do radicah1.1en1e o destino da humanidade, assesurando-lhc unta ali-
cosn\OS, que nasce do caos ·e a ele regrc!Sa por \utH\ catástcofe mentação abundante e permitindo, desse 1nôdo. um crescimento
ou uma nu1hâf)l'flfaya, 11nla "grande diM-Oluçil.o". Não há dlivida prodigioso da população. ti.ias a descoberta da agricultura teve
º.
de que.as formas monstruosas s.."to de& d desta iniuiçào fun- COllStQüências decisivas por 1Jma raZlio muito diferente. Não íoi
dau 1ental do ritmo .cósmico e da sede de regeneração e de teno• C!escimcoto população ne1n .a sua superalitutntação que de,.
,da
\'Q\iíO. }.fas nâo é dessas fotnt.'IS abe1Ta:U.teS que nó& devemos partir c1d1ram o deshàO a humanidade. mas a reorla Q.ue o ho1uem ela-
para co1npreenckr a origem e a funçilO da 01"3ia. Toda "festa" borou ao descobrir a ag,rlcuhura_ O que ele ,•iu, nos -cereais, o
oo,npofta a ,, çào orgiástica. na sua estrutura. <iue ele aprendeu nesse oonta1.o, o que eJe ,·01111,reendeu do exem-
plo das sementes que perdem a sua forma debajxo da ttrra tudo
isso '?Onstituiu a Hç·.ã dcc-isiva. ,A agricultura re\•elou ao h menl
139. MísOca agníria t sote:rlologi:1 - T e m o s de sublinhar à a uo1dade fUndrunental da vldá. Orgâni c a . A anal o g ia roull1er-
estrutura soteriol6gicíl da mistica agrária O\esme> nas formas que campo, aio gera or-semeadu.ra, assi1n oomo as mais in1pottan-
nâo são Of$iâsticas. A vida vegetal que se- rt',genera p o dt.s.apa. tcs sinteses mentais, saíram dessa r \·eJaçâo: a vida ritmi . a mor-
recimento apal'ettle (o entetTill' das seinentcs) ê ao n1esmo tem· te co1àprecndida COOlO rcgrcssão R ESS3$ sinteses, n,entais foram
po, Ull) exemplo e uma aperança; o mtsn10 J)Odt. acontecer 001n esse ais par3 a evolução da bumaàidadc e só íoram possí v eis
os ,nortos e çotn as almas. É •;crdadc que o espetáculo dessa ,e. <1:ix:,1 da descoberta da agdcuJtura. E na 1nftica agrária pr +
h1sto:1ca que se encontra uma das principais raízes do otimistl;'lo
gcncração ritmica não é um ''dado n , que ele não se oferece. dire-
tam-enie- à çontemplaç.ão do homem; não deixa, no entanto, de sotcnológjco: tal conto a semwte oculta na ter,ra, o 1nor10 póde-
1cr esperança de um rear.esso â vr.<!a sob uma forma no,,,.a. /\;las
stf nas crenças arcaic.a.s un1 fa10 que. se produ..: gra,;áS aos rito
a vis:ã? melancóliC.'I, por vezes plica, da vida tem. tambem, a
e às ações huJnanàs.. Obflm•U a ce eraç:lo por tos mágicos.
,Sua ori.gcm n.a OOtUemplação do mundo \'egetal: o homem é se--
pela Grande Deusa, pela presença da mulhe.r, pela força do Ero
JUelhantc à flor dos cam1,os ...
e pelaoolaboraç/ki do cosm.M inteiro (a chuYa,. oro.lar, etc.). Mais:
ainda, tudo isso 6 é possivel como re-pet(çlo. de um gesto pri-
lUOrdiaJ, obtido quer pela hitrogalllia, quet pela rea,ene1ação do
temp,o (o "uovo mo''), QIJ.ÇJ txla çrgiaguc: reatualiza o <iS ar-
X
O espaço sagrado:
templo, palácio, "centro do mundo"
6, por i5SO, um 1-e1npo sagr()d(), que.r di!er, u.111ttn\po essencial- tras palav-m. o ien1po des\·enda uma OO'la diluensão (lue pode·
mente difeJenLC da durao.10 P<Ofana que o antc:ce:J . Pode tam- i:i1os designar de hierofânic.i e graças à qual a dura.ção em si ad-
1:)énl d-c-signat o tempo i:nltico, ora !' avido 8l"BÇ35 ao intermédio quire na.o l>Óuma cadência particul.ar mas também "vocaQÕ(:s n
de um rit\lnl, ora realizado pela repetição pura. e SUltplts de. uma diversas, ''destinos" contraditório$. E\'ide.111emeote, esta di.inen-
ação provida de um arquétipo tnítioo. Eofim, pode ainda desSs· são bieroíanica do te.mpo pode ser revetada, "<:ausadX', pelos
nar 05 ritcnos eósJnicos - por exemplo. <'IS hierofaflias lunares ritmos cósmicos, como oo caso dos cinco letupos dos dayak. ou
- l\a h\edida em que ses rltinos são consklentdos revebçêcs {Jas c.r s sol"1<.iaj$, das fases da Lua, oonto pode também ser
- quer dize,, ntanifestação, a ç õ e s - d e uma sacralidade fuoda.- 1
' <: aus a" pela própria vjda rNigiosa das socitdades humanas,
rueotalsubjaccnle ao oosmos. :\ssim, um momen10 ou u1na por- sob a fortua, por exemplo. das festas de in,1er. no concen,radas
ção de. tentpo pode tornar-se, o qualquer 1non1ent<>, hierofAniea: ua estação morta da vida ag.rf<:ola.
basta que se pro(h.v.a uma cratofania.. uma hlerofania ou uma tW· AJ.suos autores destacaram recentemente a origt1n social dos
fania para que d e seja ttansiiaurado, consagrado. oomemorado ritmos S;actot.eml)Orais - por exemplo, Marcel t\Jlauss e Marcel
por e-feito da sua repetição e por coruea,uinte, ••n: pctí\1e1•· até Granei. Não !óCpode, 1>0r isso, oon,es1a.r que os ritmos cósmicos
o infinilo. Todo o tempo, qualquer que e!e seja, se()i)r para um tenham tantbêm desempenhado um papel pl'eponderante na ''re-
ttlnPo sagrado ou, por outras pala\•ras, pode revelar aquilo a Qu<: velação" e na organiza.ção desces sistemas. Basta lembrar a i.Jn.
chamarian1os, enl exp o cômoda, o absoluto, quer dizer, o pOrtâocia das \'alorlzaçôes religiosas do drama lul\ar (§§ 47 s.)
sobrenatural, o sobfê.-hUn'3l\O, o $'Upra-bistótioo. ou vegetal(§ 139) no destloo espiritua.1 do hoo\em arcaico. As
Para a mentalidade prin1iti\'ª• o te1upo não é ho1nog:êueo. idéias de ritmo e repetição, a que voltaremos no decurso dtite
Sem falar das suas eveo,ua.i:s. hierofanizações, o tempo como tal capítulo, pode1n ser oonsider::idas uu1a "revelação" das hierofa-
aptesenta•sc cm \"árias formas, de intensidade \'ariada e finalida- nia;. lunares. independente de eveoLuais t.xecnplificaç&s do ti(.
de múltipla. Lévr·Brubl, após Hard,eland, distinguiu cntrr. os da- rno e da repctiçrto no quadro da \'kla social conto tal. Já se disse
yak cinco tempos diferentes cuja finalidade.dJversifica a duração que. a " <i rleem" soLial do cômputo do tempo sagrado é oonfir-
de um mestuo dia, neste caso o do1:ninao: .. 1! O nasce, do Sol, ntada pelo desacordo que se ,•etifica (ntrc os <:alel)dários sagra-
fa\'orãvel aó começo de quaJquer operação. As <:fianças que náS- dos e os ritmos cósmicosi . .De fato,, ess.l di, ergência oâo anula,
1
<: etn a es.1a hora são felim. COD\1êm, no entanto, não lr à caç.a, 1'e formá alaum . a solidariedade dos sistemáS de cômputo e dos
à pesca ne1n pan:i,r cm \'iasem ém t J momento, pois que não se ritntos c0$1nioos: d a proya sím))les:iuentc, por um lado, .a incon-
seria bem-sucedido, 2 Por \•Olta das nO\le horàs. da manhã é. um sisiêncla dos C'Õmpuh\S t dM cronometrias prin1iti,.•a,;,e. por ou-
momento de infelicidade, pois que tudo o que st comece eot.ão tro lado o caráier oão "natUt(llis,a" da rttigiosidade arcàica,
c:$1ã voltado ao fracasso; n<>entanto, quem se nieta aos caminhos cujas festas não vis«m o feaômenó natural e.m si mes-iuo mas seu
não terá que- ten1er os salteador($. 3 Meio-dia: •,empo' muito alcanl-e relísio.so.
favotável. 4? Três horas da tarde-: n._omento da luta, P'óPÍ<:io aos Al> hierofaui.is vegetais deraro-1\os ocasir,o p;;ira sublinhar
inimigos, àOS salteadores, aos caçadores, aos pescadores, funes- quanto <>lugar da festa da primavera tlO calendário é variável.
to J)ar.t os viajantes. S? O pôr do•Sol: momento feliz. "J
4 Tambétn mo t·anlosque o que caracteriza esta fesia da prima\•e-
Os. exemplos são abundantes. 'Todas as religiões e.onhecem ta é a sig_nificaçno 01etafisico-rtliglosa do renascimeulo da natu-
dias fastos e dias nef s,os, momentm ótlroos no dCCU1$0 de um reza. e da ren<J•'OÇÕO da vkla, e não o fenô,ueno ''natural'' da pri-
roes1no dia faslo, períodos de terop<.> "conctnt,odo" e de ,cmpo ma,·cr,1 como tal. Não é Potque UDl calendátio não tem com<> mo-
''WJuído1• . de tempo .. forte" e de tiempo "fcaco" ... Uma carac. delo o 1c1npo astronôn1ico que o teinpo sagrado de"e organizar--
tcristicachanúl. desde já a nos:sa at-cnção. a saber, que o tcmpO se stmpre iudepcodente,nente dos riunos oóS11Uoos. O qúe se passa
aparece como não hon103 neo ru1t1?$ mesmo de toclas as valoriza- é que: esstS rh1nos·são valoritad05 :i.pc:nas na 1uedida em que stto
oc,es que ele possa receber no quadr-0 de um dctcrminado siStema hierofanias e que es.s.a hicrofanitação os libC'rta do lempo ast,o-
ritual: alguns períodos são fasto,, o-utros nefMtQA:, Por ou- nômíco que lhes.serviu. por assim dizer, de n1atriz. Um ''sinal"
316 TRATADO DE f{)SJó.R.fA DAS R.EL/GIÔES O 'fE,WPO SA.GRADO e O MITO DO ETERNO RE(.;(),\fEÇO 317
318 TRAíAl>O DE f1/STÓRJA DAS RElJGJÔJ1S O TEJ,f.PO SAGRADO E O .\{/TO, DO ElER!','O RECO/IIEÇO 319
chagas do Senhot .•• Pela ,·ir1ude do ri10 u1iJ,ko, a feiticcirs coro.l• ç.a, <:olhcita de frutos-, agricultura - !é tornaram, de[)Oís, se bem
se co1uemporatlca da Paix!o do Senhor; as plantas que ela colhe que sc,npre incomplcta1nente . atividade$ "profanas'', os.ritos fo-
devem a sua eficácia ao rato de que sii colocadas - ou em todo ra,n 1evelados por deuses ou txJr "antepassados''. Sem1>re <1ue
o caso pedem Jer co!oc.ada.s - sobre as c.ba..gas do Salvador ou se repete. o rito ou um ato significativo - caça, por exemplo-,
ao pé da Cruz. O quadro temporal de encaotacao i d a ordeiu do im.ita,se o ges10 arquetfpico do deus ou do antepassado, o gesto
presente. Cou1a..se que a curandeira enco1Llra a Yi1gem Santa ou que teve Jugar na õrlgt,n d0$ tempos. <Juer dlzec, nuau ten)po
ootrossan1os·, que• Virgem é ioformada d• doença de X .. , e que mílíoo.
ela indica o rcmtdio ... Limitemo-nos a citar unt exemplo, reco· C\·tas (SSa repetição cem., a.o meso>o ten\po, como efeito ins•
lhido no 1esonro panic:utarme,ntc ibundante do folclore romeno. taurar o tempo mitico doo <kuses e dos aotepatSados.. assim e
'"Reuniram.se nove iro1ãos. de nove pais diferentes, todos com que, nzi Nova Guinê, ao fa1.er-se ao nuo:, o chcíc de um barco
a mCffl'ls rouJ)a, com nove en."ladas amolJdas, com nove macha persoll.iftea o herói Olílico Aorl: ''Ele v ste o traje que Aori ves-
do.s afiados; fóram até o meio <ia l)OtUe de brooze; ai encontra.• tia segundo o mito e tem, como este, a cara cscurocida e nos e.a-
ram Santa Maria, que descia pôr urna C-itada.de cera e se pôs a betos um !ove semelll.inte ao cn1e Ao ri a1tancou da caboçtt de. Ivi-
perg1,1n t·lhes: - Onde ,·ão ·ocCs, Oi oo,·e irmãos, de no ·c pais ri. Ele <Lança e abre os braços oomo Aorl estencUa as asas .•. U1n
dlfererues. todos com a mesnta roupa? - Vamos ao (\>Jonte da pescador disse-me que quando ia pe..scar {oom arco) se julga,•a o
Galiléia cortar a Arvore do Paraíso. - Deixem a Árvore do Pa- próprio Kivavia. Nào intplorav.l a vaça e a ajuda deste herói m(.
raiso. Vão à casa de lon por cau.sa das feridas dele; retalhem-nas, tito: idt'ntíficava-se co1n cle.!>•S Em outras palavras, o pesrador
cortem-na e deit.e1n,nas ao fundo do mar. " 4 A cena passa-se vive. no tempo 1nftjco de f<jva,.•ia, da n1esma forma que o mari.
oum tempo 1uítlco esn Que a árvore do Paraíso não estava ainda nheito que se i-deatifica com Aori víve no tempo trans-histótico
COl'tda e, não obstante, da teln lugar ogora, neste mQmento pre- desse herói. Quer etc se torne o prôprio herói, quer e k se loruc-
ciso em que- alguém.sofre <las a! pústulas. A encantação náo a.penas seu conre,npordneo, (> melanésio vive um presen1-e ,nfrlco.
- limita a invO<:ru" o poder da Virgem &ln1a, J)OrQue lod0$ os po- que é impO!.'Slvel confundir oom qualquer duração profana. Ao
deres, mesmo divinos. se diJue1:n e se perdem desde q\>e se exet- TCpetir u,n gcsto-arqu-éti1>0, ele insere-se num tempo s grado a-
çam na duração profana; ela instaura um ou,ro temp0, o tempo bistórlco. e esta i.üserçâo só pode acontecer se o 1e1npo profano
mâgioo-teUs.-ioso, um tempo em Qlle os homens poden1 ir cortar for abolido. Veremos adiante a importância que tem essa aboll-
a át\•Ore do Paraíso e en1 que a Virgem S:tnta desce en, pessoa .çij9 l)l!J 9 homem ;tierueo,
por uma escada ctleste:. E esta instauN!çâo não é- ale górica mas
real: 1011:e' a llua doença $ão oon1:e1npotlncos do encontro d:, Vir-
gem com os nove irolãos. Esta contcmPOraoeidade com os gran- JS(). Res1aariçAo do ttl'll1,o mfrJco - P o r u1eio de <1uaJqu.er
des mo1nentos 111.Ític.os ê uma condição lndis_pensávcl da cíicátia cl10 e, por conseguinte, pc>r Meio de qualquer gesto significativo
1nágiro.rtligiosa, qualquer que seja a sua na1urcui. Enc.arado a - c.aça., pesca ... - o pi:imi•ivo insere-se no "te,:npo mítico".
m a luz, o esfo o de Sõren Kirkcgaard para tradmir a <:ondição Porque" época mítica", d.1,14gur, não deve ser pensada simples-
cris1ã na fórmula "ser <ontcmp,orâ11eo de Jesus'' mostra-se me• mente- como um tempo passado, mas iambêm como presente e
nos revolucionário do<1ue pa ce à primeira vista. KirJ::qa.a.rd não futuro: como un1 estado tttnto conlo um perlod<f. Este período
fez m.ais do que formular em termos novos uma aLilu<k geral e é ''criador". no sentido de qoe é, tnc!io, ln li/o te111_()()re, que ti-
nocn1a.l do homein arcaico. v:eram )ugttr a cri&Ç-âóe a orgarúzação do cosmos, da mesma for-
Periodicidade, repetição, eterno presente: estas três caracre- 1na que a revelação, pelos deuses, ou pelos antepassados. ou pe.
1
n'st-ica:s do 1.en1po 1n.igico-reli.gioso ooncorrem para esdarroer o lç,s heróis c_iviliz::idorts, de todas as atividades arquetlpi<:3.s. /11li/o
seotido da.t1.ãC>-homogencidadc deste temp0 cratofãnico e hiero• fe1npore, na êpcxa mítica, tudo era possível. As •· p6cics•· não
fânico em rtolação à duração p1•-0fat)a. Da mesma fonna que tO· estavam ainda fixadas e. as f<)rmas eram "Jluid8$'·'. (A lcmbran-
das as outras atividades essenciáis da vi<,I§ h\!.lllil.Uíl - pesi;.a,.<:a- a dessa nuidez denuncia Ullla sobrevh·!ncla a1t mesmo nas ua.
'1
·-.U!II 1
1.
\'
320 TRATADO D E HISTÓRIA DAS RELJG/ÔES ó TEMPO SAGkAD() 8 O ,lllTO 0(> 1.TER,VO REC<Ji\f.E(:O 321
cliçôC$ n1i1ológicas el;1boradas: ns .roJtoloafu gce,&a., po.r exeinpk>, dotada de sentido), pe:Jo próprio fJ10 de.sé ter produt/d() 110te1 . 11-
a época de lirano, a de Cronos, ct-c., § 23.) Por outro lado, a P<>, rtpreseo.ta uma ruptura da duração profana e uma invasão
própria fluidez das •·formas" çonstitui, na ou11a extremidade do do GrandeTeinpo. Como tal, todo acontecimento, sintplesmtn-
tempo, UJna das sú\drotUes do "escbaton''. do ,oomento em qu(' te porque se: ,·erificou, porque teve lugar no tempo, é uma hiero•
' ' a história" c.hegará ao fim cem que o mundo com rá a vi\'cr fania, unJa «revtJaç--ão". O pa;radoxo desse ••aconteciJneiuo-
num tempo sagrado. na eternidade. "Enlão, o lobo viverá oo,n hkrofania'' ,e. des.ic "'tempo histórico = tempo mit'ico·• .!.apena
o cordclro, e o leopardo com o Cábrlto ... u1 "E.ntão, nec 111ognos aparente: para dissipar o que bá nele de aparência bàsta que nos
metüe111 arn1enta leones, " a s manadas de boi.$ não t.e11.1erào os ooloquen1os nas <.\ondições patticularc s da ft)ef1talidade que osoon-
leões"ª· cebeu. Potque-, oo fundo., o primh.ivo s6 cnoonn·a significação
Não é demais iublinhar a tcndéncia - obscrvâvel em qual· e. interesse nas ações bumal)as (por c:,cemplo, nos trabaJho.s atrí•
quer sociedade, seja qual for o $ C U grau de evolu o - f)al'a res• éolas, nos costurncs sociais, na \'i<la sexual. na cultura) na medi-
1ouror "uq11ele 1e1npo", o ten\J:)O m(doo. o Grande Tempo. Por- da em que elas repetem gestos revelados pe.la s divindades, pelos
que essa rc!tauração ê o resultado de todo rito e de todo gesto heróis civil.iz;.ldorcs ou pelos antepu<;ados. O que não cabe no
signjfic ivo, .sem distinção. "Um rito a repetição de. um frai- quadro dessas a9(5es s.l3nificativas, dado que não ,em modelo
1ne1uo do teinp(> otl3inal"; ''o tempo original scr;e de modelo lOU\,S-humano, 11.ao tem non1e.nem importância. Mas todas essas
para todos os tempos; o que sucedeu um dia repete-se sem inter- àções arque1fpicas forant reveladas c1>tlo. ln il/o 1e111port., num
n.ipção; basta conhecer o nt.ito par.a coo1preendet a vida. •"9 A tc1npo qut não e possível situar c::ronologicantente. num tempo
l)(Opósito da arti<:ula áo e da sig.nífi-cação do m.ito, avaliaremos milico. Ao se revdarem, rasa.aram a duraç.'lo profana e introdu-
o.grau c:,cato de verdade q·ue .há oa e.xpressã"o de Van der Leeuw: ziram nela o tempo 1nitlco. Mas, ao m.esmo te·m1>0, criaram. um
"basta coo.becer o ll\Íto para cOlllpreend« a vida". Rqistrtm0$ 1 "começo·•. um «acontocimento'' que \1em inserir-se na pcrspeç..
pôr ora. essas duas características d,o tempo mitico ou, .segundo tiva triste e un.Jformc da du.r do profana - d a duraçlo na qual
os contextoo, sagrado, ntá8ioo•l'eli8loso, hierofâni(o: 1?. a sua apa.reoesn e desaparecem os atos insianifiôà.lltcs - e col'lstrói, desse
"repetibilídade", no sentido de que toda ação sig.nific--.ath·a ore- n1odo, a "história", a sêrie dos "aoontccilnentos dotados de um
produz;; 2 , o fato de que, se bem que-ron$3clerado trans-bistórico, sentido'', b(m difc-rcnte <la seqü ocia do.s gcstQS- au1omálicos t
situado alêtn de toda coml0$ência. de çerco niodo, me.sino na e1er- scn1.significação. De fonna que, poc paradonl que pareça-. aquilo
nidadt. 1 t-$tC temp0 sagrado tem, na história, u1n ",omtçoº 1 a a q_ue podcríanlos chamar a "história" das soeiedadt$:t>t'i.mitivas
saber: o momento cm que a divindade criou o mundo ou o ot·a:a• roduz..se exclusiva1ne.nte aos acontecin1entos mítioos que li \'cram
nizou, o n1omeuto e.in que o het6i civilizador ou o antepassado h;1a,ar in iflo ten1por e que n o deixaram de se repetir desde en-
rc\'elaram uma atividade qualquer .•. tão ate os nosros-diaf. Tudo quanto aos olhos do horuem modcr·
Do ponto de visu da espiTitualidade arcai . todo <.:omeço no e ,•erdadeiramente ''his1ôrioo'", quer dizer, único c-.irrc\'e1·s(...
é um lllutl 1t111pust., pOrtanto, uma abertura para o Grande Tem- v I. é considerado pelo primhivo como desdtuído de importân-
po para a eternidade. 1'alar.xl t\iau..,;;s \'iU bc1n que ''as coisas reli• cia., porque não tem precedente mítico-histórico.
aidsas que se passam 1io tempo são leshima e logicamente oonsi-
derada.s como se k passassem na nc-.midack"1º. Efetivamente-,
cada uma dessas "'c<>isas rclig:ios.as" cepcte sc1n fim o arquétipo, ISt. R<'pctiçio 1uto .P('riódica - Essas observaÇVes contri•
quer dizei', repete o que te,·e lusar no "con1eço", oo cnomenco buen1. em igual medida, pa.ra a inteligência do 1nito (§§ 1>6 ss.)
em qut., ao se ,e ·elarem, um rito ou um gesto religioso se mani- c_., pa ra a explicação do cempo mítico, lderofãnico, n\áiic<>-rcli-
festaram, ao mesmo tempo, na hisrória. g1oso, que é o principal objelo deste capitulo. Estamos daqui em
Como mosua.ren\OS mais po1meoorizadatnente 11a seqU(.n- diante em tondi.ções de compreender por gue razão o tc1upo sa.
cia desta obra. a hi5'ória, na perspectiva da mentalidade primiti- Jl,rado. religioso. não se reproduz. sempre periodicamente. Se de--
va, coincide com o mito: todo ocon1ecime11JQ (loda conjuntura terminada festà (situ.àda. betn e11tendldo, num tempo hicrof:l
l22 TP.ATAOó D E H1$TÓRJA DAS' J,•E.LJ(;JÔES O T'E/tfÍ"ÓSAOP.ADO E O itJTO DO G'f.BRA'O JlECO.\l&Ç() l23
niéó) se repele periodicame1ue, há outras ações ap..'\J'e.:ntcmente t'!I do Wn!f}()·Como já escudamos caiu alaurua mini.leia C>Seeuá-
profanas- mas só aparcntement - q u e , rocsn10 f.i:.i:todO·f.( pas-- nos 1'.11t_1a que marcatn o fim do ano velho e o co,ncço do ano
sa.r por "inauguradas'' eul uu1 illud tempus, podem ter ll1g,1r uho !lO\'O, llm1tar•DOS·emos1 aqui, a uma abordagem sumária desse
i"1por1u qu,;ndo. É "11.io ilnpl)(l() quando" que .se pode partir importante ·probk-ma.
para a pese-a, para a caça ... e imitar também um herói mfüco, A_ rfologia dos cenários rituais periódicos é de uma e.,.
tncarná•Jo, rc.•;:taumr assiro. o teD1po mítioo, sair da du ,ação pro- trao d,naoa l'lqueza. As pesqulw de Frszer, de Wm si.nck. de 0u.
fana, repetir o mito•hist6rla. Para voltarmos ao que há pouco mCx:11e. de utros aut res mencioiados t'lâ bibliografia permitem·
cUii:lmos, todo ,empo é sus vcl de se tontar 1,11n tcmpó sagra• nos resumir o essencial no esquema seguinte.
do; em qualquer momento, a duração pode set transmutada em . O fim. do ano e o cotoeço do no\'O ano dão lugar a;um con-
etcmidadt-. Nanualroente, como veremos, a periodicidade do telll· 1unto de ntos:
po sas.rado tem um lugar considerá..,el nas concepções rdigk>sas
da humanidade. tvtas é um fato ple:no de se.oddo que o próprio 1 Pu.r.gaÇões, purific.ações, confissâo dos pocados . afasta·
meC211is.mo tia irnhação de um arquéllp,o e da repdiçno de lnn mento dos demon1os, expulsão do mal da aldcia ' etc ·
2? Extinção e reati\•ação do fogo· ''
gesto arquctipico possa abolir a duração ptof.lna e transfigurá +
la em tempo sasrado e que. o faça e teriormenlé aos ri,os ptrió· J? Procissões mascaradas (as 1nás as representam as aJmas
dicos. &se fato ptova. J)Or um lado, que a tendência para hlero- d mortos). ttoepção cerinlorúaJ dos mortos, que são fes-
teJa os(banq.ue!es ... ) e que
fj.njzar o te.Jnpo-é cw:ncial, n,esmo independerl1emente dos sis.. .no fim das festas são , oo-n-
dundos aos llúlites da localidade.,
temss organiiados no quadro da vi.da social. e dos n1ecânis1nos ao mar ' ao rio • etc ··
destinados a abolir o te1npo profano-p0, exemplo, o "ano ,·e. 4.? Combates entre dois $fupos inimiaos·
5 u r : .• , r,....ez>> caruavat=o.
.,.__ 1_.__ •
sai urna.is, .•
in,•ersão da ordem
lho'' - e a instaurar o lCmf)O :S.1$.rado - o aoo n o v o - a00, quais • ,CJ.I
citlô 1tmporal e abren\ ou1ro empreendem u1ns rrgenençbo ro Mo tamb<m o ,mal de que lLl fron, fra, foram anuladas e substi-
:;;r--
O TP.AfPQ $A0R.AD0 E O J.f/1'0 DO El'ERNô 11.ECOM.EÇO
tufdas pela confusão de, toslar; as modaidades. N'eUeint.ervalo pa- Entre os babilónios, no ãecurso do ce-rimonial do Ano No,
rado,cal entre dois ' 1tempos" . ls10 é. entre dcis<:OJll)OS, ili oomu \-'Q,akftu (que durava J2 dlas), rocita,..·a,se-várias vezes no templo
nicaçiio torna-se possível mtJc os vi,1 os e os n1onoi, Quer dizc.r, de Matduk o chamado '•Poema da Criação", E11ú1nb efish: era
tncre as "fortna.s" realizadas e o pr · formal, o lat"-ar. Em cerco um mcio de.reatualizar. pela n)ag.ía oral e pelos rlio s que a acom-
sentido pode-sedb:cr que, na.s '·trev.-s'' e n o ' •caos'' iostaurados panhivom, a luta entre larduk e o 1uonstro marinho Tiamat,
1:w:la liquidação do ano yclh<i, todas as modalidades coincidem luta que se t('aVa.t'a in illo Je111pore e que, pela v.i\Qfia final <lo deus,
ea ooalescêacia w»,•crsal {"110lte11 =·udl]ó-,1011 =dissotuçào) 1>0s pusera tetn\C> ao caos. Os hititas prat}cavam wn uso análogo: no
sibilita sem esf'orço, automaticamente, uma cci11a·d.!ntiaoppóSI,. q11adro da festa do Novo Ano, recitavam e reatualizavam o due
1on-1m etn todos os ptaoos. lo exemplar tra"ado enuc o deus atmosfúico Teshup e a serpen-
Bs.1.edesejo de obolir o tempo n.aniítsta-$e mais eiar mente te lluyaokash 11• o combate sing·lllar cn1re farduk e Tiatnat era
ainda na "orgia" que. $0 re:dit..a, seg:undo wna es.c:ala_ muito v - repr nt.ado pe:Jo choque de dois arup0s de ho111ensi:. Esse ri•
riaM de violênc:li. por ocasilo do Ano Novo. Tan:i.bcoo a orgia tuaJ e encontrado wnbéJn entre os hititas e os egip c i os l l . A pas-
é wna regressão ao "obscuro'', uma :rcstáu!açâo do COO! priJn r- s:iien:i. do caos ao cosmos era rcpr.oduzida n-e:ucs ermos; '"Possa
diat e, nessa qualidade, preoeõc todacriaçao, toda man1íc.staÇao ele conrinuar a vencerTiamat.e a abr iar os seus dias!" A luta.
de formas orgo.1U2:adas. A fusão de lodM s "fonria.$" nwna só, a vicórla de Mardul: e a criação do mundo tornavam-se, assim,
vasta unidade indiferenciada, repete precisammte ti modalidade coisas prescnc.cs.
iildistiu.ta do real. J assina.lan1os (§ 138) a fuoç.ão e a ..significa- Por ocasUlo do aki1u, celebrava-se 1ambé:1n oza/anuk, a "fe.s-
ção simultaneamtnte sexual e agríoola da o ia. No il$_pecto oos. . ia das sortes", assim chalT!ada P(ltQue nela se tiravam as Sórte.$
n10Jógioo a "orgia" Ço correlato do caos ou da plrmtude final para cada n1s do ano ou, por outras palavras. tri<n•a,,t·se nela
e. na peupe(cjva teinp0raJ. do Orind-e TtRJl>O, cl.o ··1;nstan,te eter- o.s doze rneses futuros squndo uma conoepçao comum a 1nuitas
no" da não-<luração. A presença da orgia nas eerunôtuas que outras tradiçôes. A estes ritos juncavam-se outros: descida de Mar.
nlar m oo:nes pel'iódicos do tempo denuncia um de.slfio de abo- duk aoit tnfernos, humilhação do rd, expulsâo dos maltS Uá fi-
lição integral do passado Mia oboJiçdo da. crlu(lo. :«u1f "l.o gura de un1 bode expiatório, hicroaan,ia do deus corn Sarpani-
das formas" é ilu.$trada pela perturbação das rondtÇõcs soc1a1s tüm - bierosamia que o cei rei,,roduzia co1n uma hieródula.na
- nas Saturnais o escravo tonta-se seubor e o senhor, escravo; câmara da deusa e que <:ettament<! dava o sinal de um nlotnento
na Mcsopo1ânúa d..irona-se e hwtrílba-se o rei - pelll çoi_n9· de lict"liciosidade coleti\1al ' . Assistimo&, assim, s um regresso ao
dência dos con1.rários - . a matrona é tratada como oortesa - cao.s (supremacia de Tia.1na1, "cq-nfusão 4as formas"), sea:ulda
pela suspensão de todas M nortnas. O desr r3n1epto moral, a de 1una novs cria.çâo (vitõria de lardul.:, fixação dos destinQS,
vjofaçiio de todas as inte.rdiçõc:s, a coiucidfncta de todos os con- hierogami.'I = ··o.o\'o nasci1nento"). Ao mesmo tesnpo que.o mun•
tráJ·iosnllo ten.1 outra inwoçãoque .não seja a di.swluçãodo mu_ndo do anti.ao se di™>tvia oo caos primordial, obtinha-se 1ambémJrn-
- cuja imageru é a eomunido.de - e a rt:Stauraçl(o d jllud 1e,11. plicitamcnte a abolição do tcn1po aruigo. Di.rfa1nos, hoje, que a
pus primordial, que é, evidentement.c, o momento m.1t:1éO do ct>· ''históri.-" do ciclo c«minara.
iu(!f.o (caos) e do /ün (dih\vio ou ekpy,6sls, apoe3bpse). Para a mcatalidade primiiiva:, o tetllpo antigo ê constituído
pela duração profana. na qual se lnscte\·c-ra1n lodos aconteci•
n1enLQs sen> importância, quer dizer. sem modeJos ou arquétipos;
153. Rt'pttlç:Ao anual drt cosmogon ia- Essa significação cos- a "hiscória" a memória desses acontecimentos, daqtiiJo que,
1nok>gica da orgia carnavalesca de fi:m de ano é cot flt!'Jada pelo afinal de- contas, p0demos cb:nnar nã valores ou mesmo "pe.
fato de o caos ser sc1n))(c seguido de uma no,·a rnaçao do cos- cados'' - na medida em que elts -constituem dtS\'ios cm rela tio
mos. 6n1 formas 1uais ou n,enos claras, o.s ocrimoniai$ pcôõdi- às n9rnw arquctíJ>ieas. Vin1os qu.e. para os primitivos. a verC,a-
eos procedem todos a uma repetição slrnbólic.l da ctiação. deira história é, pelo contnil:io, uroa mito-históri . que ela regis-.
Llmitemo,no; a alguns exemplos. tra tã()-$) a repetição dos ;es1os arquedp!cos te\·elados pelos deu-
326 TRA1ALJ0 Dli HJS'TóitfA DAS RELJGIÓES o ra,ro SAGRADO E o JtllTO DO ETERJ.'ô kECOi\fE(:ó 327
ses, pelos ruuepossaOOS ou pelos heróis c 1ili:aKlon:s durat11t. o tem- ções judaica e cristã 17: o mundo teria sido criado durante os me-
po mítico, i11illo tempere. Para o p1JIO.itivo, tod3$ repetições ses de iishri ou Nisan, quer dize-r, durante o período das chuvas
dos arquêtir,os têm lugar fora da duração profana: $e se da• pcriodo coSJnogônico ide-a!. Para o.s cristãos, o mistério da bêll:
qui que, por um lado. ações deste tipo não poderiaa., constituir çâo das águas na Epifania ltm, igualmente, uni sentido cosmo•
•• pecad0$•', desvios em relação à no11n.a t que. por outi:o tado, gônico: "Deus<:rlou de novo os céus pot<111e os pecadores adora•
tais ações nada têm a ver con1 a <lurar;ão, oom o •(ttmPo antigo .. rJJD os çor_pot crlcsu: ; çrioo de novo o mundo Que linha sido
periodicamente abolido. A e:<puls1i.o cios demôf'lios e. dos espiri· ,nanchado por Adão; realjzou uma l)Ova criação 1:om sua pró•
tos, a confissão dos pccados, as purificaçõest, e1tt.esp<:cla!, ore• pria saJiva.''1' "Alá ê aqude que t:ai a criação e portanto ar ·
grci;so sitnbôlico ao caos prítnordial, 11Ldo ;sso !iignifica. a a:bOli· pete'', diz o Corão•-9. Es-1a eterna repetição do ato éosmogõni•
ção do tempo profano, do tempo aotlso uo qual&: veriíicsram, co, que faz de cada Ano Novo a inaugtu·aç:(o de uma era, permi
por um lado, os cot11eciment05dcstituldos destritido e, poro\1• te o reg.ressodos mort0$ à vida e alirnenta a esperança que os cren·
tro. todos os des,·ios. t-eS lêm na ressurreição da carne. Essa ttadiçâo subsiste tanto nos
Um.l vez. por ano, o tempo antigo, o paslado. a ruemória povos seuúlicos como nos eristâosW. ''0 onipotente desperta: os
dos acontei..;mt.ntos 1\ão exe-n1plares, cm resumo., a ,:história" no corpos e as almas oo dia da Epifania. »21
sentjdo atual do tenno, são abolidos.. A re,,eticão simbólica da Um texto pelúevi, tradu:ddo Por Dar1nestcter, diz que "é 110
oosmogouJ3 q\le se .segue no aniquilame-nto 3irnbólico do inundo mê$ Frava,din,. dia Xurdhâtb, que Ormazd fará a ressi1rrcição
velho regenera o tanpô ,u, $rl0 /()talidade. N:!o se trata unicamente e o 1segundo corpo• e que o mundo será subtraido à impotêacia
dt. t.uua Jesta <1ue ve1_ninserir na duraçl\O pro farta o "inst3D.tc eter- oom os dentôníos, os drugs ... E b3vecá em tudo abundâJlti.a· não
no" do tempo sagrado; o que se tem em vista é, afC-!tl disso, e haverá m .s desejo de alitnentos; o mundo set·á puto, e o ho e,n
como já di$'iefflos.• a.anulàç o de todo o te1npo proiano ncoado ver-se-á livre da opc,slçâo (do C$J>irito .1nau) e será imortal para
nos linti1es do ciclo que se fecha. Na aspir.r.çüo de reoome-<ar u,,,a sempre", Qru:Wlui diz que, no dia de- Naurôz. Deus re&uscitou
vida 11Qva no seio dt un,a 11ova crluç.4<1 - aspiração mãnifesta· os m rtos, ''lhes deu as suas aJmas, e deu ordens ao ccu. que
meo1e presente em todss as cerimônias de fim e de começo de f<"..:cair uma chuva sobre eles, e ê po.r isso que as pessoas adqujfi.
ano - transparece •a1nbé1n o dC$Cjo paradoxal de se conseguir ra1u o <:Ostume de despeja.e água nesse dia" 2. A $ estreita\ liga.
inaugurar uma existência a-histórica, q11er dib?r, de $C" poder vi- çôes nt e 8$ idéi.i.s de ''criação pela á3ua ''. (eosmosonia aquáti-
ver exclusivaLue1ue 110 tempo sagrado, o que equlvi)e a 1>rojctar ca, ddóy10 qoe regenera pcriodicament'e a ,•ida "histórica" chu-
unta regeneração de todo ,empo, uma transfiguração da dura- va). de na:scimento e de ressurrcição confirmam-se lle$ta f do
çlio en1 "eternidade". Taltnud: •<])cus tern 1 chaves: a da ehu,·a, do nascimento · •
1
En<:ontramos essa necessidade de regen«aÇãOtotal do wu1po a da ressurreição d0$ 1norcos. •.u
- realizáNcl pela repd:içr,o anual da cos1nologia- me-smoent tra- O Naurõz, o Ano Novo persa ,. é ao ntcsmo tempo a festa
dições que não se podem qualificar de ;'pri1niti,,as••, Já 1nenci:ona· de Ahura Í\1aufa - celebrado no ••dia Ohnnazd'' do primeiro
mo,.s as articulações da festa do Ano NO"o entre os babílônios. Os. mês - o dia c-n\ que teve lugar a criação do mundo e do
eltmentos cosmoeônicos são igualmenle lraospa1e1ues.no cerimo· h1nem M. É no dia de Na\1rô:z. que tem lugar a •·rtJto,·ação da
nial Judaico correspondeute. Na ••,'Oh.a do ano'', oa "saída do cn:.çâo .. 25. Segundo a tradlçâo trins:mitida por Dimasqi, o rei
:i.no"ls tinha lugar é. luta de Jeová com Rahab, a derrota deste proclama"a: "Eis aqui UJ1'Jno\'O dia. de wn novo m de um no--
monsl(O ntarinho (que corresponde a Tiam.at.) por Jeovã e a vitô· vo ano: é preciso rtnovar o que o ttlnpo consunliut" É também
ria sobre .as águas, ql>t equivalia à repetição da criação dos n1uo• ncs1e dia Que o destino dos homens ê 1na ado para um ano iu-
dose, 30 mesmo tem àsal"açãodo ho)pem(vitóriasobrc.a. morte. l ro. Na noite de Naurõz vecm Sl!"fog,os e tUtts em grande'quau.
gru·aruia da subsistê-ncia alimcota.r para o ano q1,1e chega) 16• tidade e raze:,n . se puriflcações pela .lgua e libações para se obte-
\Vensinct assinala ainçla outros vcstíe.ios da concepção ar· rem clwvas abundantes no ano vindouro .
caka da re-c.riação anual do eosmos q:u.e se consiervam nas tendi- Aitm disso. por cx.asião do ''O·rande NaurQZ'', punhatu-sc
-
1
328 TRATADQ DE ff1$TÔRIA DAS kEUGJôES O TE/.fPO SAGRADO I! 0 }.flfO DO &TERNO RECOJ,/EÇO 329
num jarro sete cspêcies de se.mentes e " d o seu crescimc-oto uma nova ordem do temJ)O, ele- aboli.a a aotiga'', Assurbanipal
tiravam,se-conclusões sobre a oolhcita <lo ano". Trata-se aqui de ,,ia a si mesn10 como uJn regenerador do cosmos, porque, dltia,
um costume análogo à ''n\ar ção das sone$" do A110 No,·o ba- "desde que os deu . na sua bondade, me lns1alatam no trono
bilônico, que chegou a,é os noosos di s nos ctÜ9lo.oi.li$ do dia dos meus pais, Adah enviou a chuva ... o trigo crc:sceu ... a co
do Ano NO\fO entre os mandea11os e ()5 yézidls. E ainda porque lheita foi abundante ... os rebruthos multiplicaram-se .. .'•3S,
o Ano Novo repete o ato costnogônioo que os º"002e. di.M'' que A profecia da l V écloga, mognus ob lntegro satelon1n1 nas-
separam o Natal dà EpÜàuiã Sâó <:onsidtt'adM umA tfigtlraçâo ci1ur ordo... aplica.se, em certo sentido . a qualqutr so rano.
dos doze meses do ano: os catnpon s da Europà nlk'> tffll outto Com efeito, oonl qualquer novo soberano, J)Or ins[anificante que
meio de determinar a temperatura e a quantSdade de chuva que fosse. começava uma «nova era". U1n novo reinado era consi·
can1,C(erizarão cada um dos meses seguinte$ s.cnio o dO!:i ''sinais derado uma regeneração da história da nação e até mesmo ela hl.$.
meteorológicos" desses doz.c dias2; . Por oc.nião da festa dos Ta· tória unjversal. Eoganar-sc-ia quem prncodesse reduzir essas ex-
bernárulos delenninava,se, iguabnente. a quantidade.de â,g.ua que presslies prettnsiosas quilo c1n que das se transformaram oas
eaberia a CM.a mêslS, Entre os indianos védioos, os dote dias do monarquias decadentes: presunç,.ão, dos soberanos. adulaçâo dos
me-io do inverno eram urna imagem e uma 1éplica do MO conmos. A esperança de uma ,.nova era" iuaugutada pelo no·
inteiro >e o memio teme? oonotntrado nessts doie dias reap.a. vo soberruto não era apenas autên1ic:a e sincera: se. nos colocar•
rc,ce na tradiç-ão chinesa· mos na peT$pcctlva da espiritualidade da humanidade arcaíca,
(SDeraoça P.'lftotc·nos--á também naioral. Aliás, oão há necessj-
dade de um novo reinado para abr[r unia no,•a era: basta ,un ca.
IS4. Repetlç:io coatincenle- da cosmoionia - lodos os ta- sarnento, o nascimeéltO de uma criança, a construção de uma ca-
1os que acabam()$ de analisar têm uma caractcrlstica comum: SU·- sa ... Sem i:nterrupç.ão e quaisquer Qlle sejnm os meios usados, o
põem a idéia da regcn_cração periódica do tempo i:cla repetição cosmos e o home1n reaeneram-se, o passado consuma«, as fal-
simbóliça da oosmogl)oia. l'.1a.s a repetição da cosmogonia não tas e os pecados s.ão di1ninados ... Todos esses 1neios de regenc-
es1á ria,orosamente ligada ás cerimônias coletivas do ..\no Novo. raçâo têm a n1csma finalidade. por diferente.que seja sua rornlu•
Por ou1ras palavras. o 1en1po "antiao" > profano, .. bi tórico"_. lação: lr.lta-se d,e anular o ttmpo ,passado, de abolJt a história
pode ser abolido e C>te1npo n1ftioo, "novo", regenerado, pode por uni rqresso contínuo in il/Q 1 1npore- .
ser).ns1au.rado, pela rtpe1Fç/Jo da cosmogonia, no próprio dtn1r· As.sim, os fijiano.s repetem a .criaÇão do mundo não só por
i ô do àüó e Lod.epettdtittemt1tt.e dós ritos col.etivos menciori:.dos. ocasião do ooroamerito do novo chefe., Luas ainda cada vez que
As!im, para os antigos islandeses, 1or:uar posse de um terreno .as colhei1as eSlào comprome1.id:is'1• Quando os ritm0$ cósmicos
(la11dnâ111a) equh•atia à transformação -do e.aos em oosn1os>1, e o:i se tomam aberrantes e a vida na sua totalidade se clia ameaça-
Jndia \'éclica a ocupação d wn território t<:)fnava,se vjlid:i da, de$ procuram .a salvação num f'Ctorno l11prlncíph,ru. isto é,
erigindo-se wn altar do fogo, isto é, no flllal das contas. PC>r1neio esperam a rN::upe,ração do Cosmos nào por uma reparação, 1nas
da repctiçãO da cosmogonia. Com efeito, o altar do fogo repro, p_or urna regenctuçdo. Concepções análogas explicam o papel do
du2.ia a universo e erigi-lo correspondia à criaçr,o do mundo; a "comeoo". do "novo". do "viraioal'' na magia e na medicina
OO$trução (lc. um altar desse tipo repeti.a. s<:ntpreo ato arquetípi-
co da criação e "construia" o Lempon. popular ('•a água não coosumida''· a ''bilha nova", o sitnboHs-
Os ftjianosc-hamam "criação do mundo" à oerimônia da ios-- mo da •·eria.nça", da '"virgem". d.a "in1sç1.d.1da" ...). Já vil.nos
talação de um novo chcfê l . A mesma ide:ia se. encontra. não n que :1 1naaJa 1orna .atual o acontecintenlo nU1ioo que garante a
Cfflal'ia.mente press-1 com tanta clare:ui, cm cjviJJzações mais validade do remódio e a ctu·a do doente. O simbolisn10 do "no-
e,·ohúda$, en\ que toda a entroni.zação tem Q valor de uma rc- vo•·, do ''não-<:otueivado''. tambén1 garante a oonteroporruieida·
crlaçâo ol.i: de w11a regeneração do mundo. de. de um gesto atual com o acootecituento mítito arquetípioo.
O primeiro decreto que o imJ)CfadQr chinês promulgava ao Cotno no caso de- uma colheila que se acha cm perigo, ob rtl4se
subir ao trono nxava utn novo caleudario e., ante$ de estabelecer uma cura, nQ PQrnteio <le uma reparação, mas POr tneio de um
330 17v11'ADO {)E HlSTóRJA DAS ftELJ(Jf()ES O TEM.Fó SAGRA.Dó e ó ,\1rt0 0 0 STER!v'O RECOJI.EÇO 331
reco,neço. que implica o retorno ln illo Jen,pore. (N3o e ab olu· cio co»1eça de munei!IJ absoluta. vj$10 que- todo o passado e toda
tamemc. neoc:sslirio que a fcitioetra que pratica os ritos tenha. 001\S'- a ' 1hiscórl.1'' foram definitivruneure abolidos sraç3.5 a ,una fui•
ciência dos· SCU$ fundai:ncntos teóricos - l)asta que os ritM em gurante reintegração i:10 "t os",
qu tiio impliquem estas 1eorlas e delas resuJte1n; cf. § 3.) Encontramos pois, no homem ,. a todos os nívc:i , o mesmo
Idéias análogas, ccr1amentc desfiguradas por e.xttesc:ências desejo de abo.lir o cemPQ profano e de viver no tempo sagrado.
aberraflres e s:,01· j1levic.iveis de&radaçOes, se maoift:tttam nas tb:· 0\1 n}eJhor, encontran1.o oos perante- um desejo e uma esperança
ni mineiras e meu.Uúrgii:d!''· Por outro }ado, as cerimônias de de regenerar o 1empo na sua 101nlidade, quer dizer, de poder vi·
iniciaçâo (isto é·, a "01one·• do homem \'clho e o "nascimento" y e r - ''viver humanamente", "hiscotkamea1e'' - J\a etertllda-
do homem novo) o.sse,uaitt na esperança de que o ten1po passado de-, pela transfiguração da· duração cm wn instante:- eterno. Esta
- a ''biscória" - p0$$a ser abolido e de qtl<! um tempó novo nostalgia da e1c:rnidade C', de certo modo, simétrica da nostalgia
J)OSSa.ser h\S1aurado. Seo simbotisn10 aquático(§§ 6 l s.) e lunar do Paraíso que patenLcanm no capítulo anterior (f 146). Ao d-e-
desempe-nhou um papel tão ilnp0rtante :na vida espiritual do ho• sejo de se encontrar perpétua e espo1na1w.1mente num espaçosa
meLU arcaico, íoi justalncn1.c porque tornava evidentes e uans- 3tado corres-ponde o des:e.jo de víver perpet,1amen1e. graças à re-
partntes a aboUçâo o tes1abeleci.tuento i.ninterrup1os dat "íor . petição dos gt:s.tos arquetípicos, na eternidade:. A repetição dos
mas'', o desaparecimento e o reaparecimento cíclico. o eterno re- arquétipos denuncia o desejo paradoxal de realizar uma fornta
t o r n o - de fato, o elerno re,orno às origens. Em todos os pla- ideal, o arquétipo, na própri.a condição da exi.st.éncia humsna,
nos - desde-a cosmologia à soterlolog:ia- a idéia da 1-e:,enera,. de se achar na dura o setu lhe suportar o peso, quer dizer, Sffll
o seacha ligada à cooccpção de um tempo no,•o, quer dizer, sofrer a sua lrre\'ersibilidade. Tal desejo, noten,o-Lo, 1:i.ão Pode
à crença num éórntÇfJ(Jf>s<>ltitoao qual o homem pode, -por ve- ser interpretado como uma atitude. ·'t$pirifualista' ·, para. a qual
z.cs, ter acesso. a exístência terrestre, com tudo o que implica, se des,•alorizaria
em proveito de uma .. cspiritualidack" de desapego ao inundo.
Pelo con11ário, aquilo .a que J)Oderfaluos cban1ar .a ''nostaJgja. da
155. A regeueraçao co1il - E, obs::ssão pela rcgenernção eteroJd(lde" proYa q_ue o hometu aspira a UJU paraiso coucreco
e erêque a conquista desse parais<> pOde se realizar 11t!sle mundo,
exprime-se ainda nos rnitos e nas doucrinas. do tempo cíctioo que na Terra. e. agora, no instante atual. Nesse- sentido, os n1itos e
cswdamos cm L e 111J1the de 1�é1er11e/relour. As crel'lçat num tem· os ritos arca)C()s ligados ao C$paço e ao tempo ag.rados podem-
po c{clico, tlO eterno retorno, na de.s1rut'Çào pc.rió ic.a do univer-
se reclulir, ao que , 1ree<, a outras iamas le(()tdações oosláigi•
so e da hunwnidadc, prefácio de um novo lmive1:so e de unta o.o- cas de um "p a r aíso tenes1re'' e de uma espécie de ecernidade "ex-
va humanidade "rc:gene,rada» , todas atestam sobretudo o jo perimCtltal''. a qual o homem julgâ pOder ter ainda ))fetensões
e a esper.mça <.te uma r eneração pel'iódica do 1eo11)() passado, de aJcanç.ar.
da hi:rfória. No fundo o cielo em questão é wn "Grande Ano'',
paro u.sannos u1ua. expressão, aliás, bem conhecida da tc:nnino.
Jogia grtto-orien1al: o '"Grande Ano" coineçava .numa criação
e te:nnina, a num caos, quer dittr, numa fusão completa de to-
1
às vezes o uon,e de '-Se.rp<:nte" (§ 4S) e A.gni, o deus do fogo a par de uma ••fqrma su-a','t;"''. cada divindade.aprcc;enta uma ''for
é, ta1nbém, um .. sao."rdotc,a:siira". quer dizer, ess.encialJllElnte uJn n1.i terrivcl" (krodha-1ni,r11). A esse- respeito, Shlva pode ser tido
«d mónio", de,(cJito, por l'eaes, 0011\0 "te:Jn pés setn (abeça., por arquêtipo de u.ma rica serie de <leUSC$ e de deusas.• visto que
e e:sicondendo as f1.t&s d11t\s cabeças", exatamente como uma ser cria e destrói tit1nkamen1c todo o universo.
penle tnrolada211 . o Aitareya Br(JJunana aúrms que Abj 1 hll·
yia é, de Ul\1.a runelra in,•isi\'tl (paroksh.ma), o que Ag:ru e de
159. Ccincide11#a opp()siforur,, - ,nodeln 0101eo - T o d o s
uma maneira. vi:si,•el (prq1:,qk:sl!fl) 1 ou, pqr Q\llril$ Pi\!ª'(f , ª «wr
esses mitos nos- apresentàrn uma dopla revclaçâo:
pente" nada mais e que u.rua \lir1ualidade o fogo, t.nqua_nto as
trevas sâo a Juz ero estado l.aien1c. Na Vtt,asaneye Sornlutfl, V,
33. Ahi Budhnyia é identificado com o Sol. O som11, a bebida J! Mruúfes1am, por um lado, a polaridade de duas persona-
lidades divinas. provel)ientes de um único e rutsmo principio e
que confere a i1nonalidade, é, pO/ exeeJêttcia, ''di,ina'', ".solar", d tinadas. t m dh·C1Sas versões, a reconciliaretn-se nun1.illud ftm·
o que o:loim_pede que se. leia no .Rig Yeà.aque ;'Soma'', "da mes· pus escatol6gjco;
ma rorma que.Agni, .sai da sua velha pele". expressno gueoonfe-
rc à ambrosia unla modalklade ofídica». \ 1t1rur, a. deus celeste- e 2- r vlaniíest am. por outro lado. a c'-Oincidenriocpposiloru,n
arquétipo do 1'Só berano Unh'Crsal" (§LI). e., ao m.esmo 1empo, na estrutura profunda da divlndade. a qual se revela alternada
o deus do oce-ano, mc,rada d.u serpeott3, co'mo meuclooa o 1\fo- ou eoncorrencentcnte benévola e te-Trivel, criadora e destruidora,
hábh6rota: ele é o "rti das se.rp ntes" (nâgarâja), e o Atharva solar e ofldiana, isto é, manifesta e virtual. Nesse seottdo, é jus-
Ve</(1 chama.Lhe mesn,o "vfbora". to diter·k' que- o mito revela, mais P.l'Ofunda1ncn1.e do que reve-
Na per.spcctiva da e>:pe1iêncla lógica. todos s atributos laria a própria experi cia racionatis(a, a es1r1.1tma da divinda-
ofidicos 11/lodeW!.rlan, convira uma divindade urartiana como Va- de, que se situa alén1 dos a1ribu1os. reúne todos os contrários.
runa, Ma& o mito deS\·cnda uma rt&ião ontológica inacessível à A prova de que tp.l e.xperiência mJtíe-.a não ê a rrante está no íà-
expcriE.neia lógi Sl.l}:)erfkial. O milo de Varuna ft\ttla a biul · to de ela se. integrar quase u.uiversalmente na txperitncia relígio--
dade divina. a coincklência doscontrãrio.s, a totali ção dos.a,r1· sa d.a humanidade, até 1nesmo num. trad.içiio tão riiorosa co1no
butos no seio da dh•inda.de. O mito expri.iue plásdca e dtamati- é a tradição juda.ico-cristã. Jeovâ é bo1u e.éolC:rico ao mesmo tem-
camcnte o qve a metafísica e a teologia definem dialeticamente. po. O deus dos místicos e dos 1eólo3os cristãos é turifica,11e e
Heráclilo sabe que "Deu$ e o dia e a noii-e, o iQverno e o \'erào, d<Jce e é desta cohttidenria Q.PJ)()Siloruur que parciram ai ITJP..i§QU·
a guerra• a J)a?. a Sâcied de e foMe: tõdM M õílõsk<,es <!tão .sadas cspecuJaçüt.s de. um pseudo--Diniss, de m Mestre EctJiart.
nele''l 1• Fortnulaçâo análoga aparccc no texto ínc:Uano que n ou de uro Nicolau de Cusa.
<Ut que a Deusa ''ê Shri (esplendor) na casa daqueles que prah·
cam o bem, mas que el<'I é Alakshmi'(o contrário da lakshmi, A coiltcidentlá OPJX)siforJ11n é uwa das.maneiras mais arcaj.
deu da sorte eda prosperidade) na casa dos maus"32• Mas, pot cas de exprimir o paradoxo da l'talidede divina. Voltaremos aes,..
seu lado, este texto ex.plkita some1)te, -à sua nianeira. o fato de sa íórmul.a, a propósito das "fotmas" divinas, quer diier, da es-
as grandes deus3S indianas (como Kâ i), como as grandes deusas l!Utura t,·ul ge11eris qµe revela qualquer '' p e rsonalidade'' divina,
ent aeral acuniularetó tanlo os atributos da do ra cot.uo os do ba1.-endoque se entender que.a pel"$ODalidade. di..,ina oâo Pode ser
1error. EÍas são, ao mcsnio tempo, djvindades da fecundl<Lade e tid,..., em caso algum, l)Or simples projeção da pel'SOJlalidack, hu-
da destruição, do nMCimento e da morte (fr«iütntcmentc, são 1nana. No eutanto, se bent que 1al ooncepç.ão, na qual todos os
tambén1 deusM dá guerra). l<âli, por exemplQ, e chamada ''a der contrários ooihcldem - ou n\.elhor, são t(aoscendidos - . eons-
ce e a benevolente". o que u3o i.Lupede :i sua mitologia e a sua titU3 1>recisamente uma definiç-ão r,11)1in111da divindade e Jnostre
iconogra.fia de seren1 terrificantes (JCâU tst.l «> t;rta d sangue-, até que Ponto esta ê "absohua1nente diferente'' do homem, a coit1-
traz unt colar de crAniô$ humanos, segura u1n cabce fcn.o de. um clde,uü1 ôpposi1on,n1 não deixa por isso de se tornar ont rnodclo
rânio) e o seu culio de ser o mais sangrento da Ásia. Na Índia. exemplar para certas categorias de llomtns religiosos ou para cer-
342
,ltORFOI.OGIA. E FUl\'Ç .,.f ODOS ,\111(}$ 343
ias modaLidades da. l;')(J eriência religiosa. A t·oinrit:kntW opposl•
tórum ou a trao.s«'tkiêJtcia. de todo! os wributos podem ser reali- tes mes1no de e.-.:pritnjr este conceito da biunidade divina em ter-
,zadas pelo homem de 1odas llS mai h.as. I; M-Sin1 (J.Je a "orgia" mos metafísicos (e.sse-1W11 e$$C) ou 1eol63icos (manifestado -
a apresenta Dlvel mais demcnlar da,vid r<ligiora: pois não M0-1ua.oifestado). oomeçou pór exprimi-lo em termos biolóiJcos
.simboliza ela o relomo ao amorfo e ao indi 1U\1Q, a r«uperaçio (bisSi:.'\'.ualidade). Já tivemos <icasião, 01ais de un1a vez. de verifi-
de D"1 estado no qual lodoi os íltributos se anulani e os conu:i- car que a ontolosia arcaiea se exprime em termos biolôgic0$. Mas
ri l!:oioc em? M o devenlos.dei.":tr-oos iludir pelo aspecto exterior dessa Ungua-
1'.tas, pôr ouuo lado, d veadamos o, D\ie3mos eniiname.n- gtm, tomando II terminol®à ft\Ítie.-1. no sentidó ôôii<:ielo, profa.
tos o o J)róprio jdeal do sage e do asceta orieBtal,. cujas 1écnicas oo, ''moderno'' d(tS palavras. ,.:A mulher'' num texto 1nftico ou
t mé!odos ronteJnplad\'0$ tên1 ffll vista transcender radicalmen- ritual nunca é a ''mulher": ela remete f>ara o principio cosmo16-
te todas: as qualidades. qualqllt.r quekja a soa oa.twez..a. O asce- gico que ela incoJ'))Oia. Por isso, a ruidtogloja di\'ina, qu se en
t;,1, o JO.ge, o miStico indiano ou -chinês esforÇa-se Por suprimir contra. en1 1ancos mitos e·tft'nças, tem um ,·aJor teórico nletafi.
da lua (. periêncJa e 00 soo consci.êocja i()da a pécie de ''extre- síco. A \'erdadeira i.ntenção da fónnulaé exprlioir - cm termos
mos", quer dll.C!, poc adquirir u1n es1ado de aeuu·aõd.1de e de biológicos - a coexls1et1cia dos oontrários 1 dos principios cos--
iudifet'eoçi perfeitas, por 5e tomar impc.nneá:vel ao prazer e à mológicos - quer dizer., 111aclto e fl111eo - 110 seio da divindade.
dor... por se !Orn.·u· autÔOOú.'10, Essa superação do,s extremos por Não ê este o lUS,-'\l' Jndie.tdG) para retomar um problcn1a já
n1eio da ascese e da contemplaçã,o co,1duz. latnbém, à "coinci· 1rai.tdo no nosso ,Wylhetle lo réintégrotion. Lcmbrcn).OS, siêi.1ples-
d1.ncia dos oontr:i..tios": a consciência de tal homc:m deixA de co- mente, que as divindades da fc:nilid.ade cósn\ica são, na.maior
nhecer conflitos e-os pares de coauários - prazer ·e dor. desejo parte, andróginas, ou fêineas nu:rn ano e mac.bos no ano s,eguinte
e repuls.a, frio e quen1e, a.gradá,·,el e dcsagrach\vel - desapare. . (. por exempl ,. do ''P.spirito da Flofcsta" dos es1ônios). A
ocrn da sua expetiêocl.a. '10 mes(I)() 1cnlpo que uma "totalização" maior parte das d1v1ndades da veiiet çâo - tJpo Attis, Ad nis
se opera nele e- empárell:ta oom a ',oralJza ·' dos ex1Teroos no DJoniso - e da Grande Mãe - tipo Cibele - são ·bissexuadas'.
'
selo da divindade. Aliás, co1no já vimos, na perspectiva oriental Nwna religião tão arcaica como C a religião australiana. o deus
a perfeição é i.tlco.ncebível se1n 1.1ma cotali1..ação efetiva dos primordial e andr6$itlO·, como o é, também, nas religiões mais
couuârio.sll. ·o neófito começa por tentar "oos1niciz.lr'' toda a evoloJdas., na Índia. por excm o - 1x.>r vezes. mestl10 Dyaus,
iua experiência, assimilando • aos ritmos que- dominam o uul- Purusha, o Macrantropo cósmLC0 $4, , O par dívinô mrus impor.
vcno (o Sol e a Lull), DlllS, uma. vez obtida essa ''cosn1ici1.ação" 1 tante do 111teâo iudiano.1 Sh.ivã-Kâlt, é, por\' , re1, sen1ado
ele orienta todo o seu esf'orço no :sentido de 11ni/fear o "Sol" e fo
b 3: f!ll deu ser único (ardlurilfirts/n,ara). B a iconografia
-a ''Lua•·, quet dizer, de assumir t()do o CQSlnQS; d e rc-t'az cm si 1an1nca e nca ein unaa.ens que nos tllOStràm o deus Shh•a enJa.
e-por sua conta a unjdade primordial aoletior à criação, un1a uni- çando eslteitrunentc.Shakti, a sua própria ''potência'', figurada
dade que não s:ignifKa o caos da prê-criáç.ão, tnas o ser ludife,. oomo divindade feminina (Kâti). Aliás, toei.a a .mfstk"á erótica in•
rencia<lo no qual todas as form são .reabsorvidas. diana tent por <ibjeto especifico â pet"fciç-ão do homcn1 pela sua
identiíicaçiio com um "par di,..i'no", quer dizer, pot via da an-
droginia.
160. O mito dl'I a11drogtaJa dl"l1hu1 - ·um nO\'O e:te-mplo ih,s· 1\ bissexualidade. divina é um íenôme.no muit0 dissesninado
trará mals claramcnte ainda o esforço- feito pelo ho1ne1n religio- nas rtligiõt$ e - caracteristica que- deve ser sublinhada - são
so pata imitar o arquétipo divino re\'clado pelc>s niitos. Dado que and.róginas até nlesn10 divi11dotles m(lst.uliuos ou /en1i1tinas por
todos os a1rlbu,os coe,istem na di\•indade, é de.esperar que nela excelh1c/(I . Qualq,ucr que seja a forma em que a di\•indade s,e
(Qiru:.idam, iguahnt'ntC., sob uma !forma mais ou 01eno m.aoifes· tllanifeste, ela é a realidade i.iltirna, o. podef" absoluto e. essa rea-
1.a, os dois $ex<is:. A androginia divina não passa de u1na fórmula lidade, este poder, oeáam-se a deiicartm-se lilnitar r quatq·uet
arcaica da biunidade divioa. O pee1s,men10 mitico e religioso, an. espécie de ,uributos e. de.qualidades (bom, mau, i:nacbo., fêmea).
Alguns dos druscs Q.ipcios mais antigos eram bíssexuadoS'6• fin•
'!""'-----------=---
-
,l10RFOLOCl.4 B FU,VÇÂó DOS J.flTO$ 34$
1 l U TA.DO D E HJSTÓRJA DAS RELIOIOES
tro! os grc.gos, a androginill ni\o deixou de ser admitida, tnesmo 001mntários rab(oJcos dão a eJUendcr que Adão também foi, por
nos lilütl1os séculos da AnLiguidade3T. Quase Lodos oo deuses iJ»· vc1.cs, concebido como MdrógÍt\O. O "naschuento'' de Eva não
cería sido, pois, mais do que a cisão do andrógino prirnordi31 en1
portantes d.l initot-0t1a tieaodioava cooscrvam ainda \'estigios de
androg:inia Odin, lol:i, Tuisto, Nettbus .!t, O deus iraniano do dois seres: mac.ho e fêmea. ''A<lào e Eva íoran:i feitos dorso com
Len1p0 i.liml1ado. Zer,·an, que os. historiadorcsgrtgM tn1dutiam. dorso,·liga.dospdosombros.EntãoDeusseparou-osdando\ltllgol•
oorn raião, Cronos. é t1u'!lbét11 andrógino, C·Zcrvan deu origem, pede ntaclt doou cortando,.osem dois. Outros são de opinião di·
Jercnte: o primeiro homem (Adão) era hon)e1n do lado direito e
como já di1SOJ11C11,ao, gi'rnros Onnuzd eAhriman, o deus do bem muJber do lado esquerdo, roas Deus rasg.,au cm duas metadts. ••41
e o deus do l. o <kus da luz e o dell$ das tre\'as.». Os próprios
chineses ro:onhcoem uma divindade supt·etna andrógina, que era A bissexualidade do homero pri.mi1Jvo forma uma tradiç-ão ainda
precisa.inentt o deus da obsçuridadc e da luz40: o slmbolo é cor• mu.i.10 viva nas chamadas sociedades primitivas - por exetuplo,
rente, ,i.::to que a luz e u trevas são apenas. aspectos sucdSÍ\'OS oa Austrália, na Oceãnia,'-'1 - e fiC()U n1csmo no seu estado origi-
de \1Ul1l 1.in.ica e.mcs:na realidade. Considerados isoladai.ncntc, cs ná.rio ou cm estado rtformado nu.ma antropologia tão avançsda
ses OSJ:t?CIOSplre:triam separados, opostos, mas aos olhos do.sage como a de Placao e a dos gn0$"1irosu .
ele$ re\•e!am-sc mais do (Jue "3êu1eos'' (00010 Ormu.zd e Ahri- Mais uJna provadequedeveulQS ver na androgjnia do homem
tnao): eles foJma.11, uma única essê.ncia. ora manifestada, ora oão primordial ums das expressões da perf iÇão e da tocaUzaçâ'o está
n1anifes.ttda. àO faco_de o andróginooriginal ser freqüentemente concebidotó-
Os "pares divinos" - do LipO.Bêl·Bêlil - silo, na maior par· mo esfcrico (Austr'1ia,, Platão): ora - é luna característica bem
te dos caros, loveuções iardias ou for,mutaçõcs irnpetfeiw da ;in. conhecida - , d dc as msi$ arcaicas culturas a esfera simbolizou
drogi.nia primordial lJlle caractecizã toda divindade. Assim. en a peifcição e a totalidade. O 1nitod<1 andL'Ógiuo esférico encontra·
tte os semitas, a deusa Tanit era oognomlnada "a ftlha de. Baal" se assim como o do o,.:ocosmogônico. Pot t..xetnplo. segundo a tra•
e Astarlé, ''ô nonte de Baal"'1. São muitos os casos t.m que a diçâo 1ao1sta, oriainarian1e1ue., os '"sopros" - que encarnavam,
divi»dadc. tinha o nome de '' pa i e m1ie''. e da sua substância, sem eotrc.outros, os dois.sexos - ooofundlain e forma,•am um ovo,
Qualquer ln1erveoção, nasciam. os mundos, os seres. os hontel\.5. o Orande,.Uno, do qual sedestacs.r.am, mais tarde, o C u e a 'Ter-
A androzjnía divina lrnpl . como conseqüência lógica, a m ra. E.ste e$querua cosn,ológioo serviu, e\•identemcotc, de mod-e-lo
noJeoia ou a autogenia: inúmeros mitos COl\tam como a divin· às técnicas de fisiologia mística d taoisfaS4S.
dade lirou a sua existência de i mesma, maneira simples e dra.• Omito dodeos :indrógino cdo "antepassado" - o ''home1n
mática de acentuar que a divll1dade se basta plenamente. ô mes. primordial" - bissexuado é paradigmá1ico em relação a todo um
rno tn.lto reaparecerá, ba ado então numa 1necafisica refinada, conjunto de cerimônias coletivas que tendem a rttrtuál/1,arper(o,.
dicaménle esta condi,ç.3.o inicia), consjde1:ada o n1odo perfeito da
nas especulações nooplatônlcas e gnósticas do lim da Antiguidade.
humanidade. Além das operaÇOO <l:e ci. ncls!lo t de subincis:lo,
que têm por finalidade a traosrormação ritual do jo\•em·australia.
t(i:I. O mito da and inla b111tlft.na - Ao mito da androgi-- noou da jovem australiana 1111n) andrógjnO, hã que coosid rar to·
nia dí,•lna - que revela o melhor po ivel. en1re oueras expres- das asccrimôniasdc ''troca de trajes", quesr10 apenas versões ate•
sões da c()Ílu:itlénlifl ()J)PQsi1or11n1, o pRradoxo da CllisLência divj. nuadas da androaini . Na fndia. na PCrsia, e em outras partes
na - corresponde toda uma série de ntitos e de rituais relati\·OS da Ásia. o ritual de "ttoca de t1'a] s" desen)J)enha um papel im·
à androainia humana. Aqui, o mito divhto consô1uio o 'l)atadig· portante. nas fc.!>1as agrícolas. Em tas regiões da fudía, os bo·
tna da e. periêncla teli,alosa do homem. r-..tuitas tradlçõts eoc:;i. n)ens usan,ruesotoseiosartificiais nodec.ursode uma festa da deu-
cam o ''hol)le1n primurdia)•t. o antepass.'tdo, como um andrôg,i- sa da vegetáÇão que é, naturalnlente, t.lmbém andrógina47.
no 1 lipO Tui.s10, e versões miticas mais tar<lía.s falam dos "pares Em resumo, o homem experimenta periodicaruente a necessi•
primordiais'' - 1 i p o Yanta, isto é, ••gêmeo'', e sua irmã. Yamt, dade de recu1>erar - nem que $Cja pelo tempo de utn relâmpago
ou o tmr irania;no Yima-Yimagh, Mash)·asb·l'o1a.shyánagh. Alplns - acondtÇli.o da hUJoauldade perfc:it.i., na qual os sexos coexistiam
-
146 TIU r.'IDO o.e HISTÓRIA DA$ RE:.LJOlóE.S
,\fORtOLOOl I e FUt.'Çiló nos ,\_(ITOS 347
C'Omo coexistem, a p;u- de t00êl$ as (UJIJas quaUdades e de lodos
os oulros attibutos, oo diviadade. O homem que usava roupas l62. Mi10 S de rett(>\'açio, de wnstruç:11.o, de iniciação, tcc.
de mulher nãO$C·tomB\'ª• por b.so, mulher. coroo parecetiaa uma - Em caso algum pode o mito ser tido por sirni>les projeção fan-
obsefva,ão sup,etrida.l, ina.s realizava poo: u1n momento a unida· tástica de um .lCOotecimento "narural". No plano da experi{!n
de dos.sexos, um estado que lhe facilitava a compreensao to1al d a mágiooMreligiosa- j io.sistimos neste ()Onto- a natureza
do cosmos. A nec.c :sidade que o hon1em experitnenta de anular nunca é "natural". O que parece :i mentalidade empirioo--
periodicamente: uma condição difc,rcn,iada ç hem fi"ada,. para racionalista uma sittiQfÕo ou um processo natural rC\·ela:-se, na
reencontrar a "totalizaç.ão 11 primo1dial. e.1pUca...se pela mesma cxperi nci·a m:igico-rdísiosa, (.omo umá erutof niâ ou umn hie-
neictssidade da ••o, .;," eeriôdi.ca em que todas as ronnas se de· rofa nia. E é onic1uncnle por meio cldas que a ;•natureza" tor-
sirues.rron para 1onninarem na rccuJ>eraç.ão do ·· tesmo''. do ll.'I objeto mágico-religioso e, nesta Qualidade, tem interesse para
"Todo-Uno" anteriot à Crlaçào. Acabamos, de descobrir aqui a ftnotnenologia religio.sa e para a história das reUeiõcs. Os mi-
inais un\a vez.. a nccc.sjidade de abolir o passado, de supri.ruir a tos dos ·1deu$eS dn vegetação" <»11.st.ituc1n. a esse respeito, u m
"história" ede reoomo;-arurna oova vidr1 por uma l)Ovacriação. excelente e!(emplo de tninsmutação e de ,•aloriz.ação de u1u acon-
tecimento cósmico ''natural". N!lo e o desapar«:hnemo nem o
}.foríolog,icamente, orimaJ d• "troca dos trajes'' é análogo à ··or-
rcal)arecimento da vegetação que l.':ciatn as figuras e os rni1os des-
gia'' cerimonial. Acontecia. de resto. freqüet1temen1e, que o&dis,. ses deuses - d o tipa T;1.Jnmu,z, ;\ttis, Osíris .•. ; não e, cm qual-
faroes f'ouem pretextos pa:r;i orgias propriamente ditas. No en-
quer caso, a sjmpks observação eoopírico-rationalls1a deste t'c-
tanto, lnesn10 as vatiaçõesmais aberràntesdesses rltlíals oâo con- nôn1cno •1nat ural' ' , O aparecimento e o desaparccimet1tt) da ve-
.scguiram anular-lhes a significaçâo essencial. quer dizer, a rein- getàeà<> sempre foram sentidos, ,ia pcrspetOva da cxperié.ncia
tegração na condiçâo i:,arodisiltCS do ·'homem primordial'•. E (O· mágico-reJi3,iosa. como wn sinal d a c ria ção periódica do oosmos.
dos ele:; têm por n1odelos exemplares os mitos da androginia 1\ paixão, a morte e a ressurreição de1'anunuz, tal como se reve-
divina. latn t10 1nito e no que. elas própl'i:is rc,·elam, es1ão ,:to longe. do
Se quisêsscffl0$ if\lstrar con1 mais exemplos a fuoçâo p.ir.v "fenõ111eno n,iturar• do inverno e da prima,•era como f\iladamt
digmática dos nLitos ,. não terían\os mais do que retomar boa par- Bovaryou An.a Karenina estão do adultério. É que, como a obra
te do processo reunido no&capítulos anteriores. Como se.viu. ne1n de arte, o rnito é um ato de cri.ação autônomo do tspírilo: ê J}()T
sempre se trata de um paradigma des•inado aos rituais., mal) tam· este ato de r.'ri(lf/Jo que a rcvelaçr10 se opel'a e não pela 1natérla
bém a ourras experiências religiosas e metaífskas! tais oomo a "sa. ou pelos 3'-0nttcim<:nlOS qu,:: el;i çxplora. Em resu.1no i e o mito
gez.a", as técnicas de fisk>logia mística.. ele. Poder,se,ia Lncs:010 de Tacn.ntuz. que rei e/a o drama da morte e: da ressurtelçâo da
1
diz.er que 0 $ mitos fundamentais revela1n arquétipos que o ho- ..,eietação, e não o contrário.
me,n se ;:iplica a Nalizar muitll \'ezes além da vida rell,alosa pro, Bfedvaluente, o mito de Tan.1lnuz, como o dos deuses anã-
priamcute dila. Um exemplo: a androgjnia ê obtida não sô por J·ogos, d svel\d3. un\a modatidade.<:ósmica que. supero consider.J:·
meio das oper;;iQOes c:ii:urgjcas que acompanham aseerimôolas aus- \•elmente a zona da vida vegew.1. Ele d vela, por um lado, a uni-
tralianas de iniciação. pOr lUna "oraf;.1" ritual, pela "u-oca de tra- dade f11ndat\lental vida-mor1e e. por outro lado, as espe1·anças
jes'', nias lalubé1n por via da alquimia - Rebis, fótmu.la da " t » que o homent põe nes1a unidade fundamental e- que dizem. res-
dra filosofal" também cl1amada a ''a.ndrógilla hern1Ctica » - . por peito à sua própria vida depois d a morte, D te Pol\tO de-v1Sla,
easameoio- por exemplo na Cabala - e al pe!o ato sexual (na pode-se encar.lr o míto da paixão. da morte e da ressurtelçâo dos
idoologia romântica altcnã.Jei, No f'w:tdo, l)Odt,,sic n1esmo !slur de "deu.ses da vee.e1a o" (orno paradigmático en.1 relação à C'.Ondi-
uma "atidt0$1niuçào"' do hoi,nem pelo amor, visto que., no aino,·, çto humana, pois revela a Utlh1.reza me-lhor e mais iotiman1ente
cada $C!(0 adquire, conquista as Hqu.i.LidJdes" do se.xo opo:1to {a do que o fariam a obs«vaÇào e ;:i esperiênc.ia c:mplrlco-raciona·
graça. a subnlissll.o, o devotamento adquirido p<:lo ho1nem lisl&, e para .tuau1er e. renovar essa re,.,ela.çâo que o mito deve
amoroso ... ). ser celebrado e repetido. O aparoc.imeato e o desaparecimento dá
vegetaçâo em si mesmos, c0tno '"fenôro.eoos oósmioos'', nada Lnajs
-
significam do que aquil:i Q!Je 3AO: um ap.'lr&:inlento e um . com monstros. etc. t>.{uitos destes mitos COllstítuem, incon1e.s1tt•
psrecitnertl() periódicos ela \.ida \'egetal. Só o nLito r.ramfia,uta este vetn1ence, o arquétipo dos ritos de inic:iação"'. t,..fas esses nlitos
óC011lt'tin1eruo em coier.orio: vor 1ltI'I lado, ocrc;uneoté, porque da '"procura da rcgiâo l.t'AllSoendeote" denuociam aillda uma coi
a mor c e a ressurr(içã<> dos deu da veaeração se tornam os diferente dos rhuais iniciátko$, e que é a modalidade. "paro.do·
arquéll()(>S de 1odoJ os mortos c de codas as ressun:eicl)(s.. quais· xal'' da superação dessa polaridade que e iri.sepaclvel de qual·
quer que- sejam. e qualguef' que5eja o plano e1n que se msnjfes quer n1undo, de Qualquer ''condição ". A passa.sem pe-la '"porta
tc:m, mas, por 00110 lado. utmb&n i,orqll êlâs re\'elaoo o destino tstrtità". i,,eló Hburaco da agulha 11, el'ltre os "r o chedos que se
da condição huMaoa melhor do que o Poderia fazer qualquer ou· ioca.n1 ''. mobiliza sc,npre Unl par de contrários - dPo bem.mal,
tro mei-o empfrleo-racionallsta. noite-dia, alto-baixo .. .J 1• 'Neste ntido é legítimo dizer que os
Do cneJmo mOOo. «tios- mitos cosmogônicos que narram a mitos da ••p,tocumº .e das "provas ink:iátic:as" rcvclan1, sob uma
cria do universo a partir do oorpo de um gjg..1.ote primordiaJ, fo.rma plástica e dramática, C>próprio alo pelo qual o espírito
ou atê·mes.ino a partir do(-O(p() e d o sangue do próprio deus cria. transcende 1.1nl oosinos condicionado, polar ,e fragmentário, para
dor. _rorn ram·se o modelo não só .<l?s "ritos de coosttuÇào" - reeoc:on[rar a unidade runcbtnen[al antC'rior à cliaçâo.
que tmphca, co,1.no se- .sabe, o acrLlicio de utn ser vivo quando
se erige uma casa, uot.a pome, um &ant.Uárlo- mas também de.
toda espécie de Hcrfaç<'io". na cxten:sâo mais a,npta do termo. O J63. A estr•tura de um ,ni(o: VAruna e: Vr1n1 - O 1ni10, co.
mito revelou a oor.dição de todas a:.s hc1iações'• cujo prooessa. mo o símbolo, tcnl a sua ''lógica'' própria, uma eoerfflcia intrin
1nento requc-r uma ••a.cu.mação'', quer <Uzer• a comunicação dirc-- ,seca que lhe permitesiec ''\'erdadeia'Q'' em muitos plan POf afas.
tà da vids POI.' uma criarura que já possua.essa vida; ele revelou, cados que t 1es esteja1\l do pJano ,tm que o mito orl$illariamente
ao n:i.esn.10 tempo. a itttpo1l.ncia do ho1nem tm criar para .:dé:m se 1nanifes1ou. Dissemos já de qu.e maneiras e em que pcrspecti
da S\1a própria re1>rodt1Çúo. que, de res:10, em muitas socit'd.a d vas C ..verdadeiro" - e porca1HCt aplicável, utilizável - o mito
-é atribuida. a totÇas rdigt()SM CSLraohas BO homem (as crianças OOSnlGgônico. Lembremos, para dar ainda uni exemplo. o mlto
nascecn das ârvores. das pedra.$, das ii3uas, dos "antepassados", e a estrutura de Varuna, deus CC"leste e soberano. todo-poderoso
de.). e, se for ocaso, "liga.dor'' peh> seu ''poder cspió1ttal'', pela ''ma·
fuitos n-1ito:s e len.da.s dest::re\1e:m as "difit::uldadt$'' e.1con. sJa'', Mas o seu aspecto cósmico e: 1nais- complexo ainda: c.le não
tradas por um scruidcus ou por um herói para penrn;v 11.um ·:·do- é só1 como vimos, um deus çc;Jçir,, 1u.as lambtm um deU.S Junar
mútio inlc(di10" que simboliza sie,upre um território tran-scendt-nte e aQ\lático. Houve em \'ar.una, e talvC'Z. desde 1.nuito cedo, uma
- o Céu ou o inferno. Uma ponte conante como unia faca a oerta dominante "n0<utllt1" que .Berg:tigne e, reoenteme.ntc, A.
atra,·C3Sar. um cipó instável a .ser pe.r<:orrido, dois rochedos qua K. Coomaraswamy não dcixara1n de sublinhar. Bcrgaigne: fazia
se contiguos entre os quais é preciso passar, urna porta ent,re,a. re(erência ao con1cntador de Ta/ttiriya San1bil8, seaundo o qual
berta um.a fraçlo de se9undo pela qual entrar, u1ua re,a:íâo ro. Varu11a designa .. aquele que cnvol\'C ,como a e-scuridão"'2. E,.e
deada de montanhas, de âgua., de um círculo de fogo guardad.'l aspecto .. noturno" de Varuna oâo pode ser interpretadoexcluSi·
por mons1ros. ou ainda uma pOrta shuada no lugar ••onde o C vrunente no sentido urani,1.110 de •' Céu noturno'', o,as no sentido
e a Terra se abraçam•', ou no local onde se jun1:un "os fins do ma'is amplo, verdadeiramente cos:mológico e mesrno metafísico:
Ano" 49• AJgumas versões des9es miios das "pro\!as1 ' , como 0 $ a noite etantbém virtualidade, ge.1,ne, tiãO-manifestação, e é jus.-
tr:tba.lhos e as aventuras de Héraclcs, a expedição dos Arsonau- tamente essa modalidade .. llOlU.rna'' de Varun-3 que lhe pernlitiu
1as e outros tiveram mesmo uma brilhante carreira liretát:ia na 1ornar.S(: uni deus das áa:llas e que abriu o cainJnh-o à sua assimi-
Antiguidade, não deixando de ser-exploradas e rehuldidas pelos lação oom o "de,nôoio" Vttra.
mi1ógrafos e pelos poetas, tendo sido, 1>0r sua 11ez, imitadas oos N l o podtmos abordar aqui o problema "Vnra-Vatuua:•.,
ciclos de lendas semi-históricas, corno o ciclo de Alexandre "-fag. mas Jetttbremos que há entre as duas entidades m.'lls d-e um traQO
no, que rn pela rtgião das t vas 1 busca a l)lanta. da \'ida, Juta çomum. Mesmo que não se faça caso do parentc,co c<imológico
-
350 'rnATADO D B HJS1'ÓR/A DAS l?ELfOJ6ES
,lfORFOlOGIA e FV1''ÇÁO DOS ,\ffTOS lSI
o homem numa época atemporal que é, de fato, uw lllud tem-
pr v-ávd dos seus nomes, e i1nporca111 saUentar que ambos se re- pus, quer dizer, un1 tempo .tnroral, paradisíaco, alêm da histó-
lacionam com as águcise, etn primeiro lugar, com "as áauas reti- ria. ,\quele que reali:i:a uto rito qualquer transcende o 1empo e
das" ("O '1"Mdé ·vanura escondeu o mar ... '.')'3• e que Vrtra, co- O<"$J)aço profanos: do n1cso10 modo, aquele.<1ue 11 iJnita" urn mo-
mo Va.runa.. é, âs vezes, chan1ado ,nú)'ht, ·•mago" . Em «rt3 delo mítico ou siIL1p)esroenieescuu, ritualmente (partkipando nela)
perspectiva, estas diferences assinLilaçõcs de \rr1ra e Varu11a, a ttc:iLaçno de um mito é arrancado ao devir profano e reencon-
11)0 !lllás todas ai .º":"l:'5 modalidad;e3 e r,1nçôes de Varuna, tra o Grande:, TtmPO.
tôiiéspondcm-sc e J\lsilÍ1C.lm•se umas às outras. A noite (o n!er Na pe.rspecti"'ª <lo ts-pirito moderno, o miLO- e oon1 ele to-
manifC5tado), -as águas (o virtual, os germes). a "transoendên- <las as: outras e. pcriêocias religiosa$ - anula a "história•t. r,.1as
cla" e o ''n o- ir" (caractere$ dos deuses eek'$tes e soberanos) há que notac Ql•e amaio1'ia dos mitos. pelo simples fato de cnun•
têm uma sohdaned.ade 30 mesmo temi><> mítica e metafisica cou1 ciareo) o que se J)(JSf()u ''in illo ieinportt", cons1in1en>, eies pró-
s .. ljg.ado es" deqúalquer tipo, de. um l.ado, e co1n o Vttra, que prios. uma história exemplar do S,l'UPO hurnano que os conser-
reteve•·, ''estancou" ou ''acorrentou'' as águas, de outro lado. vou e do cosmos deste grupo humano. Não hã mito cosmQ$ôni-
No plano cósooico, Vnra é também um ''ligador". Con10 todos co que não .seja tàmbêm uma histdrio, visto que conta 1udo o que
os &l'andes initos, o mito de \'rtra e. pois, 1nuhivalenle e a sua se pasrou ab origine. Com uma reserva, no entanto n saber -
interpretação não $C gota em lun só sentido. Pode-se mc$n10 que nào se.tr.ua de ·'históóa'' na moderna acq:iç!o do tertuo -
dizer que un1a das prlocipais fun9àes do mito C fixar, lea,aUzar a de acontcchnentos irre.,·erslveis e nâc, repecfveís - mas de uma
os lll\'eis do rtaJ que se mostram, tanto à conscib\cia imediata histdria exet,,pt.or que. pode tepetir··Se - periodican)cnte ou não
como à reflexão, n1UJriplos e l1eterog oos. Assim, n(I mito de sentido e o seu v or m própria repetição.
Vrtra, ;ao kido de outros valores, nota·sc o de, un1 regresso ao núo- - e. qlle. lem o
Justtjno q tefo, na orlgen, deve repetir-se porque toda a cpifa
mat1jfestado. de uma "parada'', de uu1a ''Uga\iió'' que impede ma 1n101·diat. é rl<:u,_ ou, por outras palavras, não se esjoLa nu-
a expansão das "forn1as'', Q\1er dizer, da vida cósm . Não é: ma un1ca manitcstaçao. Poi: outro lado, os OlÍtOS são ricos pelo
evide:ntemecne. legítimo levar mais looge a aproxl.01açtlo de Vrtr; seu contctido, que é qe,npta, e.. como tal, Qjerece um sentido.
e. de \'aruna. Ma$ não se pode Degat o parentc:;.co estrutural eu•
trc o "noturno", o '"não-atuánte", o ".mago'' Vanimi que prertde (ria alguma coisa, anuncia alguma CQis.\.
à dls ância os cuJpados - e o Vrtra qoe ºacortenLa'' á s águas. A função da hiS,Cória exen1p}a1· d()S mitos toma·se intel.ig(-
'lel, atém disso, pela necessidade que o homem arcaico sente de
A a5 0 de um ÇQIDOª 4.Q QUlrQ ltm por tfc-ilo parar 3 \•ida, traª
ll)Ost.rar as 1'provasH do acontecim.:nto inscrico no mito. Seja o
z:cr a·morce- 110 plano individual nu1n caso. no plarto cósmico tema mítico beoo conhecido: tendo sucedido tal ou tal coisa os
110 Outl'O. bonteus tornaram.se mortais, ou então s focas deíxaram de ter
1
dele, e o apetite que o sc--u espírito ni.sni Íf$1;1 l,'t]O "'real". peJo seus "celerados", as $U8S "mcnin.3.1 raptadas", os seus "prote,.
que: ···é" de modo 1>leno. M s. no mes:ioo tempo. Junção é."l'.e-m- tores disfarçados'' ... f\.1as. se as lonalidades da tfabulação ex-
pJ:ir que se prende a estes acontecimentos de fffltd ten,ptt$ dcixa plicam pe-la ooloração e ))('la orientação variá\·el da sensibilidade
adivinhar o intcrcuc que o homem -arc:3jco $e11t la$ rt!a.lidades popular, o te1na não n1udou.
signifi<::aiivas, cri doras, paradit1náti<.as. íottr !e que sobrevi- Evide1ut1ne11te, <:ada nova modalidade i111plica um ''aden-
via ai.tlda entre os primeiros historiadior<:s cio moodo ant.i&O, r, - samento do conflito e dos personagens dra1nãticos, um obscur,c-.
ra os quais o "Oll!isado" só tiol1a lenlido oa 1ncdida em Que c:ra cimento da trmsparêuci, orig:Jnal, assim oomo a mulliplicação
um exeniplo a segnit e constituía p01 isso, e nhnuh pcdagógic-a das notas (SJ)e(ifi,t"...S de f'eor local'·. t\1as osmodctos cransmit.i-
de toda a humanidade. &1a missão a e "llist.órii e:tetupfar,• re- dos do mais longinquo passado nto desalXt]"ecem nem perdem o
servada $O mito um de se aproximru - sea quisermos compreen- seu poder de reat.uaJizaçâ-0. perrnallectndo \·ilidos para a oon!--
d e r - da tendência do homml arcaico par realizar concrttamenre <:iên<:ia •·moderna". Um exemplo ,c,ntre muitos: Aquiles e Sõ1en
um arquê1Jpo ide.ai, para viver "experiroe111ab:nei1teº a eteniida- KirkcgaaÍd. Aquiles, coLuo 1antos outl'()S heróis. não se casa. se
de ;1 partir deste mundo, aspiração q,ue dei.vendamo., por meio beol que- lhe tenha sido vaticinada un1a vida feliz e fecunda: caso
da análise do ten1po sagrado (f l 55). se casa:ssei masentio teria de renunciar a ser um herói. não reali·
zaria o ''tíni<:o", n.\o <:ouquJstaria a llnortatldade. Kirkegaard p.
s..1. exatamen1.e pelo 1uesmo drama cxislrocial a propósito d e R
16S. Degradação dos mh9S - O mito pode dearadar-se en1 gina Olscn: ele rerusa o casarncn,o para permaneoer, ele próprio,
lend3 épica. eu1 balada ou em rotnance, ou então sobreviver, cm "o \lnico ... para pod«. esperar o Eterno, repelindo a modalida-
forma dimjnuida, nas ''sur,erscições'>, hábito&, nostaf,gias, etc .• de de uma existência felii. para o ''gccal''. Confessa-o claramen-
não perdendo. por isso, a sua esttut\l(a oeól o seu valor. Ttmos te num fra.gn1cnLO do seu J()urn(J/ íntimo; ''6\l seda mais feli.t,
presente que o mito da árvore c6smj a se mantém na$ lendas e ntun senddo finito, se pudesse afasiar de mim este. espinho que
nos rit da colheita dos situ1>les (§ Jl t). ,..\s " p <o ,•u '' , os sofri- sinto na minha carne; mas, num sentido i.o.finito, estaria perdi•
tnefltos, as pere3rill,aÇôê'$ do candidato à iniciação sobrevivem na do." Eis aqui oomo \Una esrnuura mítica continua a ser realizá-
narrativa dos sofrimentos: e dos obsiáculos que o herói épico ou vtl, e se rtaliza d,:. fato, no plano da cxperiancia exi5teneialitita
dranui.ti;co ictn de soporcar ances.de alcanç:u o seu c>bjetivo (Ulis- e, neste caso particular, scn1 qualquer consciência De:Jn JJl.fluê.o
ses, Enéias, Parsifal, <:tnos pcrsonag-cns de ShakC$J)C8re, Faus· eia do n'!Odek> 1nfdco.
to ... ): Toda$ essas " J>Tovas " e "sofri.Jnen10S'' que têtn dado cn.a- O arquétipo continua a s « criador mesmo quando se degra•
têcia à.epopéia, ao drama e.ao rorµan . podem facilmente se re- da para uiveis cada vez mais baixos. To1netnos, po1• e.xemplo, o
duzir aos sofrimentos e aos obstãcul0$ ritlUtis do ••camjoho para milo dM IJhas Afortunada! ou do P.araiso Terrestre, que não só
o centro'' (f l 46). Sem dllvida o "cru:nloho'' já não se desenrola perturbou a imaginação dos 1;,rofanos nuas tanlbêm a ciência Lt.i\l·
oo mesmo plano iniciático mas - (atando em termos de tipolo- ti<:a aié a .atoliosa época dos grruuks des<::obrimcn1os mruitimos.
gia - as deambulações de. UUsscs. 01.1 a busca do SruJ.tO Graal Quase todos os na\'egadores. atê mesmo aqueles que perseguian1
encontrain•se aré oos grandes romanc.es do s6culo XIX, para não ums finalidade econômica precisa {c.1so do canllnho marhiroo da
falarmos da literatura de pacotiJha cujas origens arcaica.$ são bem fndJa), tinham rambéln em vis1a o des<obrimento das ilhas dos
conhecidas.. Enquanto .hoje o ronu1oce- polici J conta a !tua de u:m Bem-a\·enturados ou do Paraíso Terrestre. E toda a gente sabe
criminoso e de um detefjve (o u&êniu bom" e o "gfflio mau''. que não faltou quem imaginnswquedes Qnhrun, com efeito, des-
o dragãC> e o Príncipe Bncantado dos conto.s ... ), hã algumas ge. coberlo a ilha do Paraíso. Dos ftnicios aos pOrtugucses. todos
rações havia um cerro deleite cut mostl'ar unt prCocipe órfllo ou os grandes desoobrime111os geográficos foram provocadoti por este
uma criauç:i juooenr.e \'ÍliJnas de um • ·oetc.rado' ·• e há uns cento mito da região ed&lica. B foram só essas viageos. ind..laaçôes e
e cingütnto anos estnva.m cn1 voga os romances "negros" e .. f1t· de$CObenas as qoai adquit'itam \ l l Ú sentido espiritual e foram
néticos", com o:s seus "'mon2.es negros", os,seus "italiauos" 1 os crladoms de culturá. Se a 1nem6ria da viagc;m d Alc;X{lí!d.fç M
354 rnATADO DJ;º HlSTóRJA DAS R&IGIÔES
.. ,1
A ESTRU1VRA DOS s/J.tBOLOS 363
362 TR..ITAD0 D./! Hlsró.R!A l>AS REllOIÚES
papel impottanteem todas as sociedades. A sua função permaocoe
No que diz respeito ao segundo ti.pode inf:tntili çào do shn• invariáYd: transformar umobjctoou :itoetn Q/godffere,uedaq1.ülo
bolo (que -não implica necessariafitenle uma "história'\ uma por que es,e objelo ou ato sa.o ,jdc,s na e."peritncia profana. Para
' queda" d um meio erudito num popular), encontram·se mui-
tos cxcmpk:1$ no bclo livro de Lévy . .Bnhl, L•experlencep1ystique
nosceftl'irmos, mais uma ,·e2,
a exemple» jd c i t a d o i - quer setrn1e
dewn on1phal0$, símbolo do " ntl'O", quer se trace de uma pedra
et les sy,nboles <'h lts prlmitf/s 19. A maioria dos documentos preciosa oou10 o jade e a pé:rota. ou dé uma pedra mãgica como a
citúdos pcJo sábio (rances apon m o simbolo como sub.sti1uto " p e dra de- sapente" - . cada un1a delas rcoebe um Ya.lor na expe.
do objeto S3GJ3<ioou como ''símb<llo-pettença" e, 4,wncto se trata riência mâgioo-re)igiosa do bontent naJnedlda em<1ue manifesta wn
de substítulO t. de particípações, o J>Tooc:sso de infsntitiução e shuboUsn,o qo.alquec.
incvif.ávcl, e não só eotre os • pr intitivo s·" 1.nas nas sociedades mais
ev'oluídas. Para darmos um exemplo • .seja este caso retirado da-
quela obra: "Na Áfric.a. equatorial, no sito Ogoouê, o antílope 169. Símbolôs t' hil'fOÍanUIS- Encarado deste ângulo o sfm-
ocibl só pasta - sea:undo um chefe 'bainba - durante a ooite.; bok> prolonga a dialttka da hierofania: tudo o que nllo é dirt1u,nente
durante o dia, dorme ou rumina, sem mudar de lugar. le hábi- C()IISOgrodo por u1n(I hltrQjanlú lOrna·SI!sagrado graças itsua porti-
to le,•ou os ir.idigooas a fmrelU dele o símbolo da ii.'00.ez. Estão clpofifó 1n1111 .s,ínbolo. A maior p:irte dos símbolos primitivos dis-
co11vencid-01 de que todos os que comerctn, ém comwn, carne da- cutidos por Uvy-Bruhl são 3S pa11lcip..1ções ou os substitutos de ob-
quele antílope, por ocasião da inauguração de um.a llova aldeia, jelo.s saa,rados. q\lalquer questja a l)Ôck.dc:stcs últimos. Verifica•
nâo 1rocat'ào esta por outra. "lo No pensamento dos. índi3enas, se mecanismo idênt.iço nas religiões "cvolufdas" . .&sta q\le íoU1ee-
o simbolo comunica-se por participação, de maneira concreta, mos u1n repertório exaust[,,·ocomo é, p0r exemplo, Sy1nbóls of tire
do meslno 1uodo que as gua,ro pala"ras escritas no fundo u,n Gods ln Mt!'S()póta,1nia11 Art, de E. Dougl8.$ Van Burcu, IXlfa nos
prato p0dem "purific.ar'', na magia infantilizada já citada, um con.,-cocermos de que toda uooa série de objetos ou sinais shnb61i-
individ1.10 obstipado. !\·las essa di-vcrs.idade de interpretação não cos deve1u o seu valor e.a sua funÇ[o sagrada ao (ato de-se in1cgra·
esaola 1>eoo o símbolo original nem M possibilidades (J\le t!,n os rtm na "'forma" ou naeplfaniadeu:1na divindade (on>.uuentos, a,.a.
"primitivos" de. alcançarem um simboli o coerente. Trata-se., vios, sinal dos deuses, objetos usados Por eles ... ). (vlas não estão
(epetiJno•lo, apenas de urna amostra de un, htfanüUSJno cujos aí LOdos os sínlbolos: há outros que prettdem a "fonna'' hlstólica
e.,einplos são abundantes na experiência reHgiosa de qualqua po- da divindade: re.fcrimo--nos a muitos $JmboJos. vejetais, à Lua. ao
pulação ci\•ilizada. Que o.s "primitivos" sejam capazes, carobéln 1 SQI, !19 ritio, i w1100 dçsenbos 3 Q1nétri{os, «1mo a çruz., os pe:ntá·
de um simbolismo coerente. quer d i w , o.rtictllado em princípios ionos, os tombos, asuá.stica, etc. Muitos deles vincularam-.stàs di-
cosmoteológicos, pro\'am-no os muitos fatos Já vistos nos capi- vindades que dominaram a histôria reliaiosa do fesopc:,tânúa: o si-
tuJos ante,:iores - o simbolismo cio · ctn1ro' 1, por e.,eolplo, nos nal do nte a Sln. deus lunar, o disco solar a Shamash, ou•
povos árticos, camitioos. fino-úgricos; a eomu.nk.ação .:iltre as t:tes tcos. Se alguns conservaram certa antonon1ia em rda aos deuses
zooas cósmicas nos pigmeus de t.-laJaca, o sioobolis:010 do arro-- (por exemplo, oertas emas. ce11os s.ítnbolos arquitetu.rtus, certos si
!,is, da montanha. dos cipós OOsrnk:os e ou1ros, entre os austra- naisc;o1noodâs ''três p0n1as' 1) , mlUtos outros, e d o a nurjor parte,
lianos, os PQVOS da O ilnia, etc. foram solicitados, ahernativamcnte, por numerosas divindades. o
f\,1as tere1nos ainda oc o de voltar a ess., cap idade 100- que no lc\'a acrcÍque ao1ecederrun os dif rtntespantcõesmesopo-
réti<:a dos primitivos ou das popu1aç,ões primicivas. Por ora re-
gistremos a coe.xis1ência, canto na sociedades primitivas conlO
tâJnicos.·.oe resto, a lransmissiiodos símbolos de um deus para ou•
tro é um fenômeno corrente na história das reJiaiôes, É assim que
nas evoluídas, de utn si1nbolisn,o coe:renie a par de u1n iofantili• na india, por exemplo, vojro, simulJaoeamentt. "raio 11 e "diatnan-
zado. Det,emos de lado o problema da causa dess::i infantllita- ,. -.sbnbolc,dasobetartio universal, da i.noorrup1íbiH e. dar ·
ção, assin1 como a questão de .saber se d a ou não efeito da pró- tidade absoluta, etc. - , passou de Agni para lndra e depois [)."\ra
pria colld o bun\:tl\a. Basia,nos ;lQIJi marcarcoin cl.tre.za que. Buda. Seria fácil muhjplicar os e.xetuplos.
cocr<:n1c ou dcgradado 1 o símbolo continua a desempenhar um
7/fATADO 05 H{STÓR)A DAS R.Et.lOtOes A ES'rffVTVRA DOS SJi.fBOLOS 365
Dess:u o:xisidttações res11ha qu<: a maior parte d.as hicrofa. um símbolo do centro (pilar oent:ral. lareira). Cada habitação é
nins.s.io sus<ttivci de se tor:narcm sfmbolos. 1'.f.as oão é nesta COO· um "centro do mundo" porque, de uma maneira ou de outra,
vcrtibilidadc das hierof Di'3S tnl slltllk>los que há de se ptoc--urar o seu simbolismo reproduz. o do ceruro. >,,ias. co1no já civemos
o p l impor1anledesen:'lpe!lha.do pdo simbolismo na experiên· ocasião de notar, um ·'centro" é difícil de ·conquistar e coloc.i•
cià mágiOO·rdigioJa da humanidade. O ibnbolo n1'o é in,ponan- lo à disposição de qualquer um denuncia $quilo a que cham mos
te apcQas J>OíQt.lt prol1>1tg;1 l.ltna hierofania ou pOrque a substi· '';y uostata:la do Paraíso'•, o desej-0 de.se achat, permal'lentcmco-
'"'· mas, w,brtludo. porque pode 0011tinuar o prooesso de hi ro· u;. &tm esforço e até, de certo modo, .sem !iC dar conta disso. nu
fanização e. pocque, IU.l mol'll:flto próprio, é-ele próprio unia hlt· m. i.ona sagrada por excel-ê'ncia. Do 1nesn10 modo se pode dizer
roJQrtla, quer dl2er, porque eit rHtf-a unia realidade sagrada ou que o simbolismo dwuncla a nectssidâde. que o homem tem de
cotni(J/ógita que 11en/1un1a outra "v1.a1tifes1açãq >•re\-elo. Assim. prolongar até o infinito a hierofanização do mundo, e encon.
para dar um e.xempk.l de 1.1rni lllero:fan.i,1 que se- prolongá num u w COlUlantemente d,1plos, substiwtos e po..rticlpaQl:ies numa dada
sirobofo, todos C6 am.llltlOS t. todos os ··'.sinais" nos q_uais a Lua hletofania, ou melhor, uma tendl!"ncia para ídtntificar esta hie•
está prc.sc11tc- - o ercsoente, meia 1113.;. lua cheia - tii:an.1 desln rofania ao conjunto do uni\'erso. \'ohsrcmos, no fim deste.capí-
pr<Sençã a sua tficácia: de tona ,ua.nelra. ou de oorra., ,lXlrticipam tulo. a esla inlponante fu11ç"ão do simboto.
da sacralidade da Lua. Poder- a d.izc.r que são epifanias redu•
zidas da Lua. !\tas não é, cont ccneu. es,a epifania (tduzida e.
por vezes, indistinta (como quando o quarto cr eotc- da Lua é J 70. CotriAtia dos símbolos - A rigor deveríamos r rvar
grosseiramente reproduzido ein pequcn pães voti\.W)11 que ex o termo símbolo para o caso dos simbolo..'i que prolongam unta
plica a imponãoc.i:i. dos- an1ule<os e-dos talisro.."ls: é no prdprio t1ín- bierofania ou Qlte coust.it.uem, eles próprios, uma "revelação"
bolo qoeestáa e);plicaçao. O processo é evidente-para uma muJti- ine.xp-iimível de outra forma mág:iC().teligiosa {rito, mito, form.a
dão de desenhos e de ornamentos ccrâm.ico.s da 1>roto-história chi- divina). Em sentido amplo, no entanto, i'ud() pode ser um s(ru.
nesa e euro--Miática, qoo siJnboUz.·un as fases da Lua pela di\'crsi- bolo 0,1 desen1penhar o papel de um sfmbolo, desde a cratofania
<l.ade. de oposições de. branco e de ne,gro, isto . luz c. obscuridn· mais rudimentar (que ''simboliza", de uma maneira ou de ou
dc.21 . Bstcs- de cnh<» e oroamen,os 1m unta ruoc«o e wn ,·aJor tra, o poder mágioo-rcUgioso jncon>0rado nu1n obj,e:to qualquer)
ruáaico-rell.tlosos13, f\1 a ania lunar é neles quase irro.:onbe- at Jesus Cristo, que, <le certo ponto de vistn, pOde ser eonsidc-.
dvd, e o que lhes contcre.o seu valor e o simboli$11JO lunar. rado utn ·'símbolo·• do miJagrc- da encarnação da divindade no
Mais ainda: enquamo uma blerof:utia pressupõe uma des- homeLn.
oonlinuldade na expe.ri!ttcia reli g: io -viAto que existe sempre, O vocabulário oorrtnte da ttoo)ogia, da história das religiões
sob uma ou outra forma, uma ruptJu·oentre o sag:F.1do e o profa e da filosofia admiie 0$ dois sentidos da palavra "simbo-Jo'' t.,
no e uma passage,11 de wu para oo,ro. ruptura e pa.-ssagem que oomo já tivemos oeasi!lo de ,•e1·ifi,car. os dois- sentldos apóiam-se
oonstituem a própria essência da ,,id.a religiosa-. um si.mbolis- na experi&tcia mágico-religiosã de tôda a hun1anidade. No eu•
mo rUza a wlidariedade per111,1ner1 te d<>hmneni c<»n o SHCralJ. tanto, a estrutura e 3 função autênticas do sfinbolo pode1n ser
dude (sotidariz.1çâo confusa, como é evidente, pois o home.m só penecrodas sot1do pelo estudo p;:irlicular do símbolo como pro-
e:sporadicamentc. toma consciência dela). O q11e traz consigo um longamento da hierofanla e como forma autônoma da revelaçào.
talismã, o jade ou as 1X:rolas é projetado IX>f eles, de fotrua per• Já mencionamos antes o simbol.ismo lunar dos desenhos pré-
1naneute, na zona sagrada reptesen1:ada. quer djzer, simbolizá. bjs.1ó1·icos e p1·oto•histórioos. Os desenhos deste tipo prolongain,
da, por uni ou por outro, respecti\'amente. Ora, essa permanên· seguráàlenle, a hitrofMia lunar mas. considerados no seu oon•
eia não pode !Cr adquirida por meio de.un\8. eiq>etiêocia má.gioo,. junto; dizem mais do que qualquer outra epifania .lunar. Ajuda,n.
rdiaiosa, que supô( pre.viainente uma ruptuta entrt o profano aos a destac3r, de ,odas essas epifanias, o situbolis_mo lunar, que
e o sagrado. \'imos qut <.'li •'duplos fáceis'' da árvore. cósmica, teru a vaotagetn de poder "revetar'', nw.Jhor do q_ue todas as ou,
do eixo do universo, do templo, são scmp rei>reWDtados Por tras epifanias reunidas, e, ao mesmo tempo, revelar simultânea
rn.-1 rAtJo .Dli RJSf'OklA DAS RE.LIOJÔES
A E:STRUTVR.A 00S SÍMiJOLOS 367
e p:\nôratuicamet11e o que t s o-u.tras ci;ífania$ &svet:l'm de ,nodo
sucessiv(l fraa,Alt'Jllàrio. O simbolism,o da Lu:i 1<,rl'la. transpa- lar no fim da Antigi,iidade (§ 46). A ituegra ão de uma hierofa-
ren a IX'ÓIJrl õ'trul11ra das liierofaiLias LIM:'lares. O emblema de nia no bolismo que ela impHca é uma pcriênCia a1.1tênlic.a.
um animal l11nar(t'o<»'..f'k-. <>u,so. . ó:.)011 um e1u J)relO· da tnel'ltalidadc arcaica e todo.s o:s que P:ll'ttc1p.1.1n des1a mentah*
e-branco. no q11 se intc.gta a figlli8 do '"an1epassado 1 ' , revela dade 'êen1, vcrdadeira.n1e:nte, esce siMtmà sjmbólico cm qualquer
oo mesmo grau a totalidade dos s t1ilégios lunares e o dçstino suporce niaterlal. E, se alguns já não o vêem ou já não têoi aces-
do cosmos e d,o ti.ome1n no s w de,,ir rítmico e perpé1uo (cf. os so senão a unt simbolismo infa1)til, a validade da estrulur-.i do
estudos de· He11t2e). .simbolismo n:lo fica. por Jsso. comprometida, oi! que um s\m .
Tambem a :iaaa1tdade das á.iuas e c:!truturn das <:osmolo,. bolis,no é it1depcndtn1e do fato de ser ou não contpreeudido: ele
gias e dos aPQct11i s aquáltoo.s só podem $Ct re-r--elOOas, iJltegral- COrtS«\'a a sua consistência, a despeito de toda à degradação, e
n1ente, aira,·ês do simbolismo aquã1K'C), que i: o úul.:o «sistema" coosçrva•a mes1no uma vez t$(Juecida, como o 1csteroun ant.os
C:3(Xtl de integrar toda.e; as xe-,·e.J.açOEs particulares dB.$ inúmeras sín1bolos pré-hist6riL-os cujo scn1 ido se- perdeu duranle mllln1os
lúerofanfa$. Nawralrne1ue este- simbolismo IK)uático nâo $C ma- para :1er ••rcde.scoberto" mais ca1· e. . ..
nife ta ent parle alguma de modo coocreio, lllO letn ''suporte", De resto, é perfeitamente indlfcrente que-os 1mnuuvos con.
éoonstituido por un1 ooajun10 de Símbolos intcrô:pendq:ntes· e sus- 1emp0râneos compr«ndam ou não que u.1 hnersão na. água
cetívcis de se hne8)'3ittn num sistt<m.a., 1uss oe:Jn poc'" Isso é menos e.quivale tanto a uni dih'ivl-0 como à s.ubmc:rsao de. um nuneote
real. Basta q_ue nô:$ lcmbren1Qs da Q>etêocia do si.n,bolismo da no ooeano e que um e outro simbolizam o desapar tento de
imersão nas âguas (batismo, dJhí.vio, ''Atlântida'' >, da purifica- uma ''l'orma envelhecida'' a fin1 de reaparecer uma fonna no
ção·pela água (l>a.rlsmo, libações funerárias), da p(é-cosmogonia ,•a". Ulna única coisa cotltn para a. história dat r igjôcs: o fato
(as .1&uas. o ,.'Jóto:i" ·ou s ''iJJ\a''. e1c.). paro nos darmQs oon,a de que a imersâo de um homem QU de un.> coo ille11te;, tanto e ·
de que estamos cn1 presença de um "sistema" bem anjculado, tno o sentido cósmico,escato co dessas uttersocs. eXJste--em m,-
sistema que, evid nttmente, está implícito e1n qualquer hicrofa. lOS e rituais· e o fato de que todos e M e $ mitos e rituais são coe*
nia aqu.ltica, por modesta que S'eja, mas que se re, ela m:\i clara•
1 rent ou, r outras palavras, que fortnao) Wll sistema simb6li-
mente:- at.ravf$ de unl s(mbolo (por c,cc.mplo, o "dilli,•io'\ ou o co ue, em cerco sentido. é artterior a t-àda um tomado separada•
''OOtiS1no'') esó se rc,,da 1otalmeote- no simbolismo aquátioo, tal ruen1e. Temos, pois, razões para falar, como se verá maiS clara*
oomo se. dc;rtaca de: iQC/as as hierof:allltu. mente dentro cm JXlUOO, de unta "lógk:a do símbolo", de- u1na
Um •xame rápido dos capítulos an,eriores moora com suf lógica q1.1e não te1n a S\la. oonfinneção s6 no simboli&-mo mâgiço,
ienie evidência que: nos encontramos, conforme os casos, perante i-ttigioso; n1as tambml no simbolismo manifestado pela a1ivida-
um simbolismo cdeste, ou perante um simbolismo relt\rico. ,•e- dc subcon$Cicote e cransconscien.te do homem.
g_ctal, sohu, espacía). ternporal, etc. Esses diferentes simboltslllos Um dos troços caracteristlcos do simt>olo e a simuh uielda-
J>odem ser eocaredos con10 " steroas" autônomos na mcdid.i em de dos swtidos que clc revela. Um sfutbolo lunar ou aquático C
que n1auit'estan1 mais claramente, tna:is totalmente e conl a oo vâlido em lodos os ufvt"is <lo real e. é$ta multivalência revela-se
rê(lcia -superior o que as hicroianins manifestam de mane1ra par- SUuullaneamente. O díptico ''luz.-obscurid e··, J)Ol"exemplo, sím-
ticular. local, $Ucess:iva. Por isso nos dedicamos, sempre Que o boli.za ao mC$mO tempo o "dia e a 11olle-'' OOilmicos, o aparcci-
documento eJn questão a tal nos convidava, a in1erpre1ar unia meoto e o des;"tparecimeoto de uma forma qualqu«, mo11e e
dada hici:of;i..ui.-i à luz do seu próprio simbolismo, a 6m de po- .ressurreição, a criação e a dissolução do cosntos. o "!rf tl e. o
dermos aiing,ir a sua significaç. profunda. dC$neccssârio di• manifesto... Esta simultaneidade dos se.11tldos q_ue wn s1n1bolo
ier que não se u-a1:i de ' ded:U'tit'' arbitrariameo1e um sianbolis- encerra verifiça«. iguatmente à margem da ,•ida rdig:iosa propri;t•
mo qualquer a partir de uma hic:roía.r.i.ia dementar; ta1npouco n.iio mente dita. Como $C mostrou(§ 166), o jsdedesempenb.l ou anun-
sc: trata de racionalizar um simbolismo para torná-lo mais con.• cia, na China, um.a função mâgico-Jeüaiosa. mas esta função não
si&te1ue e mais transpacenie, oo,no s.e fez para Q $imbolisuto so- esgots o simbolismo do jade: o jade tem, ao mesmo tempo, va.
lor d t uma lingua;t111 simbóli<a, no sentido �• que o 110mero,
36& TRATADO DE ff/STÔRíA .D.,tS IU!.LJGJôES A ESTRUTURA DOS SfMBOLOS 369
a oor e .a disi.»si,;ão d ped.taS; d.e jade usadas P'-'' ui:na pe$soa L)rinc(pios? Assim, 1Xlr \lm lado, o sfn1bolo continua a dialética
não St limitam a solidari:mr C$la pei$0a com o e-os ou Qm da hicrofanja ao 1ran.sform.ai: os objetóS em algo diferente do que
.u eS:ttÇôe$.. 1-nru catia.biiu (X'-Oclam.a.,n ull "idenúdadt." t dt:let"· ks parecem ser à experiência profana: uma pedra torna-se. o sím-
mina.m, IX)r c>.'Cmpl<>,. que se 1ra1a. de \Hna jovel\}, de uma mulher bolo do ... ,entro do mundo", elc., . por outro lado, ao 10,nan:m-
casada ou de u1na vi \'O, ptrtmoentes a tal c.lássc: social e a tal se símbolos, quer dizer, sinais de uma rc:slidade uan.scendcn.te.
familia. a 1i rep.'lo, t cujo noivo <>u esposo se acha ttn vjaaem, esses objetosanu!a,n os seus limiie."i con<:rt.JOS, deixam de ser frag-
etc. Do m(smo n1odo, na ilha de- Java1 o simbolismo dos mentos isolados para se inwgrar num sistttna, ou O:lelhor, c,Jes
nhos t d;isoo,es do f>rttlk proclama o se;<o e a si,uaç ó wcittl do encarua,n ecn si próprios. a despeito da sua precariedade e do seu
individ110 que o t1sa, a C$tação e s "ocasião'' em QIJC t usado24. c.iráter fragmentário, todo o sistema em questão.
Sistemas idên1íoos são freqlltntes e1.n toda a Poli a !J. Em liltiulo caso, um objeto (lue se to.rna um símbolo tende
A e-sr.e re$p!ito, o simbolismo aprescnt3°$C 001n.o un)a ''lin• a coiocidir com o iodo, da mesma fonna que a hicrofania tende
guageat ' ' ao al.cat1.cedt:> todos os membros da comunidade e in:t· a in. .'órpora,r o s rado na sua to1alidade, a csgorar, por si S(),
c<:-$$Ivcl aos C;5traust:il'.'0$, mas, em todo caso. \lrna "linsuas:cm" todas as 1uao.ifestaçõcs da sac,atidade. Ql1alquer pedra do altar
que exJ)C'ime simultanea1nente oo mesmo grau a «:ondiçr.o rocial. \'édJco, ao torn.ar•se Ptajâp.ati, LCode a identificar a si iodo o uni-
''histórica" e )$cfqui.c:i. ds pessoa que usa. o símbolo e as suas re• verso, ds mesrna fonna que (ada deusa local 1et1de a tornar.se
lações com a sódedade e o l'OSmos (oer1os jade$ ou batiks $.ão a Orande Deu a e, em '1ltín1a instância.. a anexar a si toda a s a .
usados 11a prima.,·cra. oas vésperas <> trabalhos airfçolas. por cralidade dimonh'd. Este ''i.nlperiaUstno" das "fonnas" réligjosa.s
ocasião dô oquinótio ou do .sol.stí<:ió). Em suma, o simbolismo aparccer.i ,nais clar:uuente ai.nda ao vo1unte complementar que
vestinlen.lat solidariza. a PCSSCXI. humana, por um lado, com o oos• dedicaremos a elas. Contentemo-nos em. assinalnr que f f l à ten-
mos e-, por outro, com a comunidé.de de que ela (ai. parle, J?TO· dênda anexionisu\ reaparece na dialética do sim.bolo. Não só J>Ol•'
clao)rutd<> direU1111eote aos olhos d cada 1nclllbro da oomuruda· que iodo simbolis1no aspira a. i:ntegrar e a unificar o maior nú-
de a sua identidade profunda. Expressão s1mul1.ânea de utna mul- tl}eto possi"cl de zonas e de setores da experiência antropocós,.
(iplicidadc de significações, solid.a.:riz:tçâo co1n o oosn>00. trans• mica, D>as 1runbém porque todo o simbolo ltttde a identificar a
parência pelo que rc.spcit.a à sociedade: tais são as fun5ões que si próprio o maior u\\mcro possfve] de objetos, de siTMçôeS e-de
denunclon, o mesmo iu,p,dso e .3 11,esma or.ieut.a,ção. Todas elas n1oclalidades. O simbolismo aquático ou lunar rende a intcgrnr
con,1ergcm para um fim con1um: a.abolição dos liniitc.s do ... frag- tudo o Q\le é "ida e: morte. quer dizer, "devir'' e "formss••. Qu.'ln-
lUent-0 1• que é o bo1nent no seio d.a sodedade e no 01e1o do oos- to a um sim bolo oomoa pérola, d e tende a rcpreseo1ar ao mes•
tnos e a sua integração - por meio- da transparência da sua iden- mo ten,po tstts dois sistemas simbólicos (da Lun e das águas),
tidade profunda e-do seu estado social e $l'aças à sua solidariza- encarnando por si SÓ(}iJà5e todas as epifanias da vida, da ftmini-
ção cont os ritmos cósmicos - numa unidade mais \'as.ta: a S O · Udadç, da fen(Udade, c:tc. Esta ''UtJirteação" não equivale a: unta
ciedade. o universo. confu ·o: o simboti.so10 p«mite a passaiern, a drculacão de un1
nivel para outro, de um modo para outro, intcgi:ando todos este$
ni"e-is e rodos estes planos. n1assem nt J'usionar. A 1endênci.11 pa-
171. Funçio dos$i,nbo1os - Esta função unificadora C, ocr- r:;i coincldit com<> todo deve. ser entendida como un1a tendência
ta1nen1e, de consltlerável itnporlâuda, nâo só na txpedência ,ná- para integrar-o codo num si.sLCma., pata reduzir a multiplicidade
gico-reJigioss do homem, mas mesmo para a $Ull nperiência to- a uma "si11.1aç o" única, de tuaneira a 1orná•la, ao mesmo tetU·
tal. U.m súnbolo revtla seropre. q11aJquer que seja o seu contex- po, o niai.s transparente possi\'cl.
to, a ur:iidadc fundamental de vári.as zonas do real. Será preciso Tratamos em OUlta obra do sitllbolísmo dai Li&a,;ôes, dos nós
lembrar os immsas ···uniíicações º rcaliz.-.ctas pelos sÚl'lbolos das é das rode. U. Podemos, c1nâo, dar.r,os conta de que-, desdç a SÍ8·
âguaS-0u da Lua, g.raçss às quais um nlimero considerável de pJa- nilicaçâo cosmológica da "ligação'' das á3uas por Vrtra e desde
.nos C· de zont1s bio..antrop ósm.ieas. se. id,eiitiJiçam a algun.s a siJnifica ,ão cos1n0Crática <los " u ó s " <fc Varuna até as ••1iga,
.1'1.ESTRUTU/1.A OOS.SÓ,t'BOlóS 371
370 TR,,t T;tD0 DE il!S'fóll.JA D.-IS RE.LJ{JJÔES
1 Te.remos ainda o d.ireiio de c.oncinuar a (alar exclusiva-
ções'• do iri,uigo (01t'l cordas ,•crdadeiraj ou com nós nulgiros. mente de um subconscle-nte'? Não seria preferi,•el pressu-
a.tê o acorteJ11ante11to dos cadáveres e OS:ri1i1os em que. divinda- por também a e stência d<' um rransronscientt?
des funerárias pt«lde,n os homens ou as aJma.s dos mortos nutna
rede - pass odo p:l.o sl.t.1bolismo do ho nem " <!o:• "acor- 2? Terá undamento a afirruaç:ã.o de que as cti es do sub·
rentado" (fndl:t, Platiio) e do «desatar' do fK> lab1nnHOO Oll da consc1en1e:oferecem 1,una tstrutura dife rente das cri çôes
''iOl\lçào'' de um problema fundainental ... - encont.ramo-iios do .oonsc;Je,1tc? 1'11as ess e s dois probleinas devem ser dis-
sc1npre êti\ ,:ttsença de wn \\nito oomplexo sim1>51.ico. realizado cundos J\à sua J)erspeciiva proplia, que I: a da filosofia.
de· maneira 111ais o,L menos ituperfcita nos roúltiplos plMos da
vida má9,ioo-rcligio.sa (oosmologia. ít\ to do l'O Te · SUbUnhemos, .no entanto - e liJ)lltar-nos-emos a t:sta obser•
tuagia ag1es9.va ou defensiva, mitologia funerária, rituais 1n1cas- v a ç à o - ! ue ,:nuHa! c iaç.õcs do subeonscicote aprtscnram um
tivos. etc.): mU3.·S'e de unt arquétipo que JXOC'Unt i:taliur-se caráter s,m,csoo, de ,muação, de OOpia a1,roxJmada de arquéti·
toda$ os plan<1s. da experiência mágico,religjosa. f\i(as M algo mais l)OS (Jue, em t<J;dó caro, não parectm ser a projeção ex.clusiva da
significativo: es.te mbolismo do "li.ga " e. do "dcst ,gftt''_revc1a 2ona subconsciente. Acon1 e oe muitas vezes que um sonho. uma
uma sit1,1ção limile do homem »o ll.ln1,·enio, uma s1tuaçao que efabu.la io óu u.ma PSi?<'Se itu.itm :i .e lrutura de- um ato espiri-
ncnhu1nn outra hierofania i$01ada fê\'elaria.. Poder-se-ia mesmo 1ual Que é, em s,,. pe,:f nrunentc ultelig:tvel, quer dizer, isc.nto de
dizer que é ap e 11as por este simbo l ismo do Uan-.e que ó h mffll <J.uaJq ontra 15âo interna, que ''J6gioo" e. por conseqOêil·
toma plena co ncii.l da sua siluaçào no côSLtlOS e nm:- a c,,1, denva da auv1dade consciente (ou l.l3Jlscousciente). &ta ob-
si próprio de _1 nancira coetente. Poi:- ouuó J:ido. as arucu1a ocs set\'ação P!Ocu.ra lançar utiia luz sobre o problema do símbo-
desse co11.,plex.o sàiitb-Oliccf desvendam ao ntno ce1npo a. untd · lo .cm. J>J1.tcu1ru-. e da hierofania em aeral. Podc1nos Verifi c a r .i
de de siiuação de todo o "condicionado'', qualquer <1ue ele Sie.Jª ex1s1.eoeta, quase por toda a part e , na hjMória das religiões, de
("cativo" 1 ·' e rob1uxado' ' ou,. simplcsmt.nte, o homem frent ao um enôr o de 1mltá( o {'f4i if' dô arquêtipo, que desi.gnrunos
seu destino). ea nectssidade ''lógica · de todas essas bomotog1as. por ,nfanuilsmo. Tambem ver1flca1nos que o l11fantilismo te ode
a ·prolonga( até o iufiniro as h.ie.rofanias, jsto é, tenc!e a ool o c -.ar
o·sagrado e1n (tuaJquer fragmento, quer dizer, cm úJti.mo caso,
172. Uglc.a dos slmbolos - Por cons,eguinte. é legítimo fa. · a col?Car o todo nu•!l simples fragmeu10. EsLJ tendência não e.
k'\r 4c; uma u ca do simbolo", no sentido de que os sfmb los, m· S), aberrBntc, \'JS(() que o sagrado tel)de oorn efeito a
qualquer que seja a sua natureta e o plano em <ruc se mtuufes,. 1deniJfíear.se S realidade profana. quer dim, a' trausfigÜra:r
-Sacralizar ioda criação. f\.tas o infantilisn» apresenta quase sem-
tem. são se1nprc coe.rentes esistetná1ioos. Esta lógica do sfb_olo pre uma no1a de facilidade, . autom:t1iSJnó freqücrue1nente mes-
sai. do dominio próprio da b.istól'ia dai rtli3iões para cn.f 1le r r ar mo de- artlflclo. Poder,se-ia. pois, esc.abel er un1. paralelo entre
nos problemas dá filoso{ia. Com efei10 - e já ÜYemos ocaslão .i tcndência do su conscientc para imitar nas suas criaçõC$ ases.
de verificá-lo ao cstudttnn().S o -simbolis,no da "ascensD.o" - , as t:rutlf3,S do consc,eme ou do irrulsco.nscicnte e a lendência do ín-
criações daquilo a que se- challl3 o s-ubconsclente (sonhos. "so- fat)Ulismo para prfk?ngar até o i finíto as bierófanias, para re peti-
nhos ltCOtdados". efabuJaçõcs, psicop01og.cnias, etc.) aprtSC'lltain las em todos os n1veis e de 1nant.1ra uni tanto mecânica e grossei-
uma c.çtrutura.e uma significação ":l'feitru:nente suscctivels de ho· ra: tanto unta oomo outra tendê:nci..l têm tm c.omoJn os traços
moloa,ia, por um lado, con1 os nlitos e os ritos a,sccnsio ais e, por ca!'3ecerísclc da. íaci.lidadcc do automatismo. É fXlSSÍ\'el dcsco-
outro cotn a metarisiei da ascensãol1• Não c:x:1ste, i ngor, solu- bt1r outra co,sa a.inda .ueste·contexio: o desejo de 11nificar a crio.
ç.\o d- c-0n1.louidadc entr e as criaçi,cii e.spontãneas do subco tlfo- e.de abolir a 11111/tiplici<úldt, de:ejo que é cambêm à sua ma--
ciente (os sonhos ascensionais, por exemplo) e os sistemas teón· rleira, u1na imüação da ati\'idádeda razão, visto que a' J'atâo ten-
cos elaborados no eslado de vi,gnla (por c,cemplo, a n,ctafísi<.'3 <e tambéJn para a unificaçâo do real e póttanto ffll lUtima anã,.
da elcvaÇào e da asceu.sao espirituai.4). Esta verificação descmbo· lise, para a abo l ição da criação. Nc> entanto, n caso da.!f cria•
c:a eiu dois probletna.,:
312 TRATADO O E HlSTóRJA DAS R.iLJOJôtJS
benf.fica e perigosa. tem a soa explicação não só na estrutura am 4 1uonsttruti tanto a rcpugnlincia natural do hon1em histórico a
bivalente do próprio sagrado, mas ai!lda 11as·reações naturais que abandonar·$C totalmente à e>;periência sagrada como a sua Uu-
o bomen1 manifesta perante esta realidade transoenden1e que o J)C)têocia a reauociar definitivam.cnte a uma 1al experilncia.
a1rai e 1\terrori.2...'l COJUidêntjca vi<>Jê.Qçia. A rcsistencia fimia-se No presente volume- cvitsmo.s es,udar os fenômenos religio-
mais nitidan1cnte quando o f1ocne1n se vê colocado perante ums sos na "Ua pcnpccti'ia hislÕrica, limitando.nos a tratá·los em si
mtSn1os. isco é, COJno hierofanias. Por isso, a fim de ducidnr·
376 TRATADO DE fflSTÓRIA DAS RE.LIOJÔJ:S C.<Jl•CLUSÕES 377
lUOS a estrutura das hicrofanias aquáticas, permhlmo-nos apre-- nas viziJ:i.has. Há quesublinhã·lo desde já: essas minúfaçu(s e fu.
sentat' paraklarnente o batisooo cri.srão, por wn lado, e, por ou- sões não podem ser imputadas e.xclusívamente às clrcunstãocias his·
tro, os mitos e os ritos da 0 1-.. e..\ nia . da Atnêric:i ou da Antiguida tóricas Qntcrpenetração<le duas tribos vizinhas, submiss3o deum
de 3l'eCO·Ot'ieutal, fa,.cndo abstração ,de tudo o que os separa, quer 1errh6rio. etc.); o processo opera-se en> vir,ude<la própria dlalCti·
dizer, numa palavra, da história. Na..mcdlda em que.a nossa aten- ca das hierofanias: quer ela se ache ou não em contato com un1a
ção se dirigia diretamente ao problema rellgloso, ig.uorar a pcrs.-. forma religiosa ariMoga ou dif«ent.e, uma hicrofani3 tende . .oa
póctJva h.istóri justifica,•a-se 1Xlr s.i mesmo. Não bá dúvida de oon t:lettciâ rêligiosa daqueles a. quem ela se re"ela <:orno tal a
que - desde as primeiras páginas dest.'\ obra o rcwnhecemos - manit'estar-seo 1nais tot;:dnlence, o mais plenamente possivcl. Ás•
não e sle bierofania que não seja "histórica" a partir do mo• Ji"9 se-explica wn fenômeno que se \'Critica de·uma ponca a outra
me:nto em que se ma.1l.ifesr3 coroo cal. Pelo simples fato de o ho- da·hi.slóriadasreligiões: a possibllid.ade<1uetodan forma religiosa
me,n tomar conhec-imeuto de un:ia te\felaçào do sasrado esta rc- lem dese dcscnvoh:er, de se putifit"'JJ', de se enol;,rccer, a possibili•
vetaçâo. qualquer que seja o plano ent que rtalize. coma-se: dade (XU'a um deus tribal, por cxem1)-lo, de se.tomar. graças a uma
histórica. A história il'uetVM\ desde que o homem c:<pcrimenta, no"a epifania, o deus de um monoteís1uo, ou para uma humilde
seaundo a inspiração das suas noees:sidades . .o sag.rado. A mani• deusa rural de se transforn1ar tm •'mãe do universo".
puhtçito e a transmissâo das hierofanias a«:ntua ainda a suá •"hiS· Todo.sessesmovimemosapsnmceo)enteéo1nraditórios,deuni--
toricização". No entanto, a sua esmuura não deixa por is1;0 de fic.açãoc: de fragmenta,ção, de idet1tificQÇãot de se.paração, dca.tra•
.ser idêotica a sl tnesnta e Cju.5,tamente a pe-nnenência dessa es1ru• ção e de res.is,êncla ou d repulsão, poderão ser Dla.is claramente
Lura que permite conhecê-las. Os deuses do Ctu podem ler sofri. preendidos quando, examinadas as diferentes t cnicas de aproxi·
do inúnter s tl3nsformaçõcs: a sua estrutura celeste não deixa de maçãoedemaoipulaçào do sagrado (preces, ofercndss,rilos), pu•
se-r o !eu elemeiuo perntru.1en1,e, a constante da sua personaUda- dc,Jnos at car o problema da histô-ria dos fenôluenos religiosos.
de. As fusões e as intcrpolaÇ{les que sobrevêm numa figura divi- Reservamos este estudo para un1 voluo1e oomplemenmr. De mo·
na da fecundidade são, talvez. numerosas: a sua eslrulura tehirj. mc:nto, ao terminarmos este, limitar·nos-cmo:s a afirlllar que Qlla•
ca e vegetal nunca 6 por isso desn·uJda. MaiS ainda: não existe se todas as posições rdigiosas do b()Ulent lhe fora,n dadas desde
uma fornta rcligiosa que: não tenda .a aproximar...se o 1nais possf· OStempos primitivos. De cerco ponto de \•ista, não existe solução
\•el do u arquétipo próprio, quer Qizcr, a purific.ar·SC d-0$ seus de continuidade entre os pl'imitivos e o cristianismo. A dialética
aluviõc, e dos seus ,odimtàtos ''hiS1órlcos". Qualquer deusa tende da hl of ania mostra-se idç.nri , qyer se tr,ue <le um rhuringa aus·
a ton>ar-se un>a Grande Deusa ao incorporar tl'>l:los os auibuws traliano, quer se ITTUeda encarn:,çAo do Logos. E.m ambos os ca•
e t'unçõe.,; que o arquêlip,o da Grande Deusa comporta. De modo '°s, acbamo-nos<llantcdeurna mani festaçãodosaaradonum frag-
que podemos rcgL tts.r jâ um duplo processo na h.1.stót'ia. dos ía· 1nento do cosmos: aqui co1no ali se acha implicitamente. posto o
tos rdigiosC>.S: por um lado, um aparecimento continuo e fulgu . problema da "pcrsooa.lJdade º e da ''im p crsonalidade" da epiía,
rootc de hierofanias e, por coru;e3uinle, 111na frasmentaf,âo ei1:· nia. Vimos <JUe no caso das hierofani:lS eleme1llares (mana, ct .
cessiva da manifes1ação do sagrado no cosmos; por outro J3do. S) nem sempre displl.nbamos de lun mcio de. determinar se no;
uma unificação déssM hierofanias por efeito da sua tendêmia ina- cnoontrãvalnos perruue uma ré\·elação do sagradoent estrutur.i. pes.
1a para encarnar o mais perfeitamen1e p,ossivel os arqutti1,os e soai ou Unpessoo.l: quase sempre as duaseslruturascoexistem, vis-
pata realizar assint 1>lcnn1nente a sua estrutura própria. co que o primitivo se preocupa rn1uilo mt-nos com a oposição
Seria um erl'O Vet t1() siocretismo apenas um fenômeno reli- • •pessoal-irn,1:icssoal" do queoom a oposição "real (poderoso, ecc, )·
gioso tardio que só poderia ter resu.hado do oon1.ito en1rç diver- irreal''. Tereo1os OCâSião de- \'Oltar a encon(.raressa mt$ttla polari·
sas religiões evolufd.a.c;. O que se chamá sincretismo obselva.•se dade. a propósito de inUm.er-asfó11n.utas, nas rtlígjõesc.nas misti•
inlnterruptrurtente eu, todo o curso da ,•ida religiosa. N'ão M tê- cas mais "evolufdas".
nio agrtrio rural nem dtus tribal qt1e uào seja o 1csultado de: um Se Ptincipais Posições religiosas foran1 a.s.simdadasdeuma
lóOgó próctsso de <ISSin1il•c•o < de identifi ç1to s formas divi- vez para.semprea partir do momento ein que o homa11 tom()ucons,.
378 TRATADO DE RJSTÓRL4. PAS R/lJ..J()/ÔES
CONCLV$()SS 379
ciência da sua siluação e:<istencial nos.cio do Wlive,so, i,s-o não
quer dittr que a ''his16ria" não tenha nenhuma impo!ttlrtc.kl pa-- a dialética das hierofanias permite a redescôbe ,u espontânea e
ra a eXl)C;riê:ncia relitiosa en\ si. Pclo contrário, UJdo o que se- pro- intesral de todos os valores religioso:;., quais.quer que eles seja,in
duz na vida do homem, ,ne.smo na su vida nuutrial. tem tam· e qualq\ler que seja o nível histórico ei:.n que pos.sam encourrar-se
bC:111ressonância na sua cxp«iê,11:ia relJgiosa. J,. descoberta das a sociedade ou o iJ1di\•iduo que realiza essa descoberta. A hi.s:16-
téicrtícas d caça, d agrlcullura, do mC'taJ não e. li.lrütoo a modJ- rin das reli8,iões vê-se, mim, reduz.ida ,. em úhin1a anátis!C" ao dra·
ma provocado pela perda e pela red<:liCOberta desses valores, (X'f·
fitar a vida mate.ti.li o homem: ela feeundou 1 além. disso - e
1aJvez de mane.ira ainda mais consideráv el-, a espiriLualidáde
da t rcOOoobcna qoe nao nuJKa, que uiiú Podent mmrt<' nu11-
ca ser., defi11iti,•os.
humana. f o i assim que à agricultura p,ermitiu toda wna série de
revelações que não pode.riam produzir.se nas SQ iedades prê.aari .
colas. Bcn1 entendido que as wodifica,ções «-0nôtulcis e sociais
e. em última análise, os aoon1eclnlen1<.>s históricos .nlo podem,
por si sós, expliw os fenômenos reli,glolOS coo10 1ais, mas as
.
transformações operadas no mUJ1.do n1:11.terial (agdeultura, .meta-
lurgia) abrern ao espírito novos meios de abarca.r a realidade. E
pode-se dizer que. se a história fez ptsar a sua influência sobre.
a expetiência religiosa, é no sentido de que os aoonLechneutos ofe·
roccram ao hôtueni 1nodos inéditoi e d.if ren1es de ser, de desco•
btir a si próprio e de dar uni valor mágico-rt.lígioso .io universo.
Citmmos apenas um exemplo: mn dos elementos futtd:.unemai
4a revolução religiosa empreendida pOt btad1,1.S1ra foi a sua opc,..
sição aos sac;rificios sang-reatos de animais". É t>1lden1e. que aLra-
vés dessa atiLude trans.r1areoc: ;, entre O\ltros, o jnteresseeco1Jômi•
oo de uma -sociedade que e,;,oluj da vida pastoril pora a \'ida agrÍ·
oola. 1as esse acontc:cimenlO histórico foi ,·aJoriz.ado por Zara-
tbustra nun1 senddo religioso: a aboliç;Jo dos sacri lkios saus:ren•
tos tórnou--sc, graça! à éle, un1 n1eio de di plina e. de. elevação
espiritual; a renúnc,ia. a este tipo de l'ito abriu uma nova perspec. .
tiva à oontempla,ção; etu suma, o acontecimento histórico permi•
tiu um;i experiência re-ligiosa inédita e a dc:scobetca de DOVO$\'a-
lorcs espirituais. É dcsnccessá.tio diz.er que a evolução pode. se•
eu.ir uma marcha inversa e que elevadas t.xper ciss religiosas
dassocied.'ldes pritniti\'as foram-se toru31ldo de cumprimento cada
\'C1. mais difícil a1)óS modificações (11.)e a "história" introduziu
nestas sociedades. Em alguns casos - a express!lo não C'e.".ag<e·
rada - pode sc falar de verdadeiras catástrofts espirituais {por
exemplo, a intearação das s01.1edades arcaicas no circ..-uito tconô•
mioo das sociedades coloniali..5w scmi·industriai.s).
!,.las, se a história! eap-aide promover ou de ne\1u·aliw no-
vas ex.petiências religiosas, nno consegue nunca abolir definiti-
vamente a nci."itssidade de uma experiênci.a religiosa. Mais ainda;
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Um!! d:ua hnporia.rue na hls1drla d m cultos da -eie-1.a oc da agrt. s,nl..1. 1931, F. F. e. n. 94).
cultura é-assln.slsda pdo a.J)!lreeln.e.,uo da obra de \V. lfam:1bardr, íYoltJ. J. J. l\.f'SV'Sl't, frllogk°ollimlisv:hrr ,Wãt:het.e Ünd Festeder Vegeu1,
und Fe!dkulte, 1, n (Ekrllm, !875·18'17; 2? edição. 1904·1905). Ê uma tlon, J. vots., z·urique, U:iP'.ds.. t937, <rot utili1.a em pri,udro lue,at 60·
\'l:'rdadeira oúuadcdocu111cntos folc.lóricose('IOOg:táfkos recolhidos, elas· cument()6 pur.i.ttioos e inl.imtr0$ paralelos <"Uiográfloos (ct. ta,nWm. o f(:-
rlflcados e Interpretados pelo sãbio alcmle,:, em apoio da sua hipótese so. la1ó1io de \V. Rubca, "Aothropos"', 19'39, pp. 463 ss.).
bre os "dem6niM da \'eg<taçào". Um \•ofume dee'iltudos compkOk'ota· \V I\LDEfv1AR J.JUNG 1r\N. TtoditlonsYfOndent11gen: /i11phratf11-
rcs. J\1y1//ologische FotS(1!unge11 (Strasburio. 1884). apareceu pouco de· Rm'i11, l-U, Hc:lsi.nki, 1937·1933. e ahnrnte pp. 103$$. e w J.027.ss,
pois da sua morte. Os oontcmpor!lneos não apc«iaram devidamente a O in1cresse da obra de Uungman r1?s1d'° 1nenos nos lt'lõtteti.iis que- utiliza
importância das hipóteses de Mannhardt. Como diz J, J, tvleycr no poo· (uo que depende quase exclusivanletite <111documentação de Frazc:r) do
fácioda sua Tri/ogie, nr, p. 284. o iennanista Franz Pítiíftr escrevera que na crítica que faz_à hlp61e$e cte t\1annhir41-Fraw (conlinuando
gue o autor da IV<tld-unó Pefdkuile.. nii.o p;1sw,·a de "um sin1ples çolç. ae.ue respeito, as,c:rfricasde ,\. Lan&, Anit$éhkofr, A, Haberlandt, Vo,;
cionador de ficha!'', e a maior panedosc.speçialista.s ocm $d«1 aot.r;r,, S)·dow e outros) e 1,0 seu ef()rQ() rtl Uoi.,, .a "bi.stória" ds dll'u$:!O
bal.ho de: lê4a, É pro,·,i,•d que- aii tooria de ('.t;i.nnbardt ounca se ti e dos ritos 1?,dos mlt<>S asráriôS dt:$dc o Oriente ar<"airo atê o N(l(te, ser·
tornado popular u-m o rcíot"ço que lhe deu ;a obr41 de Sir Ja.tnts fml-(r. 1nân1co. H.á que acre:,ceniár, no ct1ni.nco, que esta ...hisuM.ía" nem. sem
Foi Jf&ÇM, en1 plimeiro lua ar, ã iroens.• c-rlldiç.io<Jt F z.a e .tO$CU reaJ pre n pa.rcce convíncc:nce.
talento literilrio qoc- a m();.la dos ··dtntoõni<>., de "l!gtta,ção" C()1\5letulu 1'.il\.NNHI\ROT(IY11Jd-11t1d FttJdkulte, 2! cdlç.lio, vol. J, pp, J.JSS)
dominar s de einosrafia.t de bi!(óri.l da! religiõq 16 a , $1* b:udll * suti hipótC$e da CÃlst&lcia de um ",c:spftlto da rv<>ri: t 1 (Baum-
Jii.s lól frimdril ÜlleJIA h1wodi31, f(r, :a1xavés de 4,t R'11n(ou d'()r que lç) DQJ!q\linl fatos: 1?, ti ltudhl !a gtral pa:r:i t.Xlmp.11ar o (Olmos
TRATA.DO DE JJIJTól f,t DAS ElfO/,OE.S
IJ/bllOGR,lFIA 425
e Ohomem ti u.nia âtvorc; i. o cotu.ne <le liafr -0 destilo cl.< 11n ho- 1u:1.i1 pré-0.Uricos, de que ck rtc01'1$1IWI n.s fom1as mais anti.ps: 00$ten1-
mem â vid-1 de urna iirvore: 3'?. a: "eoça printitha 6* 'l a árvor Ili<> pos pft•hiStódc . um bomem ra arnonado a u,n molho de papiro{pr°"
é $6a morada do "<wfrito d• f\orel',W'' (Wakl.,;cist) m11s t:ir'llbétu ah.- 1ôtipo da ooluna ded) e era-lhe oonada a cab\.'\':tl: o CQtpo era então jo,.
bita,ção dQo$outros g&tios, t,enigl'IO> oo ho5ti$, e)? qnt:. alJuns('?°" xe.m gado à âgua ou euna-pdo, O\I ert1ão laoçava-se a um Jago o órg!o g_era·
pio os ham.Jdri.'td..es) 1 h a....- üe,ada dt,.ua;a m.0111;11:1 01gâoi-c., 11\1da dOl e ep1ertava-s:c o corpo nosçam.pó.\. Raallzt1\ 1:t sc um combate rinI
d.a i. tvorc-: 4!, oços.11.1me de ptulir os riasãrv<,r.ffl. Os :· piri cnuc dois-1tupos ()()t oe:islão do sacr:iflcio. UQl.ti t'<>t1'na m.alt. rcccntc do
tos" in6ivlduals das ãrvoce, fundan-se. i.cg111ulo Mannhard1 (1b1d., 1, titual klcndficaYa <hiris, .o V lho", con1 o homem amarmdo a<>teixe,
d«.lpitado ou Jacc111do. e Seth, 11 l)e:1'$0f'!lflcação da scxa, <:om aquele
p <i04). nwn upfthõ tod\'O da flomsti. que o mal.i\'il.. õu o Jâl\C:\Yâ à água. CUmi,rUl.ec a .,int!l.l}Ç:1 dt' Osí!U kl·
• "·1ss, como notll Uung,nsn {1 3}6), e!;Aa "ooktM:.;)ÇiO"-ou "'10!&- c1iflcando um animal q11c repte$€:111ao/a Seth (bode. paio pOt'CO, talvn
lizaç.io'' 1 "es1)t'.ri1os" i11di1Jktuals nto , ta, cl modo l\!gum, dos lebre). essas Cfflmônias tinham h•r n<> f1in da colhdh'I (meados de
fatos. 4ann1t:ud1 r,roced!a se,0000 a ot'kctaçl.t> J.lóo1u1Us1a, as a, maio). A subidll 4as tisuu do N'ilo começa\·;i ;1 17 dt ju.11bo - no plano
ci()('lll.la, da sua qx)í:à. Élt- rccciaY11, à 111:1. llll:UlCira, p(lr u1iia s&ie e uútko, ( s ptOQ.1ra\.1 o <hftls. Os bomens r<:"uniaUl·$C eotã.o nas nlflr-
oombinaçol)et. artificiais, o fenõnlC:00 gu.:3õeprop11nha cxPlie-At; o ",:spf-
rho da-árvore" t(:S'!a dado orismi 2 um "espirito floresta'', qt1e, p0r ge:1',S ei:ho,a\'am o dcus l))Qno. era cahre1 1M:SSaclrcunsttlncia que serea--
s,e-u Ull'no, se tcriaf111.dldo com o ·•e-.svh'i1a do \'-Ct'tlo'' e tetia p-odu.z:ido lizavao p;l,'s&e\O riwal das bll!cas i.lumi1100l1& no Nilo. Noco1nêÇ'OdeaJ:.OO-
um "cw,irito geral da ,·csttiç:!o'•. "'larinhl,n.lt {Jl).!é., l. pp. 148 s.1.) }ul- ro, fsis ("a noi\•a do Nll<>"), resprescn1ada por um.i çohu:ta nlea com
ga pod« l!fO\'tlf es:1a no,•a .siuldt pela p;c1enço. J)C)$ caiapos de tnSo, o tOPo guarnc,.'ido de cspip.s., e;.\ (111,dada shnbolicameote pela dl:$•
de cenos geniO'.õ flQre,tsl.s - oomo lls."ds1uos \•crd ". !fº!:traultin, trui,çil.o dn., t,arrag_eM do Nilo.,\. deu.sa çonoeôi3 H6nu. Dcpoi.1, Totb
reunia os ímamento:; d<>Cl,'IC'po de.Osiris o deus era, ;1s.$im, retnconrra-
etc, 1'4as essas asSO<:iaç&:$ de ,g.o-s si],•es1res com csptnt(.)$. 11grá_rlos d(). Coo:ie,norava·se Oa('Ootccimen10 cul1iva1.00 periodicamerue(no le:<to
.si.o fortuila.s e. no fim de cOOUI.$, n:.da ÇCO\'.U., A 1ecot1s1ruçao arbitrá• franQés: l)Q.r '.'Jes jardins d'Osiris", •os i,udios de Osfrís"). O uabalho
rià ao s,andc espiri_tqda ing.:cação niió 1enl'lina. alia!, 00111 a coalescea· e as .scmetneirM ritu:,is ,eali2a...-at1l·SC no comcco de oov-e:1nbf<> e a s,er-,.
ela "espi1•ltos" agrá.rio-!loeensls. }l.fanob:.rd.c.a gu. <>g_l'lio Ye· mit1ac:1.0 das scincotcs tC''el.1\·11 o re:n:isciinen10 de Osíris,
getal, quer ditet, a Bsumi«le, qu.e, como dt vo d veg,c:ta\ll(l, e1-- Ê d&e$ rit0$, ,naà ou menos intesr:.a.lm n:t tcproduzldos na costa
c;1rna nunia árvore, #Ctrausfonna n\lJ'C3. persontíK&çàO d prlmavcrA da Síria. na ri.tesopotãmia. At1atóll.á e.Grécia, quetodoso.s l."-'ntlti().$ ere·
ou do vetão e é tambêm desta.nado _por ates n.xnes {ibkJ,,. I, 1>. 1$5). ritnônia.1 agf..'Olas do mul1do lntcir<> se dlfundlranl. nào só na Antisui·
Na re.alido1dc, todas essas catruttitl!i mfti.c.as oor.respO!'ldem il intuiç,õet dadc oomo 1wbéin, 111als tarde, pela vi.- do<:ris1iat1i noe do islamismo
origii1ake nào se dcduttm, aoalitic..im..:tu.e, umas das oulta+ Cada UJO'- (Uungman, Euph.rat Rhein, 1, 103 ss.). As populações scrmaoic:1.$ e
deta., se't depcndcn1c de urn rltual especffiCO e este Ulti.mo é jut.Ll cado l:t\l:Uter!am rcoolhidooril\l.llJ ariooJ:1. nooonta10 coma Europ.1 orienu11
por uma t;olm.a: isfosas«al. Lh•nvuan (op. ,.;,., 1,341) tem raii.t<> e1n ç btlçi!nii.:IA {\/e,,• u.esma ori«uaç:.lo. O. Gruppe 1 Gric/dsr.he Otlte,
Jl'"l,'IP<)l', cm , ei.do "d1t16nlo da ,·ct:\,ç-SO" de l\1annhard1, u1na/01ç,:,
1
26. pp. JSI s.s., e Gcsr:ffichte de,r Kloss. tvlythol()Jie, § n, pp. 190 $.'I.).
savadii " t>$J>tciall.zada" nn o/tgetação oo., diri-amos nós, a tlterofa- A hlp6t.esc de Llun,pnau bte n()o/'l'IS perspecd'..8 S ao estudo das çc-
nls ,ttG(tal. O ,ncrifid'o das divind.'ldd da \'ta{ii:O detl.vana, SCl(Ul'ldO ri.mõni.ii; e d3SCl't'tlÇilll ag.rárias. mas . secla pode &er ,<tri11ds no doml-
Uune;inan.• de saçrificiot. fcltos vUa. ltgeoett ã? e uma força nioeuro e afro-Mi:idco, dlNcllmcote pode C."(plicar os lXJWi().$ a1i1e--
sagrada e, ern primeiro lug:ir, do ·•sa,:.ut'k:10 do filho (ib1d., 1, .P· 3,J2), ricaoos. O que nós podemos a itar das pesquisas do espeçialis1a sucro
B preciso tambtm corukkrar a crfdca que o sâbio sutt:0 faz. às hipóteses e a oriscm orie11L1) (Egito, Síria, Meroporilmiõt) d<>cerimonial sgricola
de 1'1anrih3rdt e Frazcr tCij)(:ltante$ ã e,xi,têncla de um "'demônio da ..-e. concebido coroo sllCrifi..io rtt,eneraçâo inte,rado oum «o.úi<> dt:I•
gctaçio". de- orig_cm cspccificartte:nte nnâni<:a; porque, pergu11 ck. IÍC<I (ver também A. f.forct, RiJuds uf!.rolrts de/'onden OtiC'III, ..-lê--
oo,no aplic.tr epi!O o fato de ois ri1os e ss çrcoçllS que se relQ1;1.on:un lauaes capart''. Bruxtlas, 1!>3S, pp, JJ 1--42; A. "1. Olac.knuin, Osfrlsas
wm es1e ''demônio" serem mai$ íreqiie_i11cs no rui do Que 110 norte d i
tcnitóri gtt1nAnkos? Liunsman pensa p<_Klerdrar.asaeo AS
cnJ de um modelo 0tlental, ele próprio dcnv-ado de ,nlluf'naa. mmdiO·
1!1•· 1!1e ,\faker q f Co,:n, "$4udla Aegypdaca" 1. 1933; oobrc 0-1 (.\t-0$ india-
nos e oob1oe o.simbolismo dn "mon d<>trigo·•. verAnanda CoomarlS-
aai.s q_uc se. teriam cxercld·o na êpoçn 4:is yan.dcs roisril()i)ts, t(ll( que \\',imr, Aur.aya/11/i: Sef/-S9Cri[t<e, "H.af'\lard JOtu:i.'lal <>FAslatlc Studies".
ck não 1:0t1sesuc no cntant4 provar. VI, 1942, e;speçialmcnie os,. 362·3).
o sãbio sueco era que: a <>riB.e111dos. sac:ri(íCÍO$ l1umanos feitos em Resca verificar se o Q0$4W11é'(luôllle universal de- ideotiftear um ani-
bel'lefído da. oolheila deve, ser pr«ufads no E.gjto, e sobretudo n0$ d· mal (csb<a, pol'oo, ca...-ato, bode, 111:to, fap()63, @.alo, lobo, etc. - Fra·
TRAT.< 0 0 D.e.Jlt$(Ók!IJ ().&S gl2J..IGIÔES Bf.8LIOORAFlf1 427
icr, SpiJiJ.$ ()jri!.�Ctitn. 1. -pp. Uli-3 5; Ran1ilt>. V, A). 4-óss.) ao tílli· tit1.1ir o rhu.31 pti:·oslr!co. ela nào cxp,lk:,, .oe:m a ôi ll,dad dt 0..{ris nem
mo feixe, de f'M:.1 'C()(I 3$ dkbnru esp t n bo,l)IXo l)lte s,e assemelha 1-1 <.>risen'I d() tnl10 osrrlco. A difercaç.a entre-o cenário dt:unátko egipcio
a um uilmal do qual p a s s ; : i a 1a <1norae e {li.);?- uma pr:nooi.Jico;,:-ão do Que tinbi\ tuga, no tnotnento da colheita c o dr.uni\ dt 0$írls é 1Ao g.ran-
poc,k:r (láColhet1 e à<'>'1('S{Íritodoscercais" - }< e tJ eos:1u111d e rilos decomo a quétJliSlt eoue-W11 adultkioe},fad111ne &lVJ,YOu Ann.a Ko-
(a mo«e $imtóli.."'í.'1 di> 4'1fjtll:I..I) p«fe,n sa: derivad1>i do $JQ1.1C1ii,o egíp• Nnü10. O mito, tomo Oro,nanoo, significa. cm primeiro lu.sM, u1n ato
ei<> ou et! ta1. Slbe·3e- Q.lte Frai!\!1 1.,Ucs a &mli'k:ação do "<$pírilo de uia,;ão aut611omo do J'llrito (cf. i 158).
do trito" i. 11m31iml i;,cl18Si0Ciw'...âo que 0$ PJitn.ffl'O!i l:.vradores te- Para uma in1erpfd.;1ção dil'ettote das «rimônia..1 airãrias ver;
ri:in1 feito cntr 01, Miru.fü ®:iU1dknsta phnta.-io eques:potl.am em
l'uga qua!IOO tomlf!asse a <:cifv da-l \ihif'l1 dpig:.as e o poder máJ)(o /\. LQJSV, EssJJi hlstoriq11es.11r lesm:rif,ct, Paris, l920, pp. 235 s.s.
da V(:;8Q.õ)ÇÜO ( f b t (;ofde» B<XltkJ, JIP• 447 s.s.; Spiri/$ (!.{ the Corn, 1, WES'TtvlARCl( - L 'origine et /q di\ loppm nt d a l d k t 111010/es, tr.
pp. ?70ss.). t-1:as o enulito fugi $ aio oon«".gu.e fa2t'C-no.s w1nvreét\der f.r., vol. 1, 1918, pp. 451 ss. - 01plic.1 o saerifido dos tho,kts pelo
corno cavttlM, bois. lo boi e oulrôs .l-J.ÚC'táis u·rla1n podido eK.Ondcr-i,e "priru..'ipiO d wbultulção", f6fmu.lac:õmod:i m.;iS $umiria, que nâo
nM çamp01. considcta ;t C()1t1plexldadc do fcmõmeno.
'To.nibàn a $lia bip de que as dlY-Jndadcsd& ,t.tiet<,çiiô (to mu.n- Sobre o r,.1('riah:
d<>aJ1!Tg0 fou1m0t1cc:bida-; OfiJi1uu.ia.m:i1té eotno anluiais(Oio11i,o co- L. DE LA VAL'LEE-POUSSIN, Jn4<>..e.uropb.ltS et lndo-lra11kns (Pa-
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c:lsçâo arbitrária <1-cum et11fri10 tacio.11aU.J1a. Por seu l..ido, Llu11gman
crC(lue e:Ue!:1m,lmais, quec.hes.ir..uu eo,u <>1,npo a p:rsonificar o "po· $Obre. a lnffuh'lda dos mon0$ na aJriculh11á:
der'' ou .. cspilito•· da coilw:ha, .slo apc:nas fomiu 111.l, e111se,ra! es.. PRAZER. The Dtlic/ ln hn1t1or10/lr.)·. \'OI. J, Lolldrc.s., 1913.
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bcncfi<:i<> da rolhe!ta para vingar a mort.c dt ôS:fris por Setb. O('Sj)eti.1-
lhtasuoco ('l(J)!iç;i, a<,Jil'II <1s:aerlllcio dos animais vctmel.hOt, pe1t!cular· Sobre as rdaçôçs eo1rc s !est:.s q:dria. e o casa.meato. a sexualidade:
mente dO!l tOtlíOS no fai.10: 0 $ pé)Of;wtlll. thos eram um a1ributodt-Seclt H. K. (,JAEBEBRLIN, Tht Ideia o f PerJili.:sotiOn in lhe CJ1/1ure o f 1/te
e. porc;ooi.esuirue, os que os possuiam eram Ct,',n e-se identificados, W l - Pud.Jlo lndlans. Ame:rlcan Anthropolotic.1) A:!SOCi.UiOf'l., r-.1en1órlas,
do imola.dos pam ,·mc a mottede <>siris. O lOOJo .s.tcrif.cado Gré- ,·oi. 111. 1916, p. 1.
cia - por e.xcmp!o, oas BufónW - . 0 $ véstf.gf.os de forma t"urioA que r-.-1. OR1-\J'iE"f, FJ1e3 , ehans.onsa11cier111esde '" Chili,ç, Patis. 1920, pp.
se d;i. na Eur<>J'tl., ao \\ltlmo fejx('.• ou a, .w.i dl$gooções 1au.rioas, o 1 n .$$.
boi sacrificado< contuntldQ na França na oeasão d.it coJbeila, a laocra- B, C\ll\J...lNOWSJ..'1, Ct>,al Gardt,i.s and 1/ttir ,Va,.ic, L<>odtes. 193-5, I,
çiO ou osacrlffcio dos boda ois cti.fa.,,, o sacrl.fT('io do pmw no Egi10 pp. JIO "'·· 119 (pum, se.,ual e uabJJho, •ati,ol:U), 219 "· (m•gl•
(na Át1$ U"i.'I t ça Su(ç-a o tiltimo f<'ixc. é-c;bamft-do "porca"), a roocte ri· d3 prosperidade):
1ual dos cães de pêlo vetm(lbo, das rapo!>a..s - 1udo Ís:50 :ietla devido,
!cauod<> l.iungman, ã 1ran,1tnis5â<> di1(.w ou lndir.."1.a do ll<K'.rificio dos Sobt"e ti ruu1)ogia e:,mpo,.:mulbet:
,utiowii stlbia)\.t)t. O.ASTBR. "Arcbiv Orie:nt.alni", ·v, 1933, p. 119 .
. Não nos parece QIJé().$ f310, conflrmem sempre 11. l:tipóle$e. Osaa:1- OASTER. A C4naat1ik Ritual Dl'ttUlú, ''Journal of ,\merioan Oriental
tietO d<>touro e do boi. pOJ C."<<mplo, leti'I t:úh'IS n.e prê--b.istôria mediter• Soeiety". vol. (56, pp. 49-76.
râniça, m i que ni<>' possível pe1-sc uwua ioíh1n<:l:'I do cenário o.,i- Sobre. a mfstica telúrica e a "mc:eânic., es:pirihiJtJ" 4-,e <>bris;-un
rlco. Não se pode duvidar do 111.ldo COsmog6nico de..::si::; sacrlrr ..ios., e :.queks que aderem totalmmtc: ao reaitne noturno d<>tspllito a
a. wa (t?ll23Ç!io no quadro do ccritnoc1Jat 33r-irlo cxpiiea-$e pclq, -Simt• se dcoomporcm nos subtttrànCO.$ (tou,o é o caso, f)()r exemplo,
tria mís.:.iat Q11t-se vetff1 a mpreeotrc qu.i 1.1« :uo decri11.çào ea cria- da seita mode1oa dos "itux:.beutist.as" n.a RÍMiti e oa R<>n1.:!ni).
ção como argUCtil)C), 1; C<>$t1IOQOrtla.A f<1rça gwic;1l d<>e<)1,1ro; do bo·
de, do o<>teo explica de mancir• ,u.tisf-atótia o s..>mido do sacrifkio n<> 1IRCBA BLIADE, A·llr11l Relt11tg,'ar(I. S-ucareste. 1942, pp. 24 .ss.
conjunto da.s<:tri11las agrárias: a t'OCf&ia-fertiliian1e, oonocntrada oe Sobte. CI$ rl Obieenos en1 relaç:11.0 eom a agr-1.:uhura:
tcs animais. tiberua•n é espalba-.ie pelos campOf.. O weYt"lo con1pklto
Q:pUe11 a· rrcqúência dai of'S)M ou dos tft.uals «óticos pm o,:asi;lo d.as t.lANNHAADT, ,\111/r, F()r$ch., PP· 142•3.
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1, A, W. HO\Vm, 1Yl t Naln w Tn·�.s S<,1,tll-N11 A141Mlf:J, pp. l 6 l no. oug.o o mc:u erro e tenho !illr:dO dO UO\'lOI" (SdliCbesia, 149; Sc,;;n!dt, 1n.
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NOTAS 445
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IJI. Rig Y"*, I, 2$, J, 111. APOtODORO, BlbHotlt., 1, J, 1.
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133, Po1 c,cemr.lO Riç v,n. 7•. 86: A t / w , a V11io, "• 16;. eie 179. cr. 1. UIO, ); s. )6, S; s. ,3. 6. ti .
134, R V lc. 1. 2t, J.S_ 180. Col. BOOi, 192!, pp. 2:S :u.
13S. p.. 144 e DUl\1RlJL, p. 49, 131. Slncr. di'f', ''brillur", ••dill''; cu cu:tc1ue, ch:un:!\'l\m di4 :eodja; 1 ·
136. C'f. RGROAJ<NE.. Ri!f. 'lilid,, Ili. I ! S. LE.Vl, l>ooritti, pp,. J$3 ss,: erobius, 1, IS, 1-t; cf. COOK. Ztu..t, 1, PP 1 5$.
HOPKlNS, l!pfc ,,11-:Jtc,Jca.;, l?Vo 116 . 132. cr. HEStODO. Of lrdbdii,()$e o , dtdr, ,., 46$,
137, V, DUMEZIL. 51. n! 1; cf. El,..I.ADE,L .. "t.llilel lkllr'' t.t l s.>mbcJir,. 1t1. cr. NILSSON. ·hit:Nr:. w. nt sa.
nrt 1.'d rn(A:'.ità. rep!Jb(Cldo <m ! • , S)1 e..p. JV. 134. NTLSSON, Gffc/d,:111.::, p. J69.
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flOTAS 449
18?. ;\«ili$ f;r., JI. )J. m«cm .10:rt11s •· p r o vu '-' dunm.u: li u d i11iei:IÇ!ío: tf. Stii \Vi.klllklcr, Der <HiSdr4
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a divindade dast1:uas d11 ,abcdorlti, oao rma '·l1Crolea!'ltO.l<:'' co-, os monru-Oi l l l . Rlt Vit, D, 34, l ,
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e&-S,JI fim de QSIMUr cm kg:oid11 (Er.11m11.l!NsA, 1, 60.7.a). h,rfflllt, Af!Õ$ sióo 1:?l. Atha!WJ Yul.r. X, 10.
1nvc.s1idod11il)Cl:ll'O!)Jlí,·.as d.a rolxranla absot11ui (a<n11i.O J<fklltt.111cao Je1.1t 124, lbJd,, X. JO. )4,
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tipm ita, ''wçkda4;; 11; k001:11i;" irillil-itdina.6, ,ompo31as de JO'l'QlS que !C u'o- 11"'1-0 til\ de1.H wpremo à "t.io!1órnl", 11.J)l"OOda- tios iwet1fglos tU di1,1in.
450 t,'OT;.1$ 4S1
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263. KOPPl!RS, op. dt., p. JST. 309. LA DYi\KS, CHAD\\'lCK. p, 486; Eir;i'to, "tÜLLER., p. 176; Âtrb;
264. Cf. $().lrrm, 18, JS, etc, WERNER, pp. 136 $.$,
26S.&odo. t9,.l6", 310. Cf. THOr.tPSON. 111. PII· 8,9.
26&. Jbid. 19, 19. 31 L Cf. COOf.lARAS\\'ANY, $1"*11'flt1Jit1:r11JW, J)tmi,,,.
U1. JN.I , , 4. 312.. POLYAE.NUS, $:,a/.a,(!fl14ro,n, VII. p. 22.
268..1, R.eJs, 19, 11 SS, l l l . Çf. OK. 2t.u,, li, p. 2. 124 u .
269. Jb.id., 1$, JS. 314, ORIÓENES, 0,ntro Cffwrn, VI, 22..
210. Gir.ais, 9, 1). )IS. RADLOF, Aus$if>lmr,t, O, 1, )J; HARVA. Rd. .,tJffl. pp. S$l l<$",:
211.J6, 3-6.n. ELIADE. U cllomanls1nc, w, Ji'6 ss.
in. Jdtn•. 36, 32·J: 11, l·4. .U6- HO lBê:RG, 81tt1m det Lcbe,u, p. J36,
2.7:l. Ü:IU MC>c o ltlle gue ÍIII CI eoaa que s.,rpl<d cm ,e CK11ped11 mcttt; JIIMH , 3J7. H.EROOOTO, 1. 93.
XVI. 411 $-1, 1111. HOLMBl!RO, <IP, clt,.1)11, ?S » .
274, Ci0NT.ERT.AtiSt'h< IYdflUh1(t, pp, )IS n,: CHRJ TEN$EN, U pro- 119. , w.. p. f)7 < ttt. 46.
1111 ho 111ntt:. 1. pp. l l .; KOPPERS, op. cit., pp. J20 &1. JlO. ,w.. 1>9, '3,0 i i .
11$. Cf, KO.PPER.$, l'P· JJ4 ,. l l l . ELJADE, L dta,rt:m-l$1rM, pi). 116 s,,
276. ÇiJI, 81,, li> li, 1, Ili: cl,. 6, S, l • $, 17, de, 322. HAR.VA, Rt#t. rorN . pp. 546 s
2n. a . OTTO G,J(t/lf:ÍI d. Aritt. PP. 76 is. 3%3, CliAO\\'ICK, Slt:.1Jtt011lsm, W· l91 .
278. J'&R.l:.M(AS:, ff }Jvd,. p. t O. 324. CV.PLIKA, Abotf$11wl Sfbl:1/11. p, 2l8.
2.79, KJR.FEL., KOS?rKttntr>/llrf!. • JS. 325. KôPR.Ot'OZAOJ::, p. li'.
230. lfOL U3ER.O, / N f JJa r r de$ Lt1Jet1, t>. li 1,
,J
t lló. CRAl>V,'ICK, Oto1t•fh, UI, p. lOi.
1SJ. Tclll.a.1 cm Chri.,tm n, U .[Kt:mi h01nmc. li. p. .t·?.• 3i1 • lb(r/.,
. p, ·206,.
182. l1J$!.lor,or \'JENS!Nl3. 7h,e Naw.flt:>Í IA CcriA, p. IJ; o\Jlro. icxloo: 328. J.i.r. lB .• 12.
BUM.OWS, em 1.AfJ)•t"'-111, p,. 1-1, 329. ASIN PALAClO. EsfYJrl.llOJ;iit mJU'ld,nana, p,. 10.
w. 1'c:uo ti111do cle Ki!:i'i. ,:il.. WENS!l'ICK. ()f). &., p. l). 330. P,'Wdl$<, XX.l·XXU.
2 3,. 1'H. DOMBAR.T, A..,.- Scl.r.t!t.m1, p. 34.
: 331, vru,P"'1 .• p. n.
2$$. Si,111'(f!'#4,. W Akkir,•Hirn Vü11:t r,j ktfi1t.ui"Sf.. 9. l&J. 332.. li. Cw., 12. 2.
286, ÔRANÉ'J', l . t ) lStfe. chJ,ioot, p, 324. !lJ. Cf. EIOUSSET, Dlt Hfltt»t Sn'iff! ( k r Sem, "An:h. J, Rdit,". IV,
m . t>u3 oae il!til*>ll'IC<i'IO, ct. VAN OENNEP,/,fy;,\'ts<«/ó:mdEfd'Ail.f· PP-· 1,.f $,j.
t1olhf. n• 11 661: respecth•.:a notio. 33-4. Rlt Y«fa, X, p. IS6. 2.3.
2$8. U. Z111MERN. i:,n,, &bJVM llt,t Nt'11fa,!rreft.r1, li, 5, oot11 2. l)!i • .fLIADE. U )>ota, p. J1,I?.
239, ltit Vedil', X, 14. 1
290. MJRCEA ELIAOE. Uell<l'm,-w,; PP. 134 $ti.
191. W. UUDCiE. Ft<),ll! N!t'h fí1 G()d. p. J.t6.
m. WEll,l.,, 0 C(lllljl() dt)S )N/1tcttis, p. 51.
29J, )btd•• "· 28.
294. BUOOE, TA ,lolwt1MY, Pt>, )24, 326,
1. Tht. ,,.·=hw<i/ ltr
/
't
l
f
' p, " ' •
2. Ver H. FRANKFORT tm J,ak. p. 6.
'
u
295. Ci. ELlhDE. 1.e dtrMlfl'A'!, . rm. 40,I, •2J. s!l J. Cf, S. N&.L. DiiriM KittB,#11/1, pp, 21 SS., } ' JS.
. VAN CENNBP, cp.cit., n l2. -1, Ct. Ci06TZ5. Kkil'lodot, 1). 136.
m. JbSd,. n! -«-. ). Cf. ENCNl!LL, p. 1.
298. VAN OENNEP, Oll, d t . , n? 49. 6. SCHf\Uttf, u;,w1unt, Ih p. 935.
1
1
*-
4S2 TRATADO DE IJJS1Ól!JA DAS RJU.J(}fÔlJS ,'iOTAS 4S3
t"
J!. HOW!TT, .'•4t!fr· TriM o / $ . A�«oJfti, p. 427. - t, tiart o nchl'a objetivo, sur,.edhto - OOtJl'Oioar cm quie ml".did.:i ;1 MrlltUJII
3. C(. SCH!IJIDT', {;hprwtJg, rr, j)C). (i(:l, 12 i,J. de umn hieroínnin foi primdto *i'>reendid:I 110 l'ftl i:oojunt<> e POI' i.o6os os rnem·
40. F'RAZER, JJ'"q.-p. D• 6Hí, b1os de c.m2 dn(l;i .sockdiuie, Bana-nw üininguir o q,n mu.11 blc1ofa11ia pódio
41, SCH.>.U01', U -x. Ili, pp, 105f>.7. qir r,:r dittr 00 1\.io J)Ot.lia (Jot1n diur.
1,.
l
-
4S4 TRATADO DE HISTÓRIA D.,tS RUIOJÔES NOTAS 4SS
Sol. Ris V«to, 1, 115, S. KRAPPB, (1(-s J't)ltbts, 1). 110,
ss. 1bid., u:;e. "' v, si, 11.
IJ.
14. \V. SCH).ITOT, UrspnilfT. IH. p. 496.
86. !bid.• li, 33. 1--6.
t:1. Rig Vffla . J\', S.l. 6.
1.S, em,rrze, Myillt:S 1 $)'IJ1l)ol,N, pp. IS2 .u..
16. HENrlE, ,ll))l,et el s;UWOW, p, l4.
88 /blj, Vlf .is., 1. 17. VAN GENNEP. 1'1Jthrl• d d d'Austrafie. pp. 84•5.
89. Ui ttllt(Qft \o/df(J�,Ili. PI>, <
' i $$, lll. DRIFPAULT, Th4' J,fQthtn, li, pp. 6-k.S.
9:1. lltid.• 1. 3S, 1, 19, Jbtd., KAAPP, G , ,p. 321 1 11! 2.
91. Brlurá. Up., 1. '.!. 1. 20. Ur.qN111tg, 11. pp. J94·!i.
92. Jl,kl., J, 24. 8. lf. Das Z lik<h . Lcipn$. J92S, pp. 179-SI.
93. lbid., VIII, 10·1, Jl, 2l, VAN GENNEP. <>J. dt,, p. 4',
9:. fbld•• IIJ, 10. 4. 2J. BRIFFAULT. li. p, S7J.
9$. Ftrw. n 1. 14. Y,'\..,HT, VU. p. 4.
96, P6r«/1$Q, 1:2. 116, 2J. llRCfFAUI..T, 11. p. 629.
91. Pamf(friM',a /1.r,, XXI, 2., f,
26, lbfd., pp. 628-J.O.
ª""· ?$. Cf. r«c .:11m1tc, 11otc iló, B. ROWLANO, JJr1d(/a.•1d 1/it Sltn :21.
28.
KRAPP6. p. 100.
TRfLLES, 1.45 PJ-znrU.t dor lo /Mi1 UJ1,1au1riak. Parii.. 19.lJ. p. 112..
99. V t t o J'IOUO ('Sl'Odo G'()$Jflk-f/ ff(f(IJl'JkJti:I afld Yog.r.
too. Porn;cmp!o, púr Oí.:Suioda C&\'41 f;imásdea, 80EFl..êl., K11fl
29. ,w.. p., 11),
JO. lbid., W, IJS ú.
<Jtl)e/111l)ii11d,pp. 112 $$. 31. o. tENOHIN, w llt<'Sdlimu der SJi:inuIJ. pp. 148, 448.
101, C1. o .carro &oi/li" de Toiodhotm. 3?. HENTZE, >tyrhtG e-1 syoqb<>fts. p. 96,
102. T 11I ()()fflO a b!rca ril\lal do 1orto fol o pro1ôdpo Ja bGtct proí111U1. JJ. HENTZE, lii$. 74·82,
O dw.lbe tCl.tl cttta importi11d:i., pois que 1*ri:nl1e <OOl!»«fldct' mdbor • orieem 34. ARISTôTELES., Hiu. Anin ra !, li, p. 12: H;,i. No.t., XI. $2.
das 1écnb1 hUU\8M.\, AquOoa ci.tie$C l.c:m ch2nu:lo II coi,q11iita 11a.tu:1t1a IIC·
3.S, FAAZE:k, 11>t: FoJkl() t,1 thlr Qld Tt#11t, "OI, T. pp. 66 $S,
lo hooicm é m;..11014 (\)1t'l('(j\UOcla ln1oc:lbta ele dC$000 1 pi do ql)C o
36, 611.IFFAULT, li., ti, }35.
fn.:10 div.:n.u "siw11ç&," do ho11W'nl oo co,11Jo0s, $in1açõe$ dcl«mlrwdas pela l7. \fAN GENNEP, ,\f:,tlrcr. pp. 101,2...
dialflk:l das bkrofRui». Mc1:11lu.rgj.l, -sricubura, c.alendàfi<>. etc •• tOOo iSSOOO·
'8, KRAPPE. Ot1 se, p. J06.
IIK'ÇOII por-9« !I ecu19tqU 4 - pci pelo borncm dt 11.ma d.&s 1ill:ts situ:l• )9. FINA>,IOR.li, T'rl:tlftJMf. l}()P()fml Q / ) , l l t f f l f p,
, 237,
ç,ôes. deu:rmin11W 110 cosm0$. Volt:lttd'IOi li <:,1. ass1.u1to,
40. PLUTARCO. y;,a Aft x. li.
J03. Sl.A WI[(, Xulflw Gdt.ri1wb:i11dc.. p. 370. 41. Scs1.1ndo- o IC$icm11.nbc> de Pllus:lnl s. n, 10, l .
J<M. GRAEBNÉK, ÔC$. fVf11i)Tld d « Pri111itivt11. Mu.niq . l!>!.4, p, S.
41, IJh'iU AMtMflo.t, l), !N.
IOS. Rtp, m. b. e. 4), /N(J,, I>, ss-, 1,
106. $cwrMk, 1. X\!IJ.X.Xlll 44. BRIF'F'AUL1', ti, JI· 664,..
4.S, /bJd,, p, 66,..
46, fRAZ6R, Ad&n&, pp, 81·2,
1\1. A IA1 e I iab1k& luntr
41. Nt1I. A'1imai. VI, p. 17,
4$. BRIFFAUL1', p. 66S.
1 FVRJ..A.Nl l.11 rdr1kmcb 11!,if )·r à , Tól. 1, Bolo11ba, 191!>, p. 1$-S.
i 1,1n11Jk:, r: ue., e. ltlyrlw$ i : qmhnScs ,'f)QirtS. vP, s, s.•1 • ftis, , 49. PANHARD'l', "1 ' Jf1V$tg,11, J, l i 1, U I ,
$0, J, A, ElSl:NJ.t.eNúBR. Dtul«*tdS J1'(féll"ft11, 1, W, 83? lS. URlf'·
e 60. ).Cf.O.SCMR,'\OER, Sp1flfll'l,WZJ.111fdU111, FAUL.T. li. p. .
l : ed., pp. 4:lM.; .SI. BRIFFAUL1', ibid•
W, SCHlJL'l'Z, Uutdirnuq. pp. 12 ss. .Sl. PLOS:S e 8.AR.TELS, 1kM- (f lc{l,1, 1. pp. U l S$.,
4. TÁCfrO, Oern1011la, rr. $3. BIUF'FAUL'f. U, p. 668:.
S. K•hn. «n HC1tut, ô/>, clJ., p. 24$. l"' Tht nQ'ltk' rrnt, 00.. lm:(i!tl'lla.tl, 1, PI). 23 U.: D. 17, l:!,J,
6. Cf. WILKE. Di ( t " , ' i k i O i l dtl Jtidc.,tff"fffl('IJ, p. 149, fig. 163.
S5. HENTZE. Objm ritIU$., fi. ; , . ,.1.
J
1, Ris Y ã , 1, 105, 1. 56. ff)id., fig. s. etc.
S. A .t .B,-4.-111'-llr.c, Vfrt, 28, IS. $1, l{E.{ll'rZS, .-\{y1JI. tl.1, IJ6.
9. õ,nt:f.('(N..-, n:t.rG, 1,.11: 16-J.
10. Cit. ALBRIOH'r, Soiwit ,11,
o} lm1zdo.m Epic, p. 68.. n. '"º
(t;Jt;I•• l)J), u.; Ol>fe.U '1/(i«If. PP• l7 ss:.
U . O'RIFPAULT. f u ,\-JOJ/@$, li, pi), 63l M, S9. lbid •• Olijt:<ilS. pp. ·29 flil.
60. NATHAN MILLER i Tlsc Chif.d in J>rimid,v ,Ço;:flllf 1 lQndr 1 1928 1
l'l. SELER. C1.111mmM ,,tbfM!ttl11tr.t(:ft, 1,1• 11.!t.
1), 1.
T'RATADO DE HJS1óRJA DAS kf!J..lG!ôES iVOTAS 4S7
tiJ. PLCl&5. l.•SM. 1 0 2 . . S = . 361, ·$Ufr. P . L. )9.()0(, J605;<'.í. G.lt.10,NT, p. 211. n!fi,
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460 TRATAI>ó OE HISTÓRIA DAS RELIOIÔES NOTAS 461
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11. t,f, {!J..IADE. A,fe/oJ,'14,v•, Magk 1111dAk:ht111y, pmn'm.
13. td.:m, ll>{dtJtt, 37.
lt. 9. LAUFER, Tirl Di:Jml'l11d. 4-0A.
1S. 11,1. alADE. Lo /)ltrte d "'1ffn1tlS.
16. His!óri11 Naflrf'IJI. X.'CXVJ, 10. e
.;
17, YititAPQI, "f)t;Dw, W, 7.
IS. f,.flRCEA ELJADE, ltS ffv,y,S p{>p11hri1t$, p, 74.
19. PI). 169 $1.
11. Cf. par:, o.,
20. Lê''Y·BRUHL., op, dt., l'll), 2.S7--S,
mopotlimiOOI, \'AN OÜREN, up. c# .• ·p. J•
e.
.u. Ct. os t,111».lln •lc Hmw::.
13. Cf. HANNA RYDH. Sy,r.Jx,Jw,te in »Wrllu;,y arumi(S. (XJ,sim,
14, P. }.t\JS, lhnrlJul/llr, 1, p, ))2.
2$. A. M. SA YCE e "· e. l\tARCH. P<>IJ,MSia.'I W't/{Jf!ttlll, ptrUl'Nl.
24. lt: ''dku l,W'' i:f k s11nh,JJ.r111.: d...s 1MIM'is: ,:J, hnrrg,s a S)'IJ:oo,ks,
car,. 111.
11. Cf. Díi:"b:mo 11rtd tAif •·w.nUII d=ni ".