1. Introdução
A preocupação com o meio ambiente vem ganhando cada vez mais espaço na
atualidade, o que se percebe pela inclusão da questão ambiental em inúmeros diplomas
legais, tendo inclusive alcançado nível de proteção constitucional. O desenvolvimento
econômico, a partir de então, ganhou uma conotação de sustentabilidade, onde o
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Parece ser indiscutível que a mineração é essencial para a sociedade e por mais que seja
uma atividade de considerável impacto ambiental, o seu desenvolvimento é necessário.
Contudo, com a imposição de obrigações florestais onerosas, ainda mais numa região
onde se encontram diversas reservas minerais, bem como uma vasta extensão de
floresta, deve-se achar modos de compatibilizar a mineração com estas obrigações
ambientais.
Além de uma análise teórica, será feita uma análise de caso de como os órgãos
ambientais do Estado do Pará e os agentes do setor privado com atuação naquele Estado
vem se articulando, mantendo um diálogo constante no sentido de construir mecanismos
de cumprimento deste requisito sem inviabilizar a atividade.
Inicialmente, será traçado um breve panorama sobre o Código Florestal e seus objetivos,
na tentativa de demonstrar que quando da sua discussão não foram levadas em
consideração as especificidades da mineração, além de uma pontual análise sobre a
Reserva Florestal Legal.
Para além das soluções casuísticas que vêm sendo adotadas pelos órgãos ambientais,
serão expostas algumas das soluções legais que já existem no ordenamento jurídico, ou
que vem sendo adotadas por outros Estados.
Ao final, serão expostas algumas conclusões pontuais sobre esta articulação e como esta
poderá vir a aperfeiçoar as normas ambientais, possibilitando maior diálogo entre o
público e o privado na consecução de um fim comum: a construção de um país mais
desenvolvido sem a dizimação de seus recursos naturais. Além disso, o propósito basilar
deste trabalho, paralelamente à questão prática posta, é demonstrar um dos modos em
que vem sendo enfrentados alguns dos gargalos normativos existentes no nosso
ordenamento jurídico.
2. Meio ambiente e Reserva Florestal Legal – RFL
Com esta visão é que foi promulgada a MedProv 2.166-67/2001 e o Código Florestal
vigente (Lei 12.651/2012), o qual a revogou, aumentando as obrigações impostas aos
proprietários de imóveis rurais na Amazônia Legal, onerando ainda mais as atividades
econômicas desenvolvidas numa das regiões menos favorecidas do país (tanto no que
tange o desenvolvimento econômico quanto na ausência do Estado na consecução de
direitos sociais).
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Tanto o atual Código Florestal como seu predecessor, classificaram as florestas e
demais formas de vegetação nativa como bens de interesse comum. Assim, tanto a sua
exploração quanto a sua preservação deverá ser feita no interesse comum de todos os
cidadãos, observados requisitos legais rígidos.
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Vale lembrar que as discussões legislativas acerca dos termos do novo Código Florestal e
a extensão da proteção que seria dada ao solo ocorreu entre a chamada bancada
ruralista, defensora dos interesses de proprietários rurais, notadamente aqueles que
exercem atividades rurais (agropecuária etc.) e uma bancada ambientalista, cujo
objetivo era defender principalmente os interesses ecológicos e garantir o mínimo de
degradação ambiental. Há, inclusive, alegações de que tanto o projeto original de lei do
novo código (PL 1,876/1999) quanto a sua posterior conversão para projeto de Lei da
Câmara 30/2011 foram propostos por membros da bancada ruralista do Congresso, os
deputados Sergio Carvalho e Aldo Rebelo.
Por estas razões, estaria explicada uma “despreocupação” da lei com a mineração, tendo
ela sido focada/direcionada para outras questões. Ressalta-se que na pesquisa realizada
não foi constatada uma presença forte do setor minerário nas discussões do novo Código
Florestal.
Neste sentido, um dos pontos mais polêmicos do novo código – o qual provocou debates
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mais intenso entre as bancadas – era a questão da área rural consolidada, a qual foi
definida como aquela com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris;
sendo permitida exclusivamente a continuidade destas atividades econômicas (além do
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ecoturismo e turismo rural).
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Não sendo permitido o corte raso nesta área, leia-se a possibilidade de dispor da
propriedade de forma irrestrita, explorando qualquer atividade econômica, só podem os
proprietários/possuidores exercerem atividade de manejo sustentável, em tese não
sendo possível minerar em áreas de reserva florestal e tampouco estabelecer a
infraestrutura de um empreendimento minerário nesta parcela.
A extensão da RFL varia de acordo com a região do país, sendo que na Amazônia Legal
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foi imposta uma reserva de 80% de determinada propriedade em área de floresta. Não
é necessária uma divagação muito ampla para que se chegue à conclusão de que esta
obrigação é extremamente onerosa aos proprietários de imóveis rurais nesta região,
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sendo-lhes possível apenas explorar/utilizar 20% de seu imóvel de forma livre.
Além desta área de proteção, é habitual, na região da Amazônia Legal, um imóvel conter
diversas espécies de espaços territoriais especialmente protegidos, podendo coexistir de
forma harmoniosa a Reserva Florestal Legal, áreas de preservação permanente e
unidades de conservação (inclusive de proteção integral); além de comunidades
tradicionais etc.
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Além disso, existe uma situação peculiar no Código Florestal que merece destaque. O
Legislador, tendo noção da incompatibilidade ou discutível eficácia da reserva florestal
em algumas situações, previu a sua exclusão de algumas atividades que não se
coadunariam com este instituto, tal como a exploração de energia hidráulica/elétrica,
15
abastecimento público de água, tratamento de esgoto, rodovias e ferrovias; não sendo
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a mineração contemplada por esta exclusão.
3. Mineração e Reserva Florestal Legal
Considerando que esta atividade é essencial para a sociedade e para o país, é imperativo
que as obrigações florestais sejam compatibilizadas com ela, já que as especificidades da
mineração tornam o cumprimento de algumas obrigações dificultosas. Aqui, é necessário
17
analisar algumas das principais características desta atividade.
18
Parece que os recursos minerais (e sua exploração) são essenciais para a sociedade,
havendo uma dependência na exploração destes recursos para suprir as necessidades
19 20
presentes, a qual sempre será realizada em interesse nacional.
Além disso, as atividades minerárias utilizam uma baixa extensão de solo, ao contrário
das atividades tipicamente rurais (agrossilvipastoris), fato este corroborado pelo estudo
do IBGE acima citado. Contudo, é importante ter em mente que o uso desta parcela
menor é intensivo, com alto grau de impacto, vez que os minérios são parte integrante
da natureza, não sendo possível a sua extração sem interferência no ecossistema.
escolher o local onde será exercida a atividade produtiva, pois as minas serão lavradas
onde a natureza as colocou. Não poderá ser escolhida a comunidade ou ambiente onde
será instalado um empreendimento minerário, tendo o agente privado de lidar com as
questões políticas, sociais, econômicas e jurídicas em que é localizada a jazida a ser
24
explorada.
Para além desta característica, outro fator que não pode ser desconsiderado é o fato de
que, a rigor, os grandes empreendimentos minerários não pretendem adquirir grandes
parcelas de terra, mas sim instituir servidões minerárias para a “utilização” de
determinada propriedade tida como essencial para o empreendimento (art. 59 do Código
de Mineração). Este instituto, partindo do interesse público (nacional) da atividade, em
sobreposição ao interesse privado de propriedade, impõe ao proprietário, mediante
indenização prévia, a obrigação de permitir a atividade em seu território.
A rigor, de tal forma, poder-se-ia arguir que sequer seria materialmente possível a
empresa mineradora instituir a reserva legal, por não possuir ingerência (administração)
sobre o imóvel. Além disso, cumpre registrar que quando do cálculo da reserva legal as
áreas de servidão administrativa serão excluídas do somatório da área total do imóvel
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rural, nos termos do art. 23 da IN MMA 002/2014.
3.1 Mineração na Amazônia
Além disso, é importante ter em mente que há pouco conhecimento acerca das riquezas
minerais do país. A criação contínua de novas áreas de proteção tem implicações
contundentes na atividade minerária, sendo possível que áreas de proteção especial
sejam criadas em áreas onde possa haver reservas minerais estratégicas. A título de
exemplo, William Freire estimou que 80% de todas as reservas de minério de ferro do
mundo estão localizadas em regiões com as características de Área de Preservação
Permanente (FREIRE, 2014).
26
Havendo rigidez locacional de minérios e o desconhecimento acerca do subsolo, a
criação paulatina de novas regras e áreas de proteção do solo impede maior
desenvolvimento de atividades de mineração na Amazônia.
A questão, portanto, passa de “por que deveria a legislação ser compatibilizada?” para “
como compatibilizar?”.
De forma geral, percebe-se que há uma divisão na doutrina – em relação àqueles que
abordaram o tema – acerca da possibilidade de minerar em áreas de RFL, sendo que
esta divisão geralmente se perfaz entre aqueles que tratam do Direito Ambiental,
opinando pela impossibilidade, e aqueles que tratam especificamente do Direito
28
Minerário, defendendo a mineração nestas áreas.
A primeira solução que vem sendo ponderada pelo Estado e o setor privado é a inserção
da necessidade de manter e averbar a RFL no Plano de Recuperação da Área Degradada
– Prad, postergando a exigência da RFL para após o exaurimento da exploração mineral.
Esta medida é provavelmente a mais adotada pela Sema/PA e a preferida pelos agentes
econômicos, vez que no caso não haveria a dupla necessidade de se manter área de
reserva durante a exploração e recompor toda a área mediante a execução do Prad. No
caso, o órgão ambiental não exigiria do empreendimento, no decorrer da exploração dos
recursos minerais a necessidade de averbar e de manter esta área, ou seja, estaria
sendo aplicada uma espécie de suspensão temporária do cumprimento das obrigações
ambientais e florestais desta natureza.
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Uma aplicação literal da legislação não atrai margem de dúvida acerca de quando será
exigida esta averbação, devendo ela ser feita imediatamente, não há previsão de
possibilidade de exercer atividade econômica qualquer, com corte raso da vegetação,
para que depois seja averbada e mantida a reserva, por exemplo. Sendo
adquirido/possuído determinado imóvel, a obrigação de manter reserva se faz de
imediato, não podendo haver sua postergação para momento posterior mais “oportuno”.
Por mais que ao final seja mantida e averbada a totalidade da área exigida a título de
reserva legal, o seu cumprimento se estenderá ao longo do tempo, não sendo cumprido
de pronto quando da aquisição de propriedade/posse de determinada área, como
determina a lei. Não haverá um cumprimento literal-imediato da legislação.
Em relação à inserção das obrigações da RFL no Prad, estas são exigências distintas e
que em tese não poderão ser confundidas, não havendo qualquer incompatibilidade
entre ambas – o que se está admitindo abstratamente vez que na realidade as
obrigações se confundirão, pois em ambas se trata de manter equilíbrio ecológico. O
ponto mais grave é o fato que esta recuperação (manutenção da RFL) só será realizada
após o término da exploração do minério, que poderá durar um lapso temporal extenso.
Esta insegurança nas medidas expostas não é ideal num país que possui déficits de
infraestrutura e muito menos num Estado que depende da atividade minerária para
manter um superávit econômico.
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Por mais que os esforços dos órgãos ambientais de compatibilizar as exigências legais
com a atividade sejam louváveis, estas soluções não possuem segurança. Há
necessidade, assim, de serem buscadas soluções normatizadas, aplicando instrumentos
com amparo legislativo.
Cientes dos problemas com a falta de segurança jurídica oriunda desta compatibilização,
este item visa (i) apresentar alguns dos esforços sendo adotados pelo setor privado na
tentativa de normatizar esta compatibilização, (ii) expor como o Estado de Minas Gerais
está enfrentando a questão, e, por fim, (iii) apresentar alternativa que poderia ser
adotada para questões desta natureza.
5.1 O GTAPLAM
O intuito deste grupo é propor legislação para legalizar as soluções adotadas de maneira
casuística de modo a regularizar as medidas que vêm sendo adotadas em face da
necessidade de o regulador harmonizar as obrigações florestais com a atividade
minerária.
Por mais que se trate de uma iniciativa predominantemente do setor privado, esta
proposta de Decreto, além das discussões regulares do Grupo, servem para aperfeiçoar
o diálogo entre o setor e o Estado, contribuindo para uma discussão mais transparente e
participativa; ao invés de uma imposição vertical de exigências legais. O Grupo
possibilita uma nivelação de interesses e a participação dos administrados nas regras
que lhe serão impostas, estes espaços para debate são essenciais para o alcance de um
objetivo comum, um desenvolvimento sustentável.
Fato é que não há uniformidade na condução deste assunto (reserva legal e mineração),
pelo que se louva a iniciativa do Estado do Pará e o Grupo de Trabalho formado. Não
obstante, frise-se que estas soluções ainda estão em fase de intensos debates e não
foram objeto de consenso e tampouco aceitas pelos órgãos ambientais, tratam-se
apenas de possíveis soluções.
5.2 O exemplo de Minas Gerais
A título de exemplo, é válido analisar a legislação implantada por Minas Gerais, por ser
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Apesar de a área de reserva florestal prevista para o Estado de Minas Gerais ser
consideravelmente menor do que aquela prevista para a Amazônia Legal, apenas 20%,
suas lições são igualmente válidas.
Atualmente, esta questão é regulada pela Lei Estadual 20.922/2013, a qual dispõe
acerca da política florestal e da proteção à biodiversidade do Estado. No que concerne à
reserva legal, a legislação dispõe expressamente que a sua implantação deverá
29
compatibilizar a conservação dos recursos com o uso econômico da propriedade. De
pronto, é perceptível que este dispositivo é de suma importância, vez que balizará a
interpretação da legislação.
Uma das maiores inovações desta lei é a previsão, de forma expressa, da possibilidade
30
de realocar áreas de reserva após a sua averbação, sendo isto extremamente útil se
levarmos em consideração a rigidez locacional dos recursos minerais e o atual estado de
conhecimento do subsolo.
Este pequeno cotejo serve para demonstrar o abismo legislativo entre dois Estados em
que a mineração exerce papel central em sua economia.
5.3 A Lei do SNUC e o art. 36
Além das inovações jurídicas que vêm sendo aplicadas por alguns Estados, foi apontado
pela doutrina solução jurídica que poderia ser aplicada para harmonizar a mineração e as
33
suas obrigações ambientais: a ampliação da aplicação do art. 36 da Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (9.985/2000).
Este artigo impõe aos empreendimentos que causam impacto ambiental significativo a
necessidade de apoiarem a implantação e manutenção de Unidades de Conservação de
proteção integral.
Apesar de concordar com as premissas desta solução, a qual merece destaque, pois
incluiria uma obrigação ambiental mais protetiva (pela criação de unidades de proteção
integral, tendo melhores efeitos no que respeita a manutenção de ecossistemas e
conservação da biodiversidade), esta medida também esbarra nos problemas
mencionados anteriormente, partindo da premissa de que a RFL não seria aplicável à
mineração; além do fato de que confundiria duas obrigações diferentes.
A compensação prevista neste dispositivo é adicional à RFL e não a exclui. No caso, mais
adequado seria instituir outra obrigação nos mesmos moldes, porém com fundamento
direto de que este instrumento seria uma alternativa a averbação e manutenção de RFL.
6. Conclusão
Há, como visto, um conflito regulatório entre mineração e floresta, vez que o Código
Florestal foi promulgado visando regular atividades tipicamente rurais, que usam grande
extensão de terra. De tal modo, não se surpreende que a mineração enfrente de forma
cotidiana dificuldades para cumprir algumas das obrigações pela natureza de seu
empreendimento.
Em que pese a utilização de exemplos diretos oriundos do Estado do Pará, é cediço que
esta questão vem sendo enfrentada diuturnamente por empresas do setor minerário em
qualquer região do país, podendo os argumentos servir para iniciar um debate nestas
outras regiões sobre a compatibilização da atividade com a proteção florestal.
7. Referências bibliográficas
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Quartier Latin, 2011.
CORREA, Jacson. Proteção ambiental & atividade minerária. Curitiba: Juruá, 2011.
Página 12
Atividade minerária e reserva legal florestal:
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aplicado ao meio ambiente e à mineração. São Paulo: Quartier Latin, 2009.
FREIRE, William. Direito ambiental aplicado à mineração. Belo Horizonte: Mineira, 2005.
GANDARA, Leonardo André et al (coord.). Direito minerário. Belo Horizonte: Del Rey,
2011.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 18. ed. São Paulo:
Malheiros, 2010.
MILARÉ, Edis; MACHADO, Paulo Affonso Leme (coords.) Novo Código Florestal. 2. ed.
São Paulo: Ed. RT, 2013.
PARÁ. Lei Estadual 6.462, de 04 de julho de 2002. Dispõe sobre a Política Estadual de
Florestas e demais formas de vegetação e dá outras providências. Diário Oficial do
Estado do Pará , Belém, 04.07.2002. Disponível em:
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RYDLEWSKI, Carlos. Como desenterrar US$ 75 bi. Época Negócios. São Paulo,
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Acesso em: 08.11.2013.
______; ATHIAS, Jorge Alex (coord.) Direito tributário e econômico aplicado ao meio
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
1 “Toda a atividade humana pode causar danos ao meio ambiente, não há ‘poluição
zero’, de forma que a ideia de natureza intocada é um mito moderno. Por outro lado, a
área em discussão sofre pressão populacional crescente, e a ocupação desordenada pode
ser ainda mais degradante ao meio ambiente. Dessa forma, não há necessidade de
paralisação das atividades, pois, no transcorrer da Ação Civil Pública, haverá meios para
que, com o auxílio de profissionais, chegue-se a uma solução menos degradadora do
meio ambiente. Essa orientação está em conformidade com a ideia de que as normas
constitucionais, nesse assunto, tem o objetivo de preservação de um mínimo de
‘ponderação ecológica’” (TRF- 4.ª Reg., Ag 16742 SC 1998.04.01.016742-3, 3.ª T., j.
20.08.1998, rel. Marga Inge Barth Tessler, DJU 02.09.1998).
3 “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.”
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
Nessa ordem de ideias, deverá sempre ser feito ‘um balanceamento de valores’, de tal
modo que o valor ecológico não se sobreponha ao valor da pessoa humana, valor-fonte
de todos os valores, como o demonstra o estudo imparcial dos fins últimos que guiam o
processo histórico.
(…)
Não há dúvida, por conseguinte, que tudo deve ser feito para preservar os valores
naturais, merecendo louvor a iniciativa de formar uma consciência pública para sua
constante defesa. Não devemos, todavia, exagerar até o ponto de nos perdermos no
‘fundamentalismo ecológico’, que acaba pondo em risco o bem-estar dos indivíduos e da
coletividade.
É preciso, antes de mais nada, repetir que não se protege a natureza apenas em si
mesma e por si mesma, mas sobretudo enquanto ela constitui o valor condicionante por
excelência da vida humana, o que quer dizer que a ecologia se subordina à antropologia,
ou seja, às exigências vitais do ser humano.
(…)
Tudo isso demonstra que novos critérios devem nortear as decisões do Ministério Público
e da Justiça, em se tratando de proteção do meio ambiente, evitando-se que elas
redundem em prejuízo para a coletividade nacional.
Não podemos esquecer que a poderosa economia, que logramos construir, importou
contínuo aproveitamento de bens naturais, à custa de outros de caráter instrumental.
Não há dúvida que em muitos casos houve abusos condenáveis, que não se devem
repetir, mas se prevalecessem as exageradas pregações de certos ambientalistas, o
Brasil teria permanecido contemplando as belezas do litoral, sem sequer dobrar as linhas
do Tratado de Tordesilhas” (REALE, 2014, destaque nosso).
Página 15
Atividade minerária e reserva legal florestal:
(…)
IV – área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a
22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris,
admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio.”
12 “Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a
título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de
Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à
área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:
I – localizado na Amazônia Legal:
13 Vale ainda citar o art. 68 do Código Florestal cujo teor determina que: “Art. 68. Os
proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação
nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela legislação em vigor à
época em que ocorreu a supressão são dispensados de promover a recomposição,
compensação ou regeneração para os percentuais exigidos nesta Lei.
§ 1.º Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais poderão provar essas situações
consolidadas por documentos tais como a descrição de fatos históricos de ocupação da
região, registros de comercialização, dados agropecuários da atividade, contratos e
documentos bancários relativos à produção, e por todos os outros meios de prova em
direito admitidos.
14 “Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo
do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I – o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso
alternativo do solo;
15 “Art. 12 (…)
§ 6.º Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto
não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
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Atividade minerária e reserva legal florestal:
§ 7.º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por
detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de
energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia
elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de
energia elétrica.
§ 8.º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com
o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.”
16 Vale ressaltar que este dispositivo está sub judice na ADIn 4.901, cujo relator é o
Min. Luiz Fux.
“Art. 87. Não se impedirá por ação judicial de quem quer que seja, o prosseguimento da
pesquisa ou lavra.”
21 Lei 6.938/1981: “Art. 2.º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes
princípios:
(…)
24 Fernando Facury Scaff ao abordar o tema expõe que: “Só se extrai minério de onde
ele “brotou”. Quem quiser extraí-lo terá que se deslocar e implantar todo um sistema
mínero-extrativo-industrial a partir daquela localidade. Este é um diferencial enorme em
face de outro tipo de indústrias que podem ser desmontadas e remontadas em qualquer
lugar do globo. Certamente os paraense hão de se lembrar de uma fábrica de cigarros,
que num piscar de olhos foi desmontada em Belém e reinstalada no Caribe” (SINDICATO
DAS INDÚSTRIAS MINERAIS DO PARÁ, 2013).
28 A favor da mineração na área de RFL ver Freire (2005), Silvestre (2007). Contra, ver
Machado (2010).
29 “Art. 24. Considera-se Reserva Legal a área localizada no interior de uma propriedade
ou posse rural, delimitada nos termos desta Lei, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a
conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e da biodiversidade, abrigar a
fauna silvestre e proteger a flora nativa.”
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