RESUMO
ABSTRACT
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Graduanda do Curso de Direito – Universidade Minas Gerais – UEMG – Diamantina/MG
1 INTRODUÇÃO
Assim, não de forma exaustiva devido à amplitude do tema posto, o presente artigo procura
demonstrar a importância deste direito, tido como essencial a construção de uma sociedade
mais justa igualitária.
Para tanto, a partir do célebre julgamento do caso Rui Barbosa e a liberdade da manifestação
do pensamento em 1919, que neste ato se presta ao referencial teórico, necessário se faz a
exposição deste direito fundamental nas constituições brasileiras, sua importância para a
democracia e o importante papel do judiciário para a sua garantia.
Nascido em Salvador-BA, no ano de 1849, Rui Barbosa de Oliveira tornou-se um dos maiores
homens da história, chegando inclusive a tornar sua vida a própria vida do Estado Brasileiro.
Com sua brilhante inteligência, tornou-se um polímata, enveredando-se na advocacia, na
política, na diplomacia, na filologia, na literatura e no jornalismo. Jurista e orador aguerrido,
lutou incansavelmente pela reforma do Estado Brasileiro, sobretudo, contra os desmandos da
ordem constituída à época.
Pois bem, na campanha eleitoral de 1919 ao qual teve sua participação como candidato da
oposição da Presidência da Republica. Proferiu diversos discursos, aos quais apontava a
situação calamitosa a qual estava inserida a sociedade e a política do Brasil. Nestes seus
discursos, elencava a corrupção política e o descaso como um entrave à modernização da
sociedade brasileira, além de denunciar a exploração a que o povo estava submetido e as
péssimas condições de trabalho e a vida nas fábricas brasileira.
Uma dessas ações ocorreu no dia 25 de março de 1919, quando a polícia local, através de
soldados a paisana, dispersou a tiros, um comício que seus correligionários pretendiam realizar
na Praça Rio Branco, a favor de sua candidatura ao cargo de Presidente da República.
Em decorrência deste fato o Dr. Artur Pinto da Rocha impetrara um Habeas Corpus
preventivo junto ao Supremo Tribunal Federal, em favor do senador Rui Barbosa e de seus
correligionários, no sentido de manter o seu direito de reunião e livre manifestação do
pensamento, no que foi unanimemente concedida à segurança, sob a orientação da seguinte
ementa:
Dessa maneira, é correto dizer que, conexos e intrínsecos à liberdade de expressão, encontram-
se também outros direitos, como o direito de informar e de ser informado, o direito de
resposta, o direito de réplica política, a liberdade de reunião, a liberdade religiosa etc. Por
conseguinte, a concepção de liberdade de expressão deve ser a mais ampla possível, desde que
resguardada a operacionalidade do direito.
Outorgada pelo imperador Dom Pedro I, sob a influência das Constituições Francesa e
Espanhola, a Constituição do Império de 1824, em seu art. 179, IV, assegurava a livre
manifestação do pensamento por qualquer meio e sem censura:
4.2 Da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1934 à Constituição dos Estados
Unidos do Brasil de 1937.
Observa-se, que o texto se mantém na mesma linha do anterior, apenas acrescentando alguns
direitos, como o de resposta e a não necessidade de licença para publicação de livros e
periódicos.
Todo cidadão tem o direito de manifestar o seu pensamento, oral- mente, ou por escrito,
impresso ou por imagens, mediante as condições e nos limites prescritos em lei.
A lei pode prescrever:
a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura pré- via da imprensa, do
teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a
difusão ou a representação;
b) medidas para impedir as manifestações contrárias à moralidade pú- blica e aos bons
costumes, assim como as especialmente destinadas à proteção da infância e da juventude;
c) providências destinadas à proteção do interesse público, bem-estar do povo e segurança
do Estado. Grifei (BRASIL, 1937).
Todavia, este período marcado pela censura, subsistiu até o ano de 1946, quando que, com a
nova Constituição fez ressurgir toda a garantia da Constituição de 34 e suprimida pela de
1937.
Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes:
§ 5º - É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censu- ra, salvo quanto a
espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar
pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A
publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém,
tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subver- ter a ordem política e social, ou
de preconceitos de raça ou de classe.
§ 7º - É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As
associações religiosas adquirirão per- sonalidade jurídica na forma da lei civil.
§ 8º - Por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, ninguém será privado de
nenhum dos seus direitos, salvo se a invocar para se eximir de obrigação, encargo ou serviço
impostos pela lei aos brasileiros em geral, ou recusar os que ela estabelecer em substituição
daqueles deveres, a fim de atender escusa de consciência.
Art. 173 - As ciências, as letras e as artes são livres. (BRASIL, 1946)
No entanto, logo revogada pelo golpe de 1964, sobretudo pelos chamados Atos Institucionais,
que extinguiram os Partidos Políticos existentes, e concederam ao Chefe do Executivo o poder
de cassar mandatos e direitos políticos.
Sob a égide deste novo poder imposto, diga-se o poder dos militares, novos Atos institucionais
foram impostos, a exemplo do AI-5, que representou à época o ápice do controle ditatorial,
manteve, pelo menos no papel, as mesmas garantias aplicadas na Constituição de 1946, no
entanto, é cediço que na prática, este período representou a era negra do ordenamento jurídico
brasileiro, isto porque, os poderes outorgados ao Chefe do Executivo, concedia a ele intervir
nos Estados e Municípios sem quaisquer restrições, suspendendo direitos políticos, caçando
mandatos eletivos, inclusive suspender as garantias dos habeas corpus em casos de crimes
políticos e contra a segurança nacional.
Para tanto, basta um giro pela história para se perceber o quanto a democracia tomou novas
formas no decurso da historia da humanidade, ou seja, o que na Grécia era uma prerrogativa
apenas dos homens livres e iguais, nos dias de hoje, busca-se, ao máximo, atingir a todos os
homens, isto porque parte-se do pressuposto de que todos são livres e iguais. E ai está o cerne
da democracia, qual seja a liberdade e a igualdade.
Já dizia Aristóteles "Se a liberdade e a igualdade são essenciais à democracia só podem existir
em sua plenitude se todos os cidadãos gozarem da mais perfeita igualdade política."
(ARISTOTELES, 2002, p. 45)
Lado outro, Willian Kerby, citado por Kildare Gonçalves de Carvalho, vai dizer que a
democracia está atrelada à forma de vida do homem social e só em seguida à política em que
está inserido.
Ou seja, “mais do que uma forma de governo, é um modo de viver associados, de conjunta
experiência comunicada”. (CARVALHO, 2004, p. 127)
Observa-se, que, entre uma corrente e outra, algo que se é inegável é que a democracia se faz
no espírito de liberdade. A propósito, o fundamento da constituição democrática é a liberdade.
Nesse diapasão, a democracia foi proclamada como um dos direitos universais e fundamentais
do homem, baseado, como dito, na liberdade e na igualdade.
A propósito, liberdade, outro conceito amplo e com uma definição complexa, pode assim ser
definida, nas palavras de De Placido e Silva:
No conceito jurídico, a faculdade ou o poder outorgado à pessoa para que possa agir
segundo sua própria determinação, respeitadas, no entanto, as regras legais
instituídas (...), pois, exprime a faculdade de se fazer ou não fazer o que se quer, de
pensar como se entende, de ir e vir a qualquer atividade, tudo conforme a livre
determinação da pessoa, quando não haja regra proibitiva para a prática do ato ou
não se institua princípio restritivo ao exercício da atividade. (SILVA, 2014, p.1284)
Registra-se, através de uma simples inferência, que a liberdade se dá nas mais variadas
atuações do homem cidadão, político. Ela se externa no direito de ir e vir, no agir consciente,
no fazer e não fazer, no pensar e etc., por isto considerado um direito fundamental.
Isto porque, faz parte da natureza do ser humano a comunicação com seus semelhantes, como
forma de sociabilidade, ou seja, nada mais normal que as pessoas exponham suas ideias em
rodas de amigos, ou mesmo em assuntos profissionais, etc. Quando a pessoa expressa os seus
pensamentos está, na verdade, mencionando suas opiniões, convicções sobre qualquer assunto,
seja este assunto de importância ou de valor, ou sem nenhum valor relevante. Trata-se, pois,
da liberdade de expressão do pensamento, que, na verdade nada mais é do que um juízo de
valor,um externar de uma reflexão interna de quem está pensando. E nada mais democrático
são as opiniões contrarias.
Sem imprensa livre, o Poder Judiciário e o Estado não funcionam bem (...).
Assegurar a liberdade de expressão é requisito para a garantia das demais liberdades
fundamentais. Isto, pois, quem não tem direito à liberdade de expressão não tem
garantia de qualquer outro direito porque a palavra é a expressão da alma, do
pensamento. (CNJ, 2018)
A possibilidade de pensar livremente está contida em todas as pessoas que gozam de saúde
mental e possuem o mínimo de discernimento, portanto cabe a cada pessoa controlar aquilo
que pretende exteriorizar, visto que mesmo gozando de liberdade não está imune às suas
consequências.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...)
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem; (...)
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação. (grifo nosso). (BRASIL, 1988)
No entanto, nota-se, que, como se trata de uma responsabilidade pelo dano causado, ela deve
ser sempre avaliada posteriormente a externação do direito, e nunca antes, sob pena de
censura. É o que defende Sergio Gardenghi Suiama e Luis Gustavo Grandinetti de Carvalho,
citados por Camila Cardoso de Andrade.
Não pode o Estado impedir uma informação ou idéia de circular, ainda que essa
informação ou idéia afronte direitos fundamentais. A pessoa ou órgão que, no
exercício de seu direito de expressão ou informação, violar direitos de terceiros
deverá responder civil, penal e mesmo administrativamente pelo abuso, nos termos
da legislação infraconstitucional em vigor. A indenização expressamente prevista no
art. 5o, V e X, da Constituição terá nessa hipótese uma dupla função: a satisfação
material e moral do ofendido e a punição do infrator pelo fato de haver ofendido um
bem jurídico da vítima. (SUIAMA apud ANDRADE, 2017)
Qualquer restrição deve ser determinada por ordem judicial, mediante o devido
processo legal. E, mesmo o Poder Judiciário só deve impor qualquer restrição à
liberdade de expressão quando for imprescindível para salvaguardar outros direitos
que não possam ser protegidos ou compostos de outro modo menos gravoso.
Especialmente, a concessão de liminares só deve ocorrer em casos muitíssimos
excepcionais. Na maioria das vezes, o direito invocado pode ser perfeitamente
composto com a indenização por dano moral, o que é melhor solução do que impedir
a livre expressão. (CARVALHO apud ANDRADE, 2017)
E a definição destas consequências cabe ao Poder Judiciário definir. Essas foram as palavras
do excelentíssimo senhor ministro do STF, Celso de Mello, no voto da ADPF 130/DF, que
julgou a incompatibilidade da Lei de imprensa com a Constituição Federal.
Disse o ministro:
Nota-se, que o direito a liberdade de pensamento e expressão no todo, goza de uma liberdade
essencial à democracia, que só encontra limites nos próprios direitos fundamentais, sobretudo
no tocante ao direito à honra, à intimidade e a imagem. E a essas consequências ou
previsibilidades cabe apenas ao Judiciário decidir sobre qual o direito a ser aplicado no caso
concreto, conforme prevê a Constituição Federal, em seu art. 5º inciso XXXV, que dispõe “a
lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” E ainda assim,
embasado na proporcionalidade, advertiu Faúndes Lederna, citado por Maxwell:
Nesse sentido, o Judiciário assume um papel de suma importância na tênue linha que separa a
liberdade que exige esse direito fundamental das consequências por ele atribuída à outros
direitos fundamentais não menos importantes.
7 CONCLUSÃO
Possível ainda é vislumbrar que mesmo gozando de liberdade, o dito direito fundamental a
liberdade de pensamento e expressão encontram seus limites nos próprios direitos
fundamentais, no sentido de garantir que o seu exercício não seja abusivo e atinja outros
direitos e valores consagrados constitucionalmente. E por último o importante papel do
Judiciário no controle da garantia entre a efetividade do direito fundamental aplicado como
um todo, o que justificou a súplica de Rui Barbosa na impetração do Habeas Corpus
objetivando o seu direito de pensamento e reunião.
REFERÊNCIAS
ARISTOTELES. A política. Traduzido por Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes,
2002.
SILVEIRA, Paulo Fernando. Freios e Contrapesos: Checks and Balances. Belo Horizonte:
Del Rey, 1999.