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Impresso

Especial
9912211301/2008 - DR/RS
Conselho Regional de
Psicologia 7ª Região
CORREIOS

Ano XIII
Número 62
Abr | Mai | Jun 2013

Enfrentamento de A situação vivenciada em Santa Maria, com o incêndio da boate


Kiss, levou-nos ao questionamento: de que forma a Psicologia está

Crises em situações preparada para enfrentar questões emergentes como essa?


Nesta edição do EntreLinhas, abordamos o tema das emergências e

de Emergências desastres no contexto das práticas e intervenções, com depoimentos


e relatos de experiências vivenciadas por diferentes profissionais.

e Desastres
editorial
Nos últimos anos, além de eventos de crises
gerados em função da ação direta da humanidade, Publicação trimestral do
vivenciamos uma crescente ocorrência de pro- Conselho Regional de
blemas climáticos ocasionados pela ação indireta Psicologia do Rio Grande do Sul
do humano. No Brasil, convivemos com os efeitos
das chuvas e da estiagem e as crises em decor- Presidente: Loiva dos Santos Leite
Vice-Presidente: Adolfo Pizzinato
rência dos modos como construímos e utilizamos
Tesoureira: Tatiana Cardoso Baierle
os recursos cotidianos, como desmoronamentos Secretária: Roberta Fin Motta
de prédios, abertura de crateras em vias públicas,
incêndios em espaços de circulação pública. Pre- Conselheiros efetivos
cisamos estar preparados para agir em conjunto • Vera Lúcia Pasini • Loiva dos Santos Leite• Vânia Roseli
com o Estado e com a sociedade civil organizada a Correa de Mello • Dirce Terezinha Tatsch • Maria de Fá-
tima B. Fischer • Alexandra Maria Campelo Ximendes •
partir da perspectiva de que esses não são eventos
Adolfo Pizzinato • Luciana Knijnik • Melissa Rios Classen
naturais, mas são acontecimentos sociais que en- • Roberta Fin Motta • Tatiana Baierle • Rosa Veronese •
trecruzam a dinâmica e a estrutura da sociedade. Lutiane de Lara
Refletir sobre situações de emergências e de-
sastres e construir referências de atuação das(os) Conselheiros suplentes
• Sinara Cristiane Três • Leda Rubia C. Maurina • Pedro
psicólogas(os) no enfrentamento de crises cons-
José Pacheco • Deise Rosa Ortiz • Nelson Eduardo E. Ri-
tituem-se desafios. Conforme material produzido vero • Rafael Volski de Oliveira • Vânia Fortes de Oliveira
pelo Conselho Federal de Psicologia, durante o • Bianca Sordi Stock
II Seminário Nacional de Psicologia em Emer-
gências e Desastres realizado em 2011, o primei- Comissão Editorial: Loiva dos Santos Leite, Lutiane de
ro passo nesse sentido é definir norteadores da Lara, Melissa Rios Classen, Vera Lucia Pasini.

ação, como a promoção do protagonismo dos afe-


Jornalista Responsável: Aline Victorino – Mtb 11602
tados, por meio do incentivo à organização social Estagiária de Jornalismo: Audrey Barbosa
e política, com redução das vulnerabilidades so- Redação: Aline Victorino
ciais; o respeito às singularidades das comunida- Relações Públicas:
des e suas formas tradicionais de sobrevivência; Belisa Zoehler Giorgis / CONRERP/4–3007
Nádia Miola /CONRERP/4–3008
a criação de redes articuladas de cuidados, que
Eventos: Adriana Burmann
contemplem saberes e atores sociais. Além disso, Comentários e sugestões: imprensa@crprs.org.br
a ação da Psicologia deve primar pela observân-
cia dos princípios éticos da profissão e das boas Endereços CRPRS:
práticas profissionais, sendo sempre acompanha- Sede: Av. Protásio Alves, 2854/301 – Porto Alegre
da de um posicionamento crítico sobre a conjun- CEP: 90410-006 – Fone/Fax: (51) 3334-6799
crprs@crprs.org.br
tura e sobre as políticas públicas.
Subsede Serra: Rua Moreira Cesar, 2712/33 – Caxias do Sul
Uma das atuações possíveis da Psicologia CEP: 95034-000 – Fone/Fax: (54) 3223-7848
nesse processo está no levantamento da deman- caxias@crprs.org.br
da e na atuação em espaços de gestão para a Subsede Sul: Rua Félix da Cunha, 772/304 – Pelotas
preparação do Estado, em seus diferentes níveis, CEP: 96010-000 – Fone/Fax: (53) 3227-4197
pelotas@crprs.org.br
e construção de políticas públicas para o enfren-
Subsede Centro-Oeste: Rua Marechal Floriano Peixoto,
tamento de crises. Ou seja, precisamos agir pre- 1709/401 – Santa Maria
ventivamente para evitar ou minimizar os efeitos CEP: 97015-373 – Fone/Fax: (55) 3219-5299
de situações causadas pela ação direta e indireta santamaria@crprs.org.br
do humano. Há também a necessidade de cria-
ção de Planos de Enfrentamentos de Crises que Projeto Gráfico e Diagramação:
Tavane Reichert Machado
organizem e melhor direcionem os recursos pú-
Ilustrações: Estúdio Figuras
blicos na prevenção e na atuação em situações de Impressão: Calábria
emergências. A Psicologia pode atuar ainda no Tiragem: 18.000 exemplares
fortalecimento do controle social para fiscalizar a Distribuição gratuita
criação dessas políticas.
Nesta edição do EntreLinhas, o CRPRS aborda
Cadastre-se no site
a temática do enfrentamento de crises para cha- para receber
mar a atenção das(os) psicólogas(os) à recente a newsletter
experiência de atuação em Santa Maria e alertar www.crprs.org.br
a categoria para a necessidade de preparar-se
para essas situações, seja enquanto sociedade ou

2
como categoria profissional.
índice
Matérias de capa 18 CREPOP
Emergência e desastre sob qual
04 a 17 Enfrentamento de crises ponto de vista nos mobilizam?
19 Orientação
Psicologia e Voluntariado
A atuação do psicólogo em
situações de desastres: 20 Subsedes
algumas considerações
21 Comunicados
baseadas em experiências
de intervenção 22 VIII CNP
Débora da Silva Noal, Letícia Nolasco Vicente,
Ana Cecília Andrade de Moraes Weintraub e 23 Dica Cultural
Felícia Knobloch
24 Agenda
Psicologia nas emergências:
o preparo profissional
para o enfrentamento de Agradecimento especial
grandes crises O CRPRS agradece a dedicação de todos os(as)
Mariana Esteves Paranhos
psicólogos(as) e estudantes de Psicologia que atu-
aram em Santa Maria, em virtude do incêndio da
Fazendo a gestão no olho do boate Kiss, e destaca o empenho das conselhei-
ras Roberta Fin Motta e Vânia Fortes de Oliveira, e
furacão dos(as) colaboradores(as) da Subsede Centro-Oes-
Károl Veiga Cabral e Ana Carolina Rios Simoni te, Adriane Rubio Roso, Aline Bäumer, Aline Estivalet
de Christo, André Luis Loro Reppetto, Bruna Laudis-
si Gil, Bruna Osório, Cristiane Holzschuh Gonçalves,
Encontros singulares Francine Nascimento, Gabriela Weber Itaquy, Gra-
Maria Carolina Pinheiro Meirelles ziela Negrini, Mauren de Vargas Minato, Moisés Ro-
manini, Verônica Bem dos Santos e Ramiro Bürguer
Schönardie, que também contribuíram na produção
No caminho havia desta edição do jornal EntreLinhas.
um desastre... e uma
emergência...
Nelson Rivero CRPRS inicia inserção oficial
nas mídias sociais
Relato da Associação
Brasileira de Psicologia nas O CRPRS agora possui uma inserção oficial nas
mídias sociais. O perfil no Twitter (@crprs), a pági-
Emergências e Desastres na no Facebook(/conselhopsicologiars) e o canal
Rosana Dorio Bohrer no You Tube (crprs) foram estruturados de forma a
gerar novos canais de comunicação com os psicó-
logos e com a sociedade.
São Lourenço do Sul e suas Curta e siga o CRPRS para manter-se atualiza-
ações e experiências a partir do sobre a atuação do Conselho e obter informa-
da enxurrada de 2011 ções importantes sobre a profissão.
Graziela de Araújo Vasques e Darci Gehling Júnior
Facebook:
www.facebook.com/conselhopsicologiars
A Mobilização da categoria
profissional em Santa Maria Twitter:
http://twitter.com/crprs

You Tube
www.youtube.com/crprs

3
A atuação do psicólogo em situações
enfrentamento de crises

de desastres: algumas considerações


baseadas em experiências de intervenção
Débora da Silva Noal¹, Letícia Nolasco Vicente²,
Ana Cecília Andrade de Moraes Weintraub³ e Felícia Knobloch4

P
artindo de diversas experiências de inter- Em qualquer um dos continentes, registramos
venções nessas situações – tanto no Brasil a presença de desastre natural (inundações, terre-
quanto no exterior, a maioria delas com a or- motos) e/ou humano (conflitos armados, guerras)
ganização humanitária internacional Médicos Sem em diferentes intensidades e magnitudes. Os de-
Fronteiras – e também de nossa experiência clínica sastres alteram, comprometem e interferem nos
de atendimento a situações de crise, pretendemos processos de desenvolvimento humano, podendo
contribuir com o crescente debate no Brasil sobre afetar de diferentes formas a saúde, a infraestru-
os contornos do trabalho do profissional de psico- tura, as crenças e perspectivas de vida. Desastres
logia nas situações de emergências e desastres. são, assim, interrupções graves do funcionamento
Situações de desastres e catástrofes naturais cotidiano de uma comunidade que acarretam per-
e/ou humanas têm sido uma das mais frequentes das humanas/materiais/econômicas/ambientais
temáticas na área da saúde em geral e na mental, que excedem a capacidade da sociedade afetada
em particular, nos últimos anos. O debate sobre fazer frente à situação, por meio de seus próprios
como desenvolver procedimentos e estratégias recursos. As catástrofes são acontecimentos de
específicas enquanto profissionais de saúde men- maior magnitude, em geral afetando áreas maio-
tal pós-desastres encontra-se aberto, por diversas res, maior número de pessoas. Causam um grande
razões, a saber: as sobreposições recorrentes en- número de vítimas, provocam destruição material
tre o que é nomeado como “desastre”, ou “emer- significativa e desorganização social pela destrui-
gência”, ou “acidente”, ou “crise”; a reflexão ção ou alteração das redes funcionais.
ainda incipiente sobre a especificidade da pro- Apenas na última década, os desastres natu-
dução de cuidados nessas situações; a tentadora rais (como as inundações da região Serrana do
sedução de adotar uma postura compassional e Rio de Janeiro\2011) passaram a ser alvo de in-
assistencialista; e ainda mais as dificuldades de teresses acadêmicos, governamentais e/ou de
se enfrentar o desafio da atuação em rede neste organismos internacionais vinculados à saúde
contexto, não apenas na área da saúde, mas tam- mental. Os desastres explicitam uma problemá-
bém nas articulações com a assistência social, a tica multifacetada, fazendo-nos supor que os de-
educação, a Defesa Civil, entre outros. sastres naturais apenas potencializam desastres

4
humanos de proporções pouco dimensionadas o beneficiário geralmente não encontrará um su-

enfrentamento de crises
em um contexto de rotina e são, assim, potencial- porte sistemático de oferta.
mente muito mais danosos nas regiões que já tem O psicólogo pode e deve colaborar com as
dificuldades de verem suas demandas atendidas. ações de prevenção e avaliação da atuação das
Em meio à contextualização da ação de saú- entidades (governos, ONGs, grupos) em situações
de mental em desastres e também da problema- de emergência. A emergência exige rapidez de
tização dos diferentes campos que a atravessam, atuação e de resposta, portanto não é o melhor
elencamos brevemente, os principais pontos es- momento para ser desencadeado um princípio de
truturais na conformação de uma intervenção em aprendizado: é importante que este tenha ocorrido
saúde mental num contexto de desastre no Brasil, em momento anterior ao desastre, como forma de
de acordo com nossa compreensão e experiência. preparação, e deve incluir a reflexão sobre a saúde
Um ponto importante é estruturar a estraté- mental e seus mecanismos de intervenção.
gia de intervenção de forma contextualizada e, Em situação de desastres, grande parte da po-
especialmente no Brasil, articulada com os me- pulação atingida padecerá de sofrimento intenso,
canismos locais (públicos, essencialmente, mas mas encontrará conforto e apoio em suas estra-
também de organizações civis) de manejo da cri- tégias comunitárias e cotidianas. Em seguida, ha-
se. Isso significa que a ação do psicólogo, inde- verá os casos que poderão ser beneficiados com
pendentemente de onde ela parta, precisa estar projetos terapêuticos singulares, articulados pelo
articulada e inserida em uma proposta – que deve psicólogo e, em muito menor volume, aparecerão
ser criada junto a autoridades locais competentes os casos que necessitarão de uma escuta especia-
– mais ampla de ação na urgência. lizada e, até mesmo, de uma intervenção farmaco-
É de suma relevância que o/a profissional não lógica. Vale ressaltar que, em geral, são aqueles já
aja sozinho, tampouco desconheça a estratégia mais vulneráveis – como os pacientes psiquiátri-
a priori determinada nos níveis social, de saú- cos, os moradores de rua, os desassistidos crôni-
de e educação local, para mitigar a crise gerada cos – que mais sofrem e que são menos percebi-
pelo desastre. Em outros termos, em situações dos pelas ações humanitárias de contenção.
de emergência as necessidades básicas de qual- Dessa forma – levando em conta o contexto,
quer pessoa – comida, água, abrigo, um mínimo as redes já existentes, as redes colocadas em prá-
de conforto físico e emocional – devem estar su- tica para atuar no desastre e uma compreensão
pridas em primeira instância; essas são também do trabalho do psicólogo como muito mais pró-
ações de saúde mental, ainda que não desempe- ximo de uma ação institucional e ampliada do
nhadas por psicólogos. que individualizada – acreditamos ser possível ao
Em segundo lugar, a intervenção deve ter profissional dessa área trabalhar para lidar com
como um de seus pilares fundamentais as pro- o sofrimento dos dramas coletivos, das histórias
postas de elaboração dos sofrimentos (coleti- individuais, e promover a saúde de pessoas afeta-
vos e individuais) gerados pela situação (não das por desastres.
necessariamente realizada só pelo psicólogo) e
¹ Psicóloga, Residente e Especialista em Saúde Coletiva pela
também a construção da autonomia (das comu-
Universidade Federal de Sergipe, Mestranda em Processos
nidades, grupos de pessoas e autoridades en- do Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de
volvidos) frente ao que aconteceu bem como à Brasília. Desde 2008 trabalha como psicóloga e coordenadora de
possibilidade de novas crises. emergências em situações de desastres naturais e humanos pela
O papel do profissional da saúde mental é o organização internacional Médicos Sem Fronteiras, em países
de escutar as demandas, conhecer o local para como Haiti, Guiné, República Democrática do Congo,Tunísia\
Líbia, Quirguistão, Republica Dominicana e Brasil.
mapear a oferta de serviços, articular e pensar
formas de sustentabilidade dessas ações, levan- ² Psicóloga, trabalha com a organização internacional Médicos
do sempre em consideração os fatores já men- Sem Fronteiras desde 2009 com experiência em situações de
cionados da presença – lógica e esperada – do desastres em Alagoas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Atua
desespero, da tristeza, da dor e do luto. Não cabe também como psicóloga clínica.
ao psicólogo o papel de substituto do serviço de
³ Psicóloga, Mestre em Saúde Publica pela Universidade de São
saúde existente – especialmente levando-se em Paulo, trabalhou com a organização internacional Médicos Sem
conta os psicólogos voluntários e/ou membros de Fronteiras de 2006 a 2012. Atualmente integra a equipe de um
organizações não governamentais que se apre- Centro de Atenção Psicossocial na cidade de São Paulo.
sentam a agir nessas situações – pois esta ação
termina apenas por ‘beneficiar’ ao psicólogo ele 4 Psicanalista; professora e supervisora da PUCSP, doutora em
Psicologia Clínica pela PUCSP; especialista em Bioética pela
próprio, e não à comunidade atingida, uma vez
USP; pós doutoranda e pesquisadora do Coletivo Paidéia da
que ao término da intervenção deste voluntário, Pós Graduação em Saúde Coletiva UNICAMP.

5
Psicologia nas emergências:
enfrentamento de crises

o preparo profissional para o


enfrentamento de grandes crises
Mariana Esteves Paranhos¹

A
Psicologia no cenário de emergên- to na própria cidade de Santa Maria como
cia e desastres não é uma novidade em Porto Alegre, no Centro de Hospitalida-
no Brasil. Muitos são os psicólogos de, destinado a acolhida dos familiares que
que vem desempenhando um papel exem- acompanhavam seus parentes deslocados
plar na atuação de grandes acontecimentos para os hospitais da capital. Tais capacita-
de causas naturais ou antrópicas, traba- ções tiveram, de forma geral, uma aproxi-
lhando na acolhida dos sujeitos e recons- mação com protocolos de atuação interna-
trução de suas identidades e comunidades. cionalmente reconhecidos, como forma de
No entanto, a evidência da importância do munir os profissionais de ferramentas para
trabalho realizado em situações tão devas- lidar com reações normais e esperadas
tadoras ficou nacionalmente conhecida a diante de situação anormais como a que se
partir do incêndio ocorrido em uma boate vivia no momento.
na cidade de Santa Maria, onde centenas No entanto parece pertinente que dian-
de jovens perderam suas vidas. Em meio te de tudo que se viveu naqueles dias, pos-
a um evento tão triste e impactante para samos fazer uma reflexão mais apurada
toda a sociedade, a Psicologia marca sua sobre quais aspectos devem compor uma
presença como uma disciplina a mais que capacitação integral dos profissionais da
pode agregar valor positivo à resposta em Psicologia que pretendem ou que sejam
situações de crises e desastres. impelidos ao trabalho com essa temática.
Desta forma, frente a todos os esforços Como bem afirma Gironella (2005), quando
de auxílio às vítimas e familiares desta tra- um novo campo de atuação é revelado, mui-
gédia, foi pensada uma série de capacita- tas expectativas surgem, porém, frequente-
ções breves para todos os psicólogos que mente, a falta de referenciais prévios e/ou
compuseram o quadro de voluntários, tan- ausência de modelos pode levar a grandes
enganos. Neste sentido, nada mais propí-
cio que se faça uso deste período de
abonança para o aprendizado,
preparando-se assim para
os momentos de maior tur-
bulência que, infelizmen-
te, chegarão.
Sendo assim, fazen-
do uma tentativa de refe-
renciar as bases de uma
formação ou capacitação
para o trabalho de ajuda
humanitária em eventos
críticos em massa, o primei-
ro ponto a ser considerado é
o conhecimento dos métodos
de assistência psicossocial
que, conforme diretrizes da
Organização Pan-Americana de

6
Saúde e a Organização Mundial da Saúde ba- para situações críticas. A necessidade de

enfrentamento de crises
seiam-se nos chamados Primeiros Auxílios conhecimento de suas próprias emoções, li-
Psicológicos (Psychology First Aid). Apesar mites e as implicações da atividade intensa
do nome, trata-se de um protocolo que abar- de empatizar com a dor e o sofrimento do
ca a esfera social também, não sendo assim outro em meio a cenários devastadores, é
uma atuação exclusiva de profissionais de talvez o tópico mais importante de qualquer
saúde mental (OPAS, 2010; WHO, 2011). A preparação profissional, para evitar que, ao
partir disso, acrescentam-se justamente os invés de produzirmos ajuda, multipliquemos
fundamentos teóricos que norteiam esse mais afetados. Não há trabalho de cuidado
tipo de protocolo, como o conceito de crise, com o próximo se não há um trabalho de
principais consequências e necessidades cuidado com os profissionais, ou qualquer
em termos de saúde mental individual e co- pessoa que se proponha a esta tarefa. Como
munitária nestes contextos e a adequação dissemina a psicóloga argentina e parceira
em termos de desenvolvimento humano e no trabalho com emergências, Alicia Gal-
de cultura a que se aplica. faso, trata-se de evitar que “aquilo que nos
Um segundo ponto, lembrado também apaixona não nos enferme”!
por Gironella (2005), abarca o lado operati- Vale a ressalva ainda que os tópicos aqui
vo do cenário. O trabalho em emergências apresentados são mínimos, devendo sempre
pressupõe a atuação em equipe, devendo o ser considerado o contexto geral em que a
profissional ter a capacidade de comparti- crise se instaura, para assim ocorrer a ava-
lhamento de informações e de ajuda mútua. liação das reais necessidades dos indivíduos
Deve ainda ter consciência que estará subor- atingidos e o que a Psicologia pode oferecer.
dinado a uma instituição e/ou organização Tampouco se pretende criar uma área exclu-
maior, geralmente ligada a órgãos governa- siva para alguns psicólogos, mas que esses,
mentais, sendo, portanto, imprescindível o frente à necessidade de atuação em meio a
conhecimento do funcionamento operante crises e emergências, possam se posicionar
da emergência no que concerne a hierarquia da melhor forma, prestando um serviço que
e organização das áreas de assistência, bem agrega qualidade e diferencial positivo para
como onde e de que forma sua atividade en- quem dele se serve, protegendo ainda seu
trará na engrenagem de resposta montada próprio bem-estar psicológico.
para o evento. Frente a essas considerações,
é interessante ainda que, em se tratando de
ocasiões marcadas pela imprevisibilidade
dos acontecimentos, um conhecimento bá-
sico de primeiros socorros, e dos próprios ¹ Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Univer-
protocolos de triagem utilizados, pode ser de sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Especialista em
grande valia diante de quadros físicos que Counseling e Intervenção em Urgências, Emergências e Catás-
trofes pela Universidade de Málaga (UMA - Espanha), Douto-
podem se apresentar em meio ao acompa- randa em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do
nhamento das pessoas afetadas, como tam- Rio Grande do Sul (PUCRS). Diretora da Associação Brasileira de
bém auxiliam o profissional a salvaguardar Psicologia nas Emergências e Desastres (ABRAPEDE). Psicóloga
do Hospital São Lucas da PUCRS. Sócia da Âncora Consultoria
seu papel.
Psicológica em Crises e Emergências.
Por fim, e talvez um dos aspectos mais
primordiais, é o conhecimento de cuida- Referências Bibliográficas
dos consigo. Entende-se que trabalhadores Gironella, F. L. i (2005). El rol del psicólogo emergencista. Cuader-
nos de Crisis, 4(1), 10-18. Recuperado em 13 abr. 2013, da Cuader-
de resgate e profissionais de primeira ou
nos de crisis: http://www.cuadernosdecrisis.com/numeros.php.
segunda resposta, como é o caso de psicó-
logos, encontram-se no terceiro grupo de Organización Panamericana de la Salud/Organización Mundial
risco, atrás apenas dos envolvidos diretos, de la Salud. (2010). Apoyo psicosocial en emergencias humani-
tarias y desastres. Washington: Organización Panamericana de
familiares e amigos. Assim, espaços para a la Salud/Organización Mundial de la Salud.
descarga emocional e técnicas adequadas
para a vazão de emoções negativas são pos- World Health Organization (2011). Psychological first aid: guide
for field workers. Washington: World Health Organization.
sibilidades de incrementar a capacitação

7
Fazendo a gestão no olho do furacão­1
enfrentamento de crises

Károl Veiga Cabral2 e Ana Carolina Rios Simoni3

N
o dia 27 de janeiro, fomos todos, cedo ou saúde, cabia acompanhar a trajetória igualmente
tarde, despertados pela notícia do incên- inconcebível dessas pessoas.
dio na boate Kiss. Imediatamente, fomos Vários profissionais que ali trabalhavam eram
a Santa Maria e lá nos deparamos com ginásios de habitantes de Santa Maria e tinham envolvimen-
esportes que abrigavam vítimas fatais, familiares, to direto com alguma das vítimas e suas famílias.
amigos, profissionais da saúde, segurança, gestão Como ofertar cuidado nesta situação? Nossa en-
estadual, municipal, federal, mídia, voluntários, trada, como gestão da política de saúde mental do
entre outros que deambulavam por ali sem rumo estado, objetivava apoiar esses guerreiros locais,
certo. Havia uma espécie de caos organizado: es- que se encontravam ali desde o início da madru-
paço de inscrição de voluntários, outro para fami- gada. Tratávamos de garantir que pudessem res-
liares e amigos aguardarem o chamado feito por pirar, encontrar o fôlego e o tempo necessários
microfone para reconhecer as vítimas já identifi- para compartilharmos as decisões e a realização
cadas pela perícia, uma área destinada à regulari- das ações. Apoiamos os procedimentos já estru-
zação do óbito e outra para a preparação dos cor- turados, assumindo a função de receber os gru-
pos e atos relativos ao funeral. Após passarem por pos de profissionais voluntários que chegavam e
este circuito impensável, as vítimas fatais eram pactuar com os mesmos as coordenadas mínimas
encaminhadas às cidades de origem, às capelas de orientação naquele território repleto de inten-
dos cemitérios locais ou eram veladas em um dos sidades. Era preciso acolher sem invadir, ofertar
ginásios. Nessa estrutura (de território atingido cuidado sem calar a dor, acompanhar reconhe-
por guerra) havia duas ambulâncias da SAMU, cendo o vazio e a solidão da perda. Assumimos
um ambulatório de saúde improvisado e equipes ainda o papel de controle da mídia em sua rela-
multidisciplinares de primeiros socorros psicos- ção com os familiares e amigos das vítimas, deli-
sociais. Aos familiares e amigos, cabia a espera mitando uma área para posicionarem seus equi-
em arquibancadas. A nós, atores do cuidado em pamentos e orientando que agissem com ética.

8
Em meio aos desbordes da dor, à enxurrada de Regional de Saúde realizou o mapeamento das

enfrentamento de crises
voluntários e aos excessos de luzes midiáticas, se famílias e vítimas oriundas de outros municípios
destacava a solidariedade de muitos anônimos do estado para orientar a gestão de casos de alta
que espalharam cartazes pelo local, oferecendo hospitalar e o acompanhamento das famílias e ví-
suas casas para um banho, um tempo de repouso, timas em seu retorno aos municípios de origem.
uma refeição, uma noite de sono. Outros distribu- A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre
íam comida, água, chá e afeto a todos nós. Nessa assumiu um importante papel nesse processo,
noite fria e triste, todos e cada um tiveram um pa- através da criação do Centro de Hospitalidade
pel fundamental para atravessá-la. para acompanhar os familiares e os pacientes nos
Em parceria com a gestão do município, ainda hospitais da capital. Desde o lugar de gestores de
na madrugada, realizamos a primeira reunião com saúde mental do estado, fomos construindo uma
os atores do cuidado, na qual se fizeram combina- transição junto à gestão municipal de Santa Maria
ções para o seguimento do trabalho. Abrimos um à gestão regional e seus trabalhadores: da coges-
local para acolhimento psicossocial 24 horas fora tão do processo emergencial de atenção em saú-
do espaço do ginásio. Organizamos o trabalho da de ao apoio para a qualificação da rede.
atenção psicossocial em oito frentes: núcleo de O trabalho persiste no passo que a experi-
gestão, equipe de acolhimento 24h, equipe de ência pede. Após três meses do olho do furacão
regulação em saúde mental, apoio aos familiares e muitas idas e vindas de Santa Maria, algumas
nos hospitais, apoio às UPAs e SAMU, equipe de trajetórias começam a ganhar contornos, a se tor-
cuidado aos cuidadores, equipe de atenção psi- nar pensáveis, tangíveis. Uma situação de crise
cossocial com foco na atenção básica, apoio psi- convoca o gestor público de saúde a situar-se ali
cossocial em ritos de despedida. Uma vez que onde a dor grita, ofega por acolhida e exige ações
entre os voluntários havia uma heterogeneidade resolutivas. Ali onde é imperiosa a firmeza no tra-
nos modos de trabalhar, fez-se necessário pactuar to com as entradas oportunistas dos que fazem
formas de cuidado coerentes com o Sistema Úni- parte do mercado da tragédia: especialistas de
co de Saúde e com a Política Nacional de Saúde plantão, laboratórios farmacêuticos sedentos do
Mental. No SUS, visa-se à integralidade do cuida- lucro a todo custo, mídia sensacionalista, etc. Ali
do, o que implica legitimar os saberes e estraté- onde urge cuidar de pessoas, de famílias, de uma
gias singulares das pessoas no trato de suas dores cidade. Onde é imprescindível criar enlaces com
e no engenho de seus alívios e não patologizar o a vida, ainda que seja preciso suportar a morte. A
sofrimento. Com o apoio da instituição Médicos experiência de Santa Maria convocou o SUS como
Sem Fronteiras desencadeou-se um processo de sistema único, eficiente, humanizado e participa-
educação permanente para os profissionais. Con- tivo, e nos convida cotidianamente a manter pul-
juntamente, iniciamos a elaboração de protoco- sante esse desafio.
los clínicos e diretrizes do cuidado para repassar
inclusive aos outros municípios4. Construímos
também um material impresso com orientações
à comunidade com os objetivos de ativar a mobi-
lização social e as redes locais de solidariedade e
de informar sobre onde buscar ajuda. 1 Expressão cunhada por Emerson Mehry no texto “Os CAPS e
Nos primeiros dias, realizavam-se reuniões de seus trabalhadores: no olho do furacão antimanicomial” de 2004.

quatro em quatro horas, formando o que se cha- 2 Károl Veiga Cabral, Psicóloga, Doutora em Antropologia Médica
mou de gabinete de crise. Nos dias que se segui- - Universitat Rovira i Virgili, Tarragona, Espanha -, Coordenadora
ram, as reuniões de gestão da crise passaram a Estadual de Saúde Mental/DAS-SES.

ocorrer duas vezes ao dia. Juntos, gestores muni- 3 Ana Carolina Rios Simoni, Psicóloga, Doutora em Educação -
cipais, estaduais e federais, pactuávamos as ações UFRGS -, membro da equipe da Seção Estadual de Saúde Mental/
DAS-SES.
e as consequências que elas geravam em termos
de logística, contatos, recursos humanos, custos 4 Estes documentos estão disponíveis no site da Secretaria
e competências técnicas. A 4° Coordenadoria Estadual de Saúde www.saude.rs.gov.br.

9
Encontros singulares
enfrentamento de crises

Maria Carolina Pinheiro Meirelles1

A
experiência de participar do Grupo nhamento dos casos, encaminhamentos, de-
de Trabalho (GT) de Atenção Psicos- signação do profissional de recepção, e das
social às vítimas da Kiss, em Santa visitas domiciliares, supervisão técnica das
Maria, foi se constituindo de modo único, passagens de plantão e discussões de casos
a cada dia, a cada momento, a cada caso, a cada 6 horas); recepção e encaminhamento
nos desafiando a criar e a agir, sem perder para acolhimento e registro na lista de usuá-
princípios de cuidado, de direitos huma- rios atendidos (pessoa fixa por plantão); aco-
nos, de paixão e amor ao trabalho pautado lhimento dos usuários, quando possível em
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como duplas de profissionais, discussão dos casos,
verdadeiramente capaz de responder às encaminhamentos e registros; visitas domici-
necessidades da população, mesmo diante liares (duas pessoas escaladas por plantão).
do inesperado de uma tragédia de tamanha No desenvolvimento deste trabalho, cabe
proporção. Entre os vários GTs da estrutura ressaltar que ao se referir a casos, incluem-se
de apoio a esse evento, de corresponsabili- desde as situações de organização da ambi-
dade da Secretaria de Saúde do Estado, de ência do local, da manutenção dos recursos
Santa Maria e do Ministério da Saúde, fala- materiais, do escalonamento dos profissio-
-se do lugar da experiência de coordenação nais, do controle da imprensa, das interven-
do GT de Acolhimento 24 horas, no Centro ções isoladas de determinados profissionais
de Atenção Psicossocial Caminhos do Sol. ou grupos; e acima de tudo do acolhimento
Acolher a qualquer hora, pessoas e si- de pessoas com histórias de vida para além
tuações afetadas pelo evento da Kiss, foi da Kiss. Casos com nomes, endereços, vidas,
ao mesmo tempo um imenso desafio e uma que exigiam para além de consultas, medi-
possibilidade singular de “encontros” multi- cações e internações, clamavam por escuta
disciplinares, reunindo trabalhadores de di- e conversas qualificadas, tanto no local como
ferentes locais e serviços do Brasil com dis- muitas ao telefone, visitas domiciliares dia e
tintas experiências e concepções de cuidado noite, e uma significativa disponibilidade em
na área de saúde mental e/ou de atuação acolher, tomar para si, a responsabilidade de
em situações de calamidades. Concepções cuidar, e por vezes só dizer: “estamos aqui,
de cuidado, baseadas na hegemonia de um conte conosco”, somando abraços e demons-
trabalho uniprofissional ou biologicista se trações de afeto incondicional.
mostram falidas, quando urge a construção Este relato, longe de representar um mo-
de uma efetiva rede de atenção psicossocial, delo de gestão e cuidado em saúde mental,
coerente com a Política Nacional de Saúde propõe reflexões que auxiliem transfor-
Mental, balizadora do trabalho deste GT. mações nos processos de trabalho na área,
As ações desenvolvidas foram organiza- pautado pela interdisciplinaridade e pela
das e distribuídas num processo de trabalho construção de rede de atenção psicossocial,
dividido em Coordenação Técnica, Política que não se esgota nesse “acolher”, inicial da
e Administrativa do GT (orientação do pro- abertura de um caso, mas na continuidade e
cesso de trabalho, providência da estrutura, na permanência de um modelo de cuidado
escala da equipe com o apoio do CRP, relató- que acompanha os modos de vida das pesso-
rio diário de atividades, participação na reu- as, incluindo seus processos históricos e co-
nião geral do GT da Atenção Psicossocial e tidianos, para além de uma grande tragédia.
relação com outros GTs); Gestão dos Casos e
Supervisão técnica (atendimento ao telefone
de chamadas para o plantão de acolhimento
1 Enfermeira, Coordenadora Regional de Saúde-3ª CRS da Secre-
24h, registros, encaminhamento do caso (pes- taria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul e Doutoranda da
soa fixa a cada plantão); revisão e acompa- Faculdade de Enfermagem/UFPEL.

10
No caminho havia um desastre...

enfrentamento de crises
e uma emergência...
Nelson Rivero1

C
omo transversal a uma miríade de ra- rações sobre essa questão. A introdução do
zões pelas quais se decide fazer uma tema de emergências e desastres na formação
formação como a Psicologia, está como campo de reflexão e de intervenções
uma força instituinte – nem sempre tão clara singulares precisa ser intensificada para evi-
– que sustenta a produção dos desejos e ex- tar questionamentos como: E agora, o que se
pectativas em relação à formação apoiados faz? Afirmar, no entanto, que a introdução de
no senso comum e na ciência cartesiana: que conhecimento sobre emergências e desastres
seja objetiva, que ensine a fazer e construa na formação prepararia o profissional para es-
para o aprendente uma referência inequívo- sas situações é negligenciar a complexidade
ca de como se intervém no mundo, que forne- e intempestividade da própria vida.
ça técnicas, instrumentos que deem resposta Nesse sentido, as emergências e desastres
que o psicólogo tem de saber para as deman- e o desafio de enfrentá-los no campo da for-
das de pacientes, organizações, instituições e mação do psicólogo, reafirma a necessidade
todas as situações. Diferente disso, imediata- de um movimento que, além dos procedimen-
mente à entrada na formação, inicia-se uma tos e protocolos técnicos, da promoção dos
formação a partir de deformações das idea- compromissos coletivos de cuidado consigo
lizações, da criação de determinadas crises e com os outros como forma de prevenir de-
mais do que resolução de problemas. Ou sastres, entenda a aprendizagem como uma
seja, o processo de formação é um processo atitude de disponibilidade para a alteridade.
de instabilidades, mais do que certezas. Outro aspecto que Santa Maria trouxe à
Existe um processo de deslocamento, de luz foi a participação e solidariedade maciça
dissoluções e mortes necessárias à criação de psicólogos, reflexo da luta empenhada há
de outro e novo lugar como psicólogo, crian- muitos anos pela categoria, por uma forma-
do possibilidades para emergência de um ção com compromisso social, com consistên-
profissional que tenha condições de acolher cia ética e com uma prática política enquanto
a vida em toda sua natureza caótica e intem- constituintes da profissão do psicólogo.
pestiva. Desde a Carta de Serra Negra (1992), Assim, a experiência das emergências e
passando pelos vários documentos de orien- desastres na direção do debate com a forma-
tação sobre a formação em Psicologia chegan- ção, atualiza questões fundamentais como a
do às diretrizes curriculares (2012), a forma- introdução de novas referências técnicas e
ção em Psicologia preocupa-se em qualificar teóricas, revitaliza a importância de uma for-
a experiência de graduação ao considerar a mação plural, generalista, mas especialmente
competência crítica, o compromisso social e ética e política; assim como, pela forma como
a capacidade de constante reconfiguração desafia e potencializa a vida, dá condições
de seu fazer apoiado em princípios éticos, de perceber onde a formação tem sido fun-
aspectos fundamentais nesta trajetória. Com damental para nosso acontecer profissional,
isso, uma questão lógica se impõe: com tan- assim como nos possibilita experienciar di-
ta intimidade com as situações de crise, não ferentes formas de nos tornarmos humanos,
estaria o profissional da psicologia altamente afirmando a alteridade e as crises como for-
preparado ética, técnica e politicamente para mas de produção e formação do psicólogo.
os eventos de emergências e desastres?
O evento do incêndio da boate Kiss em 1 Psicólogo, conselheiro presidente da Comissão de Formação
Santa Maria nos permite algumas conside- do CRPRS.

11
Relato da Associação Brasileira de
enfrentamento de crises

Psicologia nas Emergências e Desastres


Rosana Dorio Bohrer¹

O
mundo contemporâneo é pontuado plantão CAPS; nas visitas domiciliares; hospi-
por eventos que ameaçam a vida e a tais; na organização dos registros dos casos e
integridade física e psicológica das orientação para debriefing com os afetados,
pessoas, o que contribui para a intensificação favorecendo a capacidade de enfrentamen-
de sentimentos de impotência e insegurança. to do evento traumático, os recursos indivi-
A violência urbana, os acidentes de grandes duais e grupais de superação, procurando
proporções e as catástrofes decorrentes de prevenir a possibilidade da ocorrência do
fenômenos socioambientais evidenciam a Transtorno por Estresse Pós-traumático. Para
vulnerabilidade dos indivíduos e da socieda- tanto, empregou-se a técnica do acolhimen-
de às condições consideradas traumáticas. to aliada a Critical Incident Stress Debriefing
Em 27 de janeiro de 2013 foi recebida a (CISD) que tem sido empregada em diversos
informação sobre o incêndio e a dimensão contextos e consiste em uma discussão em
da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria-RS. grupo, estruturada, que pretende mitigar sin-
Nesse mesmo dia, a ABRAPEDE contatou o tomas agudos, conduzir ao reconhecimento
Conselho Federal de Psicologia para viabili- sobre a necessidade de acompanhamento
zar um trabalho em parceria com o objetivo psicológico e promover uma maior compre-
de compor a Força Tarefa Nacional juntamen- ensão da fase crítica vivida.
te com o CRPRS e a equipe de gestão da crise - Composição do grupo de rituais e sepul-
com o objetivo de apoiar na tentativa de re- tamento: acompanhar e organizar os rituais
dução do sofrimento dessa comunidade. e sepultamentos; cuidar de períodos críticos
Nossa ação e participação em reuniões tais como os novos óbitos, cerimônias de uma
de organização e diretrizes foram permeadas semana; cultos; homenagens; outras ações
pela visão do protagonismo dos psicólogos lo- como o contato com o poeta gaúcho Fabricio
cais e objetivou os seguintes aspectos: minimi- Carpinejar para elaboração de um texto que
zar as consequências psicológicas verificadas incentivasse as pessoas a tentarem uma nova
em virtude da ocorrência do acidente; favore- conexão com a vida; organização da missa de
cer o restabelecimento progressivo da efetivi- sétimo dia; vigília; apoio à equipe de Direitos
dade da comunidade; facilitar o enfrentamen- Humanos; Jovens da Renovação Carismática;
to do evento traumático, valorizar os recursos passeatas e encontros com os pais com 55
individuais e grupais de superação; prevenir dias da tragédia.
a possibilidade da ocorrência do Transtorno - Supervisão técnica junto à Defensoria
de Estresse Pós-Traumático nos familiares, so- Pública: orientação sobre passos, priorida-
breviventes e afetados em geral e assessorar, des e fatores para a criação da Associação
tecnicamente, as equipes para o acompanha- dos afetados, buscando apoiar o fortaleci-
mento diante de possíveis reações decorren- mento de uma comunidade resiliente.
tes do impacto provocado pela tragédia. - Diagnóstico de riscos e recomendação de
Ao chegar à cidade, a equipe dedicou-se ações: levantamento de sinais físicos e psico-
ao delineamento de prioridades, necessida- lógicos de ordem variada, desequilíbrio nos
des para execução do trabalho e definição contatos sociais e sentimentos de improprie-
de etapas a serem executadas, conforme re- dade e vazio espiritual.
lacionado a seguir: - Mapeamento de novos riscos: orientar a
- Equipe Responsável pela Supervisão equipe de assistentes sociais quanto ao ma-
Técnica: aos profissionais que atendiam no peamento de possíveis grupos com o pro-

12
enfrentamento de crises
cesso de luto não-reconhecido (taxistas, mo- de reuniões do Centro de Hospitalidade (casa
radores da Rua do Farrezão, próximos aos destinada à acolhida de familiares em Porto
cemitérios, professores, jovens e amigos dos Alegre); apoiar a organização da resposta à
que perderam a vida no referido acidente). resolução de conflitos conceituais e de equipes
- Cuidados com a imprensa: orientação às que dificultariam o atendimento amplo;
equipes sobre preocupações com a mídia, já plantões; criação do GT do CRPRS e da Cruz
que a tecnologia e a conectividade trouxe- Vermelha e do núcleo de formação continuada
ram consigo uma maior facilidade da difusão para os voluntários.
de todo o tipo de notícias e a transmissão de - Até hoje, cuidando do não abandono: en-
imagens dramáticas, tais quais aquelas que tendemos que a intervenção pós-acidente
expõem os danos às propriedades e as in- apresentou resultado positivo para contribui-
júrias físicas nas vítimas, com repercussões ção do reequilíbrio da comunidade que tem
negativas a toda uma população que, mesmo depositado confiança e crédito no serviço de
sem escolha, fica invadida pela morte escan- suporte psicológico coordenado e operacio-
carada, apresentada repetida vezes. nalizado pelas psicólogas voluntárias santa-
- Coordenação da Equipe de Cuidadores: -marienses da ABRAPEDE e Cruz Vermelha,
criação do espaço reservado para os atendi- que continuam até hoje no atendimento vo-
mentos, elaboração de cartazes com informa- luntário na Associação das Vítimas e Sobrevi-
ções; integração de profissionais recém-chega- ventes da Tragédia de Santa Maria.
dos e cuidado com os cuidadores (enfermeiras, Entretanto, apesar de todo este esforço,
bombeiros, médicos, psicólogas, policiais, aten- sabemos que a cada dia os afetados terão de
dimento escriturárias que fizeram registro de enfrentar o esvaziamento da presença de seus
corpos e voluntários em geral). entes queridos. Portanto, ainda é muito pouco.
- Atuação em Porto Alegre: referência na Com o compromisso único de apoiar a miti-
cidade; compor as equipes de resposta à crise gação do sofrimento alheio, encerro com a
CRPRS, Cruz Vermelha, Hospitais, Associação frase de Albert Schweitzer que diz: “A quem o
de Psiquiatria do RS, Associação Brasileira sofrimento pessoal é poupado, deve sentir-se
de Psiquiatria, Núcleo de Estudos e Pesquisa chamado a diminuir o sofrimento dos outros”.
em Trauma e Estresse (NEPTE - PUCRS),
representante do projeto de ajuda humanitária
1 Doutora em psicóloga clínica e mestre em psicologia social pela
da UnB, representantes do governo estadual e PUC de São Paulo, presidenta da ABRAPEDE – Associação Brasilei-
representante do Ministério da Saúde;participar ra de Psicologia nas Emergências e Desastres

13
São Lourenço do Sul e suas ações e
enfrentamento de crises

experiências a partir da enxurrada de 2011


Graziela de Araújo Vasques1 e Darci Gehling Júnior2

E
ra 10 de março de 2011, quarta-fei- soas pudessem ser salvas. Mas, mesmo
ra de cinzas e todos se preparavam assim, perdemos sete vidas, que se multi-
para voltar às atividades do dia a dia plicam nas mentes e corações, em pensa-
em São Lourenço do Sul. Naquela noite, a mentos do que poderíamos ter feito a mais
chuva veio presentear a cidade, que sofria para tentar salvá-las.
com o calor e a seca; porém, em um curto Depois das primeiras horas de salva-
espaço de tempo choveu o que era previsto mento, as ações passaram a exigir planeja-
para mais de um mês. “As águas de março” mento, conforme a noção que se ia tendo
desceram da parte mais alta da cidade em da proporção da catástrofe. A Defesa Civil
grande quantidade e o Arroio São Lourenço organizou um Comitê de Crise, montado na
não deu vazão. Com isso, as águas desce- Prefeitura Municipal para pensar as ações.
ram da encosta do arroio para as ruas da Estávamos “imersos” em tudo que acon-
cidade, atingindo locais onde as enchentes tecia; porém, o nosso envolvimento maior
costumeiras, de enchimento do Arroio, ja- foi com a Secretaria Municipal de Saúde,
mais chegaram. que montou em sua sede um QG de Crise
Área de vulnerabilidade social, área da Saúde que estava sempre em comunica-
“nobre”, área “mais ou menos”, todos fo- ção com a Defesa Civil. A partir de então,
ram atingidos da mesma forma, sem dife- começamos a tentar minimamente “cuidar”
renciação. Cerca de 20 mil pessoas tiveram em meio a tanta fragilidade. É importante
suas casas invadidas pelas águas. Todavia, ressaltar que a força de trabalho da Se-
os 43.111 habitantes (IBGE, 2010) foram cretaria Municipal de Saúde estava extre-
afetados. Falava-se, pelas ruas da cidade, mamente defasada porque muitos colegas
que haviam os atingidos secos e os molha- também foram atingidos.
dos, porque, de alguma forma, todos foram As ações em saúde foram estruturadas
tocados e transformados pelo grande volu- em três etapas. Nas primeiras 72 horas o
me de chuva. foco foi no resgate e atendimento emer-
Profissionais da Prefeitura Municipal gencial das pessoas atingidas pela enxur-
e a Comunidade Lourenciana (que aqui rada, com o acolhimento dessas pessoas
vai em letra maiúscula pelo destaque que nos abrigos organizados pela Assistência
merece), atingidos ou não, dentro de suas Social e ações de saúde focadas na pre-
possibilidades, começaram a travar uma venção de doenças infectocontagiosas.
luta e a desenvolver uma série de ações. As ações dos próximos 30 dias incluíram
Nas primeiras horas o objetivo era um só: a formação do Grupo de Trabalho de In-
salvar vidas. Os Lourencianos salvaram o tervenção na Crise, com a discussão sema-
que puderam, mas prezaram pelas suas vi- nal de materiais teóricos sobre a atuação
das e pelas vidas alheias o que evitou vá- em catástrofes naturais e capacitação de
rias mortes. Foi preciso praticar o desape- 42 Agentes Comunitários de Saúde para
go do material rapidamente. a realização do mapeamento das áreas
A capacidade de reação das autorida- atingidas e intervenção in loco, com ins-
des, locais ou de fora, ao acontecido foi trumento criado para identificar estresse
imediata, possibilitando que muitas pes- agudo. Posteriormente, os psicólogos da

14
Secretaria Municipal de Saúde realizaram Muitos falavam em reconstrução da cidade.

enfrentamento de crises
a análise das entrevistas e classificação de Nós, profissionais da Saúde que estruturá-
acordo com a gravidade. vamos o cuidado das pessoas, falávamos
Outras intervenções foram se fazendo em reconstrução de subjetividades.
necessárias a partir das demandas que sur- A Comunidade Lourenciana parecia
giam e, em todas as ações realizadas, os pro- ter perdido sua identidade diante de tanta
fissionais da Saúde Mental eram consultados igualdade em relação à chegada das águas.
para que o atendimento às vítimas fosse o Objetos, fotos, construções antigas e cheias
mais humanizado possível, como por exem- de significados que materializavam suas
plo, a criação de salas de espera com filmes, histórias não estavam mais de pé, foi, então,
exibidos em telão, e distribuição de fichas que um começou a reconhecer-se no outro.
para acabar com as longas filas. Vizinhos que nunca se falavam fize-
Para a estruturação do cuidado longitu- ram comida juntos e dividiram as poucas
dinal, pensando em ações continuadas de roupas secas que restavam. Ali estava a
longo prazo, foram criados grupos comuni- identidade, quem faz os lugares são as
tários nas Unidades de Saúde para as pes- pessoas e elas (re)fizeram suas histórias a
soas identificadas em estresse iminente. partir do significado que o dicionário traz
Pessoas identificadas com maior risco de para solidariedade.
desenvolver o Transtorno de Estresse Pós- A dependência mútua, sentimento que
-Traumático, desencadeado por situação leva os homens a se auxiliarem mutua-
adversa que leva ao desenvolvimento de mente, reafirmou o compromisso de uns
trauma, receberam visitas domiciliares re- com os outros. Enfim, se obrigaram pela
alizadas por profissionais da rede de saúde vida e nos carros da cidade uma só frase
mental. A partir do que era avaliado eram ecoava através de adesivos: TE LEVANTA
dados os encaminhamentos para serviço SÃO LOURENÇO!
especializado ou grupos comunitários. As- Eis que aqui estamos, todos juntos, Lou-
sim, conforme as demandas trazidas, rea- rencianos e não Lourencianos que estive-
lizávamos articulações intersetoriais com ram conosco ajudando como se o desastre
educação, desporto, cultura, assistência so- tivesse ocorrido em sua cidade.
cial, habitação, veículos de comunicação. Foi necessário planejamento, organiza-
Também foram veiculadas mensagens ção e ajuda vinda de todas as esferas, re-
otimistas e de orientação à população so- gional, estadual e federal, além de pessoas
bre as ações realizadas para diminuir a an- sem esfera, apenas com a grande vonta-
siedade das pessoas, informando-as para de de ajudar. Um mês depois da enxurra-
que pudessem sentir que o controle da si- da, nossas ruas já não mostravam mais os
tuação estava sendo retomado. seus sinais, as pessoas falavam muito sobre
Muitas pessoas tiveram, através da inter- o acontecido e elaboravam, a cada fala, o
venção da Habitação, suas casas recupera- horror daquele dia. Hoje, São Lourenço do
das e acesso a novas moradias. Os abrigos Sul está mais linda do que nunca, a praia
não ultrapassaram o prazo de dez dias em devastada ficou mais bonita e a “Pérola da
funcionamento. Quem ficou sem residência Lagoa” voltou a reluzir.
pôde acessar o aluguel social garantido
pela Coordenadoria de Habitação do Muni-
cípio durante o período de construção.
Após dois anos, ainda se fala, ainda se
lembra, mas o que marcou esse momento, 1 Psicóloga, atual coordenadora de Saúde Mental de São
Lourenço do Sul.
que misturava sensações de desespero e
alívio, foi uma só palavra: SOLIDARIEDADE. 2 Psicólogo, atual vereador de São Lourenço do Sul.

15
A Mobilização da categoria profissional
enfrentamento de crises

em Santa Maria

L
ogo após o incêndio na Boate Kiss, ocor- (Abrapede), Cruz Vermelha, Médicos Sem
rido na madrugada de 27 de janeiro de Fronteiras, profissionais da Prefeitura Munici-
2013, em que 241 pessoas perderam a pal de Santa Maria e da Secretaria Estadual
vida e mais de 623 ficaram feridas, psicólo- de Saúde, além de outros.
gos (as) de todo o país e o Conselho Regio- Durante o cadastro de voluntários, o CR-
nal de Psicologia do Rio Grande do Sul, por PRS preocupou-se com que todos os profis-
meio da Subsede Centro-Oeste – situada em sionais, das mais diversas áreas, estivessem
Santa Maria – ini- regularmente inscri-
ciaram uma atua- tos em seus respec-
ção ativa junto a tivos conselhos. Após
outras instituições, o cadastramento, os
na organização do voluntários eram cha-
atendimento para mados a partir de de-
as famílias, sobre- mandas específicas
viventes, profissio- das equipes forma-
nais envolvidos no das para atenção psi-
episódio e comuni- cossocial, com atua-
dade em geral. ção em sete frentes
O trabalho re- de trabalho: gestão,
alizado pelo CR- regulação de saúde
PRS contribuiu na mental, cuidado aos
coordenação das cuidadores, acolhi-
atividades de ge- mento 24 horas, apoio
renciamento da psicossocial para ri-
crise e promoveu tos de despedida,
o cadastramento apoio psicossocial às
dos inúmeros profissionais, das mais va- Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e
riadas áreas da saúde e assistência social, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
que desejavam atuar, voluntariamente, (SAMU), apoio aos hospitais e apoio e articu-
nos atendimentos. lação com a Atenção Básica.
Foram cadastrados como voluntários pelo O trabalho realizado em Santa Maria re-
CRPRS mais de mil profissionais, não somen- afirmou o compromisso social da Psicologia
te da região, mas de todo o país. Cerca de 400 diante de complexos desafios, como as emer-
psicólogos(as) se inscreveram numa demons- gências e desastres.
tração de solidariedade que foi para além do
dever ético profissional (Código de Ética do Confira alguns relatos de experiência
Psicólogo, Art. 1º, item d), transformando-se de psicólogos (as) voluntários (as), colabo-
num exercício legítimo de alteridade. radores (as) do CRPRS.
Como participante da comissão gestora
da crise, o CRPRS foi responsável – junto a “Foi nesse campo, que nos permitimos
demais entidades e instituições – pelo diag- fazer parte, que se produziram saberes, re-
nóstico situacional, elaboração e regulação des e, principalmente, relações afetuosas
de estratégias e planejamento das ações re- e de cuidado. Falamos aqui da mobilização
ferentes ao núcleo de Atenção Psicossocial, de toda uma classe de psicólogos cuidan-
que era constituído fundamentalmente por do uns dos outros. Frases como ‘Tu estás te
psicólogos voluntários, Associação Brasileira alimentando bem?’, ‘Conseguiste dormir
da Psicologia em Emergências e Desastres hoje?’, ‘Queres conversar sobre isso?’ cir-

16
culavam entre os colegas, demonstrando das, quanto com os profissionais protagonis-

enfrentamento de crises
o quanto isso, que é da ordem do cuidado, tas desse cuidado”.
do afeto e da união, estavam presentes. O Cristiane Holzschuh Gonçalves, membro
evento mobilizou algo da grupalidade em da equipe de acolhimento psicossocial.
cada profissional da Psicologia e em profis-
sionais de demais áreas. Mudou nossa for- “Quando chegávamos aos velórios, in-
ma de olhar e agir.” formávamos os familiares que pertencí-
Mauren de Vargas Minato, membro da equi- amos ao serviço de apoio psicossocial e
pe de acolhimento psicossocial. que iríamos permanecer ali durante todo
tempo para o que eles precisassem. Nossa
“O serviço de acolhimento contava com postura nesses espaços foi de nos fazermos
equipes que mantinham um regime integral presentes sem interferir nas manifestações
de atendimento à população vinculada, sob de emoção, salvo quando era solicitado,
qualquer aspecto, com a tragédia. Desta for- ou quando alguém passava mal. Algumas
ma, nos fundamentávamos na escuta e no cui- famílias nos procuravam para conversar e
dado tentando dar amparo às diversas formas desabafar, outras não. No entanto, todas, ao
de sofrimento que nos chegavam com o pe- final das cerimônias, se aproximavam para
dido de ajuda. De nós, psicólogos, nem sem- agradecer a presença e o apoio voluntário
pre era exigido conhecimento, muitas vezes da psicologia nesse momento tão difícil.
apenas humanidade, com demandas como: Para nós também estava sendo muito difí-
‘Posso apenas ficar aqui (no serviço)? Aqui cil, pois além de conhecermos muitos da-
me sinto mais segura’. Assim, o conhecimen- queles jovens, passamos os dias seguintes
to passou a ser permeado por outro aspecto à tragédia com o coração apertado a cada
de cuidado que a situação nos apresentou. vez que o celular tocava, na maioria das ve-
Aprendemos também a cuidar uns dos ou- zes ele anunciava mais uma morte”.
tros, convidando nossos colegas a parar por Bruna Gil, membro da equipe de apoio psi-
alguns minutos. E esses minutos eram sufi- cossocial para ritos de despedida.
cientes para, juntos, percebermos a dimen-
são do que estava acontecendo: o sofrimento, “O dia 27: A todo o momento na televisão
a dor, o desespero.” pediam psicólogos. Como forma de negar o
Graziela Negrini, membro da equipe de que estava acontecendo, ficava me perguntan-
acolhimento psicossocial. do ‘Mas o que eu vou fazer lá?’. Foi, então, que
percebi o silêncio da cidade e me dirigi ao
“Inicialmente percebia-se no Serviço de local aonde estavam os corpos para reconhe-
Acolhimento Psicossocial uma agitação típi- cimento. Logo em seguida, formei uma equipe
ca de uma situação de emergência. Havia a para trabalhar fora do complexo, na rua, pois
ansiedade de dar conta da demanda de uma muitos familiares estavam na fila esperando
forma qualificada, mesmo que muitos dos para entrar e reconhecer as vitimas. Trabalhei
profissionais ali nunca tivessem trabalhado, o dia todo, desde a manhã até as três e meia da
eram recém-formados ou pelo fato de que madrugada de segunda, no que posso afirmar
nos deparávamos com uma situação inédita ser o dia mais triste da minha vida. O cenário
e com uma demanda complexa. Passamos a era assustador, não se ouviam choros, mas ui-
contar, após alguns dias de instalação do ser- vos. Eram pessoas passando mal a todo mo-
viço, com uma equipe de supervisão. Assim, mento, creio que só comparado a um cenário
os casos eram discutidos e o cuidado às pes- de guerra. Acolhemos e sofremos. Eu queria
soas era planejado em conjunto. Aos poucos entender, mas era impossível. Não sentia rai-
se percebeu que a ansiedade emergencial va, sofria. O trabalho se estendeu por mais
foi amenizada. As trocas de plantão não eram dias e dias, eu e minhas colegas nos mantive-
mais feitas com profissionais em pé, falando mos incansáveis. Foram dias tristes que ainda
alto e ao mesmo tempo e, sim, com uma roda refletem em nossas vidas”.
de conversa com trocas produtivas, conside- Bruna Osório, membro da equipe de aco-
rando tanto o cuidado com as pessoas atendi- lhimento psicossocial.

17
Emergência e
crepop

desastre sob qual


ponto de vista nos
mobilizam?

A
s situações de emergências e desas- onde atualmente se situa um dos estádios de
tres produzem sofrimentos, mobi- nossa “dupla grenal”, a qual é extremamente
lizam a população e produzem im- visada pelo mercado imobiliário.
pactos sociais que tem demandado ações da Destaca-se a pouca, ou quase inexistente,
Psicologia. Nessa perspectiva, os Centros de participação dos psicólogos na mobilização
Referências Técnicas em Psicologia e Políti- para dar conta deste incêndio que devastou
cas Públicas promoveram espaços de debate 90 casas e decorreu no desabrigamento de
sobre este tema no ano de 2009, objetivando 194 famílias. Ficou evidente a desproporcio-
investigar e refletir sobre a atuação do psicó- nal cobertura dada pela mídia a estes dois
logo no enfrentamento de crises. Nesse pro- acontecimentos que dizem sobre populações
cesso, foram realizados encontros e obteve-se, de capacidades socioeconômicas significati-
ao final, o relatório intitulado Psicologia de vamente desiguais. Nesse sentido nos ques-
Emergências e Desastres na América Latina: tionamos: Qual o papel da Psicologia diante
Promoção de Direitos e Construção de Estra- das situações de invisibilidade de determi-
tégias de Atuação. nados grupos sociais? Como pensar Psico-
Entretanto, diante dos resultados obtidos logia e Políticas Públicas em um cenário de
coube problematizar o conceito de cuidado que desigualdades? É possível falar de direitos
conduzia as discussões. Buscou-se adotar uma humanos sem inseri-los na lógica econômica
noção de atenção à saúde que transpunha a ló- que sustenta a sociedade atual?
gica que descontextualiza os sujeitos, amparada Convidamos, então, a Psicologia a ampliar
sob um paradigma patologizante, no qual as pes- o debate sobre o que vem sendo legitimado
soas que vivenciaram o desastre seriam pensa- enquanto emergência e desastre. Emergência
das apenas como sujeitos de uma interioridade para quem? Desastre sob qual ponto de vista?
traumatizada. Colocou-se em questionamento a Resolutividade para todos? A discussão não
massificação e enaltecimento que algumas for- visa a enaltecer ou desclassificar a importân-
mas de exercer a Psicologia fazem em torno do cia de uma ou outra forma de interpretação,
luto, como se esse fosse a única experiência ou mas sim, colocar em pauta a dissociação que
recurso legítimo de alguém que passa por uma se realiza entre o que é da natureza e o que
situação inesperada e impactante. é do humano. Questionamos o entendimento
Transcorrido o lançamento do relatório, ti- que separa a noção de natureza e de huma-
vemos um novo disparador de reflexão que se no para colocar em evidência o modo como o
tornou materializável, infelizmente, pelo even- Estado, a população e nossas próprias ações
to na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria, interferem na forma como os territórios se
onde cerca de 400 Psicólogos se mobilizaram constituem, organizam-se, tornam-se frágeis
para oferecer suporte ao cuidado das pesso- ou potentes frente a emergências e desastres.
as envolvidas direta ou indiretamente no aci-
dente. Concomitantemente a esta calamidade
ocorreu outro incêndio, possivelmente crimi- Equipe CREPOP
Cristina Estima, Daniel Ecker e Yasmine Maggi – Estagiários
noso, no mesmo dia, na Vila Liberdade, região Carolina dos Reis – Assessora Técnica de Políticas Públicas
da zona norte de Porto Alegre, próxima à área Vera Lucia Pasini – Conselheira Referência

18
Psicologia e Voluntariado

orientação
O
psicólogo, ao desempenhar sua fun- ço que se exige deve ser tal qual o serviço
ção profissional como voluntário, não remunerado, assim como a qualificação pes-
está dispensado de cumprir com as soal e técnica para o atendimento da popu-
exigências formais e legais do seu exercício lação-alvo, respeito ao sigilo profissional e
profissional, uma vez que é em função de sua encaminhamentos adequados às necessida-
atividade profissional e conhecimento técni- des dos atendidos.
co que o mesmo estará sendo requisitado. É importante também diferenciar o tra-
A atividade de voluntário em situações balho voluntário em casos de emergência e
de emergência e/ou desastre constitui-se desastres daquele desenvolvido em situa-
em uma forma de assistência profissional, ções habituais. No primeiro caso, se verifica
diretamente vinculada a um princípio de uma necessidade premente de atendimen-
cidadania, de reconhecimento, valor e obri- tos, posto que há uma situação extrema, não
gação profissional frente à sociedade. A or- habitual, e o trabalho voluntário se impõe
ganização profissional, ainda que sob forma pela responsabilidade social. Diferente dis-
de Conselhos Profissionais, deve estar pac- so é a utilização do trabalho voluntário em
tuada em corresponder eficaz e solidaria- espaços em que se faz necessária uma atu-
mente, ultrapassando, em muito, princípios ação de forma contínua. Ou seja, há institui-
puramente corporativistas. ções formais, onde o trabalho do psicólogo
Ora, a tarefa é difícil, até porque acontece deveria estar formalizado por meio de con-
em situações excepcionais, de maneira tensa trato ou de concurso público que acabam se
e com clamor social. O profissional empres- utilizando do voluntariado para atender a
tará seu conhecimento, utilizando técnicas e uma demanda necessária. Essa não é a me-
métodos reconhecidos pela profissão e não lhor e nem a mais adequada forma de vo-
procedimentos baseados no senso comum. luntariado, pois, muitas vezes, os psicólogos
O voluntariado enquanto profissão não pode voluntários acabam trabalhando em institui-
ser assumido baseado apenas no “querer ções formais (governamentais), na grande
ajudar”, mas, sim, nos procedimentos profis- maioria pública e dotadas de orçamento e
sionais possíveis e capazes de serem execu- carreiras profissionais, ficando responsá-
tados naquela situação. veis por todo um trabalho de acolhimento
Ao prestar serviços voluntários, o psicólo- e acompanhamento sob forma de trabalho
go não se exime das responsabilidades pre- contratual, relegados ao informal.
vistas em seu Código de Ética, entre elas, de O cuidado que o psicólogo deve ter
assegurar a qualidade na prestação dos ser- com o voluntariado é de que o mesmo não
viços. Por ser voluntário, as questões de sigilo, pode ser usado como uma oportunidade de
confidencialidade e de respeito ao atendido aprendizado ou uma porta para o mercado
estarão presentes, como em qualquer ativi- de trabalho. A atividade voluntária deve ser
dade profissional, levando em consideração encarada com seriedade e profissionalismo.
as condições e momento em que ocorrerão
os atendimentos.
Outro aspecto a ser considerado, con-
forme prevê o Código de Ética, refere-se Área Técnica
à qualidade do serviço prestado que não Lucio Fernando Garcia – Coordenador da Área Técnica
Adriana Dal Orsoletta – Psicóloga Fiscal
deve estar vinculada ao valor cobrado pela Leticia Giannechini – Psicóloga Fiscal
prestação de serviços profissionais. O servi- Lucia Regina Cogo – Psicóloga Fiscal

19
Subsede Sul
subsedes

A
subsede Sul, localizada em Pelotas, tem ção para o ano de 2013, com data a definir. Res-
um dos maiores números de represen- saltamos, igualmente, a passagem da Exposição
tatividade nos Conselhos do Contro- Itinerante dos 50 Anos da Psicologia pela nossa
le Social. Muitos dos colaboradores da Subsede cidade. Os pelotenses puderam visitar o painel
são representantes do CRP em vários Conselhos histórico que ficou exposto no prédio do Centro
em Pelotas, como Conselho Municipal de Saúde, de Integração do Mercosul. No final do ano a sub-
Conselho de Assistência Social, Conselho Muni- sede realizou seu pré-congresso, uma das etapas
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. que culmina no CNP elegendo quatro delegados
“Entendemos que a Psicologia tem muito a contri- para o Congresso Regional, e pensando em pro-
buir com a construção de Políticas Públicas, bem postas para a melhoria da Profissão.
como no controle das ações de cada instância, o A Psicologia da Educação e Jurídica tem ganha-
que faz com que estejamos inseridos em diferen- do um enfoque especial na subsede, tendo núcleos
tes comissões dentro de cada Conselho”, afirma a de estudos nessas áreas. Este ano as reuniões do
conselheira Melissa Rios Classen. grupo de trabalho passam a ser realizadas nas ter-
Em 2012, vários eventos foram promovidos, ças-feiras, quinzenalmente, às 18h30min e são aber-
com destaque especial para o Dia do Psicólogo tas a todos os Psicólogos que queiram contribuir na
quando realizamos a Jornada de Práxis Psis, con- construção de políticas e ações para a profissão.
templando diversas áreas de atuação da Psico-
logia, como Educação, Trabalho, Saúde e Social, Mais informações sobre as atividades da
mostrando também diferentes enfoques em cada Subsede Sul pelo telefone (53) 3227.4197 ou
uma das áreas. Já se pensa em uma segunda edi- pelo email pelotas@crprs.org.br.

Subsede Serra

E
m 2013, o CRPRS comemora 15 anos de ceu em 2010 e que representou uma estratégia
existência da subsede Serra. As atividades de aproximação da categoria, principalmente dos
comemorativas tiveram início em 22 de profissionais da região dos Campos de Cima da
março, com a realização de um ESPAÇO – PSI Te- Serra. Acompanhe a divulgação da agenda dos
mático, no Arystos Café de Caxias do Sul. O even- encontros em nosso site www.crprs.org.br.
to teve apoio dos Diretórios Acadêmicos, colabo- RESGATE DA HISTÓRIA DA SUBSEDE SER-
radores e do Grupo de Trabalho que pesquisa a RA: o Grupo de Trabalho da História da Subsede,
história da subsede. Estudantes da UCS e FSG e constituído em 2012 e coordenado pelos colabo-
profissionais que atuaram na construção dessa radores Eduardo Friederich Hoffmann, Mirian Mi-
trajetória estiveram presentes. “Foi uma festa te- notto e Fernanda Fioravanzo, quer resgatar a his-
mática onde apresentamos os grandes temas dis- tória do CRPRS na Serra Gaúcha.
cutidos pela categoria neste período de quinze O Grupo está buscando fotos, textos, recortes
anos, como a Psicologia no Sistema Prisional, no de jornais ou outros documentos para ampliar o
Trânsito, na Educação Pública, na Saúde Mental, acervo sobre os 15 anos da Subsede em Caxias
nas Redes de Atendimento Psicossocial, na De- do Sul. Psicólogos que tiverem interesse em con-
fesa dos Direitos Humanos, nas questões Raciais, tribuir, emprestando ou doando materiais, devem
Políticas da Mulher e nas Emergências e Desas- entrar em contato com a Subsede Serra.
tres”, relata a conselheira Rosa Veronese.
ESPAÇO - PSI ITINERANTE: neste ano, a Mais informações sobre as atividades da
Subsede Serra pretende retomar a agenda dos Subsede Serra pelo telefone (54) 3223.7848 ou
Espaços-Psi Itinerantes – projeto que já aconte- pelo email caxias@crprs.org.br.

20
Subsedes Sul, Serra e Centro-Oeste ganham

comunicados
maior autonomia para atendimento de
demandas administrativas

S
eguindo a política de descentralização e possam ter maior independência, sem a neces-
fortalecimento do processo de interioriza- sidade de aguardar o envio das solicitações a
ção, o CRPRS instalou, em abril, sistemas Porto Alegre. Isso dará maior agilidade no aten-
operacionais que dão maior autonomia ao traba- dimento de demandas administrativas”, explica
lho das subsedes. A partir de agora, os psicólogos Evelise Campos, funcionária do CRPRS respon-
poderão realizar diretamente nas subsedes Sul, sável pelo Setor de Cadastro.
Serra e Centro-Oeste a inscrição principal, retirar Com os sistemas operacionais SISCAFW (siste-
declarações, certidões de regularidade de inscri- ma para cadastros de bancos de dados) e SISDOC
ção, emitir boletos, cancelar o registro, preencher (sistema de protocolização de documentos físicos
dados para a abertura de processo para registro e eletrônicos), as atividades que antes eram reali-
de pessoa jurídica, entre outros. zadas somente em Porto Alegre podem ser feitas
“O processo será ampliado nos próximos diretamente nas subsedes, visto que a integração
meses para que, gradativamente, as subsedes aos sistemas permite ações em tempo real.

Psicólogos(as), realizem o seu recadastramento


O Conselho Federal de Psicologia está realizando o Cadastro Nacional de Psicólogos. O
recadastramento é importante para que o processo eleitoral possa ocorrer com sucesso.
O recadastramento deve ser feito por todos os psicólogos pelo site http://cadastro.cfp.org.br.
Profissionais que tiverem dificuldades ou dúvidas na utilização do sistema entrem em
contato com a central de atendimento pelo email recadastramento@cfp.org.br ou pelo telefone
(61) 2109 0109, de segunda a sexta-feira das 9h às 18h.

21
Congresso Regional da Psicologia elege
VIII CNP

delegados para VIII CNP

O
Congresso Regional da Psicologia sini (secretária), Carolina dos Reis (relatora),
(COREP), realizado no Hotel Coral Cristiane Bens Pegoraro (suplente), Caroline
Tower em Porto Alegre dias 12 e 13 Martine Pereira (suplente) e Julia Dutra de
de abril, elegeu nove delegados para o VIII Carvalho (suplente).
Congresso Nacional da Psicologia (CNP). O Durante o primeiro dia de COREP, os de-
número de delegados foi definido pelo Con- legados foram divididos em três grupos para
selho Federal de Psicologia, independente discutir os eixos do VIII CNP: Eixo 1 – Demo-
do quórum de delegados presentes no mo- cratização do Sistema Conselhos e Amplia-
mento da votação no Congresso Regional. ção das formas de interação com a catego-
Na sexta-feira, 12/04, o COREP teve início ria; Eixo 2 – Contribuições éticas, políticas
com a apresentação da presidente da Co- e técnicas nos processos de trabalho; Eixo 3
missão Organizadora do COREP, conselheira – Ampliação da Participação da Psicologia e
Lutiane de Lara, destacando a importância sociedade nas Políticas Públicas.
do trabalho realizado nos Pré-Congressos e No sábado, teve início a Plenária com a
Atividades Livres. Representando a diretoria apresentação e votação das propostas. En-
da atual gestão, a tesoureira Tatiana Baierle cerrando os trabalhos, a Comissão Eleitoral
destacou a importância do momento para ar- apresentou a única chapa inscrita para as
ticulação e mobilização para a gestão do Sis- Eleições 2013.
tema Conselhos para os próximos três anos. As propostas aprovadas para o âmbito re-
“A regionalização, por exemplo, um dos pon- gional e as de âmbito nacional, que seguem
tos que teve destaque no COREP em 2010, foi para a etapa nacional, podem ser acessadas
uma das principais conquistas da atual ges- em www.crprs.org.br/8cnp.
tão, culminando com a inauguração da Sub-
sede Centro-Oeste”, afirmou Tatiana. Representarão o Conselho Regional de
Logo após, na sessão de instalação, foi Psicologia do Rio Grande do Sul no VIII CNP
eleita a mesa diretiva que coordenou os tra- os seguintes delegados:
balhos durante os dois dias de COREP. A - Cristiane Bens Pegoraro
mesa foi composta pelas delegadas Carla - Ramiro Bürger Schörnardie
Garcia Bottega (presidente), Vera Lucia Pa- - Bruna da Silva Osório
- Caroline Martini Pereira
- Simone Bampi
- Rafaela Sandri
- Gerson Silveira Pereira
- Moisés Ederson S. Rodrigues
- Ana Maria Castilhos Homem
- Samantha Torres (representante dos estudantes)

O Congresso Nacional da Psicologia será


realizado de 30 de maio a 02 de junho em
Brasília/DF. Neste VIII CNP, a ética e a cidada-
nia serão a marca do congresso, que discutirá
as Práticas Profissionais a Serviço da Garan-
tia de Direitos. Mais informações sobre o VIII
CNP em http://cnp.cfp.org.br.

22
Reine sobre mim

dica cultural
R
eine sobre Mim é um drama, estrelado
por Adam Sandler e Don Cheadle. San-
dler é Charlie, um dos muitos america-
nos que sofreram uma perda no atentado às
Torres Gêmeas, no 11 de Setembro. Charlie
perdeu sua esposa e filhas que estavam em
um dos vôos. Cheadle, que vive o dentista
Alan, está dividido entre os cuidados com os
pais, a esposa, as filhas e o trabalho e ainda
tem que lidar com o assédio de uma paciente.
Os dois foram colegas de faculdade e há
muito perderam contato. É quando Alan vê
Charlie saindo de uma loja com latas de tintas achar a pessoa certa para falar e a hora certa
em NY. A partir daí o que se vê é a retomada também, não necessariamente sendo ela em
de uma grande amizade que culmina em uma uma hora de terapia. É quando, finalmente
ajuda mútua. Não só Charlie precisava de ajuda Charlie consegue, mesmo que rapidamen-
para superar o trauma da perda de sua família, te, desabafar com Alan e reviver tudo aquilo
mas Alan, também precisa dar mais valor a sua. que reprime e lhe faz sofrer. Certamente a
Charlie, deprimido com a perda, criou dor não passa, mas se dilui. Tapar os ouvi-
um “universo paralelo” para si de músicas e dos com fones, fechar os olhos com jogos e
vídeo-games. Isolacionismo tão grande que calar a voz ao se isolar, mantiveram todo o
apenas seu contador e a síndica do prédio sofrimento sobre pressão, mas não foram as
de Charlie mantinham algum contato. A in- palavras da psicóloga que liberaram o que
findável reforma na cozinha, último pedido borbulhava dentro de Charlie e sim a con-
da esposa, também ocupava os dias de Char- fiança que ele passou a ter no amigo. Charlie
lie. A busca incessável pela cozinha perfeita ainda passa por uma internação psiquiatra,
para agradar a esposa e as filhas mantinham após apontar uma arma para um taxista e ser
Charlie em um luto patológico. Alan, ao ver preso. Mais uma vez Alan está lá para ajudar
que o amigo está desconexo com a realida- o amigo, entretanto Charlie, não é o único a
de, procura ajudá-lo. Depois de tentar com “ser salvo” no filme, o casamento de Alan,
um psiquiatra, Alan recorre à psicóloga An- abalado pela sobrecarga da vida e falta de
gela Oakhursta, interpretada por Liv Tyler, diálogo do casal também é retomado.
de quem já havia tentando tirar algum “con-
selho” para si próprio, abordando-a na saída Título original: Reign Over Me
do prédio onde ambos tinham consultório, Lançamento: 2007
mas, obviamente, não obteve muito suces- Duração: 2h4min
so. Charlie acaba por aceitar e tem algumas Nacionalidade: EUA
sessões com Angela, mas nunca chega até Gênero: Drama
o fim e tão pouco deixa seu mundo particu- Dirigido por: Mike Binder
lar, estando sempre com os fones de ouvido, Elenco: Adam Sandler, Don Cheadle, Jada
como forma de se proteger daquilo que não Pinkett Smith
quer ouvir. Com tantas fugas das sessões,
Angela acaba por dizer que ele precisa Melissa Rios Classen
Conselheira do CRPRS

23
agenda
Cursos Congressos,
Curso Breve - Ideias de “André Green”
04 a 25 junho de 2013
Curso de Formação em Psicologia e
Psicoterapia Fenomenológico-Existenciais: Jornadas, Simpósios
Local: Porto Alegre/RS Gestalt e Abordagem Rogeriana
Informações: (51) 3311.3008 1 de setembro a 30 de agosto de 2013 I Congresso Internacional de Psicomotricidade Rela-
E-mail: itipoa@itipoa.com.br Local: João Pessoa/PB cional - Diversidade e Perspectivas de Inclusão
Site: http://www.itipoa.com.br Informações: (83) 8731.5431 / (83) 9382.7113 30 e 31/05 e 01/06/2013
E-mail: eksistencia.joaopessoa@gmail.com Local: Fortaleza/CE
Novos Modelos de Gestão do Trabalho, Saúde Mental Informações: (85) 3261.1111
e Patologia O Trauma no Abuso Sexual e a Violência Hoje E-mail: coordenacao2@ikone.com.br
5, 19 e 26 de junho de 2013 14 de setembro de 2013 Site: http://psicomotricidaderelacional.org
Local: Porto Alegre - RS Local: Porto Alegre/RS
Informações: (51) 3359.8090 Informações: (51) 3062.7400 VI Congresso Nacional de Avaliação Psicológica / IX
E-mail: eventos@hcpa.ufrgs.br E-mail: sig@sig.org.br Congresso Iberoamericano de Avaliação Psicológica
Site: http://www.hcpa.ufrgs.br/ Site: http://www.sig.org.br 04 a 07 de junho de 2013
Local: Alagoas - MA
Curso de Formação em Terapia dos Esquemas - VIII Encontro Brasileiro sobre o Pensamento de D.W. Informações: (82) 3231.1335 / (82) 3231.8238
Jeffrey Young (Certificação Internacional) Winnicott: O brincar e a realidade E-mail: mep@mepeventos.com.br
07 de junho de 2013 03 a 05 de outubro de 2013 Site: http://www.ibapnet.org.br/congresso2013/
Local: Porto Alegre - RS Local: Bento Gonçalves/RS
Informações: (51) 3333.2123 Informações: http://www.encontrobrasilwinnicott.com/ VI Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica
E-mail: neapcterapiascognitivas@neapc.com.br 04 a 07 de junho de 2013
Site: http://www.neapc.com.br A Pulsão de Morte e o Não representado Local: Maceió/AL
19 de outubro de 2013 Informações: (82) 3231.8238 / (82) 3231.1335
Curso Breve - Introdução à Psicossomática dos Bebês Local: Porto Alegre/RS E-mail: mep@mepeventos.com.br
08, 15 e 22 de junho de 2013 Informações: (51) 3062.7400 Site: http://www.ibapnet.org.br/congresso2013/
Local: Porto Alegre/RS E-mail: sig@sig.org.br
Informações: (51) 3311.3008 Site: http://www.sig.org.br I Congresso Brasileiro sobre Saúde Mental e Depen-
E-mail: itipoa@itipoa.com.br dência Química
Site: http://www.itipoa.com.br Sublimação e Criatividade 12 a 14 de junho de 2013
23 de novembro de 2013 Local: João Pessoa/PB
Projetos Sociais X Dimensão Pedagógica: o uso Local: Porto Alegre/RS Informações: (83) 8773.9647
e entendimento dos conceitos na elaboração de Informações: (51) 3062.7400 E-mail: cbsmdq@cchla.ufpb.br
bons projetos E-mail: sig@sig.org.br
14 de junho de 2013 Site: http://www.sig.org.br Jornada Científica IWBion
Local: Porto Alegre/RS 14 e 15 de junho de 2013
Informações: (51) 3330.4000 Especialização em Teoria Psicanalítica e as Psicotera- Local: Porto Alegre - RS
E-mail: projecto@terra.com.br pias na Idade Adulta Informações: Fone: (51) 3319.7655 / (51) 3384.2765
Site: http://www.projecto-psi.com.br Cursos - 2013 E-mail: contato@bion.org.br
Local: Porto Alegre
Roda de Conversa Sábado de Portas Abertas na SPPA Informações: (51) 3019.5344 13º Congresso de Stress da ISMA-BR
15 de junho de 2013 Site: http://www.contemporaneo.org.br 18 a 20 de junho de 2013
Local: Porto Alegre/RS Local: Porto Alegre/RS
Informações: (51) 3224.3340 Especialização em Teoria Psicanalítica e as Psicotera- Informações: (51) 3222.2441
E-mail: sppa@sppa.org.br pias na Infância e Adolescência E-mail: stress@ismabrasil.com.br
Cursos - 2013 Site: http://www.ismabrasil.com.br
Encontro Nacional de Responsabilidade Social e Local: Porto Alegre
Sustentabilidade Informações: (51) 3019.5344 X Jornada CELPCYRO Sobre Saúde Mental: Transtor-
18 a 20 de junho de 2013 Site: http://www.contemporaneo.org.br nos Mentais e do Neurodesenvolvimento
Local: Porto Alegre/RS 21 e 22 de junho de 2013
Informações: (51) 3222.2441 Especialização em Psicodiagnóstico e Avaliação Local: Porto Alegre - RS
E-mail: stress@ismabrasil.com.br Psicológica (Para Psicólogos) Informações: relacionamento@gweventos.com.br
Site: http://www.ismabrasil.com.br/eventos/encontro- Cursos - 2013 Site: http://celpcyro2013.eventize.com.br/
-nacional-de-responsabilidade-social-e-sustentabilidade Local: Porto Alegre
Informações: (51) 3019.5344 I Congresso Multidisciplinar em Oncologia do Insti-
5º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Site: http://www.contemporaneo.org.br tuto do Câncer do Hospital Mãe de Deus
Serviço Público 21 e 22 de junho de 2013
18 a 20 de junho de 2013 Especialização em Psicanálise Vincular (Casal, Local: Porto Alegre
Local: Porto Alegre/RS família e grupos) Informações: (51) 2108.3130
Informações: (51) 3222.2441 Cursos - 2013 Site: http://www.icmd2013.com.br
E-mail: stress@ismabrasil.com.br Local: Porto Alegre
Site: http://www.ismabrasil.com.br Informações: (51) 3019.5344 II Congresso Internacional de Saúde Mental
Site: http://www.contemporaneo.org.br 07, 08 e 09 de agosto de 2013
5º Encontro Nacional de Qualidade de Vida na Segu- Local: Irati / PR
rança Pública Especialização em Teoria Psicanalítica e a Clínica Informações: congressosaudemental2013@yahoo.com.br
18 a 20 de junho de 2013 Psicoterápica Site: http://eventos.unicentro.br/cis2013/
Local: Porto Alegre/RS Cursos - 2013
Informações: (51) 3222.2441 Local: Porto Alegre XI Congresso Nacional de Psicologia Escolar e
E-mail: stress@ismabrasil.com.br Informações: (51) 3019.5344 Educacional
Site: http://www.ismabrasil.com.br/eventos/5-encontro- Site: http://www.contemporaneo.org.br 14 a 17 de agosto de 2013
-nacional-de-qualidade-de-vida-na-seguranca-publica Local: Uberlândia/MG
Pós-Graduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde Informações: abrapee@abrapee.psc.br
15º Fórum Internacional de Qualidade de Cursos - 2013 Site: http://www.abrapee.psc.br
Vida no Trabalho Local: Porto Alegre
18 a 20 de junho de 2013 Informações: 3230.3600 - ramal 4124 V Jornada de Psicoterapia da W.P
Local: Porto Alegre/RS Site: http://www.ppgcardiologia.com.br/latosensu 13 e 14 de setembro 2013
Informações: (51) 3222.2441 Local: Porto Alegre/RS
E-mail: stress@ismabrasil.com.br Especialização em Teoria Psicanalítica e a Clínica Informações: (51) 3332.3249
Site: http://www.ismabrasil.com.br Psicoterápica - Ênfase Adultos Site: http://www.jornadawp.com.br
Cursos - 2013
Sarau PsicanArte “Melhor Idade” Local: Porto Alegre 21º Congresso Mundial de Sexologia
20 de junho de 2013 Informações: (51) 3019.5344 21 a 24 de setembro de 2013
Local: Porto Alegre/RS Site: http://www.contemporaneo.org.br Local: Porto Alegre/RS
Informações: (51) 3209.6524 Informações: (51) 3086.9100
E-mail: esipp@terra.com.br Especialização em Psicodiagnóstico e Avaliação E-mail: cristinagobbo@terra.com.br
Site: http://www.esipp.com.br Psicológica Site: http://www.2013was.com/index.php
Cursos - 2013
O Acontecimento e a Cena: A realidade e o simbólico Local: Porto Alegre
no Homem dos Lobos Informações: (51) 3019.5344
22 de junho de 2013 Site: http://www.contemporaneo.org.br
Local: Porto Alegre/RS
Informações: (51) 3062.7400 Pós-Graduação em Psicologia - Lato Sensu - Terapia
E-mail: sig@sig.org.br Comportamental Cognitiva
Cursos - 2013 USO EXCLUSIVO DOS CORREIOS
Site: http://www.sig.org.br
Local: São Paulo
Informações: (11) 3288.0782 [ ] ausente [ ] endereço insuficiente
Novos Modelos de Gestão do Trabalho,
Saúde Mental e Patologia Site: http://www.estresse.com.br [ ] falecido [ ] não existe o número indicado
3 e 10 de julho de 2013 [ ] recusado [ ] desconhecido
Local: Porto Alegre - RS Grupo de Estudos e Reflexão: a clínica que-se-nos-faz [ ] não procurado [ ] inf.porteiro/síndico
Informações: (51) 3359.8090 Local: Porto Alegre - RS [ ] mudou-se [ ] outros (especificar)
E-mail: eventos@hcpa.ufrgs.br Informações: (51) 3312.6980 / (51) 9117.6800 .....................................................................................
Site: http://www.hcpa.ufrgs.br/ E-mail: mcdetoni@gmail.com
____/____/______ _________________________
Temporalidade Oficina de Produção Psicanalítica e Literária data rubrica do responsável
17 de agosto de 2013 Local: Porto Alegre/RS
Local: Porto Alegre/RS Informações: (51) 3319.7665 / (51) 3384.2765 _________________________
Informações: (51) 3062.7400 E-mail: contato@bion.org.br
VISTO
E-mail: sig@sig.org.br Site: http://www.paulofernandomonteiroferraz.blogspot.com
Site: http://www.sig.org.br

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