Os primeiros anos da década de 1980 foram marcados por uma grave recessão
econômica, provocada pela necessidade de se reequilibrar as contas externas, o que
resultou na necessidade de se recorrer ao FMI, que exigia o equilíbrio do balanço de
pagamentos como garantia de que o país seria capaz de pagar suas dívidas externas. Foi,
então, fixadas algumas metas para o ano de 1983: fixação do déficit em transações
correntes em US$ 6,9 bilhões; uma taxa de inflação de 78%, obtida pelo controle das
contas públicas; e “contenção da demanda agregada via desindexação parcial dos
salários”.
Uma política econômica ortodoxa foi aplicada entre o final de 1980 e todo o ano
de 1981 – baseada no controle dos gastos públicos, no aumento da arrecadação via
tributação e na redução da liquidez e do crédito –, resultando na queda de 4,3% do PIB
em 1981, sem que a queda da inflação o acompanhasse. Com isso, a balança comercial
voltou a ser superavitária, já que as exportações caíram e as importações aumentaram.
Porém, neste ano, os juros externos aumentaram o que, por sua vez, resultou no
aumento das despesas com juros da dívida externa. Outra consequência dessa política
econômica recessiva foi a queda de 10% da produção industrial.
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O período 1981-83 foi marcado pela estagflação, devido à uma grande redução
da atividade econômica com altas taxas de inflação. Apesar disso, em 1983 as metas do
FMI foram alcançadas, como o superávit comercial de US$ 6,5 bilhões, provocada pela
redução das importações, como consequência da política de substituição de
importações, pela pequena queda nos preços do petróleo e na contração da demanda
agregada.
“A crise da dívida externa brasileira nos anos 1980 foi decorrência direta do
processo de inserção internacional do país”. Ela provocou a desestruturação econômica
do país e a hiperinflação. Os fatores externos que contribuíram com a elevação da
dívida foram as duas crises do petróleo e o choque dos juros externos.
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Capítulo 13: Teoria da inflação inercial e política de estabilização
O Brasil, durante a década de 1980, foi marcado pela estagflação. Após uma
recuperação do crescimento entre 1984 e 1986, a crise retornou com o fracasso do plano
cruzado e a moratória da dívida externa. Altas taxas de inflação foram constantes até o
Plano Real. Após ser, aparentemente, resolvido o problema da crise da dívida externa,
com o ajuste do balanço de pagamentos, a questão principal passou a ser o controle da
inflação, visto como forma de recuperar as altas taxas de crescimento econômico.
O ajuste fiscal de 1983 não foi suficiente para estabilizar os preços, apesar de
bem sucedido em reduzir o déficit público, o que contrariava a teoria monetarista. Os
economistas neo-estruturalistas adotaram a teoria da inflação autônoma ou inercial
como explicação para o caso brasileiro. Para Ignácio Rangel, a inflação atuava como um
mecanismo de defesa da economia, que moderava os ciclos econômicos, mantendo
elevados os investimentos. A oferta era fundamental na explicação da inflação, e não o
aumento da demanda, devido aos pontos de estrangulamento de oferta causados pelo
monopólio das grandes empresas. “Não era o aumento da quantidade de moeda que
explicava a inflação, mas era o aumento desta, provocado pelo poder de monopólio e
pela necessidade de reduzir as crises cíclicas, que induzia o aumento da oferta
monetária”. Nem a teoria de Rangel nem as teorias convencionais eram capazes de
explicar os motivos que mantiam a alta inflação estável, independentemente do
mercado. Nos anos 1980, os inercialistas passaram a explicar a manutenção da inflação
num alto patamar através da idéia do processo de propagação de um aumento inicial de
preços, pelo qual a manutenção de uma margem fixa sobre os custos e os
reajustamentos alternados de preços, são fundamentais na explicação deste processo.
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Com essa nova teoria da inflação como base, buscou-se uma nova política
econômica de controle da inflação inercial, já que as políticas convencionais não
podiam ser aplicadas ao caso brasileiro. Esse controle se daria através do controle
administrativo – “política de rendas, de controle direto de preços”. Uma das propostas
que surge é o chamado choque heterodoxo, de Francisco Lopes, que consistia no
congelamento dos preços. Outra proposta é a da moeda indexada, de Bresser e Nakano
em 1984, que defendia a uma reforma monetária, onde duas moedas coexistiriam
temporariamente, enquanto os agentes econômicos redefiniriam seus contratos na nova
moeda, enquanto a estabilização ocorreria gradualmente até que a antiga moeda fosse
eliminada (a estratégia adotada pelo Plano Real).
Uma série de planos foram colocados em prática a partir de 1986, com o intuito
de estabilizar a economia, que ora consideravam apenas a demanda e ora apenas as
características inerciais da inflação. O primeiro deles foi o Plano Cruzado, cujo
principal erro foi a inclusão de uma escala móvel de salários (gatilho). Este plano
alcançou, inicialmente, a meta de redução da inflação inercial, com o congelamento dos
preços obtendo grande apoio popular, mas também desagradando muito o setor privado,
que passou a criar formas de driblar este congelamento, principalmente através dos
mercados paralelos. A elevação do consumo somada à falta de investimentos na
capacidade produtiva, devido ao congelamento dos preços, aumentava a pressão sobre
esta política, que era mantida pelo sacrifício das empresas estatais, das contas externas e
das finanças públicas. Esse déficit publicou acabou por se tornar o “início da derrocada
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do Plano Cruzado”, associada ao aumento da demanda agregada e ao desequilíbrio das
contas externas provocado pela sobrevalorização do cruzado. Com o Plano Cruzado II, e
o seu reajuste de preços e aumento da tributação como forma de reduzir a pressão sobre
as contas públicas, a inflação voltou a crescer rapidamente, devido ao gatilho salarial, os
déficits na balança comercial e a saída de capitais pioraram a situação das contas
externas levando o país à moratória do pagamento dos juros da dívida externa em 1897.
Com o fracasso do Plano Cruzado, Luiz Carlos Bresser Pereira ocupa o lugar de
Dílson Funaro no Ministério da Fazenda e lança seu Plano de Estabilização Econômica
(Plano Bresser), que mesclava idéias heterodoxas e ortodoxas, com a intenção de evitar
uma hiperinflação através do fim do gatilho, da redução dos gastos do governo, e do
controle do consumo de bens duráveis pelas altas taxas de juros. Outras medidas foram:
o congelamento dos salários e aluguéis; criação da URP (Unidade de Referência de
Preço); congelamento dos preços por três meses; e a desvalorização cambial. “A
principio, o plano, [...], atingiu alguns de seus objetivos, fazendo cair a inflação e o
déficit público e expandindo os saldos comerciais”. O sucesso do Plano foi ameaçado
por três fatores:
Com o retorno das altas taxas de inflação, Bresser foi substituído por Maílson da
Nóbrega e uma “política econômica tímida, gradual e pouco intervencionista,
eminentemente ortodoxa” (política do feijão-com-arroz) foi colocada em prática com o
objetivo de manter a inflação em torno de 15% ao mês através do desaquecimento da
economia. No início de 1989 foi criado o Plano Verão, a segunda reforma monetária de
Sarney, com a criação do cruzado novo. “O Plano procuraria, no curto prazo, contrair a
demanda agregada e, no médio prazo, promover a queda das taxas de inflação” através
das altas taxas de juros, da restrição do crédito ao setor privado, desindexação e
promessa de ajuste fiscal. Este plano, ao exemplo dos anteriores, também foi um
fracasso e logo as altas taxas de inflação retornaram.