Anda di halaman 1dari 9

Especificar a Área do trabalho

Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE


Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

Contribuições para o Entendimento da Cultura Surda na


Formação de Professores de Química.
Barbara Vieira de Souza¹(PQ)*, Carlos Alberto Franco²(PQ). barbarasouza@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campus Campo Mourão - PR. Departamento de Química¹,
Departamento de Humanidades²

Palavras-Chave: Formação de Professor, Cultura Surda

RESUMO: ESTE ARTIGO TEM COMO FINALIDADE APRESENTAR OS RESULTADOS DE DUAS HORAS/AULA PROPOSTAS
PARA LICENCIANDOS EM QUÍMICA QUE JÁ CURSARAM AS DISCIPLINAS LIBRAS I E II DE UMA INSTITUIÇÃO DE
ENSINO SUPERIOR NO PARANÁ E QUE INICIARAM SEUS ESTÁGIOS EM ESCOLAS ESTADUAIS NO SEGUNDO
SEMESTRE DE 2017. AS AULAS TIVERAM COMO OBJETIVO FAZER OS LICENCIANDOS CONHECEREM O “SURDO” E
SUAS PARTICULARIDADES, REFLETINDO SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES, PROBLEMATIZANDO O ENSINO
DE QUÍMICA PARA SURDOS. O DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA CONTOU COM A PARTICIPAÇÃO DO PROFESSOR
SURDO DA INSTITUIÇÃO, O QUAL FOI CONVIDADO A ASSISTIR OS LICENCIANDOS CONTAREM SUA BIOGRAFIA
UTILIZANDO IMAGENS, SINAIS E/OU GESTOS. OS DEPOIMENTOS DOS ESTUDANTES, APÓS A AULA, FORAM
PROBLEMATIZADOS JUNTO À AVALIAÇÃO DO PROFESSOR SURDO, RESULTANDO NA CONCLUSÃO DE QUE
DEVEMOS INVESTIR EM PRÁTICAS ENTRE AS DISCIPLINAS DO ENSINO SUPERIOR, POSSIBILITANDO MELHOR
COMPREENSÃO DO “SURDO” PELOS FUTUROS PROFESSORES.

INTRODUÇÃO

“Libras é língua” (GESSER, 2009, p.9). A Língua Brasileira de Sinais - Libras -


é reconhecida legalmente desde 2002 (BRASIL, 2002) como a língua das comunidades
dos Surdos brasileiros; desde 1960, é reconhecido o status linguístico das línguas de
sinais, entretanto sobram dúvidas, crenças e preconceitos (GESSER, 2009) em uma
sociedade majoritariamente ouvinte e falante. A Libras é uma língua visual-espacial,
que se apresenta por meio de signos linguísticos - códigos compartilhados e
estruturados em uma língua (FERREIRA et. al., 2011, p.17) - diferindo de gestos
espontâneos ou mímicas (ANDREIS-WITKOSKI, 2015; FERREIRA et. al., 2011;
GESSER, 2009).
Já é sabido pelos formadores de professores desde 2005 (BRASIL, 2005) que
a Língua Brasileira de Sinais (Libras) deve fazer parte das disciplinas obrigatórias dos
currículos dos Cursos de Licenciatura nas diferentes áreas do conhecimento. As
Instituições de Ensino tiveram um prazo de até dez anos para adaptarem os currículos,
preparando-se para oferecer a disciplina LIBRAS, com professores que respeitem os
critérios de formação estabelecidos pelo decreto n°5.626 (BRASIL, 2005),
independente se Surdos ou Ouvintes.
Decorridos 13 anos do decreto n°5.626 (BRASIL, 2005), encontramos a
Instituição de Ensino Superior na qual tratamos neste artigo cumprindo com a
legislação. Ao que nos interessa, o curso superior em Licenciatura em Química possui
duas disciplinas, Libras I e Libras II, ministradas atualmente por um professor Surdo,
satisfazendo legalmente as necessidades formativas dos Licenciandos. Contudo, é
difícil dizer sem um estudo a relação que os licenciandos mantém com a disciplina
após o seu término e, ainda mais importante, qual a percepção que guardam do Surdo,
a sua maneira de comunicação e sua presença no mundo.
Situamos histórica e socialmente nossa discussão entre dois extremos. O
primeiro, proveniente de um movimento pela exigência da oralidade e repressão da

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

língua de sinais em busca de um corpo normalizado e uma língua padrão, demarcado


pelo Congresso de Milão em 1880, influenciado pela Ciência do século XIX, a qual
construiu uma concepção de corpo saudável e produtivo, ouvinte e oralizado
(BAALBAKI, CALDAS, 2011, p.1887). Esta compreensão enaltece a concepção de
surdez arraigada à deficiência, à incapacidade e à falta de audição (LOPES, 2007). O
surdo, neste entendimento, deve se adaptar às condições sociais que lhe são
apresentadas, deve passar a falar (oralização), passar a ouvir (leitura labial), passar a
ser um ouvinte (ouvinte deficiente), para ser incluído na sociedade.
Já o segundo extremo emerge, aproximadamente um século mais tarde, do
movimento de luta pela liberdade de comunicação através das línguas de sinais as
quais entendidas como expressão cultural dos sujeitos Surdos os lança sob o
entendimento de Povo Surdo (STROBEL,2013; ANDREIS-WITKOSKI, 2015). Nesta
posição, compreende-se o Surdo com o direito de “Ser Surdo” e não como um
deficiente auditivo. A estranha ideia de separar a deficiência da Surdez é dificilmente
compreendida em um primeiro momento, mas aprofundamos. Não negamos “a falta de
algo”, mas sobrepondo a “falta de” posicionamos como central a capacidade dos
Surdos de possuírem uma história própria de luta pelo direito a comunicarem-se em
sua própria língua, em assumir o mundo do aspecto visual e não auditivo, através de
uma Cultura Surda (STROBEL, 2013).
Defendemos a ampliação da abordagem da Cultura Surda no currículo da
Licenciatura em Química com objetivo fazer com que os estudantes percebam
aspectos da dimensão histórica, política e social em que os Surdos se encontram e
passem a compreendê-los, não apenas como estudantes deficientes, mas como
pessoas capazes de estarem ao seu lado no Ensino Superior e no desenvolvimento da
área Química.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Ao iniciar o 2° semestre letivo de 2017, 6 Licenciandos em Química, da


disciplina Estágio Supervisionado I, foram avisados da visita de um professor Surdo,
contudo, não foram avisados sobre a data da atividade, nem como a mesma se
realizaria. Próximo ao final do semestre, solicitou-se uma apresentação em Power
Point, somente com imagens, que representassem aspectos biográficos, como: nome,
cidade de origem, idade, gosto para comida, música e lazer. Tais aspectos fazem parte
do grupo de sinais básico de apresentação na Língua Brasileira de Sinais, o qual, em
hipótese, os Licenciandos, por terem realizado as disciplinas Libras I e II da grade
curricular do curso, obrigatória para a formação de professores segundo o decreto
n°5.626/2005, teriam conhecimento.
O professor Surdo foi convidado a assistir tais apresentações dos estudantes,
sem saber os objetivos das mesmas, com o intuito que o mesmo pudesse fazer suas
próprias observações, durante e após as aulas. Concluídas as apresentações dos
Licenciandos, o professor Surdo se tornou o principal condutor da aula, comunicando-
se com os Licenciandos, contando a sua história de vida e experiências acadêmicas.
Apresentou a Comunidade Surda e como considera-se parte da mesma.
A aula não foi contabilizada como uma atividade avaliativa, somente formativa,
o que não diminui a sua importância, entretanto, não permite total compreensão de sua
abrangência. Para saber o real impacto das aulas, decidimos coletar o depoimento
escrito dos Licenciandos no início do semestre letivo de 2018. Considera-se que o

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

relato feito depois de algum tempo, férias coletivas, demonstra o que de fato foi
significativo para cada um na ocasião.
Concebemos os depoimentos dos Licenciandos o nosso material de estudo,
“corpus de análise”, tratado a partir da Análise Textual Discursiva - ATD (MORAES,
2003). A etapa de “unitarização” (MORAES, 2003), ou fragmentação das ideias centrais
dos depoimentos, foram realizadas de maneira a construir categorias emergentes,
buscando aprofundar a discussão sobre a Formação de Professores de Química e o
Ensino para Surdos a partir de uma análise criteriosa dos depoimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O contato com os Licenciandos em 2018 foi garantido, já que permanecem na


graduação. Todos os (seis) alunos entregaram o depoimento por escrito, facilitando a
análise dos dados. Após uma primeira leitura, fragmentamos o texto em frases com
ideias convergentes e a partir destas, emergiram 6 categorias de análise as quais
denominamos como: i) a importância da aula; ii) o aprendizado resultante; iii) o
compartilhamento da experiência de vida do professor Surdo; iv) considerações a
respeito das disciplinas Libras I e II; v) maneiras de compreender as limitações do
Surdo; vi) A experiência prévia com pessoas surdas. A Tabela 1 apresenta de que
maneira os Licenciandos corroboraram para a formação das categorias:

Tabela 1: Participação dos Licenciandos nas Categorias de Análise

Participação/ Categoria Categoria Categoria Categoria Categoria Categoria


Categoria de i ii iii iv v vi
Análise
Licenciando5 X X X X
Licenciando3 X X X X X
Licenciando2 X X X X X
Licenciando1 X X X X X X
Licenciando6 X X X X X X
Licenciando4 X X X X

CATEGORIA I. A IMPORTÂNCIA DA AULA


Como já apresentado na Tabela 1, todos os licenciandos tiveram participação
na construção desta categoria, em sua maioria elogiando a atividade: sensacional,
incrível, proveitosa, relevante, divertida e importante.
Iniciando a discussão desta categoria, destacamos o seguinte trecho: “(...) para
mim foi sensacional, é uma pena que a aula tenha sido tão curta, mas a experiência foi
boa.” (Licenciando 1). Ficamos muito empolgados com a ideia de realizar uma
sequência com um número maior de aulas, do que a apresentada aqui (2horas/aula), já
que consideramos os Estágios Supervisionados o momento adequado para os
Licenciandos interagirem com públicos diversos, reconhecerem seus limites e
buscarem preparo para situações que não são consideradas rotineiras, apesar de mais

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

comuns a cada dia, como a inclusão de estudantes Surdos em salas regulares de


ensino.
A segunda ênfase que damos a esta categoria é a da dimensão lúdica.
Consideramos a ludicidade em sala de aula como algo além de jogos e expressões
artísticas. Segundo Luckesi (2014) o conceito de ludicidade não é dicionarizado, não é
definido, mas construído pelas experiências e vivências proporcionadas por ambientes
escolares, em que há por parte dos sujeitos o envolvimento completo na atividade, um
entregar pleno a experiência. Percebemos tal experiência no comentário do
Licenciando 5: “A aula diferenciada foi de extrema importância (...) Foi uma aula muito
boa e gratificante (...) A participação dos alunos foi um tanto divertida e reflexiva” (grifo
nosso).
Encerramos a categoria com a continuidade da análise do comentário do
Licenciando 5 como além de divertida, “reflexiva”. Ao analisarmos por essa perspectiva,
verificamos que nossa aula não permaneceu na experiência pela experiência na qual
os licenciandos foram cativados a participarem, mas sim, foi um momento de revisitar
um conhecimento; conhecimento que foi apreendido nas disciplinas anteriores, Libras I
e II, talvez de maneira mais teórica ou distante e representadas nesta proposta de
maneira mais prática, colocada em discussão através do diálogo com o professor
Surdo, levando a novas concepções “em prol da igualdade e da justiça” (BINATTO,
CHAPANI, DUARTE, 2015, p.139), possibilitando o conhecimento de outras realidades,
como o das minorias linguísticas (Surdos).
O caráter coletivo das discussões, essencial para o exercício da reflexão e
organização do conhecimento, foi também reforçado no depoimento do Licenciando 3:
“A Aula foi de grande aprendizado, acredito que não só para mim, mas também, para o
restante da turma (...)”.

CATEGORIA II. O APRENDIZADO RESULTANTE

Algum aprendizado, todos os estudantes relataram ter adquirido, contudo, nem


todo aprendizado é relevante para a formação do professor que poderá trabalhar com
estudantes Surdos. Levantamos aqui, a maior contribuição da aula para a perspectiva
daqueles que por ventura vierem encontrar em sua sala estudantes Surdos.
O aprendizado se deu em dois momentos, o primeiro, durante as
apresentações. Os licenciandos perceberam que o conhecimento que tinham até ali
não era suficiente para a comunicação com Surdos de maneira eficiente, como
apresentado no relato do Licenciando 1: “Tive a consciência na prática da minha
inabilidade com Libras e é de fato muita surpresa, imagino como deve ser para
professores de Ensino Público”. A aula não resolveu esta situação, mas certamente os
preparou para encarar como um desafio e não como um problema a recepção do
estudante Surdo em sua turma.
O segundo momento de aprendizado, consideramos, o mais significativo, se
deu através da comunicação do professor surdo com os Licenciandos, como podemos
perceber através dos depoimentos a seguir:
“O professor nos mostrou a importância da Cultura Surda, tanto para nós,
quanto para qualquer Surdo, seja ele criança ou adulto, pois a Libras deve ser
sua língua materna e não a língua portuguesa (...)” (Licenciando 2)

“A aula conseguiu quebrar quaisquer dúvidas sobre a capacidade de


desenvolvimento cognitivo de surdos e deles trabalharem em empregos que
necessite se comunicar com o cliente” (Licenciando 3)
XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)
Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

“Fui capaz de compreender as concepções, adversidades e o cotidiano de uma


pessoa Surda. Provando que todos possuem total capacidade de
aprendizagem, o que diferencia é apenas a comunicação” (Licenciando 6)

Os licenciandos reconheceram a existência de uma Cultura Surda, que foi


frisada através do relato do professor Surdo sobre sua História de Vida e Experiências
Acadêmicas. Entendemos que os licenciandos reconheceram os Surdos como viventes
em uma sociedade excludente, começando a compreende-los enquanto minoria
linguística no país (FERNANDES, MOREIRA, 2014), percebendo que há falta de
oportunidades para os Surdos e não falta de habilidades.

CATEGORIA III. O COMPARTILHAMENTO DA EXPERIÊNCIA DE VIDA DO PROFESSOR SURDO

Essa categoria é derivada imediatamente da anterior. Os Licenciandos foram


enfáticos ao retratar que o depoimento dado pelo professor de Libras foi essencial para
a mudança de perspectiva sobre a pessoa Surda, destacamos dois dos depoimentos:

O professor nos fez entender que o surdo também merece lutar pelos seus
objetivos e sonhos e que eles podem alcançar. Os relatos da sua vida, da
família e de como chegou até a Universidade foi emocionante, pois mostrou
sua determinação (Licenciando 1)

(...) não somente pela simpatia do professor, mas pela história que ele trouxe
sobre sua vida e suas experiências que enriqueceu bastante o (pouco)
conhecimento que eu tinha sobre Cultura Surda. (Licenciando 5)

Por certo, não compreendemos a história de vida do professor Surdo como um


conhecimento científico, mas não podemos negá-lo como um saber. O professor Surdo
tem sua experiência e sua formação que juntos formam sua história de vida, que são
saberes que podem e devem ser compartilhados em momentos apropriados, como
nesta proposta. Evidenciando que a história de vida foi o “objeto mediador” do
conhecimento entre sujeitos de culturas diferentes, viabilizando o diálogo entre aqueles
que antes não se reconheciam (DELIZOICOV, 2011).

CATEGORIA IV. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS DISCIPLINAS LIBRAS I E II

Se existem problemas após duas disciplinas de Libras precisamos questionar o


que está sendo ensinado nas mesmas para compreender a razão dos Licenciandos
chegarem um ano após a realização da segunda disciplina sem saber informações
contundentes sobre os Surdos e os estudantes Surdos.
“...pôde-se ver que não há uma preparação tão grande para ter alunos Surdos
em sala de aula, já que estamos em formação para atuar como professores...”
(Licenciando 1)

Uma das hipóteses mais obvias seria delegar a responsabilidade para o


professor que ministrou as disciplinas para estes Licenciandos, julgando-o rapidamente
como incapaz de educar para a formação de professores aptos a receberem
estudantes Surdos. Outra questão seria dizer que o professor que ministrou as aulas

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

não é Surdo, mas Ouvinte e afirmar que estes Licenciandos foram prejudicados em
suas experiências acadêmicas. Contudo, não apostamos em nenhuma das hipóteses
levantadas.
A questão da exclusão do Surdo, considerá-lo deficiente e não reconhecer sua
Cultura ou sua Língua é uma questão histórica, social e cultural. Por anos os sujeitos
Surdos lutaram pelos seus direitos de comunicação através dos sinais, pelo
reconhecimento de sua Língua e continuam batalhando por espaço na sociedade.
Assim, não é possível em 1 ou 2 semestres fazer com que anos de pensamento
hegemônico seja superado e esquecido.
Comprovando que o professor ouvinte não foi o responsável pela inexperiência
dos Licenciandos, apresentamos o depoimento de um dos estudantes com relação as
disciplinas anteriores:
“... embora interessante as disciplinas de libras não são nem um pouquinho
suficiente para alcançar algum bom contato e conhecimento sobre a cultura
surda, embora o professor que me lecionou essas disciplinas fosse de fato
excelente” (Licenciando 1).

Não sendo o professor o culpado pelo despreparo comentado na Categoria ii.


Com relação a atuação dos Licenciandos, o professor Surdo os avaliou de
maneira positiva, por reconhecer o esforço na utilização de gestos com sinais básicos
da Libras, superando um desafio. Sem retirar esse mérito dos Licenciandos, o
professor Ouvinte esperava melhor comunicação depois de duas disciplinas concluídas
em Libras. O professor Surdo, como falante bilíngue (libras-português) se comunicou
muito bem com os estudantes, fazendo-se entender no seu momento da aula, mas a
comunicação foi prejudicada quando informação foi proveniente dos Licenciandos,
como demonstra o depoimento abaixo:

Tivemos facilidade em nos comunicar com ele, principalmente pelo fato dele
falar também, assim não tivemos tanta dificuldade como seria caso tivéssemos
que entender todos os sinais. (Licenciando 4)

Esperava-se, ao menos com relação ao uso do espaço, da expressão corporal


e facial e uso das imagens (material de apoio), melhor relação e desenvolvimento, algo
para ser pensado em uma próxima oportunidade.

CATEGORIA V. A EXPERIÊNCIA PRÉVIA COM PESSOAS SURDAS


Somente dois dos Licenciandos já haviam tido contato com Surdos, porém
ambos, ao que parece, passaram por experiências distantes, tendo em vista que
somente um deles comentou essa experiência:

Eu já havia tido um pouco de contato com surdos antes, tive um amigo na


infância, mas foi muito breve, pois naquela época me mudava bastante. Mais
tarde na adolescência fiz um curso técnico onde havia uma turma só de surdos,
então sempre os via durante os intervalos. Ambas as experiências foram bem
fracas e distantes. (Licenciando 1)

O pouco contato, ou nenhum, com Surdos impede os Licenciandos de


compreenderem a realidade daqueles que fazem parte da Comunidade Surda. Como
dialogam, convivem e se expressam através da Língua de Sinais.

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

CATEGORIA VI. MANEIRAS DE COMPREENDER AS LIMITAÇÕES DO SURDO

Mesmo assimilando em algum grau a Cultura Surda, entendendo a capacidade


dos Surdos em estarem ativos na sociedade, os Licenciandos ainda demonstraram em
seus depoimentos uma maneira de compreender as limitações do Surdo enquanto
deficiente e não enquanto minoria linguística (FERNANDES, MOREIRA, 2014).
Aspectos como o de acessibilidade, adaptação e mesmo, chamá-los de deficientes,
demonstra que o padrão de pensamento não foi transformado.
“Portanto como futura professora, me vejo tendo a obrigação de compreender
as limitações de pessoas com diferentes deficiências...” (Licenciando 6,
grifo nosso).

“... devem se surpreender muitos professores com o fato de uma hora para
outra ter que adaptar todos os seus métodos de ensino para um novo tipo
de público...” (Licenciando 5, grifo nosso).

Existiram depoimentos em que foram possíveis visualizar a mistura de ideias,


nos quais o Licenciando considerou seu aprendizado durante a aula, de fato,
importante, e ao mesmo tempo utiliza-se de expressões, as quais ainda não
reconheceu como pertencentes a maneira hegemônica de pensar.
"Era muito difícil para mim até aquela aula imaginar um deficiente auditivo
que conseguisse se comunicar com pessoas ouvintes com tanta facilidade e
fluência.” (Licenciando 2, grifo nosso)

“... pudemos compreender um pouco como é a realidade do surdo na


sociedade e principalmente que podem fazer tudo que os ouvintes fazem, as
vezes com mais dificuldade, mas com persistência é possível.”
(Licenciando 4, grifo nosso)

Somente em um dos depoimentos foi possível identificar uma superação sem


incorporação do discurso daquele que ouve (LOPES, 2007)
“Eu só pude compreender isso depois desta aula, pois anteriormente eu
achava que os surdos é quem tinham que se adequar a nossa língua e agora
posso ver o contrário” (Licenciando 3).

O que demonstra que a aula teve resultados, significativos e duradouros, tendo


em vista que os depoimentos não foram recolhidos logo após o encerramento da
atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atendendo ao chamado de Lopes (2007, p,221):
“Que perguntem, que esclareçam todas as suas dúvidas e que conheçam
nossas diferenças e que nos tratem como tal, é a questão para que não se
invente anormalidades onde elas não existem”

Nossa experiência foi próspera no que diz respeito à proposta de aula,


realizada entre um professor Surdo e um professor Ouvinte em uma disciplina que visa
a formação do futuro professor. Foi oportuno o estímulo aos questionamentos dos
licenciandos, resultando em respostas mais satisfatórias do que esperávamos, pois o
objetivo inicial era somente uma atividade com a presença do professor Surdo,
XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)
Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

reconhecendo que as disciplinas anteriormente realizadas foram dadas por um


professor Ouvinte, assim como, a convivência com Surdos ainda não faz parte da
rotina da maioria das pessoas.
Era esperada alguma dificuldade dos Licenciandos em se comunicarem em
Libras, afinal, como qualquer língua que não seja praticada, perde-se vocabulário e a
habilidade na comunicação. Ainda, diferente das línguas orais, a Libras, uma língua
visual-espacial, necessita da desinibição de seus sinalizantes, pois está fortemente
apoiada sobre expressões corporais e faciais, que a timidez ou nervosismo, limitam.
O despertar dos Licenciandos para a Cultura Surda foi um dos resultados mais
significativos da proposta, o próximo desafio é reestruturar a atividade com o intuito de
não só colaborar para a transmissão de informações sobre a Cultura Surda, mas
reforçar a compreensão de que a Surdez não faz do Sujeito Surdo um não capaz
(deficiente). Consideramos, apoiados em Strobel (2013), que o ouvinte tem dificuldade
de aceitar a Surdez, assim como tem dificuldade de aceitar que Surdo possa estar
satisfeito com a sua condição de Surdo.
Repetiríamos a experiência para que a formação do professor em Química
fosse mais completa quando nos voltamos aos Surdos e estabeleceríamos um
ambiente de maior problematização visando a superação dos argumentos que
restaram, facilitando o diálogo entre professores e estudantes de maneira mais
organizada, através de questões norteadoras (elaboradas previamente).
A ideia de compor as aulas da graduação com sujeitos Surdos (ou ainda, de
sujeito que façam parte da Comunidade Surda sendo Surdos ou Ouvintes)
vislumbrando o reforço da teoria sobre a vida e a história dos Surdos se mostra uma
abordagem interessante para que a Cultura Surda ganhe força e o discurso
hegemônico seja também superado na prática.
Os Surdos almejam escolas bilingues (Libras-Português) (FENEIS,1999), mas
isso só será possível quando existirem profissionais Surdos formados ou profissionais
Ouvintes dominando a Libras e ambas as situações ainda parecem distantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAALBAKI, Angela. CALDAS, Beatriz. Impacto do Congresso de Milão sobre a Língua dos Sinais. Anais
do XV Congresso Nacional de Linguística e Filologia. Cadernos do Congresso Nacional de Linguística e
Filologia, vol. XV, nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p.1885-1895. Acesso em 15/05/2018.
Disponível em <http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/156.pdf>.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a língua brasileira de
sinais. Brasília, 2002.
BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de
2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de
dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 2005.
BINATTO, Priscila. F.; CHAPANI, Daisi. T.; DUARTE, Ana, C.S. Formação Reflexiva de Professores de
Ciências e Enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade: possíveis aproximações. Alexandria: Revista de
Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis, vol.8, n°1, p.131-152, mai., 2015.
DELIZOICOV, Demétrio. Sociogênese do conhecimento. Disciplina do Curso de Pós-Graduação
em Educação Científica e Tecnológica. Florianópolis, UFSC. Setembro, 2011.
FENEIS. Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. A educação que nós surdos
queremos. Documento elaborado pela comunidade surda a partir do pré-congresso ao V Congresso
latino-americano de Educação Bilíngue para Surdos, realizado em Porto Alegre/RS, no salão de atos da
reitoria da UFRGS, nos dias 20 a 24 de abril de 1999.

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.
Especificar a Área do trabalho
Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) IPE
Curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Acre (LQ/UFAC)

FERNANDES, Sueli; Moreira, Laura. C. Políticas de Educação Bilíngue para Surdos: o contexto
brasileiro. Educar em Revista, Curitba-PR. Edição Especial, n°2, 2014, p.51-69.
GESSER, Audrei. LIBRAS: que língua é essa? Crenças e preconceitos em trono da língua de sinais e a
realidade surda. Estratégias de Ensino. Ed. Parábola: São Paulo, 2009.
LOPES, Maura. C. Surdez & Educação. Coleção Temas & Educação. Ed. Autêntica: Belo Horizonte,
2007.
LUCKESI, Cipriano. Ludicidade e Formação do Educador. Revista entreideias: educação, cultura e
sociedade. vol. 3, n°. 2, 2014.
MAIA, Valdeci.; VELOSO, Éden. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Ed. MãoSinais. Curitiba-PR,
9° Edição. 2014.
MORAES, Roque. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual discursiva.
Ciência & Educação, v. 9, n° 2, 2003, p. 191-211.
STROBEL, Karin. As Imagens do Outro sobre a Cultura Surda. 3° ed. UFSC: Florianópolis - SC.2013
WITKOSKI, Silvia. A. Introdução à LIBRAS: língua, história e cultura. Ed. UTFPR: Curitiba - PR, 2015.

XIX Encontro Nacional de Ensino de Química (XIX ENEQ)


Rio Branco, AC, Brasil – 16 a 19 de julho de 2018.

Anda mungkin juga menyukai