Categorizamos três tipos de desenhos obtidos pela atividade realizada com as

crianças de período pré-operatório de escola pública e de escola privada. O primeiro tipo,

foi caracterizado de acordo com o que percebemos maior semelhança com o desenho
modelo que foi feito pela designer de interiores Sandra Lazzerini, e, que estavam mais de
acordo também com a proposta de interpretação e análise de desenhos da psicóloga Nicole
Bédard, baseado nos pressupostos teóricos de Piaget sobre o desenvolvimento
característico de cada período da criança.
O segundo tipo de desenhos é o intermediário que foi assim categorizado em
função de estar menos semelhante ao desenho modelo que os desenhos do primeiro tipo
e por apresentar características que demonstravam representação ainda mais distante que
o tipo anterior. No terceiro tipo ficaram os desenhos que não apresentaram uma
representação do modelo de desenho que serviu como parâmetro.
As interpretações e análises foram feitas, seguindo o que percebemos proposto no
referencial teórico adotado.

Resultados
A criança escolhe a posição, o tamanho, as demais características do desenho em
questão, de acordo com a psicóloga Nicole Bédard. O desenho da criança é significativo
no sentido de que representa uma carga simbólica para cada criança, mesmo que não
indique características equivalentes aos desenhos “profissionais” ou que representem
melhor a realidade, conforme mostraremos a seguir.
Na figura 1, temos o desenho feito pela designer de interiores Sandra Lazzerini
que usamos como modelo para interpretar e analisar os desenhos produzidos pelas
crianças de 6 anos, que estudam na escola pública e também das que estudam na escola
privada.
 Figura 1: Desenhado pela designer de interiores Sandra Lazzerini

Como visto, o cubo desenhado pela designer de interiores representa a realidade

de forma clara e objetiva, isso é possível perceber, ao olhar o cubo que foi utilizado para
sugerir às crianças que o desenhassem. A foto do cubo utilizado está em anexos deste
trabalho.
Na tabela seguinte, é possível observar a distribuição das categorias de que
tratamos na descrição da análise feita no tópico anterior. E, essa distribuição foi feita a
partir da seleção interpretativa dos desenhos das crianças, baseada no referencial teórico.
Para isso, estão discriminados na tabela os desenhos que mais se aproximam do desenho
modelo do cubo em questão; os que parcialmente se aproximaram e os que menos se
aproximaram à representação modelo, respectivamente.
A aproximação destacada foi definida não especificamente em função da
representação fiel da realidade, mas, a partir dos aspectos simbólicos representacionais
que nos permitem interpretar o desenvolvimento motor dessas crianças de escola pública
e de escola privada, bem como, sutilmente, observar a simbologia presente em suas
produções.

Categorias do desenho baseadas no modelo da figura 1

Desenhos de crianças Maior Aproximação Fora do padrão
de aproximação intermediária
Escola pública 4 6 3
Escola privada 12 0 1
 Na tabela acima, a soma dos desenhos produzidos por todas as crianças tem um
total de 26, onde 13 desenhos são das crianças de escola pública e 13 são das crianças de
escola privada. Dividimos estes desenhos em três categorias, onde na primeira ficaram os
que têm maior aproximação com o desenho modelo e representação da realidade; a
segunda categoria, ficaram os que se aproximaram parcialmente e a terceira categoria
comporta os desenhos que estão totalmente fora do padrão estabelecido a partir do modelo
utilizado e do referencial teórico.
Nos desenhos do primeiro tipo— os que apresentam maior aproximação do
desenho modelo, notamos que dos 13 desenhos produzidos pelas crianças de escola
pública e dos 13 produzidos por crianças de escola privada, apenas 4 desenhados pelas
crianças de escola pública se enquadravam nessa classificação, em razão de
demonstrarem mais de uma dimensão do cubo que foi o objeto sugerido para a atividade.
A aproximação intermediária sugerida comporta 6 desenhos de crianças de escola
pública e 0 desenhos de crianças de escola privada. Essa classificação seu pelo motivo de
existirem desenhos que não apresentaram mais de uma dimensão, no entanto,
apresentaram alguns elementos a mais que os desenhos que não se enquadravam no
padrão de aproximação.
Os desenhos que não se enquadraram no padrão de aproximação foram assim
classificados em função de não apresentarem nenhum aspecto que pudesse, mesmo que
sutilmente, indicar uma aproximação ao modelo de representação do real, sugerido pelo
referencial.
A título de interpretação, notamos de 13 desenhos do cubo feitos pelas crianças
de escola privada, 12 apresentavam mais de uma dimensão, contudo, estes demonstram
maior aproximação do desenho modelo do que produzidos pelas crianças de escola
pública, mesmo não alcançando a real representação.
Ambos, representam as dimensões, mesmo que de forma unidimensional, e estes
desenhos se posicionam no centro do papel e apresentam grande dimensão de forma
quando se trata dos das crianças da escola pública e média dimensão de forma, os das
crianças da escola privada. Essa característica, de acordo com a psicóloga Bédard
representa
O momento atual, todo desenho situado no meio da página revela-nos
que a criança está aberta a tudo o que ocorra ao seu redor. Normalmente
esse tipo de criança não vive ansiedades nem tensões. Ao comtemplar
 os acontecimentos passados ou futuros não sente inquietude nem
alguma insegurança. (p. 7)

A apresentação de grande dimensão de forma pode demonstrar que a criança tem

certa segurança, porém, pode significar que a criança está desejando se tornar visível e
requerer afirmar-se seu lugar por não sentir que lhe prestam a devida atenção, como
sugere Bédard (2000). Assim, é devido observar outros elementos presentes no desenho.
Nesse sentido, ao interpretar o simbolismo do desenho do cubo, é importante
destacar observações básicas dos traços simples que permitem informações de relevância
dependendo se forrem contínuos, oblíquos, se estiverem manchados, etc. Dos 26
desenhos, tanto os produzidos pelas crianças de escola pública quanto os produzidos pelas
crianças de escola privada, todos apresentam traços contínuos, e, esse
Movimento que se desloca sobre o papel sem interrupção e sem ser
cortado por outras linhas denota um espirito dócil. Se as linhas forem
precisas assinalam, ao mesmo tempo, certa harmonia. Estaremos diante
de uma criança que não trata de forçar as coisas nem tenta atrasá-las. É
uma criança que respeita seu ambiente, buscando tanto seu bem-estar
físico como a paz. (p. 8)
Os desenhos que obtiveram aproximação intermediária apenas formam 6,
observados nas produções das crianças de escola pública e nenhum feito por crianças de
escola pública. Essa categoria representa os desenhos com uma dimensão e posicionados
no centro do papel, com mais elementos como algumas marcas circulares existentes no
cubo de isopor e o formato quadrado sugerido. Já na terceira categoria, estão contidos os
desenhos que não apresentam a menor aproximação por expressarem apenas uma forma
geométrica quadrada ou circular.
Sobre a pressão conferida aos traços, a crianças podem realizá-lo contendo força
ou debilidade. Os 6 desenhos da categoria de aproximação intermediária feitos pelas
crianças de escola pública e os 3 que estão fora do padrão feitos por crianças da mesma
escola; e, 1 desenho feito por criança de escola privada, ambos apresentam forte pressão
nos traços. Já os 4 desenhos da categoria com maior proximidade dos de escola pública e
os 12 da mesma categoria, apresentam suave pressão nos traços. E, isso demonstra, de
acordo com Bédard(2000)
Uma boa pressão indica entusiasmo e vontade. E quanto mais forte for,
mais agressividade existirá. Se os traços forem superficiais é porque a
criança realiza seu desenho de um modo distante, sem demasiada
convicção. Entretanto, isso pode ser atribuído ao cansaço físico. (p. 9)
 As formas contidas nos desenhos das crianças denotam pontos comuns e permitem
a interpretação de enfoques psicológicos.
Os 6 desenhos da segunda categoria proposta que são os desenhos com
intermediaria aproximação e os 3 desenhos da terceira categoria, que são os desenhos
totalmente fora do padrão, todos apresentam, simplesmente, um quadrado e um círculo.
Como qualquer outro símbolo, o círculo pode ter uma
interpretação positiva ou negativa. O contexto e a evolução dos
desenhos serão seus determinantes. Um movimento ágil com certa força
e energia em seu traço revela o aspecto positivo. É como se depois de
ter vivido uma determinada experiência, alguém tivesse saído com mais
fortaleza e valor, de tal forma que, se esse feito, tornasse a ocorrer já o
veríamos de outra forma. [...] dá-nos a entender que a criança prefere
ocupar-se de coisas que já viu e conhece. ( BÉDARD, p. 10)

Os círculos apresentavam traços amplos e finos, já os quadrados apresentam traços

rígidos e, isso, simboliza, de acordo com (BÉDARD, p. 10)
a solidão, a determinação e o poder de decisão. Pode também significar
uma atitude ou um comportamento rebelde por influência exterior. Não
é uma forma expansiva, porém mais bem concentrada.
As formas quadradas encontram-se com mais frequência nas crianças
que têm uma grande necessidade de se movimentarem, de queimar
energia. Algumas vezes se poderia dizer que este tipo de criança carece
de delicadeza, tanto nos seus movimentos como nas suas palavras e
pode tornar-se demasiadamente brusca. É uma criança com caráter
forte, que não muda de opinião com facilidade. O bom é que ela é
consciente dos motivos que a guiam. Sua principal força é o espirito de
competição, e sua debilidade a falta de compaixão.

Assim, de acordo com os resultados analisados, e a partir do modelo de desenho

do cubo utilizado como parâmetro podemos sugerir que as referências produzidas por 4
crianças de 13 de escola pública se aproximaram razoavelmente do desenho parâmetro; e
de 13 produzidas por crianças de escola privada, 12 destas últimas se aproximaram
sutilmente do parâmetro.
Com isso, é possível destacar que nenhuma das 26 crianças foram capazes de
representam o desenho ou a realidade de forma logicamente válida, porém, as crianças
que mais se aproximaram da representação demonstraram melhor desenvolvimento motor
que sugerem melhor firmeza e qualidade nos traços, bem como boa pressão e válida
produção das figuras geométricas, de acordo com o que propõe o período pré-operatório
proposto por Jean Piaget.

Discussão
Mesmo não sendo capazes de representar a realidade de forma correta, os
desenhos das crianças da primeira categoria, estas crianças perceberam que o cubo
apresenta mais de uma dimensão de forma. Contudo, pelo que foi observado nos desenhos
de todas as crianças, destacamos que sobre a ação motora ou a ação é o que move o
pensamento humano, pensamos se essas crianças são capazes de refletir a realidade ou se
elas precisam aprendê-la a partir da ação.