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A MALDICAO DO VALE NEGRO Em colaboracao com Luis Artur Nunes Pega em um ato PERSONAGENS Narrador Agatha, uma velha governanta Conde Mauricio de Belmont, um velho nobre, muito doente Rosalinda, uma donzela de 19 anos Marqués Rafael d’Allencon, um mancebo Condessa Ursula de Belmont, irma do conde e louca Jezebel, uma cigana Vassili, um cigano cego CENA 1 RADOR — Na provincia francesa de Castelfranc, estende-se ;oberto por densa floresta de pinheiros e ciprestes, conhecido ie de Vale Negro. No topo de uma das montanhas que domi- ile, ergue-se, imponente, o castelo dos condes de Belmont, de ima linhagem e senhores daquela regifio. A nossa histéria io na tarde de 15 de abril do ano da graca de 1834. Uma chuva fria cai sobre a terra, paralisando a formosa primavera, que a parte comecava a ostentar os dons fecundos do seu rico reino. Numa sala do castelo, o velho conde Mauricio, ultimo 149 Te AT Ro) 0G OM Pie em 0) A matoirgho vo Vawter NeEGgro descendente da estirpe e que, outrora, governara seus dominios o, mio de ferro, dorme um sono entrecortado de gemidos e sobressaltg A governanta Agatha, que ha muitos anos serve a familia, pinga lentg mente algumas gotas de uma tisana escura num calice de cristal. 1 AGATHA — Uma... duas... trés... quatro... cinco... seis... sete... Ach que é o suficiente por hoje. (Observa Mauricio.) Talvez mais uma o duas... (Pinga mais.) Ou trés. MAURICIO (Gemendo.) — Agatha... Sinto-me dolorosamente Agatha... Nao vais dar-me a tisana? AGATHA — Estava justamente a prepard-la para vés, senh conde. Aqui esta. (Serve-he.) MAURICIO — Arre, que sabor repugnante! E se ao menos adianta se de alguma cousa! Parece-me, ao contrario, que estou cada vez pi Agatha... Oh, Senhor, que cruéis provagées ainda me reservar o desti AGATHA — Nao vos preocupeis demasiado, senhor conde. Deus, sua infinita bondade e misericérdia, saberé por certo apiadar-se de vos: desdita. Vamos, deveis beber a tisana toda. Mais um gole... Assim. MAURICIO — Agatha, onde est4 Rosalinda? AGATHA — Ainda nao a vi hoje, senhor. Deve andar pelos bosqu colhendo frutos e flores silvestres, como é de seu feitio. MAURICIO — Com este tempo chuvoso? AGATHA — A chuva parou j4 faz mais de hora. Temos sol de novo O senhor conde quer que eu descerre os reposteiros? MAURICIO — Nao, por favor. A luz me molesta. (Swapira.) Pol Rosalinda! Deus permita que nao descubra jamais o hediondo segr que envolve as suas origens... Agatha, juras que, se eu morrer, jamai revelards a verdade a Rosalinda? AGATHA — Tranqiilizai-vos, senhor. Ela jamais sabera. RICIO — Aproxima-te, meu primaveril crisantemo. Que tréfe- is. Entao, andavas pelos bosques? SALINDA — Sim, padrinho. Oh, quando raiou o sol, a nature- parecia explodir em cores inefaveis e perfumes inebriantes! ava pelos montes, entre as cabras, e pensava em vés, abando- jui neste leito. Como deveis padecer, meu amado benfeitor! RICIO (Amargo.) — Quicd eu mereca todos estes abominaveis ATHA (Seca.) — Deus sabe o que faz. ISALINDA — O que dizeis, Agatha? Todos os camponeses e minei- ) Vale Negro sabem que nAo existe fidalgo mais nobre, mais justo e imo que meu amado padrinho, 0 conde Mauricio de Belmont. ATHA — Caluda! (Escutando.) Ouvis? A cascata parou. AURICIO — (Agitado.) Nao! (Ouvem-se gritos ao longe.) ‘ATHA — Os gritos novamente. ISALINDA — Tenho tanto medo, padrinho. De que sofrida gar- rotam esses brados inumanos? E por que a cascata para? (ATHA (Ltigubre.) — A cascata costuma parar quando algo terri- para acontecer. Esta é a maldicao do Vale Negro. \URICIO — Cala-te, Agatha, Nao atemorizes nossa linda peque- A Rosalinda.) Nao te assustes, minha résea tilipa. £ apenas um 0 natural, inexplicavel pela ciéncia dos homens. (Ouvem-se E quanto aos gritos... ATHA (Cortando.) — Os cies esto latindo. Deve ter chegado al- . (Indo a janela.) Cérbero, Belzebu, Astaroth, Asmodeu, Belfegor, er, quietos! (Cessam os latidos. Ouvem-ae batidas de aldrava.) \URICIO — Atende, Agatha. (Agatha sai.) ISALINDA — Quem podera ser? Oh, padrinho, sinto um aperto 40. Tenho um pressentimento... \GATHA (Anunciando.) — O marqués Rafael d’Allencon. CENA 2 CENA 3 ROSALINDA (Entrando com um cesto de palha carregado de rea e frutos.) Quem jamais saber4 o qué? AGATHA (Friamente.) — Falavamos sobre os males que af vosso padrinho, Rosalinda. "AEL (Entrando.) — Maldicdo! Esses c&es sao verdadeiros de- (A Mauricio.) Por que razao viveis cercado de feras? (Melifluo.) ndes medo que alguém vos roube esta gentil donzela? 150 451 eT eairinia Pema rarer eet: A MALDIGAO DO Vate NEcRO MAURICIO — A maldade no coragao dos homens é incalcul4y h AURICIO (Examinando oa papéis.) — Tendes razao. Oh, senhor! caro marqués. Mas no precisais temer. Os cAes, durante o dia, perma, gotavel é a taca de inforttinios que me fazeis sorver neste vale de necem acorrentados. S6 sao soltos ao anoitecer. RAFAEL — Folgo em sabé-lo. Para nao incorrer no erro de visitar-vos & noite. O que dificilmente aconteceria. (Olhando de soslaj, a Rodalinda.) A nao ser que... 4 AGATHA (Levemente irénica.) — Seria um erro fatal. Sao a mais ferocissimos, que s6 obedecem ao seu tratador, o velho feit Bonifacio. Seriam capazes de trucidar qualquer um de nés. Inclusiy *AEL — Sois injusto com o bom Deus, senhor conde. Ao fim e ao s vos 0 Gnico respons4vel por vossas préprias desditas. {AURICIO — Que quereis dizer com isso, biltre dos infernos? “AEL — Ora, caro senhor, apesar de possuir a metade de vossa conheco bastante bem vosso passado. Acaso esquecestes que companheiro preferido nas noitadas de esbérnia e deboche eu, que os alimento. coincidentemente, o meu finado pai? (Compungido.) Que Deus o RAFAEL (€stremecendo.) — Brrrrrrr! Que conversa desagradavell MAURICIO (Secamente.) — Abreviemo-la, pois, senhor marqués, que devo a honra de vossa presenga aqui em meu tugtirio? RAFAEL — Assunto particular, carissimo conde. MAURICIO - Agatha, retira-te. (A Rosalinda.) Balsamo d ames eres asicancdest.: minh’alma, necessito estar a sés com o marqués. ; (AURICIO — Ah, que acerbas recordacées vindes me despertar! ROSALINDA (De olhos baixos.) — Vés ordenais, meu padrinha AFAEL — A concupiscéncia, a devassidao e o vicio, que levaram A mim cabe obedecer. Com vossa licenca, senhor marqués. (Sai progenitor a loucura e a morte, s4o agora a causa de vossa ruina Agatha.) eira, senhor conde Mauricio de Belmont. Ou porventura olvidais sobre o pano verde que empenhastes toda a vossa fortuna? URICIO (Num arranque.) — Basta, basta de ressuscitar esses dos fantasmas do passado! RAFAEL (Implacdvel.) — Nao, nao basta! Ja fui assaz insultado por ‘nao vou perder a oportunidade de vos dar o merecido troco! Nao, conde, nao podeis negar que estais colhendo hoje o amargo le vossa desenfreada paixo pelo jogo! MAURICIO — Aquela noute... aquela noute nefasta... \URICIO (Amargo.) — Vosso pai... FAEL — Sim, o velho marqués d’Allencon, de quem, alias, her- as “virtudes”, como gosto pelos “prazeres” da vida: a boa mesa, CENA 4 RAFAEL — Nao desejo roubar vosso precioso tempo, estim conde. Outrossim, quero crer que j4 no vos resta muito. Devo con sar que pareceis j4 um cadaver. E em adiantado estado de putrefag: MAURICIO — Deus, a Virgem e o Espirito Santo s4o testemunha de minha desventura. Ide logo ao cerne da quest&o. Nao tolero voss presenca maligna. RAFAEL (Lentamente.) — A hipoteca vence hoje. MAURICIO — Que dizeis? RAFAEL — A hipoteca vence hoje. Apenas isso. MAURICIO (Agitado.) — N&o é possivel... Isso é um engode fonseguia parar! Era mais forte do que eu! Conheco vossas diabélicas tramas... Por certo adulterastes os papéis- A RAFAEL — Os papéis c4 esto em minha algibeira. Nao ha somb! de fraude neles. Podeis verificar. (Entrega-lhe.) Parece-me que vom senil memoria anda j4 a pregar-vos peca. AFAEL — Ah, vejo que vossa memoria comeca a reavivar-se. Sim, na “noute nefasta”, como dizeis, ha mais de dez anos que, senta- a mesa de truco, com meu pai, apés ja haver perdido vultosis- quantia e j4 embotado pelos vapores etilicos... MAURICIO (Cortando-o, no auge do desespero.) — Eu nao podia, 9s titulos de suas propriedades. Todos os bens do ilustre cla mont hipotecados & ndo menos ilustre casa d’Allengon! 152 153 T Bt RIO eyo Marat eA tHe A MAL D PGR Ot opv0 OV de TN BG ko MAURICIO - Ah, Deus de minh’alma! O que me resta faze OSALINDA — Sei-o. Mas isso no é crime. As propriedades per- agora? em a ele. RAFAEL — Se vés tivésseis uma mente... digamos... mais atil; AFAEL — Crime é deixar ao desabrigo uma donzela como vés. A poderieis fazer bem mais do que imaginais em vosso proprio benefic; 0. ca vence justamente hoje. MAURICIO — Falai logo, canalha! O que mais ainda quereis d ste -ROSALINDA — Isso quer dizer que... que... lamentavel destroco humano? AFAEL (Interrompendo.) — Que nao tendes mais teto que vos RAFAEL (Direto.) —- Nao sou homem de meias palavras. Querg menina. Nem vés, nem vosso padrinho, nem a bruxa gover- vossa afilhada. F mem aqueles cées demoniacos. MAURICIO (Tomado de célera.) — Como vos atreveis? Ficai sal OSALINDA — Mas nao podeis cometer essa vileza. O senhor do que nao sois digno de lamber o chao onde roca a fimbria da saia d e esté gravemente enfermo. Sua morte é questéo de meses, como Rosalinda. (Tossindo violentamente.) O mais ignébil dos répteis é mais es observar. Oh, senhor marqués, apiedai-vos de nossa desgra- nobre do que vés. Cederia a mao de Rosalinda ao mais imundo dos mi tendes vés em lugar de coracao? Uma taca de veneno? neiros do Vale Negro, jamais a vés. Mil vezes a mais negra miséria! "AEL — Tudo depende de vés, minha pequena... RAFAEL (Sem ae abalar.) — Entao estais completamente arruina ROSALINDA — De mim? Sabei que tudo faria para amenizar as do. A escolha é vossa. Mas... como sou um homem magnanimo, teni leiras horas de meu benfeitor. até amanha, ao meio-dia, para vos retirardes do castelo. AFAEL — Basta que sejais... complacente com este vosso admi- MAURICIO (Agitadissimo, tossindo muito.) — Infamia! Gozass de alguma satide e vos expulsaria daqui a chicotadas, vil cobarde! ROSALINDA — Complacente? Que insinuais? N&o vos entendo. ROSALINDA (€ntrando com Agatha.) — Senhor, que tendes? iclaramente, por misericérdia. MAURICIO — Ajuda-me, Agatha, preciso repousar. (Agatha ai conduzindo Mauricio.) ROSALINDA (A Rafael.) — 0 que fizestes a meu padrinho, arrogat te mancebo? AFAEL (Incisivo.) — Sobre esse assunto nao ha necessidade de ‘claramente. (Insinuante.) Nao haver4 lugar em vosso coracio pouco de... ternura? OSALINDA (Percebendo.) — Oh, sim. Agora compreendo o que jais. (Resoluta, persignando-se.) Esta bem. Se isso pode salvar feitor da rufna, podeis dispor de meu corpo e de minh’alma juiserdes, para a satisfagado de vossos brutais prazeres. (Abre os resolutamente.) RAFAEL — Vamos, minha pombinha. Nada fiz a vosso padrinht RAFAEL (Abragando-a.) — Sois mais ladina do que aparentais, pe- ROSALINDA — Mas entao por que esté ele neste deploravel estad RAFAEL — A vida desregrada que levou, minha flor das mo nhas, os 4gapes desenfreados, os muitos crimes que cometeu 0 cor" por dentro, , ROSALINDA — Crimes? De que falais? Meu padrinho nunca come teu crime algum. RAFAEL — Como nao? Ent&o nao sabeis que hipotecou todas suas propriedades a casa d’ Allengon? CENA 5 Nos menores frascos repousam as mais puras esséncias. CENA 6 IARRADOR — Alguns meses depois daquele dia em que Rosalinda a cabo o seu gesto de desprendimento e afeto filial, a situa- dificou-se sensivelmente no castelo dos Belmont. 0 marqués gon, desistindo de protestar os titulos da hipoteca, fez com que 154 155, TEATRO (OO Me RL, to A MAUDIGKO DO VateE NEGRO a ameaga da ruina deixasse de pender sobre a familia. A atitude q iniqitidade. Quao ditosa seria novamente a pobre cor¢a dos pés marqués, alias, sofrera uma profunda transformacao. Seu habitual ¢ yrados! (Gritando.) Companheiros, uni-vos! Uni-vos para destrocar nismo e arrog4ncia, como num passe de mAgica, cederam lugar a un 10! (Segura Mauricio e comega a sacudi-lo violentamente.) Este, cortés solicitude. Rafael passou a visitar mais amitide 0 castelo e, traveste de benfeitor dos pobres e dos oprimidos! Uni-vos como clusive, a participar das tertdlias e saraus familiares. Freqientement intos de justi¢a para destro¢4-lo em pedagos sangrentos! ele e Rosalinda passavam as calorosas tardes estivais a percorrer 9 MAURICIO (Despertando, estonteado.) — Rosalinda, Rosalinda, bosques e pradarias. Voltavam ao castelo ao pér do sol, carre; conteceu, minha cornucépia de agua-régia? bracadas de antirios, geranios, crisantemos, horténsias, magnél; SULA (Possessa, aod uivos, tentando estrangular Mauricio.) — pettnias, begénias e miosétis. Entrementes, fatos mui estranhos cor ite a morte do maldito podera redimir o sangue dos oprimidos! tinuavam a ocorrer nos sombrios aposentos da mansao dos Belmont AURICIO (Num espasmo.) — Ursula, que fazes aqui? JULA — Sim, assassino! Apesar dos pés quebrados, a corca &m semi-obscuridade, 0 conde Mauricio esta dormindo, Ja pode fugir. recostado no sofé, quando entra Ursula. Roupas rasgadas, “MAURICIO (Tenta levantar-se, Ursula 0 empurra. Ele eaté apavo- deagrenhada, inteiramente louca. Traz uma boneca nos ita.) Agatha! Agatha, tira esta louca daqui! SULA — Tarde demais, corrupto! Como a ave peregrina que bracos. GATHA (€ntrando, com um chicote.) — Para tras, animal! lando o chicote.) Afasta-te, fera repelente! Ou te reduzirei a po stalar de dedos. JULA (Encolhe-se, a boneca cai ao chao, ela tenta inutilmente d-la.) — Por piedade, nao! Minha filhinha! Mata-me, se quiseres. por tudo que ha de mais sagrado, peco-te: poupa o mais puro fruto ventre! (ATHA — Besta imunda! (Vai chicoteando Ursula para fora da Retira-te para teu infecto covil! Foste feita para o aconchego dos das lacraias e dos escorpides — n4o para o convivio dos seres inos. (Para Mauricio, antes de sair.) Serenai-vos, senhor conde. O 10 Bonifacio saber4 tratar desta lepra em forma de gente. (Vai sain- shicoteando Ursula. Os cées latem furiosamente 1é fora. Grande lo. Depois, volta o siléncio. A boneca ficou caida ao chao, aos pés ricio.) AURICIO (Ap6s demorado ailéncio, apanha a boneca e come¢a d-la doridamente.) — Havera de ser tao inesgotavel a bondade is a ponto de, um dia, ser capaz de perdoar-me? Merecerei a graca ma de sua doce m&o pousada sobre este fervilhar de vermes no eirao de minha alma putrida? (Grita, como numa tragédia grega.) Z de mim! (Num frenesi, beija a boneca. Depois joga-a longe.) URSULA (Fala para as paredes, a4 vezes para si mesma ou a boneca.) — Como séi ser verde 0 campo quando o astro-rei principi atombar no horizonte! Por um segundo, a natureza inteira se veste dourado... Vés, filhinha? O verde dos campos sendo mansamente i dido por todo esse esplendor dourado que brota do arrebol. Que espeté culo redentor para a torturada visao dos homens! O ouro derrama se sobre o verde, tingindo o azul do firmamento. (Estremecendo.) Até até que os besouros comegam a cair. Pesadamente despencam do céus feito gotas negras de chuva. Vindos do infinito, qual aranh viscosas e peconhentas... E quando caem de costas — ah, quando ul besouro cai de costas, nao se levanta nunca mais. (Quase gritand Nunca, nunca mais! (Com o grito, Mauricio agita-se e geme dormind Ursula volta-se para ele.) Vés, filhinha? E assim que sao os poderose Desalmados, impiedosos. Dormem profundamente, confortaveis com se repousassem sobre um campo de ouro. Indiferentes a queda len dos besouros negros sobre o charco de sua alma manchada pelo sal gue dos inocentes. Alheios 4 desventura dos oprimidos campones que labutam no fundo lamacento das minas para cobrir de ouro $ medonho latiftindio. (Vai se aproximando de Mauricio.) Mas se t0@ — ah, se todos unidos erguessem atrevidos suas sofridas cabegas P gritar ndo! ao opressor... Ah, filhinha: como tudo poderia ser diverts 156 157 MALDIGAO bo VaLtLE NEGRO TEATRO COMPLETO "AEL — Tratava-te assim porque eras doécil e cordata comigo. e te curvavas a todos os meus caprichos. Mas agora... ISALINDA — Mas eu nao mudei! Eu continuo sendo tua escrava bediente! Sabes bem que meu antigo asco por ti transmutou-se Agatha, Agatha! Tira este aborto daqui! Socorre-me que morro... (O con; Mauricio soluca, arquejante. Foco em Mauricio ena boneca calva. A ly vai diminuindo em resiasténcia, enquanto ele geme. Em off, sobrepo 4 4e aos gemidos, vdo crescendo a gargalhada de Agatha, oa uavagy d Uraula e 04 latidos dos cies enfurecidos.) excelsa paixdo! *AEL — Chega de tergiversac6es! Exijo que me esclaregas ime- ROSALINDA — Peco-te perd&o, meu querido amigo. Foi quica por o de pundonor que nAo fiz mais cristalinas as minhas palavras. yo transmitir 4 fria brancura impassfvel do papel o turbilhio levasta 0 peito, desde que fui abencoada por este milagre... este CENA 7 NARRADOR - Transcorridos mais alguns meses, a situagao castelo de Belmont em nada se modificara. Rafael d’Allencon souby perfidamente ganhar a confianga de Rosalinda com juras de ete amor e promessas de matriménio. Pouco a pouco, as fibras do cora da donzela passaram a vibrar no compasso da mais pura e devot paixdo. Porém, horas mais negras estavam por vir. Um dia, Rosalind o milagre? RAFAEL — Que historia é essa de milagre? Vamos, fala! AFAEL — O qué? Um filho?! descobriu que ia ser mae. Sem coragem de contar a Rafael, durante OSALINDA — Sim, um filho! Sublime fruto a coroar o nosso varios dias amargou sozinha seu terrivel segredo. Por casualidad iniciara-se a temporada da caca & raposa, e Rafael passara uma se mana sem visita-la. Uma manha, munindo-se de coragem, Rosali iste louca? tomou da pena e verteu seu coracado, transbordante de receios, num \OSALINDA — Rafael, Rafael, foste tu quem perdeste a razéio! Nao longa missiva enderecada ao marqués. conhe¢o. Julgava que rebentarias de alegria ao saber... RAFAEL (Cortando-a, possesso, e sacudindo-a pelos bracos.) — Alegria?!!! R0SALINDA — Sim, amado. Agora sé nos resta finalmente desve- olhos do mundo a nossa unio, realizar o nosso sonho doura- , Meu principe, toda noite, em meu leito, contemplo-me, nubil, do ao lado teu o marmore dos degraus do altar... FAEL (€mpurrando-a.) — Casar contigo? Quem te pés esta idéia na cabeca? ROSALINDA (Chocada.) — Tu mesmo, Rafael! Tu mesmo quantas uraste que um dia... que sé precisdvamos um pouco de paciéncia por algum tempo o nosso amor, até conseguires convencer FAEL (Agarrando-a brutalmente.) — O que estds a dizer? Rafael aproxima-se por tréa de Rosalinda, que nao percebe ua presenca, e atira-lhe a carta a seus pés. RAFAEL (Agressivo.) — Qual a razao disto? ROSALINDA — Ah, meu amado, és tu. Que susto me causaste! ~ RAFAEL (Seco.) — E ent&o? ROSALINDA — E entdo 0 qué? Nao te entendo. O que se passa con tigo? Por que chegas assim, tao agastado, sem uma saudagao seq! nem ao menos um 6sculo... um amplexo? RAFAEL — Ora, Rosalinda, nao me venhas de borzeguins ao leit? Quero saber o que significam as aleivosas insinuacées contidas ne missiva. "AEL (Cortando, irénico.) — ...que eu desposaria uma enjeitada? ROSALINDA (Reasentida.) — Amor meu, que duras palavras! tarda? Uma criatura sem nome, sem posi¢do e sem fortuna? que sempre me demonstraste tanto carinho, tanta afeic&o, tam €ntura chegaste a acreditar por um segundo que eu, um nobre, ardor... 158 159

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