Code”
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Ele também faz essas afirmações sobre a criação da ciência teórica e rigor matemático, mas afirma ser esse
segundo ponto mais difícil de se defender, e como não é matéria dessa resenha fazer tal defesa, deter-me-ei
apenas no que foi solicitado.
observar tais doutrinas do nosso ponto de vista, contudo, respeitando-as em seu
tempo-espaço.
Posto isso, inicia-se a investigação do verbo ser em, especificamente, duas
acepções apresentadas pelo filósofo Stuart Mill, predicativa (proposicional) e
existencial. Ou seja, Kahn nos mostra que alguns consideram haver uma ruptura
significativa quanto ao emprego da palavra "é" num sentido proposicional, tendo o
verbo como uma cópula de ligação entre o sujeito e o predicado, e quando há uma
representação do verbo "é" de forma quantitativa, considerando o indivíduo como um
ser único em determinado local.
Após a apresentação das distinções de Mill entre o uso proposicional e
existencial, Kahn faz algumas demonstrações do porque não se pode haver essa
distinção, e mostra o motivo dessa acepção não poder ser aplicada no idioma grego.
Apesar das críticas, Khan parece fazer uma concessão. Tal concessão é de que essa
distinção (dicotomia) entre proposição e existência que Mill assevera pode ser
concebida apenas de forma sintática, mas que semanticamente ela é ainda pior, pois
nos leva a ter uma ideia de existência para conceder como um significado básico do
verbo grego. Em outras palavras, para Kahn, a fusão sintática e semântica só pode
ser posta em antítese caso haja uma correlação direta entre as duas, i.e., somente
se o uso do verbo for concebido sempre de forma existencial, ou se o verbo "ser" em
sua construção predicativa for sempre desprovido de significado, servindo apenas
como um dispositivo copulativo entre sujeito e predicado. A concessão semântica é
mais complicada de se fazer pois conceber o verbo einai como apenas existencial é
limitar seu campo semântico de atuação, contudo, se quisermos uma palavra para
expressarmos essa conotação existencial podemos usar o esti, assim como usamos
o "there is" no inglês ou o "haver/existir" no português, como afirma Kahn.
Para pôr abaixo toda dúvida de que não existe uma acepção estritamente
existencial no grego do verbo ser, Kahn cita 4 distinções que Aristóteles faz em Met.
Delta 7.
1. O ser por acidente, ou seja, aquele ser que diz respeito ao status lógico do
sujeito e predicado. Contudo, indicando e existência, tanto do sujeito quanto
do predicado.
2. O ser per se, por predicação, quando a qualidade é predicada de uma
substância. Aristóteles propõe uma substituição do verbo "ser" no infinitivo por
um verbo que tem uma conotação existencial, contudo, finito, e.g., "ele está
cantando" pode ser substituído por "ele canta".
3. Tanto o verbo einai quanto esti podem significar "é verdade" ou "é falso". Por
exemplo, eu posso afirmar que "Sócrates é filósofo", e ser verdade que
Sócrates é filósofo, mas eu também posso afirmar que "Sócrates não é sofista",
e tal significado negativo possuir um caráter de verdade.
4. Aristóteles também afirma que o "ser" pode ser em ato ou em potência. Pois
nós dizemos que algo está vendo quando ele está potencialmente vendo e
quando ele é visto em atualidade.
O ponto do Charles Kahn, ao romper com essa dicotomia moderna
quanto ao verbo ser, é fazer uma exegese clara e filológica dos usos do verbo
"ser" nos próprios filósofos antigos, por isso ele encara essas aparições do
verbo em Aristóteles (e em Platão posteriormente) em seu sentido puro,
discordando do Ross e Jaeger ao afirmar que o uso do verbo ser que
Aristóteles faz é o mais básico e mais literal do significado do verbo, ou seja, o
uso que Aristóteles e os outros filósofos da antiguidade fazem do verbo einai é
veritativo, ou, como quiserem, verídico, i.e., o verbo einai, em sua acepção
primária (denotativa) e livre de conotações filosóficas, sejam elas antigas ou
modernas, é puramente assertiva. Quer dizer, toda predicação implica numa
asserção, e uma asserção significa uma afirmação de verdade. Dessa forma,
Kahn nega que o uso predicativo de einai forma um polo distinto num uso
dicotômico básico, ou seja, tanto predicativo como existencial, uma vez que o
seu significado de verdade/factual já confere ambas sem a necessidade dessa
distinção.
Porém, apesar de pontuar essa não-distinção no verbo, Kahn expõe o
uso do verbo einai que os gregos usam e seu desenvolvimento ontológico. Ele
afirma serem duas questões que contribuíram para isso. A primeira questão é
o que nós conhecemos na linguística como aspecto durativo. E a segunda,
segundo Kahn, parece não ter um nome definitivo, mas que podemos
compreender como o uso locativo do verbo.
O durativo é um aspecto do verbo grego caracterizado pelo contraste do
presente-imperfeito, o aoristo, e o perfeito, tal aspecto durativo denota uma
ação que ocorre no passado, mas que se delonga no presente, ou seja, é
contínua. Isso é importante pois a noção grega de eternidade é estabelecida
no presente, como um estado despreocupado de duração, assim como os
deuses em Homero e Hesíodo são “theoi aien eonts” (deuses que são pra
sempre), aqui, o sentido de einai tem apenas a noção de estar vivo, de
sobreviver, pois os deuses são seres que não morrem, e não a noção de ser,
estar etc. Kahn também fala sobre a clássica antítese de Ser e se Tornar e a
incomensurabilidade notada entre o conceito grego de ser e a noção de
existência.
É válido ressaltar essas questões pois as conotações de duração
estáveis, esse aspecto durativo, é inseparável do significado de einai, e ajuda-
nos a entender que o conceito grego de Ser difere da noção moderna de
existência.
O locativo do verbo ser tem um valor peculiar, é considerado uma
expressão de existência em um número de linguagens não europeias, o
locativo é particular de línguas declinadas, e nos diz sobre algo que “havia” ou
“haverá”, mas tais expressões sempre envolvem alguma alusão ao lugar ou
local.
Por isso Kahn afirma que einai é normalmente usada para “estar em
algum lugar” nesse sentido locativo, e que tal lugar é especificado pelo contexto
ou uso de uma palavra adverbial. Essa utilização dicotômica entre o uso
existencial e predicativo do verbo poderia requerer que nós usássemos o verbo
meramente como copulativo. Mas eis o ponto nevrálgico da crítica de Kahn,
após um árduo levantamento filológico da acepção do verbo einai, ele crê que
não há um distanciamento entre as ideias de existência e local no
pensamento filosófico grego.
Em suma, Kahn, como se nota desde o início do texto, não é taxativo,
mas faz um levantamento robusto para encontrar a resposta a essa dicotomia,
contudo, reconhece que tal problema não é só filológico, e embora ele tenha
fornecido boas razões, tanto filológicas quanto filosóficas, as investigações não
podem cessar, pois determinadas respostas nos conduzem a uma concepção
ontológica totalmente diferente da que os gregos tinham, enquanto se manter
na linha clássica (homérica) nos aproxima de uma acepção mais fidedigna do
termo.
Comentário:
Gessé, suas resenhas, em especial a do texto de Alan Code, parecem-me escritas no último minuto.
A redação tem muitos erros que uma revisão cuidadosa teria eliminado. Além disso, há certos pontos
que nessa altura do campeonato, por assim dizer, não deveriam mais fazer parte da sua escrita, como
mencionar obras filosóficas com letras minúsculas e sem colocar o título em destaque. A resenha do
artigo de Code é particularmente confusa. O texto, em inglês (e ter lido os textos em inglês é mérito
seu), não é exatamente tão fácil de ser lido, mas eu esperava uma resenha mais bem trabalhada.
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Eu sei que você tem domínio do vernáculo muito melhor do que você apresentou aqui. A falta de
revisão e de mais cuidado fazem com que você tenha sua avaliação prejudicada.
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Por fim, uma boa resenha faz uso de citações e organiza bem o texto resenhado. Veja em revistas
acadêmicas filosóficas como isso costuma ser feito.
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Boas férias.