A história da Igreja cobre um período de aproximadamente dois mil anos, é uma das
mais antigas instituições religiosas em atividade, influindo no mundo em aspectos
espirituais-religiosos, morais, políticos e sócio-culturais. Não poderíamos assinalar a
Cristandade Medieval sem antes, rapidamente, marcar as primeiras comunidades cristãs.
A Igreja Primitiva
Era a Igreja formada pelos primeiros cristãos em áreas urbanas (forma organizada das
cidades romanas), onde as transformaram (At 17,4). Todos continuavam firmes no
ensino dos apóstolos, viviam em amizade uns com os outros, e se reuniam para as
refeições e as orações. O melhor documento histórico para entendermos bem o período
é o livro dos Atos dos Apóstolos, onde vemos como essas comunidades se
desenvolveram, suas dificuldades nos arredores da Palestina e parte da Ásia menor. Ao
ler At 2, 42-47, podemos perceber o dia-a-dia dos primeiros cristãos. Eles viviam em
regime de comunhão de bens, se aplicavam também na Oração (sendo a força
catalisadora para a mudança de vida a oração precisa da razão, assim como a fé), a
fração do pão (partilha do todo, segundo a necessidade de cada um – o “pão” – sendo
visto como a totalidade da necessidade) e havia meditação na Doutrina dos Apóstolos
(consideravam o estudo, a investigação e a reflexão para terem certeza daquilo que
iriam acreditar). Sua atuação se dá em Atenas, Jerusalém, Éfeso, Corinto, Roma,
Alexandria, Antioquia e Tessalônia. Os primeiros cristãos mudavam as cidades, mexiam
com o sistema, eram intelectuais... Podemos dividir esse período em “Período
Apostólico” (30-70 d.C), “Período Sub-apóstólico” (70-135 d.C) e “Período dos
Mártires e da Institucionalização da Igreja” (135-313 d.C). O termo “Apóstolo”
significa “enviado”, em grego. Missionários itinerantes, que tiveram contato com Jesus
de Nazaré. Foram testemunhas oculares. Até o ano 100 d.C os cristãos ainda são bem
desconhecidos. Os romanos os confundem com os judeus. Aos poucos, o cristianismo
vai mostrando sua existência. Era o início da “Grande Igreja”. O Cristianismo nasceu e
desenvolveu-se dentro do quadro político-cultural do Império Romano. Durante três
séculos o Império Romano perseguiu os cristãos (época das perseguições), porque a sua
religião era vista como uma ofensa ao estado, representava outro universalismo e
proibia os fiéis de prestarem culto religioso ao soberano. Aos poucos se propagou em
Roma e pelo império. As principais e maiores perseguições foram as do imperador
Nero, no século I (morte de Paulo, Pedro), a de Décio no ano 250, a de Valeriano (253-
260) e a maior, mais violenta e última a de Diocleciano entre 303 e 304 que tinha por
objetivo declarado acabar com o cristianismo e a Igreja. O balanço final desta última
perseguição constituiu-se num rotundo fracasso, Diocleciano, após ter renunciado, ainda
viveu o bastante para ver os cristãos viverem em liberdade. No século IV, o
Cristianismo começou a ser tolerado pelo Império, para alcançar depois um estatuto de
liberdade e converter-se finalmente, no tempo do imperador Teodósio (379-395), em
religião oficial do Estado (380). O imperador romano, por esta época, convocou as
grandes assembléias dos bispos, a saber, os concílios e a Igreja puderam então dar início
à organização de suas estruturas territoriais.
A Cristandade Medieval
• Periodização
A Idade Média (Medium Aevum ou Middle Age) Termo usado para o período situado
entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Conceito estipulado no período do
Renascimento (XVI) volta do somente para a região da Europa Ocidental, ou seja, não
há Idade Média na África, Japão, China... Tem como marco inicial o ano de 476 d.C
(fim do Império Romano no Ocidente – tomada de Roma, pelo imperador germânico
Odoacro) e tem seu término no ano de 1453 d.C (Fim do Império Romano no Oriente -
Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos). Suas características, entretanto,
nunca foram às mesmas no tempo ou no espaço, pois não havia unidade nesse período.
É preciso dizer o contexto específico. O período está dividido em: Alta Idade Média
(séc. VI - X), Idade Média Central (séc. XI - XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV e
XV). Há até hoje um forte preconceito sobre este período, tomado como “Idade das
Trevas”, “Escuridão”, de “Pestes e Guerras”, não havia “cidades, nem comércio”, dentre
outros adjetivos. Contudo, deve ser levado em consideração que num período de mil
anos, não houve apenas pestes, guerras..., Temos que ter um olhar consciente: Nesse
período houve a criação das Universidades, da letra minúscula, Parlamento, Hospitais,
Tribunal com Júri, aperfeiçoamento da Matemática, geografia, escrita... Devemos
estudá-la sem preconceitos, com um olhar crítico e consciente.
• A Cristandade
• Os Padres da Igreja
• A Cristandade Medieval
- Os Templários - Ordem fundada em França (1119) para lutar contra os infiéis. O nome
veio-lhes da casa que tiveram em Jerusalém sobre as ruínas de uma mesquita (cavaleiros
da Ordem do Templo). Fazem votos dados pelo patriarca de Jerusalém. Em 1129, vê-se
a implantação militar. Prestaram notáveis serviços na Terra Santa e no Sul da Europa,
chegando a ter 5 províncias e 4000 membros. É oficializada em 1199. As benesses
recebidas de reis e papas deram-lhes grande poder financeiro, o que levou Filipe o Belo,
rei de França, a acusá-los, com a conivência da Inquisição, de crimes graves, obrigando
o Papa (Clemente V) a suprimi-los. Muitos foram mortos. Os seus bens, em França,
foram confiscados pelo rei; em Portugal, passaram para a Ordem de Cristo, fundada por
D. Dinis.
De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Média estavam, ao menos em tese, tão
unidos entre si, que lhes parecia normal recorrer um ao outro em tudo que dissesse
respeito ao bem comum. Quanto a Inquisição Papal instituída no séc. XVI era herdeira
das leis e da mentalidade da lnquisição medieval. Os países ibéricos (Portugal e
Espanha) foram os grandes difusores do Santo Ofício, principalmente no Novo Mundo.
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