farmácia diferenciada
Inventory management: a proposal for a differentiated
pharmacy
Andressa Brito Lira*
Fernanda de Medeiros Nóbrega*
Demóstenes Figueiredo de Sousa* 97
Mayza Neves Delmondes*
Resumo
Diante da competitividade crescente, a gestão de estoques é necessária para evitar os altos custos com os produtos, di-
minuir o capital total investido pela empresa no estoque, além de evitar a falta de produtos para os clientes. Este trabalho
visa a trazer uma abordagem teórico-prática a respeito da gestão de estoque de medicamentos, tendo como exemplo uma
farmácia do Serviço de Atenção à Saúde (SAS). A metodologia aplicada consistiu em três partes. A primeira foi uma pes-
quisa bibliográfica para a construção do modelo teórico; a segunda foi o estudo de caso na farmácia do SAS; e a terceira
etapa referiu-se a propostas de melhorias para uma gestão de estoque de qualidade dos medicamentos, com o objetivo de
garantir o acesso da população a medicamentos seguros e eficazes. Na farmácia estudada, não havia uma padronização
dos procedimentos realizados, desencadeando a falta de critérios técnicos, que impossibilitou a realização dos cálculos
necessários para o controle de estoque de qualidade, sendo necessária a realização de uma contagem dos produtos exis-
tentes, para servir de ponto de partida do trabalho. Este trabalho indicou duas propostas de gestão de estoque: as fichas de
prateleiras, que são ferramentas mais simples e a um custo acessível de serem executadas, e o programa de gerenciamento
de materiais. Deve existir regulamentação dos procedimentos operacionais padrões entre estudantes e funcionários e
estabelecer-se a divisão de trabalho com as devidas responsabilidades.
Palavras-chave: Estoque Estratégico. Atenção à Saúde. Preparações Farmacêuticas.
Abstract
In an increasingly competitive market, the management of medication supplies is needed to avoid the high costs of pro-
ducts, reduce the total capital invested by the company, and avoid a lack of products to clients. This study aims to bring
a practical-theoretical approach regarding the management of medication supplies, having as an example a pharmacy of
the Health Care Service (SAS). The methodology consisted in three parts: first a literature search was done to construct
the theoretical model, then we did a case study in the SAS pharmacy and in the third stage we examined proposals for
improvements in order to reach a quality management of medicine supplies for offering the population access to safe and
effective medicines. At the pharmacy studied, there was not procedures standardization, causing a lack of technical crite-
ria, which precluded the calculations required for quality inventory control, and this made necessary to count the existing
products before beginning the study. This study proposed two proposals for inventory management: the form of shelves,
which are more simple tools requiring fewer expenses to be executed, and material management program. There should
be rules for standard operating procedures for both students and staff and the establishment of the division of labor with
appropriate responsibilities for each.
Keywords: Strategic Stockpile. Health Care (Public Health). Pharmaceutical Preparations.
* Farmacêuticos pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde.
João Pessoa-PB, Brasil. E-mail: andressabritolira@hotmail.com
** Farmacêutica Industrial. Mestre em Engenharia de Produção. Docente do Curso de Farmácia do Centro de Ciências da Saúde da UFPB.
João Pessoa-PB, Brasil. E-mail: nubiakribeiro@yahoo.com.br
*** Farmacêutica e Médica. Pós-Doutora pela Rede Nordeste de Biotecnologia. Doutora e Mestre em Produtos Naturais e Sintéticos Bio-
ativos. Docente do Curso de Farmácia do Centro de Ciências da Saúde da UFPB. João Pessoa-PB, Brasil. E-mail: margareth@ccs.ufpb.br
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
INTRODUÇÃO do planejamento, organização, direção, coorde-
nação e controle de todas as atividades para uma
O setor farmacêutico é composto pelas in-
boa aquisição, armazenamento e distribuição3,5,7.
dústrias farmoquímicas, produtoras dos princí-
Segundo Vecina Neto e Reinhardt Filho8, os
pios ativos, base para a produção de medicamen- materiais são produtos que podem ser armaze-
tos da indústria e laboratórios, bem como pela nados ou consumidos imediatamente após a sua
rede de distribuição ou operadores logísticos, que chegada. Com base nesse conceito, estão ex-
distribuem os medicamentos às farmácias e dro- cluídos os materiais considerados permanentes,
garias, e pelo consumidor final. Mundialmente, como equipamentos médico-hospitalares, mobi-
98 a indústria de medicamentos movimentou US$ liário, veículos e semelhantes. Os medicamentos,
364,2 bilhões em 2001, 12% a mais que no ano considerados materiais, costumam receber um
O Mundo da Saúde, São Paulo - 2013;37(1):97-104
Gestão de estoque: proposta para uma farmácia diferenciada
anterior. No setor, operam 10.000 fabricantes, tratamento diferenciado devido a sua importân-
dos quais 100 produzem 90% dos medicamentos cia estratégica para as ações de saúde7.
para o consumo humano1. Juntas, a gestão de estoques e de materiais
O segmento de distribuição de medicamen- têm por objetivo minimizar os custos com esto-
tos vem apresentando grandes avanços na área ques, ter uma melhora crescente na rentabilida-
de logística, pois, nos últimos anos, a acirrada de e, principalmente, acabar com as rupturas na
competitividade possibilitou a utilização de no- área de venda, e isso é possível quando se tem
vas técnicas de gestão de estoque, automação de uma previsão correta para os estoques, quando a
depósitos e, principalmente, a busca de uma vi- empresa conhece seus custos com os materiais,
são integrada dos negócios, envolvendo todas as quando se realiza o monitoramento de desempe-
atividades da cadeia de valor, ou seja, da matéria- nho e outras atividades que devem ser desempe-
-prima ao consumo final1,2,3. nhadas para garantir que as farmácias não per-
O armazenamento de mercadorias preven- cam totalmente seu espaço.
do seu uso futuro exige investimento por parte Na área farmacêutica, a atividade que está
da organização. O ideal seria a perfeita sincroni- associada à gestão de estoques e materiais na
zação entre a oferta e a demanda, de maneira a busca de um melhor planejamento do abasteci-
tornar a manutenção de estoques desnecessária. mento e acesso dos medicamentos é a progra-
Entretanto, como é impossível conhecer exata- mação de medicamentos, uma etapa do ciclo da
mente a demanda futura e como nem sempre os assistência farmacêutica. A Assistência Farmacêu-
suprimentos estão disponíveis a qualquer mo- tica tem a finalidade de contribuir para melhorar
mento, deve-se acumular estoque para assegurar a qualidade de vida da população, propondo
a disponibilidade de mercadorias e minimizar os ações de promoção, prevenção, recuperação e
custos totais de produção e distribuição. reabilitação de saúde, assim como de efetuar o
A gestão de estoques se faz necessária para acesso a medicamentos essenciais e desenvolver
que não haja altos custos com os produtos, bus- o uso racional9,10.
cando diminuir o capital total investido pela A programação de medicamentos necessita
empresa no estoque, além de evitar a falta de de informações gerenciais consistentes sobre o
produtos para o cliente3,4,5. Uma boa gestão de consumo de medicamentos no local ou serviço, a
estoque necessita de uma boa execução de seu oferta e demanda de serviço, assim como o estu-
controle, e o principal motivo de um sistema de do da situação da saúde, para a programação da
informações logístico é coletar, manter e mani- demanda de medicamentos. A programação de
pular os dados da empresa, para uma tomada de medicamentos disponibiliza medicamentos sele-
decisão coerente3,5,6. A gestão de materiais está cionados e apropriados, nas quantidades corretas
diretamente relacionada com a gestão de esto- e em tempo oportuno, assim, há a determinação
que, na busca da redução das necessidades dos da quantidade dos medicamentos a serem adqui-
estoques, otimizando-os e diminuindo o capital ridos de acordo com a necessidade e cuidando
de giro empregado, reduzindo o investimento to- para evitar a descontinuidade do abastecimento9.
tal. Assim, a gestão de materiais procura melhoria Atualmente, existem poucas publicações
voltadas para a área de gestão em instituições de grupo 2 deve determinar “quando” se devem rea-
saúde, em especial, em estabelecimentos farma- bastecer os estoques: periodicidade e determinar
cêuticos. Porém a logística na área de saúde é de “quanto” de estoque será necessário para um pe-
grande importância, pois medicamentos, equi- ríodo pré-determinado: quantidade de compra.
pamentos de saúde, entre outros, requerem uma O grupo 3 deve executar as compras e cuidar da
demanda alta de capital, que ficam aprisionados venda de materiais não utilizados ou inservíveis
em prateleiras3,5,7. O setor farmacêutico lida com (alienação). Por fim, o Grupo 4 deve ser respon-
bens de consumo até certo ponto frágeis, uma sável pelo recebimento de materiais, armazena-
vez que podem perder a estabilidade, passar do mento e distribuição, logo, realizando funções de
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prazo de validade; e, ainda, há a problemática armazenamento, movimentação e transporte de
do acúmulo ou falta desses bens de consumos, materiais e o controle de qualidade8.
REVISÃO DA LITERATURA
uma redução do valor do estoque e não quer forma que cada código corresponda a um e ape-
que ocorrências relacionadas a materiais (como nas um produto e vice-versa. O sistema de codi-
compras erradas, falta de itens críticos, etc.) se- ficação não pode depender de critérios pessoais
jam frequentes. Por fim, os fornecedores desejam e deve ser expansível, de modo a suportar inclu-
fornecer a maior quantidade de material possível, sões de novos itens8.
vendê-lo ao maior preço, receber em curto prazo A necessidade de um sistema de classifi-
e não ter qualquer responsabilidade futura a res- cação é primordial para qualquer departamento
peito da utilização dos itens3,5,8. de materiais, pois sem ela não podem existir um
Então, para se obter uma gestão de materiais controle eficiente dos estoques, procedimentos
satisfatória, requer um bom controle de estoque de armazenagem adequados e uma operaciona-
e, para isso, devem-se determinar os níveis cor- lização do almoxarifado de maneira correta4.
retos de estoque, sendo que alguns parâmetros Os sistemas de codificação mais comumen-
podem auxiliar de forma decisiva a execução de te usados são o alfabético e o alfanumérico. No
controle. primeiro, o material é codificado segundo uma
Consumo Médio Mensal (CMM), que pode letra, sendo utilizado um conjunto de letras su-
ser definido como a média dos consumos men- ficiente para preencher toda a identificação do
sais de cada produto, num certo período3,9. material. O último é uma combinação de letras e
CMM = ∑ CM / NM números que permitem um número de itens em
Onde: CMM = Consumo Médio Mensal; ∑ estoque superior ao sistema alfabético4 (Figura 2).
= Somatória; CM = Consumo de cada mês; NM =
Números de meses utilizados para determinação Figura 2. Esquema de Classificação e Codificação
do consumo.
Estoque de Segurança (ES) corresponde a
certa quantidade de materiais que servirá para
cobrir eventuais falhas no tempo de espera3,4,9.
ES = f (delta TE)
Onde: TE = Tempo de Espera.
Ponto de Requisição (PR) é um parâmetro de
alerta no dimensionamento de estoques. É defini-
do como uma quantidade de produto que, quan-
do atingida, deve gerar novo pedido de compras, Fonte: Adaptado de Paulus7.
evitando posterior ruptura do estoque3,4.
PR = (CMM x TE) + ES MÉTODO
Estoque Mínimo (EMI) é a quantidade mí-
nima que se deve manter de cada medicamento O trabalho foi realizado no Serviço de
ou correlato, enquanto um pedido está se proces- Atenção à Saúde (SAS) de uma instituição uni-
sando3,4,9. versitária brasileira, que foi criado com o obje-
EMI = CMM + ES tivo de atender aos professores, funcionários e
estudantes, onde cada um deles pode possuir a atualização e levantamento da situação do
até quatro dependentes para fazer uso gratuito material em estudo.
dos serviços do SAS, atendendo, assim, a comu- Na terceira etapa, foram realizados trei-
nidade universitária. namentos aos profissionais do serviço. Houve,
O SAS oferece serviços de atendimento aos ainda, sugestões de duas propostas de geren-
usuários, como por exemplo: clínico geral, reu- ciamento de estoque para a Farmácia diferen-
matologista, otorrinolaringologista, psicólogo, ciada do SAS. A primeira foi as fichas de pra-
psiquiatra, dentista, dermatologista, gastroente- teleiras, uma proposta de baixo custo e fácil
rologista e cardiologista. Além disso, possui uma execução, e a segunda proposta foi uma pla-
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farmácia diferenciada, que possui uma variedade nilha do Excel desenvolvida para o gerencia-
de medicamentos amostra grátis para distribui- mento de materiais do serviço, referente aos
vez que recebe doação de medicamentos de mé- Na Farmácia SAS, como já dito, não há uma
dicos professores da instituição e de clínicas mé- padronização dos procedimentos exercidos pe-
dicas, mas mesmo assim há a possibilidade da los funcionários / alunos e não existe uma coor-
gestão desses medicamentos doados, para uma denação e definição de suas responsabilidades,
melhor programação das doações. dificultando o controle das atividades exercidas.
Os procedimentos operacionais padrões Este trabalho indicou duas propostas de gestão
(POP) são procedimentos escritos de forma clara e de estoque, as ficha de prateleiras, que são fer-
objetiva que estabelecem instruções sequenciais ramentas mais simples de serem executadas e/ou
para a realização de ações rotineiras e específi- o programa de gerenciamento de materiais, que
cas. Visam à garantia da uniformidade, eficiência é uma planilha do Excel criada exclusivamente
e coordenação efetiva das atividades realizadas. para a farmácia em estudo por uma Administra-
Devem estar disponíveis para consulta em locais dora de Empresas.
acessíveis a quem se destinam15. Os recursos hu- Nas fichas de prateleiras, assim como na
manos despreparados é um dos fatores que com- planilha do Excel (programa de gerenciamento
prometem a programação dos medicamentos, de estoques), devem conter parâmetros como:
pois a deficiência na informação técnica e a falta material, código, datas da movimentação de en-
de atitude proativa dificultam o desenvolvimento tradas e saídas das doações. Nas fichas de pra-
dessa atividade9. teleiras, os responsáveis pela movimentação do
A farmácia em questão não tem, ainda, co- estoque assinam.
nhecimento de sua demanda, logo, poderiam fal- A codificação dos produtos, tanto nas fichas
tar produtos em momentos importantes do dia a de prateleiras quanto na planilha do Excel, é de
dia, havendo a necessidade de o paciente adqui- grande importância no controle hábil dos esto-
rir sua medicação em uma farmácia convencio- ques, pois os produtos devidamente codificados
nal, ou os estoques de determinados produtos se- são facilmente identificados, diminuindo as chan-
rem tão altos que passaria do prazo de validade. ces de trocas entre os diferentes tipos de produtos.
Para viabilizar os medicamentos para a far- Ainda em relação às fichas de prateleiras
mácia em estudo, é preciso cadastrar as clínicas e ao programa de gerenciamento de materiais
médicas que subsidiam o fornecimento dos me- (planilha do Excel), devem possuir dados como
dicamentos amostra grátis, uma vez que esta far- data da validade e o lote, que são imprescindí-
mácia é diferenciada. É importante lembrar que a veis para uma boa gestão, uma vez que, quando
distribuição de medicamentos pelos representan- os medicamentos estão próximos dos prazos de
tes da indústria farmacêutica é realizada de acor- validade, uma boa iniciativa é sua doação, por-
do com a especialidade médica, de modo que que, além de servirem para outros usuários, não
a farmácia do SAS precisa cadastrar médicos e serão jogados no lixo, afinal medicamentos são
clínicas de diferentes especialidades para garantir bens de saúde. A presença do lote é importante
uma diversidade nos grupos farmacológicos. para, por exemplo, consultar facilmente quando
É importante lembrar que uma farmácia a ANVISA informa lotes com problemas, tornan-
é um serviço de saúde e não deve ser enten- do mais fácil seu rastreamento na farmácia.
As fichas de prateleira são utilizadas para CONCLUSÃO
a realização do controle de estoque perma-
A administração da Farmácia do SAS deve
nente, em que é feito o controle individual da
definir as responsabilidades entre os integrantes
quantia existente de cada produto. Alguns pa-
da mesma, promover treinamentos para o perí-
râmetros que as fichas de prateleiras devem
odo de adaptação com as novas regras, além de
conter são as datas da movimentação, o histó-
encontros com todos os funcionários/alunos, que
rico (compra, venda ou devolução), entradas
deveram ensinar e avaliar o novo sistema, a fim
e saídas. Para um bom funcionamento desse
de minimizar erros ou falhas que o sistema apre-
sistema, deve-se assegurar que seja feito o re- 103
sente, para que assim continuem o trabalho de
gistro de toda a movimentação dos materiais
forma simples e eficaz.