Resumo
Este trabalho apresenta uma pesquisa realizada na UFPA sobre planejamento executivo de
projetos de natureza repetitiva, com a participação dos Departamentos de Construção Civil e
de Engenharia de Transportes. O objetivo principal é evidenciar uma aplicação do método
VPM (vertical production method) em um projeto rodoviário real, o que não é fato comum no
Brasil, onde as aplicações deste método têm acontecido com maior freqüência na área de
edificações.
Palavras Chave: Planejamento, VPM, Produção Rodoviária.
1. Introdução
Os projetos de natureza repetitiva fundamentam-se na característica da repetição de uma parte
do produto a ser realizado, em um número expressivo de vezes. São exemplos os
empreendimentos de edifícios de múltiplos pavimentos-tipo, conjuntos residenciais de casas
semelhantes, estradas ou dutos, dentre outros. Sob esta consideração, pode-se utilizar
tecnologias provenientes da produção em massa já amplamente experimentados na indústria
fabril.
Na Construção Civil este tipo de projeto tem sido alvo de intensa pesquisa, devido às
facilidades inerentes ao processo produtivo e os conseqüentes retornos econômicos. No
entanto, notadamente na construção de estradas, a maioria das empresas nacionais continua
utilizando ferramentas tradicionais de planejamento e programação, como o Gráfico de Gantt
e as redes CPM/PDM, as quais são comprovadamente eficientes para projetos não-repetitivos.
No campo acadêmico da produção rodoviária, a literatura sobre o uso de métodos de
programação linear se resume a poucos trabalhos provenientes de outros países, tornando-se
interessante, portanto, estudos neste campo.
Com esta premissa, inserida no contexto de desenvolvimento regional, está sendo
desenvolvida na UFPA uma pesquisa sobre aplicação e desenvolvimento de métodos voltados
para o planejamento de projetos repetitivos. Este presente artigo constitui apresentação de um
estudo de caso realizado em uma das áreas de interesse, a produção rodoviária, e refere-se ao
planejamento executivo de uma estrada, que embora relativamente pequena, possui as
principais características comuns às de maior complexidade. Para a modelagem foi utilizado o
VPM (vertical production method).
2. Vertical Production Method (VPM) - Método de Produção Vertical
Este método, desenvolvido por O´Brien (1975), pertence à família dos denominados Métodos
de Programação Linear, e possui como principal importância a introdução da variável Ritmo
de Produção. Para cada atividade, o ritmo de produção da equipe envolvida é considerado
constante ao longo do tempo, o que constitui hipótese simplificadora à complexidade real das
variações decorrentes do fator aprendizado e da fadiga frente à repetitividade.
UR
1 A B C D
3 Ø
T 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Figura 1 – VPM
TERRAPLENAGEM
01 Limpeza do terreno (inclusive carga e transporte para eliminação)
02 Escavação de material de 1ª categoria (corte)
03 Transporte, inclusive carga e descarga do material do corte até o aterro (DMT=0,8 Km)
04 Escavação de material de 1ª categoria (empréstimo)
05
Transporte, inclusive carga e descarga do material do empréstimo até o aterro (DMT=12,5 Km)
06 Compactação de aterro
07 Revestimento vegetal (grama)
08 Enrocamento para base de aterros (rachão)
DRENAGEM E OAC
09 Escavação de solo mole
10 Enrocamento com pedra rachão (inclusive regularização com brita)
11 Concreto Fck=15 Mpa
12 Concreto Fck=20 Mpa
13 Cimbramento
14 Escoramento de fôrmas
15 Fôrmas comuns de madeira
16 Fornecimento, preparo e colocação aço CA-50
17 Valetas revestidas de concreto (Fck=18 Mpa), inclusive escavação e preparo do terreno
18 Concreto Fck=18 Mpa
Quadro 2 – Atividades não repetitivas do projeto
2001). Logo, a rotina de trabalho do planejamento exige a estimativa das durações mediante
cálculos matemáticos.
A partir dos coeficientes de produtividade extraídos das estatísticas de obras similares, das
quantidades a serem executadas em cada atividade do empreendimento, do número de
operários ou máquinas envolvidos nestas atividades e da jornada de trabalho empregada na
execução da obra, foram calculadas as durações das diversas atividades do projeto através da
equação matemática representada na figura 2 a seguir.
Onde:
Di - Duração da atividade "i" em unidades de tempo.
Qi - Quantidade a ser executada da atividade "i".
Pi - Produtividade dos operários e/ou máquinas que determinam o ritmo de execução de uma
unidade da atividade "i" (coeficiente extraído das composições de custos unitários). No caso
específico do projeto estudado, considerou-se a soma das produtividades de operários e
máquinas, devido a freqüente ausência de paralelismo entre os trabalhos desempenhados por
ambos.
Ni - Número de operários ou máquinas envolvidos no processo produtivo da atividade "i"
(equipe necessária).
J - Jornada de trabalho semanal estipulada para a execução das diversas atividades do
empreendimento.
Deve-se observar que as durações das atividades repetitivas são calculadas levando-se em
consideração a quantidade total do serviço a ser executada na obra, para em seguida dividir-se
o tempo total obtido pelo número de unidades repetitivas do projeto (08 UR), dessa forma o
arredondamento é efetuado sobre o total da duração da atividade, o que permite uma maior
aproximação da realidade.
6. Programação do projeto
O planejamento executivo do projeto foi implementado da seguinte forma: Primeiramente
foram planejadas as atividades não repetitivas do projeto pelo método de Gantt, para
posteriormente se planejar as atividades repetitivas pelo método VPM, tomando-se os
cuidados necessários no tocante à compatibilidade dos dois métodos, e mantendo o objetivo
inicial de concluir a obra no prazo de 12 (doze) meses. Sob este princípio, pode-se concluir
que o planejamento executivo da obra foi orientado pelo tempo.
A figura 3, mostrada a seguir apresenta a programação das atividades não repetitivas.
T (meses)
1
2 3 4
ITEM T (semanas)
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Figura 3 – Atividades não repetitivas do projeto
77-88
66-77
55-66
44-55
33-44
22-33
11-22
Total 00-11
2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 35 ESTACA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 8,75
Figura 4 – Atividades repetitivas do projeto
7. Considerações finais
Os pressupostos de vantagem do VPM puderam ser confirmados para a produção rodoviária,
e notadamente, puderam ser observadas mudanças no próprio comportamento das partes
envolvidas no empreendimento, visto que antes de ser uma ferramenta gráfica, o VPM
consiste na expressão de uma filosofia de produção pautada na eficiência.
O planejamento executivo baseado em linhas de fluxo proporcionou sincronismo e minimizou
a ociosidade geralmente presente na passagem das equipes de uma unidade repetitiva para
outra, em uma mesma atividade ou entre atividades distintas que utilizam a mesma equipe.
Em decorrência, foram otimizadas a contratação da mão-de-obra terceirizada e a alocação da
mão-de-obra própria, entre projetos.
O ataque à obra também pôde ficar mais organizado, visto que ficou mais evidente o número
de frentes de trabalho, bem como os pontos de gargalo ao longo do tempo. Outras ferramentas
tradicionais não evidenciam com tanta clareza estas questões.
Frente aos resultados obtidos, pode-se concluir que o VPM pode ser um excelente veículo de
melhoria do processo de produção de estradas, principalmente no que se refere às atividades
de planejamento executivo.
Referências
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