AUDIÊNCIA GERAL
Hoje gostaria de falar de São Bernardo de Claraval, chamado "o último dos
Padres" da Igreja, porque no século XII, mais uma vez, renovou e tornou presente a
grande teologia dos Padres. Não conhecemos os pormenores os anos da sua infância;
sabemos contudo que ele nasceu em 1090 em Fontaines na França, numa família
numerosa e discretamente abastada. Ainda jovem, prodigalizou-se no estudo das
chamadas artes liberais – especialmente da gramática, da retórica e da dialética – na
escola dos Cónegos da igreja de Saint-Vorles, em Châtillon-sur-Seine e amadureceu
lentamente a decisão de entrar na vida religiosa. Por volta dos vinte anos entrou em
Cîteaux, uma fundação monástica nova, mais ativa em relação aos antigos e veneráveis
mosteiros de então e, ao mesmo tempo, mais rigorosa na prática dos conselhos
evangélicos. Alguns anos mais tarde, em 1115, Bernardo foi enviado por Santo Estêvão
Harding, terceiro Abade de Cîteaux, para fundar o mosteiro de Claraval (Clairvaux).
Aqui o jovem Abade, tinha apenas vinte e cinco anos, pôde apurar a própria concepção
da vida monástica, e empenhar-se em pô-la em prática. Olhando para a disciplina de
outros mosteiros, Bernardo recordou com decisão a necessidade de uma vida sóbria e
comedida, tanto à mesa como no vestuário e nos edifícios monásticos, recomendando o
sustento e a atenção aos pobres. Entretanto a comunidade de Claraval tornava-se cada
vez mais numerosa, e multiplicava as suas fundações.
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Ephraim, rabino de Bonn, dirigiu a Bernardo uma vivaz homenagem. Naquele mesmo
período o santo Abade escreveu as suas obras mais famosas, como os celebérrimos
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos. Nos últimos anos da sua vida – a sua morte
verificou-se em 1153 – Bernardo teve que limitar as viagens, sem contudo as
interromper totalmente. Aproveitou para rever definitivamente o conjunto das Cartas,
dos Sermões e dos Tratados. Merece ser mencionado um livro bastante particular, que
ele terminou precisamente neste período, em 1145, quando um seu aluno, Bernardo
Pignatelli, foi eleito Papa com o nome de Eugénio III. Nesta circunstância, Bernardo,
como Padre espiritual, escreveu a este seu filho espiritual o texto De Consideratione,
que contém ensinamentos para poder ser um bom Papa. Neste livro, que permanece uma
leitura conveniente para os Papas de todos os tempos, Bernardo não indica apenas como
desempenhar bem o papel de Papa, mas expressa também uma visão profunda do
mistério da Igreja e do mistério de Cristo, que no final se resolve na contemplação do
mistério de Deus trino e uno: "Deveria ainda prosseguir a busca deste Deus, que ainda
não é bastante procurado", escreve o santo Abade "mas talvez se possa procurar melhor
e encontrar mais facilmente com a oração do que com o debate. Ponhamos então aqui
um ponto final no livro, mas não na pesquisa" (XIV, 32: PL 182, 808), no estar a
caminho rumo a Deus.
2
privilegiado da Virgem na economia da salvação, após a particularíssima participação
da Mãe (compassio) no sacrifício do Filho. Não por acaso, um século e meio depois da
morte de Bernardo, Dante Alighieri, no último canto da Divina Comédia, colocará nos
lábios do "Doutor melífluo" a sublime oração a Maria: "Virgem Mãe, filha do teu
Filho, / humilde e nobre mais do que qualquer criatura, / termo fixo do eterno
conselho,..." (Paraíso 33, vv. 1 ss.).