Resumo
Atualmente a logística reversa (LR) vem tornando-se um termo cada vez mais usado no Brasil. Segundo
BALLOU (1995) a preocupação com a ecologia e o meio ambiente cresceu junto com a população e a
industrialização o que proporcionará novas oportunidades para a área da logística. Um dos resultados da
aplicação da LR na construção civil é a transformação dos resíduos de construção e demolição (RCD) em
matéria-prima para utilização nas próprias obras, e a exemplo disso temos o agregado reciclado, que é uma
alternativa sustentável, bem como econômica. Existem parâmetros que buscam restringir o uso desse
material de acordo com sua qualidade, mas apesar dessas restrições o agregado reciclado pode ser
aplicado de diversas formas entre elas na fabricação de peças pré moldadas como tijolos e blocos de
pavimentação. Porém, é necessário que haja estudos referentes às propriedades desses materiais para que
a utilização do agregado reciclado não interfira negativamente na qualidade final dos produtos,
comprometendo sua funcionalidade. Em virtude disso, este trabalho tem como objetivo geral a produção e
análise da composição e das propriedades físicas e mecânicas de blocos de pavimentação produzidos com
agregado reciclado de RCD. A pesquisa utiliza uma série de ensaios determinados por normas em busca de
conhecer as propriedades e determinar a qualidade desses pré moldados para compará-lo com pré
moldados comuns produzidos com agregado natural podendo assim incentivar sua utilização e trazer para a
construção civil uma alternativa para implantação de uma nova gestão de resíduos.
Abstract
Currently the reverse logistics (RL) has become a term increasingly used in Brazil. According to Ballou
(1995) concern with ecology and the environment has grown along with the population and industrialization
which will provide new opportunities for the logistics area. One of the RL application results in construction is
the transformation of waste from construction and demolition (WCD) into raw materials for use in their own
works, and the example we have the recycled aggregate. There are parameters that seek to restrict the use
of this according to their quality material, but despite these restrictions, the recycled aggregate can be
applied in various ways including in the manufacture of pre molded parts such as bricks and paving blocks.
However, there needs to be studies on the properties of these materials so that the use of recycled
aggregate does not adversely influence on the final quality of the product compromising its functionality.
Because of this, this work has as main objective the production and analysis of the composition and the
physical and mechanical properties of paving blocks produced with recycled aggregate of WCD. The
research uses a series of trials determined by regulations seeking to know the properties and determine the
quality of pre molded to compare it with common pre molded produced with natural aggregate may well
encourage their use and bring to the construction a path to deployment a new waste management.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, no Brasil, cerca de 50% dos resíduos
sólidos urbanos são gerados pela construção civil, e destes, apenas uma parte tem uma
destinação correta, isso é, levado a um aterro sanitário, pois grande parte dos resíduos
tem como destinação final terrenos baldios, lixões, e entre outros locais que contribuem
para o surgimento não só de problemas ambientais, mas também sociais, tendo em vista
que o acumulo de entulho, além de trazer uma poluição visual para o ambiente, pode
contribuir para a proliferação de agentes infecciosos e a consequente transmissão de
doenças para a população local, e econômica, uma vez que o órgão responsável terá que
retirar os resíduos do local, além das despesas com os danos causados por estes à
população. O resíduo que é levado para um aterro sanitário tem uma destinação
adequada apenas legalmente, visto que ambientalmente eles continuam gerando danos.
Alguns resíduos levam bastante tempo para se decompor, e isso acaba encurtando a vida
útil do aterro, espaço que uma vez saturado precisará de um novo local para exercer sua
função.
2 Metodologia
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa experimental de cunho qualitativa
segundo a pesquisa de RODRIGUES (2007). O método de pesquisa utilizado baseia-se
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em uma fundamentação teórica que permitiu a analise de trabalhos da área de resíduos
da construção civil, possibilitando conhecer por meio destes algumas propriedades do
agregado reciclado, além da produção e realização de ensaios com concreto para blocos
de pavimentação.
Na etapa de fabricação dos blocos, foram utilizados como métodos para obtenção das
características dos agregados e dos concretos produzidos, os seguintes ensaios:
Ensaio de granulometria, de acordo com a NBR NM 248/2001, por onde foi possível
obter os valores das dimensões máximas de cada tipo de agregado, o cascalho, a brita, e
a areia.
Por fim, o ensaio de resistência a compressão, feito após a moldagem e cura dos corpos
de prova, teve por objetivo a observação dos valores de resistência obtidos, através
da aplicação de uma força sobre o corpo, até o momento de sua ruptura. Esse ensaio foi
realizado conforme a NBR 5739/2007.
3 Referencial Teórico
Segundo Santos (2005), a indústria da construção civil é responsável pelo consumo de
cerca de 40% dos recursos naturais retirados do planeta, além disso ela é uma das maiores
geradoras dos resíduos hoje encontrados nas zonas urbanas.
Pesquisas realizadas por Cavalcanti et. al. (2011) mostra que é possível utilizar de forma
sustentável materiais alternativos para um melhor conforto da sociedade e diminuição do
impacto ambiental causado pela indústria da construção civil.
França et. al. (2014) produziu um tijolo com resíduos de concreto e gesso, porém alegou
que este artefato precisa ser melhor estudado pois não apresentou resultados desejáveis
para os parâmetros exigidos por norma.
Algumas NBR's foram indispensáveis para a pesquisa em questão, tais como a NBR
15116(2004) que fornece os requisitos necessários para a utilização do agregado
reciclado em camadas de pavimentação e concretos sem função estrutural, e a NBR
9781(2013) que fixa as condições necessárias de peças pré-moldadas para
pavimentação.
Os resíduos gerados pela construção civil podem ser classificados de acordo com a
tabela 1.
Tabela 1 – Classificação dos resíduos
CLASSES DESCRIÇÃO
Classe A Resíduos que podem ser reutilizados em forma de agregado
(Solos, alvenaria, concreto, argamassa.)
Classe B Resíduos que podem ser encaminhados para reciclagem, ou utilizados no próprio
canteiro de obras. (Papel, vidro, plástico, metal, madeira, papelão.)
Classe C Resíduos não recicláveis.
(Papéis plastificados, esponjas de aço, latas de tintas, gesso.)
Classe D Resíduos perigosos.
(Tintas, solventes, óleos.)
Materiais cerâmicos.
Segundo Monteiro et. Al. (2001) cerca de 40% dos resíduos sólidos decorrentes de
construções, demolições e reformas podem ser reaproveitados na própria construção civil
ou em atividades de reaterros e recomposição de processos erosivos.
A origem mineral do agregado diz respeito a sua extração. A areia, por exemplo, pode
ser extraída tanto do leito de rios, como de rochas sedimentares.
O processo de reciclagem dos RCD's inicia-se com sua retirada do local da obra. A
empresa geradora do resíduo pode, por conta própria, se responsabilizar pela destinação
do material, ou pode também contratar uma empresa terceirizada para fazê-lo. É importante
que ainda dentro da empresa geradora tenha-se uma separação dos resíduos, para que ao
chegar na usina de reciclagem esse material já esteja pré classificado, facilitando assim o
trabalho dos funcionários da usina, e diminuindo a provável mistura de materiais, o que irá
influenciar na qualidade do produto final. Em alguns países da Europa e no Japão, essa
prática de fazer uma pré-triagem no próprio local da obra já é obrigatório (SCHNEIDER,
2003).
De acordo com o fluxograma acima apresentado, o RCD após recolhido passa por 3
processos principais, que são:
No Brasil há poucas empresas que fazem uso de agregados ou materiais feitos com
agregados reciclados, mas podemos encontrar algumas referencias como:
Figura 1 – Brita Reciclada (Ecobrit, 2016) Figura 2 – Areia Reciclada (Ecobrit, 2016)
Durante a coleta, foi possível optar por um material mais uniforme, composto por
concreto, evitando a presença de materiais cerâmicos, gesso e azulejos.
Ao chegar ao laboratório, o material coletado passou por mais uma etapa de triagem,
visto que a triagem feita em campo não foi suficiente para remover todos os materiais
indesejados da amostra. Alguns materiais encontrados foram apresentados nas figuras 4
e 5, onde é possível observar a heterogeneidade desse tipo de agregado. A figura 4 mostra
a triagem feita com a brita, onde foram separados resíduos compostos de concreto,
cerâmica, azulejo e gesso, respectivamente. Já a figura 5 mostra a mesma característica da
areia, que por ser de dimensão pequena tornou inviável a segunda triagem. Após o
processo, foi possível obter os seguintes índices expressos na Tabela 2.
Tabela 2 – Análise Composicional do resíduo coletado
Gesso C 10
Madeira B 3
Plásticos B 2
Cerâmica A 35
Resíduos de concreto A 50
Segundo a NBR 15116 (2004), a absorção máxima para os agregados graúdos e miúdos
de resíduo de concreto (ARC) são 7% e 12% respectivamente, e para os agregados de
resíduos mistos são 12% e 17%.
Material Aplicação
Como visto na Tabela 4 acima apresentada, o agregado reciclado tem sua função
resumida a concretos não estruturais e obras de pavimentação. Isso se dá geralmente
pelo fato de tal agregado possuir características físicas muito variáveis de um lote para
outro, apresentando-se como um material bastante heterogêneo, o que implica nas
características dos produtos finais fabricados com esse tipo de material.
Apesar das restrições, o agregado reciclado pode atender aos requisitos necessários
para exercer a mesma função do agregado natural ainda que com qualidade inferior a este.
A dosagem do concreto utilizado para produção dos blocos foi calculada de acordo
com a NBR 12655/2015, e com algumas características pré-estabelecidas, como o Fck
estabelecido de 35Mpa, para que o concreto obtivesse a qualidade final desejada. De
acordo com a norma, foi utilizada uma dosagem racional e experimental, obtida através dos
cálculos feitos no estudo inicial. O traço encontrado, seguindo a ordem cimento: areia:
cascalho, foi o seguinte:
1: 1,99: 1,34
A relação água/cimento encontrada para esse traço foi de 0,46.
Durante a etapa do estudo inicial foi possível identificar uma empresa que estivesse apta
e de acordo a fornecer amostras dos resíduos necessários para a continuidade da pesquisa.
Em todo estado do Rio Grande do Norte, foram encontradas apenas duas usinas de
beneficiamento de resíduos da construção civil, a Duarte, em São José de Mipibu, e a
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Ecobrit, em São Gonçalo do Amarante. Levando em consideração a proximidade com a
base de pesquisa, o IFRN-Campus São Gonçalo do Amarante, e a concordância da
empresa em fornecer o material, a usina Ecobrit foi tida como a melhor opção para apoiar
a pesquisa.
T1 4,5Mpa
T1 2,1Mpa
T1 1,9Mpa
T1 3,8Mpa
T2 - Traço original, com 50% de substituição por agregado reciclado, sendo a brita
pré-umedecida.
1: 1,99: 0,67: 0,67
T1 18,1Mpa 25,1Mpa
T2 14,3Mpa 22,4Mpa
T2 17,2Mpa 21,2Mpa
T3 11,2Mpa 23,8Mpa
T3 12,3Mpa 14,0Mpa
Tb 22,9Mpa -
Tb 21,3Mpa -
Apesar de não alcançar o valor mínimo de resistência estabelecido pela NBR 9781/2003,
os valores encontrados foram satisfatórios, visto que chegaram próximos aos valores
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considerados dentro do aceitável para blocos produzidos com agregados convencionais, e
o uso do bloco pode ser considerado viável para pavimentação de locais com fluxo leve.
Após a realização de pesquisas na área, o concreto permeável foi visto como a saída
ideal para a problemática encontrada. Para que uma amostra seja considerada porosa, esta
deve ter entre 15% e 35 % de seu volume ocupado por vazios (ACI 522, 2010), obtidos
através da utilização de agregados de graduação aberta, com a redução de materiais finos
no traço. O concreto permeável pode ser usado na pavimentação de locais como
estacionamentos, parques, praças, e sua finalidade é permitir o escoamento da água,
evitando a formação de poças. A proposta da utilização do concreto permeável exposta
no presente trabalho é a seguinte: Fabricação de blocos de pavimentação permeáveis, e
reutilização da água infiltrada na própria edificação ou sistema em questão.
Segundo LI (2009), o uso de concretos permeáveis teve início a mais de 150 anos,
apesar de sua aplicação só ter sofrido avanços significativos há pouco mais de 20 anos,
principalmente nos EUA. A utilização desse concreto pode ser vista como um elemento de
drenagem bastante eficaz, e a incorporação do agregado reciclado pode trazer para os
blocos permeáveis uma redução de custo, viabilizando assim a comercialização do produto.
Além disso, a reutilização de águas pluviais já é uma prática adotada, principalmente em
áreas de seca, onde toda água que possa ser captada em períodos de chuva é bem-vinda.
Com a instalação de blocos permeáveis em uma edificação residencial, por exemplo, há o
consequente aumento da área de contribuição pluviométrica, aumentando assim a
quantidade de água que pode ser filtrada e reutilizada na própria residência.
T1 3,8Mpa
T1 1,8Mpa
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível, e de grande importância, perceber que a geração de resíduos em toda a
história da humanidade pode ser encontrada, por que no processo de transformação, nem
Por fim, a pesquisa apresenta um material que de acordo com suas características
pode ser considerado não só viável para inserção no mercado, como também um produto
novo com grande potencial de aceitação, além disso, incentiva a elaboração de novas
pesquisas na área e o consequente aprimoramento dos materiais e seus derivados,
como os blocos de pavimentação.
11 REFERÊNCIAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Peças de concreto
para pavimentação — Especificação e métodos de ensaio. NBR 9781, 2013.
FRANÇA, E.A. et. al. Tijolo produzido com resíduos de concreto e gesso. Anais
56CBC, IBRACON, 2014.
<http://www.mma.gov.br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/4_manual_implantao_siste
ma_ gesto_resduos_construo_civil_cp_125.pdf> Acesso em: 09 Dez. 2013.
SANTOS, J.R. Betão com agregados grossos reciclados de betão. São Paulo,SP.
Revista Concreto, ISSN 1806-9673, IBRACON- Instituto Brasileiro do Concreto, 2005,
p.10-14.
VÁSQUEZ, E.; Barra, M. Recycling of aggregates in the construction industry. In: CIB
SYMPOSIUM IN CONSTRUCTION AND ENVIRONMENT: THEORY INTO PRACTICE,
2000, São Paulo, Brazil. Proceedings... [CDROM]. São Paulo: CIB, 2000.