RESUMO: O estudo de liquefação feito em barragens alteadas para montante tem se tornado uma
prática de engenharia cada vez mais frequente no Brasil. Um dos maiores desafios dessa análise
está na definição da razão de resistência não drenada de pico e liquefeita do material, que são
comumente obtidas via correlações empíricas com o ensaio Cone Penetration Test (CPTu). Os
ensaios do tipo CPTu fornecem uma grande quantidade de dados, o que propicia uma análise
estatística para o cálculo das razões de resistência não drenada. No presente trabalho três curvas de
distribuição são testadas como propostas de ajuste aos histogramas das razões de resistência não
drenada de um rejeito silto-arenoso de mineração: a distribuição normal, a distribuição log-nomal e
a distribuição log-normal de três parâmetros. Após uma análise das três propostas, fica claro que,
para a sondagem estudada, a distribuição log-normal de três parâmetros é o ajuste que melhor se
adequa aos histogramas das razões de resistência não drenada. Para esse tipo de ajuste, propõe-se o
uso da moda da distribuição como resistência de projeto. Essa metodologia nos leva a encontrar
valores próximos do percentil 20, sugerido por Popescu et al. (1997), por ser representativa das
zonas mais fracas do solo e que podem controlar a instabilidade, pricipalmente nos casos de
rupturas progressivas.
𝑆𝑢 (𝑦𝑖𝑒𝑙𝑑)
= 0,205 + 0,0143(𝑞𝑐1 ) ± 0,04 (8)
𝜎′𝑣0
à compressão (TXC), de acordo com a equação 2. Segundo Roberton (2016), a maioria das
abaixo: correlações empíricas desenvolvidas para o
CPTu foram obtidas por meio de estudos em
Su (yield) solos com pouca ou nenhuma microestrutura
= 0,219 + 0,008q c1 ± 0,049 (11)
σ′v0 (solos ideais). Sendo assim, antes de proceder
ao cálculo das razões de resistência não drenada
Os valores das razões de resistência não sugere-se verificar quanto à presença de
drenada são, em seguida, importados no estrutura do solo, para que seja possível aferir
programa de análise estatística Minitab 18 para quanto à confiabilidade das equações empíricas
a geração dos histogramas de resistência. Em que serão aplicadas. Os dados obtidos na
seguida três ajustes estatísticos serão sondagem CPTu em estudo, plotados no ábaco
analisados: (1) ajuste com uma curva de de Roberton (2016), é mostrado na figura a
distribuição normal, (2) ajuste com uma curva seguir:
de distribuição log-normal e (3) ajuste com uma
curva de distribuição log-normal de três
parâmetros. O ajuste que apresentar melhor
adequação aos dados da sondagem CPTu será
utilizado para a obtenção da razão de resistência
de pico seguindo o seguinte critério: para o
ajuste normal, a média da distribuição será
adotada, enquanto que para o ajuste log-normal
a moda será adotada. Para esse estudo, os
limites de validade das equações sugeridos
pelos autores foram obedecidos, i.e., qc1 ≤
6,5MPa para Olson (2001) e qc1 < 8MPa para
Sadrekarimi (2014).
Sadrekarimi (2014) observou que, nos
estágios inicias da ruptura, associados ao
gatilho da liquefação, o plano de cisalhamento é
fortemente dominado por compressão, enquanto
que após a ruptura, particularmente a grandes
deformações, o cisalhamento simples Figura 6 - Verificação quanto à presença de estrutura no
controlaria grande parte da superfície potencial solo, segundo a metodologia proposta por Robertson
de ruptura. De fato, Olson (2001) e Olson and (2016)
Stark (2002), relatam que para a maioria dos
casos de ruptura à liquefação estudados, a Como pode ser observado na Figura 6, todos
superfície de ruptura dentro da zona de os pontos da sondagem CPTu plotam abaixo de
liquefação se aproxima de cisalhamento K*G = 330, o que indica que o material em
simples. Por conseguinte, Su(yield)/σ’v0 será estudo não possui microestrutura e pode ser
calculado usando a equação (11). classificado como “solo ideal”, para os quais as
correlações empíricas desenvolvidas para o
CPTu têm grande confiabilidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.2 Susceptibilidade à Liquefação
3.1 Identificação de Estrutura no Solo
A susceptibilidade à liquefação será analisada
Robertson (2016) propõe um método para a por meio dos métodos de Robertson (2010),
verificação de microestrutura no solo por meio usando a envoltória de Fear e Robertson (1995)
do parâmetro K*G, conforme discutido no item sugerida por Olson (2001) e usando os
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20
Razão de resistência não drenada - Olson (2001)
Distribuição Normal
Média 0,2359
20 DesvPad 0,02667
N 735
15
ncia (%)
15
ncia (%)
10
uê
Freq
10
uê
Freq
5
5
0 0
-0,20 -0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30
ψ Su(yield)/σ’vo
Figura 9 - Histograma do parâmetro de estado (ψ) Figura 10 - Histograma com ajuste normal para a razão
de resistência não drenada de pico segundo a metodologia
Como pode ser observado na Figura 9, a de Olson (2001)
maioria dos dados apresentaram valores de ψ>-
Razões de resistência não drenada - Olson (2001)
0,05, o que indica que o material tem alto Distribuição Log - normal
de ψ>-0,05. 15
ncia (%)
10
uê
Freq
4 HISTOGRAMAS DE RESISTÊNCIA E
5
AJUSTE ESTATÍSTICO DOS DADOS
0
0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30
Para a confecção dos histogramas das razões de Su(yield)/σ'v0
Para a razão de resistência não drenada de pico, Figura 12 - Histograma com ajuste log-normal de três
parâmetros para a razão de resistência não drenada de
os histogramas obtidos, com seus respectivos pico segundo a metodologia de Olson (2001)
ajustes, usando os valores de resistência
calculados segundo a metodologia de Olson Como observado nas Figuras 10, 11 e 12, o
(2001), são os mostrados a seguir: ajuste com a distribuição log-normal de três
parâmetros é o que melhor se adequa ao
histograma das razões de resistência não
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ncia (%)
15
uê
Freq
10
threshold (traduzido como “limite” pelo
Minitab 18). 5
0
Por conseguinte, o valor de projeto para a 0,204 0,216 0,228 0,240 0,252
Su(yield)/σ’vo
0,264 0,276 0,288
15
10
35
0,2
0
30 0,204 0,216 0,228 0,240 0,252 0,264 0,276 0,288
Su(yield)/σ'v0
Densidade de probabilidade
25
15
Figura 13 - Percentil 20 calculado para a distribuição log-
normal de três parâmetros
uê
Freq
10
0
Para o método de Sadrekarimi (2014), como 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30
Su(yield)/σ'v0
0,32 0,34 0,36
Razões de
Figura 17 - Percentil 20 calculado para a distribuição log- Sadrekarimi
resistência não Olson (2001)
normal de três parâmetros (2014)
drenada
Su(yield)/σ'v0 -
0,212 0,223
Moda
5 CONCLUSÃO
Su(yield)/σ'v0 –
0,214 0,224
Percentil 20
Antes de iniciar a análise de liquefação, o
material da sondagem foi estudado quanto à
presença de cimentação e estrutura, segundo a
REFERÊNCIAS
metodologia proposta por Robertson (2016).
Após efetuar essa verificação, ficou claro que o FEAR, Catherine E., and Peter K. ROBERTSON.
rejeito no qual foi executada a sondagem pode "Estimating the undrained strength of sand: a
ser classificado como “solo ideal”, para o qual theoretical framework." Canadian Geotechnical
as correlações empíricas desenvolvidas para o Journal 32.5 (1995): 859-870.
CPTu têm grande confiabilidade. JEFFERIES, M. and BEEN, K., 2006. Soil Liquefaction:
A análise da susceptibilidade à liquefação foi A Critical State Approach. CRC Press.
estudada por três métodos: metodologia de Fear
e Robertson (1995), sugerida por Olson (2001), MORGERSTERN, N. R., S. G. VICK, and B. D. Watts
metodologia de Robertson (2010) e usando o Fundão Tailings Dam Review Panel Report on the
Immediate Causes of the Failure of the Fundão Dam.
conceito de parâmetro de estado. Todas os (2016).
métodos empregados indicaram mais de 80% de
presença de material contrátil e, portanto, um
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